EFEITOS DO LASER HÉLIO-NEÔNIO NO TRATAMENTO DE ULCERAÇÕES EM PÉ DIABÉTICO

Effects of laser Helium-Neon in the treatment in diabetic foot ulcer
Luciele Greibim*, Michele Barcelos*, Wagner Machado da Silva, M.Sc.**
……………………………………………………………………………………………………………………………
*Acadêmicas do curso de Fisioterapia da 8ª fase na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), **Fisioterapeuta, Professor da disciplina de Estágio Supervisionado em Ortopedia e Traumatologia na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivos verificar os efeitos do laser Hélio Neônio aplicado em feridas de paciente que apresenta pé diabético, realizar as avaliações da qualidade de vida, das alterações sensitivas do pé, análise da impressão plantar e orientar o portador de pé diabético quanto à prevenção de possíveis complicações. Esta pesquisa caracterizou-se em um estudo de caso, onde foi realizada a aplicação de laserterapia três vezes por semana, totalizando 12 aplicações. As avaliações foram feitas através de questionários, monofilamentos de Semmes-Weinstein (SW) e registros fotográficos que foram realizados durante o processo de coleta de dados e como resultado da pesquisa foi confeccionado um folder explicativo o qual foi entregue ao paciente, sendo também disponibilizado ao público diabético em geral. Das três ulcerações apresentadas pelo paciente verificou-se a cicatrização total de uma das ulcerações e dois casos de redução no comprimento e largura das ulcerações, com conseqüente melhora tecidual. Quanto à qualidade de vida verificou-se que houve uma melhora de 16%, uma piora de 7% e na maioria das respostas, 77% mantiveram-se iguais. Foram considerados positivos os resultados obtidos com o presente estudo, através da laserterapia pode se melhorar o reparo tecidual e acelerar o processo de cicatrização de ulcerações assim como através das avaliações pode-se chegar ao fator causal das ulcerações e com isso repassar orientações para que sejam prevenidas reincidivas.
Palavra chave: Diabetes Mellitus, Pé Diabético, Laser Hélio Neônio, Qualidade de Vida.
Abstract
This research had as objective to verify the effect of laser Helium-Neon applied in the wound of patients who present diabetic foot, through the evaluations of the life quality, the alterations of sensitivity of the foot, analysis of the plantar impression and cares guide to the diabetic foot about the prevention of possible complications. This research was characterized in a case study, where the laser therapy application was through three times per week, totalizing 12 applications. The evaluations had been made through questionnaires, monofilaments of Semmes-Weinstein (SW) and photographic registers that had been during the process of data collection and as resulted of the research were confectioned a clarifying pamphlet which was delivers to the patient, being also offered to the general diabetic public. Of the three wounds presented for the patient it was verified total healing of one wounds and two cases of reduction in the length and width of the wounds, with consequent tissue improvement. However to the quality of life it was verified that it had a 16% improvement, a 7% worsening and in the majority of the answers, 77% had been remained equal. The results gotten with the present study had been considered positive, through the laser therapy the tissue repair can be improved and to speed up the process of healing of wounds as well as through the evaluations can be arrived at the causal factor of the ulcer and with this to repass guidance so that they are prevented return.
Key-words: Diabetes Mellitus. Diabetic Foot. Laser Helium Néon.
Introdução
A pesquisa cientifica se mostra sempre ativa na área da saúde. Os constantes progressos permitem melhorar a conduta clínico-cirúrgica e, conseqüentemente, aumentar a possibilidade de cura e recuperação para os pacientes. A história do tratamento das ulcerações refere que a ciência está em constante busca para encontrar a cura de um problema que há séculos se mostra desafiador [1].
A história universal revela que a preocupação com o tratamento de ulcerações sempre se mostrou ativa. Desde a Pré-história eram utilizadas formulações compostas por cataplasmas de folhas e ervas, com o intuito de estancar a hemorragia e facilitar a cicatrização [1].
Uma das patologias que pode apresentar algumas variações de ulcerações é o Diabetes Mellitus (DM), no Brasil, assim como em muitas outras localidades, o DM está sendo reconhecido como um importante problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento, onde tem ocupado um percentual de 30 a 40% das causas de morbidade entre adultos.
O DM, denominado por um grupo heterogêneo de doenças que diferem quanto à etiologia e patogênese e que alteram a homeostase do ser humano, sendo caracterizadas por distúrbios no metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, secundárias a uma deficiência ou ausência de produção de insulina pelo pâncreas e/ou diminuição de sua ação nos tecidos-alvos. Como conseqüência, surge a hiperglicemia, cuja intensidade tem relação diretamente proporcional à deficiência de insulina [3, 4, 5].
A hiperglicemia persistente observada em pacientes mal controlados ocasiona alterações importantes nas membranas basais de capilares sanguíneos, com a glicolisação não enzimática de proteínas e também a ativação da formação de polióis, que se acumulam nas células [6,7,8].
O pé diabético é caracterizado por lesões no pé de pacientes diabéticos em decorrência de neuropatia, doença vascular periférica e deformidades. Se não for instituído um tratamento precoce adequado, essas lesões, podem ser complicadas por infecções terminando em amputação [9].
O pé diabético representa uma das complicações mais devastadoras do diabetes mellitus, podendo causar elevada mortalidade, alterações na qualidade de vida, pelo tratamento prolongado ambulatorial ou hospitalar, e conseqüente absenteísmo e aposentadorias precoces [4].
Com a apresentação do pé diabético, a DM pode estreitar e endurecer os vasos sanguíneos dos pés o que limita o fluxo do sangue. A falta de sangue nos pés provoca a sensação de frio, podendo torná-los azulados ou intumescidos. Com a insuficiência de sangue, os pés se tornam mais susceptíveis a infecções. Os ferimentos demoram mais a cicatrizar e algumas vezes nem chegam a melhorar completamente [2,3].
No caso de haver alguma lesão na inervação, os pés terão menor capacidade de sentir dor, calor e frio. Com isso, fica mais fácil ferir os pés e mais difícil sentir o ferimento. Um problema no nervo também pode deformar os pés e entornar os dedos. À parte arredondada da planta dos pés, logo atrás do hálux, pode ficar salientado, elevando o arco do pé tornando-o mais acentuado. Essas mudanças fazem com que determinadas partes dos pés passem a suportar mais peso e, como conseqüência, fiquem, mas sujeitas à apresentação de calos, que se não forem tratados podem evoluir transformando-se em úlceras [2].
Nos pés, as úlceras formam-se com mais freqüência na parte arredondada da planta, logo atrás do hálux, ou sob o mesmo. Mas também surgem na sola, no calcanhar ou nos outros dedos. A úlcera infeccionada pode provocar gangrena e levar a amputação [2].
É revelada a importância do fisioterapeuta na manutenção e recuperação da atividade funcional da área comprometida. Também na orientação, assim como na prevenção de complicações. Dentro da fisioterapia uma conduta que pode ser adotada é o uso do laser Hélio-Neônio na cicatrização das úlceras encontradas em pacientes que apresentem a patologia [2].
Para a realização deste estudo formulou-se os seguintes objetivos: verificar os efeitos do laser Hélio-Neônio aplicado nas ulcerações, em pacientes que apresentam pé diabético e acompanhar a evolução através de registros fotográficos; realizar a avaliação das alterações de sensibilidade apresentadas pelo portador de ulceração em pé diabético; realizar a avaliação da qualidade de vida do paciente que apresenta ulcerações em pé diabético no inicio e ao término do tratamento; orientar o portador de ulceração em pé diabético quanto à prevenção de possíveis complicações reincidentes após o tratamento fisioterapêutico.
Materiais e métodos
A coleta de dados foi realizada entre os dias 12 de abril e 08 de maio de 2007, através de três atendimentos semanais, perfazendo um total de doze. A duração de cada atendimento correspondia a aproximadamente 45 minutos fracionados entre a retirada do curativo, aplicação do laser e colocação de um novo curativo. A terapêutica laser foi realizada de forma alternada entre as pesquisadoras, sendo que ambas estavam presentes em todos os atendimentos.
Foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados:
a) Ficha de avaliação onde foi descrita toda a anamnese do paciente, dimensionada a lesão e fotografadas todas as fases do tratamento;
b) A função e a mobilidade foram avaliadas no contexto da marcha através da inspeção. Para avaliar as pressões plantares foi utilizado o podoscópio;
c) Foram utilizados os monofilamentos Semmes Weinstein, para avaliação da sensibilidade e o risco de outras possíveis ulcerações;
d) Para avaliação das condições de melhora da qualidade de vida do paciente após o tratamento, foi aplicado um questionário de acordo com artigo da Organização Mundial da Saúde (1998), antes do início da primeira seção e após a última;
e) A fim de se documentar os resultados, foram fotografados os pés do paciente a cada seção, permitindo a verificação da cicatrização da úlcera de pé-diabético e conseqüente eficácia do tratamento com o laser hélio-neônio. Para isto, foi utilizada uma câmera e filmadora digital da marca Nikon Coolpix 4600 de 4.0 megapixels, com zoom digital;
f) Foi utilizado no tratamento, aparelho de laser hélio neônio (632,8 nm) forma de emissão contínua, da marca Plasmax IV, modelo LMN 9709, método pontual e varredura e densidade de energia de 5J/cm2 (50 mj/cm2);
g) Durante e também ao término do tratamento, o paciente recebeu orientações, tanto na forma verbal como escrita, referente à prevenção de uma recidiva da patologia. Foi entregue ao paciente um folder explicativo, descritivo sobre as atitudes preventivas.
A pesquisa foi realizada com o paciente O. D. F, sexo masculino, 75 anos de idade, residente no bairro Ipiranga no município de São José (SC), portador de diabetes mellitus tipo II, neuropatia e vasculopatia diabética, apresentando pé diabético. O mesmo apresentava HAS controlada por medicamentos, foi tabagista dos 12 aos 49 anos de idade e parou há 26 anos. Em 2006 realizou as seguintes cirurgias: angioplastia do membro inferior direito, amputação do hálux direito em janeiro de 2007 e em seguida amputação do segundo pododáctilo direito realizada um mês após.
O exame dos pés começou com a entrada do paciente no local de consulta, o mesmo utilizava uma bengala como auxílio da marcha, apresentando-se ao tratamento sempre com uma sandália aparentemente confortável, onde as marcas de desgastes que poderiam ser observadas não existiam devido ao calçado ser novo e após a retirada dos curativos foram avaliadas as lesões.
O paciente apresentava três feridas importantes, uma cirúrgica devido a gangrena e outras duas menores de origem traumática com problemas de cicatrização. A ferida nº1 apresentava 9×4 cm de dimensão e se localizava no local da amputação do hálux e segundo pododáctilo no pé direito, com aspecto superficial, margens irregulares com pequenas áreas de tecido fibroso e leito com tecido de granulação; a ferida nº2 encontrava-se na região central do calcanhar no pé direito, apresentava 5×2 cm de dimensão e aproximadamente 0,5 cm de profundidade, margens definidas com grande quantidade de tecido fibroso e leito com tecido de granulação e a ferida nº3 encontrava-se na região central do dorso do pé esquerdo, apresentava 1×1 cm de dimensão, era uma ferida superficial com margens definidas e leito com tecido de granulação.
Quanto à sintomatologia da neuropatia diabética apresentada, foi avaliado o aspecto geral e o grau de sensibilidade, para isso foram utilizados os monofilamentos de SW. Primeiramente foi demonstrado ao paciente a aplicação do monofilamento em outra parte do corpo (braço), para que ele se familiarizasse com o procedimento. O paciente permaneceu em decúbito dorsal, com os membros inferiores estendidos e olhos fechados. Iniciou-se com o filamento mais leve azul normal para o pé, progredindo na ordem crescente de peso, até a obtenção de uma resposta positiva. Foram avaliados seis pontos bilateralmente: primeiro, terceiro e quinto pododáctilos e primeiro, terceiro e quinto metatarsos. O filamento foi aplicado perpendicularmente à superfície cutânea do paciente, pressionando levemente até atingir a força necessária para curvá-lo, e retirado em seguida. O filamento foi aplicado duas vezes em cada local do teste, sendo que uma única resposta positiva foi suficiente para confirmar sensibilidade no nível indicado. A análise plantar foi avaliada a fim de facilitar a visualização das impressões plantares. O paciente foi posicionado sobre o podoscópio, com os pés descalços, apoio bipodal e postura ortostática. A imagem da impressão plantar refletida no vidro do podoscópio, foi fotografada.
Antes do primeiro atendimento e ao término do último, foi aplicado um questionário para avaliação da qualidade de vida do paciente. Este questionário refere relatos sobre como o paciente se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde e outras áreas de sua vida. O paciente respondeu as questões sem acompanhamento de familiares, sendo aplicado de forma verbal durante o atendimento para otimizar o tempo, diminuindo assim a restrição do paciente ao ambiente da clínica. O questionário aplicado foi de auto-resposta. O entrevistador não influenciou o paciente na escolha das respostas e também não discutiu as questões ou o significado destas, apenas foram relidas de forma pausada para o paciente nos casos em que houve dúvidas. Para iniciar a aplicação do laser, o paciente era posicionado em decúbito dorsal para retirada do curativo, sendo utilizadas luvas estéreis durante este processo, assepsia com soro fisiológico 0.9% e gazes estéreis.
Antes de cada aplicação do laser tanto o paciente quanto as pesquisadoras utilizavam os óculos de proteção a fim de evitar a emissão direta ou indireta do laser nos olhos. Na seqüência eram feitas às medidas da área de cada ferida, a fim de se chegar ao número de aplicações pontuais. A distância entre os dois pontos foi de 1cm, sendo que inicialmente totalizaram-se 36 pontos na ferida nº1, 10 pontos na ferida nº2 e 1 ponto na ferida n°3, sofrendo alterações na quantidade de pontos conforme evolução da cicatrização das feridas. Para cada ponto, a radiação emitida pelo laser tinha uma duração de 15 segundos. A homogeneização foi realizada através da técnica de varredura ao longo de todas as feridas considerando a relação J/cm2. A distância do laser em relação à ferida foi mantida aproximadamente menor que 1cm. A dosimetria aplicada foi de 5 J/cm2.
O registro fotográfico era feito após a aplicação do laser, sempre na mesma posição anatômica e espacial, sendo utilizados os mesmos parâmetros desde o primeiro até o último registro.
Após a aplicação do laser e a realização das fotografias o curativo era refeito, com assepsia das lesões, aplicação do Dersani, proteção com gaze e bandagem com atadura.
Durante o período em que os atendimentos foram realizados, houveram intercorrências, como a utilização da pomada fibrinase pelo paciente, que levou a proliferação exacerbada de tecido fibroso, ocasionando um bloqueio a radiação laser, diminuindo assim a sua efetividade, sendo necessário a realização do desbridamento no pé direito nos dias 27/04/07 e 04/05/07. Outra intercorrência foi o surgimento de uma rachadura perpendicular à segunda ferida no pé direito levando ao aumento da mesma. Também deve ser levado em consideração o fato de que o paciente não realizava os cuidados necessários da patologia primária devido à alimentação inadequada e ao sedentarismo, segundo relato do filho.
A análise dos resultados corresponde a aplicação da terapêutica laser, baseado nas 12 sessões propostas pela pesquisa. Os dados foram analisados de forma direta e indireta através da comparação dos registros fotográficos que foram realizados durante o processo de coleta de dados, e tabulados através do programa Microsoft Excel, fundamentados nesses dados, foram elaborados gráficos e quadros para a apresentação dos resultados.
Resultados
No presente estudo o paciente apresentou três casos de ulcerações, uma ferida operatória, denominada ferida nº 1, resultante da amputação do hálux e do segundo pododáctilo do pé direito que na data da avaliação apresentou 9cm de comprimento e 4cm de largura. Outra ferida no calcâneo do pé direito, denominada ferida nº 2, apresentando no momento da avaliação 3cm de comprimento e 0.5cm de largura. Outra ferida apresentada pelo paciente foi na região dorsal do pé esquerdo, denominada como ferida nº 03, medindo na data da avaliação 1cm de largura e 1cm de comprimento.
A observação clínica das amostras das lesões cutâneas do paciente evidenciou padrão de reparação tecidual em fase inicial, com formação de crosta em aspecto esbranquiçado, com bordas ligeiramente elevadas e centro avermelhado, no caso das feridas de nº 01 e nº 02, a ferida nº 03 apresentava-se como uma lesão superficial com margens definidas e leito com tecido de granulação.
Observou-se redução progressiva em relação à medida do comprimento da ferida nº 01, que no primeiro e segundo atendimento era de 9 cm, no terceiro e quarto atendimento sua medida já era de 8 cm, assim como no quinto e sexto atendimento estava com 7 cm, do sétimo até o nono com 6 cm e por fim, do décimo atendimento até o décimo segundo, quando deu-se por encerrado o processo de coleta de dados, a ferida apresentou 5 cm. Em um total de doze atendimentos, notou-se uma diminuição de 4 cm, representando um redução de 44,4% do comprimento da ferida.
A observação das medidas de largura da ferida também se mostram positivas com relação ao processo de cicatrização, no primeiro, segundo e terceiro atendimento a largura da ferida era de 4 cm, do quarto ao nono atendimento sua medida já era de 3 cm, e por fim, do décimo atendimento até o décimo segundo, quando deu-se por encerrado o processo de coleta, a ferida apresentou 2 cm de largura. Em um total de doze atendimentos, notou-se uma diminuição de 2 cm, o que corresponde a uma redução de 50% da largura da ferida.
A evolução da cicatrização da ferida n°1 pode ser observada nas figuras 1 e 2.
\"\"
Com relação a ferida nº 02 observou-se que do primeiro ao quarto atendimento a ferida apresentava 3 centímetros de comprimento, aumentando esse número para 5 centímetros do quinto ao oitavo atendimento, essa progressão foi devido ao aparecimento de uma fissura. Após a realização do desbridamento da ferida o processo cicatricial foi acelerado, apresentando uma redução do comprimento da mesma, que no nono e décimo atendimento apresentou 4 centímetros, e por fim, no décimo primeiro e décimo segundo atendimento, quando deu-se por encerrado o processo de coleta, a ferida apresentou 3 cm. Com relação a largura da ferida nota-se que do primeiro ao sétimo atendimento sua medida era de 1 centímetro, do oitavo ao décimo atendimento esse número reduziu para 0,5 centímetro e do décimo ao décimo segundo atendimento, quando o processo de coleta deu-se por encerrado a ferida apresentava 1 centímetro de largura.
Nota-se que em comparação ao inicio da coleta, não se obteve resultado numericamente positivo, porém a qualidade tecidual e processo cicatricial apresentaram-se em estágio satisfatório.
A evolução da cicatrização da ferida n°1 pode ser observada nas figuras 3 e 4.
\"\"
\"\"
Quanto a ferida nº 03 foi visivelmente positivo o resultado, pois a ferida se apresentava do primeiro ao quarto atendimento com um centímetro de largura e um centímetro de comprimento, apresentando do quinto ao sétimo atendimento 0,5 centímetros de largura e 0,5 centímetros de comprimento, no oitavo atendimento o processo cicatricial já estava completo, com reestruturação total dos tecidos.
A evolução da cicatrização da ferida n°1 pode ser observada nas figuras 5 e 6.
\"\"
\"\"
Com relação à qualidade de vida verificou-se que houve melhora de 16%, piora de 7% e a na maioria das respostas 77% mantiveram-se iguais. Com isso conclui-se que o tratamento também contribuiu para melhora da qualidade de vida do paciente. Um ponto que vale destacar, devido às respostas positivas do paciente, é relacionado às questões sobre à auto-estima e maiores perspectivas quanto ao futuro do paciente.
Quanto a sensibilidade protetora plantar, apresentou sensibilidade ausente no hálux do pé esquerdo, e preservada nas demais regiões testadas.
Diante da avaliação da impressão plantar foi constatado deformidades dos dedos (dedos em garra), observamos alteração de distribuição de pressão plantar representada pelo pé plano, que se caracteriza pela diminuição do arco plantar favorecendo a sobrecarga nas regiões de meio-pé, antepé lateral e antepé medial, com exceção da região do hálux, que no pé direito encontra-se com diminuição da descarga de peso, e no pé esquerdo, foi amputado o halux. A diminuição de carga foi observada também nos artelhos de ambos os pés.
Discussão
O reparo tecidual é um estado dinâmico que compreende diferentes processos, entre eles, inflamação, proliferação celular e síntese de elementos que constituem a matriz extracelular, como colágeno, elastina e fibras reticulares, sendo que a aceleração do processo cicatricial através da aplicação do laser hélio neônio vem sendo estudada por muitos autores existindo relatos de resultados positivos da irradiação com a terapia a laser de baixa intensidade (TLBI) e vêm mostrando a contribuição no processo de reparo tecidual, particularmente a respeito da influência na modulação de certos tipos celulares no processo de cicatrização, onde evidenciaram aumento da cicatrização das feridas após terapia com laser, havendo aumento na atividade mitótica, número de fibroblastos, síntese de colágeno e neovascularização dos tecidos lesados [10]. Porém, a cicatrização de feridas se torna mais grave quando observamos as condições referentes ao diabetes, em virtude das alterações neurotróficas e da morfologia dos vasos sanguíneos que por isso retardam o reparo dos tecidos principalmente na segunda fase do processo denominada proliferação, onde a fase inflamatória precede a formação de tecidos de granulação [11]. Contudo, apesar da literatura demonstrar que o diabetes retarda e dificulta o processo de reparação tecidual, observa-se que a utilização do laser na reparação de feridas cutâneas, apresenta grande eficiência [10,11].
No acompanhamento de pacientes com doenças crônicas, como o DM, onde os prejuízos à saúde persistem apesar de um tratamento adequado, a avaliação da qualidade de vida tem sido particularmente importante [12]. O pé diabético causa um considerável sofrimento, além de mudanças no estilo e qualidade de vida do paciente, impedindo suas funções normais e, em alguns casos, levando a amputação [13]. As amputações de membros inferiores estão dentre as deficiências que causam um grande impacto na qualidade de vida das pessoas [14].
Através dos exames dos pés do paciente, histórico da doença, fatores de risco e exame físico com a avaliação da sensibilidade protetora plantar através dos monofilamentos de Semmes-Weinstein (10g) é possível determinar o risco de novas ulcerações no pé diabético. Objetiva-se com isso o objetivo detectar alterações sensitivas de forma precoce, para intervenção fisioterapêutica preventiva. A perda da sensibilidade protetora plantar é um dos principais fatores que contribuem para a diminuição das aferências para o sistema de controle motor e, portanto, para a diminuição do equilíbrio, gerando alterações na marcha e na postura, como menor cadência, passos mais curtos e menor aceleração, assim como lentidão na correção de erros motores ou quando é necessário transpor obstáculos. Dessa forma, pode-se inferir que esses pacientes neuropatas estão mais propensos a sofrer episódios de quedas, dificuldade em subir escadas e mesmo deambular por ruas movimentadas e acidentadas e também que a perda de sensibilidade repercute em áreas com história de ulceração plantar [15,16,17,18,19].
Além da falta de sensibilidade outro fator crucial para o desenvolvimento de úlceras plantares em pacientes que apresentam pé diabético é a presença de deformidades nos pés que aumentam severamente o risco de lesões [17]. As deformidades mais encontradas são dedos em garra e proeminência da cabeça dos metatarsos, calosidades são mais comumente encontradas no calcâneo, meio-pé e hálux, outros achados característicos no pé diabético são: bolhas e calos causados por sapatos apertados ou mal ajustados, verrugas na planta do pé, rachaduras (fissuras), infecção por micose entre os dedos, pequenas infecções nas unhas, unhas encravadas, pequenos ferimentos associados a unhas alteradas [16].
As deformidades ósseas são instaladas a partir da atrofia da musculatura flexora e extensora dos dedos que leva a deformidades de dedos em garra e martelo, bem como o espessamento da fáscia plantar, por estar inserida ao longo do músculo flexor curto dos dedos. A proeminência das cabeças metatarsianas tem sido relacionada com a atrofia dos coxins gordurosos, com deslocamento anterior desses em conseqüência dos dedos em garra e com fraqueza da musculatura intrínseca dos pés. Portanto a presença de deformidades nos pés é um sinal do comprometimento motor que leva ao aumento da pressão plantar e conseqüentemente aumenta o risco de ulceração [18].
Há um mecanismo de proteção do sistema musculoesquelético, redistribuindo as cargas da superfície plantar de áreas insensíveis para as mais sensíveis, e quando isso não é possível, ocorre uma sobrecarga em determinadas regiões já que o déficit sensorial dificulta regular o tempo de contato e a disposição plantar [16].
A etiologia da ulceração ainda é muito complexa e diversos fatores devem ser levados em consideração. É importante notar que não basta ocorrer elevados picos de pressão na superfície plantar, estresses repetitivos no pé insensível têm um papel importante na cronicidade da úlcera. Os sujeitos que já apresentaram uma ulceração no pé devem estar em continuo monitoramento, visto que apresentam um maior déficit de sensibilidade protetora e maiores impulsos de pressões, aumentando assim o risco de ulcerações.
Conclusão
De maneira geral, os resultados demonstraram que é positiva a utilização da laserterapia quando se refere às ulcerações em pé diabético, resultando na cicatrização total e na ausência do mesmo notou-se regressão significativa no diâmetro da ferida e melhora no aspecto tecidual conforme constatado via registro fotográfico.
Pôde ser aferido também que o uso dos monofilamentos SW é um instrumento eficaz na detecção de alterações sensitivas características do pé diabético, demonstrando neste estudo a ausência de sensibilidade protetora plantar o que possibilita a execução de medidas preventivas precoces, que poderão impedir a instalação de ulcerações oriundas das agressões não percebidas pelo diabético.
A análise das impressões plantares, através do podoscópio mostrou-se com boa viabilidade, sendo observado que o paciente apesentava risco de novas ulcerações, devido a constatação de sobrecarga em determinadas regiões dos pés.
O tratamento com laserterapia no pé diabético, além da melhora na cicatrização das feridas promoveu uma melhora da qualidade de vida uma vez que obteve-se respostas positivas, conforme constatado pela análise das respostas ao questionário sobre qualidade de vida, aplicado antes e ao término do tratamento.
O paciente foi orientado verbalmente e através de material impresso quanto aos cuidados necessários para a prevenção de ulcerações no pé diabético. Ao término do tratamento, o mesmo foi encaminhado para a Clínica Escola da UNISUL, Palhoça – Pedra Branca, a fim de dar continuidade no processo de tratamento.
Referências
1. CANDIDO, C. Luiz. Nova abordagem no Tratamento de Feridas. São Paulo: Senac, 2001.
2. AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Diabetes de A a Z – O que você precisa saber sobre diabetes explicado de maneira simples. São Paulo: JSN Editora Ltda, 1997.
3. GUIMARAES, Fernanda Pontin de Mattos; TAKAYANAGUI, Angela Maria Magosso. Orientações recebidas do serviço de saúde por pacientes para o tratamento do portador de diabetes mellitus tipo 2. Revista de Nutrição: Campinas, v. 15, n. 1, 2002. Disponível em: . Acesso em: 02 mai. 2007.
4. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
5. TRONCON, L.E. de A. et al . Freqüência de sintomas digestivos em pacientes brasileiros com Diabetes Mellitus. Revista Associação Médica Brasileira: São Paulo, v. 47, n. 2, 2001. Disponível em: . Acesso em: 02 mai. 2007.
6. ALMEIDA, Guidio de; GALVANIN, Henriquieta. Diabetes Mellitus – Uma Abordagem Simplificada para Profissionais de Saúde. São Paulo: Atheneu, 1997.
7. AZEVEDO, Alexandre Pinto de; PAPELBAUM, Marcelo; D\’ELIA, Fernanda. Diabetes e transtornos alimentares: uma associação de alto risco. Revista Brasileira de Psiquiatria: São Paulo v.24 supl.3, 2002. Disponível em: . Acesso em: 02 mai. 2007.
8. SANTOS, Vanessa Prado dos; SILVEIRA, Denise Rabelo da; CAFFARO, Roberto Augusto. Fatores de risco para amputações maiores primárias em pacientes diabéticos. Sao Paulo Medical Journal: São Paulo, v. 124, n. 2, 2006. Disponível em: . Acesso em: 02 mai. 2007.
9. CARVALHO, Paulo de Tarso Camillo et al. Os Efeitos do Laser de Baixa Intensidade em Feridas Cutâneas Induzidas em Ratos com Diabetes Mellitus Experimental. Revista Fisioterapia Brasil: v. 2, n. 4, 2001.
10. ROCHA, Tatmatsu Carlos José. Terapia Laser, Cicatrização Tecidual e Angiogenese, Revista Brasileira em Promoção da Saúde – RBPS: Fortaleza – CE, vol. 17, n. 1, 2004. Disponível em: http://209.85.165.104/search?q=cache:eUgx2V2x998J:www.unifor.br/hp/revista_saude/v17-1/rbps_v17n2.pdf+terapia+laser,+cicatrizacao+tecidual+e+angiogenese&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=2&gl=br. Acesso em: 22 mai. 2007.
11. PITTA, Guilherme Benjamim Brandão et al. Perfil dos Pacientes Portadores de Pé Diabético Atendidos no Hospital Escola José Carneiro e na Unidade de Emergência Armando Lages. Jornal Vascular Brasileiro: 2005, Vol 4, Nº1 – Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Disponível em: http://www.jvascbr.com.br/05-04-01/05-04-01-05/05-04-01-05.pdf. Acesso em: 25 mai. 2007.
12. LAURINDO, Mariana C. et al. Conhecimento das Pessoas Diabéticas Acerca dos Cuidados com os Pés. Arquivos de Ciências da Saúde: 2005, Vol 12, Nº 2. Disponível em: http://www.cienciasdasaude.famerp.br/racs_ol/Vol-12-2/4.pdf. Acesso em: 02 mai. 2007.
13. SACCO, ICN et al . Avaliação das perdas sensório-motoras do pé e tornozelo decorrentes da neuropatia diabética. Revista brasileira de fisioterapia. São Carlos, v. 11, n. 1, 2007. Disponível em: . Acesso em: 02 Jun 2007.
14. BACARIN, Almeida Tatiana. Distribuição da Pressão Plantar Durante o Andar Descalço e Sensibilidade Somatossensorial de Diabéticos Neuropatas com e sem Ulcerações. 2006. Dissertação (Mestrado em Medicina)-Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5163/tde-29012007-163518/. Acesso em: 26 mai. 2007.
15. ARMSTRONG D.G.; LAVERY L.A. Elevated peak Plantar Pressures in Patients who Have Charcot Arthropathy. The journal of bone and Joint Surgery: 1998, 80-A (3), 365-369. Disponível em: http://www.ejbjs.org/cgi/search?andorexactfulltext=and&resourcetype=1&disp_type=&sortspec=relevance&author1=&fulltext=&pubdate_year=1998&jbjs_src=jobojos&Submit.x=0&Submit.y=0. Acesso em: 25 mai. 2007.
16. RICH J., VEVES A.; Foofoot and Rearfoot Plantar Pressures in Diabetic Patients: correlation to foot ulceration. Wounds: 12 (4), 82-87, 2000. Disponível em: http://www.gaif.net/biblio-art.html. Acesso em 25 mai. 2007.
17. CARRINGTON A. L.; SHAW J. E.; VAN SCHIE C. H. M.; ABOOT C. A.; VILEIKYTE L.; BOULTON A.J.M. Can Motor Nerve Conduction Velocity Predict foot Problems in Diabetics Subjetics over 6 year out Come Period. Diabetes Care: 2002, 25(11), 2010-15. Disponível em: http://care.diabetesjournals.org/cgi/reprint/25/11/2010?maxtoshow=&HITS=10&hits=10&RESULTFORMAT=&andorexacttitle=and&andorexacttitleabs=and&andorexactfulltext=and&searchid=1&FIRSTINDEX=0&sortspec=relevance&volume=25&firstpage=2010&resourcetype=HWCIT. Acesso em: 25 mai. 2007.
18. JORGE, Beatriz H. et al . Análise clínica e evolução de 70 casos de lesões podais infectadas em pacientes diabéticos. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia: São Paulo, v. 43, n. 5, 1999. Disponível em: . Acesso em: 25 mai. 2007.
19. NURSE MA, NIGG BM. The effect of Chenges in foot Sensation onPlantar Pressure and Muscle Activity. Clinical Biomechanics: 2001; 16 (9): 719-27. Disponível em: http://www.elsevier.com/wps/find/journalabstracting.cws_home/30397/abstracting&sa=X&oi=translate&resnum=2&ct=result&prev=/search%3Fq%3DClinical%2BBiomechanics%26hl%3Dpt-BR. Acesso em: 25 mai. 2007.