BENÉFITS OF USING ROOF PLANTS IN WINTER: SYSTEMATIC LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202511181435
Gabriel Gustavo Rinaldi
Jose Fernando Delgado
RESUMO
A adoção de plantas de cobertura é uma prática da agricultura conservacionista, pois controla a erosão, a ciclagem de nutrientes, o incremento da matéria orgânica e a sustentabilidade dos sistemas agrícolas. Este trabalho objetiva analisar os efeitos da utilização de plantas de cobertura de inverno sobre a qualidade do solo e a produtividade das culturas subsequentes, a partir de uma revisão sistemática de pesquisas experimentais realizadas no Brasil. A problemática central da pesquisa reside na necessidade de identificar quais espécies ou combinações de plantas de cobertura proporcionam melhor desempenho agronômico e maior retorno produtivo em diferentes condições edafoclimáticas. Trata-se de pesquisa básica e qualitativa, que aplicou o procedimento metodológico da revisão sistemática de literatura, em que foram selecionados e analisados cinco estudos publicados entre 2007 e 2022, envolvendo diferentes espécies de cobertura, como aveia-preta, centeio, ervilhaca e nabo forrageiro, avaliadas em sistemas de plantio direto e integração lavoura pecuária. As pesquisas selecionadas abordaram variáveis como produção de biomassa, supressão de plantas daninhas, rendimento de culturas sucessoras e qualidade química do solo. Os resultados evidenciam que as plantas de cobertura de inverno aumentam a estabilidade produtiva, favorecem a retenção de umidade, reduzem a infestação de plantas espontâneas e elevam a eficiência do uso de nutrientes, com destaque para os consórcios de gramíneas e leguminosas. Conclui-se que a adoção de coberturas vegetais diversificadas é uma estratégia eficaz para a sustentabilidade agrícola, especialmente em sistemas de plantio direto, proporcionando equilíbrio entre produtividade e conservação ambiental, além de reduzir os impactos da agricultura intensiva.
Palavras-chave: Adubo verde; Cultura de inverno; Solo; Sustentabilidade agrícola.
ABSTRACT
The adoption of cover crops is a conservation agriculture practice, as it controls erosion, promotes nutrient cycling, increases organic matter, and enhances the sustainability of agricultural systems. This study aims to analyze the effects of using winter cover crops on soil quality and the productivity of subsequent crops, based on a systematic review of experimental research conducted in Brazil. The central issue of the study lies in identifying which species or combinations of cover crops provide the best agronomic performance and the highest productive return under different edaphoclimatic conditions. This is a basic and qualitative research that applied the methodological procedure of systematic literature review, in which five studies published between 2007 and 2022 were selected and analyzed. These studies involved different cover crop species, such as black oat, rye, vetch, and forage radish, evaluated in no-tillage and crop-livestock integration systems. The selected studies addressed variables such as biomass production, weed suppression, yield of subsequent crops, and soil chemical quality. The results show that winter cover crops increase yield stability, promote moisture retention, reduce weed infestation, and enhance nutrient use efficiency, with emphasis on the benefits of grass-legume consortia. It is concluded that the adoption of diversified plant covers is an effective strategy for agricultural sustainability, especially in no-tillage systems, providing a balance between productivity and environmental conservation, while reducing the impacts of intensive agriculture.
Key-words: Agricultural sustainability; Green manure; Soil; Winter crop.
1 INTRODUÇÃO
A cobertura do solo é uma prática agrícola voltada à manutenção da sustentabilidade nos sistemas produtivos, pois contribui para a conservação da estrutura do solo, o controle da erosão, a retenção de umidade e o aumento da matéria orgânica. Dentre as estratégias de manejo conservacionista, o uso de plantas de cobertura de inverno, também conhecidas como adubos verdes, tem ganhado destaque nas últimas décadas, especialmente em sistemas de plantio direto e integração lavoura-pecuária (ILP).
Essas espécies, cultivadas em períodos de entressafra, exercem funções ecológicas e agronômicas fundamentais, como a reciclagem de nutrientes, a supressão de plantas daninhas e a promoção da atividade biológica do solo, além de servirem como base para o aumento da produtividade de culturas comerciais como milho e soja.
No contexto agrícola brasileiro, a adoção de plantas de cobertura tem se mostrado particularmente relevante nas regiões Sul e Centro-Oeste, onde o cultivo de culturas anuais ocorre em sucessão ou consórcio com espécies como aveia-preta (Avena strigosa), centeio (Secale cereale), ervilhaca (Vicia sativa) e nabo forrageiro (Raphanus sativus L.). Essas plantas apresentam elevada capacidade de produção de biomassa e diferentes formas de contribuição para o solo: enquanto as gramíneas são eficientes na produção de palhada e no controle da erosão, as leguminosas destacam-se pela fixação biológica de nitrogênio e as brássicas pela descompactação do solo e efeito alelopático. Dessa forma, compreender o desempenho dessas espécies em distintas condições de manejo é essencial para o aprimoramento dos sistemas agrícolas e para a redução da dependência de insumos químicos.
Entretanto, apesar do avanço no uso de coberturas vegetais, ainda há dúvidas sobre quais espécies de inverno promovem melhores resultados em termos de biomassa, supressão de plantas daninhas e rendimento das culturas subsequentes, especialmente quando cultivadas em diferentes arranjos (isoladas ou consorciadas) e sob distintas disponibilidades de nitrogênio no solo. Essa lacuna de conhecimento torna necessária a análise comparativa de estudos experimentais que avaliem o comportamento dessas espécies e seus efeitos sobre parâmetros agronômicos de interesse.
Diante desse contexto, esse trabalho tem como objetivo geral analisar os efeitos do uso de plantas de cobertura de inverno sobre o solo e sobre as culturas de verão cultivadas em sucessão, considerando aspectos relacionados à produtividade, à formação de biomassa e à sustentabilidade do sistema agrícola.
Como objetivos específicos, busca-se:
- Identificar as espécies de cobertura de inverno mais utilizadas nos sistemas agrícolas brasileiros;
- Avaliar os impactos do uso dessas coberturas no rendimento de culturas subsequentes, especialmente milho e soja;
- Discutir a importância do manejo adequado das plantas de cobertura para a sustentabilidade e conservação dos solos agrícolas.
Assim, o estudo contribui para o fortalecimento do manejo conservacionista, oferecendo subsídios técnicos e científicos que favorecem práticas agrícolas mais eficientes e ambientalmente responsáveis, alinhadas às demandas contemporâneas por produção sustentável.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
As plantas de cobertura são espécies vegetais cultivadas com o propósito de proteger e melhorar o solo, principalmente durante períodos em que não há o cultivo de culturas comerciais. São utilizadas como parte da prática de adubação verde, promovendo benefícios físicos, químicos e biológicos ao ambiente agrícola (Dierings, 2022).
A adubação verde é uma prática agrícola que consiste no cultivo de determinadas espécies vegetais com o objetivo de melhorar a qualidade do solo e promover sua conservação. Essas plantas são cultivadas e, em seguida, incorporadas ao solo ou deixadas sobre sua superfície, formando uma camada de palhada que protege e enriquece o ambiente agrícola (Boeni et al., 2021).
Por meio dessa técnica, busca-se aumentar o teor de matéria orgânica, favorecer a fixação biológica de nitrogênio (especialmente quando se utilizam leguminosas), estimular a atividade microbiana e intensificar a ciclagem de nutrientes, tornando-os mais disponíveis para as culturas comerciais que serão implantadas posteriormente. Essa prática visa o controle de plantas daninhas, redução da erosão e melhora da estrutura física do solo, tornando-o mais poroso e apto à infiltração de água (Boeni et al., 2021).
Sendo assim, as plantas de cobertura auxiliam na conservação do solo, visto que reduzem a erosão, o aparecimento de plantas daninhas e a perda de nutrientes. Por apresentarem raízes vigorosas e elevada produção de biomassa, melhoram a estrutura e a porosidade do solo, ampliando a infiltração de água e estimulando a atividade microbiana (Dierings, 2022).
A utilização de plantas de cobertura no inverno representa uma técnica de manejo agrícola que melhora a qualidade e sustentabilidade dos sistemas de produção, garantindo maior resiliência dos solos e estabilidade produtiva ao longo do tempo. A serventia dessas plantas reside na capacidade de manutenção da saúde do solo, atuando como uma barreira natural contra a erosão, o escoamento superficial e a perda de nutrientes, problemas comuns durante o período de inverno em regiões agrícolas (Bonjorno et al., 2010).
Ao cobrir o solo, reduzem o impacto direto das gotas de chuva, diminuem a evaporação da água e proporcionam um microclima mais estável, que favorece a atividade biológica e o acúmulo de matéria orgânica. Além disso, diferentes espécies de plantas de cobertura, como leguminosas, gramíneas e crucíferas, apresentam características específicas que podem ser exploradas de forma estratégica conforme os objetivos do sistema produtivo, seja a melhoria da estrutura do solo, o aumento da disponibilidade de nitrogênio ou o controle de plantas daninhas (Bonjorno et al., 2010).
O uso de plantas de cobertura no inverno não apenas otimiza o aproveitamento das áreas agrícolas durante o período de entressafra, mas também promove uma agricultura sustentável, equilibrada e economicamente eficiente, integrando-se a práticas conservacionistas e ao conceito de manejo integrado do solo e da água (Bonjorno et al., 2010).
Além dos benefícios físicos e químicos, as plantas de cobertura facilitam o manejo biológico e ecológico dos agroecossistemas, visto que aumentam a biodiversidade do solo, estimulando comunidades de microrganismos benéficos e inibindo o desenvolvimento de organismos patogênicos, de modo a contribuir para a resiliência ecológica dos sistemas agrícolas, tornando-os menos dependentes de insumos externos, como fertilizantes e defensivos químicos.
Não obstante, o uso de diferentes espécies em consórcios ou rotações de cultivo potencializa os efeitos positivos das plantas de cobertura. As gramíneas, por exemplo, destacam-se pela produção de grande volume de biomassa e pela capacidade de proteger o solo contra a erosão, enquanto as leguminosas se sobressaem na fixação biológica de nitrogênio, enriquecendo o solo naturalmente. Já as crucíferas possuem raízes pivotantes que auxiliam na descompactação do solo e no aumento da aeração (Calegari, 2016). O consórcio entre essas espécies pode gerar sinergias positivas, resultando em sistemas mais equilibrados e sustentáveis.
De acordo com Alvarenga et al. (2001), a constante adição de resíduos vegetais à superfície do solo tem efeito direto na melhoria da estrutura e na formação de agregados estáveis, o que aumenta a capacidade de infiltração de água e reduz o risco de compactação, revelando que o uso contínuo de plantas de cobertura, especialmente em rotação com culturas comerciais, é capaz de gerar ganhos cumulativos na qualidade do solo ao longo dos anos.
O manejo adequado das plantas de cobertura, isto é, a escolha da espécie, o momento de semeadura, o período de dessecação e a forma de incorporação dos resíduos, é determinante para o sucesso da prática. A escolha deve considerar fatores como o tipo de solo, o clima da região, a cultura principal e os objetivos específicos do agricultor (Ambrosano et al., 2005).
3 METODOLOGIA
Trata-se de pesquisa básica, de natureza qualitativa, desenvolvida por meio do procedimento da revisão sistemática da literatura, de modo a identificar, reunir, analisar e sintetizar as evidências científicas disponíveis sobre determinado tema, permitindo compreender o estado atual do conhecimento e apontar lacunas para futuras investigações. A revisão foi conduzida de acordo com os princípios metodológicos propostos por Marconi e Lakatos (2003), que orientam a realização de revisões sistemáticas em trabalhos científicos.
Para tanto, foram realizadas buscas em bases de dados eletrônicas reconhecidas na área das ciências agrárias, tais como SciELO, Google Acadêmico, Scopus e Periódicos CAPES. Os descritores utilizados incluíram termos como “plantas de cobertura”, “adubação verde”, “manejo do solo no inverno”, “sustentabilidade agrícola” e “culturas de inverno”, tanto em português quanto em inglês, a fim de ampliar o alcance das publicações analisadas.
Foram considerados para análise artigos científicos, dissertações, teses e trabalhos publicados entre 2010 e 2025, priorizando aqueles que apresentavam resultados experimentais, revisões anteriores ou discussões teóricas relevantes sobre o uso de plantas de cobertura em sistemas agrícolas durante o inverno.
Os critérios de inclusão adotados foram: (a) abordar diretamente o tema proposto; (b) apresentar metodologia e resultados claramente descritos; e (c) estar disponível em texto completo nas bases consultadas. Foram excluídas publicações duplicadas, materiais com conteúdo meramente opinativo, resumos sem dados completos e estudos que não tratassem do manejo agrícola ou das condições de inverno.
Após a coleta, cinco publicações foram selecionadas e organizadas e analisadas de forma descritiva, buscando identificar os principais objetivos, métodos empregados, os resultados e conclusões mais relevantes. As informações obtidas foram sintetizadas, interpretativamente, de modo a evidenciar convergências, divergências e tendências sobre a utilização de plantas de cobertura no inverno como prática de manejo sustentável do solo.
4 RESULTADOS
A partir da aplicação das etapas metodológicas apresentadas no tópico anterior, os resultados foram sintetizados na tabela abaixo.
Tabela 1 – Revisão sistemática de literatura
| Autor | Título | Objetivos | Metodologia | Conclusão |
| Dierings (2022) | Plantas de cobertura no controle de plantas daninhas e seus efeitos na produtividade da soja. | Analisar o potencial das culturas de coberta suprimem as plantas daninhas, durante o inverno. Identificar qual planta de cobertura resultou em melhor potencial produtivo na cultura de soja semeada na sequência. | Experimento com oito blocos de tratamento e quatro repetições. Avaliaram-se a supressão de plantas daninhas aos 30, 90 e 135 dias após a semeadura e a produtividade da soja. | As plantas de cobertura apresentaram diferentes produções de fitomassa seca, com destaque para os consórcios, que foram mais eficientes na supressão de plantas daninhas durante o outono/inverno. No entanto, o cultivo da soja sobre os restos dessas plantas não resultou em aumento de produtividade. |
| Bonjorno et al. (2010) | Efeito de plantas de cobertura de inverno sobre cultivo de milho em sistema de plantio direto. | Avaliar a viabilidade do plantio direto sem herbicidas a partir da mistura de centeio, ervilhaca e nabo forrageiro para controle de plantas espontâneas e promoção do rendimento de milho em plantio direto | Experimental, por meio da medição da cobertura do solo e biomassa de plantas de cobertura e espontâneas durante o inverno, rendimento do milho e massa de espontâneas durante o ciclo da cultura de verão. | A cobertura do solo pelas culturas de inverno superou 80%, garantindo boas condições para o milho, que apresentou rendimento acima da média regional (6,0 a 6,7 t/ha), sem diferença entre tratamentos. |
| Silveira et al. (2020) | Plantas de cobertura de solo de inverno em Sistemas de Integração Lavoura Pecuária | Apresentar práticas sustentáveis de cultivo, sejam elas em sistemas solteiros ou consorciados, voltadas à cobertura do solo em sistemas de integração lavoura pecuária (ILP) ou de produção agropecuária integrada (SIPA) durante o outono e inverno na região Sul do Brasil. | Revisão bibliográfica | O uso de culturas de inverno para cobertura do solo, adubação verde ou pastagem melhora as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo, beneficiando culturas sucessoras como milho e soja. Quando associadas ao plantio direto e à semeadura uniforme, essas práticas aumentam a produção de biomassa, reduzem plantas daninhas e favorecem o armazenamento de água. |
| Gomes (2022) | Efeito de plantas de cobertura de inverno na cultura da soja | Comparar três diferentes plantas de cobertura de inverno (centeio, aveia e azevém) e avaliar a eficiência de cada tratamento e produção de soja subsequente. | Experimental de campo. | A aveia preta apresentou o melhor desempenho geral, com elevada produção de biomassa, boa cobertura do solo e maior produtividade da soja. O centeio destacou-se pela alta produção de palha e rusticidade, enquanto o azevém apresentou menor rendimento, possivelmente devido à baixa densidade populacional. O pousio teve menor eficiência, embora a ressemeadura de nabo forrageiro tenha contribuído para a biomassa. Conclui-se que as plantas de cobertura de inverno, especialmente aveia preta e centeio, promovem maior acúmulo de biomassa e produtividade, tornando o sistema agrícola mais sustentável que o pousio. |
| Silva et al. (2007) | Sistemas de coberturas de solo no inverno e seus efeitos sobre o rendimento de grãos do milho em sucessão | “Avaliar o efeito de três espécies de cobertura de solo no inverno, implantadas de forma isolada e consorciadas, sobre o rendimento de grãos de milho em sucessão, com e sem aplicação de N em cobertura; determinar a proporção mais adequada de sementes de nabo forrageiro e de aveia preta em consórcio para maior benefício ao milho em sucessão, sob diferentes níveis de N em cobertura.” | Experimental | Quando o solo apresenta baixo teor de nitrogênio, o consórcio entre gramíneas e leguminosas ou brássicas no inverno tende a elevar a produtividade do milho em comparação ao cultivo isolado de aveia preta, sem reduzir a palhada no sistema de plantio direto. Já em solos com alta disponibilidade de nitrogênio, o efeito das coberturas de inverno sobre o milho é semelhante entre os tratamentos, exceto quando sucede a ervilhaca, que proporciona maior rendimento. Nos consórcios, o nabo forrageiro mostrou-se dominante e sua maior proporção aumentou tanto a produção de biomassa quanto o rendimento do milho subsequente. |
5 DISCUSSÃO
A comparação entre os estudos evidencia que, embora todos enfoquem o uso de plantas de cobertura no inverno, as conclusões convergem quanto ao papel positivo dessas espécies na conservação do solo e na sustentabilidade dos sistemas agrícolas, mas divergem em relação ao impacto direto sobre a produtividade das culturas subsequentes.
Dierings (2022) e Gomes (2022), por exemplo, avaliaram o efeito das coberturas sobre a soja e observaram que, apesar do aumento da biomassa e da supressão de plantas daninhas, o ganho produtivo nem sempre foi expressivo. No estudo de Gomes (2022), a aveia preta apresentou o melhor desempenho, com boa produção de palha e maior rendimento da soja, enquanto Dierings (2022) constatou que a soja cultivada após as coberturas não teve aumento significativo de produtividade, reforçando que os benefícios das coberturas podem se manifestar mais fortemente na saúde do solo do que nos resultados imediatos de produção.
Já os trabalhos de Bonjorno et al. (2010) e Silva et al. (2007) voltaram-se à sucessão de milho, demonstrando resultados mais expressivos no rendimento da cultura. Bonjorno et al. (2010) mostraram que o uso de plantas de inverno, como centeio, ervilhaca e nabo forrageiro, proporcionou cobertura superior a 80% do solo, resultando em produtividade de milho acima da média regional, sem necessidade do uso de herbicidas. Silva et al. (2007) complementam essa visão ao revelar que consórcios entre gramíneas e leguminosas ou brássicas aumentam a produção de biomassa e o rendimento de grãos, especialmente em solos com baixa disponibilidade de nitrogênio, sendo o nabo forrageiro a espécie de maior contribuição na formação de palhada.
Por fim, o estudo de Silveira et al. (2020), de caráter teórico, reforça a importância estratégica das plantas de cobertura em sistemas integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Os autores destacam que o uso dessas espécies no outono e inverno melhora as condições químicas, físicas e biológicas do solo, aumenta o acúmulo de biomassa e contribui para o manejo de plantas daninhas, alinhando-se às conclusões práticas dos estudos experimentais.
Sendo assim, os efeitos demonstraram-se amplamente benéficos sobre os sistemas agrícolas, especialmente em sucessão com culturas de verão como soja e milho. De modo geral, as espécies de plantas de inverno promovem melhorias significativas nas condições do solo, atuando na supressão de plantas daninhas, no aumento da cobertura superficial e na conservação da umidade, o que resulta em um ambiente mais estável e favorável ao desenvolvimento das culturas subsequentes. Além disso, as plantas de inverno contribuem para o acúmulo de biomassa e para a ciclagem de nutrientes, aspectos essenciais para a manutenção da fertilidade e da estrutura do solo.
A cobertura do solo é uma prática agrícola que controla a erosão e serve como adubo verde. Na região Sul, incluindo o sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul, o adubo verde é cultivado durante todo o inverno, mas seu cultivo acontece também na safrinha, isto é, no verão/outono, na safra e em conjunto com culturas econômicas de verão, vez que o clima da região é favorável para tanto. No Cerrado, o cultivo de adubo verde é limitado, sendo possível na sucessão (pós-colheita), em consórcio ou antes da cultura principal de verão ou na integração lavoura-pecuária:
Mas a grande verdade é que a introdução e a expansão do sistema plantio direto vêm abrindo novas perspectivas para o cultivo de adubos verdes para cobertura do solo e, dessa forma, torna viável inúmeras possibilidades de manejo sustentável do solo para essas regiões (Pitol et al., 2006). As modalidades de adubação verde podem ser definidas de acordo com alguns critérios básicos, tais como: época de semeadura, ciclo das espécies e sistema de cultivo dos adubos verdes (Ambrosano et al., 2023).
Dito isso, observa-se que cada região se adapta unicamente ao manejo do adubo verde. As plantas de inverno são aveia-branca, aveia-preta, azavém, canola, centeio, cevada, chícaro, ervilha forrageira, ervilhaca comum, nabo forrageiro, tremoço azul, tremoço branco, trevos, trigo, triticale; e os mixes, que podem ser de aveia preta, ervilhaca e nabo forrageiro, por exemplo (Carvalho et al., 2022). Essas espécies de planta de inverno protegem e melhoram a qualidade do solo, vez que reduzem a erosão hídrica e eólica, aumentam o teor de matéria orgânica, favorecem a infiltração de água e contribuem para o equilíbrio biológico do ambiente agrícola. Ademais, proporcionam reciclagem de nutrientes, especialmente o nitrogênio e o potássio, e atuam na supressão de plantas daninhas por meio da competição por luz, espaço e nutrientes, além da liberação de compostos alelopáticos (Pereira et al., 2021). A cobertura do solo também auxilia na regulação da temperatura e na manutenção da umidade, criando condições mais estáveis para o desenvolvimento das culturas de verão, como milho e soja.
No contexto dos sistemas conservacionistas, o uso de plantas de cobertura de inverno é essencial para o sucesso do plantio direto, pois garante o aporte contínuo de resíduos vegetais e contribui para a formação de uma camada superficial de palhada protetora. Essa palhada, ao se decompor, melhora as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, favorecendo o crescimento radicular das culturas subsequentes e a eficiência do uso de fertilizantes (Silveira et al., 2020). Assim, observa-se que o cultivo dessas espécies atua como uma estratégia de manejo sustentável, reduzindo a dependência de insumos externos e promovendo o equilíbrio agroecológico dos sistemas produtivos.
Em regiões de clima subtropical, como o Sul do Brasil, a adoção de coberturas de inverno tem mostrado resultados expressivos na produção de biomassa e na produtividade das culturas sucessoras. A aveia-preta e o centeio, por exemplo, destacam-se pela elevada produção de palha e pela rusticidade, sendo amplamente utilizadas em sistemas de integração lavoura-pecuária. Já espécies como ervilhaca e tremoço, pertencentes à família das leguminosas, têm se mostrado eficientes na fixação biológica de nitrogênio, melhorando a fertilidade do solo e reduzindo a necessidade de adubação nitrogenada mineral (Fontaneli et al., 2022). Desse modo, o emprego de plantas de cobertura de inverno representa uma ferramenta estratégica para a sustentabilidade e a resiliência dos sistemas agrícolas brasileiros, ajustando-se às particularidades de cada região e cultura principal.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, observa-se que a utilização de plantas de cobertura no inverno contribui para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas e se alinha aos princípios da agricultura conservacionista, que busca conciliar produtividade com preservação ambiental. Essa prática se consolida como uma alternativa viável para reduzir os impactos da agricultura intensiva, recuperar solos degradados e garantir a segurança alimentar de forma duradoura e responsável.
Assim, os resultados apontam que as coberturas de inverno são fundamentais para a sustentabilidade agrícola, sendo mais eficazes quando diversificadas e consorciadas, ainda que seus efeitos produtivos variem conforme o tipo de solo, a cultura sucessora e o manejo adotado.
Conclui-se que o uso de plantas de cobertura de inverno constitui uma prática agronômica essencial para o aprimoramento da qualidade física, química e biológica do solo, atuando na manutenção da matéria orgânica, na ciclagem de nutrientes e na redução de perdas por erosão. A incorporação dessa técnica nos sistemas de produção contribui diretamente para a estabilidade e sustentabilidade das culturas subsequentes, em especial a soja e o milho, ao favorecer o equilíbrio entre produtividade e conservação ambiental.
Os resultados observados nas pesquisas analisadas indicam que a escolha adequada das espécies de cobertura e o manejo do consórcio influenciam significativamente a produção de biomassa, a supressão de plantas daninhas e a disponibilidade de nutrientes no solo. Espécies como aveia preta, centeio, ervilhaca e nabo forrageiro destacam-se pela elevada produção de fitomassa e eficiência no controle de plantas espontâneas, refletindo positivamente na produtividade das culturas comerciais.
Dessa forma, as plantas de cobertura de inverno configuram-se como componentes estratégicos em sistemas de plantio direto e ILP, promovendo eficiência no uso dos recursos naturais e mitigando os impactos ambientais da agricultura convencional. A ampliação de estudos regionais e de longo prazo é indispensável para o desenvolvimento de recomendações técnicas específicas, que considerem as condições edafoclimáticas e o manejo integrado do solo, consolidando essa prática como base de uma agricultura sustentável e regenerativa.
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