Autores:
Ilton da Silva de Figueiredo-Cruz,1
Ramana Sandrine de Aguiar Fortes,1
Francisco José Salustiano da Silva,2,6
Danúbia da Cunha de Sá-Caputo,2,3,4,6
Bruno Bessa Monteiro-Oliveira,2,3,5
1Faculdade Bezerra de Araújo (FABA). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2Departamento de Fisioterapia. Faculdade Bezerra de Araújo (FABA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3Laboratório de Vibrações Mecânicas e Práticas Integrativas, Departamento de Biofísica e Biometria e Policlínica Américo Piquet Carneiro. Universidade de Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 20551-030, Brasil.
5Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental, Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
6Associação Brasileira de Fisioterapia Integrativa e Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (ABRASFIPICS), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
RESUMO
Introdução: A acupuntura promove a liberação de substâncias que podem levar à analgesia, sendo comumente utilizada para o tratamento de distúrbios musculoesqueléticos. É segura, simples, com poucas contraindicações, atóxica e com reações adversas mínimas, tornando-se uma alternativa de tratamento não farmacológico para a lombalgia gestacional decorrente da gravidez. Objetivo: Avaliar os efeitos analgésicos da acupuntura no tratamento da lombalgia em gestantes. Métodos: A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, Scopus e Embase (em 10 de setembro de 2020) por ensaios clínicos randomizados que avaliaram os efeitos da acupuntura em gestantes com lombalgia e/ou dor pélvica. Dois revisores examinaram independentemente títulos e resumos e estudos irrelevantes foram excluídos com base nos critérios de elegibilidade. Resultados: Identificou-se um total de 121 estudos, dos quais foram incluídos 3 estudos, envolvendo 159 gestantes com lombalgia e/ou dor pélvica que utilizavam apenas a acupuntura sistêmica como forma de tratamento. Estudos têm sugerido que a acupuntura está associada à melhora da dor, bem como à diminuição da dor relacionada às atividades de vida diária. Não foram observadas diferenças entre os efeitos induzidos pelos modos de estimulação superficial e profunda da acupuntura. No entanto, iniciar a acupuntura a partir da 26ª semana de gravidez pode maximizar o efeito do tratamento. Nenhum efeito adverso sério da acupuntura foi encontrado nas mulheres. Conclusão: a acupuntura tem sido usada para reduzir a dor lombar e/ou pélvica em mulheres grávidas. Contudo, é necessário realizar mais estudos para reforçar os achados relatados.
Palavras-chave: Acupuntura. Grávida. Dor lombar. Dor pélvica.
ABSTRACT
Introduction: Acupuncture promotes the release of substances that can lead to analgesia, being commonly used for the management of musculoskeletal disorders. It is safe, simple and with few contraindications, with non-toxic and minimal adverse reactions, making it an alternative non-pharmacological treatment for gestational low back pain due to the pregnancy. Objective: Assess the effects of acupuncture of the treatment to low back pain in pregnant women. Methodology: The search was carried out in the PubMed, Scopus and Embase databases (on September 10, 2020) for randomized clinical trials that evaluated the effects of acupuncture on pregnant women with low back pain and/or pelvic pain. Two reviewers independently examined titles and abstracts and irrelevant studies were excluded based in eligibility criteria. Results: A total of 121 studies was identified, and of them, 3 studies were included, involving 159 pregnant women with low back or pelvic pain who used only acupuncture as a form of treatment. Studies have suggested that acupuncture was associated with an improvement on pain, as well as a decrease in pain related to activities of daily living. No differences were observed among the effects induced by the modes of acupuncture superficial and deep stimulation. However, starting acupuncture from the 26th week of pregnancy can maximize the effect of the treatment. No serious adverse effects of acupuncture were found in the women. Conclusion: the acupuncture has been used to reduce low back and/or pelvic pain in pregnant women. However, it is necessary to conduct more studies to reinforce the reported findings.
Keywords: Acupuncture. Pregnant. Low back pain. Pelvic pain.
INTRODUÇÃO
A acupuntura é um método terapêutico caracterizado pela inserção de agulhas filiformes metálicas que permitem a estimulação precisa de diferentes sítios anatômicos, além de abordar o processo saúde-doença de forma íntegra e dinâmica (1). A acupuntura vem sendo realizada para tratar diversas doenças, atuando na neuromodulação da dor e na modulação das funções viscerais e neuroendócrina, pois estudos mostram que os pontos de acupuntura estimulados são ricos em receptores nervosos sensoriais (2,3). O tratamento com a acupuntura apresenta efeitos no alivio da dor associado a distúrbios musculoesqueléticos (4), sendo uma alternativa eficaz para analgesia da dor lombar, além de ser segura, simples, com poucas contraindicações, atóxica e reações adversas mínimas (5,6).
A lombalgia gestacional pode ser classificada como: dor lombar, dor pélvica posterior ou combinação das duas, sendo a dor lombar geralmente sentida antes da primeira gravidez, localizada acima da prega glútea e abaixo das últimas costelas, apresentando movimentação reduzida e dolorosa, enquanto que a dor pélvica é sentida pela primeira vez durante a gravidez, possui natureza intermitente e pode ou não ser irradiada para glúteos e membros inferiores (7,8).
A lombalgia pode resultar de uma série de alterações biomecânicas, hormonais e vasculares associadas à gravidez (9). As alterações biomecânicas relacionadas a postura ocorrem como uma forma de adaptação à vários fatores resultantes da gestação, que incluem o aumento das mamas, do útero gravídico e do peso. Ocorre uma maior inclinação anterior da pelve e rotação externas dos membros inferiores para aumento da base de sustentação, causando perturbação das curvas fisiológicas da coluna (10–12). Estas alterações posturais, principalmente o aumento da lordose lombar, podem estar associados à presença da dor lombar durante o período gestacional (13), além da frouxidão ligamentar resultante do aumento da secreção de relaxina, tornando as articulações da coluna lombar e do quadril mais instáveis e, assim, mais susceptíveis ao estresse e à dor (14).
De acordo com os resultados do estudo de Duarte, Meucci e Cesar (15), 51,2% das gestantes apresentaram lombalgia gestacional durante a gestação. O estudo de Carvalho et al. (16), mostrou que 68% das gestantes tinham lombalgia gestacional, e que ela estava presente mesmo em gestações de baixo risco, possuindo também uma relação direta com o avançar da idade gestacional. Portanto, trata-se de um fator agravante, pois além de ser frequente, resulta em limitações importantes nas atividades de vida diária (15,17), e nas atividades profissionais, reduzindo o ritmo no trabalho pela dificuldade para realizar algumas tarefas, interferindo significativamente na rotina destas gestantes (18–20).
O uso de medicamentos durante a gravidez é expressivo, e ainda que sejam utilizados medicamentos seguros durante a gestação, fatores como automedicação e uso inadequado e irracional são preocupantes, visto que nenhum medicamento é isento de toxicidade, podendo causar danos à mãe e/ou ao feto (21–23). No caso do tratamento para lombalgia gestacional, é frequentemente utilizada a terapia medicamentosa (24), assim, para evitar o risco fetal, a acupuntura torna-se uma alternativa de tratamento não farmacológico para a dor lombar, pois segundo Martins et al. (25), além de oferecer efeitos significativos na redução ou alívio da dor, a acupuntura é capaz de promover saúde de forma prazerosa, simples, cômoda, prática, sem riscos e econômica.
Diante do exposto, o objetivo desta revisão sistemática é avaliar o efeito analgésico da acupuntura no tratamento da lombalgia gestacional.
METODOLOGIA
A revisão foi relatada com base nas diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA) (26), e foi registrada no PROSPERO (International Prospective Register of Systematic Reviews), sob o número CRD42020220734 (27).
Critérios de elegibilidade
Critérios de Inclusão
Ensaios clínicos randomizados (ECRs) em humanos foram considerados para analisar os efeitos da acupuntura em mulheres grávidas com dor lombar e/ou dor pélvica. Para ser elegível para a revisão, o estudo deveria ter tido pacientes grávidas com dor lombar e/ou dor pélvica, que usavam apenas a acupuntura sistêmica como forma de tratamento, e ser publicado apenas em inglês. Nenhuma restrição de data de publicação foi definida.
Critérios de exclusão
Os critérios de exclusão permitiram a eliminação de publicações desnecessárias. Artigos foram excluídos se: (1) com resultados não relacionados a pacientes grávidas com dor lombar e/ou pélvica; (2) não fazia uso de acupuntura sistêmica; (3) ser conduzido com animal; (4) resenhas ou resumos, livro de cartas, comunicações breves, editoriais, coorte e respostas; (5) publicado em um idioma diferente do inglês; (6) usaram tratamento combinado para lombalgia em mulheres grávidas.
Estratégia de pesquisa
Uma busca eletrônica foi realizada nas bases de dados Pubmed, Scopus e Embase em 10 de setembro de 2020, usando a seguinte estratégia de busca ((acupuncture) AND (pregnant) AND (low back pain)). As palavras-chave utilizadas na busca foram definidas com base na estratégia PICOS, com P= pacientes grávidas com lombalgia e/ou dor pélvica; I= intervenção de acupuntura sistêmica; C= sem restrições de comparações permitindo comparações com placebo, cuidados habituais ou intervenção; O= todos os resultados relatados; e S= ECR.
Coleta e análise de dados
Todas as referências duplicadas foram removidas. A revisão foi conduzida seguindo quatro fases: (1) registros foram identificados por meio de pesquisa de banco de dados e triagem de referência (Identificação), (2) dois revisores (ISFC, RSAF) examinaram independentemente títulos e resumos e estudos irrelevantes foram excluídos com base em critérios de elegibilidade (Triagem), (3) textos completos relevantes foram analisados para elegibilidade (Elegibilidade), e todos os estudos relevantes foram incluídos na revisão sistemática e (4) a discordância foi resolvida por um terceiro revisor (BBMO). Os mesmos pesquisadores foram responsáveis pela extração de dados dos estudos incluídos.
Dados relativos às informações do estudo (autor, ano e país), desenho do estudo, dados demográficos (tamanho da amostra, idade e idade gestacional), protocolo, prescrição, variáveis avaliadas e resultados foram extraídos.
Para avaliar o nível de evidência de cada publicação foi utilizado o National Health and Medical Research Council (NHMRC) (28) como está definido na Tabela 1.
Dois revisores (ISFC, RSAF) usaram a ferramenta de colaboração Cochrane (29) para avaliar o risco de viés nos artigos incluídos, e a escala PEDro para avaliar a qualidade dos estudos incluídos nesta revisão sistemática, que é uma ferramenta usada para avaliar a qualidade dos ensaios de fisioterapia e reabilitação (30). As discordâncias foram resolvidas por um terceiro revisor (BBMO).
Tabela 1 – Definição dos níveis de evidências com base no National Health and Medical Research
Council Hierarchy of Evidence
Nível de Evidência | Definição |
I | Revisão sistemática de estudos de nível II. |
II | Ensaio clínicio randomizado. |
III-1 | Ensaio pseudo-randomizado controlado (alocação alternativa, como um estudo cruzado ou algum outro método semelhante). |
III – 2 | Estudo comparativo com controles concorrentes (ensaio experimental não randomizado, estudo de coorte, estudo de caso-controle, série temporal interrompida com um grupo controle). |
III – 3 | Estudo comparativo sem controle concorrente (controle histórico, dois ou mais estudos de braço único, séries temporais interrompidas sem um grupo de controle paralelo). |
IV | Série de casos com resultados pós-teste ou pré-teste/pós-teste. |
RESULTADOS
Um total de 121 estudos foram identificados por meio de uma busca em banco de dados, após a remoção de 68 duplicatas, 53 estudos foram identificados. Durante o processo de triagem, 12 publicações foram excluídas por não estarem relacionadas ao tema abordado pela pesquisa, e o texto completo de 41 estudos foi revisado detalhadamente. Após análise, foram excluídos 38 estudos (18 revisões, 10 fora do tema, 9 terapias combinadas e 1 realizado em animais). Finalmente, 3 estudos foram incluídos na revisão sistemática. A Figura 1 mostra o resumo do processo.
Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção de literatura com base no PRISMA
Considerando a qualidade metodológica com a escala PEDro (Tabela 2), as publicações incluídas tiveram pontuação média de 4,3, com mínimo de 2 pontos (32) e máximo de 7 (33), evidenciando baixa qualidade metodológica. Um estudo (33) foi considerado de \”alta\” qualidade e dois (32,34) foram considerados de \”baixa\” qualidade (35). Quanto ao risco de viés, foi realizada análise dos estudos incluídos com base na ferramenta de colaboração Cochrane (Figura 2).
Tabela 2 – Avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos com escala PEDro.
Fonte: Maher et al. (30). (2) Os sujeitos foram aleatoriamente distribuídos por grupos (num estudo cruzado, os sujeitos foram colocados em grupos de forma aleatória de acordo com o tratamento recebido); (3) A alocação dos sujeitos foi secreta; (4) Inicialmente, os grupos eram semelhantes no que diz respeito aos indicadores de prognóstico mais importantes; (5) Todos os sujeitos participaram de forma cega no estudo; (6) Todos os terapeutas que administraram a terapia fizeram-no de forma cega; (7) Todos os avaliadores que mediram pelo menos um resultado-chave, fizeram-no de forma cega (8) Mensurações de pelo menos um resultado-chave foram obtidas em mais de 85% dos sujeitos inicialmente distribuídos pelos grupos; (9) Todos os sujeitos a partir dos quais se apresentaram mensurações de resultados receberam o tratamento ou a condição de controle conforme a alocação ou, quando não foi esse o caso, fez-se a análise dos dados para pelo menos um dos resultados-chave por “intenção de tratamento”; (10) Os resultados das comparações estatísticas inter-grupos foram descritos para pelo menos um resultado-chave (11) O estudo apresenta tanto medidas de precisão como medidas de variabilidade para pelo menos um resultado-chave.
Figura 2 – Resumo do risco de viés: avaliação dos autores para cada critério de risco de viés
As características dos participantes, os resultados e o nível de evidência dos estudos selecionados são apresentados na tabela 3. Em relação ao nível de evidência (28) dos três estudos incluídos nesta revisão, nível de evidência II foi considerado.
Os resultados avaliados são apresentados na Tabela 3: (I) Escala Visual Analógica (EVA) (32–34), (II) Nottingham Health Profile (NHP) (33), (III) Pain-O-Meter (POM) (32), (IV) Short-Form McGill Questionnaire (SF-MPQ) (32), (V) Short-Form36: Health Survey Questionnaire (SF-36) (32).
Os três estudos realizaram uma comparação entre grupos, com um (34) relatando as diferenças entre o grupo controle e o grupo de intervenção, outro (33) relatando as diferenças entre o grupo de estimulação superficial e grupo de estimulação profunda, porém não incluiu grupo controle. O terceiro estudo (32) comparou as diferenças entre o grupo que iniciou na 20ª semana de gestação e o grupo que iniciou na 26ª semana de gestação, também não foi incluído um grupo controle.
Levando em consideração a duração dos tratamentos, as três publicações tiveram durações distintas, com dois estudos (32,33) variando de cinco a seis semanas, e um estudo (34) até a recuperação total ou parto.
Todos os estudos iniciaram com tratamento duas vezes por semana, permanecendo apenas um (33) com esta frequência até o final, enquanto os outros dois estudos (32,34) começaram a receber tratamento não mais do que uma vez por semana após as primeiras 2 semanas.
Considerando os pontos estimulados, dois trabalhos (33,34) relataram os pontos utilizados, enquanto um dos trabalhos (32), não relatou os pontos. Em um dos trabalhos (32) o número de agulhas foi limitado a cinco na primeira sessão e depois a dez agulhas nas sessões subsequentes, com estimulação realizada em pontos dolorosos não especificados. Outro trabalho (33) relatou o uso de dez pontos clássicos de acupuntura de acordo com a dor (B27, 28, 29, 31, 32, 54, R11, VC3), combinados com pontos mais periféricos (BP6, F2, IG4) relacionado à inervação neurológica na área de dor. Em outro trabalho (34) inicialmente dois pontos (F3 e VG20) foram estimulados juntamente com os pontos de gatilho, que caso fossem insuficientes, alguns desses pontos foram estimulados combinados com os pontos B60 e ID3 ou B22 e 26, o tendão do músculo glúteo mínimo, tendões sacroilíacos e sínfise.
Todos os trabalhos (32–34) relataram melhora da dor, bem como diminuição da dor relacionada às atividades da vida diária.
Tabela 3 – Descrição das características dos estudos selecionados
Estudo | Desenho do Estudo | Dados Demográficos | Protocolo | Prescrição | Variáveis avaliadas | Resultados | NE |
Kvoring et al (34) Suécia | ECR | N = 72 Grupo A = 37 Acupuntura Idade: 30±5.9 a IG: 30±4.2 s Grupo C = 35 Controle Idade: 30±5.9 a IG: 30±4.2 s | Primeiras 2 s, dois tratamentos por s e depois uma vez por s. Até o parto ou recuperação completa em pacientes com acupuntura. Grupo de controle não tratado. | Inicialmente, os pontos de acupuntura F3 e VG20 foram estimulados juntamente com pontos dolorosos locais. Se a resposta fosse insuficiente, era combinada com estimulação nos pontos B60, ID3 ou B22 e 26, o tendão do músculo glúteo mínimo, os tendões sacroilíacos ou na sínfise. | EVA | As pontuações da EVA para intensidade da dor diminuíram em 60% dos pacientes com acupuntura e em 14% dos pacientes do grupo controle. A dor associada a várias atividades físicas diminuiu em 43% dos pacientes com acupuntura e em 9% dos pacientes controle durante o período do estudo. Nenhum efeito adverso sério da acupuntura foi encontrado nos pacientes, e não houve nenhum efeito adverso nas crianças. | II |
Lund et al. (33) Suécia | ECR | N= 47 Acupuntura superficial = 22 Idade: 29.9 (3.0) a IG: 26 (18 – 34) s Acupuntura produnda = 25 Idade: 29.0 (5.5) a IG: 26 (19 – 35) s | 10 tratamentos de acupuntura 30 minutos, 2 x s Total: 5 s. | Para cada sessão de tratamento, 10 pontos de acupuntura clássica foram selecionados para estimulação e escolhidos dependendo do local da dor (B27, 28, 29, 31, 32, 54, R11, VC3) em combinação com mais pontos periféricos (BP6, F2, IG4), | EVA e NHP | Foram observadas mudanças sistemáticas significativas nos grupos em direção a níveis mais baixos de intensidade da dor em repouso e nas atividades diárias, na reação emocional nominal e na perda de energia. Além de mudanças individuais adicionais na maioria das variáveis. Não foram observadas diferenças entre os efeitos induzidos pelos modos de estimulação superficial e profunda. | II |
Ekdahl, Petersson, (32) Suécia | ECR | N = 40 Grupo 1 = 20 Idade: 28.6 a IG: 20 s Grupo 2 = 20 Idade: 27.9 a IG: 26 s | 8 tratamentos de acupuntura primeira sessão de 20 minutos, sessões subsequentes de 30 minutos. Primeiras 2 s, dois tratamentos por s e depois uma vez por s. Total: 6 s. | Na primeira sessão, o número de agulhas foi limitado a 5 e nas sessões subsequentes o número de agulhas foi limitado a 10. Todas as mulheres receberam o mesmo tratamento. Os pontos de acupuntura estimulados não foram descritos | POM, EVA, SF-MPQ, SF-36. | Os resultados do POM, EVA, SF-MPQ e SF-36 mostraram um alívio da dor em ambos os grupos. No grupo 2, uma melhora em várias variáveis do SF-36 foi observada, apesar do aumento das restrições físicas. | II |
DISCUSSÃO
Esta revisão sistemática tem como objetivo avaliar o tratamento da dor lombar e/ou pélvica em gestantes por meio da acupuntura sistêmica. Após análise das publicações incluídas e levando em consideração suas limitações, os resultados sugerem que a acupuntura pode ser eficaz na melhora da lombalgia gestacional.
Os estudos relataram melhora na lombalgia em mulheres grávidas com o uso da acupuntura. Martins et al. (36) apresentaram um protocolo de 6 sessões de acupuntura associada à estimulação em pontos de auriculoterapia, e relataram diferenças significativas na comparação das medidas iniciais e finais, apresentando uma regressão gradual da lombalgia de acordo com o número das sessões, avaliada de acordo com a EVA, além da ausência total de dor em algumas mulheres após as sessões. Nicolian et al. (37) compararam os resultados entre os grupos que receberam tratamento padrão mais acupuntura e tratamento padrão, com duração de 5 sessões de acupuntura, e através da avaliação usando a EVA e a Numerical Rating Scale relataram que a acupuntura foi mais eficaz do que o tratamento padrão sozinho em relação à dor e incapacidade. Esses achados corroboram os resultados encontrados por Kvorning et al.(34), que relataram uma diminuição da intensidade da dor, também avaliada por meio da EVA,e da dor associada às atividades físicas, em significativamente mais pacientes no grupo de acupuntura comparados ao grupo controle, além do fato de algumas mulheres que receberam acupuntura apresentarem ausência de dor, o que não ocorreu em nenhuma paciente do grupo controle, dados que sustentam a eficácia da técnica de acupuntura em diminuir ou cessar lombalgia em gestantes.
Quanto ao modo de estimulação, Lund et al. (33) randomizaram os pacientes para um dos dois modos de estimulação por acupuntura, superficial ou profundo, e usando a EVA como ferramenta de avaliação, eles relataram uma diminuição na intensidade da dor em repouso e durante as atividades, em proporções semelhantes nos dois grupos. O estudo não forneceu evidências suficientes para concluir qualquer diferença nos efeitos entre os dois modos de estimulação por acupuntura, no entanto, ele confirma a eficácia da acupuntura no alívio da intensidade da dor lombar e/ou pélvica e variáveis emocionais em mulheres grávidas.
Ekdahl e Petersson(32), sugerem que pode ser melhor iniciar a acupuntura mais tarde na gravidez para maximizar o efeito do tratamento, uma vez que, após 8 sessões de tratamento, mulheres grávidas com idade gestacional após 26 semanas relataram melhora significativamente maior na intensidade média da dor, avaliada pelo POM e EVA, quando comparada às gestantes na 20ª semana gestacional, que não apresentaram diferença significativa. Usando o SF-MPQ, houve uma melhora significativamente maior na experiência média de dor no grupo de 26 semanas de gestação em comparação com o grupo de 20 semanas de gestação. No entanto, ao contrário do instrumento POM e EVA por meio do SF-MPQ verificou-se que ambos os grupos relataram melhorias significativas na experiência de dor após o tratamento.
Martins et al.(25), utilizaram a versão completa do McGill Questionnaire (MPQ) em um estudo quase experimental, onde relataram uma redução de 91,3% na intensidade da dor, de acordo com o descritores do MPQ escolhidos pelos participantes, confirmando que as gestantes tiveram melhora da dor, tanto na intensidade quanto no escore da experiência dolorosa após o tratamento com duração de até 6 sessões de acupuntura com cada gestante. Não foram encontrados outros estudos que usaram o MPQ ou SF-MPQ para avaliar os efeitos da acupuntura na lombalgia gestacional. Porém, é um questionário importante por fornecer informações sobre as diversas percepções da dor de forma multidimensional (38), visto que de acordo com o trabalho de Ekdahl e Petersson(32), mostrou-se um instrumento mais sensível e específico na avaliação da dor.
A força desta revisão sistemática está relacionada à apresentação do uso da acupuntura como uma ferramenta eficaz para o tratamento de dores lombares e/ou pélvicas em gestantes.
Embora importantes achados tenham sido apresentados, algumas limitações desta revisão sistemática devem ser apontadas, por exemplo, a utilização de apenas três bases de dados, sendo necessária a utilização de mais bases de dados para avaliação dos artigos e, assim, melhorar a qualidade desta revisão, pois há uma escassez de estudos avaliando o efeito analgésico da acupuntura sistêmica na dor lombar gestacional. Embora alguns termos de pesquisa sejam usados, uma estratégia de pesquisa mais ampla com a adição de outros termos poderiam ter sido usada para fornecer mais resultados. Além disso, os trabalhos incluídos mostram heterogeneidade nos protocolos utilizados, como discrepância em relação aos pontos de acupuntura, tempo de tratamento e tempo de atendimento, além de apresentar alguns protocolos incompletos. Portanto, é necessário cautela ao interpretar os resultados desta revisão sistemática.
CONCLUSÃO
Em conclusão, a presente revisão sistemática teve como objetivo relatar os efeitos da acupuntura sistêmica na dor lombar e/ou pélvica em gestantes. Este tratamento tem mostrado redução do nível de dor, principalmente relacionado às atividades diárias, sem efeitos adversos. Assim, a acupuntura sistêmica pode ser considerada um tratamento relevante a ser utilizado na redução da lombalgia gestacional.
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
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