EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E AS DANÇAS DA CULTURA AFRO-BRASILEIRAS: UM DEBATE NECESSÁRIO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7384401


Gledson Pedro da Silva¹
Ana Tereza Viana de Araújo Santos2
Prof.ª Dr.ª Marcela Tarciana Cunha Silva Martins3


Resumo

Esta pesquisa é o resultado de um estudo que buscou analisar como os professores de Educação Física escolar podem superar os desafios encontrados na sala de aula quando o conteúdo for às danças da cultura afro-brasileiras. Entende-se que esta temática é fundamental na formação sócio-histórico dos estudantes, pois a Dança com todos seus sentidos e significados representa vários aspectos da vida dos indivíduos. Dessa forma, é preciso que o aluno conheça, vivencie e reflita acerca das questões étnico-raciais e étnico-culturais presentes nas danças afro-brasileiras. Como percurso deste estudo, através da aplicação de questionários, foram analisadas as dificuldades encontradas pelos estudantes e professores da rede pública de ensino na cidade de Paulista-PE, no trato com as danças da cultura afro-brasileira. Os resultados dessas análises mostram que os estudantes encontram dificuldades no aspecto comportamental, mas também por associarem esta temática apenas ao movimentar-se, não relacionando esta abordagem aos aspectos sociohistóricos e socioeducacionais. E quanto aos professores, foi observado que estes profissionais carecem de mais (in)formações acerca do conteúdo danças afro-brasileiras. Diante disto, conclui-se que é preciso pensar estratégias que venham subsidiar professores, no sentido de ampliar seus conhecimentos no campo da cultura afro-brasileira e, consequentemente, provocar o debate através da construção de uma ponte entre as matrizes culturais e o contexto escolar, visando ampliar o campo das identidades culturais dos estudantes.

Palavras-chave: Dança afro-brasileira, Educação Física escolar, identidade cultural

Abstract

This research is the result of a study that sought to analyze how Physical Education teachers at school can overcome the challenges encountered in the classroom when the content is the dances of the Afro-Brazilian culture. It is understood that this theme is fundamental in the socio-historical formation of students, as Dance with all its senses and meanings represents various aspects of individuals’ lives. In this way, it is necessary for the student to know, experience and reflect on the ethnic-racial and ethnic-cultural issues present in Afro-Brazilian dances. As part of this study, through the application of questionnaires, the difficulties encountered by students and teachers from public schools in the city of Paulista-PE, in dealing with dances of Afro-Brazilian culture, were analyzed. The results of these analyzes show that students encounter difficulties in the behavioral aspect, but also because they associate this theme only with moving, not relating this approach to socio-historical and socio-educational aspects. And as for the teachers, it was observed that these professionals lack more (in)formation about the content of Afro-Brazilian dances. In view of this, it is concluded that it is necessary to think about strategies that will subsidize teachers, in the sense of expanding their knowledge in the field of Afro-Brazilian culture and, consequently, provoking the debate through the construction of a bridge between the cultural matrices and the school context. , aiming to expand the field of students’ cultural identities.

Keywords: Afro-Brazilian dance, School Physical Education, cultural identity

Introdução

A Educação Física, enquanto componente curricular da área de linguagens e suas tecnologias, no curso de processo de ensino, sistematizam e tratam pedagogicamente conteúdos da cultura corporal de movimento. Nesse sentido, esta disciplina rompe com o pragmatismo histórico da área que pautava seus conhecimentos apenas no aspecto biológico, fisiológico e esportivo.

De acordo com Santos e Fuzii (2019), na relação entre Educação Física e Linguagem, o corpo, é um texto a ser lido e interpretado, pois é também no corpo que o ser humano transparece sua identidade, sua cultura, suas marcas históricas, suas crenças.

Cada prática da cultura corporal de movimento, jogo e brincadeira, esporte, luta, atividades de aventura, ginástica e dança, materializa-se na prática corporal, através de compreensão e exploração da gestualidade e do movimento, entendida como ação cognitiva, intencional e significativa” (ABAURRE et al., 2020, p.25).

Santos e Fuzii (2019) afirmam que, desse modo, a linguagem corporal é carregada de significados culturais construídos socialmente, que permitem a compreensão de todo e qualquer movimento não apenas como ato mecânico, mas sim como “texto” a ser lido, ancorado no grupo ao qual esse corpo pertence.

Neste sentido, a Educação Física escolar dentro das suas atribuições enquanto disciplina da área de linguagens e suas tecnologias têm como principal tarefa formar indivíduos capazes de produzir, transformar e usufruir da cultura corporal de movimento, analisando de forma crítica as contribuições que as práticas corporais trazem relacionadas ao seu projeto de vida e do seu papel na sociedade.

Enquanto ao ensino da Educação Física na escola, Abaurre et al. (2020, p.25) diz que:

Os princípios pedagógicos que devem orientar a preparação e o desenvolvimento das aulas para o ensino da Educação Física no Ensino Médio: diversidade (com seus múltiplos fatores e aspectos), cultura, contextualização, transformação sociocultural, inclusão de todos e relação entre conhecimento e a natureza.

Para melhor apreensão dos conhecimentos que trata a Educação Física, a BNCC sugere oito dimensões que devem ser abordadas e entendidas de modo integrador, sendo elas destacadas em negrito:

Experimentação: refere-se à dimensão do conhecimento que se origina pela vivência das práticas corporais […]; Uso e apropriação: refere-se ao conhecimento que possibilita ao estudante ter condições de realizar de forma autônoma uma determinada prática corporal. […]; Fruição: implica a apreciação estética das experiências sensíveis geradas pelas vivências corporais […]; Reflexão sobre a ação: refere-se aos conhecimentos originados na observação e na análise das próprias vivências corporais e daquelas realizadas por outro […]; Construção de Valores: Vincula-se aos conhecimentos originados em discussões e vivências no contexto da tematização das práticas corporais, que possibilitam a aprendizagem de valores e normas voltadas ao exercício da cidadania […]; Análise: Está associada aos conceitos necessários para entender as características e o funcionamento das práticas corporais (saber sobre) […]; Compreensão: Está associada ao conhecimento conceitual, mas diferentemente da dimensão anterior, refere-se ao esclarecimento do processo de inserção das práticas corporais no contexto sociocultural […]; e Protagonismo comunitário: refere-se às atitudes/ações e conhecimentos necessários para os estudantes participarem de forma confiante e autoral em decisões e ações orientadas a democratizar o acesso das pessoas às práticas corporais […] (BRASIL, 2018, p. 221-222).

Como pudemos observar, a BNCC em seu texto apresenta garantias e várias possibilidades de aplicação dos conteúdos da cultura corporal nas aulas de Educação Física, a partir dos princípios pedagógicos e das dimensões que devem ser abordadas.

Dessa forma, cabe ao professor de Educação Física escolar traçar um panorama que possibilite abordar temas que tenham presença marcante na nossa sociedade, buscando uma aprendizagem que favoreça a ampliação da interação sociocultural dos educandos permitindo que os mesmos adotem uma postura crítica em relação aos conteúdos da cultura corporal de movimento.

À luz deste entendimento, busquei introduzir em minhas aulas, conteúdos voltados à dança afro-brasileira junto às turmas do 1° ano do ensino médio, com o foco nas danças regionais do estado de Pernambuco, visando à valorização da nossa diversidade cultural, através do diálogo entre movimento corporal e o contexto social no qual estamos envolvidos.

Porém, em minha percepção pedagógica, quando abordamos o conteúdo Dança nas aulas de Educação Física escolar, em especial danças afro-brasileiras, numa perspectiva crítica, as respostas apresentadas pelos educandos não foram as melhores, não por uma postura contraria, mas sim, pela cultura construída ao longo de anos de um ensino bem pragmático e constituído sem sintonia com o contexto sociocultural do Brasil.

Deste modo, mesmo sabendo que essas danças fazem parte da nossa identidade cultural, resistência, repulsa e silêncio foram alguns dos comportamentos observados nos alunos durante a exposição do conteúdo durante a aula de Educação Física, na escola de referência em ensino médio Escritor José de Alencar, situada na cidade do Paulista-PE.

Em razão disso e, pelo simples fato de ter me deparado com o baixo interesse na discussão e na baixa participação nas aulas envolvendo práticas corporais relacionadas às danças da cultura afro-brasileira, por parte dos alunos dos 1º anos da escola de referência em ensino médio Escritor José de Alencar, despertou-me o interesse em investigar esse fenômeno.

 Neste sentido, a investigação apontou para alguns questionamentos destacados a partir das seguintes reflexões: Como o professor de educação física escolar pode superar as barreiras impostas pelo pragmatismo pedagógico, do modelo tradicional no ensino escolar, para realização de um ensino articulado entre cultura e atividade física? Quais as dificuldades encontradas pelo professor quando o conteúdo são as danças afro-brasileiras nas aulas de educação física escolar? De que maneira os conteúdos da cultura afro-brasileira são vivenciados pelos alunos nas aulas de Educação Física durante o período de formação no ensino fundamental II? 

Ciente de que vários fatores possam dificultar a aplicação de determinados temas ou conteúdos nas aulas de Educação Física escolar, o interesse por este estudo partiu das seguintes hipóteses:

Para superação do pragmatismo pedagógico no ensino de Educação Física escolar, o docente estabelece, através de práticas de ensino, um diálogo crítico e reflexivo entre a cultura afro-brasileira e atividade física de forma articulada ao currículo em sala de aula; A falta de estrutura presente na escola dificulta o desenvolvimento de práticas pedagógicas que possam impulsionar o pensamento crítico dos alunos com base nas atividades realizadas nas aulas de Educação Física escolar; As danças da cultura afro-brasileiras, enquanto conteúdo da disciplina Educação Física é vivenciado de forma pontual no ensino fundamental II.

Sendo assim, ciente do meu papel enquanto cidadão, que valoriza a pluralidade cultural da sociedade brasileira, buscou-se neste estudo um aprofundamento que levava em conta entender os aspectos que sustentavam as novas gerações a não identificação com suas matrizes culturais.

Dessa forma, esta pesquisa teve como destaque o tema dança afro-brasileira, em especial, sua relevância social para a abertura de novos olhares e caminhos de discussão para a pesquisa educacional. Neste sentido, ao trazer para a Educação Física escolar este debate referente à introdução das danças afro-brasileira no âmbito da prática pedagógica, procuro ampliar as discussões sobre um tema quase ausente na literatura da Educação Física escolar.

Diante dessa realidade, utilizamos uma aplicação investigativa, que buscou superar as dificuldades estruturais, pedagógicas e didáticas em relação ao conteúdo danças afro-brasileiras no contexto escolar. Para tanto, realizamos uma pesquisa de campo descritiva com abordagens qualitativas e quantitativas. O campo da pesquisa foram três escolas, sendo duas escolas da rede estadual de ensino de Pernambuco, e uma escola da rede municipal de Paulista-PE. Quanto a população da pesquisa, foram 180 estudantes das escolas estaduais e 2 professores da rede municipal de Paulista-PE.

A partir dos resultados obtidos na pesquisa, apresentaremos neste artigo dados referente as dificuldades encontradas pelos estudantes com as danças, em especial as danças da cultura afro-brasileiras, mas também de analisar como os professores de Educação Física superam estas barreiras. Assim sendo, este estudo tem como intuito, dar sustentação aos professores no trato desta temática, e também, promover a ampliação de referenciais teóricos acerca das questões étnicos raciais, no campo da Educação Física escolar.

A Importância das Danças nas aulas da Educação Física escolar

Sendo a Educação Física escolar uma disciplina que sistematiza conteúdos da cultura corporal de movimento, e que dentro das suas atribuições, contribui para a construção de um estilo pessoal de praticá-las, onde através de seus instrumentos, tornam os estudantes indivíduos capazes de apreciá-las criticamente no contexto escolar.

Neste sentido, como parte integrante desta disciplina, o conhecimento Dança apresenta-se como uma manifestação da cultura corporal de movimento, rica e, com uma grande diversidade de representações dos diferentes grupos étnicos e das diferentes culturas, possibilitando aos profissionais de Educação Física aplicarem inovadoras intervenções, pois a Dança, além de trazer seus aspectos científicos, pode proporcionar ao educando saberes que irão contribuir com a sua formação no ensino básico.

Quanto à importância deste conteúdo, concordamos com Santos (2022, p.4), quando diz que “a dança na escola transcende a formação do estudante de forma isolada, pois amplia a visão de mundo a partir das reflexões e das vivências do movimento de forma pensada e crítica.” Dessa forma, a Educação Física escolar dentro das suas atribuições enquanto disciplina da área de linguagens e suas tecnologias têm como principal tarefa formar indivíduos capazes de produzir, transformar e usufruir da cultura corporal de movimento, analisando de forma crítica as contribuições que as práticas corporais trazem relacionadas ao seu projeto de vida e do seu papel na sociedade.

Educação Física escolar e sua relação com a cultura afro-brasileira: uma proposta de valorização a partir da Lei 11.645/08

A lei 11.645/08, altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” […] § 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (BRASIL, 2008, p.1)

Diante do marco legal desta lei, a Educação Física escolar, por meio do conhecimento Dança afro-brasileira, têm a oportunidade elaborar práticas educacionais que venham promover debates que visem desfazer preconceitos construídos ao longo da história, além de proporcionar a exploração das tradições do povo negro afrodescendentes do nosso Brasil, buscando valorizar sua cultura historicamente construída.

De acordo com Mattos (2009, p.130) “no ensino da Educação Física se desconsidera o corpo negro, não reconhecendo como positiva a sua cultura e o valor simbólico que esse corpo carrega de uma construção histórica, social e racial”. Neste sentido, Paula (2018) destaca que as questões relacionadas à história e cultura afro-brasileira são praticamente inexistentes, superficiais ou distantes dos pressupostos e orientações presentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais.

Este cenário demonstra que mesmo com a consciência do debate público sobre as questões étnico-raciais, ainda é evidente uma grande disparidade quando se trata da temática dança afro-brasileira em ralação a outros temas abordados na perspectiva de corpo e corporeidade. Diante desses fatos torna-se necessário uma maior aproximação pautada nas diretrizes presentes na proposta da Lei 10.639/03 da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional Brasileira.

Para efetivação desta demanda social, presente na Lei 10.639/03 da LDB, e contribuir para o aumento das produções teóricas na área da educação física escolar é preciso despertar o senso de justiça social com intuito de efetivar a compreensão da identidade cultural brasileira através da sensibilização do coletivo social frente às disparidades fundantes de nossa identidade histórica.

Diante desta tarefa e, no intuito de desenvolver a cultura para uma melhor visão de mundo, a escola desempenhará o papel de incentivadora e formadora de alunos, que por meio da pesquisa, da leitura e do debate com outros alunos e professores venham adquirir um amadurecimento em relação a sua capacidade de contextualizar e raciocinar de forma crítica o objeto estudado.

A partir dos pressupostos, o estudo sobre a temática da dança afro-brasileira no âmbito do ensino médio é um caminho para abertura e compreensão de alguns aspectos fundamentais que possam vir a ajudar na prática e nas ações do professor em sala de aula, além de contribuir com a formação do aluno cidadão através de algumas questões levantadas neste estudo.

Dificuldades enfrentadas pelos estudantes e professores no trato com as danças afro-brasileiras

Este estudo é resultado da análise de dados obtidos a partir das respostas dadas por alunos do 1º ano do ensino médio, de duas escolas da rede estadual de ensino do estado de Pernambuco. A análise destes dados foi ocasionada pelo estudo de campo da pesquisa de mestrado, que tinha como tema danças afro-brasileiras no ensino médio: conflitos e resistências.

A referida pesquisa apontou para necessidade da ampliação das discussões e vivências acerca do conhecimento danças da cultura brasileira com influências nas matrizes africanas, no campo da Educação Física escolar.

De acordo com as respostas obtidas neste estudo, foi visto que os estudantes apresentaram grande desconhecimento sobre esta cultura, entretanto apontaram em sua maioria interesse pelo o estudo desta cultura. Quanto aos professores envolvidos na pesquisa, foi identificado que os profissionais também apresentaram dificuldades em trabalhar com esta temática. Isto implica aos professores de Educação Física escolar uma maior compreensão dos desafios impostos pelas Leis 10.639/03 e 11.645/08, que apresentam no seu texto a obrigação da inclusão dos conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros em todo âmbito do currículo escolar.

Metodologia

A pesquisa teve por caminho metodológico a pesquisa de campo, descritiva e de abordagem qualitativa e quantitativa. Neste âmbito, o estudo está focado em turmas do 1º ano do ensino médio da disciplina Educação Física. Neste sentido, esse aprofundamento tem por objeto de estudo as danças afro-brasileiras e sua prática no currículo da Educação Física escolar.

O campo de investigação da pesquisa com os alunos foi a Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar e a Escola de Referência em Ensino Médio Professor Arnaldo Carneiro Leão, ambas situadas na cidade de Paulista-PE, e na abordagem aos professores, o campo da pesquisa foi a Escola Municipal Manoel Gonçalves da Silva, também situada na cidade de Paulista-PE.

Quanto à sua tipologia, a investigação pode ser definida como um estudo de caso múltiplo, para designar uma diversidade de pesquisa que coleta e registra dados de um caso particular, ou de vários casos, a fim de organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente (CHIZZOTTI, 2001).

De acordo com Malhotra (2001, p.155), “a pesquisa qualitativa proporciona uma melhor visão e compreensão do contexto do problema, enquanto à pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e aplica alguma forma da análise estatística”. Diante disto, os dados coletados foram analisados a paritr desta perspectiva.

Os dados qualitativos e quantitativos desta pesquisa foram obtidos a partir dos questionários aplicados aos estudantes e professores envolvidos no estudo. Dessa forma, a estratégia escolhida nos permitiu analisar como os professores de Educação Física escolar podem superar as dificuldades apresentadas no âmbito da sala de aula.

Resultados e discussões

Para apresentação dos resultados e discussões, utilizaremos na identificação das escolas dos referidos estudantes, as siglas EA e EB, ou seja, utilizaremos para a Escola de Referência em Ensino Médio Escritor José de Alencar a sigla (EA) que refere-se a Escola A, e para a Escola de Referência em Ensino Médio Professor Arnaldo Carneiro Leão utilizaremos a sigla (EB) que refere-se a Escola B. Para identificar os professores e envolvidos na pesquisa, utilizamos as siglas (P1 e P2), que refere-se a Professor 1 e Professor 2 e, para identificarmos os estudantes, utilizamos uma numeração organizada por ordem alfabética, em seguida a siglas EA ou EB. Como por exemplo: 25EA, que corresponde ao aluno 25 da Escola A.

A partir deste entendimento, procuramos saber dos estudantes envolvidos na pesquisa se eles (as) sentiam dificuldades em participar das festividades que envolvessem danças na escola (Tabela 1). Diante deste questionamento, os pesquisados da Escola A que responderam sentir algum tipo de dificuldade, 60% eram do gênero masculino e 40% do gênero feminino, enquanto na Escola B, dos pesquisados que apontaram alguma dificuldade, obtivemos 50% para cada gênero.

Dos estudantes pesquisados na Escola A, que responderam não ter sentido dificuldades em vivenciar danças durante as festividades da escola a qual cursou o ensino fundamental, constatamos que 49% das respostas foram dadas pelo gênero masculino e 51% pelo gênero feminino, enquanto na Escola B, 54% das respostas foram dadas pelo gênero masculino e 46% pelo gênero feminino.

Tabela 1. Saber dos (as) estudantes das escolas A e B, envolvidos na pesquisa, se eles sentiam algum tipo de dificuldade em participar das atividades festivas que envolviam danças, Maranguape I, Paulista – PE.

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Dos estudantes evolvidos na pesquisa que responderam sentir algum tipo de dificuldade em vivenciar as danças na escola, 9% dos pesquisados da escola A e 6% dos pesquisados da Escola B responderam que o que dificultavam suas vivências era a suas opções religiosas. Não gostar de dançar e não saber dançar representaram 14 e 40% das respostas dos estudantes pesquisados da Escola A, respectivamente. Já na Escola B, não gostar de dançar foi equivalente a 20% das respostas, e não saber dançar ficou em 32%. Outra dificuldade apontada pelos os estudantes das Escolas A e B foi a timidez, sendo 37 e 42%, respectivamente.

Gráfico 1 – Dificuldades relatadas pelos os estudantes das escolas A e B, Maranguape I, Paulista – PE,
envolvidos na pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Diante do exposto, vimos que grandes são os desafios do professor na inserção dos alunos nessas práticas. O fator religião na apropriação do conhecimento dança, em especial no trabalho referente às manifestações folclóricas e da cultura afro-brasileiras dançantes, explicitam muitas vezes desconhecimento da própria cultura por parte dos pais ou responsáveis legais, ou até mesmo, simplesmente uma imposição da sua denominação religiosa, que de maneira sútil ou não, demonizam esse conhecimento.

Outra dificuldade apontada pelos estudantes foi à timidez, que é algo que requer do indivíduo muito esforço e bastante persistência para que essa condição não atrapalhe o seu desenvolvimento cognitivo e sua qualidade de vida.

Para superação dessa condição, Monteiro, Ferreira e Ribeiro (2018) diz que

Superar a timidez é um processo gradual, que deve ser vivido passo a passo. Algumas formas de impedir que a timidez traga prejuízos significativos a vida, é através da participação em situações de exposição social nas quais o indivíduo se sinta mais seguro, e possa elencar pequenos objetivos comportamentais para serem realizados a cada dia, desenvolvendo assim, estratégias de enfrentamento da ansiedade (como técnicas de relaxamento, respiração e visualização), etc. (MONTEIRO; FERREIRA; RIBEIRO, 2018, p.179)

Ainda segundo aos autores, “é importante deixar claro que o aluno tímido necessita de estímulo e que não pode, de forma alguma, ser ignorado ou esquecido na sala de aula, como se esta atitude fosse sinônimo de respeito para com ele” (MONTEIRO; FERREIRA; RIBEIRO, 2018, p.184).

Portanto, deixar o aluno isolado, seja qual for o conhecimento tratado, é uma ação equivocada da parte do professor, mesmo com a melhor das intenções. O aluno tímido depende de oportunidades de interação para que possa, aos poucos, superar suas dificuldades de exposição através da autoconfiança.

Sobre o não gostar de dançar e não saber dançar, Nascimento e Lopes (2021) dizem que todos podem dançar independente de fazer códigos específicos de dança ou utilizar outras memórias corporais para compor suas danças, basta que se movimentem, pois há beleza no simples mover-se, e consequentemente esses movimentos transformam-se em dança.

Para tanto, é preciso pensar na dança enquanto prática pedagógica que parta da realidade do aluno e o meio a qual ele está inserido. Souza e Hunger (2019, p.15), corroboram afirmando que “assim, levaremos o aluno a pensar na dança como um processo individual, coletivo e social, em que todos são produtores de saberes e conhecimentos”. Neste sentido, a Dança nas aulas de Educação Física e nas culminâncias das festividades proporcionará aos estudantes refletir sobre sua cultura como todo.

Dando continuidade a pesquisa e objetivando investigar o interesse dos estudantes a respeito das danças da cultura afro-brasileira perguntamos se os pesquisados tinham interesse em saber mais sobre esta cultura (Gráfico 2). Constatamos que 65% das respostas dos estudantes da Escola A e 62% dos pesquisados da Escola B responderam de forma positiva, 35% e 34% dos estudantes pesquisados da Escola A e B, respectivamente, responderam negativamente, enquanto 5% dos pesquisados da Escola B não sabe responder.

É importante destacar que dentro do vocabulário dos estudantes que responderam sim na questão, a maior parte das respostas é breve como “seria interessante”, com destaque para fala do estudante 69EA que explanou da seguinte forma sua resposta “sim, porque a cultura brasileira tem um potencial incrível, mas é muito pouco conhecida”.

Gráfico 2 – Saber se os estudantes das escolas A e B, no ensino médio gostariam de saber sobre as Danças da Cultura Afro-brasileira, Maranguape I, Paulista – PE, envolvidos na pesquisa.

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Quanto aos alunos que não apresentaram interesse em vivenciar as danças da cultura afro-brasileira, observamos que boa parte das respostas apresentadas por eles eram de não gostar de qualquer estilo de dança, porém achamos importante destacarmos a fala do estudante 10EA que disse: “acho que não, nem todos tem a mesma opinião e estilo que eu, e eu não gosto muito das danças brasileiras”. Isso nos remete as respostas dadas pelos estudantes quando questionados quanto as suas preferências em relação às danças, e uma parte desses estudantes responderem que preferem gêneros musicais com influências de outros países, evidenciando o pouco interesse por sua cultura.

Portanto, diante das respostas dadas pelos pesquisados, sejam elas positivas ou negativas, entendemos ser primordial o papel do professor, no sentido de (re)pensar sempre suas práticas pedagógicas, buscando estar sempre atento e disposto a adotar novos métodos de ensino e aprendizagem com o intuito de despertar o interesse dos alunos para tratar de determinados assuntos, e consequentemente auxiliá-los no processo de construção e assimilação do conhecimento.

As danças afro-brasileiras podem ser consideras ferramentas necessárias para valorização e seguimento da cultura africana em nosso país. De acordo com Coelho (2019, p. 72-73), “É através dos corpos que mitos, signos, significados, simbologias, histórias vão sendo movimentadas, proporcionando a exaltação da cultura afro e das histórias negras”.

Após finalizarmos a coleta de dados dos estudantes envolvidos na pesquisa demos continuidade à pesquisa aplicando um questionário a professores de Educação Física de ensino fundamental II da rede municipal da cidade de Paulista-PE e da rede estadual de ensino de Pernambuco.

Em virtude do processo pandêmico da COVID-19 não conseguimos receber em tempo hábil os questionários dos professores da rede estadual de ensino, ficando por analisar apenas as respostas dos professores da rede municipal da cidade de Paulista-PE. Além disso, os professores da rede estadual de ensino não demonstraram interesse em participar da pesquisa.

Dentre os dados obtidos, observamos que os professores pesquisados possuem licenciatura plena em Educação Física, formação esta que garante uma práxis educacional que facilita o aprendizado do educando de ensino básico, e verificamos também, que ambos possuem formação em nível de pós-graduação (especialização), o que revela um interesse por parte desses profissionais em se aprofundar em assunto acerca de sua vida profissional ou cotidiana. De toda a amostra, vimos que ambos os professores possuem formação acadêmica na mesma instituição de ensino.

Quadro 1 – Caracterização dos perfis dos profissionais docentes da Escola Municipal Manoel Gonçalves da Silva, envolvidos na pesquisa, Maranguape I, Paulista, Pe.

Fonte: Dados da pesquisa (2022).

Logo após verificarmos a caracterização dos profissionais envolvidos na pesquisa, buscamos compreender se a cultura afro-brasileira fazia parte da grade curricular do seu curso durante o período de sua formação acadêmica. Observando as respostas dos profissionais em relação a este questionamento, temos que o P2 foi bem enfático e sucinto na sua resposta dizendo que “não”, e vimos também que P1 apesar de responder negativamente falou que chegou a ver “apenas superficialmente”.

De fato, as respostas dos pesquisados não nos causou espanto, até porque, de certa forma, seria justificável pelo fato de essa demanda, ou seja, o trato com relacionado à cultura afro-brasileira só ter sido de fato criado a partir da Lei nº 10.639/2003 e posteriormente modificada pela Lei nº 11.645/2008, e as formações no curso de licenciatura dos pesquisados ter se dado muito antes.

Contudo, apesar dos avanços que a Lei 11.645/2008 trouxe para afirmação da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas brasileiras, observamos nas respostas dos dois professores quando questionado se nos últimos cinco anos receberam algum tipo de formação continuada relacionada às danças da cultura afro-brasileira, e ambos responderam “não”. De certa forma nos leva a entender as dificuldades encontradas pelos profissionais ao trabalhar esta temática, já que na sua formação não lhes foi garantido um programa de formação acadêmica para que de fato pudessem desenvolver estes conteúdos no espaço escolar. Corroborando com o exposto, nos reportamos a Crocetta (2014, p.17) que diz:

A formação inicial de professores é primordial na construção das concepções e das visões de mundo sobre a educação, e, por isso, é fundamental que os assuntos relacionados aos diversos conhecimentos culturais sejam abordados e aprofundados nessa fase.

Em vista disso, Ribeiro, Souza e Ronnie (2020) afirmam que,

Deve-se levar em consideração que a atuação do professor torna-se crucial, ainda que esta não venha a ser exclusiva, tem um fator determinante para que as discussões e a ampliação delas, relacionadas a valorização da história da África e do  negro,  possam ser inseridas no cotidiano escolar  e  na vida desses alunos com  maior  eficiência. ( 2020, p.10)

Desse modo, entendemos ser indispensável que aja ações por parte das Secretarias de Educação e instituições de ensino, por meio da oferta de formações continuadas, que tenham por intuito orientar os profissionais de Educação Física no trato com as temáticas étnico-raciais, pois a discussão acerca desta temática deve ser ministrada no âmbito de todo currículo escolar.

Dando continuidade, perguntamos aos professores envolvidos na pesquisa se eles encontravam alguma dificuldade em trabalhar com o tema danças da cultura afro-brasileiras em suas aulas e, constatamos que ambos sentem dificuldades trabalhar com essa temática. Diante deste questionamento, coincidência ou não, os profissionais entrevistados atribuíram suas dificuldades a falta de formação continuada neste tema.

Como afirmaram em suas palavras, o P1 diz que: “Sim. Acho que preciso de mais formações nessa área”, analogamente o P2 falou: “Sim. Devido a falta de formação continuada na temática”.

Certamente, apontamos como um problema a ser resolvido em pesquisas futuras, à atuação dos professores de Educação Física escolar no trato com as questões étnico-raciais, em especial, as danças da cultura afro-brasileira. Neste sentido, destacamos a fala de Ribeiro, Souza e Silva (2020)

Desse modo, torna-se necessário promover uma interação das prerrogativas que a Lei estabelece o nível didático-pedagógico, teórico-metodológico, como também no processo de gestão para que assim universidade, Educação Básica, professores e alunos, possam caminhar paralelamente no sentido de implementar uma realidade onde as questões étnico-raciais, a história e cultura afro-brasileira, protagonizem na cena social um movimento de respeito entre todos e para todos.(RIBEIRO; SOUZA; RONNIE, 2020, p.19)

Desta maneira, mesmo sabendo da existência de muitas limitações, e de ações que não dependem diretamente dos professores, as quais impedem que esses profissionais nas suas práxis educacionais criem estratégias adequadas para seus educandos, é importante nossa mobilização para que as capacitações de professores, tanto na sua formação acadêmica inicial, quanto nas formações continuadas supram as dificuldades encontradas pelos profissionais de Educação Física escolar, para daí, juntos as suas instituições de ensino trabalhar como reza a Lei 11.645/2008.

Logo, levando em consideração as informações apresentadas anteriormente, vimos com o propósito de mostrar algumas estratégias que podemos adotar para que conteúdos como as questões da cultura afro-brasileira não deixem de serem debatidos no âmbito escolar, assim como outros conteúdos considerados essenciais para formação do ser humano crítico e transformador.

Mediante ao pressuposto, esta investigação buscou analisar como os professores de Educação Física de alunos dos primeiros anos do ensino médio superam as barreiras impostas pelo pragmatismo pedagógico do modelo tradicional, para realização de um ensino articulado entre cultura e atividade física, e, por conseguinte, ajudar na resolução de impasses que possa a vir surgir nas atribuições do docente em Educação Física, e em outras áreas do conhecimento pedagógico.

Portanto, diante dos dados construídos nesta investigação, a partir de então, será inserido no campo das pesquisas, voltadas para o conhecimento da cultura afro-brasileira, especialmente, no campo das danças da cultura afro-brasileiras no ensino da Educação Física escolar, teremos a oportunidade de ampliar as discussões dessa temática, no sentido de contribuir e gerar novas produções no campo pedagógico.

Contribuições para o ensino das danças afro-brasileiras nas aulas de educação física escolar

De acordo com Santos et al. (2021, p.93425), materiais alternativos como a cartilha educativa pode ser aproveitada pelo professor durante as aulas como um material auxiliar, para abordar os conteúdos de forma diferenciada.

Neste sentido, com base nos resultados obtidos nesta pesquisa e da escassez de material didático pedagógico no campo da Educação Física escolares acerca do tema danças afro-brasileiras foi elaborado uma cartilha para subsidiar os professores durante a aplicação de suas aulas, e, por conseguinte, ajudar no processo de ensino aprendizagem do aluno.

Nos dias 14 de outubro e 18 de outubro de 2022 foram realizadas as entregas das cartilhas aos professores de Educação Física Escolar. Na data, 14 de outubro, aconteceram à entrega aos professores envolvidos diretamente na pesquisa e, na data, 18 de outubro, aconteceram à entrega das cartilhas a professores de Educação Física que participavam de um congresso técnico voltado ao início dos jogos escolares da região metropolitana norte.

O intuito do encontro com esses professores, principalmente com os envolvidos diretamente na pesquisa, era de debater acerca do tema, danças afro-brasileiras nas aulas de Educação Física Escolar, a fim de identificar as dificuldades dos professores em trabalhar este conteúdo, mas também levar proposições para erradicar com essas dificuldades.

O tempo de debate com ambos os professores foi de 30 minutos, onde primeiramente apresentei os resultados obtidos com o questionário aplicado juntos aos alunos, em seguida procuramos debater a partir do que lhes foi apresentado. Procuramos nestes debates não inibir os pesquisados nas suas respostas, deixando-os bem à vontade na explanação de seus desafios e dificuldades na sala de aula durante a aplicação do conteúdo danças afro-brasileiras.

As conversas com os professores progrediram bem, pois cada um dos professores apresentou grande envolvimento e interesse com a atividade proposta naquele momento. Para a apresentação das cartilhas foi utilizada como estratégia a leitura conjunta de cada parte do documento, onde foi apresentada a parte conceitual, procedimental e atitudinal presentes na cartilha.

Após a etapa de leitura e explicação do conteúdo da cartilha, reservei um momento para os professores fazerem suas colocações sobre o que debatemos ali, e do que eles acharam das orientações pedagógicas propostas.

Mediante a explanação da cartilha, e também ao que debatemos nas conversas, pode-se perceber que os professores de Educação Física envolvidos na pesquisa  chegaram à percepção de ser possível trabalhar as danças afro-brasileiras nas aulas de Educação Física, na perspectiva sociocultural, e consequentemente discutir questões étnico-raciais a partir deste conteúdo, e, por conseguinte, contribuir na formação do sujeito crítico e transformador.

Nessa perspectiva, foi observado que este tipo de encontro nos possibilita melhorar a produção dos nossos conteúdos, pensar melhor nos seus sentidos e significados, além de contribuir para o aumento da nossa experiência enquanto profissionais da educação. Sendo, assim, uma contribuição extremamente importante na práxis educacional dos professores de Educação Física Escolar.

Considerações finais

A presente pesquisa debruçou-se frente ao fenômeno dos conflitos vivenciados no campo da Educação Física escolar diante da temática: Cultura Afro-brasileira no seu aspecto pedagógico frente às resistências sofridas para sua prática, mediante as ações definidas nos parâmetros curriculares do ensino fundamental no Brasil. Neste sentido, o estudo buscou a compreensão frente ao atual contexto educacional da Educação Física escolar diante das tendências pragmáticas, tradicionais e críticas da educação, e também, no debate didático entre as abordagens que tratam de temas reflexivos no contexto socioeducacional.

Em síntese, é importante destacar que a Educação Física escolar tem como desafio constante, a inovação nas suas práticas, pois o modelo já consolidado no ensino focado no corpo, ou seja, o ensino pautado apenas nos aspectos fisiológicos, biológicos ou biomecânicos do corpo humano, podem ter suas possibilidades questionadas por estudos que mantenham como foco uma abordagem multicultural, e que se baseiam em práticas voltadas principalmente ao contexto socioeducacional no campo da Educação Física escolar.

Neste âmbito, compreende-se que essa diversidade teórica é fundamental para mudança de paradigma e para o enriquecimento da formação docente em Educação Física e, consequentemente, contribuir com o crescimento e o surgimento de novos olhares e modelos que visem romper com o modelo pedagógico pragmático.

Para isto, torna-se necessária uma prática libertadora, no sentido de superar a visão pedagógica do dançar por dançar, mas sim, de propor ao estudante, a partir das danças afro-brasileiras, uma reflexão acerca da identidade cultural e de sua importância para construção de uma equidade social.

Partindo dos pressupostos nessa pesquisa, pude observar que o choque de interesse, ou melhor, os conflitos e resistências apresentados na sala de aula, vão além das divergências de ideias, mas sim do puro desconhecimento sobre esta cultura, pois às respostas apresentadas pelos estudantes na pesquisa condiz com as observações feitas pelos professores durante nossos encontros ao apresentarem grandes dificuldades em trabalhar com esta temática.

Este estudo também me proporcionou identificar, que precisamos ampliar os debates acerca dos temas relacionados às questões étnico-raciais no ambiente escolar. Desse modo, estimular uma maior produção científica concernente às danças afro, em especial as danças afro-brasileiras, visando uma educação mais igualitária, mais humana, com o propósito de ampliar o reconhecimento a nossa ancestralidade, enriquece o campo dos debates da Educação Física escolar, além de proporcionar uma maior valorização das matrizes africanas.

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