DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO ECOTURISMO NO MUNICÍPIO DE LARANJAL DO JARI: POTENCIALIDADES E DESAFIOS

SUSTAINABLE DEVELOPMENT OF ECOTOURISM IN THE MUNICIPALITY OF LARANJAL DO JARI: POTENTIALITIES AND CHALLENGES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11622587


Alday Gomes Martins [1]
Cliviane de Lima Pimenta [2]
Alain Roel Rodrigues dos Santos [3]


Resumo

O município de Laranjal do Jari, localizado no Estado do Amapá, é uma região amazônica rica em biodiversidade e cultura, com grande potencial para o desenvolvimento do ecoturismo sustentável. O ecoturismo pode servir como uma ferramenta eficaz para a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico, promovendo uma relação harmoniosa entre a natureza e as comunidades locais. Este estudo tem como objetivo explorar as potencialidades e os desafios do desenvolvimento sustentável do ecoturismo em Laranjal do Jari. Busca-se identificar os recursos naturais e culturais da região que podem ser aproveitados para o ecoturismo, bem como os obstáculos que precisam ser enfrentados e superados para garantir um desenvolvimento sustentável e inclusivo. A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão da literatura existente sobre ecoturismo, desenvolvimento sustentável e a região do Laranjal do Jari. A análise incluiu a identificação das principais potencialidades naturais e culturais, bem como os desafios relacionados à infraestrutura, capacitação da comunidade, políticas públicas e conservação ambiental. O município de Laranjal do Jari possui um vasto potencial para o desenvolvimento do ecoturismo sustentável, impulsionado por suas riquezas naturais e culturais. No entanto, desafios significativos, como a infraestrutura inadequada, a falta de capacitação da população local e a necessidade de políticas públicas eficazes, devem ser enfrentados. A superação desses obstáculos requer uma abordagem integrada e colaborativa, envolvendo governo, comunidade, setor privado e ONGs. Com um planejamento estratégico efetivo e um compromisso firme com a sustentabilidade, o município de Laranjal do Jari pode se tornar um destino exemplar de ecoturismo sustentável na Amazônia.

Palavras-chave: Laranjal do Jari, ecoturismo, desenvolvimento sustentável, conservação ambiental, biodiversidade, cultura local, Amazônia.

 Abstract

The municipality of Laranjal do Jari, located in the state of Amapá, is an Amazonian region rich in biodiversity and culture, with great potential for the development of sustainable ecotourism. Ecotourism can serve as an effective tool for environmental conservation and socioeconomic development, promoting a harmonious relationship between nature and local communities. This study aims to explore the potentialities and challenges of sustainable ecotourism development in Laranjal do Jari. It seeks to identify the region’s natural and cultural resources that can be leveraged for ecotourism, as well as the obstacles that need to be faced and overcome to ensure sustainable and inclusive development. The research was conducted through a review of existing literature on ecotourism, sustainable development, and the Laranjal do Jari region. The analysis included identifying the main natural and cultural potentialities, as well as challenges related to infrastructure, community training, public policies, and environmental conservation. The municipality of Laranjal do Jari has vast potential for the development of sustainable ecotourism, driven by its natural and cultural wealth. However, significant challenges, such as inadequate infrastructure, lack of local population training, and the need for effective public policies, must be addressed. Overcoming these obstacles requires an integrated and collaborative approach involving the government, community, private sector, and NGOs. With effective strategic planning and a firm commitment to sustainability, the municipality of Laranjal do Jari can become an exemplary destination for sustainable ecotourism in the Amazon.

Keywords: Laranjal do Jari, ecotourism, sustainable development, environmental conservation, biodiversity, local culture, Amazon.

1        INTRODUÇÃO

O município de Laranjal do Jari, está localizado na margem direita do Rio Jari, é o maior município do estado em área territorial, com território pouco maior do que os estados brasileiros de Sergipe ou Alagoas. Também é maior do que diversos países, como Bélgica, Haiti e País de Gales, possuindo 30.782,998 km² no total e sua área urbana é de 9,633 km².

Seus limites geográficos são os municípios de Vitória do Jari a sul; Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e Mazagão a leste; Almeirim (PA) a sul e oeste, Guiana Francesa ao norte e, a noroeste, possui uma fronteira com o Suriname. (IBGE)

Além de ser uma região rica em biodiversidade e belezas naturais, , também é  caracterizada por suas florestas exuberantes, rios caudalosos, cachoeiras e uma fauna diversificada. Este cenário único oferece um enorme potencial para o desenvolvimento do ecoturismo, uma modalidade de turismo que promove a conservação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico sustentável das comunidades locais.

O ecoturismo em Laranjal do Jari pode se tornar uma importante ferramenta para a preservação ambiental, ao mesmo tempo em que proporciona oportunidades econômicas para os moradores da região. No entanto, para que este potencial seja plenamente aproveitado, é necessário enfrentar uma série de desafios. Entre eles estão a necessidade de infraestrutura adequada, a capacitação dos residentes para atuarem no setor turístico, e a criação de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis.

Neste contexto, o tema “Desenvolvimento Sustentável do Ecoturismo no município de Laranjal do Jari: Potencialidades e Desafios” busca explorar as diversas facetas dessa modalidade turística, destacando suas oportunidades e os obstáculos a serem superados. Através de uma análise detalhada das características naturais e culturais do município, juntamente com uma avaliação das condições atuais e das necessidades para o desenvolvimento sustentável, pretende-se fornecer um panorama abrangente e propostas concretas para a promoção do ecoturismo na região.

O objetivo é contribuir para o entendimento das dinâmicas que envolvem o ecoturismo em Laranjal do Jari e oferecer subsídios para a implementação de estratégias que conciliam conservação ambiental e desenvolvimento econômico, promovendo um modelo de turismo que seja benéfico tanto para a natureza quanto para as comunidades locais que estão cercadas de belezas naturais.

2        FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O ecoturismo, é definido como uma modalidade de turismo que integra a conservação ambiental com o desenvolvimento econômico sustentável e tem o compromisso com a conservação do meio ambiente para benefício comunitário (SPAOLONSE 2016). O  município de Laranjal do Jari possui este potencial, pois, este município amazônico, é qualificado por uma vasta biodiversidade e riquezas naturais, tem se destacado pela possibilidade de implementação de práticas de ecoturismo que promovam a sustentabilidade e a valorização cultural.

Segundo Cebuliski (2022), Laranjal do Jari possui inúmeras atrações naturais que podem ser exploradas de forma sustentável, como a Cachoeira de Santo Antônio e outras paisagens naturais de grande beleza cênica. A região, banhada pelo rio Jari, oferece uma combinação de ambientes aquáticos e florestais que atraem turistas de todos os lugares do país interessados em aventuras ecológicas e experiências culturais autênticas. Além disso, a presença de comunidades tradicionais, com seus conhecimentos e práticas culturais, contribui para enriquecer a experiência do visitante e promover a valorização do patrimônio imaterial da região.

No entanto, o desenvolvimento do ecoturismo em Laranjal do Jari enfrenta vários desafios. Um dos principais obstáculos é a infraestrutura que não possui investimentos adequados. Aguiar (2021) destaca que a falta de estradas pavimentadas e a precariedade dos serviços de transporte dificultam o acesso às áreas turísticas mais remotas, limitando o fluxo de visitantes e a viabilidade econômica das atividades turísticas. Além disso, a carência de serviços básicos, como alojamentos de qualidade e facilidades turísticas, compromete a experiência do turista e a competitividade da região no mercado turístico.

Outro desafio significativo é a capacitação dos moradores locais. De acordo com Paixão (2013), muitos habitantes de Laranjal do Jari necessitam de formação teórica e conhecimentos específicos para atuar no setor turístico. A educação e a capacitação são essenciais para que a comunidade possa se beneficiar economicamente do ecoturismo, além de promover a conscientização ambiental e a conservação dos recursos naturais. Programas de treinamento e educação ambiental podem ajudar a preparar a população para atender as demandas dos turistas e implementar práticas sustentáveis.

As políticas públicas e a regulamentação também desempenham um papel crucial no desenvolvimento do ecoturismo sustentável. Ribeiro (2016) ressalta a importância da descentralização da gestão ambiental e do licenciamento para garantir que as atividades turísticas sejam realizadas de forma responsável e sustentável. A implementação de políticas que incentivem a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico local é fundamental para equilibrar os interesses econômicos com a necessidade de conservação.

Estudos de caso de outras regiões amazônicas, como o município de Moju, no Pará, mostram que a aplicação do Barômetro da Sustentabilidade pode ser uma ferramenta eficaz para avaliar e monitorar o desenvolvimento sustentável (Cardoso et al., 2016). Esta ferramenta pode ser adaptada para o contexto de Laranjal do Jari, auxiliando na identificação de áreas prioritárias para intervenção e na mensuração do impacto das atividades de ecoturismo sobre a sustentabilidade local.

Finalmente, a colaboração entre o setor público, privado e organizações não governamentais é essencial para o sucesso do ecoturismo no município de Laranjal do Jari. Parcerias público-privadas podem promover investimentos em infraestrutura e capacitação, enquanto ONGs podem contribuir com expertise em conservação e desenvolvimento comunitário. Queiroz et al. (2016) argumentam que a natureza e o patrimônio cultural são elementos-chave na produção do lugar turístico, e a integração desses elementos de forma sustentável pode criar um modelo de ecoturismo que beneficie a todos.

O ecoturismo em Laranjal do Jari apresenta um grande potencial, mas também enfrenta desafios significativos. A superação desses obstáculos requer um esforço conjunto entre governo, comunidade e iniciativa privada, além de uma abordagem estratégica e sustentável para a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico. Ao valorizar suas riquezas naturais e culturais, Laranjal do Jari pode se tornar um destino exemplar de ecoturismo sustentável na Amazônia.

3        METODOLOGIA

Para elaborar a pesquisa sobre o desenvolvimento sustentável do ecoturismo no município de Laranjal do Jari, foi adotada uma abordagem metodológica baseada na revisão da literatura. Esse método permitiu uma imersão profunda no tema, possibilitando uma compreensão mais completa, além de identificar lacunas e possibilidades para futuras investigações. Inicialmente, foram definidos os objetivos da revisão, que incluíam a busca por uma compreensão clara sobre o desenvolvimento sustentável do ecoturismo, com foco específico nas potencialidades e desafios em Laranjal do Jari. Também se buscou identificar as principais teorias, conceitos, práticas e estudos de caso relacionados ao tema do artigo.

Para selecionar as fontes de informação, foram utilizadas bases de dados acadêmicas reconhecidas, como Google Scholar, Scielo e JSTOR, entre outras. Além disso, foram consultados livros, artigos de revistas científicas, teses, dissertações, relatórios de organizações não governamentais (ONGs) e documentos governamentais. Também foram consideradas fontes secundárias, como publicações de conferências e capítulos de livros que tratam do ecoturismo e do desenvolvimento sustentável, além de relatos de moradores de Laranjal do Jari.

Foram estabelecidos critérios claros de inclusão e exclusão para garantir a relevância e a qualidade das informações. Foram incluídas publicações que abordavam diretamente o ecoturismo, desenvolvimento sustentável e estudos de caso de regiões amazônicas ou similares a Laranjal do Jari. Foram excluídos estudos que não eram diretamente relevantes para o contexto de Laranjal do Jari ou que não apresentavam dados empíricos ou teóricos substanciais. Priorizaram-se fontes publicadas nos últimos 15 anos para garantir a atualidade e relevância das informações.

Os procedimentos de busca e coleta de dados consistiram na realização de buscas sistemáticas nas bases de dados utilizando palavras-chave como “ecoturismo sustentável”, “desenvolvimento sustentável no ecoturismo”, “Laranjal do Jari”, “Amapá” e outros termos relevantes. Os artigos, livros e documentos selecionados foram coletados e organizados em uma base de dados específica para a revisão.

Para analisar e sintetizar a literatura, foi realizada uma leitura crítica e avaliação dos estudos selecionados, identificando os principais temas, resultados e conclusões. Os achados foram organizados em categorias temáticas, como potencialidades naturais e culturais, desafios de infraestrutura, capacitação e políticas públicas. Em seguida, as informações foram sintetizadas para criar um panorama abrangente sobre o ecoturismo sustentável no município de Laranjal do Jari.

Foram identificadas lacunas na literatura existente e áreas que exigem mais investigação ou apresentam oportunidades para o desenvolvimento de novas abordagens. Foram propostas recomendações para futuras pesquisas e práticas no campo do ecoturismo sustentável. Através desta metodologia de revisão da literatura, buscou-se fornecer uma base sólida e bem fundamentada para a discussão sobre as potencialidades e desafios do ecoturismo sustentável no município de Laranjal do Jari, contribuindo para o avanço do conhecimento e a implementação de práticas efetivas e sustentáveis na região.

4        RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. POTENCIALIDADES DO ECOTURISMO NO MUNICÍPIO DE LARANJAL DO JARI

O município de Laranjal do Jari está situado no sul do Estado do Amapá, sendo o terceiro mais populoso da região, com uma população de 35.114 habitantes (IBGE 2022). Reconhecido pelo terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) do Amapá, aproximadamente 800 milhões de reais em 2016 segundo o IBGE, é conhecido como a Princesa do Rio Jari, devido à sua posição proeminente ao longo do rio homônimo. Além disso, é também chamado de ”Beiradão”, devido à sua localização às margens do mesmo rio (Aguiar, 2021).

Quanto à geografia, o município está localizado na Região Intermediária de Macapá e na Região Imediata de Laranjal do Jari. Situado na margem direita do Rio Jari, Laranjal do Jari é o maior município do estado em termos de área, com um território um pouco maior do que os estados brasileiros de Sergipe ou Alagoas, e também maior do que diversos países, como Bélgica, Haiti e País de Gales, possuindo uma área total de 30.782,998 km². A área urbana abrange 9,633 km². Os limites do município são com Vitória do Jari ao sul; Oiapoque, Pedra Branca do Amapari e Mazagão ao leste; Almeirim (PA) ao sul e oeste; Guiana Francesa ao norte; e, ao noroeste, possui uma fronteira com o Suriname (Cebuliski, 2021).

A história da região remonta à época da colonização do Rio Jari, inicialmente habitada por indígenas oiampis e aparaís, e posteriormente influenciada pela chegada de nordestinos que vieram trabalhar na extração da borracha. Entre esses migrantes, destaca-se o coronel José Júlio de Andrade, que se tornou o maior latifundiário do mundo, adquirindo cerca de 3,5 milhões de hectares de terras. A origem do município de Laranjal do Jari está intimamente ligada à implantação do Projeto Jari Florestal em 17 de abril de 1967, idealizado por Daniel Ludwig. O projeto visava substituir a floresta nativa por plantações de Gmelina arbórea para a fabricação de celulose, além de buscar se tornar o maior produtor mundial de carne bovina, suína e arroz (Cardoso et al., 2016).

Laranjal do Jari representa um contraste significativo entre a planejada e estruturada cidade de Monte Dourado, construída seguindo o modelo de habitação de classe média norte-americana, e a própria Laranjal do Jari, localizada à margem esquerda do Rio Jari, construída sobre palafitas. O primeiro prefeito eleito de Laranjal do Jari foi um comerciante local, nascido em Aparecida, na Paraíba, com o nome de João Queiroga de Souza. O município foi criado em 17 de dezembro de 1987 e instalado em 1 de janeiro de 1989. Sua população tem crescido consideravelmente nos últimos anos, e cerca de 90% de sua extensão territorial agora está dentro da área de proteção ambiental (APA), onde se encontra o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (Cebuliski, 2021, p.21).

O ecoturismo, como uma modalidade de turismo que integra a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável, apresenta um vasto potencial no Laranjal do Jari, Estado do Amapá. Esta região, situada na Amazônia brasileira, é rica em biodiversidade e possui paisagens naturais de grande beleza cênica, além de uma cultura local vibrante. Essas características tornam o Laranjal do Jari um destino promissor para o ecoturismo, capaz de atrair visitantes em busca de experiências autênticas e sustentáveis (Paixão, 2013, p.18).

Uma das principais potencialidades do ecoturismo em Laranjal do Jari está relacionada aos seus recursos naturais. A região é lar de uma vasta diversidade de flora e fauna, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. De acordo com Cebuliski (2022), atrações como a Cachoeira de Santo Antônio e outras formações geográficas únicas oferecem oportunidades excepcionais para atividades ecoturísticas, como caminhadas, observação de aves e passeios de barco. Essas atividades não apenas proporcionam uma experiência enriquecedora para os turistas, mas também incentivam a preservação dos ecossistemas locais, ao promover a valorização e a conscientização ambiental.

Além dos recursos naturais, a biodiversidade de Laranjal do Jari é um grande atrativo para o ecoturismo. A região abriga uma vasta gama de espécies de plantas e animais, muitos dos quais são encontrados apenas na Amazônia. A conservação dessa biodiversidade é essencial não só para o equilíbrio ecológico, mas também como um recurso econômico através do ecoturismo. Programas de turismo sustentável que incluem trilhas ecológicas, observação de fauna e flora, e visitas guiadas podem ser desenvolvidos para oferecer aos turistas uma experiência imersiva na natureza. Essas atividades, quando bem geridas, contribuem para a conservação da biodiversidade e geram renda para as comunidades locais.

A cultura local é outro fator que aumenta o potencial do ecoturismo no município. As comunidades tradicionais que habitam a região possuem um rico patrimônio cultural, com tradições, conhecimentos e práticas que têm sido transmitidos ao longo de gerações. A interação dos turistas com essas comunidades pode enriquecer a experiência ecoturística, proporcionando uma compreensão mais profunda do modo de vida local e promovendo a valorização das culturas indígenas e ribeirinhas. Como observado por Paixão (2013), a integração das práticas culturais no ecoturismo pode fortalecer a identidade local e gerar benefícios econômicos, ao mesmo tempo em que preserva as tradições.

O ecoturismo em Laranjal do Jari também oferece oportunidades econômicas significativas para a população local. Através da criação de empregos diretos e indiretos, como guias turísticos, operadores de lodge, artesãos e fornecedores de produtos locais, o ecoturismo pode contribuir para a diversificação da economia e a redução da pobreza. Segundo Queiroz et al. (2016), o desenvolvimento de produtos turísticos que valorizam o patrimônio natural e cultural pode gerar uma cadeia de valor que beneficia diversos setores da economia local. Essa integração econômica é essencial para o desenvolvimento sustentável, pois garante que os benefícios do turismo sejam amplamente distribuídos e contribuam para o bem-estar da comunidade.

Tabela 1: Critérios de Empreendedorismo Sustentável

ÁreaIndicadoresDescrição dos Critérios
        EconômicaAquisiçãoUso de materiais de fornecedores regionais
PersistênciaClaras perspectivas para o desenvolvimento da empresa em longo prazo
Potencial de CrescimentoObjetivos econômicos de crescimento, investimento e orientação à inovação
MissãoOrientação sustentável como parte integrante do sistema de valor da empresa
IdentificaçãoEmpregados dividem um entendimento comum sobre objetivos sustentáveis
CooperaçãoRelacionamento de longa data com parceiros locais e regionais
      EcológicaTransporteUso de meios de transporte ecológicos
ResíduosFontes alternativas de energia e uso eficiente de energia consumida
EmissõesRedução de emissão de resíduos e desperdício de materiais
Processo de produçãoRedução dos níveis de emissão, exclusão de toxicidade
ProdutoGerenciamento ecológico dos processos de produção
Social/ÉticaIgualdade de direitosGênero e questões gerais e uso eficiente de energia consumida
ParticipaçãoGestão participativa nos objetivos do negócio, apoio às atividades da comunidade
PessoalDesenvolvimento ativo das competências dos empregados, esquemas de recompensas
Ambiente de trabalhoOferecimento de condições seguras e programas de saúde para os empregados
Integração regionalTroca de experiências com atividades culturais de economia local/regional
ComunicaçãoHonestidade e informações transparentes ao público sobre as atividades do negócio

Fonte: Elaborada pelos autores

Fonte: Schlange, L. E. (2006). What drives sustainable entrepreneurs (p. 6, our translation). Proceedings of the Applied Business and Entrepreneurship Association International (ABEAI) Conference, Kona, HI, USA, 3.

Para que o ecoturismo em Laranjal do Jari atinja todo o seu potencial, é essencial enfrentar vários desafios. Melhorar a infraestrutura turística é fundamental para garantir que os visitantes tenham uma experiência de qualidade, respeitando a integridade ambiental. Isso inclui investimentos em estradas, alojamentos sustentáveis e serviços de transporte, que são cruciais para tornar a região mais acessível e atraente. Além disso, capacitar a população local é vital para que ela possa se envolver plenamente no setor turístico. Oferecer programas de educação e treinamento em gestão turística, conservação ambiental e hospitalidade permitirá que os moradores desempenhem um papel ativo e significativo no desenvolvimento do ecoturismo.

Políticas públicas e regulamentações que incentivem práticas sustentáveis e a conservação ambiental são igualmente importantes. Como destaca Ribeiro (2016), a implementação de políticas que promovam a sustentabilidade e a participação comunitária pode criar um ambiente favorável para o desenvolvimento do ecoturismo. Além disso, a cooperação entre governo, setor privado e organizações não governamentais é essencial para criar sinergias e maximizar os benefícios do ecoturismo para a região.

4.1.1. Recursos Naturais e Paisagens

O município de Laranjal do Jari é uma região de notável riqueza natural, com recursos imensos que  incluem florestas, rios, cachoeiras impressionantes e uma biodiversidade única. Esses atributos naturais fazem do Laranjal do Jari um lugar com imenso potencial para o desenvolvimento do ecoturismo, proporcionando aos visitantes uma experiência autêntica e imersiva no coração da Amazônia.

A floresta amazônica que cobre grande parte de Laranjal do Jari é um dos ecossistemas mais ricos em biodiversidade do planeta. Segundo Chagas (2015), essa região abriga uma vasta gama de espécies de flora e fauna, muitas das quais são endêmicas e ainda pouco conhecidas pela ciência. A vegetação exuberante e a diversidade de habitats, desde florestas de terra firme até áreas de várzea, criam um ambiente propício para a observação de aves, mamíferos, répteis e insetos. Essas características tornam a região ideal para o ecoturismo focado na observação da natureza e na exploração científica.

Os rios que cortam Laranjal do Jari, particularmente o rio Jari, são outra riqueza natural significativa. Esses corpos d’água não apenas fornecem sustento para a biodiversidade local, mas também desempenham um papel crucial na vida das comunidades ribeirinhas. Conforme Cebuliski (2022), o rio Jari oferece oportunidades para uma variedade de atividades ecoturísticas, como passeios de barco, pesca esportiva e canoagem. A navegação pelos rios permite aos turistas apreciar a paisagem cênica da floresta amazônica, observar a vida selvagem em seu habitat natural e aprender sobre a importância dos rios para o ecossistema local e para as populações humanas.

As cachoeiras de Laranjal do Jari são outro atrativo natural que pode ser explorado pelo ecoturismo. A Cachoeira de Santo Antônio, por exemplo, é uma das mais impressionantes da região, com suas quedas d’água criando um espetáculo visual e auditivo. Aguiar (2021) destaca que essas cachoeiras não só oferecem beleza natural, mas também têm um valor ecológico, servindo de habitat para diversas espécies de plantas e animais aquáticos. Além disso, as cachoeiras são locais ideais para atividades de lazer e aventura, como caminhadas, natação e piqueniques, atraindo turistas em busca de experiências ao ar livre.

A biodiversidade em Laranjal do Jari é uma das maiores riquezas da região, abrigando uma variedade de espécies vegetais e animais. De acordo com Queiroz et al. (2016), a preservação dessa biodiversidade é fundamental não apenas para o equilíbrio ecológico, mas também como um recurso econômico através do ecoturismo. Programas de turismo sustentável que incluem trilhas ecológicas, observação de fauna e flora, e visitas guiadas podem oferecer aos turistas uma experiência educativa e imersiva na natureza. Tais atividades, quando bem geridas, contribuem para a conservação da biodiversidade e geram renda para as comunidades locais, promovendo um modelo de desenvolvimento sustentável.

Além dos recursos naturais, Laranjal do Jari possui uma geografia variada que inclui planícies, colinas e vales, cada um oferecendo diferentes perspectivas e oportunidades para o turismo. A topografia diversificada proporciona cenários deslumbrantes que podem ser explorados por meio de trilhas e excursões. Essas paisagens variam de florestas densas a áreas abertas com vistas panorâmicas, criando um ambiente ideal para a fotografia da natureza e a contemplação da paisagem. Como mencionado por Ribeiro (2016), a diversidade topográfica de Laranjal do Jari é um recurso valioso para o desenvolvimento do ecoturismo, permitindo uma ampla gama de atividades recreativas e educacionais.

As paisagens culturais do município também são um componente importante do seu potencial ecoturístico. As comunidades tradicionais que habitam a região, incluindo populações indígenas e ribeirinhas, possuem um rico patrimônio cultural e conhecimento ecológico. A interação com essas comunidades pode enriquecer a experiência dos visitantes, proporcionando uma compreensão mais profunda do modo de vida local e da relação dessas populações com a natureza. Paixão (2013) observa que a integração das práticas culturais no ecoturismo pode fortalecer a identidade local e gerar benefícios econômicos, ao mesmo tempo em que preserva as tradições culturais.

4.1.2. Biodiversidade e Conservação

A conservação dessa biodiversidade é crucial não apenas para a manutenção do equilíbrio ecológico, mas também para a promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável que pode beneficiar a economia local e a comunidade. A Amazônia, onde Laranjal do Jari está inserida, é reconhecida mundialmente por sua extraordinária biodiversidade. A região abriga milhões de espécies de plantas, animais, fungos e microrganismos, muitos dos quais são endêmicos e ainda pouco conhecidos pela ciência. Segundo Chagas (2015), Laranjal do Jari possui uma ampla variedade de habitats, desde florestas de terra firme até áreas de várzea, cada um com suas próprias comunidades biológicas únicas. Esta diversidade de habitats contribui para a alta riqueza de espécies e a complexidade ecológica da região.

A flora de Laranjal do Jari é particularmente diversa, com inúmeras espécies de árvores, arbustos, epífitas e herbáceas. A presença de árvores de grande porte, como a castanheira (Bertholletia excelsa) e o mogno (Swietenia macrophylla), destaca a importância ecológica e econômica das florestas da região. Além disso, muitas plantas medicinais e frutíferas são encontradas na floresta, sendo utilizadas pelas comunidades locais para diversos fins. A preservação dessas plantas é fundamental não apenas para a manutenção da biodiversidade, mas também para o sustento e a cultura das populações tradicionais (Ribeiro, 2016, p.89).

A fauna de Laranjal do Jari é igualmente rica e diversificada. A região é habitat de uma grande variedade de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e insetos. Espécies icônicas, como a onça-pintada (Panthera onca), o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), são apenas algumas das muitas espécies que podem ser encontradas na área. De acordo com Cebuliski (2022), a observação da vida selvagem é uma das principais atrações para os turistas que visitam Laranjal do Jari, destacando a importância da conservação dessas espécies para o desenvolvimento do ecoturismo.

A conservação da biodiversidade em Laranjal do Jari enfrenta vários desafios. A pressão do desmatamento, a expansão agrícola e a exploração ilegal de recursos naturais ameaçam a integridade dos ecossistemas locais. Como observado por Ribeiro (2016), a falta de fiscalização e a insuficiência de políticas públicas eficazes dificultam a proteção das áreas naturais. Para enfrentar esses desafios, é essencial implementar estratégias de conservação que incluam a criação e a gestão de áreas protegidas, o monitoramento da biodiversidade e a promoção de práticas sustentáveis de uso da terra.

A criação de áreas protegidas é uma das principais estratégias para a conservação da biodiversidade. As unidades de conservação, como parques nacionais e reservas extrativistas, desempenham um papel crucial na proteção dos habitats naturais e na manutenção dos processos ecológicos. Segundo Queiroz et al. (2016), a gestão eficaz dessas áreas exige a participação ativa das comunidades locais e a integração de seus conhecimentos tradicionais na conservação e manejo dos recursos naturais. A colaboração entre órgãos governamentais, organizações não governamentais (ONGs) e a comunidade é fundamental para garantir a eficácia das áreas protegidas.

O monitoramento da biodiversidade é outra estratégia essencial para a conservação. O uso de tecnologias modernas, como sensoriamento remoto, câmeras de armadilha e sistemas de informação geográfica (SIG), pode ajudar a rastrear mudanças na biodiversidade e detectar ameaças em tempo real. Estudos de longo prazo sobre a dinâmica das populações e a saúde dos ecossistemas fornecem dados críticos para a tomada de decisões informadas sobre conservação. Paixão (2013) enfatiza a importância de envolver as comunidades locais no monitoramento, capacitando-as para coletar e interpretar dados, o que fortalece o papel da comunidade na gestão ambiental.

A promoção de práticas sustentáveis de uso da terra é igualmente importante. A agroecologia, o manejo florestal sustentável e o turismo de base comunitária são exemplos de práticas que podem ser integradas ao desenvolvimento local, minimizando os impactos ambientais e promovendo a conservação da biodiversidade. A agroecologia, por exemplo, combina conhecimentos tradicionais e ciência moderna para criar sistemas agrícolas sustentáveis que conservam a biodiversidade, enquanto fornecem alimentos e renda para as comunidades locais (Chagas, 2015, p.11).

O turismo de base comunitária é uma abordagem que pode contribuir significativamente para a conservação da biodiversidade de Laranjal do Jari. Este modelo de turismo envolve a comunidade local na gestão e operação das atividades turísticas, garantindo que os benefícios econômicos sejam distribuídos de forma equitativa e que as práticas de turismo respeitem e valorizem a biodiversidade e a cultura local. De acordo com Tostes e Ferreira (2017), o turismo de base comunitária pode incentivar a conservação, ao demonstrar que a biodiversidade e os recursos naturais possuem valor econômico e cultural que pode ser mantido e incrementado através de práticas sustentáveis.

4.1.3. Atrações Culturais e Tradições Locais

A integração dessas riquezas culturais ao ecoturismo pode proporcionar uma experiência única e autêntica para os visitantes, além de promover a valorização e a preservação do patrimônio cultural da região. As comunidades tradicionais que habitam Laranjal do Jari, incluindo populações indígenas, ribeirinhas e quilombolas, possuem um rico patrimônio cultural que tem sido transmitido de geração em geração. Essas comunidades mantêm uma relação íntima com o ambiente natural, utilizando os recursos da floresta de maneira sustentável e incorporando esse conhecimento em suas práticas cotidianas. Paixão (2013) destaca que a interação dos turistas com essas comunidades pode enriquecer a experiência ecoturística, proporcionando uma compreensão mais profunda do modo de vida local e promovendo a valorização das culturas tradicionais.

Um dos aspectos mais marcantes das tradições locais em Laranjal do Jari é o artesanato. As comunidades locais produzem uma variedade de objetos artesanais utilizando materiais encontrados na floresta, como palha, madeira, sementes e fibras naturais. Esses produtos artesanais não só representam a criatividade e habilidade dos artesãos locais, mas também refletem a riqueza cultural e a conexão com o ambiente natural. Segundo Queiroz et al. (2016), a venda de artesanato pode gerar uma fonte importante de renda para as comunidades, além de oferecer aos turistas a oportunidade de levar para casa um pedaço autêntico da cultura local.

As festividades e celebrações tradicionais também são uma parte integral das atrações culturais de Laranjal do Jari. Festas como Forró Jarí, que faz parte da quadra Junina, Aniversário da Cidade, Fest Castanhado, na comunidade São Pedro e o Festival da castanha nas comunidades de Iratapuru e Pedra Branca, que celebra a colheita dessa fruta típica da Amazônia, e as festividades religiosas, como de Santo Antônio (na sede em junho), Santo Antônio (cachoeira em julho devido a coleta da castanha), São Benedito (Ariramba), São Pedro (Água Branca), Círio (Comunidade do Marinho), São Sebastião (Braço) e Círio de Nazaré, são momentos de grande importância cultural e social para as comunidades locais e sede. Essas celebrações incluem danças, músicas, comidas típicas e rituais religiosos, proporcionando aos turistas uma imersão na cultura e nas tradições da região. Chagas (2015) ressalta que a participação nessas festividades pode fortalecer a conexão entre turistas e comunidades, promovendo um entendimento mais profundo e respeitoso das tradições locais.

A culinária tradicional de Laranjal do Jari é outro atrativo cultural significativo. A dieta local é baseada em ingredientes abundantes na região, como peixe, açaí, castanha, mandioca, de onde se extrai o tucupi, a maniva, e na produção de farinha de mandioca e frutas tropicais. Pratos tradicionais, como o tacacá, o pato no tucupi e a maniçoba, peixe da maré com açaí, oferecem aos visitantes uma experiência gastronômica autêntica e inesquecível. A comida local não só reflete a biodiversidade da região, mas também o conhecimento tradicional sobre o uso sustentável dos recursos naturais. Como observado por Ribeiro (2016), a promoção da culinária tradicional no ecoturismo pode valorizar a gastronomia local e gerar benefícios econômicos para os produtores e cozinheiros locais.

A música e a dança são expressões culturais vibrantes de Laranjal do Jari. Ritmos como o carimbó e a marujada, ritos de toadas, são parte integrante das festividades locais, e muitas comunidades mantêm grupos de dança e música que preservam essas tradições. As apresentações de música e dança não só entretêm os turistas, mas também educam sobre a história e a cultura da região. Cebuliski (2022) argumenta que a inclusão de apresentações culturais no ecoturismo pode aumentar a atratividade do destino, ao mesmo tempo em que fortalece a identidade cultural e a autoestima das comunidades locais.

Tabela 2: Atrativos ecoturísticos existentes em Laranjal do Jari

Atrativos TurísticosIndicadoresDescrição
BalneáriosPé da SerraLocalizado a 7 Km do centro de Laranjal do Jari – O balneário dispõe de serviço de bar e restaurante, espaço para descanso ao ar livre, jogos e bilhar e espaço de dança.
Tio JoãoLocalizado na BR 156, aproximadamente a 17 min de carro do centro de Laranjal do Jari – O balneário dispõe de banho de igarapé com água cristalina, ideal para fazer seu churrasco e relaxar, aproveitar momentos de tranquilidade em meio à beleza natural da região.
Sombra da MataLocalizado na BR 156 (Ramal), cerca de 10 Km do centro de Laranjal do Jari – Além de dispor de serviços de restaurante e bar, o espaço é propício para banho de igarapé e trilhas em meio a natureza.
Ilha da EnseadaLocalizada no bairro Samaúma, na parte baixa da cidade, esta ilha é frequentemente procurada no período de verão, onde para chegar até ela é por meio de catraia( meio de transporte aquático bastante usado na região).
Sunset Beach ClubLocalizado na sede do município, mais precisamente no  Ramal do Gogó, o balneário contempla as margens do rio jari, além de oferecer diversas opções de lazer, como a prática de esportes em quadras de areia, canoagem e passeios de lancha. além de contar com serviços de bar e restaurante com comidas típicas.
Cachoeira de Santo AntônioSituada a poucos quilômetros do centro da cidade, a cachoeira oferece um cenário deslumbrante com suas quedas d’água cristalinas que formam piscinas naturais perfeitas para um banho refrescante.
FestivaisFestival gastronômicoOcorre no primeiro semestre do ano, geralmente no mês de Maio – Evento destinado a valorização da culinária local
Fest CastanhaOcorre no primeiro semestre do ano na Comunidade do Água Branca do Cajari e Comunidade da Padaria – Evento de valorização do modo vida extrativista
Laranjal VerãoFestival de Verão, com cunho turístico, com atrações de bandas, cantores da região, concurso de miss e etc.
Aniversário do MunicípioEvento de cunho festivo realizado no mês de Dezembro, para celebrar o aniversário do município que é comemorado no dia 17 de Dezembro, possui diversas atrações musicais, gospel, secular e culturais, além de eventos esportivos, como corridas de motocross.
Fest VerãoOcorre no mês de Outubro na comunidade de São Francisco do Iratapuru – evento de cunho religioso, para celebrar o padroeiro da comunidade.
 
Principais Comunidades e Reservas
São Francisco do Iratapurudistante cerca de 50 km da sede do município de Laranjal do Jarí – Fundo Iratapuru
São Josélocalizada às margens do rio Jari e fica pertinho de um dos cartões postais mais conhecidos da região sul do Amapá: a Cachoeira de Santo Antônio -A comunidade  foi certificado como remanescente de quilombo pela Fundação Cultural Palmares
MarinhoSituada no interior da RESEX do Rio Cajari, na região do Alto Cajari, em Laranjal do Jarí
PadariaLocalizada às margens do rio Jarí, a 27 km de distância da sede do município Laranjal do Jari
Água Branca do CajariLocalizada na BR 156, acerca de 80 Km da sede do município de Laranjal do do Jarí – Reserva Extrativista Rio Cajari

Fonte: Elaborada pelos autores

O conhecimento ecológico tradicional das comunidades de Laranjal do Jari é um recurso cultural inestimável. Esse conhecimento, que inclui práticas de manejo sustentável dos recursos naturais, medicina tradicional e técnicas de agricultura adaptadas à floresta, é transmitido oralmente de geração em geração. A integração desse conhecimento nas atividades ecoturísticas, como caminhadas guiadas pela floresta e oficinas de plantas medicinais, pode proporcionar aos turistas uma visão aprofundada da sabedoria ancestral e promover a conservação da biodiversidade. Paixão (2013) destaca que a valorização do conhecimento tradicional é essencial para a preservação cultural e a sustentabilidade ambiental.

A educação e a capacitação das comunidades locais são fundamentais para o sucesso do ecoturismo cultural. Programas de educação e treinamento que capacitem os moradores para atuar como guias turísticos, artesãos e anfitriões podem aumentar a participação da comunidade no turismo e garantir que os benefícios econômicos sejam distribuídos de forma equitativa. Como enfatizado por Queiroz et al. (2016), a educação para o turismo sustentável deve incluir a valorização das tradições culturais e o respeito pelos direitos das comunidades, promovendo um turismo que seja benéfico tanto para os visitantes quanto para os moradores locais.

4.2. DESAFIOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO ECOTURISMO

O desenvolvimento sustentável do ecoturismo em Laranjal do Jari, enfrenta uma série de desafios que precisam ser sanados para que o potencial dessa região seja plenamente realizado. Esses desafios incluem questões de infraestrutura, capacitação da comunidade local, políticas públicas inadequadas e a necessidade de conciliar a conservação ambiental com o desenvolvimento econômico.

Um dos principais desafios é a infraestrutura inadequada. A falta de estradas pavimentadas e a precariedade dos serviços de transporte limitam o acesso às áreas turísticas mais remotas em Laranjal do Jari. Aguiar (2021) aponta que a melhoria da infraestrutura de transporte é essencial para facilitar o fluxo de turistas e reduzir o tempo e o custo das viagens. Além disso, a infraestrutura turística, como alojamentos, restaurantes e centros de visitantes, precisa ser desenvolvida para atender às expectativas dos turistas e garantir uma experiência de qualidade. A construção de instalações sustentáveis, que respeitem o meio ambiente e a cultura local, é crucial para o sucesso do ecoturismo.

A capacitação da população local é outro desafio significativo. Muitos moradores do Laranjal do Jari carecem de formação e conhecimentos específicos para atuar no setor turístico. Paixão (2013) enfatiza a importância de programas de educação e capacitação que preparem a comunidade para as demandas do ecoturismo. Isso inclui treinamentos em gestão turística, hospitalidade, línguas estrangeiras e práticas de conservação ambiental. A capacitação não só permite que os moradores se beneficiem economicamente do turismo, mas também fortalece o papel da comunidade na preservação dos recursos naturais e culturais.

A falta de políticas públicas eficazes e regulamentações apropriadas é um obstáculo adicional ao desenvolvimento sustentável do ecoturismo. Ribeiro (2016) destaca que a descentralização da gestão ambiental e a implementação de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis são fundamentais. O governo local precisa criar e aplicar regulamentos que protejam os recursos naturais e culturais, ao mesmo tempo em que incentivem o desenvolvimento econômico. Incentivos fiscais e financeiros para empresas que adotem práticas sustentáveis, bem como a promoção de parcerias público-privadas, podem ajudar a criar um ambiente favorável ao ecoturismo.

A conservação ambiental é um desafio central para o desenvolvimento do ecoturismo em Laranjal do Jari. A pressão do desmatamento, a exploração ilegal de recursos e a degradação ambiental ameaçam a integridade dos ecossistemas locais. Como observado por Chagas (2015), a implementação de estratégias de conservação, como a criação de áreas protegidas e o uso de tecnologias de monitoramento ambiental, é essencial para proteger a biodiversidade. A participação ativa das comunidades locais na conservação, através de programas de educação ambiental e a valorização do conhecimento tradicional, pode contribuir significativamente para a sustentabilidade ambiental.

Além desses desafios, a promoção do ecoturismo sustentável também enfrenta barreiras econômicas. A falta de investimentos em infraestrutura e capacitação, bem como a necessidade de atrair turistas para uma região remota, requer um esforço significativo de marketing e promoção. Queiroz et al. (2016) sugerem que campanhas de marketing que destacam a singularidade e a autenticidade de Laranjal do Jari, bem como a criação de pacotes turísticos que incluam experiências culturais e naturais, podem aumentar a atratividade do destino. A colaboração com operadores turísticos internacionais e a participação em feiras de turismo também são estratégias importantes para promover o ecoturismo na região.

A integração das práticas culturais no ecoturismo é crucial para seu sucesso. A valorização e preservação das tradições locais, como o artesanato, a culinária, as festividades e o conhecimento ecológico, podem enriquecer a experiência dos turistas e fortalecer a identidade cultural da comunidade. Cebuliski (2022) argumenta que o turismo de base comunitária, que envolve a comunidade local na gestão e operação das atividades turísticas, pode garantir que os benefícios econômicos sejam distribuídos de forma equitativa e que as práticas de turismo respeitem e valorizem a cultura local. A participação comunitária é fundamental para o desenvolvimento de um ecoturismo que seja sustentável e inclusivo.

A superação desses desafios exige uma abordagem integrada e colaborativa, envolvendo todos os stakeholders: governo, comunidade, setor privado e ONGs. O governo deve liderar o desenvolvimento de políticas públicas e a implementação de infraestrutura, enquanto a comunidade local deve ser capacitada e envolvida na gestão turística. O setor privado pode contribuir com investimentos e inovação, e as ONGs podem fornecer expertise em conservação e desenvolvimento comunitário (Cebuliski, 2021, p.88).

O desenvolvimento sustentável do ecoturismo em Laranjal do Jari enfrenta desafios significativos, que vão desde a infraestrutura inadequada e a falta de capacitação da comunidade até a necessidade de políticas públicas eficazes e a conservação ambiental. Superar esses desafios requer um esforço conjunto e coordenado, com ações que promovam a sustentabilidade ambiental, a valorização cultural e o desenvolvimento econômico. Com uma abordagem integrada e participativa, o Laranjal do Jari pode se tornar um modelo exemplar de ecoturismo sustentável na Amazônia, beneficiando tanto a natureza quanto as comunidades locais.

4.3.  ÁREAS DE POTENCIALIDADES NO ECOTURISMO EM LARANJAL DO JARI

 Figura 1: Cachoeira de Santo Antônio

Fonte: SILVA (2022)

Figura 2: Vista do Balneário Pé da Serra

Fonte: SILVA (2022)

Figura 3 : Comunidade da Padaria

Fonte: OLIVEIRA (2019)

5        CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento sustentável do ecoturismo no município de Laranjal do Jari possui claramente potencial para ser desenvolvido, impulsionado pela riqueza natural e cultural da região. A biodiversidade exuberante, os recursos naturais únicos, as paisagens deslumbrantes e as tradições culturais ricas oferecem uma base sólida para a criação de um modelo de ecoturismo que possa promover a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico de maneira harmoniosa.

Contudo, para que esse potencial seja plenamente realizado, é necessário superar diversos desafios. A infraestrutura precária e a falta de acessibilidade às áreas turísticas representam obstáculos significativos que exigem investimentos e planejamento estratégico. Além disso, a capacitação da população local é crucial para garantir que a comunidade possa participar e se beneficiar economicamente do ecoturismo, ao mesmo tempo em que contribui para a preservação dos recursos naturais.

A implementação de políticas públicas eficazes que incentivem práticas sustentáveis e a criação de áreas protegidas são passos essenciais para garantir a conservação ambiental. A promoção de parcerias entre o governo, o setor privado, as ONGs e as comunidades locais podem criar sinergias que aceleram o desenvolvimento sustentável. A participação ativa das comunidades na gestão e operação das atividades turísticas é fundamental para assegurar que os benefícios do ecoturismo sejam amplamente distribuídos e que as práticas de turismo respeitem e valorizem a cultura local.

Com planejamento estratégico, investimentos adequados e uma abordagem colaborativa, Laranjal do Jari pode se tornar um destino exemplar de ecoturismo sustentável, servindo como modelo para outras regiões amazônicas e além.

O ecoturismo no município de Laranjal do Jari tem o potencial de se tornar um modelo exemplar de desenvolvimento sustentável na Amazônia, demonstrando que é possível conciliar a conservação da natureza com o crescimento econômico e a valorização cultural. Com um compromisso firme com a sustentabilidade, uma abordagem integrada e a colaboração de todos os stakeholders, o Laranjal do Jari pode se destacar como um destino de ecoturismo sustentável, beneficiando tanto a natureza quanto as comunidades presentes e futuras.

6         REFERÊNCIAS

AGUIAR, M.P. Imagem da Chácara do Torto. Laranjal do Jari: 2021.

CARDOSO, Andreza Soares; TOLEDO, Peter Mann; VIEIRA, Ima Célia Guimarães. Barômetro da Sustentabilidade aplicado ao município de Moju, Estado do Pará. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 12, n. 1, p. 234-263, 2016.

CEBULISKI, O. Imagens Cachoeira de Santo Antônio Laranjal do Jari: 2021.

CEBULISKI, B. S. P. A perspectiva turística para lugares remotos: Análise do município de Laranjal do Jari (AP). Revista Brasileira De Ecoturismo (RBEcotur)15(5). 2022.

CHAGAS, Marco Antonio Augusto. A consolidação da fronteira da preservação e as cidades-parques na Amazônia: o caso do Vale do Jari, no Amapá. In: VII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade. Brasília, DF, Brasil, 7, 2015.

CHELALA, Cláudia at al. Sustentabilidade dos municípios e vulnerabilidade regional no Estado do Amapá: a Região de Oiapoque. In: SILVA, Fábio Carlos; AMIN, Mário Miguel; NUNES, Silvia Ferreira (Org.). Sustentabilidade dos Municípios da Amazônia. Belém: NAEA, 2015. v. 04. p. 107-14.

CORRÊA, J. M., FREIRAS, J. S., & FERREIRA, J. F. DE C. AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DE LARANJAL DO JARI/ AMAPÁ, COM BASE NA FERRAMENTA BARÔMETRO DA SUSTENTABILIDADE. Geo UERJ, (40), e64991. 2022.

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[1] Discente do Curso Superior de Bacharelado em Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá- Ifap, Campus Laranjal do Jari/AP e-mail: aldaygmartins@gmail.com

[2] Discente do Curso Superior de Bacharelado em Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá- Ifap, Campus Laranjal do Jari/AP e-mail: lima.cliviane@gmail.com

[3] Docente do Curso Superior de Bacharelado em Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá-Ifap, Campus Laranjal do Jarí/AP. e-mail: alain.santos@ifap.edu.br