VIOLENT COMMUNICATION AND STIGMAS OF WORKERS IN AN EMC: WORKERS’ PERCEPTIONS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10086266
Jaqueline Lilian Machado¹
Suely Amorim de Araújo²
Carla Denari Giuliani³
Lucio Borges de Araujo4
RESUMO
O CME é uma unidade hospitalar que tem como missão proporcionar o processamento dos artigos críticos, semicríticos e não críticos, disponibilizados para os procedimentos médico-hospitalares. O objetivo deste estudo é mostrar o que os trabalhadores da enfermagem pensam e como lidam com a rotina no ambiente de trabalho, acerca da comunicação violenta e dos estigmas criados no Centro de Material e Esterilização (CME). A pesquisa foi realizada com um grupo de trabalhadores da Enfermagem que, através de um questionário estruturado, colaboraram na identificação de falhas, a fim de otimizar processos e identificar as relações entre estes colaboradores e promover ações de melhorias direcionadas às necessidades do setor. A comunicação violenta e os estigmas identificados são um dos principais fatores que interferem nas relações de trabalho e na saúde dos trabalhadores da enfermagem do CME. A expectativa é que este estudo possa trazer melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores envolvidos.
PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem. Estigma. Violência.
SUMMARY
The CME is a hospital unit whose mission is to provide the processing of critical, semi-critical and non-critical articles made available for medical-hospital procedures. The objective of this study is to show what nursing workers think and how they deal with the routine in the work environment, about violent communication and the stigmas created in the Material and Sterilization Center (MSC). The research was carried out with a group of nursing workers who, through a structured questionnaire, collaborated in the identification of failures, in order to optimize processes and identify the relationships between these employees and promote improvement actions directed to the needs of the sector. Violent communication and the stigmas identified are one of the main factors that interfere in the work relationships and health of MSC nursing workers. The expectation is that this study can improve the quality of life of the workers involved.
KEYWORDS: Nursing. Stigma. Violence.
INTRODUÇÃO
A comunicação é um processo fundamental na vida dos seres humanos, seja ela verbal, visual ou por meio de sinais. Para esse processo ocorrer é necessário um interlocutor, um canal e um receptor. Assim, o processo de comunicação ocorre por uma via de mão dupla, na qual existe um indivíduo articulando ideias e pensamentos que serão interpretados e compreendidos pelo receptor. Nesse desenvolvimento é importante que o canal e a forma com que a informação é veiculada, sejam claros e compreensíveis.
Todo esse movimento pode ocorrer de diversas formas e embora construa o processo de socialização; pode ser fonte de atrito e desapontamentos se não realizada da forma correta. Pensando nessa ideia Marshall Rosenberg, propôs a comunicação não violenta, justificando que a agressividade na comunicação surge de incompreensão das reais intensões dos indivíduos durante o diálogo, desse modo gera dor e desconforto.
Desta forma, “Comunicação Não Violenta” (CNV), proposta por Marshall Rosenberg os conflitos são desencadeados pela incompreensão sobre os reais motivos, nas relações com o outro ou consigo mesmo, que geram dor e desconforto, tendência natural que reações instintivas se traduzam em comportamentos violentos. A comunicação empática busca trazer a consciência, com afeto, respeito, empatia e generosidade, para a transformação dessas relações. A partir da percepção de si e do autoconhecimento, permite ao indivíduo identificar os próprios sentimentos e necessidades, compreender as fragilidades e reconhecer as potencialidades. Essa clareza confere sensação de alívio ao ver-se mais consciente na nova condição, percebendo os próprios limites e novas possibilidades de rearranjos nas relações. Exercitar a empatia no (auto)acolhimento diminui o grau de sofrimento, ansiedade e tensão, contribuindo para a elaboração dos recursos internos para enfrentar os desafios, a organização dos espaços de trabalho são incubadoras de violência laboral, pois a divisão do trabalho em saúde é desigual, sobrecarregando um trabalhador ou parte de uma equipe; além disso, o ritmo de trabalho imposto e as formas de contratação e vinculação dos trabalhadores de Enfermagem têm se tornado cada vez mais precarizados, além da ausência de um piso salarial para a categoria e da falta de reconhecimento pelos serviços prestados. (RAMOS; ROCHA; LIMA, 2022).
O Centro de Material e Esterilização é um setor hospitalar que tem como missão proporcionar o processamento de artigos críticos, semicríticos e não críticos. Ele também se destina a receber instrumentos médico-hospitalares sujos e contaminados, com finalidade de limpeza, desinfecção, embalagem, esterilização e armazenamento. Após esse processo, os materiais são distribuídos para os outros setores, tais como o Centro Cirúrgico, Internação, Ambulatórios e todas as outras unidades que precisem de materiais esterilizados (SOBECC, 2017).
Os trabalhadores do CME que desenvolvem os processos de aquisição/recepção, inspeção, limpeza, desinfecção, montagem, embalagem e esterilização (SOBECC, 2013) estão expostos a vários tipos de riscos, tais como lesões musculoesqueléticas, em consequência de hábitos posturais inadequados ou estáticos, torção na coluna vertebral, devido a técnicas impróprias de levantamento de materiais e fatores ergonômicos, como altura de bancadas não condizente com as necessidades dos funcionários, a falta banquinhos para apoio, assentos desconfortáveis, entre outros (PIRES, 2019).
Além disso, as atividades no Centro de Material e Esterilização são de ativa responsabilidade no contexto hospitalar. O trabalho prestado é extremamente rigoroso, repetitivo e carente de atenção, o que evidencia a precisão de uma equipe estável com bom relacionamento interpessoal para manter a sincronia no processo de trabalho e ofertar resultados de boa qualidade (CARVALHO, 2017).
De uma forma geral, deseja-se que os coordenadores deem orientações de autocuidado, manuseio de materiais contaminados, composição de agentes químicos e efeitos nos trabalhadores e condutas posturais para estes funcionários. Para tanto, o primeiro passo é fazer o diagnóstico de suas necessidades, para desenvolver, assim, uma educação continuada. Assim, um método pedagógico deverá ser realizado para obter-se a motivação da equipe. É importante oferecer a Educação Continuada dentro do horário de trabalho, para que seja eficiente e produtiva (LEITE; PEREIRA, 1994; SOUZA; CERIBELLI, 2004).
Esta pesquisa tem por finalidade conhecer os desafios do processo de trabalho nas relações interpessoais da equipe, as violências no cotidiano e os estigmas que permeiam o setor para propor mudanças no setor.
METODOLOGIA
Tipos de estudos e local:
Trata-se de um estudo transversal de natureza quali-quantitativa, exploratório e descritivo, desenvolvido em um hospital universitário de grande porte com 520 leitos, localizado no município de Uberlândia. Maior prestador de serviços pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas Gerais, sendo referência para atendimentos de média e alta complexidades para 86 municípios do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Oferece assistência em quase todas as especialidades médicas clínicas e cirúrgicas, incluindo serviços de oncologia e transplantes e participa da formação de recursos humanos nas diferentes áreas do conhecimento.
Amostra
O campo de pesquisa foi no Centro de Material e Esterilização, em um hospital universitário de um município de Minas Gerais que atende média e alta complexidade. Os envolvidos no estudo englobaram a equipe de enfermagem (enfermeiros; técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem). A equipe hoje é composta por 19 auxiliares de enfermagem, 24 técnicos de enfermagem e 05 enfermeiros dividido entre turnos matutino, vespertino e noturno. Foram excluídos funcionários que estavam de férias ou afastados no momento da coleta.
Aspectos éticos
A pesquisa foi desenvolvida mediante a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE nº 59108222.0.0000.5152 e parecer nº 5.543.772).
Todos os participantes foram devidamente esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa, instrumentos e técnicas de coleta de dados e manifestaram o consentimento assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE.
Procedimento de coleta de dados
Os dados foram obtidos através de três etapas. A primeira etapa foi feita por meio de análise documental para descrição do contexto do Centro de Material e Esterilização, na qual também foram levantadas informações sobre a produção, as rotinas do setor e dos setores vinculados e procedimentos administrativos da CME.
Na segunda etapa, foi realizado coleta de dados através de questionário elaborado pelos pesquisadores para conhecer o perfil sócio demográfico e profissional dos trabalhadores do CME, tais como idade, sexo, grau de escolaridade, tempo de trabalho no CME, vínculo empregatício, turno de trabalho, motivo de ingresso no CME, existência de outro vínculo empregatício e carga horária semanal trabalhada.
Em um terceiro momento, foi realizada uma entrevista semiestruturada com perguntas para identificar os desafios enfrentados no processo de trabalho no CME, questões envolvendo violência dentro do ambiente laboral, estigmas relacionados às atividades desenvolvidas, relações interpessoais e os fatores que facilitam ou dificultam o processo de trabalho no CME.
Tratamento dos dados:
No tratamento dos dados utilizou-se a análise de conteúdo temática de Bardin (2011), sendo seguidas as fases propostas pelo autor: análise prévia, exploração do material, tratamento dos resultados e inferência e interpretação. No primeiro momento foi constituído o corpus reunião, leitura e escolha de unidades de registro dos documentos a serem analisados; no segundo momento ocorreu a exploração e operações de codificação agrupamento de unidades de registro comuns a partir da escolha de recortes de “temas” para o encontro dos núcleos de sentido das falas. O terceiro momento envolveu o tratamento dos resultados, sua inferência e interpretação, que possibilitou a condensação e lapidação dos dados e o encontro da categoria.
Resultados
Ao total foram entrevistados 40 funcionários do setor, deste valor 10% eram enfermeiros, 42,5% técnicos de enfermagem e 47,5% correspondiam aos auxiliares de enfermagem. As entrevistas foram realizadas nos turnos matutino, vespertino e noturno. Também foi levantando a jornada de trabalho dos servidores, sendo 17,5% (n=7) os trabalhadores com jornada de 30 horas semanais; 22,5% (n= 9) com 36 horas semanais; 20% (n= 8) com 48 horas semanais e 40% (n=16), sendo que desse total perfazendo 60 horas semanais.
Os resultados foram listados primeiramente, seguindo o caráter sociodemográfico, como mostra a tabela 1, em detalhes.
TABELA 1- CATEGORIZAÇÃO DOS ENTREVISTADOS
CATEGORIAS ENTREVISTADAS | Nº DE ENTREVISTADOS | PERCENTUAL | |
Enfermeiro | 4 | 10% | |
Técnico de Enfermagem | 17 | 42,5% | |
Auxiliar de Enfermagem | 19 | 47,5% | |
SEXO | Feminino | 30 | 75,0% |
Masculino | 9 | 22,5% | |
Não informou | 1 | 2,5% | |
ESTADO CIVIL | Casado/União Estável | 24 | 60% |
Solteiro/Viúvo | 10 | 25% | |
Outro | 6 | 15% | |
FAIXA ETÁRIA | 31 a 35 | 6 | 15% |
36 a 40 | 9 | 22,5% | |
41 a 45 | 7 | 17,5% | |
46 a 50 | 6 | 15% | |
51 a 55 | 3 | 7,5% | |
56 a 60 | 2 | 5% | |
> 60 | 5 | 12,5% | |
Não Informou | 2 | 5% |
Fonte: Próprios autores, 2023.
O trabalho na CME é marcado por diversas questões de estigmas e violência. Ao analisar o perfil dos trabalhadores e os entraves vivenciados no cotidiano, em comparação com dados da literatura; percebe-se que certas questões são persistentes e presentes na maioria dos Centros de Material e Esterilização (CME). Após transcrição e análise dos dados, surgiram três categorias:
1. Estigmas presentes no cenário de trabalho
A CME é um setor fechado e geralmente afastado, além disso, é um cuidado indireto ao paciente que tente a ser visto como menos valorizado, posteriormente deve se ressaltar que no meio acadêmico é uma área de pouca ênfase uma vez que, é preciso de atividades práticas para se capacitar nessa área. Assim, esse conjunto de fatores trazem como consequência uma desvalorização e reduzem a importância que o setor possui (PADILHA et al., 2021).
Para entender a origem de alguns problemas presentes na CME, é necessário adentrar no conceito da invisibilidade pública, na qual a divisão do trabalho projeta uma visão reduzida do ser humano, assim é visto o trabalho e não a pessoa, de modo a acarretar na função social desses trabalhadores que não são compreendidos como seres transformadores e necessários (MACHADO; GELBCKE, 2009).
Quando questionado se estes já se sentiram desvalorizados devido ao setor que trabalham, o percentual de respostas afirmativas foi de 40% e respostas negativas corresponderam a 60% (n= 24). Tais dados divergiram dos dados encontrados na literatura. Embora as respostas afirmativas serem a minoria os conteúdos trazidos eram semelhantes de outros estudos analisados.
Abaixo, segue a fala de alguns entrevistados, em relação a percepção de desvalorização dos outros setores do hospital.
“[…] Muitas vezes, muitos profissionais de diversos setores não têm conhecimento da importância da CME, dizem para nós que na CME não tem serviço[…]” – CME 39
“[…] Outros setores do hospital acreditam não ser importante o trabalho executado na CME […]” – CME 35
“[…] Muitos colegas de outras unidades veem o CME somente como local de limpeza, desconhecem nossas inúmeras atribuições e importância[…]” – CME 32
“[…] Outros setores acham que quem está na CME, sempre tem problema de relacionamento ou outros problemas clínicos[…]” – CME 8
“[…] Às vezes algum colega do hospital acha que o trabalho em um local sujo , explico que gosto é que é limpo“[…] CME-13
“[…] Falas e opiniões distorcidas dos profissionais que atuam na assistência na assistência direta ao paciente“[…] CME -23
“[…] Sinto que o setor é desvalorizado não pela chefia imediata, mas pela gestão superior que tem pouco acesso ao setor“[…] CME 18
“[…] Já ouvi opiniões menosprezando o trabalho do setor, mas não me senti desvalorizada, pois reconheço a importância das nossas ações “[…] CME-26
“[…] Algumas pessoas não conhecem o setor e acham que não fazemos nada, não nos reconhece como profissional da saúde “[…] CME – 27
Ainda há de se considerar a invisibilidade no cenário do trabalho, interligada com as questões de gênero. Os saberes na Enfermagem, são subjugados e menosprezados pelos profissionais da área da saúde e da sociedade como um todo. Essas raízes são resquícios de uma construção histórica de o trabalho feminino era interligado aos afazeres domésticos e, portanto, uma profissão oriunda de uma mão de obra feminina foi caracterizada muito tempo como uma tarefa menor (MACHADO; GELBCKE ,2009).
Ao analisar inicialmente o perfil dos trabalhadores do local do estudo, evidenciou-se que os dados corroboram com os demais estudos na área, em que o sexo feminino é predominante nesta profissão (TALHYAFERRO, 2006). Do total de entrevistado 75% (n=30) pertencia ao sexo feminino.
2. A violência no ambiente de trabalho
Outra situação recorrente no ambiente laboral é a violência; podendo atribuir um caráter de violência física, verbal, moral e psicológica. Tais agressões tem impacto negativo na segurança e bem-estar do profissional de saúde. Esses atos têm origem multifatorial vinculados às relações interpessoais, ao clima organizacional, à gestão e às condições de trabalho (TOBASE et al., 2022).
Ao questionar os trabalhadores se em algum momento já haviam vivenciado alguma situação de violência no setor, obteve-se um total de 42,5% (n= 17) respostas afirmativas e 57,5% (n=23) de respostas negativas.
A seguir trechos transcritos na integra das falas dos funcionários relatando os desafios internos vivenciados em relação a violência no setor:
“[…] Sofri assédio por meios políticos entre colegas[…]” – CME18
“[…] Ocorre ameaça de subordinados a chefia[…]” – CME 37
“[…] Existe violência verbal, como falta de educação entre colegas[…]” – CME 15
“[…] Piadas com contexto de preconceito, essa forma de interação no trabalho infelizmente é muito comum[…]” – CME 28
“[…] Sofri violência verbal de caráter homofóbico, sugerindo que eu mudasse de opção[…]” – CME26
“[…] Fui empurrada e houve xingamento pela colega “[…] CME 19
“[…] Já sofri violência emocional e constrangimento por falta de ética profissional de determinada colega“[…] CME – 39
Os fatos narrados por esses trabalhadores corroboram com estudos buscados na literatura, em um levantamento realizado pelo Conselho Regional de Enfermagem (Coren), em 2017 no estado de São Paulo, aponta que 62% destes profissionais relatam que se sentem inseguros em seu ambiente de trabalho e 25% alega já ter sido vítima de violência, seja ela física, psicológica ou institucional (COREN,2017).
Num local de trabalho, em que a carga horária elevada se estabelece, como no CME, o problema de comunicação pode ser observado, principalmente pelo estresse, pelo cansaço e naturalmente a falta de paciência pode acabar num ruído de comunicação. No artigo publicado na Revista latino Americana de Enfermagem, esse assunto é apresentado e reforça que “a jornada de trabalho pode se tornar elemento que propicia desgaste e sofrimento ao trabalhador; quando o contexto organizacional desencadeia sofrimento o indivíduo busca desenvolver mecanismos de defesa para tentar diminuí-lo”. (Rev. Latino-Am. Enfermagem, 2014).
A partir deste estudo observa-se que este é um dos fatores que explicam a interferência no processo comunicacional no ambiente laboral, ocasionando outros problemas. Por outro lado, a satisfação por meio do trabalho também pode ser observada, quando da remuneração pertinente, ou de um ambiente estável que leve o indivíduo a realizar sua atividade evitando o estresse.
3. Comunicação violenta
As relações humanas, de uma forma geral, são pautadas por momentos de distorções da percepção de um indivíduo, em relação ao outro, e até mesmo sobre si mesmo. Para caracterizar uma comunicação violenta, objeto deste estudo, levou-se em conta que muitas ações são praticadas sem que o indivíduo tenha plena consciência delas. O julgamento sobre outras pessoas, respostas atravessadas, a transferência de culpa de atos e falhas, a discriminação de um colega por qualquer motivo, são exemplos de fatores que levam a uma comunicação violenta.
Observou-se que outro problema recorrente fomentador de violência era a dificuldade de relacionamento interpessoal, atrelado a comunicação violenta. Quando questionado aos funcionários quais eram as maiores dificuldades internas o tema do diálogo ineficaz foi relatado por 57,5% dos trabalhadores, somado a problemas como dificuldade de trabalho em grupo e falta de compromisso.
Segue alguns trechos da entrevista:
“[…]Muitas discussões, conversas desnecessárias e brigas constantes […]” – CME 33
“[…] Falta companheirismo, falta humanidade entre os colegas[…]” – CME 35
“[…] Falta compromisso, negligenciam a atuação, não acatam as ordens[…]” – CME 37
“[…] Existem funcionários que não se relacionam com os outros, dificultando por vezes a confecção de escala e horários de descanso[…]” – CME 23
“[…] Colegas do Centro Cirúrgico com tratamento autoritário e usando palavras grosseiras como exigência de algum pedido de material“[…] – CME 07
“[…] Falta de educação na solicitação de materiais dos Centro Cirúrgico “[…] CME 40
A comunicação eficaz é um grande desafio no ambiente profissional e pessoal, a partir dela são atribuídas características e o modo de comunicar torna-se um tipo de identidade. Além disso, é preciso lembrar que o poder contido nas palavras pode exaltar ou arrasar o outro, depende do modo como são ditas (BATISTA; MORETTI, 2020).
Os estudos têm demonstrado que parte dos conflitos gerados dentro das instituições de trabalho são provenientes de uma cultura organizacional, na qual é necessário deixar os sentimentos a parte e focar no trabalho. No entanto, tal modelo gera um clima de desconfiança, assim em situações de erro ou de não atingir as metas da instituição, um culpado é buscado (RAMOS et al., 2022).
Para Roballo e colaboradores (2020) esse ambiente gera um ciclo vicioso, no qual existe sempre uma necessidade de culpa e de instigar o medo de cometer falhas. Nesse sentido, o funcionário passa a dispender muita energia para ser ágil, multitarefa, competitivo e sem perspectiva para assumir suas falhas, uma vez que o erro se torna um processo de vergonha. Com o transcorrer do tempo, é possível observar a elevação do estresse, o aumento dos atritos interpessoais e o absenteísmo do trabalhador.
Limitações do Estudo
Quanto as limitações deste estudo devem-se destacar que foi realizada em um ambiente específico podendo não refletir a realidade de outros locais, no entanto tal pesquisa pode servir como base para replicação em outros lugares com contextos distintos, de modo a auxiliar o desenvolvimento de pesquisas nesta área e promover a melhoria da saúde e qualidade de vida dos trabalhadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do perfil traçado dos problemas internos desse setor é possível elaborar ferramentas que possam auxiliar no clima organizacional para melhorar a qualidade no serviço. Partindo das evidências encontradas na literatura, a comunicação não violenta é um tema que pode ser trabalhado. A comunicação não violenta é um instrumento fomentador de paz e humanização e que em um contexto de violência laboral é necessário pensar em uma abordagem eficaz para o gerenciamento de conflitos, uma vez que tem se mostrado importante para o fortalecimento das relações interpessoais, uma forma de qualificar a assistência prestada e reduzir a violência laboral.
Ao longo da vida e durante sua prática profissional e pessoal, a comunicação se faz como um instrumento de grande importância e é essencial para suas atividades, sua expressão, sua criação de relacionamentos harmoniosos, ao dar instruções e para cessar conflitos. Fatores que contribuem para a manutenção de um ambiente de trabalho produtivo e leve, tornando-se um local agradável de convivência. Durante esta pesquisa, ao ouvir os entrevistados foi apurado que muitas pessoas passam por situações estranhas no ambiente de trabalho. Essas experiências, em muitas vezes poderiam ser resolvidas, através de uma comunicação mais assertiva. Sendo assim, é preciso encontrar formas de comunicação, que proporcione relações saudáveis com colegas, colaboradores e chefia direta.
É possível que um trabalho constante seja feito junto aos trabalhadores do setor para que o processo de comunicação entre os pares, melhore a cada dia. Isso refletirá nas atividades do grupo, possibilitando um ambiente mais saudável e muito mais harmônico, que com certeza, chegará ao público, através de um atendimento mais humanizado.
REFERÊNCIAS
Baptista PCP, Silva FJ, Santos Junior JL, Felli VEA. Violência no trabalho: guia de prevenção para os profissionais de enfermagem [Internet]. São Paulo: Coren/SP, 2017. https://portal. coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2018/01/PDF-site-2.pdf
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.
BATISTA, E. C; MORETTI, S. D. A. Saúde mental no ambiente organizacional: os desafios de uma comunicação não violentam e eficaz com os trabalhadores. Saber Humano: Revista Científica da Faculdade Antônio Meneghetti, v. 10, n. 17, p. 124–140, 22 dez. 2020.
Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Sondagem com médicos e profissionais de enfermagem [Internet]. 2017. http://cremesp.org.br/pdfs/SONDAGEM_VIOLENCIA_2017.pdf
Dalri RCMB, Silva LA, Mendes AMOC, Robazzi MLCC. Carga horária de trabalho dos enfermeiros e sua relação com as reações fisiológicas do estresse. Rev. Latino-Am. Enfermagem Artigo Original. nov.-dez. 2014;22(6):959-65 https://www.scielo.br/j/rlae/a/NpMQSrbV9mcbrnvTjDsPyXg/?lang=pt&format=pdf
MACHADO, R. R.; GELBCKE, F. L. Que brumas impedem a visibilização do Centro de Material e Esterilização? Texto & Contexto – Enfermagem, v. 18, n. 2, p. 347–354, jun. 2009.
PADILHA, M. V.; MARTINS, W.; STRADA, C. DE F. O. Papel da Equipe de Enfermagem no Centro de Material e Esterilização: Uma Revisão Integrativa da Literatura. Boletim de Conjuntura (BOCA), v. 8, n. 24, p. 33–41, 1 dez. 2021.
RAMOS GONÇALVES, N.; DAIANE DA ROCHA, V.; DO CARMO FERREIRA LIMA, M. Comunicação Não-violenta: assertividade no discurso e sua importância nas organizações. Revista de Gestão e Secretariado, v. 13, n. 1, p. 48–71, 18 abr. 2022.
ROBALLO, L., ALMEIDA, C. D.; OLIVEIRA, S. B. DE. Comunicação Não Violenta e Círculo de Diálogo om Equipes Multidisciplinares. Diálogos Interdisciplinares, v. 9, n. 3, p. 74–87, 25 maio 2020.
TALHAFERRO, Belisa; BARBOSA, Denise Beretta. Qualidade de vida da equipe de enfermagem da central de materiais e esterilização. Revista de Ciências Médicas, v. 15, n. 6, 2006.
TOBASE, L. et al. Comunicação não violenta como tecnologia leve no contexto da enfermagem: revisão integrativa. Enfermagem Brasil, v. 21, n. 5, p. 621–635, 28 nov. 2022.
1 Discente do Curso de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Email: jaqueline.lilian@ebserh.gov.br
2 Docente do Curso de Mestrado Profissional em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Email: denarigiuliani@bol.com.br
3 Docente associada na Universidade Federal de Uberlândia, membro da coordenação de ensino da Faculdade de Medicina- FAMED UFU. Email: profasuelyamorim@ufu.br
4 Estatístico Membro da Faculdade de Matemática da Universidade Federal de Uberlândia. Email: lucio.araujo@ufu.br