CAPACITAÇÃO DOCENTE PARA A INTEGRAÇÃO EFICAZ DAS TICS NO PROCESSO EDUCATIVO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410160938


Elissandro Neves dos Santos; Simone Lopes de Oliveira; Luziane Lima da Costa; Armando Lima Barbosa; Julye Hemylle Martins Barbosa; Lidiane Ferreira da Silva; Aline Costa Cavalcante de Rezende; Ueudison Alves Guimarães.


RESUMO

As novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) têm desencadeado uma série de transformações de profundidade na sociedade contemporânea, afetando esferas socioculturais, históricas, econômicas e políticas de maneiras inesperadas e complexas. Neste cenário, o presente trabalho adota uma abordagem qualitativa e realiza uma revisão bibliográfica para explorar os impactos das TICs na educação, particularmente no que tange à pedagogia e à formação docente. Desse modo, a ênfase principal reside em desvendar a relevância das TICs na formação de professores, além de identificar os desafios que esses profissionais enfrentam ao tentar integrar essas tecnologias em suas práticas pedagógicas. Para tanto, busca-se desenvolver uma introspecção aprofundada sobre as dificuldades concretas que os professores encontram e as estratégias para superá-las, buscando tanto elucidar os obstáculos quanto propor caminhos para otimizar o uso das TICs no processo educacional. Nesse sentido, aponta-se que os resultados pretendidos incluem uma compreensão mais sólida da importância das TICs na formação docente e uma percepção detalhada das barreiras que limitam sua implementação eficaz. Assim sendo, o estudo almeja enriquecer o debate acadêmico sobre o tema, oferecendo compreensões eficazes para pesquisadores e educadores interessados em integrar as TICs de maneira mais eficiente em suas práticas pedagógicas.

Palavras-Chave: Educação. Formação de Professores. Tecnologia.

ABSTRACT

New Information and Communication Technologies (ICTs) have triggered a series of profound transformations in contemporary society, affecting sociocultural, historical, economic and political spheres in unexpected and complex ways. In this context, this paper adopts a qualitative approach and carries out a literature review to explore the impacts of ICTs on education, particularly about pedagogy and teacher training. Thus, the main emphasis lies on unraveling the relevance of ICTs in teacher training, in addition to identifying the challenges that these professionals face when trying to integrate these technologies into their pedagogical practices. To this end, we seek to develop an in-depth introspection on the concrete difficulties that teachers encounter and the strategies to overcome them, seeking both to elucidate the obstacles and to propose ways to optimize the use of ICTs in the educational process. In this sense, it is pointed out that the intended results include a more solid understanding of the importance of ICTs in teacher training and a detailed perception of the barriers that limit their effective implementation. Therefore, the study aims to enrich the academic debate on the topic, offering effective understandings for researchers and educators interested in integrating ICTs more efficiently into their pedagogical practices.

Keywords: Education. Teacher Training. Technology.

1 INTRODUÇÃO

O mundo contemporâneo é um palco de transformações vertiginosas que permeiam todos os aspectos da vida cotidiana, incluindo, de maneira marcante, o setor educacional. A incessante evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) tem precipitado uma revolução na forma como o conhecimento é disseminado, reconfigurando radicalmente tanto as práticas de ensino dos professores quanto os métodos de aprendizagem dos alunos (Collins & Halverson, 2018). Nesse contexto, o campo da educação tem experienciado um crescimento exponencial na adoção das TICs, refletindo uma mudança paradigmática que vai muito além da mera integração tecnológica.

Desse modo, este trabalho se propõe a investigar a profundidade dessa transformação, focando na importância das TICs na formação dos professores, enquanto se distancia do modelo tradicional de educação profissional, frequentemente limitado a uma preparação técnica e restritiva voltada exclusivamente para o mercado de trabalho.

Todavia, em vez de se contentar com uma abordagem meramente utilitarista, o estudo busca desvendar como a incorporação das TICs pode expandir os horizontes educacionais, promovendo uma formação mais abrangente e enriquecedora para os docentes.

 Assim, almeja-se tanto entender o impacto das TICs na prática pedagógica quanto examinar como elas podem contribuir para uma visão mais ampla e inovadora da educação, desafiando as fronteiras do ensino convencional e propondo novas possibilidades para o desenvolvimento profissional dos educadores.

A integração das TICs na educação não é meramente uma moda passageira, mas sim uma exigência imperativa no cenário educacional contemporâneo. Elas abrem um leque de oportunidades vastamente enriquecedoras, permitindo que os professores aprimorem suas habilidades pedagógicas, aumentem a eficiência do ensino e fomentem um aprendizado mais dinâmico e envolvente entre os alunos (Ertmer & Ottenbreit-Leftwich, 2013). No entanto, a realidade dessa transformação não é isenta de complexidades e desafios profundos.

Os docentes frequentemente deparam com uma série de obstáculos ao tentar integrar essas tecnologias em suas práticas pedagógicas, evidenciando um campo de batalha repleto de nuances e dificuldades.

Em um contexto educacional moldado por políticas neoliberais, que frequentemente priorizam a eficiência e a produtividade e demandam resultados tangíveis e rápidos, os professores podem ser levados a perceber as TICs como meros instrumentos para uma aprendizagem acelerada e quantificável. Essa perspectiva pode reduzir o potencial das TICs a ferramentas de entrega de conteúdo, em vez de explorar suas capacidades para promover uma abordagem mais reflexiva e crítica do processo educacional.

Dessa forma, a educação é frequentemente encarada não só como um meio de desenvolvimento pessoal, mas como uma máquina de preparar os alunos para o competitivo mercado de trabalho e para otimizar a eficiência econômica.

Neste cenário, as TICs aparecem como instrumentos emblemáticos de modernidade e inovação, prometendo aprimorar as competências tecnológicas e de comunicação dos alunos, alinhando-os às exigências do mercado globalizado.

Contudo, sob a influência de políticas educacionais que priorizam inovação e mudança, as práticas pedagógicas convencionais frequentemente sofrem um processo de desvalorização. Essa mudança de paradigma pode modificar a percepção dos professores, conduzindo-os a considerar as TICs como elementos indispensáveis para uma educação que se pretende moderna e eficaz, enquanto as abordagens tradicionais são relegadas a um status de obsolescência.

A noção de que a eficácia educacional está intrinsicamente ligada à adoção de novas tecnologias pode obscurecer o valor das metodologias pedagógicas estabelecidas, criando um campo de tensão entre a modernização e a preservação dos métodos educacionais convencionais.

Conforme revelado por Pereira e Costa (2019), as TICs têm provocado uma reconfiguração substancial do panorama educacional, fornecendo um conjunto de ferramentas e metodologias inovadoras que prometem enriquecer e diversificar o processo de ensino e aprendizagem. No entanto, a integração efetiva dessas tecnologias no ambiente educativo não é uma mera formalidade, mas uma empreitada que exige uma formação meticulosa e robusta dos docentes.

A adoção das TICs nas práticas pedagógicas enfrenta uma complexidade significativa. Os professores frequentemente deparam com desafios variados que vão além da mera falta de familiaridade com as novas tecnologias.

Eles enfrentam questões intrincadas relacionadas à infraestrutura inadequada e a políticas institucionais que podem ser não apenas desatualizadas, mas também inadequadas para suportar uma integração fluida e eficiente das TICs no cotidiano escolar (Cardoso, 2001). Assim, a implementação dessas tecnologias se revela uma tarefa árdua, que demanda um esforço coordenado para superar as barreiras que se interpõem ao seu pleno potencial educativo.

Para desvendar os desafios complexos enfrentados pelos docentes na integração das TICs, revela-se indispensável adotar uma abordagem crítica e múltipla. Desse modo, Marques et al (2006) sustenta que a relação entre professores e tecnologia deve ser entendida como um emaranhado de fatores técnicos, sociais e institucionais.

Essa perspectiva evidencia que a mera presença de tecnologia não garante uma transformação educacional efetiva; ao contrário, a eficácia das TICs está intimamente ligada ao contexto no qual são inseridas.

Além disso, Mishra e Koehler (2006) ressaltam a importância de reconhecer a heterogeneidade nos contextos educacionais ao abordar a integração das TICs. A disparidade entre um professor em uma escola rural com infraestrutura tecnológica precária e um docente em um ambiente urbano tecnologicamente avançado evidencia a necessidade de soluções diferenciadas e adaptadas.

Assim sendo, ressalta-se que essa diversidade de condições implica que as estratégias de formação e implementação das TICs devem ser moldadas de acordo com as especificidades e limitações de cada contexto.

Portanto, qualquer esforço para aprimorar a integração das TICs na prática pedagógica deve considerar essas variações contextuais, desenvolvendo intervenções que não apenas ofereçam suporte técnico, mas também respondam às nuances das realidades enfrentadas pelos educadores. Por conta disso, entende-se que a adaptação e a personalização das abordagens são de grande relevância para superar os obstáculos e maximizar o potencial transformador das tecnologias digitais na educação.

2 METODOLOGIA

A metodologia adotada para a pesquisa sobre a formação de professores para o uso efetivo das TICs no ensino será de caráter bibliográfico, dando ênfase na revisão e análise crítica de literatura existente sobre o tema. Dessa forma, a pesquisa se concentrará em fontes acadêmicas, como artigos científicos, livros, dissertações e teses, que abordam a integração das TICs na educação e a preparação dos professores para sua utilização eficaz.

A revisão, por sua vez, abrangerá publicações recentes e relevantes para identificar tendências, desafios e boas práticas na formação de docentes para o uso das TICs. Para tanto, serão analisados aspectos como metodologias de ensino, políticas educacionais e experiências práticas documentadas, buscando construir um panorama abrangente das estratégias formativas e das implicações para o processo educativo. Além disso, destaca-se que a metodologia incluirá a seleção criteriosa das fontes, a categorização das informações e a síntese dos dados para oferecer uma visão consolidada sobre a eficácia e os desafios da formação de professores no contexto das TICs.

3 EVOLUÇÃO DAS TECNOLOGIAS AO LONGO DA HISTÓRIA

O processo histórico das tecnologias é uma narrativa complexa, repleta de momentos de ruptura e evolução que marcam a trajetória da humanidade. Desde os primórdios da nossa existência, quando os primeiros hominídeos começaram a manipular rudimentares ferramentas de pedra e madeira, a tecnologia se entrelaçou com a vida cotidiana, desempenhando um papel crucial nas atividades essenciais como caça, coleta e construção de abrigos. Com isso, percebe-se que esses primeiros artefatos não só ampliaram as capacidades humanas, como também estabeleceram as bases para uma jornada contínua de inovação.

Kohn e Moraes (2007) explicam que na Antiguidade, a tecnologia experimentou uma aceleração notável, com civilizações como os egípcios, sumérios, gregos e romanos desbravando novas fronteiras na metalurgia, agricultura, construção e comunicação. Assim, descobre-se que esses povos buscaram aprimorar técnicas de construção e sistemas de irrigação, estabelecendo os fundamentos da escrita e da moeda e moldando as estruturas sociais e econômicas de seu tempo com uma sofisticação impressionante.

Figura 1 – Evolução das Tecnologias ao Longo da História

Fonte: Microimport (2024)

Dentro desse panorama, entende-se que embora frequentemente rotulada como uma era de estagnação tecnológica, a Idade Média foi, de fato, um período de desenvolvimento significativo, pois invenções como o moinho de vento e a disseminação da impressão em papel na China introduziram avanços transformadores que desafiaram a percepção de estagnação. No final desse período, o surgimento das primeiras universidades impulsionou uma nova era de intercâmbio de conhecimento e inovação, criando um espaço fértil para o florescimento de novas ideias e descobertas.

De acordo com Takiuch et al (2004), a complexidade da evolução tecnológica não é meramente uma sequência de invenções e descobertas, mas sim um reflexo profundo das mudanças culturais, sociais e econômicas que moldaram a civilização ao longo dos séculos, pois cada avanço foi capaz de transformar as práticas da época e preparar o terreno para as revoluções subsequentes, demonstrando a interconexão entre tecnologia e desenvolvimento humano.     

O Renascimento, segundo Ferreira (2011), representou uma epifania de criatividade e inovação que redefiniu o horizonte das artes, ciências e exploração. Esse período de efervescência intelectual e cultural impulsionou avanços profundos, com a invenção da prensa tipográfica por Johannes Gutenberg emergindo como um divisor de águas na disseminação do conhecimento.

Dessa forma, a imprensa democratizou o acesso à informação, promoveu um renascimento das ideias e fomentou uma revolução na educação e na cultura. Paralelamente, a Era da Exploração desencadeou um frenético impulso no desenvolvimento de tecnologias de navegação e cartografia, expandindo as fronteiras do conhecimento e permitindo a configuração de um mundo mais interconectado e globalizado.

Com a Revolução Industrial, testemunhamos uma transformação drástica na matriz tecnológica e social. Assim, Cardoso (2001) esclarece que a invenção da máquina a vapor provocou uma metamorfose radical nos processos produtivos, revolucionando o transporte e a comunicação, período esse que desnudou o surgimento de fábricas, ferrovias e telégrafos e desencadeou uma avalanche de inovações tecnológicas, como máquinas automatizadas, que redefiniram os paradigmas econômicos e sociais. O impacto da Revolução Industrial foi tão profundo que reconfigurou as estruturas da sociedade, lançando as bases para a era moderna e desencadeando um ciclo incessante de inovação e adaptação tecnológica que continua a moldar nosso mundo contemporâneo.

O século XX foi um palco de uma metamorfose tecnológica sem precedentes, caracterizado por uma série de avanços disruptivos que redefiniram a estrutura da sociedade moderna. A eletrificação, que inicialmente pareceu ser uma conquista isolada, abriu as portas para uma revolução de magnitude monumental, enquanto a revolução da informação, com o advento do computador e a subsequente emergência da internet, reconfigurou radicalmente as formas de interação, comunicação e acesso à informação.

Segundos os conceitos de Bastos (1997), no século XXI, a tecnologia continua a evoluir a um ritmo frenético, impulsionada por avanços disruptivos em áreas como inteligência artificial, biotecnologia, energia renovável, nanotecnologia e computação quântica. Cada uma dessas frentes não apenas expande os horizontes do que é tecnicamente possível, mas também desafia as fronteiras estabelecidas da ciência e da engenharia. Dessa forma, entende-se que a convergência dessas tecnologias emergentes está moldando um futuro em que a linha entre o imaginável e o realizável se torna cada vez mais tênue, suscitando um novo paradigma de possibilidades e desafios.

Nesse contínuo processo de evolução, a tecnologia tem sido simultaneamente uma força propulsora e um reflexo das necessidades, aspirações e criatividade humanas, pois a incessante busca por aprimoramento das condições de vida e a expansão dos limites do conhecimento são evidências palpáveis do desejo humano de transcender suas limitações e alcançar novos patamares de entendimento e capacidade.

Para Pinheiro (2017), a influência das tecnologias na educação começou a se manifestar de forma significativa no século XX, mas suas raízes remontam a períodos anteriores, embora com uma aplicação mais restrita e rudimentar. A interseção entre a tecnologia e a aprendizagem tem evoluído constantemente, evidenciando um processo de adaptação e transformação que, embora não seja inteiramente novo, alcançou um grau de impacto e profundidade sem precedentes nas últimas décadas.

A invenção da prensa de tipos móveis por Johannes Gutenberg no século XV foi um divisor de águas na história da disseminação do conhecimento. Essa inovação tecnológica não apenas revolucionou a produção de livros, tornando-a possível em larga escala, mas também facilitou a expansão da alfabetização, pavimentando o caminho para a estruturação do ensino formal. Com isso, percebe-se que a capacidade de replicar e distribuir textos de forma massiva estimulou uma democratização do conhecimento sem precedentes, moldando os alicerces da educação moderna.

Segundo Mota (2003), nos anos 1930 e 1940, o avanço tecnológico continuou a transformar a educação com a incorporação do rádio e da televisão como ferramentas educacionais. A introdução desses meios de comunicação possibilitou a criação de programas educativos que transcendiam as limitações físicas das salas de aula tradicionais.

Não obstante, percebe-se que ao levar conhecimento diretamente para áreas remotas e subatendidas, o rádio e a televisão cumpriram papel decisivo na ampliação do acesso à educação, criando um paradigma de inclusão e disseminação de informações. Assim, essa era de inovação tecnológica começou a redefinir a educação, enfatizando a capacidade das mídias para expandir as fronteiras do aprendizado e democratizar o acesso ao conhecimento.          

Nas décadas de 1970 e 1980, o ingresso dos computadores nas escolas e universidades marcou o início de uma era de transformação digital na educação, tendo em vista que os primeiros sistemas computacionais, inicialmente relegados ao domínio da programação e do desenvolvimento de habilidades técnicas, rapidamente encontraram novos propósitos em diversas de disciplinas. Dessa forma, o papel dos computadores expandiu-se para além das meras funções técnicas, integrando-se de forma inovadora nos processos de ensino e aprendizagem, abrindo novas possibilidades para o engajamento dos alunos e a eficiência pedagógica.

Marques (2006) afirma que o advento da internet comercial na década de 1990 desencadeou uma verdadeira revolução na forma como a informação é acessada e compartilhada, permitindo que a web surgisse como um imenso repositório de recursos educacionais, dando origem à educação online. Com isso, o surgimento de plataformas de aprendizagem, cursos à distância e uma infinidade de recursos acessíveis pela internet transformou radicalmente o panorama educacional, possibilitando um acesso sem precedentes ao conhecimento e promovendo uma democratização da educação global.

Avançando para as últimas décadas, a realidade virtual (RV) e a realidade aumentada (RA) surgiram como fronteiras inovadoras no campo educacional. Essas tecnologias imersivas são capazes de proporcionar experiências de aprendizagem profundamente envolventes e criam cenários interativos que permitem aos alunos explorarem conceitos complexos em ciências, história e treinamento profissional de maneiras anteriormente inimagináveis. Nesse contexto, evidencia-se que a realidade virtual e aumentada está redefinindo as práticas educacionais ao proporcionar simulações realistas e dinâmicas que transformam a maneira como o conhecimento é experimentado e internalizado.

A inteligência artificial (IA), segundo Grinspun (2001), está revolucionando o campo educacional de maneiras que eram inimagináveis até recentemente, visto que sua aplicação na personalização da aprendizagem permite uma adaptação quase individualizada do conteúdo e dos métodos de ensino, ajustando-se continuamente às necessidades e ao ritmo de cada aluno. Dessa forma, a análise de dados educacionais, agora profundamente integrada com algoritmos de IA, proporciona entendimentos detalhados sobre o desempenho dos alunos e as dinâmicas de aprendizagem, permitindo ajustes e intervenções precisas para otimizar o processo educacional.

Enquanto isso, o panorama tecnológico na educação continua a avançar a passos largos, pois possibilita que novas ferramentas e abordagens surjam com uma frequência quase vertiginosa, cada uma prometendo aprimorar a eficácia do ensino e expandir o alcance da educação globalmente. Esse fluxo constante de inovação tecnológica está redefinindo os limites do possível na educação, criando oportunidades e desafios que exigem uma adaptação contínua e uma reflexão crítica sobre o papel da tecnologia no processo educativo.

Segundo Pereira e Costa (2019), a defesa de uma abordagem crítica da educação, que valorize a formação integral dos indivíduos e a promoção da autonomia e da emancipação, é imprescindível. No entanto, ele levanta uma preocupação profunda: as tecnologias, ao se infiltrarem no processo educacional, correm o risco de desumanizá-lo. Esse fenômeno ocorre quando a tecnologia transforma o ensino-aprendizagem em um mecanismo frio e impessoal, desprovido das relações humanas essenciais para uma formação verdadeiramente integral e enriquecedora dos estudantes.

Além desse risco, os autores alertam para a possibilidade de as tecnologias serem instrumentalizadas como ferramentas de monitoramento e controle da educação, exacerbando as desigualdades sociais. Entretanto, ao substituir a mediação pedagógica dos professores, as tecnologias podem enfraquecer o papel importante do diálogo e da interação humana, substituindo a nuance e a riqueza da comunicação interpessoal por um sistema de ensino mais rígido e impessoal.

No entanto, é necessário destacar que, embora crítico, eles não descartam totalmente o potencial das tecnologias na educação. Ele reconhece que, quando essas ferramentas são empregadas de maneira crítica e reflexiva, podem realmente contribuir para o processo educativo. Assim, explica que a chave está em integrá-las de acordo com uma abordagem pedagógica que valorize a formação integral dos estudantes e que, ao mesmo tempo, alinhe-se com os princípios de emancipação e desenvolvimento autônomo.

Nesse contexto, as tecnologias não devem ser vistas como meros substitutos das práticas pedagógicas tradicionais, mas como instrumentos que, quando utilizados de forma alinhada com uma visão educacional profunda e humanista, podem enriquecer e transformar o processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, a eficácia das tecnologias na educação depende fundamentalmente da capacidade de adaptá-las a um modelo que respeite e promova a complexidade das interações humanas e o desenvolvimento holístico dos alunos.

4 DISCUSSÕES

Após o término da ditadura militar, o Brasil vivenciou uma transformação significativa na democratização do acesso à educação e na diversificação das abordagens para a formação de professores. O cenário educacional se expandiu com a criação de novas instituições de ensino superior e programas de formação docente, refletindo um esforço crescente para incluir temas contemporâneos como diversidade, inclusão e tecnologias emergentes na educação. Esse período marcou uma mudança paradigmática na valorização da formação continuada, buscando adaptar os métodos pedagógicos às novas demandas e realidades do mundo educacional.

No entanto, Cardoso (2001) esclarece que a trajetória histórica da formação de professores no Brasil é permeada por uma série de desafios persistentes, revelando que a desigualdade de acesso à educação continua a ser um obstáculo significativo, enquanto a baixa remuneração e a desvalorização da carreira docente persistem como questões críticas que afetam a qualidade do ensino.

Além disso, a necessidade de aprimorar a qualidade dos programas de formação é uma constante, evidenciando a complexidade de desenvolver uma abordagem educacional que equilibre a teoria e a prática em um contexto em constante evolução. Desse modo, a confluência desses fatores revela a profundidade das questões enfrentadas pelo sistema educacional brasileiro, exigindo uma análise crítica e um comprometimento contínuo com a inovação e a equidade na formação de professores.

A formação inicial e continuada de professores, conforme Pereira e Costa (2019), surge como um tema de relevância primordial na sociedade contemporânea, dada a crescente necessidade de alinhamento com as demandas educacionais atuais e o histórico de desvalorização da profissão docente. O debate em torno desse tema é impulsionado tanto pela urgência de atender às necessidades reais dos educadores quanto pela necessidade de superar a marginalização sistemática e política que tem caracterizado a função docente ao longo dos anos.

O uso das TICs na formação de professores tem se tornado um tópico de crescente importância e complexidade no panorama educacional moderno, contudo, o crescente reconhecimento das TICs como ferramentas indispensáveis e potenciadoras do processo de ensino e aprendizagem sublinha uma transformação radical nas práticas pedagógicas.

Alguns estudos destacam como essas tecnologias podem atuar como facilitadoras no aprimoramento das metodologias educacionais, oferecendo novas possibilidades para a integração do conhecimento e a adaptação às necessidades de um ambiente educacional em rápida evolução. Segundo os autores, o desafio está em harmonizar a incorporação dessas tecnologias com uma abordagem crítica e reflexiva, que respeite e promova a formação integral dos educadores, sem sucumbir à mecanização do processo educativo.

Nesse cenário, percebe-se que as TICs abrem um leque de novas possibilidades para interação e comunicação, oferecendo um acesso vasto e diversificado a informações e recursos pedagógicos. Contudo, a efetiva integração dessas tecnologias ao currículo educacional não é uma tarefa trivial, sendo que a chave para uma integração bem-sucedida reside na preparação adequada dos professores para utilizá-las de maneira eficaz e significativa.

Autores como Jonassen et al. (2003) e Koehler & Mishra (2009) destacam a importância de uma formação que não apenas ensine as habilidades técnicas necessárias, mas também prepare os professores para criar ambientes de aprendizagem ricos e interativos, alinhados com as abordagens pedagógicas contemporâneas.

No contexto da formação de professores, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) sublinha de forma incisiva a importância da formação continuada e da valorização profissional. Ela tanto afirma a necessidade de preparar os educadores para os desafios emergentes do cenário educacional contemporâneo quanto destaca a integração das TICs como uma questão central nesse processo. Todavia, o impacto real dessa diretriz vai além da teoria e adentra a prática através de políticas e diretrizes educacionais subsequentes que detalham com maior profundidade o papel das TICs na educação.

A implementação prática dessas diretrizes é altamente ampla, envolvendo a criação de ações de capacitação específicas que visam equipar os professores com as habilidades necessárias para utilizar as TICs de maneira eficaz. Além disso, há um foco crescente na integração da tecnologia nos currículos de formação docente, onde se procura ensinar o uso das ferramentas tecnológicas e promover uma compreensão crítica e pedagógica de como essas tecnologias podem ser aplicadas para enriquecer o processo de ensino-aprendizagem.

Diante dessa premissa, a literatura disponível destaca a importância das TICs na formação de professores, sublinhando a necessidade imprescindível de adotar abordagens pedagógicas sofisticadas que contemplem a complexidade do ambiente educacional moderno. Porém, a efetiva integração das TICs exige a superação de barreiras substanciais, incluindo resistências institucionais, limitações de infraestrutura e a necessidade de formação docente especializada.

Nesse contexto, o panorama atual revela que, embora a incorporação das TICs ofereça promissoras oportunidades para o aprimoramento educacional, a sua implementação significativa demanda uma reflexão crítica e um compromisso com a resolução dos desafios inerentes.

5 CONCLUSÃO

O processo de formação de professores votado para a utilização significativa das TICs no ensino surge como um tema de extrema relevância no sistema educacional moderno. À medida que as TICs se tornam cada vez mais integradas ao ambiente educacional, torna-se relevante que os docentes estejam devidamente preparados para incorporar essas ferramentas de maneira eficaz em suas práticas pedagógicas. Nesse sentido, a formação inicial e continuada dos professores deve, portanto, abranger além do domínio técnico das tecnologias, uma compreensão profunda de como essas ferramentas podem ser utilizadas para enriquecer o processo de ensino e aprendizagem.

Apesar das promessas das TICs para transformar a educação, a implementação efetiva dessas tecnologias enfrenta desafios significativos, visto que problemas como a falta de infraestrutura adequada, a resistência à mudança e a necessidade de desenvolvimento contínuo de habilidades tecnológicas são obstáculos que precisam ser superados para que as TICs possam ser aproveitadas plenamente. Os professores, muitas vezes, enfrentam dificuldades em conciliar a integração das tecnologias com as metodologias pedagógicas tradicionais, o que pode limitar o impacto positivo dessas ferramentas no ambiente educacional.

Além disso, é fundamental que as políticas educacionais e os programas de formação de professores considerem a diversidade de contextos e realidades enfrentados pelos docentes, uma vez que o acesso desigual a recursos tecnológicos e a variação nas necessidades formativas dos professores demandam uma abordagem personalizada e flexível. Desse modo, evidencia-se que programas de capacitação devem ser adaptativos e sensíveis às condições locais, proporcionando suporte contínuo e oportunidades de desenvolvimento profissional que se alinhem às demandas específicas de cada ambiente escolar.

Ressalta-se que a formação de professores para o uso efetivo das TICs é um processo complexo e dinâmico que requer uma abordagem diversificada, todavia, revela-se necessário um compromisso institucional com a criação de condições favoráveis para a integração das tecnologias e um esforço contínuo para superar os desafios associados, pois somente com uma preparação robusta e um suporte adequado será possível maximizar o potencial das TICs e, assim, promover uma educação mais inovadora e eficaz.

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