AVALIAÇÃO DE FORÇA MUSCULAR EM IDOSOS COM SARCOPENIA

ASSESSMENT OF MUSCLE STRENGTH IN ELDERLY PEOPLE WITH SARCOPENIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11252876


Janete Inácio Meireles Araújo1,
Natália Sabino Vieira1,
Orientadora: Drª Thaiana Bezerra Duarte2


RESUMO

Introdução: Os fisioterapeutas desempenham um papel fundamental no tratamento da sarcopenia. São especialistas na promoção da saúde e função muscular, tornando-os indispensáveis ​​na avaliação e tratamento da perda de massa e força muscular relacionado à idade. Objetivo: Revisar a literatura científica acerca da Avaliação de força muscular em idosos com sarcopenia. Materiais e método: Trata-se de uma pesquisa descritiva de cunho qualitativo por meio de artigos científicos indexados nas bases de dados Scielo, Lilacs, periódicos Capes e Pubmed, sobre a avaliação de força muscular em idosos com sarcopenia. Para a realização da busca utilizou-se os descritores contendo as palavras “Idoso”, “Envelhecimento”, “Fisioterapia”, e “Força muscular”, combinados com a palavra-chave “Sarcopenia”. Resultados: A pesquisa avaliou os 04 artigos relacionados que compuseram esta revisão e enfatizou a importância da combinação de métodos na avaliação da força muscular em idosos com sarcopenia. Conclusão: O fisioterapeuta assume um papel fundamental na promoção da saúde, na prevenção de doenças e na recuperação da função física. A avaliação de força muscular e a prescrição de exercícios não se resume a uma simples lista de atividades. Trata-se de um plano personalizado, elaborado com base em uma avaliação criteriosa do paciente com sarcopenia, considerando suas necessidades, objetivos e histórico de saúde.

Palavras-chave: “Sarcopenia”. “Envelhecimento”. “Fisioterapia”. “Idoso”. “Força muscular”.

ABSTRACT

Background: Physiotherapists play a key role in treating sarcopenia. They are experts in promoting muscle health and function, making them indispensable in the assessment and treatment of age-related loss of muscle mass and strength. Pourpose: Review the scientific literature on the assessment of muscle strength in elderly people with sarcopenia. Methods: This is descriptive qualitative research using scientific articles indexed in the Scielo, Lilacs, Capes and Pubmed databases, on the assessment of muscle strength in elderly people with sarcopenia. To carry out the search, we used the descriptors containing the words “Elderly”, “Aging”, “Physiotherapy”, and “Muscle strength”, combined with the keyword “Sarcopenia”. Results:  The research evaluated the 04 related articles that made up this review and emphasized the importance of combining methods in assessing muscle strength in elderly people with sarcopenia. Conclusion: The physiotherapist plays a fundamental role in promoting health, preventing diseases and recovering physical function. Assessing muscle strength and prescribing exercises is not limited to a simple list of activities. This is a personalized plan, created based on a careful assessment of the patient with sarcopenia, considering their needs, objectives and health history.

Keywords: “Sarcopenia”. “Aging”. “Physiotherapy”. “Elderly”. “Muscle strength”.

1 INTRODUÇÃO

A sarcopenia foi descrita pela primeira vez por Irwan Rosenberg em 1989 como perda de massa muscular relacionada à idade. À medida que o conhecimento evoluiu, o Grupo Europeu de Investigação sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas (então Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas – EWGSOP) em 2010 identificou esta condição como uma perda progressiva e global de massa muscular e, como resultado, foi definido como uma síndrome funcional (diminuição da força muscular ou desempenho), o que ocorre com o aumento da idade (Duarte; Amaral, 2020).  O Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas afirma que, com base nas evidências, a patogênese da sarcopenia envolve múltiplos mecanismos, incluindo alteração da síntese proteica, diminuição da função muscular, estresse oxidativo, inflamação, alterações hormonais, distúrbios metabólicos e nutricionais (Junior; França; Cruvinel, 2017).

A sarcopenia se manifesta de maneira generalizada, afetando todos os grupos musculares do corpo, comprometendo principalmente aqueles responsáveis pela estabilização, como o transverso do abdômen, multífidos, paravertebrais, e os membros inferiores: quadríceps, bíceps femoral e glúteos (Lustosa et al., 2018).

Neste estágio de envelhecimento, os idosos passam por várias alterações no corpo. Entre elas, uma das mais significativas é a perda de massa e força muscular, um fenômeno conhecido como sarcopenia. Essa perda pode ser considerável, chegando a até 40% em alguns casos (Rodrigues et al., 2018).

O envelhecimento é um processo no qual ocorrem alterações morfológicas e fisiológicas no organismo. Pensa-se que as primeiras alterações funcionais e/ou estruturais relacionadas com a idade surgem no final da segunda década de vida e são duradouras e em grande parte invisíveis até ao final da terceira década de vida. Esse processo resulta na diminuição do desempenho fisiológico e na redução da capacidade de resposta ao estresse ambiental, levando ao aumento da suscetibilidade a doenças (Leite et al., 2012).

Conforme Garcia et al., (2015), a força e a massa muscular estão interligadas. A perda de força pode preceder a diminuição da massa muscular, gerando um desequilíbrio motor e cognitivo. Essa fragilidade motora impacta o desempenho em diversas funções, levando a consequências como: incapacidade física; redução da qualidade de vida e aumento da mortalidade.

Contudo, a avaliação de força muscular em idosos com sarcopenia, mostra-se como ferramenta para promover um envelhecimento saudável. A prática de atividades físicas leva ao aumento de massa muscular que é fundamental para retardar a perda decorrente do próprio envelhecimento, promovendo menor impacto sobre a qualidade de vida (Rodrigues et al., 2018).

Diante desse cenário populacional em expansão, torna-se crucial destacar o impacto positivo que a avaliação de força muscular pode proporcionar para indivíduos que enfrentam a sarcopenia, uma vez que esse tipo de intervenção traz contribuições significativas para retardar e recuperar a massa corporal. Atualmente, os benefícios da avaliação de força muscular no combate à sarcopenia têm sido amplamente estudados, e já existem conclusões claras sobre como essa intervenção pode ajudar a retardar e mitigar o avanço da condição. Pessoas que se exercitam regularmente conseguem obter melhores resultados em termos de ganho de massa corporal e força em comparação com aquelas que não praticam atividade física alguma (Junior et al., 2017).

A realização de estudos sobre abordagens fisioterapêuticas adequadas para idosos sarcopênicos está se tornando cada vez mais relevante. Por meio desses estudos, será possível propor melhores estratégias de intervenção com o objetivo de reduzir a incapacidade e a dependência funcional dos idosos (Junior et al., 2017).

Dessa forma o objetivo desta revisão é evidenciar a contribuição da avaliação de força muscular em idosos com sarcopenia, na obtenção de um envelhecimento saudável.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Esse estudo é uma revisão de literatura com caráter exploratório. Seu objetivo foi analisar estudos que estabeleceram correlações entre a avaliação de força muscular para o fortalecimento muscular e o desempenho funcional de idosos, visando impactar positivamente sua qualidade de vida.

Assim, realizou-se uma busca por artigos científicos em português e inglês nas bases de dados Scielo, Lilacs, Periódicos Capes e Pubmed, que atendessem aos objetivos desta pesquisa e abordassem especificamente as correlações propostas. Foram utilizados os descritores “idoso”, “envelhecimento”, “fisioterapia”, “força muscular”, combinados com a palavra-chave “sarcopenia”.

A seleção do material foi realizada em três etapas. A primeira envolveu a busca de material em inglês e português, durante os meses de fevereiro e março de 2024. A segunda etapa consistiu na leitura dos títulos e resumos dos trabalhos, com o objetivo de obter maior familiaridade e compreensão, e excluindo aqueles que não estavam diretamente relacionados ao tema ou não eram relevantes. Já na terceira etapa foram selecionados e incluídos na pesquisa os estudos que abordavam dados sobre a avaliação de força muscular em idosos com sarcopenia.

Os critérios de inclusão foram os estudos de intervenção que tivessem aplicado alguma intervenção fisioterapêutica para avaliação da sarcopenia em idosos. Já os critérios de exclusão, foram estudos que não estavam disponíveis na integra, aqueles que estavam em outro idioma que não fosse português e inglês e estudos publicados anteriormente ao ano de 2011.

Os resultados desta revisão foram apresentados em forma de tabela.

3 RESULTADOS

Nas bases de dados, foram identificados 648 estudos. Desses, 289 eram duplicados. Foram analisados 359 títulos e resumos, dos quais 173 foram excluídos por tratarem de estudo de sarcopenia associado a outros fatores e revisão bibliográfica. Em seguida, 186 artigos foram lidos na íntegra, dos quais 49 foram excluídos por estarem em outro idioma, resultando na seleção de 4 artigos para esta revisão, conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma do estudo.

Fonte: Autores, 2024

As sínteses dos estudos incluídos nesta revisão encontram-se no quadro 1.

Quadro 1: Síntese dos estudos.

AUTOR/ANOTIPO DE ESTUDOOBJETIVOMETODOLOGIA
Pícoli et al., 2011Estudo de casoAvaliar a força muscular no processo de envelhecimento e identificar as variações entre os músculos do abdômen, membros superiores e inferiores.Participaram do estudo 48 indivíduos, que foram divididos em quatro grupos de acordo com a faixa etária.
Garcia et al., 2015Estudo transversalAnalisar a associação entre testes de capacidade funcional, desempenho dos músculos do joelho e comparação corporal de idosas com baixa densidade óssea.Participaram do estudo 48 idosos avaliando a capacidade funcional, desempenho muscular de joelho, massa magra e muscular. A maioria ativa ou moderadamente ativa, desempenho médio de 7,7 segundos no teste TUG e 11,21 segundos no teste TLS.
Sousa et al., 2022Estudo transversalIdentificar a prevalência e as características associadas á sarcopenia em pessoas idosas de Unidade de Atenção Primária à SaúdeParticiparam 384 idosos, para avaliação de sarcopenia, mediu-se: força muscular, desempenho físico. Classificaram-se idosos com: sarcopenia provável; sarcopenia e sarcopenia grave. Análise com teste de qui-quadrado e método de regressão logística multinominal.
Sampaio et al., 2023Estudo transversalAssociar os parâmetros clínicos de sarcopenia com o comprometimento cognitivo em pessoas idosas.Um estudo com 263 idosos investigou as associações entre variáveis sociodemográficas, sarcopenia e estado cognitivo. A sarcopenia foi avaliada por meio de parâmetros clínicos como força, massa muscular e desempenho físico. As associações foram analisadas utilizando regressões lineares, ajustadas para várias variáveis, incluindo idade, sexo, anos de estudo, estado nutricional e capacidade funcional.
Fonte: Autores, 2024.

Os resultados dos estudos destacam a importância da combinação de métodos, os profissionais de saúde podem avaliar de forma eficaz a força muscular em idosos e a capacidade funcional e identificar aqueles em risco de sarcopenia. Essa abordagem multifacetada, que inclui esfigmomanômetro, dinamômetro Jamar, dinamômetro Preston Pinch Gauge, medidas de força de preensão manual, testes Timed Up and Go, testes de levantamento de cadeira, circunferência da panturrilha, absorciometria por dupla emissão de raios-X, análise de impedância bioelétrica, velocidade de marcha e medições antropométricas, assegura uma avaliação abrangente. Essas técnicas não apenas permitem uma detecção precisa da sarcopenia, mas também possibilitam a elaboração de planos de intervenção personalizados.

Além disso, esses métodos facilitam o monitoramento contínuo da eficácia das intervenções, como programas de exercícios de resistência, suplementação nutricional e outras estratégias terapêuticas. Há um consenso entre os autores quanto à relevância dos estudos na identificação precoce e o tratamento adequado da sarcopenia podendo melhorar significativamente a qualidade de vida dos idosos, reduzindo o risco de quedas, fraturas e outras complicações decorrentes da perda de massa muscular.

4 DISCUSSÃO

O fisioterapeuta desempenha um papel central no manejo da sarcopenia em idosos, realizando uma avaliação abrangente da força muscular, capacidade funcional e equilíbrio dos idosos para identificar deficiências específicas e determinar o nível de sarcopenia.

O envelhecimento está associado a mudanças na composição corporal, incluindo perda de massa muscular, conhecida como sarcopenia. Neste estudo, Pícoli et al., (2011) enfatizaram a avaliação da força muscular ao longo do processo de envelhecimento e identificaram variações entre os músculos do abdômen e membros superiores e inferiores. Eles observaram um aumento gradual na força muscular dos membros inferiores e superiores com o avanço da idade de 11 a 26 anos, seguido por uma redução significativa em todos os grupos musculares avaliados em pessoas a partir dos 45 anos de idade. Esses resultados destacam que a diminuição da força muscular se torna aparente a partir da sexta década de vida e varia entre diferentes grupos musculares.

A avaliação da força muscular em idosos com sarcopenia pode ser vista como uma ferramenta crucial para a intervenção preventiva. Através dela, é possível controlar mecanismos fisiopatológicos como a própria sarcopenia e o declínio cognitivo associados a essa condição. No contexto da prática clínica, os dados deste estudo reforçam a importância do monitoramento regular da força muscular em indivíduos idosos. Essa medida preventiva pode contribuir para a redução de desfechos adversos (Sampaio et al., 2023).

Os efeitos positivos da avaliação da força muscular no combate à sarcopenia foram extensivamente pesquisados, e já se chegou a conclusões definidas sobre como essa abordagem pode retardar e reduzir os efeitos dessa condição. Indivíduos que se exercitam regularmente demonstram melhores ganhos de massa corporal e força em comparação com os sedentários (Junior et al., 2017). Engajar-se em atividades físicas resulta no aumento da massa muscular, o que é crucial para retardar a perda muscular associada ao envelhecimento (Rodrigues et al., 2018).

De acordo com Garcia et al. (2015), foi investigada a relação entre capacidade funcional, desempenho muscular do joelho e composição corporal em idosos com baixa densidade óssea. Foram encontradas correlações negativas moderadas e baixas entre capacidade funcional e desempenho muscular do joelho. A massa muscular apresentou uma correlação positiva baixa com a potência dos extensores de joelho, mas não se correlacionou com a capacidade funcional, que mostrou associação apenas com o desempenho muscular. Isso ressalta a limitação de usar a massa muscular como único indicador na detecção de sarcopenia.

Os resultados do estudo realizado por Souza et al., (2022) revelaram uma doença muscular que só foi identificada após três décadas, caracterizada pela redução da força e do volume muscular. Suas causas são multifatoriais e estão relacionadas a: envelhecimento, genética, alterações hormonais e nos tecidos musculares, degeneração neurológica e aumento de citocinas pró-inflamatórias. Além disso, se não for tratada, é uma condição com grande despesa pessoal, social e económica, pois provoca comprometimento funcional e prejuízo nas atividades de vida diária.

5 CONCLUSÃO

A perda de massa muscular se torna um grande obstáculo à medida que ocorre o envelhecimento, mas estratégias como a avaliação de força muscular e a prática regular de atividades físicas são formas de diminuir os efeitos negativos da sarcopenia, contribuindo para uma vida mais saudável e funcional na idade avançada.

A avaliação da força muscular em idosos permite a identificação precoce e os efeitos negativos, sendo uma forma de planejar e traçar metas para um tratamento eficaz e monitoramento contínuo da condição. Essa abordagem holística não apenas melhora a qualidade de vida dos pacientes, mas também contribui para a prevenção de complicações relacionadas à fraqueza e à perda de massa muscular, promovendo assim um envelhecimento ativo e com independência funcional.

Assim, conclui-se que a variedade de métodos de avaliação da força muscular em idosos com sarcopenia oferece uma abordagem abrangente e personalizada para compreender e tratar essa condição. Desde testes de resistência simples até tecnologias avançadas de mensuração, essas ferramentas proporcionam insights valiosos para desenvolver intervenções eficazes e adaptadas individualmente, visando melhorar a função muscular e a qualidade de vida nessa população vulnerável.

REFERÊNCIAS

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