REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7117212
Autoria de:
Hannah Karolina Souza de Carvalho1
Keila Dayane do Espírito Santo Pereira2
1Graduandas do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Fametro, Manaus, Amazonas, Brasil.
2Docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Fametro, Manaus, Amazonas, Brasil.
RESUMO
Na epilepsia canina as convulsões são manifestações clínicas de hiperatividade neuronal anormal no córtex cerebral, que se manifesta de forma diferente dependendo de sua localização e extensão no cérebro. Uma crise epiléptica típica é caracterizada por uma fase inicial, uma fase prodrômica, seguida por uma aura, uma fase ictal e, finalmente, uma fase pós-ictal. As convulsões podem ser generalizadas ou focais/parciais, sendo as convulsões focais generalizadas secundárias o tipo mais comum em cães. As convulsões são etiologicamente divididas em alterações intracranianas (idiopáticas; secundárias/sintomáticas; criptogênicas) e extracranianas. Após identificar a etiologia das convulsões e analisar rigorosamente a frequência, gravidade e preocupações do proprietário, deve-se decidir se deve iniciar a terapia anticonvulsivante farmacológica. Enquanto o ideal é eliminar totalmente as crises, o objetivo real é reduzir a frequência e a intensidade das crises sem comprometer a qualidade de vida do paciente e usar medicamentos com efeitos colaterais aceitáveis. Portanto, a biodisponibilidade do medicamento, contraindicações, toxicidade, interações medicamentosas, doses diárias, disponibilidade do proprietário e custos do tratamento devem ser considerados. As convulsões são controladas em cerca de 70% a 80% dos cães tratados apenas com fenobarbital; a adição de uma segunda droga (geralmente brometo de potássio) resulta em convulsões em 20% a 30% dos cães não controlados O número de convulsões foi reduzido em mais de 50% . No entanto, para cães que não respondem a esta terapia, é necessário considerar alternativas médicas como felbamato, gabapentina, levetiracetam, etc. Concluiu-se, portanto, que a terapia preferencial para convulsões em pequenos animais continua sendo o fenobarbital, com ou sem brometo de potássio. Os métodos utilizados para realizar esta pesquisa serão revisões bibliográficas por meio de artigos e publicações científicas, consulta de livros didáticos, bibliotecas virtuais.
Palavras chave: cães, convulsão, epilepsia, neurologia.
ABSTRACT
In canine epilepsy seizures are clinical manifestations of abnormal neuronal hyperactivity in the cerebral cortex, which manifests itself differently depending on its location and extent in the brain. A typical epileptic seizure is characterized by an initial phase, a prodromal phase, followed by an aura, an ictal phase, and finally a postictal phase. Seizures can be generalized or focal/partial, with secondary focal generalized seizures being the most common type in dogs. Seizures are etiologically divided into intracranial (idiopathic; secondary/symptomatic; cryptogenic) and extracranial changes. After identifying the etiology of seizures and rigorously analyzing the frequency, severity, and owner’s concerns, a decision must be made whether to initiate pharmacological anticonvulsant therapy. While the ideal is to eliminate seizures entirely, the real objective is to reduce the frequency and intensity of seizures without compromising the patient’s quality of life and to use medications with acceptable side effects. Therefore, drug bioavailability, contraindications, toxicity, drug interactions, daily doses, owner availability, and treatment costs must be considered. Seizures are controlled in about 70% to 80% of dogs treated with phenobarbital alone; addition of a second drug (usually potassium bromide) results in seizures in 20% to 30% of uncontrolled dogs The number of seizures was reduced by more than 50%. However, for dogs that do not respond to this therapy, it is necessary to consider medical alternatives such as felbamate, gabapentin, levetiracetam, etc. It was therefore concluded that the preferred therapy for seizures in small animals remains phenobarbital, with or without potassium bromide. The methods used to carry out this research will be bibliographic reviews through articles and scientific publications, consultation of textbooks, virtual libraries.
Keywords: dogs, seizure, epilepsy, neurology.
1.INTRODUÇÃO
As convulsões são manifestações clínicas de hiperatividade neuronal anormal no córtex cerebral, tálamo ou gânglios da base, cujas manifestações variam de acordo com sua localização e extensão no cérebro (NELSON & COUTO, 2005, CHRISMAN et al., 1985). Esses disparos neuronais excessivos que levam às crises podem ser isolados ou acompanhados de outras alterações, e o diagnóstico diferencial é classificado como intracraniano (idiopático; secundário; criptogênico) ou extracraniano (PODELL, 2004).
Uma crise epiléptica típica é dividida em quatro fases, uma fase inicial chamada de fase prodrômica, seguida por uma aura, crises (convulsões) e, finalmente, uma fase pós-ictal. Essas crises podem ser generalizadas, focais ou focais secundárias a crises generalizadas, sendo esta última a apresentação mais comum em pequenos animais (CHRISMAN et al, 1985).
Com um bom exame clínico e exames complementares corretos, a etiologia da crise pode ser identificada e possíveis diagnósticos diferenciais eliminados. Por meio de diagnóstico preciso e análise rigorosa da frequência, gravidade e preocupações dos proprietários dessas crises, deve-se tomar a decisão de iniciar a terapia anticonvulsivante farmacológica. Existem diversos anticonvulsivantes no mercado, com diferentes mecanismos de ação e diferentes esquemas, por isso é importante estudar cada caso para estabelecer um tratamento (PODELL, 2004).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Conceito de convulsão
Convulsões são períodos clínicos de comportamento anormal causados por descargas transitórias paroxísticas e descontroladas em neurônios cerebrais. As convulsões podem ser iniciadas por quatro mecanismos diferentes:
a) alterações nas membranas neuronais, que podem levar à despolarização excessiva;
b) diminuição dos neurotransmissores inibitórios, como o ácido gama-aminobutírico (GABA), o neurotransmissor inibitório mais potente do SNC;
c) aumento de neurotransmissores excitatórios, como glutamato e,
d) Alterações nas concentrações extracelulares de potássio e cálcio.
Durante as convulsões, o potássio extracelular aumenta e o cálcio diminui; isso aumenta a excitabilidade neuronal e promove o início e a propagação das convulsões.
Uma vez iniciado, o disparo da contração pode sincronizar com outros neurônios e se espalhar para as regiões cerebrais circundantes. Certas áreas do cérebro, particularmente o retículo, o sistema límbico e o córtex motor, são conhecidas por terem limiares mais baixos para disparos paroxísticos e, portanto, tendem a responder a deficiências de natureza física ou metabólica produzindo convulsões. Como resultado, as convulsões geralmente ocorrem devido ao desequilíbrio metabólico, envenenamento ou devido a cicatrizes pós-traumáticas, que são lesões que produzem descargas elétricas anormais que se espalham para o cérebro.
A epilepsia é um distúrbio caracterizado por crises recorrentes sem quaisquer alterações estruturais no cérebro (verdadeiras ou idiopáticas ou funcionais ou idiopáticas). Quando o dano cerebral faz com que os neurônios se concentrem com limiares alterados, é chamado de epilepsia sintomática (ou adquirida ou secundária). No entanto, na prática clínica, o tratamento da E. coli verdadeira e da E. coli sintomática pode ser o mesmo.
Em um estudo retrospectivo de 1991 a 2001 no Departamento de Neurologia do Hospital Veterinário da UFRRJ, 23,6% dos casos tratados foram considerados portadores de Escherichia coli idiopática.
2.2. Classificação etiológica das convulsões
As causas das convulsões podem ser divididas em três categorias: extracranianas, intracranianas e idiopáticas.
2.2.1. Convulsões extracranianas
Nas crises de origem extracraniana, o exame neurológico entre as crises geralmente é normal, exceto por possível coma, mas outras alterações clínicas geralmente estão presentes. Nos distúrbios convulsivos de etiologia extracerebral, as convulsões podem variar amplamente: ao contrário das convulsões, não há estado de epilepsia e poucas alterações vegetativas (micção ou defecação). Os motivos mais comuns são:
a) Metabólico: hipoglicemia, hipocalcemia, hipóxia, encefalopatia hepática e urêmica. A encefalopatia hepática pode estar associada a shunts portossistêmicos congênitos ou adquiridos e doença hepática grave. A capacidade de desintoxicação e síntese do fígado é reduzida. A amônia e outros metabólitos de proteínas intestinais entram diretamente na circulação sistêmica e cerebral, onde alteram o metabolismo cerebral, produzindo pseudoneurotransmissores e possíveis danos neurológicos. A hipocalcemia pode produzir alterações excitatórias no SNC e SNP, levando a tetania ou crises tônico-clônicas. As causas mais comuns de hipocalcemia são: tetania pós-parto (eclâmpsia), hipoparatireoidismo e insuficiência renal.
b) Tóxico: Intoxicação por chumbo, organofosforado, carbamato, cloreto, vitamina D e fluoroacetato de sódio (1080).
c) Nutrição: Deficiência de tiamina. Convulsões antes e após as refeições podem ser sinais de distúrbios metabólicos, especialmente hipoglicemia causada por insulinomas. Convulsões durante o exercício ou esforço físico também podem ser hipoglicemia, mas geralmente estão associadas a causas cardíacas. Considerando que a glicose é o principal substrato energético do cérebro, o baixo nível de açúcar no sangue pode causar diversos sintomas. As manifestações clínicas variam de fraqueza muscular a convulsões.
2.2.2. Convulsões intracranianas
Nas crises de origem intracraniana, outros déficits neurológicos (alterações nos nervos cranianos, visão, equilíbrio, coordenação, etc.) estão frequentemente presentes entre as crises. O principal motivo é:
a) Traumatismos crânio-encefálicos (TCE)
b) Neoplasias
c) Encefalites
d) Hidrocefalia
2.2.3. Epilepsia Idiopática
Na epilepsia idiopática, nenhuma alteração patológica pode justificar esse processo. Os exames clínico e neurológico entre as crises foram normais (excluindo o diagnóstico). Nesse tipo de epilepsia, os animais costumam ter convulsões durante o sono ou repouso. A epilepsia verdadeira ou hereditária foi observada nas seguintes raças de cães: Pastor Alemão, São Bernardo, Beagle, Setter, Poodle Toy, Fox Terrier, Cocker Spaniel e Husky Siberiano. Também a encontramos com alta frequência em cães Dashund.
2.3. Quadros clínicos de convulsões
Se o disparo do córtex cerebral é difuso e afeta simetricamente todo o cérebro, a convulsão é chamada de convulsão generalizada. Frequentemente está associada a intoxicações, distúrbios metabólicos, deficiências nutricionais e epilepsia verdadeira.
As convulsões generalizadas podem ou não ser acompanhadas de perda de consciência; graves ou leves, respectivamente. A primeira corresponde ao “grande mal” da humanidade.
2.3.1. Generalizada leve
Além de distúrbios metabólicos e tóxicos, convulsões generalizadas leves são vistas na epilepsia hereditária do poodle: o animal pode ter aura, a sensação de que uma convulsão é iminente, e muitas vezes tentará esconder ou procurar seu dono. Logo, ocorrem contrações clônicas involuntárias dos membros, pescoço e cabeça; o animal tenta manter o esterno em decúbito; pode ocorrer hipersalivação e, às vezes, vômitos. Os animais estão confusos, mas conscientes.
As convulsões geralmente duram de 1 a 10 minutos, mas podem durar mais de uma hora. Após o desafio, os animais mostraram sinais óbvios de cansaço (pós-início).
Nos homens, há uma convulsão generalizada leve chamada “Pequeno Mal” ou “ausência” caracterizada por perda de consciência por 1 ou 2 segundos e sem sinais de movimento. Além de ser facilmente ignorado pelos proprietários, esse tipo não foi documentado em animais.
2.3.2. Generalizada grave
Pode ou não ter tido uma aura antes dele. À medida que a laringe se estreita, os olhos se alargam, as pupilas se dilatam e os músculos dos membros, pescoço, face e mandíbula ficam rígidos, seguidos por contrações clônicas, o animal pode entrar subitamente em coma com gritos epilépticos. Há cianose e salivação. Quando o animal está relaxado, pode urinar e defecar involuntariamente. As convulsões duram cerca de 30 a 90 segundos, mas em distúrbios tóxicos e metabólicos, as convulsões geralmente são mais longas. Em seguida, vem a fase de recuperação (voz) de exaustão e/ou desorientação (caminhada forçada).
A recuperação pode levar de alguns minutos a uma hora, às vezes um dia inteiro. Se a causa das convulsões for encefalite, envenenamento, deficiências nutricionais, distúrbios metabólicos ou tumores, ou seja, se as convulsões forem secundárias, o animal pode não voltar ao normal entre as convulsões.
2.3.3. Parcial
As convulsões parciais ocorrem quando as convulsões ocorrem como descargas focais envolvendo apenas uma área do cérebro. Geralmente está associada a lesão cerebral focal: infecção, trauma ou tumor. Pode ou não ter tido uma aura antes. A imagem de espasmos dependerá da localização da descarga:
a) Lobo frontal no córtex cerebral ◊ Contrações musculares unilaterais e contralaterais
b) No sistema límbico ◊ Desorientação, confusão, corrida histérica, movimentos de mastigação e deglutição (E. Psicomotor)
c) Lobo occipital ◊ Alucinações (“Perseguindo moscas”, “Olhando estrelas”)
d) lobo parietal ◊ episódios de retaguarda e automutilação
e) Lobo Uncinado ◊ Mascar chiclete e babar.
2.3.4. Parcial seguida de generalização
Ocorre quando uma crise parcial é secundária a uma crise generalizada, envolvendo outras regiões do cérebro. Alguns estágios podem ser tão rápidos que passam despercebidos. Se o foco estiver nas áreas motoras do córtex cerebral (lobo frontal), os animais podem desenvolver sinais motores contralaterais, como mioclonia, seguidos de convulsões generalizadas graves. Este sinal de motor curto de início parcial é chamado de sinal de localização. A parte generalizada da convulsão geralmente dura de 30 a 90 segundos.
Durante a fase de recuperação, os animais devem ser observados quanto a sinais de localização.
2.4. Diagnóstico
Os seguintes fatores devem ser considerados:
– Se houver outras alterações clínicas, além das convulsões, deve-se investigar a possibilidade de causas metabólicas, tóxicas e nutricionais (extracranianas).
– Se houver alterações neurológicas entre as crises (ataxia, paralisia, alterações de nervos cranianos, alterações comportamentais, visuais, etc.), procure a causa da patologia intracraniana (TCE, tumor, infecção, etc.).
– Se os exames clínico e neurológico forem normais, considerar a possibilidade de epilepsia verdadeira (envolvendo etnia). Os exames clínicos após uma convulsão devem ser repetidos porque, dependendo de sua gravidade, a própria convulsão pode afetar os resultados do exame horas ou mesmo dias depois. Sedativos e anticonvulsivantes também podem produzir resultados falso-positivos no início do tratamento. Quando os resultados do exame neurológico são negativos, o exame deve ser repetido periodicamente. Os tumores do córtex cerebral cefálico podem apresentar-se com convulsões como único sintoma clínico por muito tempo.
Em uma lesão cerebral em cura (encefalite, traumatismo craniano, etc.), o déficit neurológico desaparece gradualmente, mas as convulsões podem persistir ou mesmo aparecer pela primeira vez após o desaparecimento de outras alterações neurológicas. Deve-se buscar auxílio diagnóstico: hemogramas, perfis bioquímicos (glicose, cálcio, uréia, creatinina e enzimas hepáticas), exame de líquido cefalorraquidiano, EEG, radiografias e tomografias para identificar convulsões dentro da probabilidade da causa de cada caso.
A presença de anticorpos na ECL é diagnóstica comparada à presença de anticorpos no soro, pois os anticorpos estão presentes apenas na infecção viral do SNC (eles não aparecem na ECM após a vacinação). Alterações nos parâmetros normais do ECL sugerem lesões morfológicas no cérebro, embora a ausência dessas mesmas alterações não seja suficiente para descartar lesões do SNC.
Se houver suspeita de aumento da pressão do ECL, a punção não deve ser realizada devido ao risco de protrusão da cauda com consequências fatais.
O recall é necessário porque é o aspecto mais importante da avaliação, pois geralmente apenas o proprietário observa o evento convulsivo e o exame neurológico do animal costuma ser normal.
Os médicos precisam confiar na descrição do proprietário para distinguir convulsões de outras síndromes de narcolepsia, como síncope, narcolepsia, vestibulopatia aguda, etc. Uma vez determinada a ocorrência real das crises, será dada atenção aos elementos do histórico médico que possam contribuir para o diagnóstico e planejamento do tratamento adequados (CHRISMAN et al, 2003).
A idade do paciente é um aspecto valioso, pois as crises hereditárias ou congênitas geralmente começam antes dos três anos de idade. Pacientes mais velhos com epilepsia de início tardio são mais propensos a desenvolver danos no sistema nervoso central. A raça também é uma informação útil devido à predisposição racial de certos distúrbios neurológicos. O histórico médico geral deve ser complementado por vacinas, histórico médico, trauma, evidência de doenças infecciosas, informações relacionadas ao estado de saúde e condições ambientais dos contatos (suspeita de intoxicação) (PODELL, 2004).
Um exame físico cuidadoso pode revelar infecções sistêmicas, anormalidades cardíacas/respiratórias, trauma, doença renal/hepática e até tumores.
O exame oftalmológico também é importante porque as alterações oculares podem estar associadas a uma variedade de doenças sistêmicas e intracranianas, como o teste de Schirmer utilizado para avaliar a ceratoconjuntivite seca em animais positivos para cinomose (PODELL, 2004).
Um exame neurológico completo deve ser realizado entre os episódios, observando o estado mental, as respostas posturais e de ameaça e as lesões assimétricas, pois podem indicar doença ativa nas regiões talamocorticais (PODELL, 2004).
Também é importante categorizar o tipo de crise convulsiva, incluindo generalizada ou localizada, duração da crise, frequência de apresentação e comportamento interictal, o que é de extrema importância para o imageamento desses eventos (PELEGRINO, 2003).
Segundo NELSON & COUTO (2005), quando estão envolvidas alterações intracranianas, devem-se ter em mente os seguintes exames complementares: análise do LCR (tumores, meningoencefalites, doenças inflamatórias); radiografias (traumatismo cranioencefálico, tumores primários/metastáticos); tomografia e ressonância magnética (tumores, infartos, edema, hidrocefalia, alterações estruturais). Quando as alterações ocorrem extracranianamente, devem ser considerados os seguintes exames: exames de sangue (glicemia, sais biliares, colesterol, uréia, etc.), exames toxicológicos, etc. Após identificar a etiologia das convulsões e analisar rigorosamente a frequência, gravidade e preocupações do proprietário, deve-se decidir se deve iniciar a terapia anticonvulsivante farmacológica.
3. PROGNÓSTICO
Apesar do tratamento da Epilepsia servir para controlar e não para curar as convulsões, o prognóstico é variável. A Epilepsia Verdadeira do Pastor Alemão, São Bernardo e Setter Irlandês tem prognóstico desfavorável: as convulsões são múltiplas e aumentam em freqüência, a despeito da terapia anticonvulsivante. O animal acaba morrendo 1 a 3 anos após o início das convulsões ou é sacrificado.
Quando os anticonvulsivantes falharem nestas raças, deve-se considerar a possibilidade de Epilepsia Verdadeira.
4. TRATAMENTO
Para epilepsia sintomática, estado de mal epiléptico, duas ou mais crises isoladas em 6 meses, duas ou mais crises em 12 meses 1 semana após trauma externo), devem ser tratadas com anticonvulsivantes ou se os efeitos pós-ictais forem graves, como de longa duração cegueira ou agressão (PODELL, 2004).
Convulsões causadas por doença cerebral estrutural requerem tratamento adicional, dependendo da causa da doença. (Nielsen e Cotto, 2005).
Nas crises de origem extracraniana, anticonvulsivantes devem ser evitados e o tratamento direcionado para a causa primária (PODELL, 1998). Embora o ideal seja eliminar completamente as crises, o real objetivo deve ser reduzir a frequência e a intensidade das crises sem comprometer a qualidade de vida do paciente e com efeitos colaterais aceitáveis dos medicamentos utilizados (THOMAS, 2000).
Sempre que possível, a monoterapia deve ser implementada para reduzir a incidência de efeitos adversos, otimizar o comprometimento do proprietário e reduzir os custos dos medicamentos e o monitoramento do paciente. Uma das vantagens da monoterapia é que não há interações medicamentosas, as propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas do medicamento são mais previsíveis, os efeitos colaterais são reduzidos e é significativamente menos dispendioso (PODELL, 2004).
A resposta à terapia e as concentrações terapêuticas da droga devem ser monitoradas para determinar a dose ideal para cada indivíduo. Se o medicamento inicial se mostrar ineficaz, mesmo que os níveis séricos sejam considerados ótimos, outro medicamento deve ser adicionado ou substituído, ou a falta de compromisso do proprietário ou interações medicamentosas que estão alterando a biodisponibilidade do medicamento em questão devem ser consideradas. Couto, 2005).
Os fatores que influenciam a escolha do medicamento incluem a condição geral do paciente, custo, estilo de vida e disponibilidade do proprietário, frequência de dosagem, toxicidade e o tipo e padrão de convulsão exibido pelo paciente.
Embora a monoterapia seja preferível, aproximadamente 20-50% dos pacientes necessitam de múltiplos anticonvulsivantes (COCHRANE, 2007).
Se a epilepsia for secundária, ou seja, sintomática, a causa subjacente deve ser abordada. Se isso não for possível, considere a terapia anticonvulsivante.
O objetivo do tratamento da epilepsia verdadeira é reduzir a frequência e a gravidade das convulsões. Isso deve ser alcançado usando a menor quantidade de medicação e com o menor número de efeitos colaterais possível. Apenas animais com mais de 1 convulsão por mês ou com convulsões graves e prolongadas devem ser tratados. Escolha um medicamento anticonvulsivante que deve funcionar (30 dias) para reduzir a frequência e a gravidade das convulsões na dose mais baixa possível. Se isso falhar, aumente a dose. Se não houver resultados ou o animal apresentar sinais de toxicidade, deve-se tentar um novo medicamento, diminuindo gradualmente o primeiro medicamento (não interrompa repentinamente) até a eliminação completa. Quando um único medicamento falha, combinações de medicamentos podem ser usadas.
5. ANTI-CONVULSIVOS
– Fenobarbital:
É um anticonvulsivante de alta potência, bem tolerado em cães e gatos, eficaz isoladamente ou em combinação com outros anticonvulsivantes, possui meia-vida longa (48 a 72 horas), podendo controlar BID ou TID (BERENDT, 2004).
Outra vantagem do uso do fenobarbital é seu preço relativamente baixo (PODELL, 2004).
O fenobarbital tem alta biodisponibilidade, absorção rápida (2 horas após administração oral) e picos de concentração plasmática 4 a 8 horas após a administração. É quase 50% ligado às proteínas plasmáticas, metabolizado principalmente no fígado, e aproximadamente um terço é excretado inalterado na urina (PODELL, 2004).
Os efeitos colaterais do tratamento incluem poliúria/polidipsia, polifagia e incontinência (BERENDT, 2004); depressão, sedação e/ou ataxia ocorrem nos primeiros 7 a 10 dias de tratamento, mas desaparecem em 10 a 21 dias (Nelson & Couto , 2005); hepatotoxicidade, pancreatite e rara mielossupressão grave. Portanto, hemogramas de controle devem ser realizados no primeiro e terceiro meses após o início da terapia para avaliar possíveis alterações que geralmente são reversíveis (COCHRANE, 2007).
– Brometo de Potássio:
O brometo de potássio substituiu o fenobarbital como anticonvulsivante de escolha em cães (QUESNEL, 2005), pois não causa hepatotoxicidade e seus efeitos colaterais são totalmente reversíveis com a interrupção da dosagem (PLATT, 2005). 2005).
Efeito anticonvulsivante em convulsões generalizadas tão eficaz quanto o fenobarbital. No entanto, o brometo de potássio tem sido associado ao fenobarbital desde o início, e pode ser a combinação dessas duas drogas que o torna tão eficaz (PARENT, 2004).
O brometo de potássio controla aproximadamente 80% dos cães com epilepsia e é geralmente eficaz em cães que não respondem à terapia com fenobarbital. Quando altas doses de brometo de potássio são combinadas com baixas doses de fenobarbital, aproximadamente 95% dos cães com convulsões podem ser controlados (PLATT, 2005).
O mecanismo de ação é desconhecido, mas quando administrado por via oral é rapidamente absorvido, não se liga às proteínas plasmáticas e, portanto, difunde-se livremente pelas membranas (BERENDT, 2004).
A meia-vida é prolongada, aproximadamente 25 dias em cães e 11 dias em gatos (Nelson & COUTO, 2005). Portanto, são necessários aproximadamente quatro meses após o início do tratamento para atingir níveis séricos constantes. O brometo de potássio é excretado pelos rins e depende da ingestão de cloreto na dieta, pois compete com a excreção do brometo (BERENDT, 2004).
À medida que o teor de cloro da dieta aumenta, a absorção de brometo diminui e sua excreção renal aumenta, resultando em níveis séricos mais baixos de brometo de potássio (CHANDLER, 2006).
Portanto, a meia-vida do brometo de potássio é variável, pois depende do teor de sal da dieta e da função renal do paciente, devendo, portanto, ser ingerido regularmente na dieta desse paciente (OLBY, 2005). Pode ser administrado em dose única diária e seu tratamento não é caro para o proprietário (QUESNEL, 2005).
– Benzodiazepínicos:
Os benzodiazepínicos não são amplamente utilizados como anticonvulsivantes de manutenção em cães. Apesar de suas excelentes propriedades anticonvulsivantes, seu uso a longo prazo não é eficaz devido à sua meia-vida curta e rápido desenvolvimento de tolerância (5-7 dias). Este grupo de medicamentos é indicado para o tratamento de crises agudas e estado de mal epiléptico (BERENDT, 2004).
O diazepam é o benzodiazepínico mais utilizado na medicina veterinária e é bem indicado para o tratamento emergencial de convulsões quando administrado por via intravenosa ou retal (PODELL, 2004).
A interrupção repentina do diazepam após tratamento prolongado tem sido associada a convulsões e sintomas de abstinência, como tremores, anorexia e perda de peso (CHRISMAN et al, 2003).
– Gabapentina:
A gabapentina é um fármaco anti-convulsivo utilizado primariamente como adjuvante na terapia de convulsões parciais com ou sem generalização secundária em pacientes humanos (THOMAS, 2000).
Em cães com epilepsia idiopática refratária tem se mostrado eficiente como adjuvante na terapia com fenobarbital e/ou brometo de potássio, diminuindo a freqüência das convulsões em aproximadamente 50% dos casos (PODELL, 2004).
Trata-se também de um fármaco alternativo para pacientes sensíveis aos efeitos do fenobarbital e/ou do brometo de potássio, e pode ter benefícios adicionais devidos a sua curta meia- vida (3-4 horas), como possuir uma rápida ação terapêutica e prevenir possíveis ataques em salva/grupo (GOVENDIR et al., 2005).
No cão é bem absorvida oralmente, atingindo os valores séricos máximos 2 horas após a administração oral (GOVENDIR et al., 2005), possui uma biodisponilidade de aproximadamente 80%, com excreção exclusiva por via renal (CHANDLER, 2006), não induzindo interações farmacológicas com drogas de metabolismo hepático, o que se torna vantajoso em cães com doença hepática subjacente (PODELL, 1998).
A meia-vida curta torna difícil a manutenção da concentração sérica sem que haja administração freqüente (GOVENDIR et al., 2005).
– Primidona:
A primidona é um anticonvulsivante que é metabolizado no fígado em ácido fenetilmalônico e fenobarbital.
A razão de conversão de primidona para fenobarbital é de 4 para 1 e mais de 85% do efeito anticonvulsivante é atribuído ao fenobarbital (BERENDT, 2004). Em cães, a primidona é administrada oralmente a 15-22 mg/kg. A lesão hepática progressiva é mais comum com o uso de primidona em cães do que foi descrito com o fenobarbital (PLATT, 2005), e o fato de este fármaco ser mais caro que o fenobarbital torna o fenobarbital superior às cetonas primitivas (BERENDT, 2004).
– Fenitoína:
A fenitoína ou a difenilhidantoína são anticonvulsivantes potentes e não causam sedação. No entanto, devido às suas propriedades farmacocinéticas, como meia-vida curta e baixa absorção gastrointestinal em cães, não é um anticonvulsivante eficaz, pois é difícil manter as concentrações terapêuticas nesta espécie. Pode ser utilizado no tratamento do estado de mal epiléptico em doses de 2 a 5 mg/kg administradas lentamente por via intravenosa (BERENDT, 2004).
– Levetiracetam:
Levetiracetam é o anticonvulsivante mais bem tolerado em humanos em estudos clínicos. É classificado como muito eficaz como fármaco adjuvante no tratamento de pacientes humanos com epilepsia parcial refratária (PODELL, 2004).
Em cães, tem se mostrado eficaz como coadjuvante no controle de crises generalizadas (PODELL, 2004). Pode ser usado com fenobarbital e/ou brometo de potássio ou como único anticonvulsivante (RUSBRIDGE, 2005).
– Zonisamida:
É uma droga eficaz e bem tolerada em cães com crises generalizadas recorrentes refratárias tratadas com fenobarbital ou brometo de potássio (PODELL, 2004). Possui farmacocinética favorável, pois é rápida e completamente absorvida após administração oral (KORTZ, 2005). Sua meia-vida em cães é de aproximadamente 15 horas, permitindo a administração oral a cada 12 horas (VON KLOPMAN et al, 2007). Aproximadamente 80% da droga é excretada na urina com metabolismo hepático mínimo, reduzindo o potencial de interações medicamentosas (COCHRANE, 2007).
-Topiramato:
Drogas eficazes contra convulsões parciais e generalizadas em estudos em humanos e animais. O topiramato é bem absorvido após administração oral (PODELL, 2004), com meia-vida de 2 a 4 horas após doses múltiplas, e sua farmacocinética mostra que mais de 90% dele é excretado inalterado pelos rins.
– Felbamato:
Tem sido usado com sucesso no tratamento de convulsões parciais em cães (OLBY, 2005). É comumente usado com fenobarbital e/ou brometo de potássio, e em casos documentados tem sido usado como monoterapia em cães com epilepsia parcial (KORTZ, 2005). Em cães, é excretada renalmente, metabolizada em certa medida pelo fígado (COCHRANE, 2007; PODELL, 1998), e tem meia-vida de aproximadamente 6 horas (PODELL, 1998).
6. CONCLUSÃO
Este estudo foi desenhado para avaliar convulsões em caninos. Concluiu-se que um exame neurológico por um neurologista veterinário determinará se o animal apresenta outros sintomas neurológicos e, em muitos casos, exigirá uma ressonância magnética do cérebro para descartar causas estruturais cerebrais (tumor, acidente vascular cerebral, etc.). Com esses exames, ele conseguiu apontar melhor os tratamentos adequados para controlar as convulsões em cães. Na verdade, é normal se preocupar que as convulsões de um cão sejam fatais, mas se um animal for devidamente diagnosticado e tratado, dependendo da causa, ele pode viver uma vida normal.
Por exemplo, a epilepsia em cães é aquela que requer apenas cuidados especiais na vida diária do animal após a primeira convulsão. Independente da causa, o acompanhamento veterinário é essencial.
A terapia de escolha para pequenos animais continua sendo o fenobarbital. Se as convulsões não forem bem controladas, ou se os animais começarem a apresentar efeitos colaterais com essa droga, deve-se usar brometo de potássio, reduzindo assim a dose de fenobarbital, e essa associação é muito potente. Se as convulsões ainda não estiverem satisfatoriamente controladas, terapias alternativas como gabapentina, felbamato, levetiracetam ou zonisamida devem ser tentadas em combinação com outros medicamentos.
O diazepam é um anticonvulsivante extremamente eficaz no tratamento de emergência para ictal ou estado de mal epiléptico. Portanto, será interessante determinar a eficácia, efeitos colaterais e vantagens de novos medicamentos quando usados em monoterapia ou em combinação com outros anticonvulsivantes.
7. REFERENCIAS
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