FUNCTIONAL AND AESTHETIC ASPECTS OF PHYSICAL SPACES: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202412241615
Márcia Machado França1
Resumo
O ambiente físico desempenha um papel relevante na percepção humana, influenciando diretamente a interação dos indivíduos e seu bem-estar. Este estudo tem como objetivo investigar a influência dos elementos funcionais presentes nos espaços físicos, considerando seus aspectos estéticos e funcionais. Para isso, no âmbito metodológico, foram realizadas pesquisas bibliográficas específicas sobre o tema, utilizando bases de dados científicas. Esse levantamento permitiu a identificação e seleção de artigos relevantes para análise. A análise dos resultados evidenciou que o ambiente físico proporciona benefícios associados aos aspectos naturais da percepção humana. Dessa forma, os estudos analisados possibilitaram uma compreensão aprofundada do tema, destacando especificidades e identificando potenciais caminhos para intervenções futuras no campo do design.
Palavras-chave: ambientes físicos. design. percepção visual.
Abstract
The physical environment plays a relevant role in human perception, directly influencing the interaction of individuals and their well-being. This study investigates the influence of functional elements present in physical spaces, considering their aesthetic and functional aspects. To this end, within the methodological scope, specific bibliographical research on the topic was carried out, using scientific databases. This survey allowed the identification and selection of relevant articles for analysis. The analysis of the results showed that the physical environment provides benefits associated with the natural aspects of human perception. Thus, the studies analyzed allowed an in-depth understanding of the topic, highlighting specificities and identifying potential paths for future interventions in the field of design.
Keywords: physical environments. design. visual perception.
1 INTRODUÇÃO
Segundo Ferrara (2002) o termo ‘espaço’ é definido de diferentes formas nas diversas áreas do conhecimento. Na arquitetura, o espaço é entendido como ambientes físicos e funcionais, enquanto em outros campos, como a sociologia, é analisado sob perspectivas territoriais e sociais. Para a Associação Brasileira de Normas Técnicas² (ABNT, 2016), o design de interiores é conceituado como “área do design relacionada ao planejamento, projeto e desenvolvimento aplicados aos ambientes internos existentes ou pré-configurados, envolvendo soluções estéticas, técnicas e funcionais voltadas à experiência do usuário.”
De acordo com Guimarães (2000), a percepção das cores é resultante de um estímulo físico, captado pelos olhos e decodificada pelo cérebro. Este mesmo autor destaca que o cérebro decodifica o estímulo físico, transformando a informação da causa em sensação e, consequentemente, no efeito provocado pela cor. A escolha deste tema está fundamentada nos aspectos funcionais e estéticos, que representam o foco principal da análise. Este estudo tem como objetivo investigar a influência dos elementos funcionais presentes nos espaços físicos, considerando seus aspectos estéticos e funcionais.
2 DESENVOLVIMENTO
Os critérios de inclusão definidos para a revisão sistemática da literatura abrangeram artigos revisados por pares que atenderam aos descritores previamente definidos e utilizados na pesquisa. Por outro lado, os critérios de exclusão incluíram artigos que não disponibilizavam acesso ao texto completo, bem como livros e capítulo de livros, priorizando, assim, fontes acadêmicas. Com base nesses critérios, a análise inicial resultou na seleção de artigos que atenderam aos descritores colors, design, perception e visual. Durante a busca, foi observado um aumento nas publicações relacionadas a essas temáticas a partir de 1996, evidenciando a importância de tópicos como a relação entre design e percepção visual, além do uso das cores em espaços funcionais.
Esses temas, organizados tabela 1 demonstram a amplitude e a profundidade das contribuições dos estudos selecionados, oferecendo bases teóricas para a compreensão da interação entre cor, percepção, visual e design. A tabela 1, a seguir, reúne as informações dos artigos considerados relevantes nesta pesquisa.
Tabela 1: parâmetros e artigos selecionados
A busca utilizando os descritores principais colors, design, perception e visual (parâmetro 1) destacou três artigos mais significativos, os quais abordam a teoria das cores, o contraste e os princípios da Gestalt. Estas pesquisas apresentam a importância no contexto do design de comunicação visual, oferecendo bases teóricas para a compreensão da interação entre percepção, visual e design. Wegman e Said (2011) exploram de forma abrangente os fundamentos teóricos das cores, estabelecendo a relação entre o sistema visual humano e a percepção de cores, vinculada aos comprimentos de onda do espectro visível. Além disso, enfatizam a importância do contraste entre os estímulos luminosos, fator essencial para a distinção e a interpretação de cores.
Zena O’Connor (2015) aborda a importância da teoria do contraste e dos princípios da Gestalt para a percepção visual, com aplicações no design contemporâneo. Enfatiza que o uso estratégico de cor e contraste é essencial para criar design que sejam esteticamente apropriados e visivelmente envolventes, além de legíveis e funcionalmente eficazes na transmissão de mensagens. Seckler et al. (2015) destacam a necessidade de combinações mais sistemáticas entre fatores objetivos de design e a percepção estética subjetiva, uma relação que, até então, havia sido pouco explorada por meio de estudos experimentais. Os autores ressaltam a influência de elementos visuais, como estrutura e cor, na percepção estética, bem como na interação do usuário em contextos visuais.
Por outro lado, a busca utilizando os descritores principais colors, perception e visual (parâmetro 2), foram selecionados os três artigos mais relevantes, que abordam os seguintes temas principais: (1) interação de movimento e cor nas vias visuais, (2) a influência da cor, forma e luminância na captura da atenção durante a busca visual, e (3) as unidades de armazenamento na memória de trabalho visual. Esses temas destacam a importância desses estudos para a compreensão da interação entre estímulos visuais e percepção humana.
Gegenfurtner e Hawken (1996) observa que a separação das vias de processamento da cor e movimento não são totais. Embora o movimento esteja mais associado à via magnocelular (sensível a luminância), existem evidências que mostram que estímulos cromáticos isoluminantes também podem influenciar a percepção de movimento. Turatto e Galfano (2000), por sua vez, afirma que a cor pode atuar como um estímulo saliente, levando a um deslocamento involuntário, mesmo quando não é relevante para a tarefa e que características físicas, como cor, forma e luminância, são capazes de capturar a atenção automaticamente. Neste mesmo sentido, Fougnie et al. (2010) argumentam que múltiplos atributos visuais, como cor e orientação, afetam a precisão das representações visuais na memória.
Além disso, a busca utilizando os descritores principais design, perception e visual (parâmetro 3) destacou três artigos mais relevantes. Os estudos abordaram os seguintes temas: (1) design emocional, com ênfase em uma avaliação multissensorial das percepções visuais e olfativas dos consumidores; (2) o projeto de adaptabilidade da arquitetura, baseado na percepção visual; e (3) percepção, significado e design com uma exploração interdisciplinar da teoria do design de comunicação visual. Lin et al. (2018) demonstram como os estímulos multissensoriais influenciam a experiência emocional, ressaltando a importância da interação entre os sentidos no processo de design. Os autores destacam que esses estímulos são um aspecto importante do design emocional, pois afetam diretamente a percepção e as preferências dos consumidores.
Hu e Chen (2020) abordam as estratégias para otimização visual que integram o design arquitetônico ao ambiente natural e psicológico dos usuários. Além disso, eles destacam o papel do design adaptativo na harmonização entre a arquitetura e os aspectos naturais e emocionais do ambiente. Craib e Imbesi (2015) discutem conceitos como percepção, forma e estímulos visuais, explorando como o cérebro entende esses aspectos por meio de pesquisa em áreas como psicologia e design de comunicação visual, fundamentais para o desenvolvimento do design de comunicação. Os autores investigam como o cérebro processa e compreende estímulos visuais, como forma, texto e cores, e como essas interações contribuem para criação de significados em projetos de design visual.
3 MÉTODO
Este estudo realizou uma revisão sistemática da literatura por meio de um levantamento de artigos, incluindo estudos de revisão publicados em revistas internacionais. Conforto et al. (2011) destacam que a revisão bibliográfica sistemática é um método científico utilizado para a busca e análise de artigos de uma determinada área do conhecimento. Para a realização da pesquisa, foram utilizadas as bases de dados Scopus, Google Acadêmico e CAPES³ pela sua relevância e abrangência em trabalhos científicos, priorizando artigos publicados a partir de 1996.
Os principais descritores empregados na busca foram: colors, design, perception e visual. Foram selecionados e analisados artigos na íntegra, considerando os critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. A seleção priorizou estudos que abordassem, de forma integrada os descritores mencionados, assegurando a relevância e coerência dos dados obtidos. A tabela 2 apresenta, a seguir, uma síntese das informações pertinentes ao objetivo desta pesquisa, organizando os dados para melhor compreensão e análise.
Tabela 2: Síntese da Pesquisa
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para verificar a relação entre as cores e a percepção visual, foram utilizados os descritores colors, design, perception e visual. A discussão está relacionada com a percepção humana, com destaque às cores no sistema visual. Para Wegman e Said (2011), aspectos como o Sistema de Munsell e do espaço de cores da Comissão Internacional de Iluminação (CIE), fornecem fundamentos essenciais para a análise da percepção de cores e sua relevância em diferentes contextos de design. O sistema visual humano permite a percepção da luz e das cores, com base nos comprimentos de onda do espectro visível da radiação eletromagnética. No entanto, grande parte da radiação eletromagnética não pode ser percebida por seres humanos. Segundo os autores, a escolha de cores na arquitetura pode influenciar tanto a estética quanto a funcionalidade dos espaços, uma vez que as cores e contrastes ajudam a definir áreas, orientar os usuários e moldar o clima emocional dos ambientes.
No que se refere aos descritores colors, perception e visual, os estudos abordados nos artigos demonstraram que a percepção do movimento pode ser comprometida por estímulos iluminantes (ou seja, aqueles que apresentam apenas contraste de cor). Esses estímulos isolam o sistema de processamento de cores, apresentando como a percepção responde ao movimento e ao contraste cromático. A relação entre percepção, visual e design, explorada por meio dos descritores design, perception e visual, resultou a importância da comunicação visual e a viabilidade de uma abordagem interdisciplinar. Ademais, os resultados evidenciaram a necessidade de aprofundar a relação entre percepções visuais e sensoriais, especialmente aquelas relacionadas aos estímulos olfativos, aplicações relevantes para a criação der ambientes que estimulem os sentidos de forma integrada.
De acordo com as análises sobre a relação das cores, percepções visual e design, a seguir é apresentada uma tabela que sintetiza os critérios e identifica as ênfases nos estudos analisados. A tabela apresenta os principais aspectos abordados, explorando as dimensões como a interação entre elementos visuais, estímulos sensoriais interdisciplinariedade no contexto do design. A seguir, é apresentada a tabela 3 que cita os critérios e destaca a ênfase nos critérios.
Tabela 3 – Critérios e ênfases na percepção visual, design e uso de cores
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A revisão da literatura permitiu identificar lacunas importantes, como a necessidade de melhor integração das percepções dos usuários e explorar soluções em diversos contextos. As descobertas destacam a relevância de um design que equilibre aspectos estéticos e funcionais, contribuindo para a criação de ambientes físicos confortáveis, adaptáveis e eficientes. Além disso, o estudo ressalta que elementos como cores e design influenciam o comportamento humano em ambientes internos, reforçando a importância de uma abordagem integrada que priorize a percepção e experiência do usuário. Os resultados deste estudo atenderam ao objetivo de investigar a influência de elementos funcionais em espaços físicos, demonstrando como esses fatores contribuem para o equilíbrio entre a funcionalidade e estética. Com base no exposto, estas informações podem orientar profissionais da área na criação de espaços que promovam o bem-estar e interação dos usuários, contribuindo para o avanço interdisciplinar do campo.
²ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 16516: Serviços de design Terminologia.Rio de Janeiro, 2016.
³CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16516: Serviços de design – Terminologia. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: https://www.gedweb.com.br/. Acesso em: jul. 2017.
CONFORTO, E. C.; AMARAL, D. C.; SILVA, S. L. Roteiro para revisão bibliográfica sistemática: aplicação no desenvolvimento de produtos e gerenciamento de projetos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GESTÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO, 8., 2011, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre, RS: Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo 2011.
CRAIB, D.; IMBESI, L. Perception, meaning, and design: an interdisciplinary exploration of visual communication design theory. 2015.
FERRARA, L. D`Alessio. Design em espaços. São Paulo: Rosari, 2002.
FOUGNIE, D.; ASPLUND, C. L.; MAROIS, R. What are the units of storage in visual working memory? Journal of Vision, v. 10, n. 12, p. 27, 2010. DOI: https://doi.org/10.1167/10.12.27.
GEGENFURTNER, K. R.; HAWKEN, M. J. Interaction of motion and color in the visual pathways. Trends in Neurosciences, v. 19, n. 9, p. 394-401, 1996.
GUIMARÃES, L. S. B. A cor como informação: a construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das cores. São Paulo: Annablume, 2000.
HU, Z.; CHEN, K. The adaptability design of coastal architecture based on visual perception. Journal of Coastal Research, Special Issue No. 112, p. 22–25, 2020.
LIN, Y. C.; WEI, C. C.; CHEN, Y. T. Emotional design: a multisensory evaluation to visual and olfactory perceptions of consumers. Proceedings of IEEE International Conference on Applied System Innovation (IEEE ICASI), p. 1292-1295, 2018.
OBERFELD, D.; HECHT, H. Fashion versus perception: the impact of surface lightness on the perceived dimensions of interior space. Human Factors, v. 53, n. 3, p. 284-298, 2011.
O’CONNOR, Z. Colour, contrast and Gestalt theories of perception: the impact in contemporary visual communications design. Color Research & Application, v. 40, n. 1, p. 85–92, fev. 2015.
SECKLER, M.; OPWIS, K.; TUCH, A. N. Linking objective design factors with subjective aesthetics: an experimental study on how structure and color of websites affect the facets of users’ visual aesthetic perception. Computers in Human Behavior, v. 49, p. 375389, 2015.
TURATTO, M.; GALFANO, G. Color, form and luminance capture attention in visual search. Vision Research, v. 40, n. 11, p. 1639-1643, 2000.
WEGMAN, E.; SAID, Y. Color theory and design. Wiley Interdisciplinary Reviews: Computational Statistics, v. 3, n. 2, p. 104–117, 2011.
¹Doutoranda em Design. Universidade Estadual Paulista (Unesp/FAAC); Mestre em Ciências. Universidade de
São Paulo (USP/Each). Email:marcia.mfr@gmail.com