AS TEORIAS REVOLUCIONÁRIAS EM MARX E LÊNIN E OS ACONTECIMENTOS DA REVOLUÇÃO RUSSA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202507252110


Náyra Nascimento Silva1
Marcus Baccega2


Resumo

Procuro resgatar neste artigo alguns aspectos formadores do pensamento de Karl Marx no panorama entre teoria e prática através da filosofia e de Vladimir Lênin na aplicação prática da teoria fundada na materialidade das ações bolcheviques na Revolução Russa em 1917, na perspectiva de propor um exercício de análise historiográfica das relações entre as teorias revolucionárias em Marx e Lênin na conjuntura histórica dos acontecimentos da revolução. Esta investigação tem interesse em descrever o elo entre as ideias e os fatos, que em suas formas cientificas, baseiam os diagnósticos sociais que contribuem para a formação das teorias revolucionárias. A pesquisa resulta de revisão bibliográfica construída através da análise dos escritos de Marx, comentários lançados postumamente por Friedrich Engels e manuscritos produzidos por Lênin ao longo da vida.

Palavras-chave: Revolução Russa. Teoria. Materialismo Histórico

Abstract

This article seeks to recover certain formative aspects of Karl Marx’s thought, examining the dialectic between theory and practice through philosophy alongside Vladimir Lenin’s practical application of theory grounded on the materiality of Bolshevik actions during the 1917 Russian revolution. It proposes a historiographical analysis of the relationship between Marx’s and Lenin’s revolutionary theories within the historical conjuncture of the revolutionary events. This investigation aims to delineate the nexus between ideas and facts, which, in their scientific forms, underpin the social diagnoses contributing to the formation of revolutionary theories. The research emerges from a bibliographic review constructed through analysis of Marx’s writings, posthumous commentaries by Friedrich Engels, and manuscripts produced by Lenin throughout his lifetime.

Keywords: Russian Revolution. Theory. Historical Materialism

Introdução

Na obra Greve de massas, partido e sindicatos, a filósofa polonesa-alemã, representante de destaque no Movimento Internacional dos Trabalhadores, Rosa Luxemburgo, indica o significativo papel da conscientização e participação das massas durante o processo revolucionário de mudanças sociais “A luta de massas é, portanto, ao mesmo tempo, uma escola de desenvolvimento e o campo da luta.”(LUXEMBURGO, 1986, p. 59). Em meados do século XIX, mediante pleno desenvolvimento do capitalismo e nas mazelas por ele próprio produzidas, surgiram na Europa, por ser o berço do modo de produção capitalista, formas de exames sociais pontuados na necessidade de transformação do Ocidente, fundamentada nas indagações advindas da “ordem natural das coisas” imposta pela classe burguesa dominante.

Na perspectiva histórico-filosófica, a Karl Marx, autor maduro em teoria social e economia política, munido de arcabouço literário, incumbe a missão de sistematizar e relatar as estruturas sociais ocidentais por meio da análise da materialidade histórica, como declara no Prefácio de Para a Crítica da Economia Política: “O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência.”(MARX, 2011, p. 47), direcionando-se a enunciar as expressões do capitalismo. Diante da condição social corrente, Marx introduz a ruptura radical através da conscientização dos trabalhadores como caminho para uma nova convenção social, sendo esta socialista, liberta dos princípios da classe burguesa, conforme citado no Manifesto Comunista: “Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas ideias e intenções. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente”. (MARX; ENGELS, 2008, p. 52)

Bebendo da fonte de Marx, Vladimir Ilitch Ulianov, que escreve com pseudônimo Lênin, teórico revolucionário russo, usando do materialismo histórico, escreve O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, com intenção de investigar os processos internos da economia russa e suas influências na ordem social do país, que planta as sementes revolucionária nas representações coletivas. A partir desta vasta pesquisa, Lênin dissemina a ideia da urgência revolucionária com propósito de dissolver as estruturas opressivas burguesas, como reafirma em O Estado e a Revolução: “A velha máquina estatal, com toda a sua burocracia, polícia, exército, tribunais e prisões, deve ser destruída e substituída por um novo tipo de máquina estatal, o Estado proletário, o qual deve ser apoiado pela força revolucionária do proletariado.” (LÊNIN, 1987, p. 49), com o propósito de instaurar o socialismo na Rússia. Em O Que São os Amigos do Povo e como lutam contra os social-democratas?, sugere que a organização para o despertar da consciência do proletariado, sendo encargo do socialismo, vistas suas bases científicas, é essencial para a metamorfose social.

A consciência socialista moderna só pode surgir com base em um profundo saber científico. Com efeito, a teoria socialista contemporânea nada mais é do que a expressão, em forma científica, das aspirações do movimento operário. E, por isso, a tarefa do socialismo é introduzir no proletariado a consciência dessas aspirações e da missão histórica do proletariado. (LÊNIN, 1982, p. 50)

Reforçando a necessidade da organização coesa da ação revolucionária, que dá cabo a vanguarda do proletariado, Lênin, pela ímpar contribuição teórica, que “atualiza ” as ideias de Marx, confere continuidade às análises, ao passo que introduz as questões particulares a Rússia, fornece intensa ligação entre sua abordagem teórica da prática política e as de Marx, imerso na teoria da filosofia pratica que engendra a base teórica para o movimento revolucionário e consequentemente contribuem para a formação das teorias revolucionárias. Marx produz a relação entre teoria e prática, partindo da filosofia, e sublinha a importância da consciência ativa dos proletários.  Lênin, por sua vez, alinha-se aos entendimentos da aplicação prática da teoria no contexto real sincronizando, através de ação organizada em formas científicas pelos socialistas, os melhores, e mais possíveis, rumos da revolução social.

Este estudo pretende contribuir com pensamento histórico acerca dos caminhos apontados por Marx, bem como fazer o paralelo entre os caminhos teóricos descritos por Lênin, aliados às ações dos bolcheviques durante o movimento insurgente de 1917. O estudo tem pretensão de apontar a relação entre as teorias revolucionárias em Karl Marx e Vladimir Lênin e os acontecimentos da Revolução Russa, através do resgate de alguns aspectos presentes nas produções teóricas de ambos. Assim, desejamos problematizar o direcionamento de Lênin às ações que levaram ao processo revolucionário russo.

 O artigo resulta de uma extensa pesquisa historiográfica, com revisão de bibliografia clássica construída através da análise dos escritos de Marx publicados em vida, comentários lançados postumamente por Friedrich Engels e manuscritos produzidos por Lênin, antes, durante e após as revoluções de 1917. Nossa questão-problema será, então, como eclodem as situações revolucionárias, envolvendo mobilizações de massas de milhares de pessoas nas ruas e paralisação dos locais de produção? São ou não criadas por revolucionários?

Marx: do idealismo ao materialismo 

A teoria da revolução em Marx pode ser compreendida por meio da recuperação do contexto histórico em que foi produzida a fim de demonstrar, com apelo central, a autoemancipação do proletariado através da revolução comunista. “Os trabalhadores não têm pátria. Não podem tomar para si o que não têm. A emancipação da classe trabalhadora deve ser obra da própria classe trabalhadora.”(MARX; ENGELS, 2008, p. 50).  Esta frase parece ser idealizada por Marx a partir do seu contato com os movimentos operários europeus a partir de 1840. Marx entende que a transformação real só existe com o proletariado sendo sua base material, já que esse grupo é quem recebe o ônus causado pela sua constante exploração. Em vista a necessidade de emancipação trabalhadora, estes ainda mantêm posição passiva diante do processo revolucionário. Apenas a partir da intervenção filosófica, como condutora da massa, é possível a saída do estado de inércia do operariado “A filosofia não pode ser realizada sem a supressão do proletariado, e o proletariado não pode se suprimir sem a realização da filosofia.”(MARX, 2010, p. 141).

O êxito do caminho das ideias propostas por Marx é atestado pela revolução tecelã da Silésia3. “Estes levantes dos tecelões da Silésia não são meros distúrbios de fome, mas as primeiras erupções da luta social que emerge da própria base do sistema industrial.” (MARX, 1975, p. 233) contra a opressão dos capitalistas, sendo que os operários se autoafirmam como elemento ativo da transformação política e social, deixando só na lembrança a premissa da atividade teórica como gênese do movimento revolucionário.

Karl Marx usa da filosofia da práxis para integrar teoria e prática ao movimento revolucionário, posteriormente como fundamento da revolução comunista pautada na ação autônoma, efetiva e ativa do proletariado. “A coincidência da mudança das circunstâncias e da atividade humana ou autotransformação só pode ser apreendida e racionalmente compreendida como prática revolucionária.”(MARX; ENGELS, 2007, p. 39). Marx transfere o sujeito da categoria do idealismo para a categoria do materialismo, enviando o centro das reflexões revolucionárias para as múltiplas relações entre os indivíduos, sendo essa força motriz da revolução permanente. Então, é evidente o caráter da análise real dos fatos, da perspectiva do proletariado, a possibilidade de revolução e a inexistência de horizonte utópico no pensamento de Marx.

A partir de então, designa-se o esboço da relação entre teoria revolucionária e movimento operário elaborada por Marx, a começar de uma síntese dialética produzida a partir das experiências acompanhadas por ele nos anos de 1840, que são, antes de tudo, produzidas pela atividade da própria classe operária. “A teoria também se torna uma força material quando se apodera das massas.” (MARX, 2010, p. 145) De forma direta ou indireta, Marx adentrou o crescimento exponencial da difusão maciça do socialismo no proletariado parisiense em 1844, atestando o caráter de movimento de massa. O contato com o movimento francês e produções bibliográficas da época como Heinrich Heine, Théodore Dézamy, Lorenz von Stein4, leva Marx à adesão ao comunismo.

“O comunismo é a superação positiva da propriedade privada como autoalienação do homem, e, por isso, como a verdadeira apropriação da essência humana pelo homem e para o homem; portanto, como o retorno completo, consciente e realizado do homem para si enquanto homem social, ou seja, como ser humano.” (MARX, 1976, p. 105)

Com o proletariado parisiense inflamado, Marx preconiza que o ato político da revolução abre um período histórico de transição que leva à nova sociedade, a ideia de uma insurreição dos trabalhadores que dissolve o Estado e inaugura livre relação entre os próprios trabalhadores que, por sua vez, passam a ser mediadas por ações historicamente essenciais para a possibilidade de emancipação humana.

Marx e a teoria crítica prática 

Nos Manuscritos Econômico-filosóficos de 1844, produção em que Marx intitula-se comunista, a síntese teórica é desenvolvida progressivamente ao analisar as tendências reais do movimento operário europeu, além de formular uma análise científica e crítica da sociedade burguesa e da condição do proletariado. A proposta inaugural do Marx comunista é a dissociação do seu trabalho em relação ao que considera ser as formas grosseiras, idealistas ou utópicas de comunismo, propondo a sua própria visão de comunismo. “O comunismo é a dissolução  positiva da propriedade privada como autoalienação do homem, e por isso a verdadeira apropriação da essência humana pelo homem e para o homem” (MARX, 2010, p. 105).

Marx aponta a tendência dicotômica entre a burguesia aliada aos interesses individuais e o proletariado, que, em oposição, inclina-se à solidariedade e à associação; assim se dá a predisposição do proletariado ao socialismo, podendo se manifestar de forma concreta, estabelecendo o proletariado como elemento ativo da revolução, como menciona em “Introdução” à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Deste modo, o socialismo não se mostra como teoria pura saída da cabeça de um filósofo (revolucionário) mas como práxis e tem por consequência o proletariado como componente atuante da emancipação. Estes elementos contribuem para as bases da teoria da emancipação do proletariado. A crítica ao comunismo filosófico é mais extensamente desenvolvida em Glosas Críticas Marginais ao Artigo “O Rei da Prússia e a Reforma Social “. De um prussiano que rompe ideologicamente com a filosofia hegeliana do Estado e as concepções feuerbachianas das relações entre a filosofia e o mundo, apontando uma tomada da prática do movimento e estabelecendo em seus escritos a relação simbiótica entre teoria e prática do movimento revolucionário.

Ao escrever A Sagrada Família, Marx estabelece, na dimensão materialista, prática e concreta, a abordagem de comunismo de massa que faz crítica ao socialismo crítico, pautado na eleição de alguns escolhidos como personificação do espírito crítico de Bruno Bauer, como movimento prático e material das massas. Assim, reforça o pensamento quanto à necessidade de organização programática do proletariado, entregando a ele, que assume a aparência da massa de trabalhadores, o domínio do processo revolucionário aos próprios manifestantes das mudanças. O comunismo realiza durante o processo histórico a autoemancipação do proletariado através da consciência de sua miséria, essa que por sua vez conduz a ação revolucionária.

A classe do proletariado […] é, para fazer uso de uma expressão de Hegel, “No interior da abjeção, a revolta contra essa abjeção”, é “a miséria consciente de sua miséria espiritual e física, […] a desumanização consciente de sua inumanidade – e portanto suprassunsora – de sua própria desumanização”; por tudo isso, “o proletariado pode e deve libertar-se a si mesmo. ((MARX; ENGELS, 2010, p. 45)

A ligação da percepção do proletariado de sua situação social promove a tomada de consciência como elemento fundamental da revolução. Assim, para Marx, a prática revolucionária não aparenta ser unicamente nem teórica nem passiva, já que para ele a revolução tem significado político e social caracterizado pela mudança social através da ação das massas. Em determinados momentos mostra-se revolucionária porque transforma a natureza da sociedade, em outros, crítico-prática porque apresenta prática orientada pela teoria crítica, a crítica que orienta a prática e a prática que critica a situação social de miséria.

Marx e a formação partidária

Nas obras Teses sobre Feuerbach e A ideologia alemã, Marx estabelece a atividade crítica prática como finalidade da formação de uma vanguarda comunista.  A concepção de partido aparece pela primeira vez na Liga Comunista em 1846 incorporando suas experiências angariadas tanto na França como na Alemanha.

Consideramos que um congresso comunista ainda seria prematuro. Somente quando, em toda a Alemanha, associações comunistas estiverem constituídas e tiverem reunido meios de ação é que os delegados das diversas associações poderão se reunir em congresso, com possibilidade de sucesso. Isso não poderá se realizar antes do próximo ano. (MARX; ENGELS, 1980, p. 54).

Entretanto, é em Miséria da filosofia e o Manifesto Comunista que Marx expõe a relação entre os comunistas e o partido operário nos anos de 1847 e 1848 “O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos operários: constituição do proletariado em classe, derrubada da dominação burguesa, conquista do poder político pelo proletariado.”(MARX; ENGELS, 2008, p. 46)  Afirma que a revolução comunista só pode ser feita pelas massas e é papel dos comunistas não só ajudar durante o processo como também oferecer mediação ao proletariado. E sob nenhuma circunstância pôr-se acima das massas ou realizar a revolução em nome dela. Ou seja, o partido comunista marxista é a vanguarda comunista, a personificação da intervenção na consciência do proletariado, a ação prática do movimento de libertação das massas

Os comunistas são, na prática, a parte mais resoluta dos partidos operários de todos os países, aquela que impulsiona todas as demais; em teoria, têm sobre o restante do proletariado a vantagem de uma clara compreensão das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário. O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: formação do proletariado em classe, derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado.” ((MARX; ENGELS, 2008, p. 47)

Por fim, a prática revolucionária é o fundamento que viabiliza a revolução. O desenvolvimento da consciência proletária e ação de transformação durante a luta contra o estado das coisas existentes promove uma nova sociedade. A teoria da revolução de Marx é uma condensação dos campos em unidades contrárias cuja síntese é uma teoria da revolução entre aspectos objetivos e subjetivos. Portanto, a revolução deriva de uma complexa compreensão de como o modo de produção capitalista, ao se desenvolver, cria contradições que tornam possíveis as intervenções da classe operária no terreno da política

A história não faz nada, não possui nenhuma riqueza, não trava lutas. São os homens, os homens reais, vivos, que fazem tudo isso, que possuem, que lutam. A história não é senão a atividade deles, perseguindo seus fins.” (MARX, 2010, p. 134)

Vladmir Lenin: revolução como estratégia e tática

A teoria da revolução em Lênin é expressa em sua obra Que fazer? de 1902, direcionando o cerne da produção à importância da teoria revolucionária no movimento social:

Sem teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário. Isto não se afirmou bastante, no momento em que o culto do espontaneísmo se tornou moda. […] O interesse pela teoria reveste-se agora de uma importância absolutamente especial para nós, tanto devido às tarefas impostas objetivamente ao nosso movimento. (LÊNIN, 1902, p. 74).

Além da urgência da organização partidária centralizada e assentada em revolucionários profissionais, “[…] O caráter de vanguarda de tal partido manifesta-se tanto pela sua política como pela sua organização, devendo esta ser centralizada e composta predominantemente por revolucionários profissionais” (LÊNIN, 1902, p. 144). Ressalta-se a necessidade de colocar no centro da estratégia de mudança a luta política revolucionária contra o inimigo maior, o czarismo “A luta contra o czarismo é a condição preliminar para a libertação da Rússia.” (LÊNIN, 1902, p. 87).

Lênin analisa a complexa relação entre o fator consciente e o movimento espontâneo dos trabalhadores, rotineiramente aliando a ação e ocasião “A coesão ideológica e a unidade da ação prática são absolutamente necessárias para a vitória do movimento revolucionário” (LÊNIN 1902, p. 96). Em defesa de uma etapa capitalista, que, após desenvolvimentos necessários, veria a chegada do socialismo, ressalva a formação dos sovietes como é descrito a seguir:

Os Sovietes são a organização direta das massas oprimidas, que permite a estas tomar o poder, governar o Estado e construir uma nova sociedade, sem necessidade do aparelho burocrático típico do Estado burguês. Este novo tipo de Estado não se apoia na burocracia, mas na participação ativa, permanente e direta dos trabalhadores e camponeses, que se organizam de modo democrático, revogável e coletivo. (LÊNIN, 1917, p. 46).

O pensamento de Lênin mostra-se esquemático, para ele existe a íntima relação entre estratégia e tática. Em analogia, a estratégia é apresentada pelos bolcheviques como sendo a derrubada do czarismo como objetivo final, já a tática relativiza as manobras necessárias para a chegada na estratégia, em momento ofensiva e em outros defensiva. Em 1905 a estratégia é ofensiva:

A insurreição armada tornou-se uma necessidade absolutamente inevitável e urgente. Não se trata mais de saber se é possível ou não. É um fato imposto pela marcha objetiva da revolução, pela situação criada. Não podemos deixar de preparar essa insurreição, de considerá-la como a nossa tarefa imediata e principal. (LÊNIN, 1905, p. 67).

 Em 1907 a estratégia é defensiva:

É preciso saber trabalhar na ilegalidade, manter a organização e educar o proletariado, quando a reação triunfa. A arte de recuar de modo organizado, de não ceder à desmoralização, é uma qualidade indispensável para um partido revolucionário. A revolução recuou, mas não morreu. (LÊNIN, 1907, p. 15).

As passagens mostram as estratégias sendo articuladas de acordo com o cenário político na intenção de alargar a possibilidade de chegada ao estado de transição, para que, enfim, aconteça o triunfo da revolução.  Mesmo na perspectiva de fomentar os arranjos políticos, Lênin acredita que a revolução não tem planos nem manual, ela eclode quando é menos esperada e dentro das possibilidades alcançáveis; o partido tem por ideal tornar, por meio de táticas, a insurreição cada vez mais viável. “Às vezes, a história dá saltos tão rápidos que, em poucos dias, pode-se aprender mais do que em décadas de estagnação. As massas aprendem na prática que não há outra saída senão a revolução.” (LÊNIN, 1917, p. 45).

Posicionamento do Lenin durante o processo revolucionário

Após a queda do czarismo e tomada pelo governo provisório composto pela burguesia, Lênin expõe: “O Governo Provisório é um governo da burguesia, que quer continuar a guerra imperialista e manter a velha ordem exploradora.” (LÊNIN, 1917, p. 21). Tal situação desenhava, para Lênin, um caminho oposto ao sucesso da etapa do estado de transição. Em suas Teses de Abril, contra todos os pensamentos intuitivos dos demais participantes da revolução, Lênin rompe com o governo provisório e conceitua a ação dos sovietes de deputados operários como guia para o futuro da revolução. Profere que todo poder deve ser dos sovietes porque entende que é necessário o deslocamento de poder, esse justificado na longevidade da possibilidade de revolução dentro da lógica etapista.

Enquanto o Governo Provisório continuar no poder, a revolução não avançará para sua verdadeira finalidade: o poder dos sovietes, a ditadura do proletariado. Este governo é incapaz de resolver os problemas essenciais da paz, da terra e do pão para o povo. (LÊNIN, 1917, p. 78).

Nenhum apoio ao governo provisório não significa sua derrubada, e sustenta essa ideia no reconhecimento do poder de massa do governo provisório e seu apoio nos movimentos. “Não devemos apoiar o Governo Provisório, mas tampouco podemos, antes da derrubada definitiva, deixar de reconhecer o poder do Soviete e o papel que o Governo Provisório ainda exerce, enquanto não for desmascarado e derrubado pelo proletariado” (LÊNIN, 1917, p. 30). Sua estratégia era a construção de uma palavra de ordem: “Todo o poder aos sovietes!” (LÊNIN, 1917, p. 54)

O Soviete dos Deputados Operários é já não só uma organização proletária, como também a forma de embrião de um novo Estado, de um Estado socialista, de um Estado que substitui o velho aparelho estatal burguês e representa o tipo de Estado de transição do capitalismo ao socialismo. (LÊNIN, 1917, p. 35).

Lênin refere-se aos sovietes de deputados operários como estratégia para vislumbrar a transição lenta em direção ao socialismo “A destruição da velha ordem, a expropriação dos expropriadores, é a tarefa fundamental do proletariado, mas esta não pode ser realizada sem uma fase prolongada de luta contra as forças da contrarrevolução, sem uma reorganização econômica e política profunda da sociedade” (LÊNIN, 1917, p. 63). Em 1917, ainda na Suíça, em Cartas de longe, Lênin aponta o caráter burguês e imperialista da revolução promovida pelo governo provisório, mas foi apenas em Teses de Abril que indica ao partido a mudança de estratégia, de retirar a palavra de ordem com todo poder ao Soviete, e incentivar a insurreição armada para a derrubada do governo provisório. “É preciso preparar a insurreição armada, pois o Governo Provisório é incapaz de realizar as tarefas da revolução.” (LÊNIN, 1917, p. 14).

Diante deste cenário, a massa entra em aliança com os bolcheviques, principalmente pela improficiência do governo provisório em atender a suas reivindicações. Existe a união dos demais partidos soviéticos contra a tentativa do golpe de Kornilov5 e sua posterior derrota pacífica, designando aos bolcheviques o poder político hegemônico. O período entre fevereiro e outubro foi momento de intensa alternância de segmentos dentro da teoria revolucionária de Lenin, já que a tática mudou inúmeras vezes mesmo que a estratégia se mantenha a mesma durante todo o processo.

Contexto histórico da revolução de fevereiro

A revolução de outubro de 1917 é uma das experiências em que trabalhadores organizados em conselhos tomam o poder em seus próprios organismos, entretanto tudo que precede a revolução caminha para o destino oposto do que acontece na Rússia naquele ano. Gustavo Machado, escritor e liderança revolucionária venezuelana, na obra História da Revolução Russa, descreve as relações místicas da dinastia Romanov com a população, ao ponto do czar ser encarado como personificação de Deus, czar esse que, por sua vez, era fincado nas bases da autocracia.“O czarismo sustentava-se não apenas pela força repressiva, mas também por uma mística que confundia a autoridade política com a vontade divina, criando um obstáculo psicológico profundo para a consciência revolucionária do povo russo.” (MACHADO, 1967, p. 142).

Um estado fortemente centralizado que promoveu industrialização, mesmo com maior parte da população vivendo no campo com diversas formas de propriedades agrárias, em cidades centrais como São Petersburgo e Moscou e financiado por capital estrangeiro c

“Dada a própria natureza do capitalismo, esse processo de transformação não pode ocorrer de outro modo senão em meio a uma série de desigualdades e desproporções: aos períodos de prosperidade sucedem os de crise, o desenvolvimento de um ramo industrial provoca o declínio de outro, o progresso da agricultura afeta aspectos da economia rural que variam segundo as regiões, o desenvolvimento do comércio e da indústria supera o da agricultura” (LÊNIN, 1988, p. 373)

Sabendo o desdobramento da história, parece óbvio que a revolução aconteceria em solo russo, porém, de maneira oposta, a Rússia do começo do século XX tem o ambiente menos provável possível para um processo revolucionário. Em 1905, houve a manifestação completamente pacífica dos operários que rogavam ao czar melhores condições de vida fabril. Diante do caráter religioso da população frente a Nicolau II, a marcha até o Palácio de Inverno apresentava intenção de pedir, não de protesto, ao governante para que recebesse suas súplicas como quem implora a Deus pela boa nova. Como descreve Lev Davidovich Bronstein Trotsky, grande marxista do século XX junto com Lênin, em livro História da Revolução Russa:

O 9 de janeiro começou a chamar-se ‘Domingo sangrento’. Foi uma lição sangrenta a que os operários receberam neste dia. A 9 de janeiro a fé dos operários no czar morreu fuzilada. Compreenderam que só lutando podiam conquistar seus direitos. Ao anoitecer daquele dia, nos bairros operários se começaram a levantar as primeiras barricadas. ‘Já que o czar nos recebeu a tiros, lhe pagaremos na mesma moeda!’, diziam os operários de Petersburgo. (TROTSKY, [1932] 2007.p. 145)

Liderados pelo padre George Gapon, 150 mil manifestantes foram violentados pelo governo czarista e o evento receberia o título de Domingo Sangrento. Diante da mobilização das necessidades da população diante de seu caráter devocional para com o czar, após recentes acontecimentos, foi percebida a real natureza dessa relação “O Domingo Sangrento marcou o despertar das massas russas para a luta contra a autocracia czarista, quando a repressão sangrenta revelou a verdadeira face do regime.” (TROTSKY, 1905, p. 35).

Em 1913, acontecia o aniversário do tricentenário da dinastia Romanov “Em cada alma há algo de Romanov. Algo da alma e do espírito da Casa que reinou por 300 anos.” (THE TIMES, 1913, p. 4).  A percepção que ficará é de que nada mudou, já que Nicolau II aparece em várias cidades russas e milhares de pessoas saem à rua para prestigiá-lo. O jornal londrino The Times vislumbra o futuro consolidado da autocracia russa, evidenciando: “Nenhuma esperança parecia excessivamente confiante ou brilhante” em relação ao futuro do czarismo (THE TIMES, 1913, p. 4), o apego das massas à imagem do governante confirma o caráter da relação marcada pelo misticismo.

Em 1914, as populações dos países europeus são tomadas por um profundo fervor nacionalista, como relata Marc Ferro, historiador francês, em A Grande Guerra:

“Os primeiros dias de agosto de 1914 são marcados, na maioria das capitais europeias, por manifestações de entusiasmo e de patriotismo. As multidões se acotovelam nas estações, cantam os hinos nacionais, aplaudem os soldados que partem. A guerra, para muitos, parecia ser um acontecimento glorioso, um dever nacional.” (FERRO, 1990, p. 35)

A situação política conspirava para a iminência de uma guerra e a Rússia não estava alheia a este caminho, mesmo que não de forma homogênea.  As organizações russas, chamadas de esquerda, mantinham direções divergentes quanto ao projeto político de transformação social, como afirma Orlando Figes, historiador contemporâneo em História Cultural e Social russa; em obra A Tragédia de um Povo: A Revolução Russa 1891–1924, descreve:

“A esquerda russa estava profundamente dividida em facções — bolcheviques, mencheviques e socialistas-revolucionários — cada uma com sua própria visão sobre a revolução e a estratégia para derrubar o czarismo. Essa divisão enfraqueceu significativamente a capacidade da oposição de formar uma frente unida contra o regime.” (FIGES, 2014, p. 157)

Figes, mesmo não categorizando os partidos da Rússia pré-revolução, analisa a situação partidária através das origens intelectuais e sociais de cada grupo político, de acordo com orientação de cada programa partidário, assim como seus respetivos posicionamentos entre 1905 e 1917. O historiador relata as intensas alternâncias entre alianças e cisões no período, expressas como cada partido representa o interesse da própria classe e, partindo destas observações, elenca o panorama da pluralidade partidária russa em: Partido operário social-democrata russo (POSDR), Partido socialista revolucionário (SRs), partido constitucional democrata (Cadetes), Trudoviques (Trabalhistas), Bund (União judaica dos trabalhadores) e Anarquistas.

 O cenário descrito: a população dotada de um nacionalismo extremo e abstrato, a popularidade inquestionável do czar, manifestada pelo caráter etéreo de sua relação com a população e a divergência de projeto político da esquerda para a Rússia reuniam todos os elementos possíveis contra o processo de revolução.

Quais são, em termos gerais, os sintomas de uma situação revolucionária? Em primeiro lugar, quando se torna impossível para as classes dominantes manter o seu domínio inalterado; quando há uma crise, de uma forma ou de outra, entre ‘os de cima’, uma crise na política da classe dominante, que cria uma fenda pela qual irrompe o descontentamento e a indignação das classes oprimidas. Em segundo lugar, quando a miséria e o sofrimento das classes oprimidas se agravam, de forma acentuada, mais do que o habitual. Em terceiro lugar, quando, devido às razões acima, se verifica um aumento notável da atividade das massas, que se deixam arrastar, tanto pelas circunstâncias da crise como pela própria ‘classe dirigente’, para uma ação histórica independente. Sem essas mudanças objetivas, que não dependem da vontade de qualquer partido ou classe, a revolução, como regra geral, é impossível. (LÊNIN, 1915, p.50)

As revoluções acontecem nos anseios de uma população, com causas objetivas que necessitam de intervenção; no caso russo, sintetizadas como lema pelas Teses de Abril e admitidas pela população, as principais reivindicações eram pão, paz e terra. Em 1917, as mulheres dão início à revolução a partir de uma greve nas fábricas têxteis, que toma proporções sociais de adesão massiva de grande parte da população

Nenhuma organização preconizava greves para aquele dia […]. No dia seguinte, pela manhã, apesar de todas as determinações, as operárias têxteis […] abandonaram o trabalho […] É evidente que a Revolução de Fevereiro foi iniciada pelos elementos de base […] as operárias da indústria têxtil.  (TROTSKY, 1977, p. 117).

Assim, perante as pressões internas, Nicolau II renúncia. Como parte da fundamentação teórica de alguns partidos de orientação marxista, uma vez acontecida a queda do czar, sucederia um período de grande desenvolvimento do capitalismo e na melhor das hipóteses associado à reforma agrária, intitulado governo dos intelectuais. Precedida por Lvov, príncipe liberal não Romanov e depois por Kerensky, Cadete em coalizão, o governo provisório assume a governança russa.

A dualidade de poder

O processo de organização dos trabalhadores do início do século XX é marcado pela presença dos sovietes de deputados operários, consistindo em conselhos de trabalhadores eleitos por locais de trabalho e estes, por sua vez, elegem delegados que participavam dos processos eleitorais em câmaras, e atuavam de forma política paralelamente ao governo provisório. Os sovietes procederam fortemente na conjuntura política através de ordens para o uso de linhas ferroviárias, uso de telégrafos, organização de projetos de infraestrutura e até em serviços do exército, como expresso em carta de Alexander Guchkov ao general Mikhail Alekseev em 1917

O Governo Provisório existe apenas enquanto lhe for permitido pelo Soviete dos Deputados Operários e Soldados. De fato, o Governo não possui nenhum poder real, e suas ordens só são cumpridas na medida em que são permitidas pelos Sovietes. (GUCHKOV 1917)

Na teoria, o Governo Provisório, mas na prática os sovietes de deputados operários, como destaca Lênin em Relatório sobre o momento atual e sobre a posição diante do governo provisório: “o verdadeiro poder reside nos Sovietes de deputados operários e soldados, e não no Governo Provisório (1917, p. 45). A queda do czarismo aponta para que toda esquerda volte o apoio ao governo provisório e então a chegada de Lênin, com as Teses de Abril, interrompe destino esperado de alinhamento ideológico e traz o partido bolchevique para o não alinhamento com o projeto político do governo provisório

O Governo Provisório é um governo de capitalistas, que só serve para atrasar a revolução e enganar o povo com promessas falsas. Nenhum apoio ao Governo Provisório! Desmascaramos as suas mentiras e prometemos ao povo o verdadeiro poder, o poder dos sovietes. (LÊNIN, 1917)

A proposta de governo através dos sovietes de deputados operários não parece uma prospecção de criar um regime de futuro, mas uma alternativa para que os próprios trabalhadores assumissem o curso o projeto revolucionário.  A partir do pronunciamento de Lênin, tudo que significaria atacar o governo provisório servia à defesa da revolução.

Insurreição de outubro

No segundo congresso dos sovietes de deputados operários, os bolcheviques já eram maioria dos delegados, era de conhecimento popular que o governo provisório não era capaz de atender aos ditames que propunha na revolução de fevereiro e muito menos atender as reivindicações feitas pela população, sendo as mais urgentes a saída da I Guerra Mundial e a realização da reforma agrária. Após a tentativa de golpe de Kornilov, derrotar o governo provisório era decisivo para evitar um novo czarismo no poder. Assim, os bolcheviques, tomados pela maioria, realizam a revolução de outubro por intermédio da adesão das massas, apenas formalizada a titularidade do governo russo de quem o poder já emanava: os trabalhadores “A Revolução de Outubro representa a vitória do proletariado organizado, capaz de derrubar o velho regime e abrir caminho para a construção de uma nova ordem social.” (LUXEMBURGO, 1918, p. 56).

Em 1917 aconteceu a revolução de outubro com impacto imediato social tão profundo que o mundo inteiro se voltou contra a Rússia, centenas de partidos socialistas surgiram ao redor do mundo, inclusive no Brasil. As ações realizadas  no início do governo como saída da I Guerra Mundial, realização da reforma agrária, concessão do direito de autodeterminação dos povos dominados pelo Império Russo do Antigo Regime, revogação do código civil de direito dos homens sobre as mulheres foram um forte indicativo dos caminhos possíveis para a nova Rússia. As transformações eram tão organizadas e reais que países historicamente oprimidos pelo Império Russo optaram por aderir à revolução e posteriormente ingressaram na União Soviética.

A Revolução operária e camponesa, cuja necessidade os bolcheviques proclamavam constantemente, realizou-se. […] o poder dos Sovietes de deputados operários, soldados e camponeses, tornou-se um fato. Nenhuma força pode agora derrubá-lo, pois é o poder das massas e não de uma minoria […] (LÊNIN, 1917).

No resultado, o processo russo foi apresentado como fracassado, posteriormente com a burocratização da revolução pós-guerra civil. No contexto histórico em que inúmeros países capitalistas promovem gradual massacre contra a Rússia desolada, por crise climática e pandêmica, favoreceu o engessamento administrativo do Estado formado por uma massa de pessoas cansadas do recente passado bélico “quatorze Estados capitalistas lançaram uma cruzada contra a Rússia Soviética, impondo-lhe bloqueios, sabotagens, ataques armados e um cerco econômico impiedoso, na tentativa de asfixiar a revolução proletária no berço.” (TROTSKY, 1932, p. 217).

Considerações finais

A forma como a história molda a existência humana é fruto das próprias relações por ela estabelecidas, não existe roteiro a ser seguido com a garantia de final esperado. Esta pesquisa indicou que a revolução por si só não aconteceria em padrões de geração espontânea, foi necessário ser encapsulada por bases teóricas que, por sua vez, nada promoveriam sem a realização das vias de fato pelas massas; por isso a importância do relato da produção científica teórica que intervém nas ações políticas.

Neste artigo foi estipulada a análise das indicações de Marx, os prescritos de Lênin tal qual suas formas frente aos acontecimentos entre fevereiro e outubro de 1917, para efeitos de assentar a relação entre o campo das ideias e a realização real da revolução. É de entendimento da autora que assim como Marx e Lênin, existem inúmeras figuras atuantes no processo que culmina na transformação social russa e nas que a precedem. Esta análise sugere o estabelecimento de caminhos traçados pelas teorias revolucionárias, sendo elas parte do processo mesmo que o início do processo de mudança não parta delas.

Marx, pela sua contribuição em destrinchar os aspectos do capitalismo, a fim de descrever aspectos da realidade para transformá-la, e Lênin como expressão da articulação entre campos teóricos e finalidades práticas moldadas ao ambiente político, são exemplos mais populares na lembrança do proletariado. Visto que suas contribuições promovem a autonomia das massas, mesmo que por momento relativamente curto. Posteriormente à exposição das discussões teóricas acerca da revolução, foi apresentado o elo entre a teoria de uma revolução e o próprio acontecimento dela, como é estabelecido por ambos os autores escolhidos em diferentes momentos; a revolução não é realizada na intenção dos revolucionários, mas sim quando a massa entende que é o momento em que ela deve acontecer.

Em suma, a revolução é acrescida de teorias revolucionárias que formam pilares para a orientação das ações das massas. É inegável que todo processo revolucionário russo, em especial a insurreição de outubro, atua ativamente como manifestação das possibilidades de mudança social ao redor do mundo. A princípio, países mais próximos à Rússia naturalmente apresentam os impactos da revolução em menor espaço de tempo, por questões geográficas inicialmente, entretanto a disseminação de informações na perspectiva do pensamento político revolucionário mostra-se tão avassaladora quanto possível em qualquer lugar do globo.


3Revolta do operariado têxtil em 1844, ocorreu onde atualmente é uma região da Polônia. Considerada a primeira revolta europeia organizada espontaneamente pelos trabalhadores contra a exploração industrial.

4Autores lidos e criticados por Marx durante a produção da sua teoria revolucionária.

5“O objetivo de tudo isso é tomar completamente o poder e colocá-lo nas mãos da burguesia, para consolidar o poder dos latifundiários no campo, e banhar o país no sangue de trabalhadores e camponeses. A revolta de Kornilov provou para a Rússia o que sempre se prova na história de todos os países: que a burguesia trai seu país e comete qualquer crime para manter seu poder sobre o povo e seus lucros” (LÊNIN, 1917). Eis a visão de Lênin sobre o Kornilov e a situação russa descrita em texto do Projeto de resolução sobre a situação política atual para a reunião plenária do Comitê Central do Partido

REFERÊNCIAS

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 Disponível em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1917/sep/03b.htm. Acesso em: 13 jul. 2025.


1Departamento de História (Licenciatura) – Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

2Docente da Graduação e Pós-Graduação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Departamento de História
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2195-5028
E-mail: marcusbaccega@uol.com.b