REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11194351
Djeine Pinheiro Rodrigues
Josley Maycon de Sousa Nóbrega
Ivana Clotilde Rizzi Advíncula
Girnaldo Morais Braz Junior
Luzia Débora F. L. Barbosa
RESUMO
Este artigo tem como objetivo estudar as relações interpessoais entre gestores e docentes, de forma a discutir quais as principais questões e motivações para os frequentes desentendimentos, entre os segmentos citados, de forma a influenciar negativamente na produtividade do trabalho pedagógico escolar. Aborda a importância do autoconhecimento, da valorização do profissional enquanto pessoa, construtor de uma história de vida, como prerrogativa do bem estar no convívio escolar. Apresenta também as necessidades de aproximação do gestor aos seus liderados de forma a contribuir e aliar a participação docente às suas propostas. Desenvolve um estudo sobre o programa de treinamento de habilidades sociais realizado por Del Prette apresentando competências sociais para o trabalho em grupo, coletivo com o objetivo de ampliar os relacionamentos de forma saudável e produtiva entre docentes e gestores.
Palavras- Chave: relacionamentos, docentes, gestores, educação, habilidades, sociais.
INTRODUÇÃO
“Professores doentes e um mar de atestados na rede.” (Jornal de Brasília, 15/08/2014). De forma clara, a matéria nos mostra que, apenas nos primeiros seis meses do ano letivo de 2014, mais de 16,4 mil atestados médicos foram emitidos por professores da rede pública de ensino do DF. A associação de pais e alunos do Distrito Federal (Aspa) reúne forças para junto à procuradoria do Distrito Federal encontrar o remédio para tal situação, diz a reportagem.
Diante de tanto esforço para encontrar “o remédio”, pouco ou nada se diz sobre a causa, o porquê de tantos atestados emitidos em tão pouco tempo na rede de ensino em questão. A saúde emocional do professor não é levada em consideração muitas vezes pelos gestores, colegas docentes e comunidade escolar. O mar de atestados apresentado como titulo da matéria traz à tona apenas a ponta do iceberg, tendo em vista que não se tem dado a atenção merecida à real
dificuldade que os docentes têm enfrentado: o esgotamento emocional derivado de maus relacionamentos em diferentes variáveis.
Percebe-se que o professor encontra barreiras em sua prática profissional quanto aos relacionamentos, que o impedem de realizar seu trabalho com prazer, por acarretar, muitas vezes, estresse e outras doenças emocionais. A título de exemplo, pode-se citar a síndrome de Bounout. Pouco se fala sobre essa síndrome que acomete profissionais das ciências humanas e que é caracterizada pelo esgotamento e exaustão laboral. Carlotto (2002) fala sobre pesquisas indicando que o estresse e o excesso de cobrança aos professores para demonstrar resultados num espaço de tempo curto, aliado aos relacionamentos maus resolvidos em suas relações cotidianas, aumentam a irritação, a baixa autoestima, a tristeza e o sentimento de incapacidade. Professores sentem necessidade de afirmação de seu valor e valorização de seu trabalho por aqueles com quem convivem e trabalham. A negação desta afirmação pode levar a um descontentamento e a uma frustração consigo mesmo, a ponto do desejo e interesse pela profissão esvair-se.
Os relacionamentos entre docentes e docentes bem como docentes e gestores são os tópicos a serem demonstrados neste trabalho, tendo em vista que são relações de influência no cotidiano escolar e de grande necessidade para o desenvolvimento escolar efetivo e de qualidade.
Este trabalho apresenta uma proposta reflexiva sobre as relações interpessoais e suas implicações no dia-a-dia da escola bem como a sua influência no fazer pedagógico numa fundamentação voltada para os princípios de aquisição de competências sociais para o convívio no trabalho entre os segmentos na escola na visão do docente. Uma reflexão sobre o trabalho coletivo em busca de uma escola e ensino de qualidade.
Os relacionamentos no âmbito escolar
“… a competência interpessoal raramente é relacionada como objetivo de formação profissional, ocorrendo, de forma assistemática, como um subproduto de um processo educativo, por vezes referido como currículo oculto.” ( Del Prette p. 27)
O estabelecimento das relações interpessoais entre gestores/professores, professores/ alunos, gestores/ família, professores/professores tem se mostrado cada vez mais desgastante influenciando diretamente a produtividade e a aquisição
de melhores resultados dentro das escolas. Os conflitos, a hierarquia, os direitos adquiridos e a inobservância dos deveres são pontos a serem observados e que contribuem para esse quadro. Na mesma proporção, ignoram-se os relacionamentos, principalmente entre os docentes, cuja habilidade de relacionar-se deve ser discutida e valorizada para a construção do eu numa perspectiva de trabalho coletivo. As coordenações pedagógicas coletivas, com foco voltado totalmente para o aluno e seus direitos de aprendizagem, em segundo plano a formação pessoal do professor como ser atuante, falível e produto de uma história de vida desconhecida que interfere em seus relacionamentos no meio escolar.
Sendo assim, cabe analisar quais as variáveis determinantes de influência nas relações interpessoais no âmbito escolar.
Relacionamento docentes x docentes
Constantemente ouvimos nos corredores das escolas ou mesmo em conselhos de classe que determinada turma de alunos não aprecia o trabalho coletivo e não sabe como lidar com pontos de vista diferentes, em busca de comum acordo em questões que necessitam da participação coletiva. Nas reuniões coletivas entre professores observamos o mesmo padrão de comportamento. A diversidade de tempo e experiência profissional dos professores faz com que os pensamentos e os métodos sejam contrários e a forma inovadora ou não de se planejar se tornem empecilhos para realização de um trabalho coletivo. Professores com muita experiência profissional, cansados e exaustos por tantos anos de profissão, aguardam o momento de sua almejada e merecida aposentadoria, recusando-se, muitas vezes, a participar de programações escolares que exijam muito de si, enquanto professores com menos tempo profissional esbanjam ideias inovadoras para tais propostas pedagógicas apesar de suas reduzidas experiências.
Desde o magistério, cursos de graduação em pedagogia ou outros de formação do profissional em educação, percebe-se que o trabalho coletivo não é valorizado e incentivado, de modo que em sua formação os professores são acostumados a trabalhar de forma desarticulada e individualizada.
Fusari(1) diz que:
Os cursos de formação de professores (Habilitação para o Magistério, Pedagogia e Licenciaturas) não vivenciam uma proposta pedagógica fruto de um trabalho coletivo dos docentes que atuam nestes cursos. Ironicamente, os futuros educadores escolares aprendem nos próprios cursos de formação como trabalhar de maneira desarticulada e fragmentada, sem uma percepção e um compromisso com a visão de totalidade do currículo escolar. Em outras palavras, a ausência de um trabalho pedagógico interdisciplinar nos próprios cursos de formação contribui para a desarticulação do trabalho na Unidade Escolar. (Fusari, p. 71)
O individualismo e a dificuldade de ceder em aspectos contraditórios ou que fujam à linha de ensino escolhida pelo professor fazem dele um ser sozinho na multidão, levando-o a uma prática pedagógica isolada sem interdisciplinaridade. A concepção da ideia de coletividade é algo que deve ser discutido nas reuniões pedagógicas de forma a apropriar-se desse sentimento. A definição clara de objetivos a serem alcançados com essa coletividade deve ser documentada em uma proposta pedagógica para toda a comunidade escola, como afirma Fusari (1993).
Prette (2001) diz que nenhum trabalho pode ser feito sozinho por completo e que em algumas profissões exige-se pouco contato com o outro tais como o restaurador de obras de artes, um arquivista, mas por outro lado, em outras profissões o contato com o outro é determinante para a realização do oficio. Uma delas é o professor. Podemos deduzir que não existe trabalho coletivo sem a efetiva participação do outro. E o desconhecimento do eu, do outro e o medo de envolver-se em relacionamentos por medo de frustrações anteriores são alguns dos motivos que causam prejuízo ao trabalho coletivo dos docentes.
O desconhecimento do Eu
Goleman (1995) descreve em seu livro inteligência emocional, baseado em Freud e apresentado por alguns psicanalistas, o ego observante, que consiste na capacidade de autoanalise, uma profunda reflexão sobre suas motivações que vociferam em atitudes. O conhecimento de si mesmo e a análise crítica de suas motivações são fundamentais para um bom relacionamento com o outro. Um professor que não percebe ou não compreende sua irritação quando lhe é sugerido algo por outro colega professor sentirá dificuldades para viver de forma apaziguável no trabalho com sentimento de perseguição ou incapacidade aos olhos dos outros. Por outro lado, um professor que vê as suas práticas pedagógicas como corretas e que não necessita de interferência de um outro colega para melhorá-las deve refletir
também sobre sua real motivação.
Pode-se perceber a grande importância do autoconhecimento quando Santos (2002?) descreve a inteligência intrapessoal de Gardner, conceituando-a da seguinte forma:
Significa ter acesso a seus sentimentos e capacidade de discriminar as próprias emoções e facilidade em reconhecer as forças e fraquezas pessoais. Competência para conhecer-se e estar bem consigo mesma, administrando seus sentimentos e emoções a favor de seus projetos. (Santos, pg. 35)
Negar a existência do autoconhecimento e de experienciar esse acesso aos próprios sentimentos e emoções é negar a possibilidade de superar dificuldades emocionais que são facilmente transferidas de forma prejudicial aos relacionamentos com os colegas de trabalho, acarretando, muitas vezes, sérios problemas emocionais e a sua saúde.
Em um situação hipotética pode-se exemplificar a importância do autoconhecimento quando numa reunião pedagógica envolvendo professores e coordenadores uma ideia lançada por um dos professores causa desentendimentos culminando no esfriamento e esquecimento da ideia e um ambiente relacional pouco favorável. Se lançassem mão da ferramenta do autoconhecimento, desenvolvendo a inteligência intrapessoal, perguntas tais como “por que a ideia do colega me incomodou? Estou resistente à ideia ou ao colega? Tenho dificuldades de realizar projetos quando ideias não partem de mim?” fariam diferença no trato com o próximo e provocariam mudanças ajudando de forma considerável na resolução de conflitos. O desconhecimento do outro
Santos [2002?] descreve sobre a inteligência intrapessoal que “Esta
inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal.”(Santos, p. 36)
Partindo desta premissa, julgamos que o sucesso no relacionamento com o outro depende do significativo conhecimento e domínio das próprias emoções. O ser humano torna-se capaz de compreender o outro somente quando consegue conhecer a si mesmo. E no que diz respeito aos relacionamentos entre os professores, deve-se enxergar o outro não apenas como profissional, mas como ser humano também dotado de emoções, talentos, dificuldades, dono de uma trajetória de vida única.
Isaia (2000) aponta a importância de estudos voltados para a vida do professor tendo em vista que o sujeito em questão não é apenas um produto de suas interações com o meio como tem sido difundido. Faz-se necessário o incentivo a uma analise crítica de autoconhecimento, valorizando a historia e trajetória de vida que cada docente apresenta.
Isaia (2000) comenta ainda que a abertura dos professores para uma educação que transforma a nós mesmos, permite a eles uma reflexão sobre a aquisição de uma perspectiva de emancipação do reconhecimento do ser humano acima do ser profissional. Sobre isso, entendemos que a partir de uma compreensão de que cada professor é composto de experiências anteriores e dono de uma história e trajetórias únicas, é possível levar os relacionamentos a um nível de maturidade e de desprendimento de vontades próprias.
Relacionamentos Professores X Gestores
Um dos cargos mais difíceis de ser executado de forma correta e eficiente talvez seja o cargo de gestor. Em qualquer segmento trabalhista, o gestor encontra grandes dificuldades e, por isso, a habilidade de desenvolver suas ações e estratégias seja um indicador importante da participação e envolvimento dos seus liderados.
Maxweel (2007) salienta que geralmente “os seguidores são atraídos por pessoas que são líderes melhores que eles mesmos. Essa é a lei do respeito.”. Percebe-se que só título de gestor não é tão decisivo para a promoção de seguidores quanto à atitude e o exemplo de um líder forte, que angaria adeptos às suas ideias e suas propostas de liderança. Constantemente, vemos no meio escolar coordenadores pedagógicos ou até mesmo professores que têm postura e força de liderança mais perceptível do que o próprio gestor. Estes gestores em potencial naturalmente desviam a atenção do gestor escolar para si mesmos adquirindo seus próprios seguidores. O gestor que compreende e reconhece a existência de outros líderes em seu grupo, fazendo com que estes sejam seus aliados, terá uma gestão pessoal, de maior participação e cooperação de seus liderados. Maxwell confirma quando comenta que “Quanto mais capacidade de liderança a pessoa tem, mais rapidamente reconhece a liderança ou a ausência dela nos outros.” (p.95).
No ambiente escolar, percebemos gestores e professores com dificuldades para relacionar-se de forma a efetivar o trabalho pedagógico, porque como diz Maxweel “as pessoas de início não seguem causas merecedoras, mas seguem líderes merecedores que defendam as causas nas quais possam acreditar. As pessoas primeiro compram o líder e, depois, a visão do líder. Compreender isso muda toda a abordagem de como liderar pessoas.”. (p.191)
Quando o gestor escolar não é bem aceito pelos professores, que são o maior segmento do corpo docente, inicia-se um conflito de interesses e prejudica o alcance de bons resultados nos projetos pedagógicos. O gestor encontrará bastante dificuldade para implementar suas ideias e adquirir adeptos se não for um líder que tenha características específicas que atraiam os professores. Diante disso, pode-se perceber escolas com planejamentos desarticulados, apontando para várias direções, porém sem convergirem.
Maxweel (2007) propõe uma estratégia chamada de lei da conexão que deve ser de inciativa do gestor para com seus liderados. De acordo como o escritor, o líder necessita conectar-se às pessoas, tocar-lhes o coração, ligar-se a elas na esfera emocional, antes de “pedir uma mãozinha”.
“você cria credibilidade com as pessoas quando se liga a elas e mostra que realmente se interessa e quer ajudá-las. Como resultado, elas normalmente reagem do mesmo jeito e querem ajudar você. (Maxweel, p.137)
Esta credibilidade a que o escritor se refere é a ferramenta mais importante de que gestor necessita lançar mão para conquista dos professores. Professores se relacionam melhor com gestores que demonstram interesse e que se importam com suas dificuldades, com seu dia-a-dia, com sua história de vida. Quando o gestor oferece confiabilidade aos professores está trazendo para si mesmo seguidores que apostam e acreditam em seu trabalho. Constantemente, vemos professores que pela dificuldade de se relacionar com os gestores sentem-se perseguidos, incompreendidos, resultando em doenças profissionais, necessidade de atestado médicos e, em consequência, prejuízo aos alunos. Relacionar-se com o outro que está em posição diferente da sua não é tarefa fácil, mas torna-se uma oportunidade de se ajustar como indivíduo na sociedade. Habilidades sociais para gestores e docentes
Del Prette (2001) desenvolve um estudo sobre o que ele chama de Programa de Treinamento de Habilidades Sociais. Descreve sobre 7 habilidades a serem desenvolvidas com o objetivo de aprimorar as relações com o outro. São elas: automonitoramento, sociais de comunicação, sociais de civilidade, sociais assertivas de enfrentamento: cidadania, sociais empáticas, sociais de trabalho e sociais de expressão de sentimento positivo. Tais habilidades podem ser de grande utilidade para docentes e gestores que apreciam a importância do trabalho coletivo no meio escolar como consequência de bons relacionamentos.
O automonitoramento,que apesar de diferentes interpretações na literatura da psicologia, é entendido por ele como:
Considerando as interações com o ambiente social, podemos conceber o automonitoramento como uma habilidade metacognitiva e afetivo-comportamental pela qual a pessoa observa, descreve, interpreta e regula seus pensamentos, sentimentos e comportamentos em situações sociais. (Prette, p.62.)
Nesta perspectiva, pessoas com dificuldade em apropriar-se do automonitoramento tendem a ser impulsivas e automáticas em suas respostas e ações. Muitas dessas atitudes são acompanhadas de raiva, demonstrando uma tomada de atitude impensada. O autor em seu estudo apresenta alguns requisitos para o desenvolvimento de tal habilidade sendo estes: controle da impulsividade, observação do outro, introspecção e reflexão. É estar consciente de suas emoções que geram reações. O desenvolvimento das habilidades de automonitoramento possibilitam para indivíduo:
Melhora no reconhecimento das emoções próprias e do outro; experiência direta da relação emoção – pensamento – comportamento; maior probabilidade de sucesso no enfrentamento de situações complexas; análise e compreensão mais acuradas dos relacionamentos, melhora na autoestima e na autoconfiança; ajuda a outras pessoas na solução de problemas interpessoais. (Prette, p.63)
As habilidades sociais de comunicação partem de uma premissa de que o mundo não vive sem comunicação. O nosso corpo, por exemplo, é uma cadeia de informações controladas pelo cérebro. Não vivemos sem nos comunicar, seja de forma verbal ou não verbal. Na habilidade de comunicação social, Prette( 2001) expõe que o interesse de estudo e de aquisição não é da comunicação em geral,
como um todo, mas no sentido do contato com o outro, que desenvolve outras habilidades como as de terminar uma conversação, fazer e responder perguntas, gratificar, elogiar e receber feedback. Como feedback é um instrumento que muitos educadores utilizam como estratégia de ensino-aprendizagem, é importante enquanto gestores e docentes entender:
A dificuldade em dar e receber feedback pode acontecer devido a vários fatores, inclusive a ausência de uma prática cultural. Uma das maiores dificuldades em receber feedback está relacionada ao excesso de defensividade que, por seu turno, revela medo da perda de autoestima e status adquiridos. O feedback não deve, no entanto, ser utilizado como recurso punitivo nem como comunicação unilateral. Entre as dificuldades para apresentar o feedback estão a incapacidade de compreender as necessidades do outro, a falha em observar e/ou descrever o comportamento e a pretensão do uso do feedback como forma de exercício de poder. (Prette, p.70)
Gestores e docentes podem aproveitar essa ferramenta como um fator importante na construção de um relacionamento saudável. Aliado ao automonitoramento, o desenvolvimento de habilidade de receber um feedback regula o desempenho das relações sociais. Embora a cultura enfatize o feedback como forma negativa, sugere-se a substituição por um feedback positivo com o objetivo de evitar, ressentimentos, rancores e constrangimentos.
Sobre as habilidades sociais de civilidade pode-se destacar que:
São os desempenhos que, juntamente com algumas habilidades de comunicação, expressam cortesia e incluem, entre outras, as habilidades de apresenta-se, cumprimentar, despedir-se e agradecer, utilizando formas delicadas de conversação (por favor, obrigado, desculpe). (Prette, p.72.)
Partindo dessa premissa, esta habilidade é a aplicação dos ditos bons modos ou bons costumes que se aprende na infância e que com o decorrer do tempo e com as insatisfações da vida vão se perdendo. A ausência de habilidades de civilidade demonstra muitas vezes uma insatisfação com a própria vida ou apresentam-se de acordo com a variação do humor do indivíduo.
Habilidades sociais assertivas de enfretamento: direito e cidadania são fundamentadas em três artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), que tem o Brasil como um dos seus signatários. Prette (2001) utiliza os
artigos 6, 18 e 19, os quais garantem a liberdade de pensamento, consciência e religião, liberdade de expressão e opinião e reconhecimento, em todos os lugares, da pessoa humana diante da lei. Quando existe violação ou não cumprimento desses direitos nas relações entre os indivíduos, é necessário enfrentamento da situação de forma a fazer valer tal benefício. O que esta habilidade promove é a assertividade em tal enfretamento.
As divergências devem ser enfrentadas dentro dos princípios do direito à liberdade de expressão e do respeito às diferentes opiniões. Não se trata, nesse caso, de convencer o outro ou desqualificá-lo, mas de apresentar as ideias sustentando-as, sempre que possível, com fatos, acontecimentos e referências, dando a ele a oportunidade de fazer o mesmo. (Prette, p.77)
As habilidades sociais empáticas talvez sejam uma das habilidades de maior complexidade e controle emocional-afetivo do ser humano. Prette(2001) apresenta a empatia em três esferas, a saber: cognitivo, afetivo e comportamental e define a empatia:
como a capacidade de compreender e sentir o que alguém pensa e sente em uma situação de demanda afetiva, comunicando-lhe adequadamente tal compreensão e sentimento. (Prette, p.86)
Um ato de empatia recebido auxilia o outro, confortando- o em uma situação difícil e este se sente apoiado em alguma necessidade vivida. Gestores e docentes, muitas vezes, apresentam dificuldades em enxergar no outro essas necessidades de empatia, pois essas requerem um olhar apurado e preciso das manifestações emocionais do outro. É deixar aflorar o lado afetivo e humano. A comunicação de compreensão na fala do autor torna esta habilidade um pouco mais difícil, pois comunicar compreensão a alguém com alguma necessidade emocional, se realizada de forma inadequada, pode comprometer o relacionamento.
As habilidades sociais profissionais são aquelas que atendem às diferentes demandas interpessoais do ambiente de trabalho objetivando o cumprimento de metas, a preservação
do bem-estar da equipe e o respeito aos direitos de cada um. (Prette, p. 89)
Como dito no início deste trabalho, pouco se fala nas instituições sobre competências ou habilidades de relacionar-se com o outro. Sabe-se, pois, que valorizar tais competências aumenta a produtividade e o prazer dos funcionários por sua ocupação.
Para haver um negócio saudável e próspero devem existir relacionamentos saudáveis entre os responsáveis pela organização. (Hunter, p. 32)
O desenvolvimento das habilidades sociais profissionais não exclui as habilidades anteriores, mas agrega, segundo Prette, (2001), quatro outras habilidades: coordenar grupo, falar em público, resolver problemas, mediar conflitos/tomar decisões e habilidades sociais educativas.
A última das habilidades no programa de Treinamento de Habilidades Sociais (THS) é a social de expressão de sentimento positivo. Esta, por sua vez, referese aos valores, sentimentos e ações das pessoas e que requerem coerência entre sentimento, pensamento e ação. Resume-se em fazer amizades, demonstrar solidariedade e cultivar o amor.
Na educação para o amor, é importante desenvolver a sensibilidade, a autoescuta dos próprios sentimentos, a disponibilidade e preocupação com o outro, bem como formas variadas de expressão de carinho. As experiências com os programas de THS vêm mostrando que o desenvolvimento da sensibilidade e das formas de expressão de amor acontece como produtos paralelos da experiência dos grupos, com os participantes tornando-se mais afetivos entre si e com as demais pessoas com quem se relacionam. (Prette, p.101)
O cultivo destas expressões leva o indivíduo a um grau de maturidade e desenvolvimento pessoal elevado, pois cultivar o amor, fazer amizades, demonstrar solidariedade promove no ser humano desprendimento de si mesmo, das suas causas e questões pessoais para dar atenção ao outro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A procura e o investimento em relacionamentos de qualidade entre gestores e docentes de forma a melhorar a produtividade no âmbito escolar não eximem cada segmento de suas responsabilidades e funções. Compreensão e cultivo do amor não substitui a realização do que é proposto ao indivíduo, porém doses de sensibilidade, gentileza e cortesia podem sim erguer um gestor desanimado, um docente desacreditado de forma a continuar seu trabalho com primazia.
Gestores e docentes precisam encarar as habilidades de relacionar-se bem como um objetivo a ser perseguido. É necessária uma disposição interior para aprender como funcionam as interações sociais, tendo em vista uma cultura onde questões emocionais são resultados de fraqueza e demonstração de vulnerabilidade. É necessário enxergar no outro o que anseio que enxerguem em mim. Isso também é um caminho de aprendizagem, erros e conquistas. E como diz Rubem Alves:
“Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. O ato de ver não é coisa natural, precisa ser aprendido!”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionário que redefine o que é ser inteligente. Objetiva. Rio de Janeiro. 1995.
HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Sextante. Rio de Janeiro. 2009.
ISAIA, Silvia. Professor universitário no contexto de suas trajetórias como pessoa e profissional. In: MOROSINI, Marília et al. (orgs.) Professor do Ensino
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MAXWELL, Jonh C. As 21 irrefutáveis leis da liderança: uma receita comprovada para desenvolver o líder que existe em você. Thomas Nelson Brasil. Rio de Janeiro. 2007.
Professores doentes e um mar de atestado na rede pública. Brasília. 2014. Disponível em:http://www.jornaldebrasilia.com.br/noticias/cidades/566882/professores-doentes-e-um-marde-atestados-na-rede-publica/
SANTOS DOS, Rosângela Pires. Inteligências múltiplas e aprendizagem. Ieditora.São Paulo. [2002?]