REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7704690
José de Lourdes Soares Guida1
Orientador: Francisco Erlon Barros2
RESUMO
A presente investigação, que versa sobre o tema “artesanato tradicional de crochês e bordados”, surge de inquietações sobre os reais riscos de desaparecimento desta atividade. Dessa forma, seu objetivo é analisar a importância histórica, cultural e econômica do artesanato tradicional do crochê e bordado, buscando alternativas que possam contribuir para sua valorização e preservação. Para tanto, utilizou-se o método de pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso. O lócus escolhido para inquirição empírica foi a Associação de Mulheres Agulha Criativa (AMAC), na cidade de São João dos Patos – Maranhão, conhecida popularmente como a capital dos bordados. Como técnica de coleta de dados, utilizou-se entrevistas semiestruturadas com oito artesãs associadas a AMAC, além de anotações das observações em campo e registros fotográficos. Constatou-se que o “crochê” é uma atividade secundária em relação a predominância do bordado “ponto cruz”. Esta técnica existe há bastante tempo no município, atravessando gerações, sendo a principal fonte de renda de muitas famílias. Todavia, atualmente, vem sofrendo ameaças de extinção: a) pela concorrência desleal da indústria; b) pela falta de interesse das novas gerações e, sobretudo, c) pelo pequeno apoio do poder público. Apesar ter sido verificado o empenho e luta incessante da AMAC em manter essas atividades artesanais, faz-se necessário uma união de esforços para salvar esse patrimônio histórico, cultural e econômico que, acima de tudo, é uma alternativa viável de geração de renda, com grande potencial a ser empregado na melhoria da qualidade de vida dos potoenses.
Palavras-chave: Artesanato tradicional. Crochês e bordados. Importância histórica, cultural e econômica.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar a importância do artesanato produzido pela Associação de Mulheres Agulha Criativa (AMAC) para a economia das famílias, bem como essa tradição vem sendo mantida viva em São João dos Patos- MA. Promover assim, através desse estudo, um resgate histórico das atividades desenvolvidas dentro dessa instituição, não só como valor de capital de giro local, mas de valor sentimental, histórico e cultural. Para isso, é preciso compreender o processo de formalização e organização das artesãs dentro da AMAC e verificar o que está sendo feito no sentido de preservação dessa atividade diante das dificuldades existentes e perante a concorrência com produtos industrializados, de qualidades inferiores e preços mais acessíveis. A AMAC tem como produto principal o ponto cruz tradicional (que é o bordado com várias cores, feito em formato de cruz com linha sobre o tecido, geralmente, de linho), mas também produz vários produtos de crochê, como blusas, saias, tapetes, bolsas, almofadas, dentre outros. Na AMAC, as mulheres também tecem redes, além de reciclarem sobras de tecidos, criando inúmeros produtos e produzindo peças de retalho e fuxico.
O interesse pela temática “bordados artesanais”, inicialmente, surgiu em decorrência das lembranças do meu convívio durante a infância e adolescência com artesãs de tecelagens e bordados, através de minha avó, mãe e irmãs, que lidavam diariamente com essa arte e que, já me despertavam fascínio pela realização de pesquisas em trabalhos científicos voltados para a compreensão dos artesanatos de bordados. E, posteriormente, ao refletir sobre o que poderia ser desenvolvido no meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do Curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Piauí (UFPI) que, não tive dúvidas, queria aprofundar o conhecimento sobre este tema e, assim, buscar algumas contribuições para manter a tradição artesanal do bordado, em um mundo onde a modernização torna a concorrência desleal entre produtos industrializados e artesanais, em desfavor destes. E ainda, havia tido contato com o trabalho das bordadeiras da AMAC de São João dos Patos, que utilizam o método tradicional de bordado ponto cruz, ou seja, também teria um lócus para a realização da pesquisa garantido.
A relevância da temática em questão se dá pelo fato desse trabalho ser considerado arte utilitária e de luxo, e por ser passado de geração em geração, podendo desaparecer em um mundo totalmente moderno, fazendo-se necessário o registro através de documentos escritos e fotográficos que contribuam para a manutenção dessa técnica.
ELEMENTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS ACERCA DO ARTESANATO
Considerado uma das manifestações da cultura popular, o artesanato, pode ser definido como “um complexo de atividades de natureza manual, através das quais o homem manifesta a criatividade espontânea” (PEREIRA, 1979, p.21). Normalmente, as técnicas artesanais são repassadas de geração em geração, ensinada aos mais novos pelos mais velhos, como também confirma o que um seja artesanato o autor a seguir.
Aquele confeccionado por artesãos seja totalmente à mão, com o uso de ferramentas ou até mesmo por meios mecânicos, desde que a contribuição direta manual do artesão permaneça como componente mais substancial do produto acabado. Essas peças são produzidas sem restrição em termos de quantidade e com o uso de matérias primas de recursos sustentáveis. A natureza especial dos produtos artesanais deriva de suas características distintas, que podem ser utilitárias, estéticas, artísticas, criativas, de caráter cultural e simbólicas e significativas do ponto de vista social. (BORGES, 2011)
Não é possível precisar a data exata de quando o artesanato surge, todavia, Seraine (2009) destaca que sua origem deve ser a mesma da própria existência do homem primitivo, a partir do momento em que desenvolve saberes com a utilização dos elementos da natureza para confeccionar objetos úteis ao seu cotidiano (mais ou menos em 6000 a.C.) a partir do desenvolvimento de técnicas para lascar e polir a pedra, produzir cerâmica e tecelagem que se transformavam em objetos úteis ao seu cotidiano, como ferramentas de guerra e trabalho, utensílios domésticos, vestes e adereços.
Como nos descreve Laraia (2011), “Tudo que é útil se difunde com uma extrema rapidez no mundo”, o artesanato mesmo já existindo na arte indígena no Brasil um pais rico em diversidade cultural devido à miscigenação de vários imigrantes que junto com eles trouxeram não só seus costumes, mas também seus artesanatos.
[…] No Brasil, o artesanato também surgiu neste período. Os índios foram os mais antigos artesãos. Eles utilizavam a arte da pintura, usando pigmentos naturais, a cestaria e a cerâmica, sem esquecer a arte plumária com os cocares, tangas e outras peças de vestuário feitos com penas e plumas de aves. (ILLUSTRATUS, 2010 ).
O Nordeste por ter muitas cidades turísticas tem grande relevância no artesanato que gera a economia e é uma das principais fontes de renda para muitas famílias e predominam vários tipos de artesanatos como: redes tecidas e, às vezes, bordadas com muitos detalhes, os produtos feitos em argila, palha e madeira (por exemplo, da carnaúba, árvore típica do sertão), além das rendas, que ganharam destaque no artesanato cearense, outro destaque são as garrafas com imagens feitas manualmente em areia colorida, um artigo produzido para ser vendido para os turistas.
No Maranhão, destaca-se artesanatos feitos da fibra do buriti (palmeira), assim como artesanatos e produtos do babaçu (palmeira nativa do Maranhão). São João dos Patos não é uma cidade turística mas dispõe de um artesanato que move a economia local. A atividade teve seu impulso na década de 1970 quando as duas indústrias de pequeno porte que existiam na época: de algodão e extração do azeite do babaçu finalizaram suas atividades.
Nesse período, o artesanato que antes era produzido apenas para uso doméstico – as moças que iam casar preparavam seu próprio enxoval com ajuda das mulheres da família -, aos poucos, começa a ser uma fonte de renda, ampliando a quantidade de produção e expandindo a procura e oferta para outras cidades, dando à cidade de São João dos Patos o título de “Capital dos Bordados”, a partir de então, as bordadeiras, crocheteiras, rendeiras e tecelãs começaram a contribuir com o sustento da família ajudando seus maridos, que na maioria das vezes eram lavradores.
Quanto à origem ponto cruz, também remonta sua origem logo na pré-história, quando o homem ainda vivia nas cavernas e usavam essa técnica para costurar suas vestimentas, sendo assim, podemos afirmar com base em tal informações que essa técnica é tão antiga quanto o surgimento da humanidade como o descrito abaixo:
A historia do bordado origina-se com o bordado ponto cruz, cujos registros históricos remontam na pré-história. No tempo em que os homens moravam em cavernas, o ponto cruz era usado na costura das vestes, feitas de peles de animais. As agulhas eram feitas de ossos e no lugar das linhas eram usadas tripas de animais ou fibras vegetais. (REBOUÇAS, 2009, ).
[…] Existem relatos de que o bordado seja tão antigo quanto a humanidade e de que o bordado com aplicações já era apreciado pelo homem há 30 mil a.C. A base disso seria um fóssil, encontrado na Rússia, que tinha as vestes adornadas com grânulos de marfim. (Idem, )
Existem dois modelos de bordado: ponto cruz tradicional e ponto cruz em cores (design), onde a diferença entre esses dois modelos de bordado está justamente na harmonia das cores, porque o bordado tradicional utiliza várias tonalidades de linhas para realizar um mesmo motivo3, chegando em alguns momentos para se fazer um único ramo levar treze cores diferentes. O acabamento também aumenta o grau de dificuldade e quantidade de tempo. Tendo que ser de sete a oito carreirinhas de crochê. Já o bordado em cores, desenvolvido a partir de um olho de design, é produzido com apenas uma linha ou no máximo duas linhas tom sobre tom, facilitando também o acabamento simples com no máximo duas carreiras de crochê ou mesmo só com a bainha virada facilitando assim o tempo de fabricação e também tornando se mais barato que o bardado tradicional sendo assim “Conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo, representativo de suas tradições, porém incorporados à sua vida cotidiana” (SEBRAE, 2014).
Não se sabe propriamente como esse artesanato surgiu mais segundo citado por Luísa N. (2014,):
As primeiras evidências do uso extensivo da técnica surgiram na Europa, durante o século 19. A primeira referência escrita apareceu no livro “The Memoirs of a Highland Lady” de Elizabeth Grant (1812), e as primeiras receitas de pontos foram publicadas em uma revista holandesa em 1824.
A palavra croké significa “crochê” e originou-se na França no período medieval, que constitui um utensílio de ferro com curvatura em forma de gancho, para suspender ou segurar a matéria prima do crochê (VEGNE, 2011). Essa arte também foi difundida na nossa cultura e quanto a sua origem existe muitas teorias que tentam explica-la:
[…] Existem três teorias principais para a origem do crochê. Alguns crêem que seja proveniente das Arábias chegando à Europa via oeste na Espanha, e difundido para outros países mediterrâneos a través da rota de comércio dos árabes. Alternativamente, acredita-se que seja proveniente da América do Sul, onde tribos primitivas do Peru o empregava em ornamentos para ritos de passagem. Outra teoria é de que tenha surgido na China, onde foram encontradas bonecas muito antigas trabalhadas em crochê, e difundido através da Rota da Seda. (MACHADO,2017 )
Então podemos dizer que esse artesanato como muitos outros tem sua origem junto com homem primitivo, e que com o passar da historia ele vem se aprimorando cada vez mais.
O fuxico não tem uma origem especifica mais é uma arte popular bem difundida no Brasil, quando e onde se originou não pode se dizer bem certo, mas que caiu no gosto popular isso é uma certeza. Há Blogs e Site onde seus editores citam que: “o fuxico tem sua origem no tempo da escravidão quando as escravas usavam pequeno pedaço de tecidos para fazer enfeites para cabeça”. O que se pode observar que a arte é mais conhecida nas cidades pequenas ondes as mulheres costumam sentar nas portas e produzir as pequenas peças que depois vão ser juntadas para confeccionar outra peça seja ela uma colcha de cama, bolsas e saias.
O fuxico esteve associado à classe social de baixa renda e/ou comunidades rurais. De uma década para cá, com o surgimento da customização e a introdução de novas técnicas artesanais na moda e na decoração é que ele começou a ser mais valorizado. (SANTANA, 2004, )
Pode então afirmar que esse artesanato ganhou um impulso para seu reconhecimento quando os olhares dos renomados estilista voltaram para ela como uma peça que poderia ser usado na moda,
A rede de dormir pode ter no seu significado duas definições: a dos índios que a chamavam de Ini e a de Pero vaz de Caminho que quando viu a primeira vez nas terras onde é o Brasil a descreveu da seguinte forma: “[…] tijnham de dentro mujtos esteos e de steo a esteo huűa Rede atada pelos cabos ë ca da esteo altas em que dormjam”. (CAMINHO, 1500, p.09 ) deu outro nome na carta escrita a Dom João VI onde ele fez uma comparação da rede encontrada com povos que aqui já viviam com a semelhança com a rede de pescar, por isso, chamou-a de rede de dormir.Mais a rede só foi popularizada a partir da colonização do Brasil no século XVI com a chegada de portugueses, franceses holandeses e alemães. Já no século XVII a rede já tinha outra função que era transporte urbano imitando as famosas cadeirinhas em que os escravos transportavam os mortos ou doentes em todo período colonial e que permaneceu também no século XX e XXI.
No Brasil, o hábito de se deitar em uma rede é muito apreciado, mas esse hábito é mais comum no Norte e Nordeste, fato atribuído ao clima quente da região. Mas segundo Corsino (2011), “no início, a rede era produzida pelos indígenas, as diferenças iam desde o material, até a maneira de produzir”. Já na AMAC, como pude observar, as redes são feitas de duas formas: a) usando o método tradicional, onde produz a lona no tear primeiro instrumento usado na fabricação da lona, em seguida, faz-se as tranças aqui usa se os dedos, depois o mamucabu usa se o pente nesse processo precisa de duas pessoas, mas também se faz individualmente com o lice, já os punhos que compõe essa peça é feita no carretel, sendo usado dois pares medindo-se a distância, na sequência, produz-se os punhos, assim sendo, esse método ocupa mais tempo para confeccionar uma rede. Já o b) método moderno, feito de lona sol-a-sol como se quase toda a matéria prima geralmente se faz de forma artesanal apenas os labirintos ou varandas como são conhecidos também assim, por isso, esse modelo de produção não é considerado como uma forma artesanal.
Então surge assim na AMAC, uma nova maneira de trabalhar onde as artesãs fazem uso das máquinas para produzir parte dos seus trabalhos, pois estamos uma sociedade que criou com as inovações tecnológica uma maneira de produzir um artesanato aparte da ajuda da tecnologia. Esse modelo de se produzir artesanato vem junto com a modernização que a sociedade vem passando por um período que podemos chamar de comteporâniedade “[…] um conjunto de transformações socioeconómicas que vêm atravessando as sociedades contemporâneas em todos os cantos do mundo” (CAMPOS; CANAVEZES, 2007, p. 5), assim então AMAC precisa agregar dentro destes padrões impostos pela sociedade para se manter ativa.
O bordado industrial como o próprio nome já diz é dirigido à indústria da confecção. Com máquinas que produzem múltiplos bordados iguais ao mesmo tempo. Essas máquinas são encontradas em grandes confecções ou empresas de bordados que normalmente prestam serviços somente para clientes com grandes produções. (REBOUÇAS, 2017)
No caso da AMAC, as artesãs utilizam máquinas tradicionais na confecção dos seus bordados como a máquina Singer com pedal, a qual é manuseada com o pé. Fato que prolonga o tempo de produção e consequentemente a demanda dos produtos. Atualmente as artesãs tem como projeto a compra de máquinas industriais como nos relata a presidente: “A questão das máquinas que a gente tá com o projeto pra comprar aqui para a AMAC, são as máquinas de fazer bordado industrial”. A mesma falou ainda do objetivo da aquisição dessas máquinas:
Porque que a gente tá com esse projeto? Por que a utilização das máquinas tradicionais leva muito tempo para ser feito, além de possuir qualidade inferior. E essas máquinas industriais vão facilitar nosso trabalho, vão agilizar nosso trabalho, aumentar a produção, e melhorar a qualidade do produto.
Desde momento a AMAC, mesmo tendo como marco principal o bordado tradicional mais precisa se adequar com novos modelos de confeccionar seus produtos para poder alcançar todos os grupos sociais interno como externo. Mais sempre com a preocupação de que todos seus bordados tenha uma qualidade diferencial mesmo sendo industrial.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O método de pesquisa qualitativa foi o adotado para esta investigação. Segundo Maanen (1979, p.520) “a pesquisa qualitativa tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre indicador e indicado, entre teoria e dados, entre contexto e ação”. O tipo de pesquisa qualitativa escolhido foi o estudo de caso. Para Yin (2001, p.32), o estudo de caso é “uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é clara e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas”. Já Goldenberg (2004, p.103) afirma que:
O estudo de caso não é uma técnica específica, mas uma análise holística, a mais completa possível que considera a unidade social estudada como um todo, seja um indivíduo, uma família, uma instituição ou uma comunidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos.
O local escolhido para a realização deste estudo de caso foi a Associação de Mulheres Agulha Criativa (AMAC), fundada em 28 de agosto de 1992, pelas irmãs de São José de Chambéry e que está localizada na Rua Bela, Bairro Açudinho, s/n, na cidade de São João dos Patos, conhecida popularmente como a capital dos bordados do Maranhão, por onde passam as BRs 135 e 230 que ligam as cidades de São Luís, Maranhão a Floriano, Piauí e o Estado do Tocantins, interligando com a BR 010, situada à 540 km da capital São Luís, na microrregião das chapadas do alto Itapecuru, tendo como acidente geográfico importante, a Serra dos Dois Irmãos e Rio Parnaíba. Segundo Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) a cidade apresenta população de 24.928 habitantes e unidade territorial de 1.482,661 km2.
Como técnica de coleta de dados, empregou-se a observação direta em algumas casas das artesãs, instrumento que:
[…] permite que o observador chegue mais perto da “perspectiva dos sujeitos”, um importante alvo nas abordagens qualitativas. Na medida em que o observador acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos, pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, o significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações. (LÜDKE & ANDRÉ, 2014, p.31).
E ainda, a realização de entrevistas, com roteiro de perguntas semiestruturado.
A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a capacitação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos. Uma entrevista benfeita pode permitir o tratamento de assuntos de natureza estritamente pessoal e íntima, assim como temas de natureza complexa e de escolhas nitidamente individuais. (Idem, p.39)
Quanto aos sujeitos da pesquisa, 8 (oito) artesãs associadas a AMAC foram indicadas pela presidente desta entidade, sendo que todas elas atenderam a solicitação prontamente, ou seja, atingimos 100% (cem por cento) das associadas, uma vez que atualmente a AMAC conta apenas com 8 artesãs sócias. Em relação a identidade dos sujeitos entrevistados – apesar de não estarem submetidos a situações ilícitas, nem degradantes, nem a constrangimentos, nem de qualquer forma de sofrimento – , optou-se por protegê-los no anonimato. Sendo assim, os nomes das artesãs que aparecem neste trabalho são fictícios. As entrevistas foram gravadas primeiro para dar mais liberdade para as entrevistadas e assim fluir, ao mesmo tempo, novos questionamentos no decorrer da ação para obter um material mais sólidos e também com intenção de explora os dados coletados mais tarde.
Esta pesquisa de campo com perguntas semiestruturas se caracteriza também por ser uma abordagem descritiva, uma vez que (MANNING,1979,p. 668) diz que “ o trabalho de discrição tem um caráter fundamental em um estudo qualitativo, pois é por meio dele que os dados são coletados “.
As investigações ocorreram no primeiro momento de forma direta, tendo um contato com ambiente de trabalho, tanto na associação como também nas casas das artesãs, por que só assim teríamos uma intepretação de dados, com maior clareza.
Os dados qualitativos foram analisados com base nas interpretações das observações realizadas no local da pesquisa e do relatório das entrevistadas. Segundo Flick (2009,p.276) “a interpretação de dados é a essência da pesquisa qualitativa”. Por isso a importância de vivencias cada momento, observando sempre cada detalhe tanto do espaço físico como do cotidiano delas. Além das observações e intepretação das falas também agregamos o registro fotográfico.
Assim sendo tinha que manter discreto para observar principalmente como a associação tem contribuído na manutenção de um trabalho tradicional tão antigo e ao mesmo tempo atual onde se percebeu que para se manter dentro do mercado do artesanato, contribuir socioeconômica e culturalmente, e movimentar a economia local. O pesquisador sempre mantendo a ética e tentando não mudar a rotina das mesmas para ser extraído maior número de informações possíveis e, assim, alcançado o resultado esperado, como passaremos a apresentar.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Segundo relatos vivenciados durante as visitas, descobrimos que a Associação de Mulheres Agulha Criativa (AMAC):
Teve seu início na década de 1990 com a chegada das Irmãs da Congregação São José de Chambéry em São João dos Patos, Maranhão. As fundadoras foram: Amelie Cigolie, Zelinda Barazetti, Hilda Maria Riva Marinice Silva Guimarães e Rosália Favero, esta vem até hoje ajudando as associadas. (Fala da presidente. Fonte: questionário)
As irmãs afirmam que quando ali chegaram viram que as mulheres trabalhavam muito com o artesanato, no entanto, ganhavam muito pouco por causa dos atravessadores. Após realizar pesquisa sobre o potencial de lucro que as artesãs estavam perdendo, as irmãs propuseram que as mulheres se unissem para valorizar os seus trabalhos e, consequentemente, aumentar os seus ganhos, surgindo a ideia de uma associação. Dessa forma, as irmãs realizaram várias reuniões preparatórias para a formalização de uma entidade das artesãs, até que a Associação de Mulheres Agulha Criativa (AMAC) foi fundada no dia 01 de outubro de 1992.
Foto 01: Fachada da AMAC
A diretoria da AMAC é formada por uma Presidente, Vice-Presidente e outra responsável do conselho fiscal. A AMAC contava inicialmente com 22 (vinte e duas) mulheres associadas por ocasião de sua fundação, todavia, ao longo do tempo esse número foi diminuindo e, atualmente, tem apenas 8 (oito) artesãs associadas, segundo relato das artesã essa desistência se dar pelo fato da falta de incentivo do poder público para a valorização dos objetos produzido por elas.
As associadas da AMAC são mulheres baixa renda, na sua maioria buscando uma qualidade de vida melhor através do artesanato, muitas delas possuem apenas ensino fundamental menor, exceto, a presidente que é pedagoga e professora da rede municipal de educação. Elas procuram a AMAC para conseguir um preço melhor em seus produtos e assim evitando atravessadores e pessoas que encomendam os bordados e crochês, depois vão vender fora por um preço bem mais alto. As mesmas se aproximaram da AMAC ou através de indicação de amigas ou elas mesmas foram por conta própria em busca de apoio para aumentar a renda familiar.
As artesãs da AMAC trabalham em casa e se reúnem na associação as quintas feiras. Reforçando o caráter organizacional das artesãs pobres que eram exploradas comercialmente, observemos a fala da artesã Lúcia:
[…] foco que associação sempre teve um olhar para essas famílias mais carentes para poder está promovendo a inclusão delas no mercado de trabalho para elas terem uma renda melhor para poder ter uma vida de qualidade. (Lúcia)
No entanto, para muitas das associadas, a AMAC além de ser uma instituição de ajuda financeira para as artesãs, tem também uma função social, pois é um local de acolhimento para cada mulher que precisa de uma atenção espiritual e emocional, ou seja, funciona como um grupo de oração e autoajuda que proporciona a cada artesã ali atendida encontrar ajuda para superar as dificuldades do dia-dia.
Foto 02: Bíblia exposta na sede da AMAC
As reuniões da AMAC cria um clima mais tranquilo e amoroso para a produção artesanal, assim nos conta a vice-presidente:
Tinha o foco da amizade, nós mantinha uma com a outra, a gente tinha aquela união toda as quintas-feiras nós tinha as leituras bíblicas aí foi uma coisa que para mim mesmo foi muito boa, pois não vou mentir, pois quando eu cheguei lá eu não sabia nem procurar uma leitura e hoje eu já sei através de lá.
O relatado acima revela que os encontros acontecem não apenas com foco na produção do artesanato, mas proporciona, nos momentos de partilha e reflexão do grupo, subsídios para o crescimento espiritual e emocional das artesãs. A AMAC é também um espaço para fortalecerem os laços de amizade, dando um significado de vida para cada mulher que faz parte desse grupo. Para isso, criaram uma rotina que, segundo relatos, se tornou muito especial para cada uma, como se observa no testemunho da Bia:
Toda quinta-feira as oito horas, já esperava a irmã, se ela não fosse, mais a presidente ou eu como a vice, já começa aquele circulo de oração. Toda quinta-feira tinha o dia daquela pessoa, uma de nós lia e explicava ai tinha aquela reunião que a gente fazia, tinha que ter aquela reunião né? Cada qual falava o que achava e o sentido que significa aquela leitura pra gente era bom. Dia de quinta-feira era sagrada pra gente, eu aprendi demais lá, hoje eu agradece muitas coisa assim, quando eu cheguei lá não sabia nem procurar uma leitura e hoje eu já sei ler um pouco, já explico para meus filhos e aprende, pois quando cheguei lá era muito estressada pois não lia uma Bíblia. (Bia)
A AMAC enquanto uma associação, não é diferente de qualquer instituição existente na sociedade atual, nela se encontra uma diversidade de pensamentos, para evitar conflitos e facilitar sua organização e divisão dos pedidos, foram criadas regras de funcionamento, através do regimento interno, elaborado com a participação de todas, é o que nos relata a presidente: “A divisão dos trabalhos sempre foram feitos em comum acordo”. Quem também nos confirma é Rita do conselho fiscal:
Eu sempre estou também nessa orientação da divisão do trabalho. Por exemplo, se hoje a associação recebe uma encomenda a presidente mais o conselho fiscal convoca todas as sócias, daí ambas vão se disponibilizar de quantas peças elas estão aptas a fazer naquele mês, então a divisão se dá assim: cada uma pega a quantidade que ela pode fazer, levando em conta que, se a encomenda tem um prazo para ser entregue naquele prazo a encomenda vai ser entregue, aí vai fugir um pouquinho dessa divisão, pois quem vai terminando seu trabalho primeiro ela vai ajudando a colega que não conseguiu finalizar o seu para que encomenda ser entregue no prazo. Por isso é assim, uma colega ajudando a outra. No caso o ganho de cada uma não é igual, pois vai depender da disposição individual de cada uma.
Outro ponto importante é a questão de preço de cada peça. Nesse caso, a AMAC elaborou uma tabela que leva em conta o grau de dificuldade das peças, que vai desde bordar, até seu acabamento final que é feito com crochê, porem nesse caso as artesãs usam uma linha de uma marca especifica, Mercer Crochet4 e Musica5 para deixar o trabalho bastante delicado, pois é o crochê que faz o acabamento final. Observe os exemplos:
Foto 03: Bordado tradicional acabado com a linha Mercer Crochet
Foto 04: Bordado em cores acabado com a linha Música
Já no bordado feito na própria peça de pano é utilizado a linha Anchor6, com apenas um só fio na agulha, pegando apenas dois fios do linho para que no final obtenham um bordado com aparência de uma pintura. Por exemplo:
Foto 05: Acabamento interno: bordado tradicional acabado com a linha Anchor
Outra coisa que melhorou em relação ao trabalho das artesãs foi a questão da comercialização dos seus trabalhos, pois a associação acabou com os atravessadores. Segundo a Presidente:
Hoje tem colaboradores da associação que quando se precisa mandar o trabalho por mão própria mais suas principais formas e contado direto com os clientes e despachando os trabalhos via correios. Hoje a gente tem nossos trabalhos em vários países graça os contados das irmãs de São José como França, Itália, Canadá, Índia, Roma e Japão.
“Essa matéria prima a gente encontra aqui mesmo no comercio local, a gente compra em grande quantidade e consegue um desconto”. (Presidente). Esta fala, relata outra facilidade que Associação trouxe para as associadas que é a questão da aquisição da matéria, pois a AMAC negocia a matéria prima numa quantidade bem maior, conseguindo um bom desconto. Quem faz essa negociação é a tesoureira da entidade. Tal negociação também favorece o aumento da margem de lucro sobre o produto final, pois um dos problemas que a artesãs encontravam era o preço de custo muito elevado na fabricação das peças artesanais.
Assim como qualquer organização comercial AMAC também sofre as consequências da crise que aflige o país, primeiro por estar localizada numa cidade sem fluxo de turistas, segundo porque faz um trabalho artesanal utilitário e isso significa dizer não está dentro da lista das necessidades diárias das pessoas como afirma Lina:
Afetou bastante por que nossa venda ela caiu vamos dizer assim 90% para não ser mais radical estamos no decorrer desse ano estamos no mês de agosto tivemos uma encomenda mínima muita pequena e sempre a clientela dizendo vamos esperar melhorar o mercado se estabilizar então nos afetou e muito.
Mas o segredo para ficar na ativa há mais de 24 anos talvez seja a qualidade dos seus trabalhos. As artesãs fazem questão de manter ainda o padrão tradicional para as peças, pois acreditam que assim, é possível dar mais valor estético a cada trabalho confeccionado. Segundo relatos das artesãs quando foi criada a AMAC foram também criadas várias outras associações que não resistiram ao tempo. Mas quando questionada se associação não pretende introduzir dentro de sua linha, outras formas de bordados ela responde que sim:
[…] Lucia que faz parte do conselho fiscal e é uma das pessoas que está à frente dessa produção elas fazem ela junta com as outras meninas elas produzem tapetes bolsas colcha de cama, pé de porta, almofada e várias outras coisa pequenas de retalhos. A gente vai nas costureiras e pegamos os retalhos e vamos reaproveitar aquilo que vai para o lixo fazemos aquelas coisas belíssimas qui o que está conseguindo um pouco de trocado.
Assim tentando se manter na ativa elas se reinventam a cada dia para poder não deixar essa cultura desaparecer. Segundo a Presidente […] “para a gente continuar insistente e persistente para nós não fechamos as portas a gente ta aí buscando um novo projeto […]”. Uma maneira que elas encontraram de agradar todos os públicos foi agregar novos produtos para atender toda a demanda e gosto, buscando sempre estar com novidades. Elas Precisavam criar um artesanato com uma qualidade e delicadeza, mais que fosse mais barato para poder alcançar aquelas casas com menor renda, mas para isso precisava diminuir o tempo gasto e produzir um motivo com quantidade de linha menor do que as usadas para a fabricação dessa peça tradicional. Assim surgiu então, o bordado em cores (Ponto cruz design) como descreve a presidente e conselheira fiscal:
O nosso bordado como você pode observar é bem tradicional é aquele bordado bem colorido com várias cores e quando a gente teve a consultoria do SEBRAE, pra gente explorar novos mercados ele achou necessário que a gente também tivesse outra linha de produto que não fosse tão tradicional nas cores que também tivesse cores mais calmas mais tom pastéis então a gente criou essa nova linha de produto chamada bordados em cores porque elas só tem uma ou no máximo duas cores de fio no tecido em ponto cruz.
Foto 06: Bordado em cores
Quem também nos confirma e a conselheira fiscal Rita que fala da importância de poder agregar novos modelos que não demoraria e utilizasse poucas linhas na sua produção mesmo contrariando toda uma vida de trabalho com método tradicional, assim ela diz:
E também para diminuir nosso trabalho tanto no bordado como no ponto cruz ir aí que faz a diferença né pro que a gente poderia vender preço menos do que nosso tradicional por que o trabalho é menos por que a gente foi contar as horas que a gente trabalha no tradicional pra esse aqui é uma diferença maior ou seja, uma inovação porque tem vez que o cliente pede nosso bordado tradicional mais cliente pede com as cores bem calminha e a gente vai ter que conseguir fazer.
Durante as visitas foi observado também como é tratada a questão financeira da casa onde ficou claro que durante todo esse tempo a casa tem a preocupação e delicadeza de fazer de forma organizada desde a divisão das encomendas até o pagamentos, como nos relata a presidente:
Ela ganha pela produção de peças dela. Se ela produziu dez peças ela ganha pelas dez peças dela, a colega não terminou e ela vai ajudar a colega terminar a peça elas vão sentar e ver o valor que a colega ajudou e é repassado para ela, você ganha pela sua produção à colega que ajudou a outra no final.
Bordados, uma História de vida
O bordado que teve seu fortalecimento depois da crise que causou o fechamento das duas principais fábricas de algodão e óleo de coco babaçu existentes na cidade, assim essa arte atravessou gerações, criando famílias, formando pessoas, atravessando crises, inventando e sendo reinventada, sobrevivendo dia a pós dia. Durante o tempo que tive contato com elas, (as bordadeiras da AMAC), pude perceber a preocupação de todas as artesãs de manter essa arte viva. Quando perguntada, “o que representaria o bordado na vida delas”? Observa-se respostas bem comoventes, por exemplo, a artesã Maura disse: “O bordado entrou na minha vida desde que eu tinha 13 anos de idade, casei, criei meus filhos todos bordando” […] Ainda na sua fala trêmula de sentimento de ver essa arte se acabando aos poucos:
[…] Pra mim, a arte de marcar foi tudo. Agora mesmo estou sem marcar e pra mim é muito difícil para uma pessoa que cria seus filhos, toda a vida pegando no seu troquinho pra hoje não ter mais do que pegar porque o que aprendi foi bordar e para mim tá muito difícil”.
Por ser uma profissão que na maioria das vezes se aprende em casa e ainda, torna de grande importância para vida de todos, como descreve Rosa, que é artesã e vice-presidente, essa arte representa a sobrevivência, e que durante muito tempo trazia esperança de comprar algo ou a certeza de que teria comida na mesa:
[…] Comecei meu bordado quando eu tinha mais ou menos uns 8 anos de idade, quando eu comecei a trabalhar porque eu só tinha mãe, não tinha pai […] .Como essa arte por muito tempo passou sendo como fonte de complemento para o sustento de cada família patoense, faz-se necessário não deixar morrer uma cultura local que ajudou muitos ter outra profissão que é o caso da atual presidente que hoje é professora municipal e pedagoga por profissão, mas para quem o bordado representa muito mais, que um simples objeto utilitário .
Assim o bordado não é apenas um momento de descontração para cada uma dessas mulheres, elas vêem em cada motivo pronto algo feito pelas suas mãos cansadas da luta do dia-dia, pois ala não estão numa profissão mais num trabalho desenvolvido com alegria e que todas se sentem felizes ao verem suas peças serem apreciadas pelos clientes:
Olha o bordado ponto cruz para mim é uma satisfação , porque eu gosto de bordar eu acho tão bonita tão perfeita quando estou terminando uma peça que eu abro ela e olho eu admiro eu sou admiradora desse trabalho desse artesanato eu faço por amor então o bordado na minha vida é uma terapia é aquilo que me acalma tem uma participação muito importante na minha vida até financeira porque foi com os bordados que comecei paguei meus estudo me formei sou formada graça a Deus sou pedagoga mais foi tudo através do bordado então o bordado na minha vida é um parceiro sou professora. (Presidente)
Ainda há grandes fatores que devem ser destacados em relação ao trabalho das artesãs, é flexibilidade de poder fazer aquilo que gosta praticamente em casa assim poder cuidar da casa, acompanhar os filhos. Um trabalho que rompe a barreira do financeiro e serve para ajudar cada mulher como uma terapia, como nos confirma a artesã:
Trabalhar fazendo redes dá um prazer pôr a gente trabalhar e ganhar nosso próprio dinheiro, ter nosso próprio trabalho e pôr a gente ser beneficiado pelo que a gente faz e a gente ter o dinheiro do nosso próprio trabalho é muito significante, pois ajuda na vinda financeira, ajuda ter algo para fazer em casa em quanto cuida da nossa família dos filhos e tecer rede é um trabalho fundamental que ajuda em todo os sentidos na parte financeira, na parte depressiva, pois no tempo que a gente está trabalhando a gente já esquece de tudo. (Rita)
Mais todas as lutas são vencidas com muita garra onde ambas se apoiam para que o objetivo da associação seja alcançado e cada encomenda seja entregue na data certa para assim ganhar reconhecimento como um grupo sério. Esse reconhecimento chegou através de premiações a nível regional e estadual. A associação já venceu duas vezes, uma foi o Prêmio: SEBRAE mulher de negócio 2007, um dos requisitos para escolha seria a associação mais bem organizada contado desta documentação, assim concorrendo com várias associações do estado elas venceram. Veja a imagem:
Foto 07: Troféu SEBRAE mulher de negócio 2007
Logo em seguida, elas ganharam o outro prêmio, também pela SEBRAE como a associação que tinha um dos melhores produtos da categoria na região. Ambos os prêmios vieram consolidar uma história de vida da associação que durante muito tempo as artesãs tentaram de forma organizada conseguir. O outro destaque foi o reconhecimento de persistência e valorização comercial como nos fala a presidente:
Esse prêmio foi de grande importância para AMAC, foi um empoderamento para as mulheres que compõe o grupo, por que a gente na época já era bem conhecida em outras regiões o do Brasil e até mesmo fora do Brasil, mais na nossa região ainda éramos pouco conhecida pouca divulgada mais com recebimento desse prêmio coma divulgação, repercussão que teve né nos canais de comunicação fez com que o grupo se tornasse mais conhecido na própria cidade, para a gente foi muito importante receber esse prêmio e ter o nome da associação destacado entre várias associações e cooperativas que participavam da concorrência do prêmio na mesma categoria. Pra gente foi muito importante saber que nosso trabalho era um trabalho reconhecido, bem feito e bem produzido que nos levou a receber esse prêmio em nível de região.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento da referida pesquisa inicialmente era observar a importância da arte de bordar para as artesãs de São João dos Patos, mas no desenvolvimento do trabalho foi se agregando outros fragmentos que brotaram durante a pesquisa e que eram de grande importância a serem exploradas para assim compreender como surgiu a Associação e o que vem sendo feito para manter vivo essa tradição tão relevante para a cidade, para economia local e para todas as famílias que, direta ou indiretamente, percebem também os valores não só econômico mas sentimental que agrega para cada mulher artesã por quê uma arte que atravessa décadas, eles pode ter mais um valor sentimental do que financeiro.
Sendo assim a instituição estudada está buscando maneiras alternativas para se manter de portas abertas e não deixar essa arte acabar, agregando a seus trabalhos outras formas de artesanatos de custos mais baratos e que também demanda de menos tempo para se produzida cada peça. Assim podendo alcançar outros clientes que não desfruta de um poder aquisitivo para comprar uma Arte de luxo. Não sendo necessário ter uma peça dessas dentro de sua casa.
Por não se fazer necessário para o dia-dia e ser apenas um bem de luxo, todos aqueles que estão inseridos na produção desses objetos tende a sofrer como é o caso da AMAC que vem passando por momentos delicado pelo risco de fechar as portas. Tal fato deixa as associadas fragilizadas e ao mesmo tempo preocupadas com medo que essa arte que por muitos anos foi um pilar muito importante para economia local onde artesã mãe pode formar-se, formar seus filhos, comprar sua casa e ter uma qualidade de vida melhor, venha se perder no tempo. Por fazer parte de um mercado frágil e está dentro de um contexto de um país onde mais da metade da população luta apenas para sobreviver com o pouco que ganha fica muito difícil de manter-se apenas com o trabalho de artesã, pois esse artesanato se trata de objeto de arte, sendo uma minoria que possui o poder aquisitivo para adquirir esses trabalhos.
Durante as entrevistas e visitas com as associadas ficou evidente que todas aumentaram sua autoestima depois de associadas, passando a valorizar todos os seus trabalhos, além de melhorarem a qualidade de cada objeto produzido por elas, e que todas estão de mão dadas para manter viva a preservação desse trabalho, buscando alternativas mais sem deixar de lado o tradicionalismo na produção do trabalho principal que é a marca da casa.
Dada a importância do tema abordado na pesquisa realizada, faz-se necessário que AMAC continue buscando mais alternativas para se manter com as portas abertas agregando assim novos elementos que atenda todas as classes sociais. Assim em estudos vindouros pode se buscar os resultados que hoje estão sendo implantados para o fortalecimento da associação e também de manter viva essa tradição que todos os dias se reinventa buscando novas maneiras de colorir nossas vidas com seus belos trabalhos.
Seria necessário que o município trabalhasse com políticas públicas voltada para projetos de incentivos afim de permanecer viva essa arte através de cursos onde a secretária de assistências social trabalhasse essa técnica com seu público, outra maneira séria o desenvolvimento um marketing incentivando as mesmas colocar stand em feiras de grande porte. Criando também festival na cidade para inspirar novos produtos.
Já trazendo para âmbito da educação as instituições de ensinos pode desenvolver projetos que visassem a reconstruir a trajetória histórica do bordado na região e depois fazer a contextualização e depois trabalhar com releitura dos trabalhos existente desenvolvendo assim a promoção dessa arte visual.
REFERÊNCIAS
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Apêndice
Perguntas que nortearam a pesquisa.
1- Quem teve a ideia de organizar a associação?
2- Como é composta a associação?
3- Como é dividido o processo administrativo?
4- Quais as dificuldades do início de formação?
5- Quais as peças que são mais vendidas? E porquê?
6- Como ocorre o processor das peças tanto do bordado como do crochê.
7- Ainda tem atravessador?
8- Quais país já exportaram suas peças?
9- Quem levas os produtos para fora do Brasil?
10- Nível de escolaridade em média das artesãs,
11- A demora dos trabalhos em média de uma peça e se o preço está relacionado com grau de dificuldade.
12- Como elas estão comprando a matéria prima?
13- Se ainda estão usando padrões antigos.
14- Se suas peças já foram vendidas para outros países? Se já quais?
15- Quais as novas técnicas para inserida para a conquista de novos mercados?
3Impressão em papel utilizada como base para orientação na produção dos bordados.
4Linha importada, com textura macia e resistente produzida com algodão de alta qualidade
5Linha de algodão egípcio mercerizado com alto brilho.
6Linha com composição em poliamida (fibra sintética) e textura mais grossa.
1Licenciando em Artes Visuais (UFPI). Licenciatura Plena em Pedagogia (FAEPI). Especialista em Gestão e Supervisão Escolar (FAPAF). Especialização em Educação Especial com Ênfase em Deficiência Menta/Intelectual (FIC).
2Filósofo (UECE). Mestre em Educação (UFC). Professor Assistente 2 (UFPI).