ANESTESIA EM TRANSPLANTE RENAL DE DOADOR FALECIDO EM PACIENTE COM DOENÇA RENAL CRÔNICA DIALÍTICA: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202510292222


Hadassa Cristina Inácio Rodrigues


Resumo

O transplante renal é o tratamento de escolha para pacientes com doença renal crônica terminal, proporcionando melhor sobrevida e qualidade de vida em comparação à diálise prolongada. O manejo anestésico desses pacientes representa um desafio devido às alterações fisiológicas e metabólicas associadas. Relata-se o caso de um paciente dialítico submetido a transplante renal de doador falecido sob anestesia geral balanceada multimodal, com evolução favorável e estabilidade hemodinâmica intraoperatória. O relato enfatiza a importância da individualização anestésica e do controle rigoroso da perfusão do enxerto.

Palavras-chave: Transplante Renal; Anestesia Geral; Doença Renal Crônica; Hemodiálise; Lidocaína. 

Introdução

O transplante renal é considerado o tratamento de eleição para pacientes com doença renal crônica terminal, representando uma alternativa que melhora a sobrevida e qualidade de vida. O manejo anestésico requer atenção especial, pois esses pacientes frequentemente apresentam comorbidades cardiovasculares, distúrbios eletrolíticos e alterações na farmacocinética dos fármacos. O presente relato descreve o manejo anestésico em paciente portador de doença renal crônica dialítica submetido a transplante renal de doador falecido, com foco na estabilidade hemodinâmica e na escolha de agentes anestésicos de metabolismo seguro. 

Relato do Caso

Paciente Jean Daniel Ferreira Lyra, 40 anos, masculino, 100 kg, portador de hipertensão arterial sistêmica e doença renal crônica estágio 5 em hemodiálise (3x/semana), admitido na UTI da Santa Casa de Barra Mansa em 12/10/2025 para transplante renal de doador falecido. Negava alergias.

Fazia uso de carvedilol 12,5 mg 2x/dia, amlodipino 5 mg/dia e fluoxetina 20 mg/dia. Classificado como ASA IV. Realizou hemodiálise pré-operatória sem heparina duas horas antes do procedimento, conforme liberação da nefrologia. A indução anestésica foi realizada com sufentanil (50 µg), lidocaína (100 mg), propofol (200 mg) e rocurônio (80 mg). Durante a manutenção, utilizou-se anestesia geral balanceada multimodal, com administração de clonidina (150 µg) e cetamina (20 mg) como adjuvantes analgésicos, além de dipirona (2 g) e morfina (8 mg). A profilaxia de náuseas e vômitos foi feita com ondansetrona (4 mg). Episódios de hipotensão foram tratados com efedrina (5 mg), e a reversão do bloqueio neuromuscular foi obtida com sugamadex (200 mg). O paciente foi mantido em ventilação controlada com sevoflurano em O■/Ar (FE 1,5–2%), FiO■ de 0,5 e PEEP de 5 cmH■O. Extubação em sala, paciente acordado, ventilando espontaneamente, com estabilidade hemodinâmica e SpO■ de 96%. Encaminhado à UTI consciente e estável.

Figura 1 – Exposição do leito ilíaco e posicionamento do enxerto renal.

Figura 2 – Reperfusão imediata do enxerto, com coloração rósea e boa perfusão cortical.

Figura 3 – Aspecto final do enxerto implantado na fossa ilíaca direita.

Discussão

Pacientes dialíticos apresentam alterações fisiológicas significativas, como anemia, disfunção plaquetária, intolerância a variações volêmicas e resistência vascular elevada. O manejo anestésico deve equilibrar volemia e perfusão, evitando tanto hipovolemia quanto congestão. A anestesia geral balanceada multimodal proporcionou estabilidade hemodinâmica e adequada profundidade anestésica. O uso de lidocaína e clonidina intravenosas reduziu o consumo de anestésicos e opioides. O rocurônio, revertido com sugamadex, mostrou segurança em pacientes renais, evitando bloqueio residual e acúmulo. Manter PAM acima de 90 mmHg e balanço hídrico positivo é essencial para função imediata do enxerto.

Conclusão

O caso evidencia a importância da individualização anestésica em pacientes com doença renal crônica dialítica submetidos a transplante renal. A anestesia geral balanceada multimodal proporcionou estabilidade hemodinâmica, analgesia adequada e recuperação sem intercorrências. O manejo criterioso da volemia e a seleção de agentes de metabolismo não renal foram determinantes para o sucesso do procedimento e boa função do enxerto.

Referências

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