REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8002265
Carolina Souza Grutzmann;
Karline Possamai Della;
Mariana de Souza Pasquali;
Mariana Simões Pires Martins;
Sophia Volkmann Khaled;
Martina Bohm Fernandes;
Letícia Oliveira de Menezes.
RESUMO
O envelhecimento populacional e o aumento da expectativa de vida é uma realidade brasileira. Em decorrência desses fenômenos, evidencia-se um aumento no número de hospitalizações de idosos pelo aparecimento de doenças crônicas e comorbidades. Em contrapartida, observa-se uma precariedade no cuidado e assistência continuados após a alta hospitalar, principalmente devido a má comunicação das redes de apoio interdisciplinares, gerando maior vulnerabilidade e dependência dessa faixa etária. No Brasil, existem leis que asseguram que todo cidadão tenha promoção, proteção e recuperação da saúde, além de portarias que garantem uma alta hospitalar de boa qualidade, o que de fato não acontece de maneira efetiva. Nesse sentido, o conhecimento da realidade Estadual e municipal é importante para mudanças no manejo da alta hospitalar e conscientização frente ao cuidado continuado. OBJETIVO: analisar com a alta hospitalar de idosos no munícipio de Pelotas em 2022. MÉTODO: pesquisa exploratória através de bibliografias nacionais com o tema Alta hospitalar de Idosos e coleta de dados realizada a partir entrevistas com gestores hospitalares, médicos e assistentes sociais no município de Pelotas. RESULTADOS: Mais de 62.000 idosos possuem morbidades que necessitam de um cuidado maior e possuem um risco de internação elevado. Diante desse cenário, o hospital A criou um serviço de atenção domiciliar, garantindo que os pacientes sejam atendidos de maneira segura, por uma equipe multidisciplinar em seu domicílio, após a alta. Os demais hospitais de Pelotas não possuem um protocolo para a desospitalização. É entregue um documento com informações sobre o período do paciente no hospital, e seu contato com a UBS fica cargo de cada situação particular. DISCUSSÃO: No SUS convicção do cuidado ininterrupto abrange três elementos: o fluxo de informações, relações interpessoais e a coordenação de intervenções. Entende-se então, que a desospitalização do idoso segue uma linha de atuação. No município de Pelotas a pesquisa exploratória evidenciou falhas na alta hospitalar de idosos incluindo de comunicação entre as equipes da esfera primaria e especializada e com a família e a falta de entendimento por parte dos profissionais sobre a dinâmica do processo de alta. CONCLUSÃO: É de suma importância a conscientização da alta responsável no âmbito hospitalar a fim de garantir segurança aos idosos. Defende-se a implementação de um protocolo homogêneo que garanta com segurança a continuação do cuidado e a promoção da saúde do idoso, a fim de evitar, também, novas internações hospitalares.
Palavras-chave: idoso, alta hospitalar, cuidado continuado
INTRODUÇÃO:
O envelhecimento populacional é uma realidade mundial, e é observado esse fenômeno prevalentemente no Brasil1. Estima-se um aumento de 600% no número de idosos brasileiros em 50 anos. Sendo 29,9 milhões em 2020, o número de pessoas com mais de 60 anos, e segundo a ONU deve alcançar 72,4 milhões em 21002. Alia- se também o número da expectativa de vida, estimativas recentes indicam 70,6 anos para homens e 77,7 anos para mulheres1.
A frente deste cenário, evidencia-se o aparecimento, nessa faixa etária, de múltiplas doenças crônicas, como enfermidades cardiovasculares e renais e o aumento de comorbidades degenerativas3. Contra isso, observa-se uma assistência especializada precária a este, gerando idosos com maior vulnerabilidade e dependência4. Dessa forma, necessita-se maior demanda dos serviços de saúde tanto nas internações quanto na continuidade do cuidado5.
O Estado brasileiro criou leis que asseguram que todo cidadão tenha promoção, proteção e recuperação da saúde, através de medidas econômicas e sociais que pretendem diminuir o risco de doenças e agravos6. Além disso, existem portarias que garantem uma alta hospitalar de boa qualidade, com caráter multiprofissional, interdisciplinar e tendo a continuidade do contato por meio da comunicação dos hospitais com as demais redes de atenção a saúde7. Percebe-se então, a necessidade das redes de comunicação, as quais darão assistência ao indivíduo logo após a sua alta8.
Levando em consideração a problemática durante a alta de idoso, tem-se a falta de diálogo como uma das principais práticas desencadeadoras, tanto entre a equipe quanto com os idosos e seus cuidadores9. Assim sendo, o cuidado deixa de ser multidisciplinar e contínuo, e tal prática favorece o aparecimento de complicações e aumentam as chances de reincidência hospitalar e de mortalidade10.
Dessa maneira, o artigo presente teve como objetivo analisar a alta de idosos no munícipio de Pelotas em 2022.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa exploratória, que tem como objetivo fazer um levantamento e aprimoramento de estudos já realizados por outros autores11. A pesquisa exploratória, principalmente a bibliográfica, é desenvolvida a partir de materiais já publicados como livros e artigos científicos12. Além disso, uma de suas finalidades é definir objetivos ou formular novas hipóteses acerca do trabalho realizado, de uma maneira mais geral, podendo assim, constituir a primeira etapa de uma pesquisa mais direcionada13.
Os estudos exploratórios são utilizados quando os temas estudados são pouco abordados ou conhecidos, ou seja, quando existem orientações não pesquisadas e ideias vagas relacionadas à problemática. Sendo assim, são estudos comumente usados em artigos acadêmicos14.
Em relação à abordagem, é uma pesquisa qualitativa. Ela investiga um fenômeno no seu local de ocorrência, trabalhando com descrições, comparações e interpretações, sendo mais subjetiva, ao invés de utilizar estatísticas e comparações. É um estudo que se atenta ao que não pode ser quantificado, trabalhando com significados, motivações, crenças, valores e atitudes15.
A coleta de dados foi realizada em entrevistas com profissionais de saúde, os quais estão envolvidos no processo de alta hospitalar em idosos, no período referente ao início da internação, até ao momento da chegada em casa. Foi efetuado o contato com esses profissionais, presencialmente e por telefone celular, onde, foram introduzidos ao tema e aos objetivos da pesquisa. As entrevistas, do tipo não estruturada, contaram com perguntas sobre como o processo de alta funciona; quais funcionários que estão envolvidos; qual órgão que regulariza essa ação e se essa alta ocorre de maneira responsável. As respostas foram anotadas de maneira simultânea. Assim, obtêm-se dados que não estão presentes em fontes documentais e permite que os dados sejam quantificados. Realizando assim uma comparação entre teoria, como o processo de alta deveria ser realizado, com a prática, como é realmente feito.
Ademais, foi-se utilizado a pesquisa bibliográfica, realizada em bases de dados nacionais, artigos científicos e dissertações. Onde foi analisado e comparado vários estudos, no intuito de criar conceitos e formular hipóteses.
RESULTADOS
Para a investigação sobre a alta de idosos responsável foi necessário discutir diversos pontos, entre eles atuação de equipes responsáveis pela desospitalização e planejamento da alta responsável, medidas que objetificam a alta e estratégias para o acompanhamento após alta hospitalar.
Do total de idosos em Pelotas, mais de 62.000 possuem comorbidades que necessitam de um cuidado maior e possuem um risco de internação elevado. Diante dessa realidade, o hospital A da cidade de Pelotas criou um serviço de atenção domiciliar, garantindo que os pacientes sejam atendidos de maneira segura, por uma equipe multidisciplinar em seu domicílio, após a alta. Essa iniciativa diminui a procura aos demais serviços de saúde e, consequentemente, que os pacientes venham a ter novas internações.
Em contrapartida, os demais hospitais de Pelotas não possuem um protocolo para a desospitalização, causando um cenário mais complexo e menos eficaz. Apesar do SUS garantir uma alta consciente e cuidado domiciliar para todo cidadão, cabe ao hospital individualmente a implementação, sistematização e organização adequadamente essa alta de maneira de acordo com os profissionais de saúde e a situação do idoso.
A fim de melhorar a qualidade de vida do idoso após a alta, existem diversos programas criados pela prefeitura de Pelotas que visam o acolhimento dessa população e que possibilitam uma vida mais ativa e saudável, diminuindo a chance de novas internações. Porém, essas informações acabam sendo pouco divulgadas e, por vezes, não estão presentes na alta hospitalar do idoso, diminuindo a procura desse público nesses programas e, consequentemente, a qualidade de vida e o cuidado continuado.
Em síntese, percebe-se que os hospitais de Pelotas, com exceção do hospital A, entregam a nota de alta para o paciente, com as enfermidades que ele apresentou e o detalhamento sobre os medicamentos utilizados e os procedimentos e exames, junto aos seus resultados, realizados no hospital durante sua internação. Entretanto, não se comunica com a unidade básica de saúde que esse idoso irá frequentar, ou realiza medidas que visam a prevenção de uma nova internação desse indivíduo. A responsabilidade de procurar as redes de atenção à saúde para garantir o vínculo e o cuidado continuado com fica com idoso e sua família. Desse modo, esses hospitais carecem de um sistema que unifique e melhore o cuidado durante a alta e que traga a segurança do paciente após sua saída.
DISCUSSÃO
As Redes de Atenção à Saúde (RAS) têm como papel principal a promoção a equidade, melhoraria ao acesso e também a garantia a integralidade e a qualidade do cuidado. No Brasil, Sistema Único de Saúde (SUS), assegura a integração das diferentes esferas, desde a Atenção Primária à Saúde (APS) até a especializada (ambulatorial e hospitalar) e concede à APS a continuação do percurso terapêutico do paciente desde a alta hospitalar10.
Nesse contexto, a convicção do cuidado ininterrupto abrange três elementos: o fluxo de informações, relações interpessoais e a coordenação de intervenções. Entende-se então, que a desospitalização do idoso segue uma linha de atuação, primeiramente, ainda com o paciente em âmbito hospitalar ocorre a comunicação com a atenção básica, para garantir a assistência ao paciente e dar sequência ao atendimento, informando sobre a história pregressa, a moléstia atual do indivíduo e as recomendações orientadas na alta desse. Ademais, a relação idoso-cuidador deve ser planejada de maneira ativa e antecipada. A equipe multiprofissional da unidade básica encarrega-se de auxiliar e treinar os familiares ou cuidadores para assim, garantir uma recuperação mais rápida e
segura, além de fortalecer um vínculo com os profissionais da atenção primaria e assim estabelecer uma confiança mútua para facilitar o objetivo do cuidado10.
Em contrapartida, no município de Pelotas a pesquisa exploratória evidenciou falhas na alta hospitalar de idosos, deixando explícita a fragilidade nos três elementos descritos nas bibliografias estudadas. Observou-se que apesar da maioria dos hospitais da cidade não possuírem um plano de alta responsável alguns problemas, no entanto, ainda implicam a efetividade da transferência do paciente para o convívio familiar, principalmente, a falha de comunicação entre as equipes da esfera primaria e especializada. Os possíveis problemas de entendimento por parte dos profissionais sobre a dinâmica do processo de alta também podem dificultar a transmissão de informações bem como a carência de decisões de comum acordo entre os profissionais que trabalham no hospital e os da atenção básica10.
Além disso, no contexto estudado, o paciente/familiar/cuidador desempenha papel de ouvinte nesse fluxo, participando passivamente do processo, diferentemente do que acontece na prática abordada, em que a nota de alta é dada para o parente e torna-se responsabilidade desse a busca pelo tratamento continuado, ou seja, o familiar que faz todas as buscas por atendimentos10.
Dessa forma, a pesquisa realizada representa os achados do municio de Pelotas, o que pode distinguir das demais realidades vivenciadas em outras cidades brasileiras, o qual torna-se necessário novos estudos sobre o tema para que haja uma comparação e assim, surja novas discussões e soluções para esses impasses da alta hospitalar responsável de idosos10.
CONCLUSÃO
Em síntese, frente ao aumento do número de idosos no Brasil e, em consequência as altas hospitalares, é possível ver que apenas o hospital A possui uma rede coordenada de cuidados, enquanto os demais hospitais da cidade de Pelotas não possuem comunicação pós alta.
Nesse sentido, defende-se a implementação de um protocolo homogêneo que garanta com segurança a continuação do cuidado e a promoção da saúde do idoso, a fim de evitar, também, novas internações hospitalares. Sendo crucial a coordenação dos serviços e a comunicação entre os hospitais e as unidades básicas de saúde, ajustando as necessidades básicas dos idosos e de seus cuidadores.
Ademais, é visível a necessidade de aprofundar estudos sobre a realidade dessa temática, com o intuito de uma melhor compreensão dessa situação, os obstáculos enfrentados e como amenizar o problema relacionado a alta de idosos.
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