AÇÃO INTERDISCIPLINAR NA PROMOÇÃO AO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL

Adriana Rufino Moreira11
Amara Batistel1
Hedionéia Pivetta1
Ruth Meurer1
Barbara Deon2
Diego Mendes2
Grasiéli Fernandes2
Mahê Sima2
RESUMO
O envelhecimento refere-se a mudanças biológicas normais, progressivas e irreversíveis que ocorrem no decorrer da vida do indivíduo. Apesar de o processo ocorrer em todas as pessoas, tem um significado especial para aqueles que se encontram na vida adulta tardia, em virtude das mudanças significativas na saúde que ocorrem por ocasião desta fase do ciclo vital. O trabalho ora apresentado resulta de um projeto de extensão vinculado ao Grupo de Estudos Interdisciplinares em Saúde Coletiva – GEISC, na linha de extensão Educação em saúde, implementado pelos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição e Terapia Ocupacional do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria/RS, junto aos de idosos participantes do “Grupo da Amizade” da Vila Caramelo na região oeste de Santa Maria, o qual teve como objetivo a promoção da saúde por meio de ações coletivas e interdisciplinares. Os encontros foram realizados quinzenalmente, durante a semana, junto aos acadêmicos para planejamento e avaliação das ações e quinzenalmente com os idosos, aos sábados, no salão paroquial da Igreja São João Evangelista na Vila Caramelo, momento em que foram realizadas oficinas, dinâmicas de grupo, diálogos informais, sempre respeitando os valores, a cultura e o conhecimento de cada indivíduo. As dinâmicas propostas envolviam temas de interesse do grupo de idosos e envolveram as diferentes áreas do conhecimento dos cursos envolvidos, o que permitiu a participação integral dos acadêmicos oportunizando o aprendizado e a troca de conhecimentos sobre os temas propostos. Através de atividades interdisciplinares foi possível a integração entre estudantes, docentes e comunidade favorecendo a promoção de saúde e a vivência do trabalho em equipe, respeitando as individualidades de cada sujeito.
Palavras Chave: Interdisciplinaridade; Promoção da Saúde; Idosos
ABSTRAT
INTRODUÇÃO
O envelhecimento refere-se a mudanças biológicas, normais, progressivas e irreversíveis que ocorrem na vida do indivíduo. Apesar do processo de envelhecer fazer parte da vida de todas as pessoas, para aqueles com mais idade está sempre associado a mudanças significativas. Os indivíduos envelhecem em diferentes proporções, porém o processo que controla a proporção na qual uma pessoa envelhece e como essa senescência afeta o desenvolvimento de doenças crônicas são pouco conhecidos (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2002).
As perdas fisiológicas que acompanham o envelhecimento vão gerando progressivamente dependência física ao indivíduo idoso e, tendo não raro, como conseqüência, a exclusão social. O mesmo se pode dizer da incapacidade ou inviabilidade para desenvolver suas atividades diárias. A dependência de outras pessoas para o desempenho de tais atividades leva a perda da autonomia, a impossibilidade de governar sua própria vida e o constrangimento. Como se não bastasse às implicações decorrentes do envelhecimento físico, outros fatores também relevantes devem ser destacados, tais como o psicológico, o cultural, o social e o econômico. Desse modo, indivíduo idoso, com o passar dos tempos afasta-se da sua vida social e, muitas vezes do convívio familiar.
As conseqüências do envelhecimento normal se apresentam de forma variada nos diferentes organismos. Os declínios fisiológicos que ocorrem ao longo dos anos expõem o indivíduo à morbidade, tanto intelectual quanto física. É previsto que com o passar da idade ocorra um déficit de memória, ou seja, o idoso apresenta um pequeno grau de esquecimento, porém, conforme Lianza (2001), 5% a 10% das pessoas com mais de 65 anos possuem um déficit intelectual clinicamente importante. Além disso, a depressão, segundo Oliveira (2004), é uma doença comum no idoso, mas com incidência maior nas mulheres. Os sintomas são: sentimentos persistentes de tristeza, falta de interesse, ansiedade, pessimismo, sentimentos de culpa, crises de choro, irritabilidade, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e de relacionamento tendendo ao isolamento.
Segundo Lianza (2001), entre os problemas fisiológicos mais comuns ao indivíduo idoso pode-se citar os distúrbios circulatórios, reumáticos, respiratórios, neurológicos, uroginecológicos e neoplásicos. Geralmente esses distúrbios estão associados à imobilidade ou a diminuição da locomoção gerando graves complicações. Quanto ao aspecto físico, locomover-se livremente no lar e na comunidade é de grande valor para o idoso. Entretanto, a dor, a rigidez, a fraqueza e a falta de equilíbrio condicionam o idoso a dependência e até mesmo ao isolamento. A imobilidade traz consigo graves complicações para sua saúde, tanto no sistema músculoesquelético, quanto cardiorrespiratório, pois, segundo Spine (2003), a falta de atividade física é um fator de risco para o aumento da incidência de doenças cardiovasculares, articulares, musculares e da coluna vertebral. A atividade física restrita diminui a eficácia dos mecanismos de equilíbrio, tornando o idoso propenso a quedas e possíveis lesões. Segundo a OMS, 1/3 das mulheres brancas acima de 65 anos são portadoras de osteoporose, havendo predisposição a fraturas. A prevenção da osteoporose consiste em práticas simples, porém muitas vezes desconhecidas da população, tais como, alimentação rica em cálcio, atividade física permanente e sol em horários adequados.
Quanto aos problemas relacionados com a respiração, Rodrigues (2002), menciona que as pessoas relacionam-se com o mundo da mesma forma que respiram. A respiração é o primeiro passo para tratarmos e prevenirmos o desequilíbrio físico, mental e emocional do ser humano. Porém, as pessoas geralmente apresentam respirações rasas e curtas e isso se deve a hábitos de vida errados como alimentação inadequada, pressa, excesso de trabalho, roupas apertadas entre outros, gerando stress e tensões.
As patologias neurológicas e circulatórias delimitam-se em torno dos acidentes vasculares cerebrais, Parkinson e Alzheimer. Todas essas patologias geram distúrbios ou seqüelas incapacitantes tornando necessário o cuidado e o suporte social.
O exercício físico traz inúmeros benefícios ao indivíduo e, juntamente com o exercício respiratório, tornou-se uma importante estratégia para a prevenção de patologias. Segundo Spine (2003), a falta de atividade física constitui-se um fator de risco para o aumento da incidência de patologias cardiovasculares e músculo-articulares. O aumento da longevidade nos dias de hoje está associado ao aumento de doenças crônicas e degenerativas e a perda da qualidade de vida. Porém a realização de atividade física regular é o principal método de prevenção contra essas doenças. A prescrição de exercícios para o idoso possui o objetivo de aumentar a capacidade aeróbia e a força muscular, aumentar a mobilidade articular e a flexibilidade muscular, reduzir o risco de doença cardiovascular e respiratória.
Nesse sentido, a saúde vem conquistando espaços na prática comunitária, profissões que anteriormente exerciam práticas exclusivamente reabilitadoras, atualmente desenvolvem ações preventivas e de promoção à saúde, pois conforme Deliberato (2002), o fisioterapeuta é um membro da saúde com sólida formação científica, que atua desenvolvendo ações de prevenção, avaliação, tratamento e reabilitação, usando nessas ações orientações e promoção da saúde em atenção primária.
A alimentação e a atividade física são determinantes na qualidade de vida para um envelhecimento saudável, gerando reflexões sobre este processo. Evidências científicas mostram possibilidades de construção de estratégias que podem retardar ou diminuir a velocidade do aparecimento das modificações associadas ao envelhecimento. Dentre estas estratégias pode-se fazer o uso da nutrição aliada à educação física, em que o conhecimento sobre o tema nos direciona para a idéia de que podemos construir uma prática de atividades interdisciplinares, em que os profissionais possam através de suas especialidades, estabelecer um melhor entendimento sobre a construção de um envelhecer com qualidade, dando ênfase na identificação de fatores que promovem o bem-estar incluindo saúde, estado nutricional, forma física e atitudes adquiridas durante toda a vida, influenciando, dessa maneira, na qualidade de vida das pessoas.
Sabe-se que mudanças de percepção podem afetar o comportamento alimentar. O gosto pode ser alterado devido a uma diminuição no número de corpúsculos gustativos que ocorre como parte do processo de envelhecimento, ou como um efeito dos estados de doenças, deficiências nutricionais ou medicações, pois há redução nas habilidades para detectar odores, audição e visão prejudicada podem reduzir o aproveitamento dos aspectos sociais da alimentação. Todas estas mudanças de percepção podem contribuir para uma ingestão alimentar diminuída (DOUGLAS, 2002).
O ser humano é acompanhado de uma diminuição progressiva da capacidade funcional conforme vai envelhecendo. Sendo assim, para se obter um envelhecimento bem sucedido, o principal desafio é a preservação da qualidade de vida, sendo de grande importância um bom estado nutricional e da prática regular da atividade física, onde refletirá positivamente na saúde e bem-estar dos idosos, motivando-os a maior interação social e novos propósitos existenciais, conforme reforça Rodrigues (2002). Para o idoso ter saúde devem ser considerados alguns aspectos relevantes como o fato de poderem ter uma vida saudável, com autonomia e independência para se engajarem nas atividades sociais de seu cotidiano.
Com o avançar da idade muitas vezes as necessidades calóricas diminuem, uma razão é que o número de células ativas de cada órgão diminui, reduzindo a taxa metabólica global do corpo, (SIZER & WHITNEY, 2003). Estas mudanças, combinadas com uma diminuição na atividade física, resultam em uma diminuição das necessidades energéticas e no aumento de tecido adiposo. Este grupo etário tem uma suscetibilidade aumentada a doenças crônicas, tais como osteoporose, aterosclerose, diabetes, hipertensão e câncer; dentição pobre, função orgânica diminuída relativa à idade, o que pode afetar a absorção, transporte, metabolismo e/ou excreção de nutrientes essenciais; uso aumentado de medicamentos sem prescrição; e alterações no bem-estar psicológico, social e estado financeiro que causa uma possibilidade diminuída de comprar e preparar refeições (PECKENPAUGH & POLEMAN et al.; 1997).
Para isto se faz necessário manter os adultos mais velhos em um bom estado nutricional e com uma vida ativa, fatores que ajudam a manter sua saúde e independência, com isso diminuindo as demandas dos cuidados institucionais. Mas para isso se faz necessário técnicas de apoio a este grupo etário, capacitando-o a identificar, controlar e modificar comportamentos quanto á escolha alimentar e à prática de exercício físico regular. As escolhas alimentares dos idosos são afetadas pelo envelhecimento, estado de saúde modificado, e circunstâncias alteradas de vida. A atividade física, juntamente com uma dieta adequada em nutrientes faz parte para manter as necessidades calóricas como também preservar muitas outras funções (MELVIN, H. W., 2002).
Entre os indivíduos idosos existe uma maior incidência de doenças incapacitantes e em longo prazo uma redução natural da atividade física e mental, pouca motivação, acentuados sentimentos de inutilidade, solidão e uma fraqueza geral. Assim, uma abordagem na saúde do idoso que vise a habilitação e adequação bio-psico-social, que parta da análise do desempenho ocupacional observando as limitações, capacidades e necessidades de cada caso, bem como suas capacidades e potencialidades e o uso de atividades selecionadas e dirigidas, deve ser vista como ímpar.
Essas ações proporcionaram ao indivíduo idoso o sentimento de ser parte integrante da comunidade, mantendo suas capacidades fortalecendo suas condições físicas, estimulando as condições mentais, promovendo o convívio social por meio dos trabalhos em grupo, mostrar-lhes o valor de suas experiências acumuladas. Neste sentido, apresenta-se a necessidade de ações que mobilizem o idoso à interatividade e ao desenvolvimento de atitudes que possibilite a ampliação de sua autonomia e a promoção do envelhecimento saudável, melhorando a sua qualidade de vida.
O programa de terapia ocupacional deve pois, conjugar a necessidade, os objetivos da atuação terapêutica com o interesse do sujeito para desempenhar uma determinada atividade, para tanto deve trabalhar com atividades significativas para cada sujeito, observando as limitações, capacidades e necessidades de cada sujeito, bem como suas potencialidades, procurando “manter no idoso a vontade de viver e fazendo com que para ele, o mundo continue povoado de significados” (DE CARLO e LUZO, 2001). Entre os objetivos deste programa podemos citar: Aumentar a força muscular e a amplitude de movimento, aprimorar a coordenação motora global e fina, promover a socialização, desenvolver a autoconfiança, estimular o lazer, desenvolver sentimento de utilidade e auto-estima, diminuir a solidão, estimular a cooperação, a responsabilidade em atividades grupais, estimular a verbalização, atenção, concentração e memória, orientações para as atividades da vida diária e adaptações de utensílios e ambientes, aumento de força muscular e amplitude de movimentos e desenvolvimento da coordenação motora.
Portanto, na Geriatria e Gerontologia o objetivo da Terapia Ocupacional é manter o idoso ativo e a facilitar o envelhecimento saudável. É uma assistência que proporciona ao idoso um maior auto-conhecimento, oferecendo condições para o enfrentamento de perdas, a solidão, a depressão, a marginalização e o sentimento de inutilidade, muitas vezes presentes nesta faixa etária, bem como as doenças que possam surgir. Busca resgatar a autonomia, investir na independência, criatividade, re-socialização e em um maior estímulo cognitivo e sensorial, procurando manter o idoso ativo em todos os sentidos.
O aumento da longevidade tem sido motivo de diferentes análises, estudos e preocupações em diferentes setores da sociedade. Para os profissionais da saúde não poderia ser diferente tendo em vista que o comportamento humano é produto de um longo processo evolutivo que engloba o biológico e o sócio-cultural, aspectos estes, de suma importância e inter-relacionados ao longo do ciclo vital. A atividade humana, pois, constitui o meio pelo qual o homem, individual e coletivamente explora e domina o seu meio, essas atividades englobam comportamentos lúdicos e criativos, cuidados pessoais e laborativos. No envelhecimento o domínio de tais atividades sofre alterações, ocasionadas pelo processo normal que leva a um declínio fisiológico próprio desta fase e/ou um declínio funcional gerado pela complexa relação genética/doença/desuso. Desta forma, neste período ocorrem modificações que alteram o comportamento e o corpo físico.
Estas questões por si justificam a importância do projeto realizado, de ação interdisciplinar de promoção ao envelhecimento saudável junto ao grupo de idosos da Vila Caramelo, região oeste do município de Santa Maria/ RS entre usuários, docentes e acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição e Terapia Ocupacional do Centro Universitário Franciscano.
Este trabalho teve como objetivo possibilitar que as pessoas da terceira idade pudessem ser o mais independente possível, sentindo – se útil dentro do ambiente familiar e da comunidade a qual pertencem.
METODOLOGIA
A metodologia proposta teve uma abordagem qualitativa, por meio de ações interdisciplinares de promoção ao envelhecimento saudável junto ao grupo de idosos da Vila Caramelo, Região Oeste do Município de Santa Maria/RS, em que se procurou instituir a prática do autocuidado em prol da qualidade de vida do idoso.
Neste projeto de extensão foram desenvolvidas atividades entre usuários, docentes e acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição e Terapia Ocupacional do Centro Universitário Franciscano.
As atividades junto aos idosos ocorreram de abril a dezembro de 2005, quinzenalmente, por um período de 2 horas, no Salão Comunitário da Igreja São João Evangelista; e quinzenalmente junto aos acadêmicos com vistas ao planejamento e avaliação dos encontros com os idosos.
O primeiro encontro que teve como objetivos o acolhimento do grupo, a apresentação dos acadêmicos participantes do projeto, o levantamento dos temas de interesse a serem desenvolvidos no decorrer do trabalho, bem como e verificar as necessidades e expectativas do grupo de idosos.
O grupo de idosos foi constituído há cerca de seis anos e se encontravam mensalmente para o estabelecimento de contato social entre eles. A proposta de inserir ações de educação e promoção à saúde surgiu a partir da identificação dessa necessidade nas práticas desenvolvidas pelos cursos da área da saúde da UNIFRA nessa região. Desta forma, o grupo passaria a se reunir quinzenalmente, para não perder a sua especificidade e cobrir a necessidade de ações em saúde.
Participaram dos encontros, em média quinze idosos de ambos os sexos, na faixa etária entre cinqüenta e setenta anos com limitações osteomusculares e articulares, bem como de coordenação motora; quatro docentes, quatro bolsistas e onze acadêmicos voluntários.
Os encontros realizados abordaram as seguintes temáticas: osteoporose e prevenção de quedas; redução do colesterol, calorias e gorduras; qualidade de vida e saúde; coordenação motora na terceira idade; cuidado e autocuidado; orientações alimentares; elaboração de receitas; estatuto do idoso; importância do exercício físico; expressão corporal e a terceira idade; atividades recreativas e de lazer; preparo de alimentos; incontinência urinária e o idoso; prevenção do câncer de mama e colo uterino e avaliação final. Salienta-se que esses temas foram abordados por meio de diferentes metodologias procurando valorizar o conhecimento anterior e a cultura daquela população.
Os temas foram eleitos conforme o desejo do grupo, vindo ao encontro das suas necessidades suprindo suas expectativas. Estes foram desenvolvidos por meio de diálogos informais, levando em consideração o meio cultural ao qual se estava inserido. Os trabalhos realizados envolveram dinâmicas de grupo e oficinas permitindo, assim, a integração dos professores, acadêmicos e comunidade oportunizando o aprendizado mútuo e a troca de experiências.
No início de cada encontro eram verificados sinais vitais e identificado algum sinal ou sintoma que pudesse contra-indicar a prática de atividade física.
Após cada tema trabalhado, em todos os encontros, foi realizado cinesioterapia motora e respiratória com os participantes do grupo. A prática de atividade física constou de exercícios de alongamento e fortalecimento muscular de membros superiores, inferiores e coluna vertebral, fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico e caminhadas. Todos os exercícios foram acompanhados de exercícios respiratórios. Ao final da atividade física era averiguada a pressão arterial após cinco minutos de descanso.
Ao final do ano foi realizada uma avaliação com o grupo a cerca da resolutividade e satisfação com as ações desenvolvidas pelos acadêmicos e docentes dos cursos da área da saúde da UNIFRA.
ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO
A análise dos dados teve como subsídio os dados obtidos a partir de um questionário aplicado individualmente no final das atividades de extensão. Esse instrumento constou de doze questões, abertas e fechadas, e foi adaptado à partir da matriz de Arruda (2005). Teve como objetivo avaliar a satisfação dos participantes do grupo, assim como o impacto que as atividades desenvolvidas tiveram na vida dos idosos.
O grupo constou, em média, de quinze participantes e coincidentemente no dia da aplicação do instrumento estiveram presentes exatamente quinze idosos sendo dois do sexo masculino e treze do sexo feminino. Destes, quatro tinham idade que variava entre quarenta e sessenta anos e onze acima dos sessenta anos.
A primeira questão indagou sobre a presença de alguma doença ou queixa. Oito pessoas responderam que não apresentavam nenhuma alteração enquanto que sete responderam que sim, entre estes surgiu: dor de cabeça, dor nos pés, catarata, litíase, perda da memória, dores musculares, miomas, varizes, hipertensão arterial (HAS), colesterol, arritmia cardíaca e artrose. Um dado alarmante é que destes sete idosos, cinco referiram HAS.
Com relação ao tempo que freqüentam o grupo observou-se que a grande maioria dos idosos participa há bastante tempo, pois, sete freqüentam a mais de cinco anos, cinco freqüentam de um a quatro anos e três não souberam responder. Em relação à questão referente à maneira como chegaram até este grupo, doze responderam que foi por meio de um amigo, vizinho ou familiar enquanto dois, responderam outros motivos e um não soube responder.
A análise realizada a respeito da freqüência dos idosos nos encontros mostrou que onze pessoas participam duas vezes no mês, uma participa uma vez no mês e três pessoas responderam que freqüentam o grupo algumas vezes no semestre. Estes dados demonstram que o grupo já existe há mais de cinco anos e que a grande maioria dos idosos possuem participação regular nas atividades desenvolvidas.
Como o grupo possui uma participação média de quinze idosos, questionou-se sobre o motivo da ausência em alguns encontros. Dos quinze participantes avaliados seis pessoas justificaram as ausências por motivo de força maior, tais como doença na família, trabalho, mudança; cinco pessoas não souberam responder e quatro responderam outros motivos.
Quanto à questão referente a importância das informações discutidas no grupo e se estas fizeram alguma diferença nos seus hábitos diários, doze pessoas responderam que sim, uma respondeu que não e duas não souberam responder. Complementando essa questão, questionou-se sobre o que o idoso consegue fazer hoje que não fazia antes; identificou-se que oito pessoas aprenderam a se exercitar, quatro modificaram seus hábitos alimentares, duas modificaram sua postura, uma melhorou a convivência e cinco não responderam. Estes dados mostram que a mesma pessoa modificou mais de um hábito em sua vida, demonstrando que as atividades realizadas atingiram seu objetivo que era de inserir o autocuidado e melhorar a qualidade de vida dos idosos. Esses resultados mostram que as ações interdisciplinares oferecem maior abrangência dos cuidados na vida das pessoas, possibilitando a promoção da saúde por meio do autocuidado e, conseqüentemente, favorecendo para que os idosos mantenham sua autonomia e qualidade de vida.
Segundo Pickles et al (2000), a abordagem voltada para a promoção da saúde implica ajudar as pessoas a tomarem medidas capazes de melhorar e seu estado de saúde. Esta abordagem em relação à promoção da saúde implica mudança de atitude: em vez de “fazer algo” pelos indivíduos, trabalha-se “com” o indivíduo ou grupo, na elaboração de estratégias destinadas a melhorar a saúde, em áreas que são importantes na opinião deles.
Com relação às atividades desenvolvidas no grupo, os idosos foram questionados sobre a que gostaram de realizar. A maioria dos entrevistados respondeu a todas as opções, sendo elas: conversas com amigos (treze pessoas), exercício físico (doze pessoas), verificação de pressão arterial (doze pessoas), temas desenvolvidos (nove pessoas), relaxamento (sete pessoas) e recreação (seis pessoas). Também se questionou sobre o que menos gostavam de realizar, uma pessoa sugeriu que ocorreu repetição de temas e quatorze pessoas responderam que gostaram de tudo.
Quando questionados sobre a dificuldade de acesso ao grupo, treze pessoas responderam que não tiveram dificuldade, uma respondeu a dificuldade em se deslocar em dias quentes e uma pessoa que depende de transporte urbano coletivo.
Ao serem indagados sobre sugestões para as atividades do grupo, oito pessoas responderam que não tinham nenhuma sugestão, três pessoas sugeriram dar continuidade aos encontros e se possível mais que duas vezes no mês, uma pessoa sugeriu deixar um encontro por mês somente para os idosos (para resolver problemas internos do grupo), uma sugeriu realizar mais exercício físico, uma sugeriu fazer orações, como faziam antes e uma pessoa sugeriu a entrada de novas áreas como psicologia e direito.
Também foi questionado sobre a avaliação geral do grupo, neste quesito, oito pessoas responderam como ótimo, cinco como muito bom e duas como bom.
A última questão referia-se a algum comentário que gostariam de fazer. Neste item obteve-se respostas como:
“Eu achei ótimo a participação do grupo de acadêmicos junto ao grupo de terceira idade. Nos proporcionando um maior conhecimento, orientação, entrosamento. Os alunos foram dedicados e responsáveis (junto com seus professores). Acredito que se não fosse a participação dos alunos, o grupo da terceira idade ficaria sem graça e quase sem utilidade”.
Este relato revela a aceitação dos trabalhos desenvolvidos, a importância das trocas estabelecidas na relação idoso/acadêmico, que se por um lado representa um rejuvenescer, um estímulo para atividades tanto de promoção de saúde quanto para o incremento das relações interpessoais, momentos de descontração e lazer, além de um maior conhecimento de si e dos cuidados com sua saúde, para os acadêmicos representou uma oportunidade ímpar de melhor conhecer e aprender a conviver com pessoas de mais idade, podendo se beneficiar das experiências de vida daqueles e de sentirem a importância de sua atuação acadêmica como um fator a melhorar a qualidade de vida destas pessoas.
“Estou satisfeita com a participação do grupo, pela troca de conhecimentos, exercícios, conversas com os amigos, as reuniões festivas, mas sinto falta de rezar antes dos exercícios”.
Aqui se pode perceber como é forte o sentimento religioso em pessoas desta faixa etária, bem como a importância de se conhecer, considerar e respeitar os costumes e a cultura de cada sujeito a fim de oferecer uma proposta de trabalho que possa articular os interesses do grupo. Mostra também que o envelhecimento “pode ser um tempo de liberdade, de desligamento de compromissos profissionas, de fazer aquilo não se teve tempo de fazer, de aproveitar a vida” (PAPALÉO NETTO, 1996.p 99)
“Gostei muito e gostaria que continuasse”.
Esta fala embora sintética evidencia a adesão à proposta de trabalho desenvolvida, indicando claramente o desejo de continuidade.
“Aprendi com vocês a me exercitar todos os dias. Acordo e antes de levantar faço todos os exercícios. Fazia muito movimento trabalhando, mas exercício mesmo fui aprender com vocês”.
Eis o verdadeiro sentido da promoção da saúde, as atividades desenvolvidas no grupo foram levadas adiante para o dia-a-dia do sujeito, mostrando que o que foi aprendido no grupo pode se transportado para além dele, em outros contextos de sua vida. Este é um relato importante, pois conforme Pickles et al (2000), os exercícios podem contribuir para compensar determinada deficiência de movimento, aumentar a capacidade funcional ou simplesmente proporcionar prazer; a atividade física é capaz de beneficiar pessoas de todos os grupos etários, especialmente as pessoas idosas.
Os resultados obtidos mostram que a vida em sociedade deve ser estimulada e que a atividade coletiva interdisciplinar oportuniza a promoção da saúde e a formação de uma rede de conhecimento que está ligada a capacidade de ensinar e aprender considerando a realidade social de cada um. Neste processo todos os atores aprenderam, docentes, discentes e idosos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem utilizada favoreceu a participação do público posto que foram valorizados os seus saberes, sua cultura, seus valores, fazendo com que os idosos se sentissem protagonistas do processo de autocuidado e qualidade de vida.
Rodrigues (2002) refere que o ser humano é acompanhado de uma diminuição progressiva da capacidade funcional conforme vai envelhecendo. Sendo assim, para se obter um envelhecimento bem sucedido, o principal desafio é a preservação da qualidade de vida, sendo de grande importância um bom estado nutricional e a prática regular da atividade física. Isso refletirá positivamente na saúde e bem estar dos idosos assim como oportunizará maior interação social e novos propósitos existenciais.
Atuar frente a essa realidade, ser capaz de compreender a faceta do envelhecimento no atual contexto histórico-social é de grande valia. Neste sentido, os grupos de convivência configuram-se como um espaço privilegiado para ampliar a rede social do idoso conferindo-lhe um sentimento de pertencimento e de ser integrante do processo decisório relativo a sua própria vida. A participação em uma experiência como esta, em que se atuou de modo interdisciplinar, junto a uma parcela da população idosa, oportunizou um espaço de aprendizagem a docentes e estudantes de diferentes áreas, em diferentes níveis de aprofundamento do conhecimento acadêmico, o intercâmbio entre teoria e prática, permitindo o desenvolvimento de habilidades e competências no campo da geriatria e gerontologia em ações interdisciplinares de atenção primária de saúde.
Para RAFE (2004), o progressivo aumento da expectativa de vida da população traz demandas em assistência que deverá ser discutida no âmbito dos gestores das políticas públicas de saúde. Embora o envelhecimento esteja associado a condições de dependência e incapacidade, os atuais conceitos condicionam esses fatores à doença e não ao idoso. A proposta desse trabalho foi de desconstruir essa visão curativista e assistencialista a partir de práticas que pudessem fortalecer a possibilidade de co-responsabilização do indivíduo no processo saúde-doença.
Nesse sentido, considera-se que cada vez mais deve ser repensada as ações em saúde em nível primário de atenção no intuito de promover a saúde da população favorecendo a autonomia e o auto-cuidado para que o envelhecimento se dê com melhor qualidade de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DE CARLO, Marysia M. R. Prado e LUZO, Celina Camargo (Orgs.) Terapia ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas. São Paulo: Plexus, 2001
DELIBERATO, Paulo C. P.2002. Fisioterapia Preventiva: Fundamentos e Aplicações. 1a. ed. São Paulo: Manole. 2002
DOUGLAS, C. R. Tratado de Fisiologia Aplicado a Nutrição. São Paulo: Robe. 2002.
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OLIVEIRA, Lindomar Guimarães. Ano1. Osteoporose: Conduta Prática para diagnóstico e tratamento. Atualização em Ortopedia. Sã Paulo.v.3, p.7-18.
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PECKENPAUGH, N. J., POLEMAN, C. M. Nutrição Essência e Dietoterapia. São Paulo: Rocca. 1997.
PICKLES,Barrie; Compton,Ann; COTT, Cheryl; SIMPSON, Janet; VANDERVOORT, Anthony. Fisioterapia na terceira idade. 2ª edição. Ed. Santos. 2000.
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SPINE. Coluna vertebral e gravidez. Disponibilizado em: . Acesso em 25 julho 2003.
SOUZA, Elza L. B. 1999. Fisioterapia Aplicada à Obstetrícia e Aspectos de Neonatologia. 2a. ed. Ed. Health. Belo Horizonte.

ANEXOS




ANEXO I
PROJETO AÇÃO INTERSDISCIPLINA NA PROMOÇÃO AO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL
AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DO USUÁRIO
Esta entrevista tem por objetivo avaliar a satisfação quanto aos grupos de atenção básica de saúde (grupo de idosos).
1) Dados de Identificação:
1.1) Sexo: ( ) F ( ) M
1.2) Idade:
( ) De 20 a 40 anos
( ) De 40 a 60 anos
( ) Acima de 60 anos
1.3) Principal queixa:
1.4) Doença referida:
2) Desde quando participa do grupo e omo ficou sabendo da existência do grupo:
( ) Foi convidado pelo ACS e/ou aluno.
( ) Através de um vizinho/conhecido.
( ) Outro. Qual:
3) Com que freqüência participa do grupo:
( ) 1 vez/semana.
( ) 2 vezes/mês
( ) 1 vez/mês
( ) Algumas vezes no semestre.
4) Qual o motivo da ausência?
5) As informações discutidas no grupo fizeram alguma mudança nos seus hábitos diários?
_________________________________________________________________________
6) O que consegue fazer hoje que não conseguia antes do grupo (AVDs)
7) Quais as atividades que mais gosta de fazer no grupo?
( ) Exercícios
( ) Recreação
( ) Relaxamento
( ) Discussão dos temas
( ) Verificação da PA
( ) Conversar com os amigos
( ) Outra. Qual?
8)O que você menos gosta no grupo?
9)Você teve alguma dificuldade de acesso ?
10) Você gostaria de dar alguma sugestão para as atividades do grupo?
11) Defina a avaliação do grupo? ( ) ótimo ( ) MB ( ) B ( ) R
12) Deixe aqui sua sugestão: