A PERSPECTIVA OMNILATERAL E POLITÉCNICA NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO

THE OMNILATERAL AND POLYTECHNIC PERSPECTIVE IN INTEGRATED SECONDARY EDUCATION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202412100521


Elaine Cristina Ribeiro Carrijo1
 Professora/orientadora: Sandra Aparecida Fernandes Lopes Ferrari2


Resumo

Este estudo, apresenta uma pesquisa, de cunho bibliográfico, na área da Educação Profissional e Tecnológica – EPT. Surge da inquietação acerca de conceitos e princípios que embasam o Ensino Médio Integrado, em especial os princípios da omnilateralidade e da politecnia. Em que medida esses saberes podem ser apresentados como possibilidade de prática docente nessa modalidade de ensino? O objetivo principal é, com base nos conhecimentos adquiridos com a pesquisa, contribuir, na prática, para reflexões acerca do tema abordado. Para esta pesquisa, a metodologia foi realizar um levantamento bibliográfico e documental, e como resultado, chegamos à conclusão de que os princípios da omnilateralidade e politecnia são tidos como pilares da modalidade do Ensino Médio integrado e que as práticas de ensino nessa perspectiva devem ter como enfoque a indissociabilidade entre o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, o trabalho como princípio educativo, a pesquisa como princípio pedagógico e a integração entre os conhecimentos gerais e específicos numa perspectiva de totalidade, na busca pela formação integral dos seres humanos.

Palavras-chave: Ensino Médio Integrado, Omnilateralidade, Politecnia.

Abstract

This study presents a bibliographical research in the area of Professional and Technological Education (EPT). It arises from the concern about concepts and principles that underpin Integrated High School Education, especially the principles of omnilaterality and polytechnics. To what extent can this knowledge be presented as a possibility of teaching practice in this teaching modality? The main objective is, based on the knowledge acquired through the research, to contribute, in practice, to reflections on the topic addressed. For this research, the methodology was to carry out a bibliographical and documentary survey, and as a result, we came to the conclusion that the principles of omnilaterality and polytechnics are considered pillars of the Integrated High School modality and that teaching practices in this perspective should focus on the inseparability between work, science, technology and culture, work as an educational principle, research as a pedagogical principle and the integration between general and specific knowledge in a perspective of totality, in the search for the integral formation of human beings.

Keywords: Integrated High School, Omnilaterality, Polytechnic.

1. INTRODUÇÃO

O Ensino Médio Integrado (EMI) é uma modalidade de ensino ofertada prioritariamente pelos Institutos Federais de Educação, por meio da integração entre a formação profissional e o Ensino Médio, ou seja, trata-se da educação profissional técnica integrada ao ensino médio, uma das vertentes da Educação Profissional e Tecnológica (EPT).

A possibilidade de integração do Ensino Médio com a Educação Profissional se deu por meio do Decreto 5.154/2004 e tem sido um ganho importante na luta pela democratização da educação que merece ser evidenciado, a fim de não se perder de vista os propósitos dessa modalidade de ensino. 

Os cursos técnicos integrados ao ensino médio, vinculados à EPT, ofertados pelos Institutos Federais, visam formar os indivíduos em sua totalidade, considerando todas as suas dimensões: físicas, intelectuais, psicológicas, sociais, culturais e políticas. Ou seja, busca-se a formação ampla, por meio da integração de todas as áreas que envolvem a vida humana: o trabalho, a ciência, a cultura e a tecnologia. Desse modo, a proposta não objetiva atender às demandas de formação de mão de obra para o “mercado de trabalho”, pelo contrário, o foco está na formação humana (BRASIL, 2007).

O presente trabalho origina-se a partir de uma pesquisa bibliográfica acerca de conceitos e princípios que norteiam o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Tecnológica, que teve a internet como principal recurso de busca, por meio do google e sites como Scielo e periódicos de universidades como da Unicamp, para a localização e seleção dos artigos científicos que serviram como instrumentos de fonte de pesquisa tendo como principais referências os seguintes autores: Moura (2007, 2010), Ciavatta (2005, 2014), Marise Ramos (2008, 2014), Saviani (1989, 2007). Tem-se como objetivo contribuir com reflexões acerca de conceitos e princípios que embasam a modalidade, em especial a questão da omnilateralidade e da politecnia e apontar em que medida esses saberes podem ser apresentados como possibilidade de prática docente no contexto do ensino médio integrado, no intuito de que os seus propósitos de ensino sejam mantidos em foco. Além dos teóricos, a pesquisa também teve como fonte de pesquisa os documentos oficiais, tais como a LDB 9.394/96, o Decreto 5.154/2004 e o Documento Base do Ministério da Educação (MEC) que foram localizados, pela internet, nos sites do MEC e do Planalto.

2. O ENSINO MÉDIO INTEGRADO

O Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Tecnológica é uma das formas de articulação entre a formação geral, básica, e a formação profissional, possibilitada pelo Decreto n.º 5.154/04, além das formas concomitante e subsequente. A modalidade é prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) 9.394/96, de modo que, a formação profissional e a conclusão da formação básica podem ocorrer em um único curso, com matrícula, currículo e certificação únicas, em uma mesma instituição de ensino.

Historicamente, a educação profissional instituiu-se desvinculada da educação básica e tinha como enfoque apenas os aspectos operacionais do trabalho, sendo desprovida dos conhecimentos científicos e intelectuais (MOURA, 2010).  Desse modo, o Ensino Médio Integrado surge, em sentido contrário, buscando romper com essa dualidade, ao permitir às pessoas da classe trabalhadora o acesso aos conhecimentos produzidos pela humanidade, unindo trabalho e educação, considerando que, ambas as categorias, são intrínsecas à formação humana.

De acordo com o Documento Base do Ministério da Educação, Brasil (2007), o projeto do ensino médio integrado ao ensino profissional se sustenta sob a premissa de uma educação de caráter humanista, que embora englobe a qualificação profissional, o foco não está em produzir mão de obra, mas trata-se de um ensino que se centraliza no desenvolvimento humano, por meio do acesso amplo aos conhecimentos. Assim, essa modalidade de ensino, tem por finalidade permitir a elevação dos níveis de escolaridade das pessoas pertencentes à classe trabalhadora, bem como, a melhoria da qualidade do ensino que lhes é ofertado, pautando-se na perspectiva da formação integral. Assim, o ensino médio integrado tem a função social de formar amplamente os cidadãos, englobando a formação cidadã, política, social, científica, tecnológica e cultural (BRASIL, 2007).  

A respeito do EMI à EPT trataremos a seguir acerca de algumas concepções e princípios que embasam essa proposta de ensino.

3. CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS

Neste tópico, trataremos de conceitos e princípios basilares do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Tecnológica, em especial, acerca dos termos “formação politécnica”, “formação omnilateral” e “formação integrada”. 

Os cursos técnicos integrados ao ensino médio ofertados pelos Institutos Federais de Educação fundamentam-se nos princípios da formação integrada, omnilateral e politécnica, que segundo Ciavatta (2014) trata-se de um ideal de educação pelo qual nós lutamos em prol da educação de qualidade para a classe trabalhadora e que requer que se transforme em ações no momento presente.   Para a autora os termos não possuem o mesmo significado, mas se relacionam entre si e convergem para uma mesma ideia de completude, de formação ampla, plena, integral, que visa à superação da fragmentação histórica do ensino.

Iniciando pela formação politécnica, segundo Saviani (1989), sua concepção pressupõe que toda ação humana envolve corpo e mente, não existe qualquer realização humana que utilize somente as mãos e seja desprovida das habilidades cognitivas. Desse modo, enfatizamos, que a politecnia vem integrar a dimensão intelectual ao trabalho produtivo, na busca pela ruptura entre trabalho manual e intelectual, por meio da relação trabalho e educação (ensino profissional e intelectual) considerando os aspectos científicos e tecnológicos que estão envolvidos nos processos produtivos (SAVIANI, 1989 E FONTE, 2014).

Saviani (2007) considera que a educação politécnica é equivalente à educação tecnológica, pois do ponto de vista conceitual, ambas possuem o mesmo conteúdo. Trata-se de uma educação que contribui para o domínio dos conhecimentos científicos (física, química, arte, sociologia, etc) que envolvem os processos produtivos atuais, considerando os aspectos teóricos e práticos.  Implica na “formação humana em todos os aspectos, educação omnilateral, humanista e científica” (CIAVATTA, 2014, P. 189).

Para Ramos (2014), a formação politécnica implica em considerar todas as dimensões que envolvem os processos de trabalho, sendo elas, científicas, tecnológicas, sociais, históricas, filosóficas e culturais. Assim, exemplifica essa ideia tendo como referência o ensino da mecânica. Por meio da formação politécnica pode haver, além da compreensão dos seus aspectos técnicos, os demais aspectos citados anteriormente (científicos, sociais, históricos, filosóficos e culturais) considerando que estão diretamente relacionados ao processo de desenvolvimento dessa base científica e tecnológica. Para a autora, por exemplo, o desenvolvimento da mecânica implicou em mudanças na cultura. A criação do relógio é um exemplo disso, pois interferiu no modo de viver das pessoas. Nesse sentido, o ensino na perspectiva da politecnia deve partir desses diversos fundamentos que estão presentes nos processos produtivos.

É importante frisar, conforme o Documento Base do Ministério da Educação, Brasil (2007), que a concepção de educação politécnica defende que o ensino médio deveria ter uma base unitária, tratando-se uma escola que fosse unificada e igualitária para todas as classes sociais, na busca pela superação da dicotomia entre a cultura geral e a cultura técnica.

Para Moura (2007) e Brasil (2007), de acordo com o sentido de politecnia, a ideia seria que a oferta da formação profissional específica viesse a ocorrer somente após a conclusão do Ensino Médio, que fosse de caráter politécnico, porém, como ela é necessária na sociedade atual, a sua integração com a formação geral constitui-se em uma possibilidade que conduz à efetivação desse princípio.

Nesse sentido, o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional representa uma alternativa temporária e possível na busca pela educação politécnica, podendo levar a sua consolidação, pois contém os seus princípios, considerando que as pessoas da classe trabalhadora, diante da atual situação socioeconômica, em sua grande maioria, não têm condições de aguardar o término da educação básica para se profissionalizar, sendo necessário, muitas vezes, começar a trabalhar até mesmo antes disso. Assim, garante a integralidade da educação básica, proporcionando o acesso aos conhecimentos científicos produzidos ao longo da história da humanidade, ao mesmo tempo que, adicionalmente, oferta a formação profissional, integrando as duas dimensões (BRASIL, 2007).

Vale destacar que politecnia não se trata de superespecialização (MACHADO, 2013). Segundo Saviani (1989) a ideia não é formar trabalhadores adestrados, que saibam desempenhar com perfeição uma tarefa específica, para se encaixar em determinada demanda do mercado de trabalho que requer tal habilidade. Trata-se de promover o desenvolvimento multilateral dos indivíduos que vai englobar todos os ângulos da produção moderna, a partir da compreensão dos princípios e fundamentos que orientam a sua organização. Segundo o autor, os processos de produção moderna se organizam com base na Ciência, daí a necessidade da compreensão desses princípios científicos que lhes sustentam.

Por outro lado, politecnia, aqui, também não se refere ao domínio de muitas técnicas ou polivalência, não significa formar o trabalhor para ser multitarefa, pelo contrário, refere-se a sua formação ampla para que tenha maiores possibilidades de escolhas diante do mundo do trabalho (RAMOS, 2008).

Segundo Saviani (2007) o conceito de politecnia no contexto ensino integrado não é tratado no valor etmológico, literal da palavra que significaria “múltiplas técnicas”, mas considera-se o seu valor semântico, construído ao longo da história. Para o autor, no ensino médio a relação entre o ensino e o trabalho deve ser direta e explícita, ao contrário do ensino fundamental em que essa relação acontece indireta e implicitamente. Na etapa final da educação básica é fundamental que se recupere a relação entre os conhecimentos e a atividade prática do trabalho. Assim, já não é suficiente o domínio dos conhecimentos básicos e gerais que promovem e contribuem para a construção das práticas produtivas, mas torna-se necessário explicitar como a ciência, isto é, os saberes cientíticos se articulam e se materializam como recursos nos processos produtivos, levando ao domínio não só da teoria, mas também da prática que envolve a produção.

Relacionado ao conceito de politecnia há a ideia de omnilateralidade que contém o significado “de todos os lados”, apontando para algo completo, que se realiza plenamente (FONTE, 2014, p. 388). A concepção de omnilateralidade se relaciona à forma como o ser humano se constitui, que ocorre omnilateralmente, pois ao produzir a sua existência, por meio do trabalho, o homem utiliza o corpo e a mente, isto é, sua ação envolve intenção e consciência, diferente dos outros animais que agem unilateralmente, por instinto (FONTE, 2014). “Em especial, a alusão “cabeça e mãos” é potente para ilustrar o sentido de omnilateralidade. O trabalho é, portanto, uma ação corporal intencional e, como tal, envolve a plenitude das capacidades intelectuais” (FONTE, 2014, p. 388).

 Assim, o conceito de omnilateralidade relaciona-se à ideia de formação completa, a qual o sentido do ensino médio integrado abarca. É uma formação que busca o desenvolvimento integral do ser humano, de modo que, formar de modo omnilateral significa “formar o ser humano na sua integralidade física, mental, cultural, política, científico-tecnológica”, ou seja, em todas as suas dimensões (CIAVATTA, 2014; p. 190). Trata-se de um ensino que vai englobar o mundo do trabalho, a ciência (conhecimentos científicos e tecnológicos) e a cultura de forma integrada (RAMOS, 2008). 

Assim, a formação omnilateral, conforme Ramos (2014), é oposta ao tipo de formação unilateral que predominou ao longo do tempo na formação dos trabalhadores, que favorecia os aspectos manuais do trabalho, em detrimento dos aspectos culturais e intelectuais. O foco dessa nova proposta é posto no desenvolvimento multilateral do ser humano. Assim, a autora traz um exemplo bem interessante: ao se trabalhar música na escola, pode ser que algum aluno descubra em si essa habilidade artística e, desse modo, poderá ser um técnico que tenha a competência musical. Para ela, a ideia é justamente que as pessoas percebam as suas potencialidades e isso possa refletir em maiores oportunidades de escolhas. Formar-se técnico, nessa perspectiva de ensino, não exclui a possibilidade de futuras formações. A autora também dá o exemplo de que um técnico pode se tornar advogado e de que alguém que trabalhe como psicólogo possa possuir conhecimentos específicos da mecânica, por exemplo, sendo um sujeito que teve acesso a uma diversidade de experiências e que assim pode ir desenvolvendo diversas habilidades ao longo da vida.

Segundo Pacheco (2015), a formação integral visa à superação do homem fragmentado pela divisão social do trabalho, entre os que pensam e os que executam o trabalho, divisão esta que está presente na educação focada no treinamento para desempenhar determinada função. Em sentido contrário, trata-se de uma educação que embora englobe a formação profissional, a formação cidadã vem em primeiro lugar, como forma de possibilitar ao trabalhador a compreensão das relações que se dão nos processos produtivos e qual é seu papel dentro deles. 

A busca pela formação omnilateral e politécnica aponta para a formação integrada, sendo esta uma estratégia para alcançar o ideal de formação integral, representando-se, nesse momento, pelo ensino médio integrado.

Segundo Ciavatta (2014), o ensino integrado abarca pelo menos dois sentidos:  o primeiro indica uma das formas de articulação entre a qualificação profissional e a formação geral, a exemplo disso, a integração entre a Educação Profissional Técnica de Nível Médio e o Ensino Médio, por meio dos cursos Técnicos Integrados ao Ensino Médio; o segundo sentido refere-se ao ideal de formação plena.  Segundo Ciavatta (2005) a formação integrada busca resgatar a integralidade do ser humano, tornando-o inteiro, por meio da união entre o pensar e o fazer e do acesso amplo aos conhecimentos produzidos pela humanidade, promovendo, assim, a preparação para a vida em sua totalidade.  “Trata-se de superar a redução da preparação para o trabalho ao seu aspecto operacional, simplificado, escoimado dos conhecimentos que estão na sua gênese científico-tecnológica e na sua apropriação histórico-social” (CIAVATTA, 2005, p. 2). Assim, “o sentido que deve ser dado ao ensino integrado é o de […] completude, de compreensão das partes no seu todo” (FRANCO, 2005, P. 18 APUD ARAÚJO E FRIGOTTO, 2015)

Complementamos, com base em Moura (2010), que o ensino integrado parte do princípio de que o ser humano é integral, pois a vida humana é composta por múltiplas dimensões que se relacionam. A vida envolve ciência, trabalho e cultura, as dimensões físicas e intelecutais e, do mesmo modo, o processo de ensino deve refletir essa complexidade, não se restringindo apenas a uma dimensão, mas englobando todos os aspectos.

Nesse sentido, a formação integrada requer que a formação geral seja parte indissociável da formação profissional em todos os âmbitos em que ocorre a preparação para o trabalho, sejam eles nos processos produtivos ou educativos. Assim, integra-se a dimensão intelectual ao trabalho produtivo, na busca pela superação da dualidade entre trabalho intelectual e manual, de modo que, possibilita a formação de trabalhadores que sejam aptos, além de mais nada, a desempenhar funções de dirigentes e atuar como cidadãos (GRAMSCI, 1981APUD CIAVATTA, 2005).

Segundo Ciavatta (2005) e Moraes et al. (2013), a formação integrada não condiz com a mera preparação técnica para o trabalho operacional, voltada para a empregabilidade imediata, nem com a formação focada exclusivamente em preparar o aluno para realizar provas para conseguir ingressar no ensino superior. Ambas as vertentes não possibilitam a formação plena, tratando-se de formas de ensino mecânicas e unilaterais, contrárias à formação integral e omnilateral. 

De acordo com Ciavatta (2014), esse ideário de formação integrada não é novo, remonta ao ideal de formação politécnica e omnilateral que se buscava nos anos 80, nas lutas pela democratização da educação e sob a formulação de uma nova LDB, mas que não obteve êxito naquela época, pois a ideia não foi contemplada na aprovação da Lei n.º 9.394/96. A possibilidade de integração entre a educação profissional e o ensino médio se deu somente em 2004, com a exaração do Decreto 5.154/2004, após novas discussões na busca pela superação da dualidade entre as duas categorias (FRIGOTTO, CIAVATTA & RAMOS, 2005).

3.1 Práticas de ensino na perspectiva da formação omnilateral e politécnica

No contexto do ensino médio  integrado, que objetiva ser politécnico e omnilateral, é importante                  destacar os sentidos da integração entre o ensino médio e a educação profissional postos por Ramos (2014) resumindo-se em três conceitos fundamentais que se relacionam e que devem ser levados em consideração na organização do trabalho pedagógico nessa modalidade de ensino: o primeiro sentido é filosófico e se constitui pela integração entre as dimensões fundamentais da vida, compostas pelo trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, na busca pelo desenvolvimento omnilateral do ser humano; o segundo, tem sentido político, refere-se ao princípio da indissociabilidade entre a educação profissional e a educação básica, o que prevê tanto o direito à educação básica, quanto à educação profissional; e o terceiro sentido é epistemológico, pois visa a formação a partir da integração dos conhecimentos gerais e específicos numa perspectiva de totalidade.

O primeiro sentido da integração, que pressupõe integrar no ensino as diferentes dimensões da vida humana na busca pela formação omnilateral, aponta para o trabalho como princípio educativo, que é um dos princípios basilares e orientadores dos processos pedagógicos no ensino médio integrado, ter o ensino pautado nesse princípio pressupõe compreender a indissociabilidade que há entre a categoria do trabalho e as dimensões da cultura, da ciência e da tecnologia. Implica, também, em introduzir no ensino todos os aspectos que envolvem os processos de trabalho, inclusive os conhecimentos científicos e tecnológicos. Não se trata de aprender fazendo, nem em preparar exclusivamente para o trabalho, mas trata-se de considerar o caráter formativo e humanizador do trabalho, por meio do qual o ser humano produz a sua existência, se apropria da realidade e a modifica (BRASIL, 2007).

Moura (2010) e Saviani (2007) explicam que o caráter formativo do trabalho se dá pelo fato de que ao mesmo tempo que trabalha, o homem aprende e ao mesmo tempo que aprende, também produz conhecimento, ele vai descobrindo como produzir a sua existência e transmite esses conhecimentos para as outras pessoas. Enquanto trabalha, ao agir sobre a natureza, adaptando-a às suas necessidades, o homem o faz de maneira intencional e consciente, usa o corpo e a mente, diferente dos outros animais que apenas agem por instinto para sobreviverem.   

Para Moura (2010), o trabalho contempla em si dois significados diferentes: sendo um ontológico e o outro histórico. O sentido ontológico indica que o trabalho é o elemento central na produção da existência do homem, faz parte de sua essência. Já o sentido histórico, está relacionado às diferentes formas que o trabalho vai adquirindo ao longo do tempo, isto é, ao modelo de prática econômica existente em cada época. Por exemplo, atualmente, o trabalho é assalariado, relaciona-se à empregabilidade (RAMOS, 2004 APUD MOURA, 2010).

Saviani (2007) traz a reflexão de que a formação (educação) do homem está intrínseca à produção (trabalho) do homem, pois ao mesmo tempo em que se produz/trabalha, o homem se forma/se educa, pois o homem não nasce sabendo ser homem, ele precisa aprender a produzir a sua humanidade, e aprende produzindo-a.  Isso explica o caráter do trabalho como princípio educativo, além de demonstrar que a origem da educação coincide com a origem do homem que se faz por meio do trabalho.

Por meio do trabalho como princípio educativo, busca-se integrar a dimensão intelectual ao trabalho manual (teoria e prática), possibilitando a capacitação dos sujeitos para atuarem na sociedade, em todas as esferas, inclusive como dirigentes (RAMOS, 2014).   

Sendo assim, o ensino pautado no trabalho como princípio educativo busca permitir a produção do homem, a sua formação e a sua humanização, por meio do acesso aos conhecimentos que foram produzidos ao longo da história da humanidade por meio do trabalho (BRASIL, 2007).

Essa ideia do trabalho como princípio educativo remonta a outro conceito que é a questão da formação para o mundo do trabalho. Nesse sentido, os cursos técnicos integrados ao ensino médio ofertados pelos Institutos Federais de Educação têm uma proposta de ensino focada no desenvolvimento humano e no acesso aos conhecimentos produzidos historicamente, contrária às práticas de ensino voltadas ao atendimento das demandas de formação de mão de obra para os processos produtivos. A perspectiva do ensino volta-se para a formação ampla, por meio da integração entre conhecimentos gerais e específicos. Assim, busca-se formar para o “mundo do trabalho” e não mais para o “mercado do trabalho” como se predominou o ensino profissional ao longo da história, em que as pessoas eram consideradas instrumentos de força de trabalho. Preparar para o mundo do trabalho implica em uma formação humanizadora e emancipadora, que busca formar os sujeitos para a vida como um todo, considerando todas as dimensões que envolvem a prática social (o trabalho, a ciência, a cultura e a tecnologia). Ter o ensino pautado no trabalho como princípio educativo, implica no pressuposto de que o ser humano é produtor de sua própria história, é pensar o trabalho não apenas na dimensão do emprego (histórica), mas pensá-lo na dimensão ontológica como realização humana (Brasil, 2007). Assim sendo, “o conceito de trabalho como princípio educativo é radicalmente incompatível com a formação de ‘recursos humanos’” (MOURA, 2010, p. 886).

Nesse sentido, segundo Moura (2016), a proposta do ensino médio integrado
à educação profissional, apresenta uma nova concepção de educação e do tipo de ser humano que se deseja formar. Os sujeitos podem adquirir as habilidades técnicas, mas apenas o seu domínio não é suficiente, é necessário que haja a compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos que envolvem os processos de trabalho.

Sendo assim, a educação profissional e tecnológica não pressupõe a preparação exclusiva para a atuação no trabalho, mas para além disso, busca proporcionar a compreensão de como ocorrem os processos sócio-produtivos na sociedade atual, para que os sujeitos tenham autonomia e capacidade crítica (BRASIL, 2007).

Outro princípio basilar que deve estar presente nas práticas de ensino do ensino médio integrado e que também se relaciona ao primeiro sentido de integração, na busca pela omnilateralidade, é a pesquisa como princípio pedagógico, pois o ensino, por meio da pesquisa, contribui para a formação ampla dos sujeitos, tornando-os produtores do próprio conhecimento e de sua realidade, contribuindo, assim, com a formação omnilateral.

Ramos (2014), explica que o ensino com base no princípio do trabalho e da pesquisa, produz a formação autônoma dos sujeitos, implicando na capacidade de produzir conhecimento, de contribuir com a transformação da realidade, e na capacidade de resolução de problemas, o que contribuirá para a formação de sujeitos mais completos. Para a autora, é primordial a presença da pesquisa nos processos de ensino, pois além de proporcionar a autonomia intelectual promove mecanismos que levam à formação do senso crítico, favorecendo a atuação nas práticas sociais e nos processos de trabalho. Nesse sentido, é importante a apropriação e o fortalecimento da relação entre o ensino e a pesquisa nas práticas educativas, inclusive, no ensino profissional.

Segundo Pacheco (2011) a educação profissional e tecnológica ofertada pelos institutos federais de educação tem como diretrizes o tripé ensino, pesquisa e extensão, de modo, que as práticas de ensino devem ser pautadas em sua indissociabilidade. Para Pacheco (2015) a pesquisa deve ser o elemento central no processo educativo em que o professor deve ser cada vez mais o orientador que guiará a construção dos conhecimentos.

Tratando-se do segundo sentido da integração, a indissociabilidade entre a educação profissional e a educação básica, se refere ao direito a ter acesso às duas categorias, sendo que uma não prescinde da outra, de modo que, a educação profissional não substitui a formação geral, e além disso, ambas devem ser indissociáveis, conforme prevê o decreto 5.154/2004, sendo ofertadas em uma mesma instituição de ensino, com matrícula, currículo e certificação únicas (BRASIL, 2004). 

O terceiro sentido da integração aponta para a relação que deve haver entre os conhecimentos gerais e específicos numa perspectiva de totalidade, que segundo Brasil (2007) deve ser a base para as práticas educativas no ensino médio integrado à educação profissional, visando à compreensão global da realidade.

Para Ramos (2008) a realidade é composta por múltiplas dimensões que formam uma totalidade. Assim, sugere que o   ensino integrado, deve partir da totalidade concreta, vinculando os conhecimentos da área de formação específica, na qual os alunos estão se formando, aos aspectos econômicos, históricos, sociais, políticos, culturais e ambientais e técnicos, que estão envolvidos nessa base de atividade produtiva.

Assim, exemplificamos com base em Ramos (2008, não paginado):

[…] o processo de produção do turismo em Natal, no Rio Grande do Norte, como o campo da formação do técnico em turismo. Vamos analisá-lo na perspectiva físico-ambiental. Há cerca de 15 anos não existiam os grandes hotéis da Praia de Ponta Negra nem línguas “negras” desembocando no mar. […] Já na dimensão econômico-produtivo poderíamos perguntar o que significa o crescimento do turismo para a economia da região. Do ponto de vista histórico-cultural, que relações estão construídas nessa prática, que valores são desenvolvidos ou são negados? Por que a expansão hoteleira em Ponta Negra ocorreu tão rapidamente? E do ponto de vista técnico-organizacional, o que faz o técnico em turismo? Quais são seus procedimentos e suas responsabilidades? 

Nessa perspectiva de ensino, é preciso que os conceitos de diferentes disciplinas se relacionem, desse modo, o aluno não terá apenas a visão dos conceitos específicos da formação pretendida, mas a visão do todo. Por exemplo, ao trabalhar a perspectiva físico-ambiental, surgiriam conceitos de diversas disciplinas, como geografia, biologia, química, física, matemática, dentre outras (BRASIL, 2007).

Assim, é necessário que os professores do núcleo técnico busquem estratégias para que sempre haja a relação entre os conhecimentos de sua área específica e as demais áreas, e que os professores do núcleo comum compreendam que também são professores da formação profissional e que busquem englobar os conhecimentos trabalhados na sua disciplina com os conhecimentos que envolvem os processos produtivos da área profissional em que os alunos estão se formando (BRASIL, 2007). Porém, deve-se ter claro, segundo Ramos (2008) que isso não significa que as disciplinas de formação geral devam ser utilizadas como instrumentos para o ensino das disciplinas técnicas, mas deve haver a integração entre os diferentes componentes curriculares, com enfoque na compreensão global da realidade, indo ao encontro da formação omnilateral e politécnica.

A seguir trataremos das considerações finais referentes à pesquisa.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo buscou evidenciar alguns dos principais conceitos e princípios que embasam o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, além de, apontar como esses conceitos podem se apresentar como possibilidade de prática docente nessa modalidade de ensino, não tendo a intenção de esgotar as reflexões sobre a temática. Evidenciou-se que a modalidade tem como pilares os os princípios da omnilateralidade, politecnia e formação integrada, concepções de ensino que surgiram no Brasil nos anos 80, na busca pela ruptura da dualidade entre o ensino profissionalizante e a educação básica, e por uma educação de qualidade para as pessoas pertencentes à classe trabalhadora. Porém, o ensino médio integrado, ainda é um projeto em construção, que por conter os princípios da politecnia, é uma possibilidade para alcançá-la, apesar de ainda não o sê-la. 

Assim, o ensino médio integrado se constitui em uma proposta de ensino de caráter humanista, científico e tecnológico, que visa à formação plena do ser humano, por meio do resgate da sua integralidade, unindo as dimensões intelectuais e manuais, teoria e prática, o fazer e o pensar. Trata-se de um ensino que considera o ser humano na sua totalidade e que se organiza a partir da totalidade social, o qual visa à compreensão global da realidade, a partir do acesso amplo aos conhecimentos produzidos historicamente, levando os sujeitos a terem autonomia e capacidade crítica. 

Nesse sentido, no ensino médio integrado, com base nos princípios da politecnia e omnilateralidade, as possibilidades de práticas docentes se dão a partir da indissociabilidade entre as diferentes dimensões que envolvem a vida humana, compostas pelo trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, o trabalho como princípio educativo, a pesquisa como princípio pedagógico, e a integração entre os conhecimentos gerais e específicos numa perspectiva de totalidade. De modo que, o que se busca é a formação para o mundo do trabalho, envolvendo todas as suas dimensões, tratando-se de um ensino em que a centralidade está na promoção do ser humano e no desenvolvimento de suas amplas potencialidades, contrário ao antendimento às demandas de produção de mão de obra para o mercado de trabalho.

Consideramos as reflexões aqui apresentadas pertinentes e esperamos que possam contribuir para a construção de conhecimentos acerca da temática do ensino médio integrado e, considerando a sua complexidade, esperamos que novas pesquisas possam surgir em complemento a esta, inclusive sobre práticas educativas que contemplem a formação humana integral.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, R. M. L.; FRIGOTTO, G. Práticas pedagógicas e ensino integrado. Revista Educação em Questão, Natal, v. 52, n. 38, p. 61-80, maio/ago, 2015. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/article/view/7956. Acesso em: 30 abr. 2023.

BRASIL. Decreto nº 5.154, de 23 de julho de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5154.htm>. Acesso em: 30 abr. 2023.

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BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 dezembro de 1996. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 12 maio 2023.

BRASIL. Ministério da Educação. Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio. Documento Base. Dez. 2007. Disponível em:
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 1Mestranda pelo Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) – Campus Calama, contemplada pelo Programa de Bolsas para o desenvolvimento de projetos de pesquisa (PIP), e, igualmente, servidora do quadro técnico administrativo do IFRO – Campus Vilhena contemplada com recursos do Programa de Incentivo à Qualificação (PIQ-IFRO), pelo Campus Vilhena e-mail: elaine.carrijo@ifro.edu.br;
 2Docente do Programa de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) do Instituto Federal de Rondônia (IFRO) Campus Calama. Doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho. e-mail: sandra@ifro.edu.br