A NEUROCIÊNCIA E SUAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202408081925


Caio Marchioro Vinco1,
Wagner Barbosa de Oliveira2


RESUMO

Este artigo investiga através de pesquisa bibliográfica como a neurociência e suas tecnologias no processo de alfabetização pode contribuir para a educação. A neurociência em seu desenvolvimento e estudo a respeito do sistema nervoso humano e entendimento a respeito do funcionamento do cérebro pode gerar grandes contribuições em diversas áreas de estudos, bem como no processo de alfabetização ou aprendizado da leitura e escrita. Compreensão de modo se dá a funcionalidade e integração dos sentidos humanos, pois a disfunção nessa integração pode gerar dificuldades. No trabalho neural, se deve buscar fortalecer as bases neurais para a leitura, pois prática regular de leitura reforça o reconhecimento e a compreensão. A compreensão de como o cérebro processa a sensação sendo fundamental não somente para a educação, mas também a medicina e a psicologia para favorecer o desenvolvimento de tecnologias como interfaces cérebro-computador e próteses sensoriais, assim como para processo de alfabetização. A neurociência explorando campos da memória e da alfabetização para desenvolver métodos para ensinar a leitura e a escrita. 

Palavras-chave: Neurociência. Educação. Alfabetização. Tecnologias.

ABSTRACT

This article investigates through bibliographical research how neuroscience and its technologies in the literacy process can contribute to education. Neuroscience in its development and study of the human nervous system and understanding of how the brain works can generate great contributions in various areas of study, as well as in the process of literacy or learning to read and write. Understanding how the functionality and integration of human senses occurs, as dysfunction in this integration can generate difficulties. In neural work, one must seek to strengthen the neural bases for reading, as regular reading practice reinforces recognition and understanding. Understanding how the brain processes sensation is fundamental not only for education, but also for medicine and psychology to favor the development of technologies such as brain-computer interfaces and sensory prostheses, as well as for the literacy process. Neuroscience exploring fields of memory and literacy to develop methods for teaching reading and writing.

Keywords: Neuroscience. Education. Literacy. Technologies.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo propõe um diálogo no que se refere a neurociência e suas tecnologias no processo de alfabetização, buscando narrar como essa proposta pode ocorrer no campo educacional, porém buscando questões que demonstrem como a neurociência pode contribuir e trabalhar junto com a educação. O trabalho sendo executado através do método de pesquisa bibliográfica. 

A proposta sendo construída com uma narrativa onde temas de neurociência são levados de encontro com a área da educação e do desenvolvimento referentes ao processo de alfabetização, com a perspectiva de levantar o debate como o cérebro processa a leitura a e escrita. Como a emoção sendo entendida como parte do processo educacional, colaborando com os demais pontos abordados, para contribuir de forma eficaz para a alfabetização, entendendo que cada indivíduo e possui seu tempo e modo de aprendizagem, sendo carregados de emoções. Devendo ser ofertado um ambiente escolar positivo, seguro e baseado no respeito. 

Abordando as técnicas e benefícios da memória, para se construir métodos de ensino eficientes em que o indivíduo possa usar da comparação e da associação com memórias visuais, auditivas, sensoriais e mesmo emocionais. 

2 – A neurociência e suas tecnologias no processo de alfabetização

A neurociência é o campo da ciência que estuda o sistema nervoso, incluindo a estrutura, a função, o desenvolvimento, a genética, a bioquímica, a fisiologia e a patologia dos neurônios e circuitos neurais. Ela abrange uma ampla gama de disciplinas, desde a biologia molecular até a psicologia e a ciência cognitiva tendo o potencial de revolucionar a medicina, a psicologia e a nossa compreensão do comportamento humano, oferecendo novas formas de diagnosticar, tratar e até mesmo prevenir doenças neurológicas. 

A pesquisa em neurociência por si só não introduz necessariamente novas estratégias educacionais. Contudo, fornece razões concretas não especulativas, não uma receita mágica para todos os “males” da educação escolar, mas certas abordagens e estratégias educativas que ao longo do tempo, poderão trazer bons resultados. Destacam-se entre as técnicas de aprendizagem, “questionamento criativo” a explicação do por que um ou conceito é verdadeiro; “auto explicação” como a informação nova está relacionada à informação já conhecida; “sumarização”, criar o hábito de escrever resumos de textos a serem aprendidos; “ação de grifar”, destacar com caneta marca texto segmentos do texto durante a leitura; “imagem mental”, tentar formar uma imagem mental do texto enquanto lê ou ouve com atenção um relato; “auto-teste” auto avaliar-se para verificar o progresso no entendimento de material a ser aprendido e compreendido. Em síntese, o cérebro se modifica aos poucos fisiologicamente e estruturalmente como resultados de experiências de aprendizagem (Bartoszeck, 2017, p, 9).

A neurociência oferece insights valiosos sobre como o cérebro processa a leitura e a escrita, iluminando o processo de alfabetização e ajudando a desenvolver métodos mais eficazes de ensino. Trabalhando no reconhecimento de palavras e envolvendo o processamento rápido e eficiente, que se torna automático com a prática. As palavras familiares são reconhecidas quase instantaneamente pelo córtex visual. Dessa forma, a leitura envolve a integração de estímulos visuais de letras e palavras com a informação auditiva através de sons correspondentes. A disfunção nessa integração pode levar a dificuldades de leitura, como a dislexia. 

O cérebro aprende em determinados ambientes em sala de aula. Mostra “períodos sensíveis ou críticos” para certos tipos de aprendizagem que não se esgotam mesmo na idade adulta, o que é particularmente de grande interesse para o docente da pré-escola e primeiras séries do ensino fundamental. O cérebro da criança é altamente influenciado pelos ocorridos registrados pelos receptores sensoriais, traduzidos em impulsos elétricos (.potencial receptor), mas com as sutilezas de “experiência de expectativa” e ou “experiência de dependência” e conduzido para as áreas específicas do infante (Bartoszeck, 2017, p, 9 e 10).

A neurociência contribuindo para a alfabetização com diagnóstico e intervenção precoce, podendo ajudar a identificar crianças em risco de dificuldades de leitura, permitindo intervenções precoces que são mais eficazes com métodos de ensino baseados no cérebro em que programas de alfabetização que focam na consciência fonológica e na prática repetitiva são baseados em como o cérebro processa a linguagem. Produzindo métodos Multissensoriais, que envolvem a audição, visão e movimento, podem ser mais eficazes para crianças com dificuldades de leitura. 

Levando-se em consideração estes aspectos e a partir de estudos científicos, para que se obtenha um ensino-aprendizagem de qualidade, é preciso que haja mudanças em relação aos métodos de alfabetização. Não bastam métodos meramente instrucionais, pois estes não acompanham a individualidade e certas características pessoais dos alunos. Assim sendo, é essencial que os professores se conscientizem que alunos, pré-escolares ou não, desenvolvem-se e adquirem conhecimentos em tempos diferentes. Na escola algumas vezes se compara um aluno com outro. Mas essas comparações acabam sendo muito prejudiciais às crianças, devido ao fato de elas terem ritmos de aprendizagem diferenciados. Isso não deve ser atribuído como sucesso ou fracasso escolar dos indivíduos (Hirata, 2019, p, 23). 

Referente ao processo de alfabetização e da unicidade de cada indivíduo no processo de aprendizado, podemos destacar o treinamento e desenvolvimento de habilidades através de jogos e atividades que treinam a consciência fonológica e a memória de trabalho podem fortalecer as bases neurais para a leitura. A prática regular de leitura reforça as conexões neurais envolvidas no reconhecimento de palavras e compreensão.

Esses estudos sobre a importância das neurociências para a alfabetização se tornam cada vez mais relevantes, pois entender o caminho neural percorrido para verbalização, obtenção da leitura, manter estrutura atencional e meios de aprendizagem pode ser essencial para uma alfabetização mais eficaz. 

Foram desenvolvidos até aqui alguns conceitos a respeito da alfabetização e dos estudos das neurociências no processo de ensino-aprendizagem qualidade. A maioria desses estudos focaram-se em relação à individualidade de cada ser humano no ato de aprender. Pode ser que isso seja devido ao fato do que realmente as neurociências vêm a contribuir na educação. Ou seja, entender cada criança, o que acontece no cérebro na aprendizagem, pode ajudar muitos professores dentro das salas de aula (Hirata, 2019, p, 23 e 24).

Compreender como o cérebro processa a sensação e a percepção é fundamental para áreas como a psicologia, medicina, e até mesmo o desenvolvimento de tecnologias como interfaces cérebro-computador e próteses sensoriais, assim como para processo de alfabetização. 

Conforme (Coêlho, 2024, p. 117) percepção “é o processo de interpretação e organização da informação sensorial captada pelos receptores realizado pelas áreas específicas de cada modalidade sensorial”. A percepção e a sensação desempenham papéis cruciais no processo de alfabetização, pois são fundamentais para a aquisição e o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. Sendo que a percepção se refere ao processo pelo qual os indivíduos organizam e interpretam informações sensoriais para entender o ambiente ao seu redor. 

Sensação é a detecção inicial de estímulos ambientais pelos nossos órgãos sensoriais. A alfabetização eficaz depende da integração harmoniosa entre percepção e sensação. Sendo a sensação entendida por (Coêlho, 2024, p. 117) como a “fase de processamento da informação a partir da detecção da energia física emitida ou refletida por um objeto que estimula os receptores presentes nos órgãos dos sentidos e resulta na conversão dessa energia em estímulo elétrico”.

Para apoiar a alfabetização através do desenvolvimento da percepção e da sensação, os educadores podem fazer uso de material multissensorial, incorporando métodos de ensino que envolvem múltiplos sentidos, como letras em relevo, jogos auditivos e visuais. Identificar problemas perceptivos ou sensoriais e fornecer intervenções adequadas. Produzir atividades lúdicas, como jogos que envolvem reconhecimento de letras e sons podem tornar a aprendizagem mais divertida e eficaz.

Outro aspecto visto por meio das pesquisas foi em relação à emoção no processo de ensino-aprendizagem. E este pode ser um assunto que muitos educadores desconhecem, ou nem imaginam o quanto a emoção pode influenciar no aprendizado. A emoção atua como sinalizador interno de que algo importante está ocorrendo. Pode ser considerada como um conjunto de reações frente a uma sensação. Professores precisam entender que os processos cognitivos e a emoção estão entrelaçados no cérebro e refletem na aprendizagem (Hirata, 2019, p, 25).

A emoção é fundamental no processo de ensino-aprendizagem, influenciando a motivação, o engajamento e a retenção do conhecimento. Alunos emocionalmente engajados demonstram maior interesse e curiosidade, o que promove uma aprendizagem mais profunda. Experiências emocionalmente marcantes melhoram a retenção de informações, pois o cérebro tende a recordar melhor eventos carregados de emoção. Um ambiente escolar positivo, baseado em empatia e respeito, favorece o bem-estar e a confiança dos alunos, enquanto promove a inteligência emocional, essencial para a gestão de emoções e a resiliência. 

A memória é “o processo pelo qual aquilo que é aprendido persiste ao longo do tempo”, sendo considerada, por diversos estudiosos, das mais diferentes áreas, a base do conhecimento e o caminho para a eficácia no ensino, se for adequadamente estimulada e utilizada.

Os estudos contemporâneos comprovam a existência de tipos específicos de memória, que se classificam de acordo com a natureza dos elementos memorizados e segundo os processos neuropsicológicos envolvidos. Embora a terminologia para designar os distintos tipos de memória seja diversificada, eles se estruturam basicamente de acordo com a duração e o conteúdo do conhecimento a ser armazenado (Medeiros, 2015, p. 28 e 29) 

A neurociência da memória e da alfabetização explora como o cérebro codifica, armazena e recupera informações relacionadas à aprendizagem e à leitura. Entender esses processos ajudam a desenvolver métodos eficazes para ensinar a leitura e a escrita.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo se dedicou a investigação de como a neurociência e suas tecnologias pode contribuir com o processo de alfabetização em diversas nuances. Entendendo que a neurociência proporciona uma compreensão profunda dos mecanismos subjacentes ao processo de alfabetização, permitindo o desenvolvimento de métodos de ensino mais eficazes e intervenções direcionadas. Com esses conhecimentos, educadores podem melhor apoiar o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, garantindo que mais crianças alcancem o sucesso na alfabetização.

A percepção e a sensação são fundamentais no processo de alfabetização, pois permitem que as crianças reconheçam, interpretem e associem letras e sons de forma eficaz. Compreender e utilizar esses elementos pode melhorar significativamente as práticas de ensino e o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita das crianças.

Compreender a neurociência em aspectos referentes ao que se diz sobre a conotação da memória e da alfabetização permite a criação de métodos de ensino mais eficazes, ajudando os alunos a desenvolver habilidades de leitura e escrita de maneira mais eficiente e prazerosa.

A neurociência da memória e da alfabetização investiga como o cérebro codifica, armazena e recupera informações relacionadas à aprendizagem e à leitura. Entender esses processos ajuda a desenvolver métodos eficazes para ensinar a leitura e a escrita. Técnicas que envolvem memórias visuais, auditivas, sensoriais e emocionais podem melhorar a retenção de informações, aumentar o engajamento e personalizar o ensino. Estruturas cerebrais como o hipocampo, a amígdala e o córtex pré-frontal são essenciais nesse processo. Abordagens que utilizam imagens, sons, atividades práticas e narrativas emocionais tornam a aprendizagem mais eficaz e significativa.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Coêlho, M, L, S; Rêgo, G, R. (2024). Neurociências. Sensação e Percepção (pp. 117). Salvador: Editora Sanar.

Bartoszeck, A, B, B; Bittencourt, D, F. (2017) A alfabetização em neurociência e educação para professores do ensino fundamental e médio: um estudo exploratório. Disponível em: file:///C:/Users/wagne/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/MESTRADO/EDU660%20-%20Educational%20Interface%20Design%20-%20SEC%20007/Artigos%20para%20Bibliografia/ALFABETIZA%C3%87%C3%83O%20EM%20N EUROCI%C3%8ANCIA%20E%20EDUCA%C3%87%C3%83O%20PARA%20PROFESSORES%2 0DO%20ENSINO%20FUNDAMENTAL%20E%20M%C3%89DIO%20UM%20ESTUDO%20EXPLORAT%C3%93RIO.pdf Acessado em: 20 de junho de 2024.

Hirata, C, Y; Marinho, R, R. (2019) Contribuição das neurociências para a alfabetização. Disponível em: file:///C:/Users/wagne/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/MESTRADO/EDU660%20-%20Educational%20Interface%20Design%20-%20SEC%20007/Artigos%20para%20Bibliografia/CONTRIBUI%C3%87%C3%83O%20DAS%20NEUROCI %C3%8ANCIAS%20PARA%20A%20ALFABETIZA%C3%87%C3%83O.pdf Acessado em: 22 de junho de 2024.

Medeiros, M; Bezerra, E, L. (2015). Contribuições das neurociências ao processo de alfabetização e letramento     em      uma      prática     do     projeto     alfabetizar      com     sucesso.      Disponível       em: file:///C:/Users/wagne/OneDrive/%C3%81rea%20de%20Trabalho/MESTRADO/EDU660%20-%20Educational%20Interface%20Design%20%20SEC%20007/Artigos%20para%20Bibliografia/Contribui%C3%A7%C3%B5es%20das%20neuroci%C3%AAncias%20ao%20processo%20de%20alfabetiza%C3%A7%C3%A3o%20e%20letramento%20em% 20uma%20pr%C3%A1tica%20do%20Projeto%20Alfabetiza%20com%20Sucesso..pdf Acessado em: 23 de junho de 2024. 


1Licenciatura em Educação Física. Licenciatura em Ciências da Religião. Especialização em Treinamento Desportivo e Educação Especial. Especialização em Metodologia de Ensino Religioso e Educação Infantil. E-mail: caio.mvinco@gmail.com

2Licenciatura em Pedagogia. Licenciatura em Filosofia. Licenciatura em Ciências da Religião. Licenciatura em Sociologia. Especialização em Gestão: Supervisão e Orientação. Especialização em Metodologia do Ensino de História. Especialização em Ensino Religioso. Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. E-mail: wagnercastelo3@gmail.com.