A NEUROCIÊNCIA COGNITIVA E AS TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DA APRENDIZAGEM

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11322451


Adriano Rosa da Silva1


RESUMO

O tema central do presente trabalho é a relação entre o Sistema Nervoso Central e o desenvolvimento cognitivo humano, haja vista que conhecer o funcionamento do sistema nervoso central, é trazer uma base de estudos científicos da relação entre neurociência e aprendizagem. Pretendeu-se, nesta pesquisa, investigar qual a relação entre as bases neurofisiológicas do cérebro humano e a neurociência, à luz da perspectiva cognitivista. Vale ressaltar que este trabalho trata metodologicamente de uma pesquisa qualitativa descritiva pautada na revisão bibliográfica, isto é, revisita ou revisa pesquisas e discussões já publicadas sobre o tema. Dessa forma, partiu-se, neste trabalho, das contribuições das teorias científicas atinentes a essa área do conhecimento, buscando obras clássicas e observando o atual estado da arte das pesquisas sobre referido objeto de estudo.

Palavras-chave: Neurociência; Psicologia Cognitiva; Teorias da Aprendizagem.

ABSTRACT

The central theme of this work is the relationship between the Central Nervous System and human cognitive development, given that knowing the functioning of the central nervous system is to provide a basis for scientific studies of the relationship between neuroscience and learning. The aim of this research was to investigate the relationship between the neurophysiological bases of the human brain and neuroscience, in light of the cognitivist perspective. It is worth highlighting that this work methodologically deals with descriptive qualitative research based on bibliographical review, that is, it revisits or reviews research and discussions already published on the topic. Thus, in this work, we started with the contributions of scientific theories related to this area of ​​knowledge, searching for classic works and observing the current state of the art of research on this object of study.

Keywords: Neuroscience; Cognitive Psychology; Learning Theories.

1. INTRODUÇÃO

Constitui-se um importante desafio refletir sobre essas questões, tendo em vista que o conhecimento da Neurociência possibilita a construção de um novo olhar na perspectiva do desenvolvimento da aprendizagem humana. Além de ser a busca pelo entendimento de como as redes neurais são estabelecidas no momento da aprendizagem, bem como de que forma os estímulos chegam ao cérebro, de que forma as memórias se consolidam e de como temos acesso às informações armazenadas, tendo como base concepções das Neurociências. Cumpre salientar que, como todo conhecimento é uma construção que resulta das ações dos sujeitos, esses estão em constante desenvolvimento e, desse modo, os mecanismos cognitivos da aprendizagem relacionam-se tanto a fatores do neurodesenvolvimento quanto ao uso social deles.

Nesse sentido, procurou-se caracterizar as teorias contemporâneas da aprendizagem, buscando uma relação interdisciplinar a partir das bases teórico-conceituais sobre aprendizagem e a Neurociência Cognitiva, de modo que será enfatizada, dentre as teorias psicogenéticas, a perspectiva teórica de Jean Piaget, tendo em vista sua profícua produção a respeito dos fatores biológicos relacionados ao desenvolvimento da inteligência. Sem perder de vista que a aprendizagem é possivelmente um importante processo por que passam todos os seres humanos, de tal modo que se pode dizer que praticamente tudo o que homens e mulheres fazem precisa ser entendido pelos demais, abordam-se neste estudo algumas aproximações entre as neurociências, mais especificamente, a neurociência cognitiva, e a teoria de aprendizagem de Piaget, o qual o pontua que o meio ambiente é um fator importante no processo de aquisição da aprendizagem do ser humano. Nessa ótica, tem-se que o ato de aprender relaciona-se ao desenvolvimento social e cultural da humanidade e é algo complexo.

Cabe ressaltar que, entre os processos de interação do ser humano, a aprendizagem ocupa um lugar especial, pois é por meio dela que crianças, jovens e adultos têm contato com o mundo que os cerca criando, relacionando conhecimentos, levantando hipóteses e descobrindo soluções. Assim, “o conhecimento sobre a neurociência pode auxiliar a identificar cada indivíduo como único e também para descobrir a regularidade, o desenvolvimento e o tempo de cada um” (RELVAS, 2014, p. 201), já que cada indivíduo é único e singular, tendo o seu próprio ritmo e tempo de aprendizagem. Nessa linha de interpretação, vale sublinhar que essa reflexão sobre um novo saber baseado nos conhecimentos neurocientíficos direcionados à aprendizagem humana é importante devido à possibilidade de se entender como as pessoas organizam seus processos cognitivos, bem como de reconhecer as diferenças entre essas organizações. Segundo Relvas (2014, p. 146), “o aprofundamento acerca do que é neurociência permite o entendimento de que o processo da aprendizagem acontece no cérebro”. Por conseguinte, reveste-se de fundamental importância abordar o processo de aprendizagem dos sujeitos a partir de teorias psicogenéticas que privilegiam o cognitivismo. Em vista disso, buscou-se dedicar um estudo acerca do pensamento piagetiano e sobre o desenvolvimento cognitivo humano, de sorte que se procurou conceituá-lo, de acordo com as pesquisas a esse respeito. Essa compreensão ganha relevância para a educação, no sentido de poder levar o indivíduo ao pleno desenvolvimento de suas capacidades.

2. A NEUROCIÊNCIA COGNITIVA E O CONCEITO DE APRENDIZAGEM

Interessa observar que a Neurociência2 implica um novo olhar na perspectiva do desenvolvimento da aprendizagem humana, pois consiste do estudo do sistema nervoso e suas ligações com toda a fisiologia do organismo, englobando a relação entre cérebro e comportamento. Destacando-se como temas de estudo da Neurociência, entre outros, os mecanismos da atenção e memória, aprendizagem, emoção, linguagem e comunicação (MATURANA e VARELA, 2001). Nesta via, aumenta cada vez mais a necessidade de se incorporar esse conhecimento sobre como funciona o cérebro, seu desenvolvimento e saber como privilegiar suas etapas evolutivas, visando integrar as possibilidades dos estudos da Neurociência na ação educativa, pondo em relevo que o campo da Neurociência é vasto, e o cérebro e o sistema nervoso, são complexos. Assim, nessa linha de interpretação, cumpre salientar que a Neurociência

é o estudo da realização física do processo de informação no sistema nervoso. Observando-se a estrutura do sistema nervoso, percebe-se que eles têm partes situadas dentro do cérebro e da coluna vertebral e outras distribuições por todo o corpo. A Neurociência auxilia na compreensão sobre o funcionamento do cérebro o que contribui com importantes questões sobre a aprendizagem humana. ALVES, Fátima. Neurociência e Psicomotricidade. In: RELVAS, Marta Pires (org.). Que cérebro é esse que chegou à escola? As bases neurocientíficas da aprendizagem. 2ª ed. Rio de Janeiro: Wak editora, 2014. p. 201.

Nessa direção, a Neurociência é definida por Lent (2010) como o estudo científico do sistema nervoso, cujo objetivo é de investigar o seu funcionamento, sua estrutura, seu desenvolvimento e suas alterações, agregando suas diversas funções. Complementam-se ainda na sua definição, a estrutura e atividades neurais, buscando a compreensão dos fenômenos observados. Para Relvas (2014, p. 146), a Neurociência objetiva explicar e descrever os mecanismos neuronais que sustentam os atos perceptivos, cognitivos ou motores, disponibilizando os fundamentos necessários à orientação da aprendizagem. Sobre isso, Relvas (2012) acrescenta, como objeto de estudo da Neurociência, as doenças do sistema nervoso e seus reflexos em todas as funções do indivíduo, tendo o intuito de propor buscar métodos de diagnóstico, prevenção e tratamento, além de preocupar-se com as descobertas de suas causas.

Por conseguinte, para Moraes e Torre (2004), a Neurociência oferece conhecimentos ligados à aprendizagem e ao desenvolvimento humano, sendo que a aprendizagem é proporcionada pela plasticidade do cérebro e sofre influência do ambiente, ou seja, o cérebro é moldável aos estímulos do ambiente. Cabe ressaltar que o termo Neurociência apareceu nos anos de 1960, denotando uma área mais ampla que a neuroanatomia e neurofisiologia, tendo como principais precursores, Vygotsky e Luria. Com isso, os avanços das pesquisas em Neurociências possibilitam uma abordagem mais científica do processo de aprendizagem, fundamentada na compreensão dos mecanismos cognitivos envolvidos, de modo que a aprendizagem se relaciona com o desenvolvimento do cérebro, desde o nível molecular e celular até as áreas corticais.

Dado o exposto, tem-se como uma subdivisão da Neurociência, como o estudo científico do cérebro e do sistema nervoso, a assim denominada Neurociência Cognitiva, a qual aborda os processos cognitivos3, tais como, memória e atenção, que envolvem o pensamento e suas complexas relações com as estruturas da linguagem, a aprendizagem e as influências do mundo exterior, mediando o desenvolvimento sociocultural no processo histórico do indivíduo (GOULART, 2015). Cabe destacar que o conhecimento resultante de estudos nessa área pode colaborar para aprimorar o entendimento de como se dá a aprendizagem e a construção de processos mentais cada vez mais elaborados.

Vale sublinhar que a Neurociência Cognitiva busca compreender como os processos cognitivos são elaborados funcionalmente pelo cérebro humano, possibilitando o desenvolvimento da aprendizagem, da linguagem e do comportamento. Assim, este campo de estudo tem colaborado para a compreensão dos processos de aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo do ser humano (RATEY, 2001). Ao considerar a Neurociência Cognitiva, cujo foco de atenção é a compreensão das atividades cerebrais e dos processos de cognição, tem-se que a aprendizagem humana decorre do processamento e elaboração das informações oriundas das percepções no cérebro.

Nesse ponto, Cosenza e Guerra (2011) destacam que a Neurociência Cognitiva considera que o cérebro é plástico sendo capaz de aprender durante toda a vida, porém existem períodos biológicos em que o cérebro humano tem mais facilidade para aprender. Esse entendimento é importante, pois, os estudos da Neurociência Cognitiva acerca da neuroplasticidade podem ser considerados como uma possível contribuição para a reorganização do modelo educacional em relação à aprendizagem nos diferentes ciclos ou etapas da vida humana4. Desse modo, a aprendizagem é adquirida e construída por toda a vida, porém, existem períodos que são especialmente mais receptivos e outros que dependem da experiência humana (ASSMANN, 2001).

Assim, a Neurociência Cognitiva tem como escopo, em especial, as capacidades mentais mais complexas ou funções mentais superiores, como a linguagem e a memória, sendo que essa última tem sido indicada como um dos principais alicerces da aprendizagem humana (IZQUIERDO, 2004). Compreendem-se como funções mentais superiores os processos cognitivos que envolvem atenção, memória, percepção, pensamento, consciência, comportamento emocional, aprendizagem e linguagem, sendo influenciadas pelas relações sociais do homem. Considera-se que as funções mentais superiores são cognitivamente importantes para a aprendizagem, pelo fato de favorecer uma relação intrínseca com a linguagem e por permitir a mediação das funções intelectuais (RELVAS, 2005).

Nesse aspecto, Izquierdo (2004) afirma que uma informação pode levar o indivíduo a desenvolver estratégias cognitivas a fim de reorganizar e retomar o equilíbrio na construção do conhecimento. Este mecanismo é obtido por meio de um processo dinâmico próprio ato de conhecer. Portanto, a Neurociência pode colaborar para o entendimento de como se dá o processo de aprendizagem, possibilitando adicionar informações científicas essenciais para a melhor compreensão da aprendizagem como fenômeno complexo. Sendo assim, o conhecimento sobre o funcionamento cerebral pode vir a contribui para melhor fundamentar práticas e intervenções de aprendizagem. A esse respeito, Goulart (2015) menciona ser importante explorar e estimular o potencial de aprender, visando oportunizar um melhor desempenho na aprendizagem.

Nesta via, para Pozo (2002), um conhecimento mais aproximado da forma de funcionamento do processo de aprendizagem permite uma compreensão mais adequada de seus resultados. Complementando essa ideia, o referido autor salienta que o conhecimento científico produzido pela Neurociência deve ser dirigido àqueles que, de algum modo, colaboram no desenvolvimento cognitivo dos sujeitos da aprendizagem. Assim, oportunizar a compreensão de como o cérebro se estrutura e funciona pode vir a dar condições mais adequadas para se estimular cognitivamente os indivíduos e, de certa forma, possibilitando que eles tenham suas capacidades melhor exploradas, tendo em vista que “a Neurociência é a grande responsável pelas descobertas do funcionamento do sistema nervoso, em especial, do cérebro” (RELVAS, 2014, p. 201).

Sobre isso, Relvas (2005) ressalta que as diferenças percebidas na forma de desenvolvimento, estão mais relacionadas à mediação do contexto social do que com os aspectos biológicos. Para estes autores, este princípio surge da concepção de que o desenvolvimento das funções psíquicas superiores se desenvolve socialmente. Este desenvolvimento é possível mediante as relações que cada sujeito estabelece com o meio em que vive, e, portanto, pode se dizer que ele é singular. Nesta perspectiva, as tentativas de generalizações quanto ao desenvolvimento não se justificariam, uma vez que este processo não é linear nem tampouco igual para todos, já que depende das experiências vividas e dos sentidos a elas aplicados.

Nesta via, Consenza e Guerra (2011) mencionam que o conhecimento neurocientífico pode se abrir a um diálogo com a educação e a aprendizagem no sentido de uma ação cooperativa. Entretanto, não é uma nova proposta de educação, mas busca colaborar para fundamentar processos de intervenção na aprendizagem, demonstrando que as estratégias que respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser mais eficientes, ao permitirem entender melhor como os sujeitos aprendem e se desenvolvem, podendo estimular a aprendizagem ao longo das etapas do desenvolvimento humano5. Assim, Relvas (2012) destaca que o conhecimento sobre a Neurociência pode contribuir para a compreensão sobre como o cérebro processa os saberes e também pode sugerir intervenções específicas para promover a ativação de novas sinapses.

Como exposto, a Neurociência tem evidenciado como os estímulos externos gerados no ambiente afetam as conexões cerebrais, influenciando o desenvolvimento e o funcionamento cerebral. As informações do meio, uma vez selecionadas, não são apenas armazenadas na memória, mas geram e integram um novo sistema funcional, caracterizando com isso o desenvolvimento da aprendizagem. Uma informação, pela desordem que gera, pode levar à evolução do conhecimento do indivíduo, pois ele precisará desenvolver estratégias cognitivas a fim de reorganizar e retomar o equilíbrio na construção do conhecimento. E isso é obtido por meio de um processo dinâmico e flexível presente na reconstrução do próprio ato de conhecer6. Nesse sentido, faz-se necessário ressaltar que a aprendizagem é o processo em virtude do qual

se associam coisas ou eventos no mundo, graças à qual se adquirem novos conhecimentos. Denomina-se memória o processo pelo qual os conhecimentos são conservados ao longo do tempo. De modo que os processos de aprendizagem e memória modificam o cérebro e a conduta do ser vivo que os experimenta. MORA, Francisco. Como funciona o cérebro. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 94.

Nesse sentido, é importante pontuar que o ato de conhecer, isto é, a aprendizagem, é o processo de aquisição de novas informações que serão retidas na memória7. Assim, a aprendizagem está relacionada às aquisições e o aprendizado engloba aspectos como a memória, o pensamento, a compreensão, a comunicação, a concentração, a orientação temporal e espacial, entre outros aspectos. Portanto, a aprendizagem é um aspecto relevante na vida do ser humano. Essa perspectiva permite que a evolução do conhecimento produzido sobre o cérebro se constitua numa das principais alternativas para compreender a complexidade cognitiva humana. E a aprendizagem requer competências para lidar de forma organizada com as informações novas, ou com aquelas já armazenadas no cérebro, a fim de realizar novas ações8. Assim, a aprendizagem tem íntima ligação com o desenvolvimento do cérebro, o qual é moldável aos estímulos do ambiente (RELVAS, 2014).

3. A PSICOLOGIA COGNITIVA E AS TEORIAS PSICOGENÉTICAS DE APRENDIZAGEM

A aprendizagem é, antes de tudo, uma questão muito complexa, e não existe uma definição única geralmente aceita para o conceito. Pelo contrário, observa-se o desenvolvimento constante de um grande número de teorias mais ou menos singulares ou sobrepostas, algumas delas referindo-se a visões mais tradicionais, outras tentando explorar novas possibilidades e modos de pensar. Também vale observar que, embora a aprendizagem seja tradicionalmente compreendida como a aquisição de conhecimento e habilidades, atualmente, o conceito cobre um campo muito maior, incluindo outras distintas dimensões. Assim, é bastante difícil obter uma visão geral da atual compreensão sobre o tema da aprendizagem (ILLERIS, 2013, p. 7). Segundo Piletti (2009, p. 49), a aprendizagem, apesar de ser universal e ocorrer durante toda a vida, não é, portanto, algo simples de se compreender. Nos estudos sobre o tema, chegou-se a conclusões diferentes sobre o que é fundamental para compreender o processo de aprendizagem. E isso justifica, em parte, o surgimento de diferentes teorias para explicar a aprendizagem9.

O Cognitivismo10 surge a partir da insatisfação dos teóricos da Psicologia da Educação com o Behaviorismo entre os anos 1955 e 1976 quando ocorrem justamente os avanços de outras áreas da ciência (Relvas, 2014). Consoante com Lefrançois (2008, p. 223), “o objetivo principal das Teorias Cognitivas é fazer inferências plausíveis e úteis sobre os processos mentais”. Nessa perspectiva, segundo Lefrançois (2008), o Cognitivismo é uma abordagem teórica da aprendizagem, relacionando-se com eventos intelectuais como solução de problemas, processamento de informação, pensamento e imaginação11. Nesta via, vale sublinhar que o principal interesse da Psicologia Cognitiva para esse autor está nos processos mentais superiores, sendo duas importantes características da Psicologia Cognitiva a representação mental e o processamento da informação12. Faz-se necessário pontuar que a linha cognitivista enfatiza o processo da cognição, compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação. Ocupa-se dos processos mentais, onde o sujeito é visto em sua totalidade13.

A metáfora dominante na Psicologia Cognitiva é a do processamento da informação que é basicamente, uma metáfora baseada na linguagem do computador. Processamento da informação refere-se ao modo como a informação é modificada ou alterada. A ênfase recai sobre processos perceptuais e conceituais que permitem ao percebedor perceber; determinam como o ator atua; e fundamentam pensamento, memorização, resolução de problemas etc. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 223.

Nessa ótica, as teorias contemporâneas do desenvolvimento cognitivo buscam reconhecer a importância da construção do conhecimento e do mundo social, sendo a linguagem da metáfora do computador14 uma dessas formas de compreensão. Assim, tencionam ser compatíveis com limitações biológicas sobre como o cérebro realmente aprende. Ao nascer a criança se integra em uma história e uma cultura que se caracterizam como peças importantes na construção de seu desenvolvimento. Ao longo dessa construção estão presentes as experiências, os hábitos, as atitudes, os valores e a própria linguagem daqueles que interagem com a criança em seu grupo social e familiar, mediante o desenvolvimento de um conjunto de sistemas cognitivos.

Segundo Posner e Raichle (2001), os sistemas cognitivos são aqueles sistemas mentais que regem as atividades diárias do ser humano – como ler, escrever, conversar, planejar, reconhecer rostos. Alguns sistemas comportam outros sistemas, agregando complexidade na geração de um comportamento. O sistema cognitivo da linguagem, por exemplo, envolve falar, ler e escrever, ativando diferentes estruturas cerebrais. Esses diferentes sistemas cognitivos têm como base distintas operações mentais, as quais estão relacionadas a redes neurais de áreas cerebrais específicas. Acrescenta-se a essas proposições a visão de Moraes (2004), para quem a aprendizagem progride mediante fluxos dinâmicos de trocas, análises e sínteses de forma cada vez mais complexa.

3.1. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE PIAGET E A APRENDIZAGEM

À luz da Teoria cognitivista de Piaget15, os indivíduos estão em constante interação com o meio e diante disso acontecem constantes desequilíbrios e equilíbrios que contribui para a adaptação do sujeito a este meio. Nesta via, para Piaget, “a aquisição do conhecimento é um processo desenvolvimentista gradual que se torna possível pela interação da criança com o ambiente” (LEFRANÇOIS, 2008, p. 261). Portanto, segundo essa teoria, não é o meio que produz ou molda o sujeito, mas o sujeito que se constrói adaptando-se ao meio, de modo que para haver esse equilíbrio é necessário ocorrer duas invariáveis, as quais estão presentes em toda atividade, denominadas por Piaget de assimilação e acomodação. Assimilação implica reagir com base em aprendizagem e compreensão prévias. Acomodação implica mudança na compreensão. Essa interação leva à adaptação, assim, a adaptação ocorre quando há equilíbrio entre essas invariáveis. Dado o exposto, em consonância com Piaget,

… a inteligência é definida pelas interações de um indivíduo com o ambiente. Essas interações envolvem equilíbrio entre assimilação (incorporação dos aspectos do ambiente à aprendizagem prévia) e acomodação (mudança comportamental diante das demandas do ambiente). O resultado dessa interação é o desenvolvimento de estruturas cognitivas (esquemas e operações) que são refletidas no comportamento (conteúdo). LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 249.

Nessa direção, segundo Lefrançois (2008), a assimilação envolve responder a situações usando atividades ou conhecimentos já aprendidos, ou que estão presentes no nascimento. Assim, a assimilação está envolvida quando a resposta ao objeto ou à situação requer uma mudança no esquema. Para Piaget, um esquema é um comportamento que tem estruturas neurológicas relacionadas a ele. Nesta via, a assimilação acontece em qualquer nível de desenvolvimento e consiste na integração de algo novo a um esquema já existente. Para Piaget, é uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio superior16. Para Fonseca (2002), é preciso haver mudanças na informação e no comportamento para haver desenvolvimento. Essas mudanças definem a acomodação. Na acomodação ocorre a modificação e a transformação desses esquemas para que seja possível adaptar-se ao meio, dito de outro modo, essa interação possibilita o indivíduo adaptar-se ao meio, organizar-se e ampliar seus esquemas.

Piaget diferencia o desenvolvimento intelectual do processo de aquisição de comportamentos específicos, através da aprendizagem, tendo em vista que todo indivíduo adquire comportamentos e atitudes por meio da aprendizagem que o possibilitam de viver. Desse modo, adaptação é o processo de interagir com o ambiente assimilando seus aspectos à estrutura cognitiva e modificando ou acomodando aspectos da estrutura cognitiva em relação a ele (LEFRANÇOIS, 2008, p. 248). É importante considerar que a assimilação e a acomodação acontecem em todo o sujeito, entretanto naqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem, ocorre a predominância de um sobre o outro. Assim, os problemas de aprendizagem estão ligados a perturbações ou o predomínio de um dos momentos sobre o outro, impedindo a integração que possibilita a aprendizagem.

Na essência, a posição de Piaget diz respeito a uma teoria do desenvolvimento humano, em especial devido a sua ênfase na gênese (ou desenvolvimento) do conhecimento (o que Piaget chamou de epistemologia genética). Entretanto, também é uma teoria da aprendizagem. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 261.

Considerando-se as distinções que Piaget estabelece entre o desenvolvimento e a aprendizagem, se a aprendizagem implica a existência de estruturas anteriores e se essas estruturas se constroem durante o processo de desenvolvimento, isso significa que a aprendizagem depende do desenvolvimento. Assim, como a aprendizagem é um dos fatores que atuam no desenvolvimento humano, a teoria piagetiana reconhece que as aquisições através da aprendizagem dependem do estágio de desenvolvimento, propõe a aprendizagem de habilidades específicas que possam ser assimilados pelas estruturas de que o indivíduo dispõe. Isso pretende favorecer a aquisição das estruturas operatórias concretas através do processo de equilibração pelo qual elas se constroem.

Nessa linha, a teoria de Piaget afirma que a aprendizagem e o desenvolvimento constituem duas fontes distintas de aquisição de conhecimento, existindo uma relação de interdependência entre elas. Segundo Piletti (2009, p. 209), Piaget entende o desenvolvimento como a busca de um equilíbrio superior, num processo em que vão surgindo novas estruturas, novas formas de conhecer. Cabe ressaltar que, durante as fases do desenvolvimento humano, não existem momentos de ruptura radical, a evolução é gradual e contínua, mas há, de fato, alguns momentos em que as mudanças são maiores que em outros (PILETTI, 2009, p. 205). De um lado, a aprendizagem somente se realiza quando há assimilação ativa, a qual implica a existência de estruturas anteriores capazes de incorporar o dado a ser aprendido. Do outro, a aprendizagem interfere no desenvolvimento, modificando as estruturas, mas sem dar origem às novas estruturas17.

O sistema de Piaget é cognitivo: sua preocupação recorrente é a representação mental. Também é uma teoria desenvolvimentista: volta-se para os processos pelos quais as crianças alcançam compreensão progressivamente mais avançada do seu ambiente e de si próprias. Em suma, a teoria de Piaget é um relato do desenvolvimento humano. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 241.

Diante disso, segundo Lefrançois (2008, p. 249), Piaget acreditava que o desenvolvimento humano progride ao longo de uma série de estágios18, cada um dos quais, caracterizado pelo desenvolvimento de novas capacidades, sendo uma construção que vai por aproximações sucessivas, visando a sínteses cada vez mais elevadas. Mais precisamente, cada estágio consiste em um nível mais avançado de adaptação, desde o estágio sensório-motor, passando pelo estágio pré-operacional, estágio das operações concretas e, por fim o estágio das operações formais. Cada estágio pode ser descrito pelas principais características identificadoras das crianças naquele determinado estágio e pela aprendizagem que ocorre antes da transição para o próximo estágio.

Nesse prisma, para Piaget a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito, para Piaget a aprendizagem favorece o desenvolvimento das operações mentais. Assim, Piaget atribui um valor significativo à aprendizagem que no seu dizer produz algo fundamentalmente novo no desenvolvimento humano. O conhecimento é estabelecido no sujeito por sua ação sobre o objeto. A capacidade de operar mentalmente relaciona-se com as representações mentais que o sujeito já tem bem como transformá-las e recriá-las. Importa considerar que o conhecimento e as trocas intelectuais, isto é, troca de pensamentos, estão ligados à vida, fazendo parte da existência humana, correspondem ao “ser social”19.

A fim de sintetizar o exposto neste tópico, como a aprendizagem humana é mediada socialmente, vale sublinhar que na área da educação, a teoria piagetiana é um dos aspectos fundamentais para que o indivíduo seja compreendido e acompanhado, com maiores cuidados e possibilidades de desenvolvimento (MOREIRA, 2021). Apesar de sua origem ser a biologia e Piaget não ter proposto influenciar educadores, essa influência foi inevitável, uma vez que seu interesse maior era relativo aos processos cognitivos. Assim, as teorias e pesquisas de Piaget tiveram enorme influência na Psicologia, na Educação e na Psicopedagogia. Cabe ressaltar que o aspecto cognitivo, apesar de apresentar-se como ponto de destaque da teoria piagetiana, não exclui o afetivo e o social (TAILLE, 2021). Para que o sujeito aprenda é necessário ter capacidade sensorial e motora, além da capacidade de operar mentalmente, ter conhecimento prévio relativo ao objeto de conhecimento, querer conhecer o objeto, agir sobre o objeto e expressar-se sobre o objeto, onde os sentidos são canais de comunicação com o mundo20.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, faz-se necessário ressaltar que o presente trabalho buscou trazer elementos teóricos para entender melhor os fatores do neurodesenvolvimento relacionados com a cognição e a forma como o cérebro humano aprende. Assim, à medida que a investigação caminhava, foram ressaltados na pesquisa o cérebro humano e a aprendizagem à luz da perspectiva da neurociência cognitiva, onde se percebeu a importância da construção de condições favoráveis para o desenvolvimento cognitivo dos sujeitos, de modo que eles possam aprender e se desenvolver em todos os seus aspectos, ou seja, não apenas no que tange à cognição, mas, também no tocante às demais dimensões do ser humano. Com isso, considerando a relevância do conhecimento teórico sobre as contribuições da neurociência cognitiva para a educação e a aprendizagem, visto que a aprendizagem ocorre no cérebro, fica evidente o ganho ao se utilizar esse conjunto de saberes a respeito do cérebro no processo de aprendizagem para se oportunizar ambientes educativos que propiciem momentos profícuos de construção de aprendizagens.

Nesse prisma, a partir dessa base teórica e de uma breve análise da temática, verificou-se que é relevante o profissional que irá intervir para mediar o desenvolvimento da aprendizagem, ter sempre expectativas positivas em relação aos sujeitos, bem como se esforçar para despertar o interesse e a curiosidade deles sem lhes cercear a espontaneidade. Sendo importante, como já foi dito, atentar para o cuidado, o respeito e a consideração, ao invés de se focar tão somente em técnicas e metodologias. Isso significa trabalhar afetos, formação de vínculos, situações de troca e partilha num processo de interação e de influência mútua. Em linhas gerais, cabe ressaltar que esse processo relacional tem repercussões na aprendizagem e no desenvolvimento dos sujeitos, porque em virtude de cada ação desencadeada, conhecimentos e afetos são mobilizados e mudanças podem ocorrer. Sem perder o foco de que cada um deles traz para o coletivo suas especificidades as quais não devem ser desconsideradas. 

Por tudo isso, sem pretender findar as possibilidades de estudo sobre esse tema o qual se mostrou muito vasto e rico, sobretudo para pensarmos em possibilidades de práticas de ensino que estejam pautadas na Neurociência, abordou-se a importância dos conhecimentos neurocientíficos sobre as aproximações entre o neurodesenvolvimento e a aprendizagem, enfatizando-se nesse processo a relação interpessoal entre sujeitos, os quais, dentro de suas possibilidades, precisam ser estimulados em suas hipóteses e ações. Em que cada um, a seu modo, constrói seus conhecimentos. Nessa perspectiva, a prática educativa deve sempre propiciar a todos os sujeitos um desenvolvimento integral, possibilitando-os construir sua autonomia e desenvolver uma atitude crítica e uma consciência para pensar e analisar o mundo, interpretando-o e significando-o à sua maneira, sobretudo, ante a realidade que é complexa, dinâmica e em constante mudança.


2 Neurociência é um conjunto de disciplinas que permeiam os estudos do sistema nervoso e originou-se das bases cerebrais da mente humana. RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak editora, 2012. p. 19.

3 Os processos cognitivos são aqueles sistemas mentais que regem as atividades diárias do ser humano, tais como, ler, escrever, conversar, planejar. Alguns sistemas comportam outros sistemas, agregando complexidade na geração de um comportamento. O sistema cognitivo da linguagem, por exemplo, envolve o mecanismo de falar, ler e escrever, ativando diferentes estruturas cerebrais. Esses diferentes sistemas cognitivos têm como base distintas operações mentais, as quais estão relacionadas a redes neurais de áreas cerebrais específicas. Os mesmos autores citados complementam que a aprendizagem progride mediante fluxos dinâmicos de trocas, análises e sínteses autorreguladoras cada vez mais complexas. Diante disso, considera-se que o processo de aprendizagem vai além do simples acúmulo de informações, pois consiste na reestruturação, por meio de mudanças estruturais advindas de ações e interações. POSNER, Michael I.; RAICHLE, Marcus E. Imagens da mente. Porto: Porto Editora, 2001.

4 Estudos no campo da Neurociência Cognitiva enfatizam que o indivíduo, permanentemente em busca de respostas para as suas percepções, pensamentos e ações, tem suas conexões neurais em constante reorganização e seus padrões conectivos alterados em todo momento, mediante processos de fortalecimento ou enfraquecimento de sinapses. Desse modo, como no cérebro, há neurônios prontos para a estimulação, a atividade mental estimula a reconstrução de conjuntos neurais, processando experiências. IZQUIERDO, Ivan. Questões sobre memória. São Leopoldo: Unisinos, 2004.

5 As experiências de aprendizagem por meio de práticas intencionais, quando bem fundamentadas, geram alterações na estrutura do indivíduo. Assim, as experiências de aprendizagem intencionais estimulam reflexões sobre os pensamentos, sentimentos e ações, num processo construtivo. ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 2001.

6 Com base nesse ponto de vista, é possível pensar numa interlocução entre Neurociência e Educação, isto é, numa interferência positiva dos conhecimentos neurocientíficos na ação educativa, por meio do estudo da estrutura, do desenvolvimento, da evolução e do funcionamento do sistema nervoso, sob um enfoque plural, isto é, tanto biológico, quanto neurobiológico e psicológico, voltado para a aquisição de informações, resolução de problemas e mudanças de comportamento. De modo que a aproximação entre Neurociências e Educação pode corresponder em melhor compreensão do processo de aprendizagem. Desse modo, oferecer situações de aprendizagem fundamentadas em experiências ricas em estímulos e fomentar atividades intelectuais pode promover a ativação de novas sinapses. DEMO, Pedro. Saber pensar. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 50.

7 A memória é responsável pelo armazenamento de informações, bem como pela evocação daquilo que está armazenado. Assim, a memória é caracterizada como a aquisição, a formação, a conservação e a evocação de informação. A aquisição é também chamada de aprendizagem, somente se grava aquilo que foi aprendido. A evocação é designada como recordação, lembrança, recuperação. FONSECA, Vitor da. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2002.

8 Acerca das competências relacionadas ao processo de aprendizagem, cabe destacar que os processos individuais e coletivos de aprendizagem envolvem uma série de relações e associações, de modo que os mecanismos cerebrais da memória e da aprendizagem estão também associados aos microprocessos neurais responsáveis pela atenção, percepção, motivação, pensamento e outros processos neuropsicológicos. O ser humano tem a capacidade de perceber o mundo por meio de seu aparelho perceptual, consistindo de um processo interpretativo dos fenômenos que envolvem seus sentidos e sua memória. RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak editora, 2012.

9 De um modo geral, uma teoria é uma tentativa humana de sistematizar uma área de conhecimento, uma maneira particular de ver as coisas, de explicar e prever observações, de resolver problemas. Uma teoria de aprendizagem é, então, uma construção humana para interpretar sistematicamente a área de conhecimento que chamamos aprendizagem. Representa o ponto de vista de um autor/pesquisador sobre como interpretar o tema aprendizagem, quais as variáveis independentes, dependentes e intervenientes. Tenta explicar o que é aprendizagem e porque funciona como funciona. MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. 3ª ed. São Paulo: E.P.U., 2021. p. 12.

10 A teoria cognitiva, elaborada inicialmente por John Dewey e depois por Jerome Bruner concebe a aprendizagem como solução de problemas. É por meio da solução de problemas do dia a dia que os indivíduos se ajustam a seu ambiente. PILETTI, Nelson. Psicologia educacional. 17ª ed. 10ª imp. São Paulo: Editora Ática, 2009. p. 55.

11 O principal interesse da Psicologia Cognitiva está nas capacidades mentais mais complexas, cujas funções têm a ver com a percepção, formação de conceitos, memória, linguagem, pensamento, solução de problemas e tomada de decisão. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 222.

12 A característica singular comum mais importante dos tópicos da Psicologia Cognitiva é que eles pressupõem representação mental e processamento da informação. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 224.

13 A perspectiva cognitivista enfatiza a cognição, o ato de conhecer; como o ser humano conhece o mundo. Trata, então, principalmente dos processos mentais; se ocupa da atribuição de significados, da compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvida na cognição. MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. 3ª ed. São Paulo: E.P.U., 2021. p. 15.

14 De acordo com a linguagem da metáfora do computador, os recém-nascidos são pequenas máquinas sensoriais que parecem naturalmente predispostas a adquirir e processar uma tremenda quantidade de informação. Eles buscam a estimulação exterior e respondem a ela de forma contínua. Como resultado, os reflexos contínuos dos bebês, como sugar alcançar e agarrar tornam-se mais complexos, mais coordenados e mais propositais. O processo pelo qual isso ocorre é a adaptação. Sendo a assimilação e a acomodação os processos que tornam possível a adaptação. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 244.

15 A orientação teórica de Piaget é claramente biológica e evolucionária, bem como cognitiva, ou seja, ele estuda o desenvolvimento da mente (uma busca cognitiva) no contexto da adaptação biológica. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 244.

16 A mais básica de todas as ideias de Piaget é: o desenvolvimento humano é um processo de adaptação. E a mais alta forma de adaptação é a cognição (ou conhecimento). LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 244.

17 A descrição que Piaget faz de estrutura é essencialmente das características de crianças em diferentes idades. É a resposta ao seguinte questionamento: qual é o modo mais simples, mais acurado e mais útil para classificar ou ordenar o desenvolvimento infantil? Daí a descrição de Piaget das mudanças na estrutura ser a descrição dos estágios do desenvolvimento cognitivo humano. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 248.

18 Para Piaget, a sofisticação da representação do mundo pelas crianças é uma função do seu estágio do desenvolvimento. Esse estágio é definido pelas estruturas de pensamento que elas possuem na ocasião. LEFRANÇOIS, Guy. Teorias da aprendizagem. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 261.

19 Para Piaget, o “ser social” de mais alto nível é justamente aquele que consegue relacionar-se com seus semelhantes de forma equilibrada. Assim, consoante com Piaget, o equilíbrio de uma troca de pensamentos supõe: um sistema comum de signos e de definições; uma conservação das proposições válidas obrigando aquele que as reconhece como tal; e uma reciprocidade de pensamento entre os interlocutores. Para que esse equilíbrio ocorra, são necessários interlocutores que possam cumprir essas regras, e determinado tipo de relação social em que elas sejam possíveis. TAILLE, Yves de La (org.). Piaget, Vigotski, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 3ª reimp. São Paulo: Summus, 2021. p. 20.

20 Aprender é uma capacidade que nasce com todo ser humano e que é desenvolvida ao longo de toda a sua vida. Alguns aprendizados surgem por meio de reflexos e instintos e vão se aprimorando à medida que o indivíduo é exposto a outras pessoas que já adquiriram tais capacidades. Outros aprendizados, por representarem conquistas da cultura humana, devem ser passados de forma estruturada para que possam ser adequadamente absorvidos. Entre estes dois polos, há uma gama de variações entre um aprendizado mais intuitivo e o “ensinado”. O que vale entender é que aprender exige tanto o aparato biológico, a prontidão neurocognitiva, quanto o ensino, mais ou menos estruturado, os estímulos ambientais. MAIA, Heber. Neuroeducação e ações pedagógicas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Wak editora, 2014. p. 1.


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1Mestrando em Educação pela Universidade de Lisboa (ULisboa). Licenciado em Pedagogia e em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Especialista em Neurociências Aplicadas à Aprendizagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Psicopedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).