REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11177084
Luiz Antônio da Silva Gonçalves Junior1;
Orientador: MsC. Fernando Cabral de Melo Neto2
RESUMO
A pandemia da COVID-19 vem causando grandes mudanças tanto no âmbito sanitário, quanto no econômico e social. Muitas organizações, para respeitar as medidas de prevenção estabelecidas, adotaram o distanciamento social, o trabalho remoto, investiram nas redes sociais e na tecnologia em geral para conseguirem se manter no mercado. Nesse cenário, este artigo teve como objetivo, por meio de uma breve revisão bibliográfica, analisar a importância do papel do líder nas organizações ao longo da pandemia da COVID-19. As competências essenciais de um bom líder são a inteligência emocional, a habilidade do autoconhecimento, de escutar o colaborador, da autogestão, da empatia e da habilidade social. Além disso, o Home Office ganhou destaque, para isso, o líder deve ser capaz de organizar, se comunicar, verificar todas as demandas que os colaboradores estão precisando, como também, motivar a equipe para que a produtividade se mantenha. Portanto, são mudanças que o líder precisa saber lidar e ajudar o colaborador, com o objetivo de que a empresa se mantenha e consiga superar a crise que a pandemia da COVID-19 está causando no mundo inteiro.
Palavras-chave: Adaptação; COVID-19; Liderança; Pandemia; Intercorrências Cotidianas.
ABSTRACT
The COVID-19 pandemic has been causing major changes both in the health, economic and social spheres. Many organizations, in order to respect the established preventive measures, have adopted social distance, remote work, invested in social networks and in technology in general to be able to stay in the market. In this scenario, this article aimed, through a brief bibliographic review, to analyze the importance of the role of the leader in organizations throughout the COVID-19 pandemic. The essential skills of a good leader are emotional intelligence, the ability to self-knowledge, to listen to the employee, self-management, empathy and social ability. In addition, the Home Office has gained prominence, for this, the leader must be able to organize, communicate, check all the demands that employees are needing, as well as motivate the team so that productivity is maintained. Therefore, these are changes that the leader needs to know how to deal with and help the employee, with the objective that the company remains and manages to overcome the crisis that the pandemic of COVID-19 is causing worldwide.
Keywords: Adaptation; COVID-19; Daily complications; Leadership; Pandemic.
1 INTRODUÇÃO
O processo de globalização, os avanços tecnológicos e as mudanças no setor da economia, são fatores determinantes que obrigam as indústrias e as empresas a se adaptarem para se manterem competitivas no mercado, uma vez que os clientes se encontram mais exigentes em busca por produtos de qualidade (LENHART; BONFADIN, 2017).
Em todos os setores empresariais, industriais e comerciais, como também, no setor público, essas organizações sentem com mais intensidade as exigências do mercado altamente diverso e complexo, além da sociedade no que se refere aos serviços públicos e privados. Sendo necessárias técnicas de gestão eficazes e um planejamento de suas ações futuras, fatores esses que tornam mais fácil a adaptação e que possam alcançar resultados positivos (GOLEMAN, 2015).
Contudo, mediante ao novo cenário os quais as organizações foram expostas a partir de março do ano de 2020, devido à pandemia da COVID-19, houve mudanças radicais em todos os processos produtivos, de venda, de atendimento ao cliente, dentre outros (ASSUNÇÃO, 2020). Recorreu à utilização da tecnologia e das redes de comunicação, as empresas adotaram novas formas de trabalho, tal como o Home Office, vendas on-line, como também, o aumento considerável de serviços de entregas ao cliente por Delivery (SANTOS et al., 2020).
É necessário que as organizações apresentem uma boa gestão, bem como, uma liderança eficiente e que sejam capazes de se adaptarem e reinventarem com o “novo normal” durante e após a pandemia. Por isso, este artigo irá se basear na seguinte problemática: “Qual é a importância do Líder nas organizações no novo normal? ”.
Uma gestão de qualidade sugere que as organizações estejam abertas a essas mudanças no mundo empresarial, visto que as demandas aumentam tanto no âmbito social quanto no político e econômico. Dessa forma, é necessário que se tenha estratégias a fim de enfrentar essas exigências e demandas, além de proporcionar um maior comprometimento com os resultados, rompendo incertezas, amenizando os riscos, aumentando a criatividade e autonomia (SILVA; GIL, 2013). Isso faz com que o foco da empresa seja não apenas no produto, mas também nas pessoas as quais participam desses resultados, como a equipe de trabalho, e ao consumidor, mesmo quando se tratando de uma situação como a vivenciada atualmente devido ao novo Coronavírus (PAULISTA; LOSADA, 2020).
Nesse contexto, o objetivo geral deste estudo é analisar a importância do papel do líder nas organizações em meio às adversidades da crise no cenário atual. Como objetivos específicos, pretende-se apontar as principais mudanças e desafios enfrentados pelos líderes ao longo da pandemia da COVID-19; compreender como o líder pode exercer a sua função, com eficiência, no trabalho remoto; e destacar quais habilidades o líder precisou adquirir e aprimorar para resolução de problemas na organização provocadas por fatores internos e externos e melhorar, manter e otimizar o trabalho.
Sabe-se que com a pandemia a vida de todos mudaram, gerou um quadro altamente desafiador para todos os profissionais de todas as áreas, os quais precisaram adotar medidas para se manterem no mercado e não entrarem em falência. Para tal, a gestão comandada pelo líder da organização é um fator primordial para que ocorram alternativas e estratégias, sejam de interações humanas entre colaboradores ou entre clientes, presenciais ou virtuais, afim de manter a equipe motivada, empenhada, segura e comprometida para que possa atender o consumidor da melhor forma possível (KOFMAN, 2018).
Dessa maneira, justifica-se a realização da pesquisa em virtude desse tema ser de suma importância, haja vista que, ainda estamos vivenciando a pandemia da COVID-19 e não existe uma data para a normalização. Além disso, a crise do Novo Coronavírus mudou a realidade a nível global, no qual as organizações e as pessoas tiveram que parar ou readaptar suas atividades (trabalhar, estudar, etc.), no qual a pandemia impôs o distanciamento social e medidas sanitárias rígidas como forma de prevenção e proteção (ASSUNÇÃO, 2020).
Todos, sem exceção, tiveram que se adequar a realidade do “novo normal”. Sendo assim, no mundo organizacional, o líder ter um papel crucial na gestão de crises na empresa, com a tomada de decisão, ações e diretrizes baseada na cultura da empresa, para manter o controle nesses momentos, dano que essa crise provocou nos negócios e no mercado é imprevisível, e as lideranças das organizações precisam criar estratégias para minimizar os impactos nos negócios (SILVERSTEIN, 2013). Como programa de férias e mudanças na escala de trabalho, medições e trabalho remoto através de recursos tecnológicos, tais como tablets, smartphones, computadores, plataformas e aplicativos diversos.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A importância da Liderança Organizacional
No campo empresarial, muitas pesquisas estão focando na liderança como fator primordial para um bom funcionamento das organizações. É um conceito que reúne características presentes em determinadas pessoas as quais, diferenciam-se em seus estilos, valorizando aspectos situacionais, levando em consideração o objetivo do grupo e ressaltando as qualidades dos que estão sendo liderados (FREITAS; RODRIGUES, 2008).
Conceitualmente, liderança significa o processo de influenciar alguma pessoa ou grupo, em determinadas situações, com o objetivo de conseguir alguma meta (HERSEY; BLANCHARD, 1976; DAFT, 2005). É válido ressaltar que para se rum bom líder, é necessário possuir características de liderar, sendo estratégico e mantendo um bom relacionamento com os liderados (DAFT, 2005).
De acordo com Freitas e Rodrigues (2008), por definição, a liderança ocorre por meio do autocontrole do indivíduo, sendo um processo muito difícil e que requer pratica diária para ser alcançada aos poucos. Contudo, um líder eficiente é aquele que se conhece, sabe os seus pontos fracos e suas qualidades, procurando sempre ressaltar os pontos positivos e equilibrar os negativos. De acordo com os autores, ser um líder é:
“[…] um líder é aquele que exerce influência em um determinado grupo de pessoas a fim de que elas façam o que ele deseja, porém esta influência não deve ser rigorosa e por meio do poder de um cargo, obrigando as pessoas a fazerem o que ele deseja, e sim, deve-se usar da autoridade e respeito com elas, oferecendo um meio de trabalho propício para que todas desenvolvam suas atividades por vontade própria, e conduzir as pessoas e organizações em direções que sozinhas não seguiriam” (FREITAS;RODRIGUES, 2008, p. 08).
Não somente, outros estudiosos da área também afirmam que a liderança é essencial, mas deve ser realizada de maneira correta. Em 1999, Chiavenato definiu liderança como sendo:
“[…] um processo chave em todas as organizações. O administrador deveria ser um líder para lidar com as pessoas que trabalham com ele. Logo, a liderança não deve ser confundida com direção ou com gerência. Um bom administrador ou gerente pode ser um bom líder, porém um líder nem sempre é um gerente ou administrador, mesmo que seja de extrema necessidade empresarial a presença de um líder […]” (CHIAVENATO, 1999, p. 45).
Dessa forma, a função do líder está diretamente relacionada com a motivação do liderado. Em uma empresa, a liderança deve estar intimamente relacionada com os demais colaboradores, visto que mantendo o contato, ouvindo, identificando e analisando o perfil da equipe, torna-se mais possível atingir as metas. Por isso, para ser um bom líder, é preciso conhecer e manter o grupo motivado (MAXIMIANO, 2007).
Carvalho (2009), afirma que a motivação da equipe de trabalho influencia de forma positiva a produtividade, haja vista que facilita as relações interpessoais, na qual o líder pode, por meio de estratégias intencionais, modificar o comportamento do indivíduo em prol de um relacionamento em grupo saudável e que reflita no sucesso da empresa. O autor afirma que:
“Uma líder motiva sim, deve motivar. […] É obrigação do líder, fazer aflorar em seu colaborador os motivos que ele tem para agir, que estão lá dentro dele, mas adormecidos. E isto não é no geral, é no particular, é um a um. Pessoas não são iguais, têm motivos diferentes. […] Manter um empregado motivado é uma missão diária, do empresário ou do líder e o resultado de vários fatores. Manter o empregado motivado, vestindo a camisa da empresa requer conhecimentos de liderança do empresário (ou do líder), dar o exemplo – fazer o que ele fala ser educado, gentil, cortês, cordial, empático sem ser piegas ou falso” (CARVALHO, 2009, p. 5).
É válido ressaltar que existe diferença em gerenciar e liderar. Uma pessoa gerencia coisas, já a liderança é realizada sobre outras pessoas. A principal característica da liderança é influenciar a fim de alcançarem um objetivo comum, já a gerência não se faz com seres humanos, mas sim com recursos em geral (HUNTER, 2004).
Dessa maneira, as transformações ocorridas no cenário empresarial, faz necessário que a organização seja composta por líderes que possam orientar e conduzir o corpo de colaboradores. Com a elevada competitividade do mercado, o avanço das tecnologias e mudanças a todo momento, as empresas se veem obrigadas a se adaptarem e apresentarem respostas rápidas a esse cenário e, para isso, um bom líder é de fundamental importância para motivar, incentivar, treinar e manter a equipe de trabalho (BORGES; BAYLÃO, 2009).
Com isso, a chave para o sucesso organizacional perpassa pela gestão de pessoas. O cenário de alta concorrência, torna necessário que os líderes desenvolvam novas atitudes, com elevada habilidade de conduzir uma equipe.
2.2 Organizações, liderança e Covid-19
Sabe-se que o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e desafiador para as empresas, necessitando de investimentos, capacitação e estratégias constantes e que acompanhem essas mudanças. Esse cenário exige que as empresas apresentam o quadro de funcionários eficaz, competentes e habilidosos, que sejam capazes de enfrentar os desafios e gerar resultados satisfatórios à empresa (CARNEGIE, 2015).
A chave para o sucesso organizacional perpassa pela gestão de pessoas. O cenário de alta concorrência, torna necessário que os líderes desenvolvam novas atitudes, com elevada habilidade de conduzir uma equipe em um atendimento de qualidade ao cliente na prestação de serviços.
Diante dos novos desafios e contínuas mudanças que ocorrem no mercado consumidor, é cada vez maior o número de organizações que dentro da complexidade do cenário empresarial e de incertezas, explora meios para viabilizar e conquistar seus clientes, através da diferenciação e customização na prestação de serviços. No cenário competitivo e dinâmico que nos encontramos, as empresas buscam entregar produtos e serviços com nível de qualidade percebida, pelo menos, satisfatória (BONFADIN, 2017).
O setor de serviços tem crescido substancialmente desde o século XX, contribuindo de forma significativa no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O nível de participação e necessidade do consumidor muda a cada dia, tendo mais rigorosidade na avaliação da qualidade. Esse crescimento aponta a amplificação da sociedade contemporânea por serviços tradicionais e diferenciados. Para tanto, a gestão pautada nas dimensões da qualidade como: confiabilidade, segurança, empatia, tangibilidade e responsividade, possibilitam manter clientes satisfeitos e fieis (IBGE, 2016; ARBACHE, 2012; LENHART; BONFADIN, 2017).
Nesse sentido, com as mudanças ocorridas nos últimos meses, as organizações precisaram se reinventar, sempre buscando a qualidade dos serviços em meio à uma pandemia, possibilitando reflexões sobre a importância da qualidade para as empresas, inseridas em ambientes competitivos, que não podem advir do luxo de gerir clientes insatisfeitos sob a pena da perda de mercado e até mesmo falecimento prematuro. Sabe-se que a instrumentalização da qualidade, a partir das dimensões tangibilidade, confiabilidade, responsividade, segurança e empatia, permite decisões empresariais mais assertivas (COSTA; SANTANA; TRIGO, 2015). Entre muitos tipos de situações de crise, as pandemias têm a capacidade de criar situações generalizadas e extremamente complexas para a economia e outros setores de uma nação. Conceitualmente, uma pandemia é o surto global de uma doença que se espalha simultaneamente por vários países (DOSHI, 2011). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define essas epidemias como aquelas que causam surtos no nível da comunidade em pelo menos duas regiões do mundo, com potencial para uma disseminação global mais ampla, independentemente da gravidade clínica (FINEBERG, 2014).
A pandemia da COVID-19 se enquadra nesta definição, embora essa situação em grande escala tenha afetado a vida de todos, consideravelmente, quando comparada a outras pandemias no século passado, não é a primeira a se espalhar globalmente, nem é o primeiro coronavírus a causar doença. De acordo com Fineberg (2014), a síndrome respiratória aguda grave (SARS) anterior se espalhou para mais de 20 países e causou milhares de casos e muitas mortes, embora não ao nível de distribuição, incidência, morbidade e mortalidade da COVID-19.
No que se refere ao atual cenário de vigilância em saúde no qual o mundo inteiro está vivenciando, vem gerando grande preocupação em todos os âmbitos, seja a nível de saúde pública, como também na área econômica, haja vista que causou e ainda está causando impactos em todas as esferas sociais. Foi no final do mês de dezembro de 2019 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) foi notificada sobre um surto de pneumonia, na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China. Posteriormente, foi identificado o agente etiológico, tratando-se de um novo coronavírus, SARS-COV-2 (ZHU et al., 2019).
O primeiro caso confirmado de covid-19 no Brasil ocorreu em 26 de fevereiro de 2020, de um paciente do sexo masculino, retornando ao país depois de uma viagem à Itália. Pouco tempo depois, novos casos foram notificados, até então apenas casos importados. Contudo, por se tratar de um vírus cuja transmissão é, prioritariamente, por vias respiratórias, logo o perfil de transmissão no Brasil passou a ser comunitário (quando não é mais possível identificar a origem da infecção) (BRASIL, 2020a).
Com o objetivo de conter a transmissão do novo coronavírus, várias medidas foram adotadas em todos os países, dentre elas: o fechamento de fronteiras, do comércio e outros estabelecimentos, restrições de viagens e triagem nos aeroportos, a não aglomeração de pessoas e, o principal, o isolamento social (ZHOU, 2020). Nesse sentido, a vida da população como um todo teve mudanças significativas, modificando a rotina, a maneira de trabalhar, a maneira de se relacionar com outras pessoas, implicando nos aspectos sociais, econômicos e psicológicos/emocionais de cada cidadão.
Em relação às organizações, principalmente as que estão relacionadas ao comércio e serviços, tiveram que estabelecer estratégias de se manterem em meio à uma situação problemática e sem solução, cada vez mais se agravando e impactando todos os brasileiros, seja de micro, pequena, médias e grandes empresas (BOWERS et al., 2017). O cenário exigiu medidas e soluções práticas que fossem sustentáveis para alcançar resultados positivos e satisfatórios para o momento, até então (SCHIVARDI; GUIDO, 2020).
Sendo assim, recorreu-se ao aporte tecnológico, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro. Pode-se afirmar que em todos os setores produtivos e de serviços foi necessário o uso da tecnologia para se manter no mercado, haja vista que a principal medida preventiva foi e, ainda é, o distanciamento social. Dessa maneira, as organizações mudaram o seu paradigma e a forma de “trabalhar”, adotando o Home Office, utilização mais intensa das redes sociais, plataformas de vídeo chamadas para reuniões, aulas, palestras, uma “socialização virtual”, envolvendo mudanças rápidas nunca vividas anteriormente, forçando os gestores a se adaptarem e se organizarem a uma nova realidade com tantos desafios e obstáculos (LEIVA‐LEON; PEREZ QUIROS; ROTS, 2020).
Com isso, mediante a todas essas mudanças, a figura do líder dentro das organizações está sendo fundamental para conseguir lidar e saber conduzir a equipe de maneira eficiente no “novo normal”. Afinal, o trabalho dos líderes organizacionais durante a crise é ser capaz de se adaptar com rapidez e ousadia para tomar decisões com eficácia e precisão, respondendo da forma mais rápida e eficaz possível (BOWERS et al., 2017; NICHOLS et al., 2020).
Embora complexa e desafiadora, a capacidade de reagir e executar com eficácia em um estado de mudança descontínua pode ajudar uma organização a superar circunstâncias exigentes e evoluir de forma intacta (ou com mínimos danos) de um ambiente desastroso (BIRKENSHAW et al., 2016). Assim, para que as empresas estejam preparadas para responder a mudanças, tais como as que estão ocorrendo com o ambiente atual da pandemia da COVID-19, seus líderes devem ser capazes de abraçar e aceitar o “desaprendizado”, desconforto, investigação contínua, conflito e liderar a criação contínua de conhecimento em cenários complexos e incertos (MILLER; KATZ, 2013). Ou seja, o líder deve apoiar, assim, a relação entre estratégia, estrutura, cultura e processos, visto que a realidade aponta para a necessidade de acelerar as capacidades e aperfeiçoamento dos líderes para com os colaboradores (BIRKENSHAW et al., 2016).
Portanto, o desenvolvimento da liderança e a preparação contínua são essenciais para os líderes atuarem em momentos de crise, haja vista que a necessidade de se readaptar, reinventar e gerir uma equipe mediante a um cenário desastroso, como a realidade atual, é um grande desafio.
3 METODOLOGIA
3.1 Tipo de estudo
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, de caráter qualitativo descritivo, no qual abordou os aspectos relacionados à importância do líder nas organizações frente às mudanças ocorridas em meio à crise na pandemia da COVID 19.
A natureza do estudo desenvolvido segue os preceitos do estudo exploratório, por meio de uma revisão de bibliografia, na qual, segundo Gilberto (2008), é desenvolvida a partir de estudos e materiais já elaborados, tais como livros e artigos científicos.
No que se refere a revisão de bibliográfica, é um tipo de estudo que apresenta um elevado potencial de construção do conhecimento, tendo como objetivo proporcionar uma síntese das informações obtidas nos estudos pesquisados, havendo uma melhor aplicabilidade dos mesmos, melhorando a compreensão do tema (MENDES, 2008).
3.2 Identificação do tema ou formulação da questão norteadora
Para o presente estudo, criou-se a seguinte questão norteadora: “Qual é a importância do Líder nas organizações no novo normal? ”.
3.3 Busca na Literatura
Foram utilizados trabalhos publicados no idioma inglês, português e espanhol nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Google Acadêmico.
A escolha dessas bases de dados foi devido ao número elevado de publicações de artigos da área da temática relacionada ao tema. Houve combinação de diferentes formas em relação aos descritores, a fim de ampliar a busca de estudos, considerando as variações terminológicas e seus respectivos sinônimos.
Foram utilizados os seguintes descritores na busca: Liderança e organizações; Pandemia e liderança; Covid-19 e liderança; Crise econômica e Liderança; Pandemia e crise; Covid-19 e organizações; Covid-19 e economia; Pandemia e economia; Pandemia e liderança; Covid-19 e novo normal; dentre outros.
Para filtrar os artigos achados, ocorreu a realização da leitura dos respectivos títulos e resumos e nestes deveriam constar/mencionar aspectos relacionados ao tema. Estes estudos foram lidos, a fim de finalizar o processo de seleção baseado nos objetivos deste estudo: analisar a importância do papel do líder nas organizações em meio às adversidades da crise no cenário atual.
Além disso, a coleta de dados seguiu os seguintes passos:
- Leitura exploratória: em todo o material selecionado foi feito uma leitura rápida que tem como objetivo identificar se a obra consultada apresenta a temática do trabalho;
- Leitura Seletiva: leitura mais aprofundada das partes que abordam a temática;
- Registro das informações: é referente às informações extraídas dos estudos, fonte e instrumento específico (autores, ano, métodos, desenvolvimento e conclusões).
3.4 Critérios de inclusão e exclusão
Como critério de inclusão, foram incluídos artigos do período de 2000 a 2021 que incluíssem em seus títulos e resumos assuntos referentes ao tema deste trabalho; apenas foram aceitos os artigos/livros que antecedessem esse período, caso se tratassem de material de grande relevância ao assunto.
Como critério de exclusão, foram eliminados estudos que antecedessem o período selecionado ou que não possuíssem conteúdo condizente com o tema proposto para este trabalho.
3.5 Análise e interpretação dos resultados
Os artigos foram classificados e os resultados encontrados foram posteriormente sintetizados, considerando a similaridade de conteúdo. Foram realizadas análises dos estudos selecionados, obtendo como base a questão norteadora da referida revisão bibliográfica.
Buscou-se estabelecer ideias semelhantes e diferentes entre os estudos para auxiliar na produção e desenvolvimento do trabalho.
3.6 Aspectos Éticos
Houve o comprometimento de citar os respectivos autores dos estudos respeitando a Norma Brasileira Regulamentadora 6023, na qual dispõe sobre os elementos a serem incluídos e orienta a compilação e produção de citações e referências.
Os dados coletados foram utilizados exclusivamente para finalidades científicas.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para a produção da referida revisão bibliográfica, foram utilizados 46 estudos acerca da temática em questão, havendo 43,5% de artigos científicos, 28,3% de livros e 28,2% de obras acadêmicas em geral.
Em vista disso, sabe-se que o desenvolvimento da liderança é frequentemente discutido no contexto de coaching e consultoria de liderança e é fundamental para o planejamento de sucessão e para o sucesso organizacional, mas também é fundamental para a preparação em momentos de crises (JAMES; WOOTEN, 2010). Existem vários caminhos para desenvolver líderes, mas não existe uma “fórmula
mágica” com métodos para a formação eficaz de líderes, especialmente, considerando líderes em diferentes organizações ou com diferentes necessidades (PETRO, 2020).
Governos, comunidades e organizações estão em crise e procuram orientação de seus líderes. O desafio é que nossas visões de mundo da ordem das coisas, o que pensávamos saber sobre a ordem dos sistemas, está se desintegrando e isso pode levar a um colapso ou uma ruptura de nossas organizações, entidades e sistemas e tudo depende de nossos líderes (JAMES; WOOTEN, 2010). De acordo com Williams et al. (2017), a forma como os líderes respondem à crise pode mudar permanentemente os fundamentos econômicos, sociais e de saúde de suas comunidades. Alguns desses líderes enfrentarão o desafio, enquanto outros desaparecerão. Este é o momento para líderes autênticos ajudarem sistemas e indivíduos a superar limitações e medos e aumentar seu desempenho.
Para Girboveanu e Pavel (2010), a liderança não pode ser exercida a partir de um ponto de reação e esperar liderar efetivamente durante a crise. As ações que os líderes tomam antes das crises podem ter implicações consideráveis e ser muito influentes para permitir que trafeguem eficazmente pela organização em meio às crises quando elas ocorrem.
No que se refere ao cenário atual, a pandemia da COVID-19 mudou completamente a vida de todos. Pois, para desacelerar a transmissão do vírus, tentando “achatar a curva” e evitar colapsar o sistema de saúde, muitos países adotaram uma abordagem abrangente, impondo limitações restritivas ao movimento de pessoas. Todavia, ao fechar locais de trabalho e encerrar atividades de manufatura, limitar a mobilidade em locais públicos, fechar lojas não essenciais, fechar escolas, fechar fronteiras e limitar o tráfego (aéreo, rodoviário e marítimo), esta política efetivamente encerrou a economia e as atividades sociais. Isso tem um alto custo social e econômico, principalmente em países com capacidade inadequada para absorver “bloqueios” nacionais sustentados, especialmente em economias emergentes e em desenvolvimento (PETRO, 2020).
Com isso, os líderes precisaram mais do que nunca aprimorar e aplicar as suas características de liderança para melhorar e sustentar a nova forma de trabalho ao longo da situação “normal”. Conforme afirma Goleman (2015), às competências essenciais de um bom líder é a inteligência emocional, a habilidade do autoconhecimento, de escutar o colaborador, da autogestão, da empatia e da habilidade social. São características importantes para o cenário atual, principalmente, por se tratar, muitas vezes, de pessoas que perderam pessoas próximas, que não tinham com quem deixar os filhos, devido às escolas estarem fechadas, por não apresentarem tanta aptidão com o aporte tecnológico, dentre outros fatores. Nesse contexto, o Home Office, sem dúvida, ganha bastante destaque, pois além de se apresentar como sendo um grande desafio ao líder, em conseguir organizar, administrar, liderar a equipe de forma remota, também o é para os colaboradores, tendo em vista as dificuldades enfrentadas no ambiente doméstico, por exemplo (de Melo et al., 2020). Para Santos et al. (2020), a mudança no local de trabalho retrata um dos cenários mais desafiadores para um profissional, visto que não é apenas o ambiente, mas também as instalações, os equipamentos e a tecnologia mudam de maneira abrupta, tudo para manter a produtividade, cumprindo os protocolos de distanciamento estabelecidos.
É fato que para um líder, o trabalho presencial é mais favorável, porque facilita uma maior motivação, monitoramento, interação, engajamento, acompanhamento da sua equipe. Por outro lado, nesse contexto de Home Office, os líderes precisarão executar tais funções, verificar as necessidades dos colaboradores, oferecer suporte, conseguir resolver os problemas, na maioria das vezes, à distância e de maneira virtual (SANTOS; MIRANDA; MONTI-JUNIOR, 2020).
Não somente, para Larson, Vroman e Makarius (2020), os autores afirmam que outro desafio enfrentado pelos líderes no cenário atual é referente à comunicação. O líder precisa detectar a melhor forma de se comunicar com os colaboradores, o melhor horário, o melhor meio, as melhores informações, a forma como essas informações serão passadas, como também, observar se está sendo claro, objetivo para que os resultados sejam alcançados. Já que toda a relação está sendo à distância e, no mundo virtual, a interpretação textual fica à cargo de quem está recebendo a mensagem.
É importante que os colaboradores recebam treinamento acerca do uso das ferramentas das plataformas digitais para reuniões, conferências, dentre outros. O líder deve estar disponível para identificar e sanar todas essas dúvidas, para que nenhuma tarefa fique pendente e interfira nos resultados da empresa. Por isso, a comunicação, mesmo que virtual, é muito importante, podendo ser em equipe ou individualmente, regulares ou previsíveis, desde que os funcionários se sintam confortáveis e saibam que podem consultar o seu gestor/líder para que suas considerações e dúvidas sejam ouvidas (LARSON; VROMAN; MAKARIUS, 2020).
Para de Melo Filho (2018), o trabalho remoto exige que o líder mantenha os colaboradores motivados, assim como no trabalho presencial, por isso, é necessário a criação de métodos e estratégias diferentes das utilizadas tradicionalmente, para que aumentar o desempenho, a confiança e, consequentemente, os resultados positivos. Haja vista que, o ser humano sente a necessidade de se sentir importante quando estão executando determinadas tarefas que lhes foram confiadas. Necessitam que no ambiente de trabalho, seus superiores compreendam e reconheçam os esforços gerados. Esse reconhecimento gera sentimento de motivações, coragem, integridade e força de vontade entre a equipe (SILVERSTEIN, 2013).
Quando uma equipe está motivada, quando ocorre o reconhecimento dos esforços realizados, estes se sentem parte da organização, da equipe, sentem vontade de participar constantemente das tarefas da empresa (CARNEGIE, 2015).
Além disso, é importante que o líder compreenda que o ambiente de trabalho, a carga horária, as condições pelas quais o colaborador está submetido não são as mesmas. Muitas vezes estão trabalhando ainda mais, passando por dificuldades, envolvendo questões pessoais com profissionais, já que estão no meio pessoal (ambiente doméstico), o que demanda um cuidado maior. Como afirmam Larson, Vroman e Makaius (2020), os autores destacam que com essa nova realidade, os gestores precisam ouvir os colaboradores, apresentar mais empatia, entender as dificuldades de cada um e traçar estratégias e alternativas para melhorar o trabalho.
Dessa maneira, onde os líderes organizacionais em seu ambiente de rotina se concentram em promover a inovação, impulsionar as receitas corporativas, manter orçamentos e ganhar participações de mercado, o ambiente da COVID-19 de hoje forçou transições de foco em questões de comportamentos, escassez de equipe, desafios operacionais e manter a liquidez, exemplificando apenas o tipo de diferenças de desafios de liderança que as crises trazem (NICHOLS et al., 2020).
Para Naudé e Vinuesa (2020), embora a liderança em ambientes altamente incertos, complexos e muitas vezes caóticos, ricos em situações e necessidades que mudam rapidamente, como a experiência atual com a COVID-19, seja sem precedentes para muitos executivos, gerentes e líderes organizacionais, isso não significa não seja possível superar os obstáculos, capacitando os líderes e sua equipe, a estarem preparados e até proativos para uma efetiva reativação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo discutiu aspectos relacionados ao papel do líder nas organizações mediante às mudanças no cenário atual, devido a pandemia da COVID-19. Visto que, foi um vírus que se espalhou rapidamente pelo mundo no final do ano de 2019 e que gera uma crise não apenas na saúde, mas a nível econômico e social.
Pode-se observar que o trabalho dos líderes organizacionais durante a pandemia é ser capaz de se adaptar e reinventar diante de um cenário de crise, caótico e que mudou de maneira brusca a vida de todos. Foi possível perceber que na literatura, muito se abordou sobre motivação, organização, saber ouvir os colaboradores, reuniões, comunicação e outros fatores importantes para uma boa relação entre líder e trabalhador, a fim de que o processo de produção do serviço seja realizado da melhor maneira possível e os resultados sejam satisfatórios.
Além disso, a tecnologia está sendo a grande aliada, o “Era Virtual” está cada vez mais presente, forçando o aperfeiçoamento, a utilização de plataformas digitais, redes sociais, equipamentos tecnológicos, linguagem digital, modernização, dentre outros. Mudanças essas que o líder/gestor precisa saber lidar e ajudar o colaborador para qualquer demanda que surgir, com o objetivo de que a empresa se mantenha e consiga superar a crise que a pandemia da COVID-19 está causando no mundo inteiro.
REFERÊNCIAS
ARBACHE, J. Produtividade no Setor de Serviços. In: SILVA, C.M.; MENEZES FILHO, N.; KOMATSU, B. Uma Abordagem sobre o Setor de Serviços na Economia Brasileira. Centro de Políticas Públicas – Insper, n. 19, p. 1-34, 2016.
ASSUNÇÃO, Maria Aparecida. Como ser um líder em um novo cenário? Revista Processus de Estudos de Gestão, jurídicos e Financeiros, v. 11, n. 41, p. 76-87, 2020.
BIRKINSHAW, J.; ZIMMERMANN, A.; RAISCH, S. How do firms adapt to discontinuous change? Bridging the dynamic capabilities and ambidexterity perspectives. California Management Review, v. 58, n. 4, p. 36-58, 2016.
BORGES, A.F.; BAYLÃO, A.L.S. Liderança em Tempo de Mudanças. Educação Profissional: Ciência e Tecnologia, v.3, n.2, 2009.
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1 Psicólogo. Discente do curso de Pós-graduação em Liderança e Coaching da Estácio de Sá. E-mail: L.luizantonio@hotmail.com;
2 Mestre. Docente e coordenador do curso de Pós-graduação em Liderança e Coaching na Estácio de Sá.