A INTELIGÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO MOTOR

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7362271


Cristiane da Silva Wyser1
Darlon Souza da Silva1


RESUMO:

Objetivo: O presente artigo tem por objetivo buscar apresentar os estágios da inteligência no desenvolvimento do sensório motor da criança. Metodologia: pesquisa descritiva, exploratória, qualitativa, do tipo revisão Integrativa da literatura, pautada em um levantamento bibliográfico nas seguintes bibliotecas virtuais BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e SCIELO (ScientificElectronic Library Online). Resultados:  A inteligência sensório-motora é uma das etapas do desenvolvimento infantil que foram analisadas exaustivamente nos últimos anos. Faz parte da teoria do desenvolvimento que inclui o desenvolvimento cognitivo do bebê.Piaget definiu quatro etapas: sensório-motora, pré-operacional, operativa e operativa formal. Conclusão: O estágio sensório-motor é aquele que se desenvolve desde o nascimento do bebê até os dois anos de idade. O conhecimento sobre esse processo possibilita ao psicólogo mecanismos para auxiliar no desenvolvimento nesta fase. 

Palavras-chave: “desenvolvimento sensório motor”, “psicólogo” e “inteligência.

ABSTRACTI:

Objective: This article aims to present the stages of intelligence in the development of the child’s sensory motor. Methodology: descriptive, exploratory, qualitative research, of the integrative literature review type, based on a bibliographic survey in the following virtual libraries BVS (Virtual Health Library) and SCIELO (ScientificElectronic Library Online). Results: Sensory-motor intelligence is one of the stages of child development that has been extensively analyzed in recent years. It is part of the theory of development that includes the baby’s cognitive development. Piaget defined four stages: sensory-motor, pre-operational, operative and formal operative. Conclusion: The sensorimotor stage is the one that develops from the baby’s birth to two years of age. The knowledge about this process allows the psychologist mechanisms to help in the development in this phase.

Keywords: “sensory motor development”, “psychologist” and “intelligence.

1. INTRODUÇÃO

O Desenvolvimento Infantil (DI) é parte fundamental do desenvolvimento humano, destacando-se que, nos primeiros anos, é moldada a arquitetura cerebral, a partir da interação entre herança genética e influências do meio em que a criança vive (SHONKOFF, 2012).

As crianças desenvolvem a capacidade de reconhecer a existência de um mundo externo a eles, tendo autonomia para explorá-lo e construir sua própria percepção. Passam a agir não mais apenas por reflexos, mas direcionam seus comportamentos tendo objetivos a alcançar (PEDROZO, 2014).

Neste contexto, para promoção da saúde da criança, é indispensável a compreensão de suas peculiaridades, assim como, condições ambientais favoráveis ao seu desenvolvimento. O entendimento dos cuidadores sobre as características e necessidades próprias da infância, decorrentes do processo de desenvolvimento, favorece o desenvolvimento integral, pois os cuidados diários são os espaços de promoção do desenvolvimento infantil (DI) (MELLO, 2014).

O desenvolvimento motor pode variar entre os indivíduos. Marcos motores podem não ser atingidos ou plenamente estabilizados. Porém, a sequência global do desenvolvimento não deixa de existir. Durante a aquisição de cada habilidade, o desempenho motor passa de instável para estável. Quando chega a um grau de muita estabilidade, o organismo pode aprender outra habilidade, ou alguma variação das já aprendidas, e surge novamente a instabilidade. Quanto mais adaptado ao ambiente, maior flexibilidade o organismo tem (TANI, 2004). 

Os hábitos da vida moderna tendem causar alterações nas experiências e vivências motoras. Temos observado uma redução drástica na necessidade de movimentos realizados no cotidiano, pelo menos aqueles considerados amplos, que têm sido substituídos por movimentos que envolvem grupos musculares menores. Essas alterações no repertório motor também têm sido observadas em crianças, com estas envolvidas cada vez mais cedo com aparelhos e jogos eletrônicos, em detrimento de realizar as atividades e brincadeiras tradicionais que envolvam ações motoras grossas, como por exemplo, as habilidades motoras fundamentais, influenciando no desenvolvimento intelectual também (RODRIGUES, et., al., 2013).

Embora o desenvolvimento motor pareça similar entre os seres humanos, diversas características são específicas ao ser em desenvolvimento. Essas especificidades no desenvolvimento motor são decorrentes de características individuais (orgânicas, psicológicas, motivacionais, etc.) e também do ambiente no qual o ser em desenvolvimento está inserido (RODRIGUES, et., al., 2013).

É importante discutir que como parte do ambiente, oportunidade de prática estruturada e instrução apropriada são fatores determinantes para que novas habilidades motoras sejam adquiridas e, principalmente, refinadas ao longo do ciclo desenvolvimental, incluindo neste repertório as habilidades motoras fundamentais tais como correr, saltar, chutar, arremessar, receber, entre outras (CLARK, 2007; GALLAHUE E DONNELLY, 2008).

Assim, a falta de oportunidade de prática sistematizada e estruturada com objetivos de proporcionar experiências motoras diversificadas, e a falta de instruções apropriadas têm sido indicadas como razões para que crianças não alcancem níveis mais elevados de desempenho motor nas habilidades motoras fundamentais, ficando aquém do nível esperado para as respectivas idades (COTRIM et al., 2011; LEMOS et al., 2012; PANG E FONG, 2009).

O presente artigo buscar apresentar os estágios da inteligência no desenvolvimento do sensório motor da criança e tem como objetivos específicos discorrer sobre o desenvolvimento motor, seus conceitos e características; apresentar a relação entre desenvolvimento motor humano e aprendizagem e apresentar os estágios da inteligência sensório motora nos primeiros anos de vida da criança (0 a 2 anos).

2.  DESENVOLVIMENTO

2.1 BREVE HISTÓRICO DE APRENDIZAGEM DO DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO – MOTOR E HUMANO 

O princípio do pensamento psicomotor iniciou a partir de Aristóteles, cujas ideias valorizavam a ginástica como atividade que moldava o espírito, acreditando numa relação interdependente de corpo e alma (FALCÃO e BARRETO, 2009).

Segundo Ortiz (2011), foi a partir do século XVIII, que estudos no campo da neurofisiologia deram espaço a um novo pensamento, resultando de uma necessidade da área médica de encontrar explicações plausíveis para determinados fenômenos patológicos. Neste momento, o termo psicomotricidade passou a ser utilizado, a partir de 1870, quando apresentou um enfoque neurológico naquele momento. Mais segundo a mesma autora foi em 1907, que Dupré, um neurologista francês, que definiu a síndrome da debilidade motora, quando constituiu um marco na história desse campo. Entre outras considerações, formulou suas noções numa linha filosófica neurológica, e associou o desenvolvimento da psicomotricidade com a inteligência e a afetividade.

Já para Falcão e Barreto (2009, p. 87), “O movimento (ação), e o pensamento e linguagem são unidades inseparáveis. O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o movimento sem ato”. Eles destacam que por intermédio do pensamento de Wallon, foi possível criar uma técnica terapêutica com o propósito de reeducar as funções motoras, de maneira que se conservasse o olhar para a afetividade.

Souza (2004), ressalta que as observações de Henri Wallon foram essenciais para a compreensão do desenvolvimento neurológico do recém-nascido e da evolução psicomotora da criança, pois sua teoria prega como única expressão e primeiro instrumento do psiquismo o movimento, relacionando tônus e emoção, pois segundo ele, a emoção é o que reveste o conhecimento, a consciência e o desenvolvimento da personalidade. 

Falcão e Barreto (2009, p. 92), ainda salientam que foi por volta de 1968 que se iniciou no Brasil a difusão das informações e trabalhos acerca do referido estudo. Tanto no Brasil quanto na Europa, a educação especial deu origem à psicomotricidade. Consequentemente, era vista como um recurso a fim de “corrigir distúrbios e preencher lacunas de desenvolvimento das crianças excepcionais”. 

Mas Ortiz (2011), complementa que, foi a partir da década de 1970, que o cenário da formação de profissionais brasileiros na área foi ampliado com a promoção de eventos acadêmico-científicos, ao criar uma comunidade psicomotricista.

 Ainda com referência ao desenvolvimento sensório-motor, estudos corroboram que Piaget foi um dos estudiosos que mais se importou com as relações entre a motricidade e a inteligência, ressaltando que tais aquisições são anteriores à linguagem, alicerces de todas as outras aprendizagens posteriores no decorrer do desenvolvimento. Para Piaget, “A inteligência verbal ou refletida baseia-se numa prática ou sensório-motora, a qual se apoia, por seu turno, nos hábitos e associações adquiridos para recombiná-los”. (PIAGET, 1975, p. 13). 

Conforme Ortiz (2011) apud Falcão e Barreto (2009), outros nomes também se destacaram, no sentido de oferecer e somar esforços com relação às emoções e aos movimentos. E desta forma, a psicomotricidade foi se desenvolvendo e adquirindo independência e particularidade, se inserindo pouco a pouco aos elementos da psicanálise, da neurologia, psicologia, contemplando as três dimensões aqui mencionadas, que são: instrumental, cognitiva e tônico-emocional.

2.2 DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO MOTOR: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

O desenvolvimento humano é um processo que ocorre durante toda a vida do ser humano, e resulta de uma interdependência complexa de fatores biológicos, psicológicos, culturais e ambientais, ou seja, é definido como “mudanças que acontecem na vida de um indivíduo desde a sua concepção até a morte” (SHORT, 1988, p. 8).

Já segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (2005), o desenvolvimento infantil pode ser definido como um processo multidimensional e integral, que se inicia com a concepção e que engloba o crescimento físico, a maturação neurológica, o desenvolvimento comportamental, sensorial, cognitivo e de linguagem, assim como as relações sociais e afetivas. Isto significa que a criança vai se desenvolver, de conformidade com as peculiaridades de suas fases, levando em consideração, suas complexidades, bem como os estímulos e as necessidades do meio em que está inserida. 

O desenvolvimento sensório-motor da criança, está baseado nos marcos que são utilizados e que servem como guia para a identificação de desvios e atrasos em seu progresso. Desta feita, pode-se reconhecer quando a criança não está acompanhando eficazmente, esse processo, com base nos vários estágios de evolução, normalmente classificados. Neste sentido, Carvalho (2011), enfoca que o desenvolvimento motor considerado normal é acompanhado de processos de crescimento, maturação e aquisição da competência e reorganização psicológica. Esses processos permitem à criança adquirir novas habilidades no domínio motor grosseiro e fino, cognitivo e emocional, com diferentes modelos e movimentos.

Na concepção de Cavicchia (2022), ao tentar se adaptar ao meio ambiente o indivíduo utiliza dois processos fundamentais que compõem o sistema cognitivo a nível de seu funcionamento: a assimilação ou a incorporação de um elemento exterior, que pode ser um objeto ou um acontecimento. Quando o desequilíbrio é produzido pela experiência nova, um novo equilíbrio é alcançado em nível mais alto de organização cognitiva.

O desenvolvimento das habilidades motoras ocorre de forma diferenciada, de um indivíduo para outro, ou seja, com ritmos e peculiaridades determinadas, decorrente do amadurecimento neurológico, no sentido de aprender a organizar suas atividades, com as oportunidades proporcionadas pelo seu ambiente. Com base em Piaget (1975), o desenvolvimento da capacidade cognitiva se dá numa sequência fixa de estágios qualitativamente diferentes e inclui, também, o conceito de equilíbrio. O mecanismo de formação para o conhecimento se divide em assimilação e acomodação. 

Haywood (1996), explica que o desenvolvimento motor é um processo gradativo de refinamento e integração de habilidades, e dos princípios biomecânicos do movimento. Isto significa que a eficácia é alcançada na prática de um comportamento, de maneira que o resultado seja um comportamento motor consistente e eficaz. 

2.3 ESTÁGIOS DA INTELIGÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO – MOTOR 

O desenvolvimento motor, está relacionado ao desenvolvimento de ciclos de vida, tem relação com melhorias, perdas e diminuições de desempenho. Assim, segundo Jean Piaget (1896-1980), renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil, concluiu, depois de observar muitas crianças, que o progresso de aquisição do conhecimento passa por quatro estágios e que todas passam por eles na mesma ordem: 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos); 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos); 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos); 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante).

A primeira infância é a fase em que a criança se encontra mais receptiva aos estímulos vindos do ambiente, e o desenvolvimento das competências motoras ocorre muito rapidamente. Neste período, principalmente no primeiro ano de vida, os primeiros marcos motores aparecem com o controle de cabeça, o rolar, o arrastar e mais tarde o sentar, o engatinhar e a marcha no final do primeiro ano. Xavier (2018), salienta que o desenvolvimento infantil se inicia ainda na vida uterina, com o crescimento físico, a maturação neurológica, a construção de habilidades relacionadas ao comportamento e as esferas cognitiva, afetiva e social. 

Durante essa fase, a criança adquire conhecimentos, através dos sentidos, ou seja, ela passa a repetir uma ação, que lhe trouxe contentamento. Conforme interagem em seu ambiente, vão descobrindo novas sensações, passando a coordenar as diversas informações recebidas pelo universo que a circunda, desenvolvendo assim, gradativamente, seus sentidos sensoriais, como a visão, audição, entre outros.

Considerando a análise apenas do processo inicial, isto é, do estágio sensório-motor, a partir do estudo de Piaget, Oliveira (2019), discorre que foi comprovado que a criança, mesmo ainda muito cedo, de 0 a 2 anos de idade, explora o ambiente, os objetos e o seu próprio corpo. Sua percepção é decorrente de seus sentidos, juntamente, com a atividade motora, favorecendo o desenvolvimento intelectual, somado a outros estímulos externos, como interação social com pessoas do seu convívio, bem como a parte afetiva.

Ainda sobre os estágios do desenvolvimento motor da criança, Cavicchia (2022) relata que a capacidade de organizar e estruturar a experiência vivida vêm da própria atividade das estruturas mentais que funcionam seriando, ordenando, classificando, estabelecendo relações. Há um isomorfismo entre a forma pela qual a criança organiza a sua experiência e a lógica de classes e relações. Os diferentes níveis de expressão dessa lógica são o resultado do funcionamento das estruturas mentais em diferentes momentos de sua construção. Tal funcionamento, explicitado na atividade das estruturas dinâmicas, produz, no nível estrutural, o que Piaget denomina os “estádios” de desenvolvimento cognitivo. Os estádios expressam as etapas pelas quais se dá a construção do mundo pela criança.

Oliveira et al. (2019), relatam que a partir do estudo de Piaget, foi comprovado que a criança, mesmo ainda muito cedo, explora o ambiente, os objetos e o seu próprio corpo. Sua percepção é decorrente de seus sentidos, juntamente, com a atividade motora, favorecendo o desenvolvimento intelectual, somado a outros estímulos externos, como interação social com pessoas do seu convívio, bem como a parte afetiva.

Durante esse período, a criança experimenta, as características dos subestágios, que são compostas por: uso de reflexos, movimento de preensão, movimento de engatinhar, organização das suas ações, início da percepção imaginativa o “faz de conta”, além da permanência dos objetos, sendo que as duas últimas características ocorrem na etapa final do estágio, que acontece por volta de seus 2 anos de idade, conforme a explicação de (OLIVEIRA, et al. 2019).

2.4. ASPECTOS RELACIONADOS ÀS DIFICULDADES DE DESENVOLVIMENTO MOTOR

As características de desenvolvimento sensório motor dependem de multifatores. Assim, é importante saber como as situações imaginárias das crianças são compreendidas nesse período. O imaginário ou a fantasia estão fortemente inseridos na primeira infância – de zero a dois anos e, com isso, se faz possível a interpretação de que a fantasia é capaz de facilitar e tornar mais atraentes os atributos de um brinquedo perante a criança, ávida por novas experiências e exploração dos seus sentidos. O afeto também se fará presente a partir da percepção e dos significados dados ao objeto inserido nas ações da criança realizadas durante o ato de brincar (PEDROZO, 2014).

Nesta perspectiva, a experiência de violência vivenciada na família de origem impacta na vida do indivíduo não apenas em suas relações afetivas, como modelo de relacionamento amoroso, mas também em outros contextos, legitimando a violência como estratégia de resolução de conflitos nas mais diversas situações. Nos últimos anos, estudos evidenciaram a importância de olhar para o sujeito a partir do que recebeu das gerações anteriores e compreender a repercussão das questões vinculadas a transgeracionalidade (REIS, PRATA E PARRA, 2018).

Há interdependência entre eventos motores no ciclo da vida. Cada nova etapa envolve a emergência de novas propriedades não encontradas antes. Não só características genéticas, mas essencialmente a interação com o ambiente faz com que os indivíduos, tendo nascido tão parecidos física e motoramente e tendo passado por sequências de desenvolvimento semelhantes, se tornem crianças, adolescentes, adultos e idosos bem diferentes. O desenvolvimento envolve a integração de padrões de comportamento em um processo de complexidade crescente (MANOEL, 2000); (MANOEL, 2004).

Imagem 1: Mapa conceitual com os resultados da análise de conceito do termo desenvolvimento infantil, segundo o modelo híbrido.

Fonte: Souza e Veríssimo, (2015).

Diversos são os fatores que têm repercussões diretas e indiretas sobre o desenvolvimento infantil, os quais podem estar presentes na própria criança (componentes genéticos e biológicos), na família (dinâmica familiar e história parental) e/ou no ambiente; e que apesar de distintos, esses fatores não são excludentes, indicando um processo multifatorial e complexo de interação (SILVA et al., 2013; NEVES et al., 2016).

Dentre os diversos fatores que privam as crianças de atingirem seu desenvolvimento de forma plena, a pobreza se destaca, pois, essa condição aumenta a probabilidade da existência de múltiplos fatores de risco (baixa escolaridade, desemprego, baixa renda, maior nível de conflitos, ambientes menos estimulantes, etc), que interagem entre si, potencializando os efeitos negativos sobre as crianças e suas famílias (GIORDANI; ALMEIDA; PACHECO, 2013).

Dessa forma, observa-se que os primeiros anos de vida são primordiais para o bom desenvolvimento da criança, e para que isso ocorra de forma satisfatória, o ambiente no qual ela está inserida precisa ser estimulador, prazeroso e lúdico, com oportunidades para que ela desenvolva seus sentidos e habilidades. Quando estimulada, a criança se torna mais ativa, dinâmica e emocionalmente equilibrada (SOUZA E VERISSIMO et al., 2015).

3. METODOLOGIA

3.1 Caracterização do tipo de pesquisa

Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, qualitativa, do tipo revisão Integrativa da literatura. A revisão integrativa emerge como uma metodologia que proporciona a síntese do conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática (SOUZA e CARVALHO, 2010).

3.2 Coleta de Dados 

As bibliotecas virtuais a serem utilizadas serão: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e SCIELO (ScientificElectronic Library Online). Utilizar-se-á as seguintes palavras chave: “desenvolvimento sensório motor”, “psicólogo” e “inteligência” de acordo com o portal Descritores em Ciência da Saúde (DECS). 

Os artigos foram elencados de acordo com os seguintes critérios de elegibilidade: artigos em português, disponíveis gratuitamente, completos, publicados nos últimos 10 anos (2010 a 2020). E os critérios de ilegibilidade foram: artigos em formato de resumo, monografias, dissertações de mestrado, tese de doutorado. 

3.3 Avaliação dos dados

Os artigos foram selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade e inelegibilidade a partir dos títulos, posteriormente foi realizada a análise de resumos e finalmente os artigos foram lidos na integra, sendo elaborado um instrumento para a coleta de informações direto das bases de dados. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A neurociência comprova que o cérebro da criança pequena tem uma grande plasticidade, ou seja, está sempre aprendendo e é sensível a modificações, particularmente nos primeiros 1.000 dias, desde a concepção até os 2 anos de idade. Nesse período, o desenvolvimento cerebral ocorre em uma velocidade incrível: as células cerebrais podem fazer até 1.000.000 de novas conexões neuronais a cada segundo – uma velocidade única na vida. Essas conexões formam a base das estruturas que dão sustentação à aprendizagem ao longo da vida (UNICEF, 2022).

Borges, Castro e Bessa (2016), na teoria piagetiana, o processo de desenvolvimento da criança está dividido em quatro níveis: sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Sendo que, o presente projeto terá como foco principal o nível sensório motor, pois é nessa fase que acontece o descobrimento do mundo pela criança através da sensibilidade promovida pelos cinco sentidos.

Segundo Piaget (2011), o período sensório motor (0 a 2 anos) compreende a fase em que a criança descobre o mundo através do movimento, ela explora tudo o que há ao seu redor e não atua mais de forma despretensiosa como puro reflexo, mas passa a ter agora objetivos a alcançar através de sua ação sobre o meio. A primeira fase, denominada por Piaget, de sensório motor, corresponde à fase de desenvolvimento sensório-motora na criança, e vai de 0 a 2 anos de idade. Deve-se respeitar a individualidade e a capacidade de cada criança, para que sua psicomotricidade seja desenvolvida de forma integral e positiva.

Logo que nascem, as ações dos bebês são puramente reflexas e desordenadas: eles agarram, sugam, choram e se movimentam de formas involuntárias, tendo um repertório comportamental limitado à satisfação das necessidades orgânicas necessárias para sobrevivência (FONTANA, 2002).

Segundo Cevolane (2018), desenvolvimento tem relação com duas vertentes: as que contemplam a maturação, que são padrões sequenciais de mudanças governados por instruções contidas no código genético e compartilhadas por todos os membros de uma espécie; e as que versam sobre o desenvolvimento intelectual/cognitivo que se referem à explicação de condutas, entidades, processos, disposições, organizações ou uma arquitetura mental, que, em outras palavras, o desenvolvimento condiz aos processos cognitivos.

Para Cavicchia (2010), a descoberta dos meios novos por experimentação ativa explicita-se em condutas que indicam as formas mais elevadas de atividade intelectual da criança, antes do aparecimento da inteligência sistemática. São exemplos característicos desta atividade: a conduta dos suportes (a criança descobre a possibilidade de atrair para si um objeto afastado puxando a seu encontro o suporte sobre o qual está colocado); a conduta do barbante (a criança puxa para si um barbante ao qual está amarrado um objeto, para atraí-lo em sua direção); e a conduta do bastão (utilização de um bastão como instrumento intermediário para alcançar um objeto distante, fora do campo de preensão da criança).

Segundo Borges, Castro e Bessa (2016), os sentidos exercem papel primordial já nos primeiros meses de vida do bebê, pois é através deles que a criança irá conseguir desvendar o mundo que a cerca. Tomando como partida o fato que a criança recém-nascida se encontra em um mundo que lhe é completamente novo e estranho, vemos que o seu desenvolvimento já começa a acontecer quando sai do ventre de sua mãe.

Assim, o foco na fase inicial da vida é essencial para desenvolver a inteligência das crianças. Cada estímulo tem impacto na formação das conexões entre os neurônios e na formação do cérebro, que, aos 6 anos, conta com o dobro de conexões que o cérebro de um adulto. “Esse é o melhor momento, quando o cérebro responde prontamente. O órgão está pronto para ser estimulado, desenvolver-se”, diz o especialista. E quanto melhor estimulado, mais habilidades e competências terá o futuro adulto. Para começar agora não é preciso muito tempo ou investimentos em atividades, brinquedos caros ou uma cuidadora especializada. O interesse dos pais e uma pausa na rotina do dia a dia já são um grande começo. A qualidade da relação no tempo disponível é essencial (BRASIL. 2022).

Considerações finais

Observou-se que é relevante o estudo acerca do desenvolvimento cognitivo da criança. Consideramos que o estágio cognitivo sensório-motor é uma fase de conhecimento e evolução, pois é a partir dele que a criança terá uma percepção maior sobre o mundo que a cerca. O referido estágio dentro do ambiente escolar nos revela que esse período fará com que o sujeito se desenvolva suas características intelectuais de maneira ampla, pois, com a exploração do ambiente e o auxílio dos estímulos, a criança estará apta para o convívio social por meio de sua percepção.

No estágio da inteligência sensório-motora, a criança percebe o seu potencial, o seu papel individual e também seu possível papel dentro de um grupo social.

A inteligência sensório-motora é uma das etapas do desenvolvimento infantil que foram analisadas exaustivamente nos últimos anos. Faz parte da teoria do desenvolvimento que inclui o desenvolvimento cognitivo do bebê.

Piaget definiu etapas que nos auxiliam a discutir melhor as potencialidades de crianças nos mais diversos estágios de desenvolvimento. O estágio do desenvolvimento a inteligência sensório-motora é construído a partir do reflexo. No entanto, estes não são repetidos para sempre. Pelo contrário, o bebê vai acrescentando novos reflexos e, com isso, elementos muito mais complexos. Isso permite que a percepção do bebê evolua.

É importante lembrar que, segundo Piaget, a inteligência aparece muito antes da capacidade de falar. Nesta fase também são desenvolvidas o comportamento intencional, as combinações mentais, as imagens simbólicas e as representações mentais.

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1CENTRO UNIVERSITÁRIO FAMETRO – CEUNI-FAMETRO. BACHARELADO EM PSICOLOGIA