A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11237818


Ademar Alves dos Santos1
Claudiane Lima da Rocha2
Daniela das Graças Costa3
Ismaelly Victória Marcelino da Silva4
Maria dos Remédios Almeida5
Mikaella Mendes da Cruz Neves6
Roberta Kelly de Freitas Lourenço7


RESUMO

Este artigo propõe uma análise aprofundada sobre a inclusão escolar de alunos com altas habilidades (AH) e superdotação (SD) na educação básica, visando contribuir para o entendimento dos desafios e possibilidades dessa prática inclusiva. Utilizando uma abordagem qualitativa, a pesquisa busca investigar os diversos aspectos envolvidos na promoção de ambientes educacionais que atendam adequadamente às necessidades desses alunos. A base teórica desta análise é composta por estudos significativos no campo da educação inclusiva. Destacam-se os trabalhos de Sá (2017), Bahiense e Rossetti (2014) e Oliveira, Capellini e Rodrigues (2020), os quais oferecem uma compreensão profunda do processo educativo, da identificação de alunos com AH/SD e de práticas para sua inclusão efetiva no contexto escolar. Ao longo do artigo, são exploradas as implicações legais e normativas que regem a inclusão escolar no Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990) emergem como pilares fundamentais nesse contexto, delineando diretrizes e garantias para a educação inclusiva de todos os alunos, independentemente de suas características individuais. Um dos principais pontos de reflexão é a necessidade de fortalecer as relações pedagógicas entre alunos, professores e famílias. Reconhece-se que a inclusão efetiva demanda não apenas adaptações curriculares e recursos específicos, mas também uma mudança de paradigma na forma como a comunidade escolar enxerga e acolhe a diversidade de habilidades e potenciais dos alunos. O artigo destaca, ainda, a importância da formação continuada dos profissionais da educação, especialmente dos professores, para lidar de maneira eficaz com a diversidade presente em suas salas de aula. A capacitação adequada pode proporcionar aos professores as ferramentas necessárias para identificar e atender às necessidades individuais dos alunos com AH/SD, promovendo assim uma educação mais inclusiva e equitativa. No que diz respeito aos resultados obtidos, ressalta-se a necessidade de ressignificar as práticas docentes frente às demandas da inclusão. Isso implica não apenas em adaptações curriculares e metodológicas, mas também em uma mudança de atitudes e valores, pautada pela aceitação da diversidade e pelo compromisso com a igualdade de oportunidades educacionais para todos.

Palavras-chave: altas habilidades; superdotação; educação básica; formação docente; educação inclusiva.

INTRODUÇÃO

O debate em torno do processo de inclusão, especialmente na esfera educacional, tem sido amplamente discutido em diversos níveis governamentais. Políticas formativas e o desenvolvimento de materiais didáticos têm ocupado posição central nessas discussões. No entanto, a transição dessas discussões para a prática muitas vezes enfrenta obstáculos, impactando diretamente na qualidade da educação oferecida.

Ao focarmos nossa análise na inclusão de alunos com altas habilidades (AH) e superdotação (SD), os desafios se acentuam. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) destinado a esses alunos muitas vezes é negligenciado, tratado como uma demanda secundária sem a devida atenção às suas particularidades.

Este artigo propõe uma reflexão aprofundada sobre o processo de inclusão de alunos com AH/SD na educação básica. Buscaremos abordar os aspectos normativos, pedagógicos e políticos desse processo, discutindo seus desafios e possibilidades, e contribuindo para a formação docente e a promoção de novas perspectivas sobre a inclusão.

O artigo está estruturado em quatro seções complementares:

  1. Desafios da Inclusão de Alunos com AH/SD na Educação Básica:

● Exploraremos os desafios específicos enfrentados no processo de inclusão desses alunos, considerando questões normativas, pedagógicas e políticas, e como esses desafios impactam a qualidade da oferta educacional.

  • Estratégias para a Inclusão de Alunos com AH/SD:

● Discutiremos estratégias que podem ser adotadas para garantir uma inclusão efetiva desses alunos, incluindo adaptações curriculares, suporte individualizado e colaboração entre professores e especialistas.

  • Importância da Formação dos Professores na Inclusão de Alunos com AH/SD:

● Abordaremos o papel crucial da formação docente na promoção da inclusão e como os professores podem ser preparados para atender às necessidades específicas desses alunos.

  • Relação Escola, Comunidade e Família:

● Destacaremos a relevância da parceria entre escola, comunidade e família para o sucesso da inclusão e como esses três elementos podem trabalhar juntos em prol dos alunos com AH/SD.

Ao final deste trabalho, apresentaremos os resultados das discussões teóricas e algumas sugestões para aprimorar o processo de inclusão e a qualidade da aprendizagem desses alunos.

DESENVOLVIMENTO

Desafios da Inclusão de Alunos com Altas Habilidades/Superdotação na Educação Básica

A inclusão de alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD), caracterizados por sua capacidade intelectual acima da média e, em alguns casos, por seu desenvolvimento excepcional em áreas específicas, é um desafio significativo no contexto educacional. Esses alunos, quando comparados a seus pares da mesma idade, frequentemente demonstram um potencial avançado, especialmente evidente no ambiente escolar.

Os alunos com AH/SD geralmente apresentam um desenvolvimento precoce no processo de letramento, possuindo um vocabulário amplo e uma imaginação rica, muitas vezes expressa através da criação de mundos imaginários e amigos imaginários. No entanto, a falta de formação adequada dos professores pode levar à supressão dessas potencialidades, resultando em obstáculos ao desenvolvimento pleno desses alunos.

Um mito comum é que os alunos com AH/SD possuem conhecimento completo em todas as áreas, o que não é verdade. Eles podem ter uma inclinação maior para certos conteúdos e dificuldades em outras áreas. Portanto, é crucial que os professores compreendam essas particularidades para evitar possíveis regressões no processo de ensino e aprendizagem.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/96 define a educação especial como uma modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Entretanto, a escola tradicional muitas vezes enfrenta dificuldades para acolher alunos com necessidades educacionais especiais, incluindo aqueles com AH/SD.

A inclusão escolar muitas vezes se limita ao direito de vaga para alunos com necessidades educacionais especiais nas classes regulares, o que pode ser uma barreira para alcançar uma educação de qualidade para todos. Sendo assim, é necessário um esforço contínuo para superar esses desafios e promover uma educação inclusiva eficaz.

É importante destacar que a inclusão efetiva de alunos com AH/SD vai além da simples presença desses alunos em salas de aula regulares. Requer uma abordagem pedagógica diferenciada que reconheça e valorize suas habilidades e potenciais únicos. Isso pode envolver a implementação de estratégias de ensino diferenciadas, a utilização de materiais didáticos adaptados e a promoção de um ambiente de aprendizagem que incentive a curiosidade, a criatividade e a exploração autônoma.

A inclusão de alunos com AH/SD também apresenta desafios no que diz respeito à avaliação e ao acompanhamento do progresso desses alunos. Muitas vezes, os métodos de avaliação tradicionais não são adequados para acompanhar adequadamente o desempenho e o progresso dos mesmos.

Estratégias para a Inclusão de Alunos com AH/SD:

É imprescindível reconhecer e valorizar as diferenças individuais dos alunos como um recurso pedagógico fundamental para promover a inclusão efetiva no ambiente escolar. Ao invés de encarar essas diversidades como obstáculos a serem superados, devemos compreendê-las como elementos que enriquecem a dinâmica educacional, conferindo aos alunos uma dimensão subjetiva que demanda compreensão e respeito para que a prática pedagógica alcance seu pleno significado, afastando-se assim da hipocrisia pedagógica. Essa abordagem, defendida por Ferreiro (2001, apud Candau, 2016), destaca a importância de considerar as particularidades de cada aluno como um ponto de partida para o processo de ensino-aprendizagem.

Contrariando a visão tradicional que tende a patologizar as diferenças, é fundamental compreender que são essas heterogeneidades que conferem aos alunos sua identidade única e subjetiva. Como ressalta Candau (2016), é através do reconhecimento e respeito por essas características individuais que podemos construir uma prática pedagógica autêntica e inclusiva, que atenda verdadeiramente às necessidades de todos os alunos.

Nesse contexto, as reflexões de Shulman (2015) sobre as diferentes dimensões do conhecimento pedagógico ganham relevância, particularmente a categoria que aborda o conhecimento dos alunos e suas características. Este conhecimento profundo dos alunos não se restringe apenas ao domínio de suas habilidades acadêmicas, mas envolve também uma compreensão de suas vivências, histórias de vida, interesses e necessidades individuais. É a partir desse entendimento que o professor pode adaptar sua prática pedagógica de forma a garantir uma abordagem mais eficaz e inclusiva para todos.

Os desafios enfrentados pelos alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD), independentemente do grau de suas habilidades, muitas vezes se estendem para além do domínio acadêmico, afetando significativamente sua interação social e bem-estar emocional. É comum que esses alunos enfrentem dificuldades em se relacionar com seus pares e com os professores, o que pode resultar em problemas emocionais, como depressão e ansiedade. Diante desse panorama, torna-se evidente a necessidade de intervenção para promover uma maior inclusão escolar desses alunos.

Ao analisar, identificar e categorizar as diferenças individuais dos alunos com AH/SD, os professores podem desenvolver estratégias pedagógicas mais eficazes para atender às suas necessidades específicas. Essa abordagem personalizada permite uma elaboração mais precisa e direcionada do planejamento de atividades, garantindo que cada aluno receba o suporte necessário para prosperar em seu ambiente educacional.

Um exemplo inspirador desse tipo de intervenção é o estudo realizado por Oliveira, Capellini e Rodrigues (2020), que envolveu nove alunos com AH/SD, oito professoras e oito pais/responsáveis. O objetivo principal dessa pesquisa/intervenção foi conscientizar e sensibilizar todos os envolvidos no processo educacional, visando a promover uma maior interação entre os alunos, professores e pais, contribuindo assim para uma inclusão mais efetiva dos alunos com AH/SD nas classes regulares.

Uma das propostas apresentadas nessa pesquisa é o Treinamento de Habilidades Sociais (THS), uma abordagem que visa desenvolver as habilidades sociais dos alunos por meio de dinâmicas, leituras de textos, jogos, entre outras atividades. Essa estratégia não apenas promove a inclusão escolar dos alunos com AH/SD, como também contribui para o entendimento e aceitação desses alunos por parte de seus colegas e demais membros da comunidade escolar.

A participação ativa dos pais e professores na realização de pesquisas e intervenções voltadas para a inclusão dos alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) é de suma importância para garantir o sucesso dessas iniciativas. A ausência desses atores-chave poderia comprometer o processo de inserção inclusiva desses alunos na rede de ensino, indo de encontro ao que preconizam o art. 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o art. 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Portanto, é essencial fortalecer a relação e a interação entre a tríade estado/professor/aluno para promover uma educação mais inclusiva e eficaz.

As medidas de intervenção adotadas por Oliveira, Capellini e Rodrigues (2020) constituem exemplos inspiradores que podem ser replicados em outras escolas. Entre essas medidas, destacam-se as dinâmicas que incentivam a comunicação, a expressão de sentimentos, a assertividade, a colaboração e a socialização. Além disso, a oferta de leituras de textos e conteúdos compreensíveis sobre a temática AH/SD é importante para sensibilizar toda a comunidade escolar e promover uma compreensão mais ampla e empática desses alunos. É importante ressaltar que, para que essas ações sejam eficazes, os professores devem possuir um sólido conhecimento pedagógico geral, garantindo que o conteúdo abordado seja compreendido e internalizado pelos alunos, como salienta Roldão (2007).

As escolas devem adotar uma abordagem flexível e adaptativa para intervir de forma eficaz e inclusiva, levando em consideração as necessidades individuais dos alunos com AH/SD. Esses alunos, frequentemente, possuem uma capacidade de aprendizado mais rápida e avançada, o que demanda um currículo diferenciado, com conteúdos mais desafiadores e estimulantes. É fundamental que esses conteúdos incentivem não apenas a memorização, mas também o pensamento crítico, a criatividade e a resolução de problemas, preparando os alunos para avançar nos níveis mais elevados de seu aprendizado.

Cada aluno com AH/SD possui interesses únicos e específicos, tornando essencial a criação de programas de enriquecimento que atendam a essas necessidades individuais. Proporcionar oportunidades de aprendizado individualizado, explorando os campos de interesse específicos de cada aluno, contribui não apenas para o desenvolvimento acadêmico, mas também para o seu bem-estar emocional e social.

Alunos superdotados podem enfrentar desafios significativos em termos emocionais e sociais, sendo urgente que a escola crie um ambiente de aprendizado colaborativo que proporcione oportunidades para que esses alunos trabalhem em conjunto e colaborem com seus colegas. É fundamental que todas as necessidades, sejam elas acadêmicas, emocionais ou sociais, sejam reconhecidas, acolhidas e apoiadas pela comunidade escolar, promovendo assim uma educação verdadeiramente inclusiva e centrada no aluno.

Importância da Formação dos Professores na Inclusão de Alunos com AH/SD:

A promoção da verdadeira inclusão dos alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) nas escolas regulares ainda enfrenta diversos desafios, e um dos principais caminhos para tornar a educação inclusiva uma realidade concreta é repensar a formação e atuação dos professores. Não basta apenas inserir esses alunos nas salas de aula; é essencial proporcionar que se sintam genuinamente parte desse ambiente e que sejam os protagonistas de suas próprias aprendizagens.

É de fundamental importância que os professores conheçam profundamente os alunos das turmas com as quais trabalham, de modo a perceber suas diferenças individuais e desenvolver práticas educativas que atendam às demandas específicas de cada um. No entanto, essa tarefa tem se mostrado cada vez mais desafiadora por diversos motivos, como a sobrecarga de trabalho decorrente da falta de tempo, muitas vezes ocasionada pelos baixos salários que levam os professores a atuarem em múltiplas escolas, o que dificulta o estabelecimento de vínculos mais profundos com os alunos.

No caso específico dos alunos com AH/SD, é perceptível nos artigos estudados a prevalência de mitos que cercam suas características, o que dificulta ainda mais o reconhecimento necessário por parte dos professores. Mitos como a mera genialidade, um quociente de inteligência (QI) acima da média, a raridade do fenômeno, a solidão, a suposta necessidade de frequentarem escolas especiais ou mesmo o bom desempenho escolar constante são exemplos citados por Bahiense e Rossetti (2014) que contribuem para a complexidade da tarefa do professor.

Frente a essa realidade, é fundamental que os professores recebam uma formação mais abrangente e atualizada sobre as características e necessidades dos alunos com AH/SD, para que possam reconhecê-los de forma mais efetiva e implementar estratégias pedagógicas que realmente os beneficiem. Torna-se essencial desconstruir esses mitos e promover uma compreensão mais realista e inclusiva desses alunos, tanto entre os professores quanto em toda a comunidade escolar. Somente assim poderemos avançar rumo a uma educação verdadeiramente inclusiva e equitativa para todos.

Nesse sentido, é imperativo que os professores recebam uma formação específica para reconhecer e desmistificar os estereótipos associados aos alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD), a fim de poderem atendê-los de maneira eficaz. No entanto, torna-se ainda mais desafiador quando observamos que, nos cursos de formação de professores, essa temática muitas vezes é negligenciada, resultando em lacunas na capacitação que podem levar a falhas profissionais, como a não identificação dos alunos com AH/SD e, consequentemente, a falta de provisão do suporte necessário para seu pleno desenvolvimento.

Atender às demandas específicas dos alunos com AH/SD requer uma abordagem pedagógica especializada, a qual os professores devem estar preparados para adotar. Reconhecer a presença desses alunos em sala de aula é apenas o primeiro passo; é essencial saber como agir diante dessa realidade. Os professores necessitam de uma formação que englobe conhecimentos sobre estratégias de ensino e aprendizagem adaptadas às necessidades desses alunos.

Esse tipo de atendimento faz parte de uma abordagem pedagógica que visa promover o desenvolvimento integral dos alunos com AH/SD, incentivando sua independência e autonomia. Como destaca Sá (2017), isso envolve a elaboração de atividades cuidadosamente planejadas e estrategicamente pensadas para estimular o pensamento crítico de cada aluno, levando em consideração suas habilidades individuais.

Observa-se, ainda, que mesmo com o apoio de políticas públicas que visam subsidiar o trabalho dos professores, fornecendo mais recursos didáticos e investindo em sua formação contínua, a implementação efetiva dessas medidas ainda é um desafio significativo. Questões como o grande número de alunos por sala, a desvalorização da profissão docente e as lacunas na formação inicial e continuada dos professores continuam a ser obstáculos que dificultam a oferta de uma educação inclusiva e de qualidade para todos.

Diante dos desafios enfrentados pelos professores ao lidar com alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD), em um contexto no qual sua formação muitas vezes apresenta lacunas, seja por informações equivocadas ou por dificuldades sociais e políticas na formação docente, é importante destacar o que consideramos ser o primeiro passo para atender às demandas desses alunos: a identificação dos mesmos em salas de aula.

É a partir desse processo de identificação que se inicia o caminho para um ensino-aprendizagem adequado. Esse reconhecimento ocorre quando os professores recebem uma formação centrada nos princípios da inclusão e adquirem um entendimento sólido das características das AH/SD, rompendo com os mitos arraigados na sociedade e desenvolvendo uma visão crítica e sensível sobre o tema.

É essencial dedicar tempo para conviver e se aproximar dos alunos, buscando conhecê-los individualmente, pois sem esse conhecimento prévio torna-se inviável realizar uma análise precisa. Sem a identificação adequada, não é possível oferecer um atendimento personalizado e promover a educação que é legalmente garantida a esses alunos.

Embora a identificação deva ocorrer primariamente no ambiente escolar, é fundamental reconhecer que o sucesso das ações pedagógicas depende da relação entre a escola, a comunidade e a família. Essa parceria é uma peça fundamental para o desenvolvimento integral dos alunos, pois a colaboração entre esses atores permite uma abordagem mais abrangente e eficaz.

Para ilustrar essa relação e demonstrar seu potencial para o desenvolvimento dos alunos com AH/SD, apresentaremos um estudo que evidencia como o envolvimento ativo da escola, da comunidade e da família pode contribuir significativamente para criar um ambiente de apoio e compreensão, possibilitando que esses alunos alcancem seu pleno potencial educacional e pessoal.

Relação Escola, Comunidade e Família:

Outro aspecto fundamental para o desenvolvimento integral dos alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) é a interação entre a escola, a comunidade e a família. No artigo “Altas Habilidades Sociais com Estudantes, Pais/Responsáveis e Professoras”, de Oliveira, Capellini e Rodrigues (2020), é discutida a importância da intervenção em habilidades sociais para um grupo de alunos com AH/SD. Esses alunos, apesar de suas habilidades cognitivas excepcionais, muitas vezes enfrentam dificuldades nas interações sociais, o que pode afetar seu bem-estar emocional durante o processo de aprendizagem, como já ressaltado.

A intervenção em habilidades sociais foi desenvolvida com nove alunos identificados no estudo de Mendonça (2015), os quais cursaram do 1° ao 5° ano do ensino fundamental na rede estadual paulista. Esse programa se mostrou importante para auxiliar esses alunos a desenvolverem-se socialmente de maneira saudável, facilitando sua integração na escola e na sociedade como um todo. Vale ressaltar que tanto os pais/responsáveis quanto os professores desempenham papéis essenciais nesse processo de intervenção.

É relevante destacar que a intervenção em habilidades sociais foi realizada em uma escola localizada na periferia de São Paulo, que atende alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. O sistema de avaliação das habilidades sociais foi apresentado em três versões distintas: uma para os professores, na qual foram avaliadas as habilidades sociais, os problemas de comportamento e a competência acadêmica; outra para os pais, na qual foram avaliadas as habilidades sociais e os problemas de comportamento; e, por fim, uma versão para os próprios alunos, na qual foram avaliadas suas habilidades sociais.

Os resultados individuais de cada aluno foram analisados com base na porcentagem e pontuações de grupos divididos por sexo, levando em consideração as necessidades específicas e o nível de desenvolvimento de cada aluno. Esse enfoque personalizado e adaptado às características de cada aluno contribuiu significativamente para o sucesso da intervenção em habilidades sociais e para o desenvolvimento global desses alunos com AH/SD.

As atividades delineadas no procedimento de intervenção com os alunos foram estruturadas em oito sessões, cada uma abordando temáticas específicas com seus respectivos objetivos, procedimentos e dinâmicas. Estas incluíram áreas fundamentais para o desenvolvimento social e emocional dos alunos, como socialização, comunicação, expressão de sentimentos, autoadvocacia, assertividade e colaboração. Cada sessão foi cuidadosamente planejada para promover habilidades sociais essenciais, visando aprimorar a interação dos alunos com seu ambiente escolar e social.

Por outro lado, os procedimentos com as professoras foram realizados em três encontros distintos, cada um focando em temas específicos relevantes para a compreensão e apoio aos alunos com altas habilidades/superdotação. Estas temáticas incluíram: conceito e características das altas habilidades/superdotação, a relação entre habilidades sociais e o ambiente escolar, e estratégias práticas para o desenvolvimento dessas habilidades nos alunos.

Da mesma forma, a intervenção junto aos pais/responsáveis foi conduzida através de discussões sobre as altas habilidades/superdotação, a importância das habilidades sociais e a influência do ambiente no desenvolvimento de tais habilidades. Além disso, foram compartilhadas estratégias específicas para auxiliar os filhos no fortalecimento de suas habilidades sociais.

Apesar dos esforços empreendidos, os resultados da intervenção foram variados, com algumas limitações evidenciadas, incluindo casos de desistência. Embora a frequência das habilidades sociais tenham demonstrado um aumento notável para a maioria dos alunos, dois alunos não obtiveram os mesmos avanços que os demais do grupo de nove, destacando a complexidade e a individualidade dos processos de desenvolvimento social e emocional.

É perceptível que a intervenção em habilidades sociais com alunos, pais/responsáveis e professores teve como objetivo primordial promover um desenvolvimento saudável e equilibrado desses indivíduos. Ao fornecer ferramentas e estratégias adaptadas às necessidades específicas de cada grupo, buscava-se capacitar os participantes a estabelecerem relações interpessoais positivas e gratificantes não apenas no ambiente escolar, mas também na vida cotidiana e na sociedade em geral.

CONCLUSÃO

A temática das altas habilidades/superdotação (AH/SD) continua a ser um campo complexo e multifacetado, que clama por mais debates e investigações. Fica evidente a necessidade premente de adotar estratégias significativas para uma inclusão escolar efetiva dos alunos com altas habilidades e superdotação, o que se revela de suma importância para o desenvolvimento educacional e social desses alunos. No entanto, é lamentável observar a escassez de colaboração entre a escola e a família nesse processo inclusivo, um aspecto que merece atenção e aprimoramento.

Atualmente, não podemos atribuir a falta de informação como o principal obstáculo. É inegável que os profissionais da educação não estarão sempre preparados para lidar com a diversidade presente em suas salas de aula, seja ela relacionada à educação especial ou aos alunos considerados “normais”. No entanto, cabe ressaltar que os alunos com altas habilidades e superdotação demandam uma abordagem mais abrangente e humanizada por parte dos professores, visto que estes profissionais são os principais responsáveis por seu desenvolvimento, ocupando a maior parte do tempo em seu ambiente escolar.

Uma das lacunas mais evidentes reside na falta de um currículo adaptativo que atenda às necessidades de aprendizagem desses alunos. Esse déficit, por sua vez, contribui para o desinteresse e para os alarmantes índices de evasão escolar entre os alunos com AH/SD.

Por fim, é imperativo que os profissionais da educação assumam uma postura proativa e engajada, agindo como sujeitos críticos, reflexivos e pesquisadores em sua prática pedagógica. Somente dessa forma será possível estar atualizado e apto a enfrentar os desafios que permeiam o ambiente escolar, garantindo que os alunos com altas habilidades e superdotação sejam reconhecidos, apoiados e enriquecidos com novas oportunidades de aprendizado dentro da sala de aula.

REFERÊNCIAS

BAHIENSE, T. R. S.; ROSSETTI, C. B. Altas Habilidades/Superdotação no contexto escolar: percepções de professores e prática docente. Revista Brasileira de Educação Especial, Bauru, v. 20, n. 2, p. 195-208, abr./jun. 2014.

BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estabelece o estatuto da criança e do adolescente. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 29 março 2024.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 1996. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 17 maio 2023.

CANDAU, V. M. F. Cotidiano escolar e práticas interculturais. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 46, n. 161, p. 802-820, jul./set. 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/198053143455.

Disponível      em: https://www.scielo.br/j/cp/a/GKr96xZ95tpC6shxGzhRDrG/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 17 maio 2023.

MENDONÇA, L. D. Identificação de alunos com altas habilidades ou superdotação a partir de uma avaliação multimodal. 2015. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho, Bauru, São Paulo, 2015.

OLIVEIRA, A. P.; CAPELLINI, V. L. M. F.; RODRIGUES, O. M. P. R. R. Altas Habilidades/Superdotação: Intervenção em Habilidades Sociais com Estudantes,

Pais/Responsáveis e Professoras. Revista Brasileira de Educação Especial, Bauru, v. 26, n. 1, p. 125-142, jan./mar. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbee/a/LX78WqRVjrHLNfPfMJ6fKCS/?format=pdf&lang=pt.

Acesso em: 17 maio 2023.

ROLDÃO, M. C. Função docente: natureza e construção do conhecimento profissional. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, 12, n. 34, p. 94-103, jan./abr. 2007. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-24782007000100008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/XPqzwvYZ7YxTjLVPJD5NWgp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 17 maio 2023.

SÁ, P. R. B. X. A Inclusão de Alunos com Altas Habilidades/Superdotação na Educação Básica: Um Desafio à Prática Pedagógica. Id on line: Revista Multidisciplinar e de Psicologia, Jaboatão dos Gararapes, v. 11, n. 38, p. 480-492, 2017. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/914/1393. Acesso em: 17 maio 2023.

SHULMAN, L. S. Conhecimento e ensino: fundamentos para a nova reforma. Cadernos

Cenpec, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 196-229, jun. 2015. DOI: https://dx.doi.org/10.18676/cadernoscenpec.v4i2.293. Disponível em: https://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/293/297. Acesso em: 17 maio 2023.


Professor, Licenciado em Pedagogia, UFU ademar.santos@ufu.br1
Licencianda, Licenciatura em Pedagogia, UFU claudiane.rocha@ufu.br2
Licencianda, Licenciatura em Pedagogia, UFU daniela.gracas@ufu.br 3
Licencianda, Licenciatura em Pedagogia, UFU ismaelly.silva@ufu.br4
Licencianda, Licenciatura em Pedagogia, UFU maria.remedios@ufu.br5
Licencianda, Licenciatura em Pedagogia, UFU mikaella.neves@ufu.br6
Licencianda, Licenciatura em Pedagogia, UFU7