A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA POR UMA VERTENTE PSICOPEDAGÓGICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505230908


Avelina Marcos de Matos
Aldeni da Silva Santos
Clarice Vieira Lima
Darlene de Oliveira Pereira
Luciana Alves da Costa
Marcella Lopes Gomes
Marlene Maria de Araujo
Sandra Beatriz de Jesus Sousa


RESUMO:

O termo ludicidade leva a diversão e brincadeira. Contudo, o lúdico não se restringe tão somente a isso quando se fala em educação. Com o potencial de despertar a imaginação, a criatividade, a curiosidade, entre outros, a ludicidade se tornou um importante recurso didático com o intuito de levar a criança a aprender de modo ativo e significativo. Dentro disso, o presente artigo elaborado a partir de pesquisas bibliográficas, tem como finalidade maior apresentar o lúdico sob a ótica pedagógica e psicopedagogia. Esta por sua vez, uma área que estuda os problemas de aprendizagem, apresentando soluções viáveis junto ao educador e a própria família do educando, considera brinquedos, brincadeira e os jogos, importantes recursos no trabalho psicopedagógico. Se eles têm esse potencial de despertar o aluno para a aprendizagem, logo, devem ser considerados como elementos que liga aluno e conhecimento

PALAVRAS-CHAVES: Lúdico; Aprendizagem; Psicopedagogia.

ABSTRACT:

The term playfulness takes the fun and frolic. However, the play is not restricted solely to this when it comes to education. With the potential to awaken the imagination, creativity, curiosity, among others, playfulness became an important resource in order to take the child to learn in active, meaningful way. In addition, this paper developed from literature searches, has as main purpose to present the play from the perspective of educational psychology. This in turn, an area that studies the problems of learning, presenting viable solutions with the educator and the student’s own family, consider toys, play and games, important resources pedagogical and psychopedagogic work. If they have that potential to awaken the student to learn, logo, should be considered as elements that connects student and knowledge. 

KEYWORDS: Playful; learning; Psicopedagogia.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa trata-se de uma pesquisa bibliográfica que aborda os aspectos fundamentais na estruturação do uso do lúdico na intervenção psicopedagógica, visando inclusive à superação das dificuldades de aprendizagem, tendo em vista a construção do conhecimento, e do saber por parte do educando. “Pode-se pensar a Psicopedagogia como o espaço para o qual convergem diferentes áreas do conhecimento cujo campo de atuação seria identificado pelo processo ensino/aprendizagem.”. Sendo assim, a psicopedagogia é uma especialidade que é guiada para a mesma direção de outras áreas do conhecimento, do qual seria diferenciado pelo processo de ensino/aprendizagem de cada uma. (ANDRADE, 1998, p. 33.)

Com conjugação de linguagens de forma dinâmica de ensinar, organizando seu aprendizado com a valorização do brincar, do lúdico em sua aprendizagem com situações próximas do dia a dia das crianças. A aprendizagem do educando é compreendida multidisciplinarmente, abrangendo as implicações, e componentes dos vários eixos de sua estruturação orgânica como: afetivo, cognitivo, motores, sociais, econômicos e políticos. Partindo desse pressuposto verifica-se que o psicopedagogo pode utilizar do lúdico como possibilidade de trabalho, de intervenção psicopedagógica, e diagnóstica no tratamento das dificuldades apresentadas pelas crianças em seu desenvolvimento cognitivo. 

“As dificuldades de aprendizagem podem ser caracterizadas por uma série de incapacidades relacionadas ao insucesso escolar, e envolver questões fisiológicas individuais de cada criança e/ou questões relacionadas ao ambiente tanto escolar, quanto ao ambiente familiar.” (DUARTE, 2013, p. 3 e 4).

A atividade lúdica como instrumento de investigação permite ao educando expressar-se livre e prazerosamente. Nesse contexto, as atividades lúdicas são utilizadas, pois, fazem com que as crianças revelem aspectos que não aparecem em situações mais formais. “O planejamento do trabalho pedagógico da Sala de Recurso deve levar em conta o Plano de Estudo da classe comum onde o aluno está inserido para apoiar, mediar e complementar a construção do conhecimento” (CRUZ, 2014, p. 10).

Educar significa propiciar situações de cuidados, as brincadeiras possibilitam aprendizagens quando orientadas de forma integrada contribuem para o desenvolvimento, as capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com o outro. E na atitude de aceitação, respeito e confiança, ao acesso das crianças, aos conhecimentos da realidade sócio cultural (RECNEI, 1998). 

O problema destacado na pesquisa: Até que ponto o lúdico pode interferir no aprendizado da criança que apresenta dificuldade de aprendizagem?

O artigo científico justifica-se exclusivamente por uma curiosidade por parte da acadêmica, a fim de conhecer a contribuição da intervenção por intermédio do lúdico para o processo educativo. O lúdico tem grande relevância no processo de ensino aprendizagem por possibilitar o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social do aluno. Desta forma vem-se mostrar como a criança pode aprender com o lúdico por meio da intervenção psicopedagógica em sala de recurso multifuncional, e sua importância na superação das dificuldades de aprendizagem e na construção do conhecimento. 

Sendo assim, vale ressaltar que o objetivo geral a ser alcançado é apontar caminhos ligados ao processo lúdico na aprendizagem psicopedagógica dos seus alunos. Contribuir com a aprendizagem do aluno por intermédio do lúdico e mostrar a importância do lúdico na intervenção psicopedagógica.

2. EDUCAÇÃO INFANTIL E SUA RELAÇÃO COM O LÚDICO

Desde os tempos primordiais o lúdico faz parte da nossa base epistemológica. As pinturas rupestres, do período da pré-história encontradas nas paredes das cavernas, confirmam que já havia nessa cultura sinais do lúdico ligados à afetividade, à cultura e ao lazer. Ou seja, o homem, nesse período, já brincava e fabricava brinquedos infantis para sua geração. “Nas sociedades primitivas as atividades que buscavam satisfazer as necessidades vitais, as atividades de sobrevivência, como a caça, assumiam muitas vezes a forma lúdica” (HUIZINGA, 1971, p.104).

Na antiguidade, segundo Wajskop (1995), afirma que crianças e adultos compartilhavam dos mesmos rituais e brincadeiras, ou seja, a comunidade, sem discriminação de idade, estreitava seus laços e zelava por sua união.  Na atualidade, a prática lúdica é um dos temas que tem conquistado espaço em diferentes segmentos de estudos educativos, apresentando-se, também, como uma necessidade para o contexto social. 

Segundo Almeida (1998) a Ludicidade é um tema muito debatido na área da educação, sobretudo na Educação Infantil. Muitos autores afirmam que a aprendizagem de crianças na fase de alfabetização se dá de maneira positiva quando atrelada ao lúdico. Nas brincadeiras lúdicas as crianças ampliam múltiplas aptidões, como por exemplo, a linguagem oral e a escrita, além de desenvolver a questão da coordenação motora, da compreensão e do companheirismo.

Antes de passar a tratar da questão do lúdico enquanto instrumento de estímulo à aprendizagem, de suma importância no processo de ensino-aprendizado, apresentamos algumas considerações sobre o lúdico, por alguns renomados autores, destacamos: 

  • Para Feijó (1992), o lúdico é essencial para a formação da personalidade, do corpo e da mente do homem. E é caracterizado por sua forma espontânea, funcional e satisfatória. 
  • Santos (1999), o lúdico é uma forma de expressão e interação do sujeito ao contexto que o cerca. Para o autor, o sujeito agrega valores, adquire conhecimento em diversas áreas do conhecimento, amplia o comportamento e aperfeiçoa as habilidades motoras por meio das atividades lúdicas. Outra benfeitoria das atividades lúdicas, de acordo com o autor, é o fato de o sujeito se tornar sociável e mais crítico. 
  • Luckesi (2000, p. 97) afirma, “a ludicidade é representada por atividades que propiciam experiência de plenitude e envolvimento por inteiro, dentro de padrões flexíveis e saudáveis”. 

Alguns autores incorporam o jogo como uma das atividades lúdicas de maior contribuição para a expressão corporal, mental/cognitiva e comportamental das crianças. 

Segundo, Brandes e Philips (1997), os jogos são significativos quando postos em prática com finalidade específica e com eficiência, servindo como suporte para o desenvolvimento de várias atividades. 

De acordo com Negrine (1994), o jogo uma das atividades lúdicas presentes desde a infância e que apresenta o elemento figurado, simbólico como sua característica mais original, ou seja, o imaginário que move as ações da criança. 

Rizzi (1998) afirma que a criança, através do jogo, aprende a se integrar em grupo, seja em casa, na rua, na escola etc. O sentido da competição é importante para a integração dos diversos grupos. 

Acrescenta-se ainda o que afirma Lucci (1999):

“o brincar é necessário para a vida humana. Esta recreação pelo brincar – e a afirmação de Tomás pode parecer surpreendente à primeira vista – é tanto mais necessária para o intelectual, que é por assim dizer, quem mais desgasta as forças da alma, arrancando-a do sensível. E sendo os bens sensíveis naturais ao ser humano, “as atividades racionais são as que mais querem o brincar”. Daí decorre importantes consequências para a filosofia da educação; o ensino não pode ser aborrecido e enfadonho: o fastidium é um grave obstáculo para a aprendizagem”. (LUCCI, 1999, p. 3).

Termina-se essa coletânea com as palavras de Piaget (1975) que afirma, por meio de jogos, a criança constrói conhecimento sobre o mundo físico e social, desde o período sensório-motor até o período operatório formal. 

Como se percebe, de acordo com os autores apresentados, o lúdico está associados à alegria e ao prazer, com particularidades fundamentais que levam a criança (aluno) à valorização interpessoal, à liberdade de expressão, à flexibilidade e ao questionamento, assim, o aluno exercita o autoconhecimento, aprende a respeitar a si mesmo e ao outro, a relacionar-se bem por meio da astúcia do brincar consciente e da não violência. Além disso, a prática de atividades lúdicas na escola contribui para uma vivência integrada entre os colegas e o professor, motivando-os a aprender, e o trabalho psicopedagógico é fundamental para que esses desenvolvimentos sejam realizados com sucesso.

Por meio das brincadeiras que a criança cria oportunidade de interação com todos ao seu redor, contribuindo para o desenvolvimento das habilidades psicomotoras, cognitivas e também da relação de afetividade entre os educandos, que estabelecem laços de amizade entre si e adquirem conhecimentos. 

Assim afirma Almeida:

“A educação lúdica, além de contribuir e influenciar na formação da criança e do adolescente, possibilitando um crescimento sadio,um enriquecimento permanente,integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática enquanto investe em uma produção séria do conhecimento.Sua prática exige a participação franca,criativa,livre,crítica,promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio.(ALMEIDA, 2004:57)

A educação lúdica contribui para a formação do infante, possibilitando um enriquecimento pedagógico e de valores culturais, ensinando a respeitar as opiniões dos outros e ampliando o conhecimento.

Assim, vale ressaltar que os jogos na intervenção psicopedagógica é muito importante no desenvolvimento da criança, para Piaget, os jogos têm significado para a criança, quando ela começa a inventar, reconstruir objetos com sua própria criatividade, levando-a à um processo de assimilação e acomodação. O aluno assimila várias realidades formando assim novos conceitos e dando espaço à acomodação.

Portanto, os jogos devem oferecer um sentido para criança, pois cria oportunidade para que o aluno busque, verifique resultados e raciocine sobre o conteúdo, ele coloca a criança em um momento lúdico, preparando-a para solucionar problemas em situações presentes no seu cotidiano.

2.1. A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Acredita-se que um dos grandes aliados do professor para que haja uma mudança positiva no processo ensino-aprendizagem na educação infantil seja apostar em uma relação de afetividade com os alunos. Isso porque “a interação afetiva ajuda mais a compreender e modificar as pessoas do que um raciocínio frio, mecanicista”. Dentre as possibilidades de integração entre professor-aluno-ensino está o lúdico, sendo como uma metodologia que tem como princípio o “brincar”, o facilitar as coisas do aprender através do jogo, da brincadeira, da fantasia, do encantamento, permitindo que o outro construa seu conhecimento por meio da alegria e do prazer de querer aprender. É importante realizar atividades que chamem a atenção na hora da aprendizagem, pois, “as descobertas animistas das crianças estão sendo muito destacadas atualmente” (COLL, 2004, p.146).

Assim, a prática lúdica abre um grande espaço no contexto da Educação Infantil.  Se o ato de brincar é sinônimo da infância e se através dele se pode desenvolver um bom trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento, por que não fazer uso dessa metodologia nas aulas da Educação Infantil? 

Conforme Arroyo (2000), a educação, nos últimos anos, é marcada por reflexões críticas sobre a constituição de uma educação democrática, voltado às práticas pedagógicas que considerem a heterogeneidade de cultura e de classes sociais, gerando o desenvolvimento das crianças na plenitude das suas múltiplas expressões lúdicas. 

Acredita-se que a educação Infantil precisa assentar-se em uma prática que consinta ás crianças a possibilidade de aprender as coisas do mundo adulto, de forma agradável e prazerosa. Assim, o planejamento do currículo em Educação Infantil deve ser pensado à luz da realidade contextual da escola, da sala de aula, da comunidade que esta escola atende etc. Desta forma, evita-se as utopias, as ilusões, impedindo perspectivas fragmentadas e contraditórias. Pensar a realidade da Educação Infantil é de suma importância para as práticas pedagógicas que se dizem lúdicas. 

Conforme Luckesi (2000), as brincadeiras e o jogo na educação infantil só serão possíveis se, ao transportar para o campo do ensino – aprendizagem haja condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação, ação ativa e motivadora. 

Desta forma, a escola deve repensar seus objetivos, sua visão de mundo, buscando um ponto de equilíbrio entre futuro/ presente, trabalho/lazer, razão/emoção, priorizando também outras formas de saber (o tato, os sons, o corpo, a linguagem, o olhar, o pensamento humano, a dança, atenção, etc.). 

Os professores precisam ter objetivos específicos para introduzir, por exemplo, um jogo dentro da sala de aula. Ele não pode fazer do lúdico apenas uma estratégia para entretenimento das crianças, mas para potencializar um aprendizado efetivo, significativo. A partir dessa aprendizagem a criança aperfeiçoa suas habilidades de coordenação motora, compreensão e companheirismo. As brincadeiras na Educação Lúdica devem ser planejadas para significar um momento mágico para o ensino-aprendizado.  

Conforme Monti (1998):

“cabe ao profissional da área a responsabilidade de fazer atividades concretas envolvendo objetos e o próprio corpo da criança sendo atividades motoras que possibilitem expor a criança a atividade gráficas. À medida que as atividades lúdicas da criança se diversificam, ela usa a linguagem não apenas para identificar objetos e atividades, como também para se empenhar em diversas transformações tipo “faz de conta”. Sua fantasia transporta-a para dentro de muitas situações e ela cria e resolve muitos problemas. O brincar não é só um facilitador, mas essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo da criança”.  (MONTI, 1998, P. 57).

Conforme o autor, é necessário que as crianças brinquem e enquanto brincam expressam suas fantasias, desejos e experiências, de acordo com suas realidades interiores. Concluímos afirmando que as atividades lúdicas podem facilitar a aprendizagem, desde que o professor reflita sobre sua forma de ensinar, sua prática, relacionando a utilização do lúdico como fator instigante para qualquer tipo de aula. Portanto, por meio das brincadeiras, particularmente do jogo, a criança se envolve e desenvolve, pois usa sua imaginação, isto é, dá asas às suas fantasias, sonhos, podendo representar diversos papeis etc. 

Segundo Teixeira (1971), o recurso lúdico no processo pedagógico se justifica por: i) corresponder a uma satisfação interior, pois o ser humano apresenta uma tendência lúdica; ii) proporcionar o prazer e o esforço espontâneo; iii) mobilizar esquemas mentais, estimulando o pensamento e o senso crítico; iv)   associar e ativar as esferas motoras, cognitivas e a afetiva dos seres humanos. 

Conforme Kishimoto (2009), o jogo está na composição do pensamento, na descoberta de si mesmo, na experimentação, na inspiração e na transformação do mundo. E na Educação Infantil, as atividades lúdicas visam o desenvolvimento das áreas psicomotoras, perceptivas, de atenção, raciocínio e estimulação para o contato com os objetos.

2.3. A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA COM CRIANÇAS QUE APRESENTAM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

É de extrema importância a brincadeira para o desenvolvimento psicológico, social e cognitivo da criança, pois é através dela que a criança consegue expressar seus sentimentos em relação ao mundo social. A visão sócio interacionista de VYGOTSKY, enfatiza a natureza social, histórica e cultural do homem, que só se desenvolve ao se inserir dinamicamente em seu tempo e lugar, transformando-se e transformando-o continuamente, via linguagem. A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo social em que se desenvolve, mas também o marca, (VYGOTSKY, 1999, p.32).

A brincadeira simbólica é ponte entre a realidade e a fantasia, entre o eu e o outro, entre o consciente e o inconsciente, próximos do sonho oferecendo condições à criança de representar situações carregadas de afeto, emoção e de se aproximar de forma mais criativa de conteúdos angustiantes, afirmando ainda que: Com a brincadeira há possibilidade também de viver os medos e as tensões do outro, de intervir papéis e, portanto, de compreender melhor as relações vividas (OLIVEIRA, 2000, p.33). 

Para Vygotsky (1984), a brincadeira não é apenas uma dinâmica interna da criança, mas uma atividade dotada de um significado social que necessita de aprendizagem. Tudo gira em torno da cultura lúdica, pois a brincadeira torna-se possível quando apodera elementos da cultura para internalizá-los e cria uma situação imaginária de reprodução da realidade. É através da brincadeira que a criança consegue adquirir conhecimento, superar limitações e desenvolver-se com indivíduo. Segundo essa perspectiva, a brincadeira é vista como uma atividade essencial, mesmo a principal, ao desenvolvimento infantil, uma vez que ela prepara o caminho de transição de um estágio de desenvolvimento para outro e que, através dela, ocorrem as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico. 

O brinquedo fornece ampla estrutura básica para mudanças das necessidades e da consciência. A ação na esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas – tudo aparece no brinquedo, que se constitui, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. A criança desenvolve-se, essencialmente, através da atividade de brinquedo. Somente neste sentido o brinquedo pode ser considerado uma atividade que determina o desenvolvimento da criança, (VYGOTSKY, 1984, p.117). 

É papel da escola garantir espaços para atividades lúdicas. Brincadeiras são sempre bem vindas, tanto no momento de recreação e em situações de aprendizagem, sendo assim Recnei (1998) afirma que jogos e brincadeiras propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis como a atividade lúdica é fundamental que a escola veja as brincadeiras como algo sério, que deve ser utilizado por todo o currículo escolar: 

Através do brincar, a criança prepara-se para aprender. Brincando ela aprende novos conceitos, adquire informações e tem um crescimento saudável. Toda criança que brinca vive uma infância feliz, além de tornar-se um adulto muito mais equilibrado física e emocionalmente, conseguirá superar com mais facilidade, problemas que possam surgir no dia a dia (…) todo aprendizado que o brincar permite é fundamental para a formação da criança, em todas as etapas da sua vida (MALUF, 2003, 20). 

Maluf (2003) continua afirmando, mesmo sem intenção de aprender de forma sistematizada, quem brinca aprende, até porque se aprende a brincar. Como construção social, a brincadeira favorece a aprendizagem, uma vez que os brinquedos e o ato de brincar, a um só tempo, contam a história da humanidade, sendo algo aprendido, construído e não uma disposição inata do ser humano. Assim, constrói conhecimento, capacidade de solução, autonomia. A brincadeira promove partilha, confrontos, ajustamento afetivo, emocional, negociação e comunicação. Pode-se dizer que a ludicidade é uma necessidade interior, inerente ao desenvolvimento infantil ao incorporar valores sociais e culturais. É através das atividades lúdicas que a criança prepara-se para a vida, assimilando a cultura. 

O lúdico na ação pedagógica e psicopedagógica foi uma forma de “atender o desenvolvimento da aprendizagem da criança analisada de forma saudável e motivadora para o seu desenvolvimento global”. Seja nos aspectos afetivo, social, motor e cognitivo, pode-se buscar uma reflexão sobre sua forma de aprender na intervenção psicopedagógica e o lúdico foi o suporte significativo de aprendizagem. Assim, é importante e necessário considerar o lúdico como um recurso metodológico a mais, para o ensino-aprendizagem e diagnóstico psicopedagógico. 

Vale ressaltar que o lúdico é instrumento eficaz no processo de ensinar aprender, facilitador da aprendizagem, e organizador do conhecimento, e de outro saberes da aprendizagem. Que juntamente com a família precisam estar constantemente na organização da aprendizagem e na ação educativa das crianças.

2.3.1. BRINQUEDOTECA COMO ESPAÇO PSICOPEDAGÓGICO

A brinquedoteca é uma importante forma terapêutica considerada uma das modalidades possíveis de espaço para atendimento de crianças com dificuldades de aprendizagem. Neste caso, pode vir a se constituir num importante espaço de atuação do psicopedagogo que concebe o fracasso escolar decorrente não apenas da escola, mas sim de todas as relações sociais em que o educando está inserido (KISHIMOTO, 2009, p.36).

É importante entender a brinquedoteca como uma possibilidade de espaço para a realização de diagnóstico psicopedagógico, assim pode se afirmar Weiss (1994) 

“Entender o contexto do aprendente de forma ampla: escolas desestruturadas, carência de recursos e apoio pedagógico, profissionais desestimulados que não conseguem transmitir conhecimento de forma qualitativa, bem como as dificuldades da dinâmica familiar” (WEISS, 1994, p. 89).

Weiss (1994, p. 4) discute a aprendizagem humana e os aspectos que desencadeiam o fracasso escolar, explicando que este significa uma resposta insuficiente do aluno que não alcança os objetivos propostos e esperados pela instituição escolar. Em razão disso, “é preciso que o professor competente e valorizado, encontre o prazer de ensinar para que possibilite o nascimento do prazer de aprender”.

Azevedo (2008) explica que, ao utilizar a brinquedoteca como um espaço de diagnóstico psicopedagógico, os profissionais devem respeitar seu comportamento e suas necessidades brincando junto com elas. Em parceria, pode ir questionando e analisando amaneira como a criança brinca e busca soluções de problemas através de suas ações.

É importante ressaltar que desde o primeiro contato da criança com a brinquedoteca e com os objetos nela dispostos, o psicopedagogo é capaz de perceber seus comportamentos. Se realizada uma intervenção terapêutica neste espaço, aos poucos as condutas da criança vão se modificando. Condutas como a timidez, a seleção do brinquedo, a não participação em brincadeiras e a dificuldade de relacionamentos com o avaliador. As crianças acabam refletindo as suas dificuldades através de suas ações, aquilo que as mães e professores às vezes não relatam.

3. METODOLOGIA

O estudo a ser elaborado fundamentará a partir de leituras referencial bibliográfico escolhido de forma dialógica com o orientador. Por meio de diversas leituras de livros e artigos serão selecionados os principais núcleos de ideias que vão ao encontro daquilo que acreditamos e defendemos enquanto profissionais da educação.

O lúdico é fundamental para aprendizagem das crianças, pois, os jogos e as brincadeiras estimulam a criatividade assim melhora a interação do equilíbrio com o mundo. A importância da inserção e utilização dos brinquedos, jogos e brincadeiras na prática pedagógica é uma realidade que se impõe ao professor. Brinquedos não devem ser explorados só para lazer, mas também como elementos pedagógicos no sentido de promover a aprendizagem.

 De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil:

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. (BRASIL, 1998, p. 23)

Assim, nos jogos e nas brincadeiras, o educando encontra apoio para superar suas dificuldades de aprendizagem, melhorando o seu relacionamento com o mundo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio dessa pesquisa, percebe-se que é muito importante o conhecimento, por parte dos docentes em relação às atividades lúdicas, suas necessidades e benefícios, porém ainda depara-se com algumas barreiras, principalmente no que diz respeito às orientações por parte da equipe diretiva e quanto ao espaço físico. Na Educação Infantil se busca muito mais que simples aplicação de conteúdos, já que as crianças estão sendo preparadas para inúmeras situações da vida cotidiana, para viverem em sociedade. E a escola é, juntamente com a família, a grande formadora e responsável em ingressar cidadãos críticos, letrados na sociedade brasileira. Não esquecendo que esse é o grande norte dos Parâmetros Curriculares Nacional. 

Finalizando, pode-se acrescentar o que nos oferece o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, a brincadeira deve ser um elemento constante na rotina das escolas que atuam com a educação de crianças, entretanto a brincadeira precisa ser encarada como um instrumento que colabora para a aprendizagem, deixando de ser utilizada apenas nos intervalos das ações pedagógicas ou como forma de preencher o planejamento diário e completar a carga horária.

O psicopedagogo pode contribuir desse modo com os profissionais da instituição escolar auxiliando sua prática pedagógica. Através da ludicidade pode fortalecer o processo ensino-aprendizagem e garantir o desenvolvimento integral dos alunos, tendo a brinquedoteca como estratégia de diagnóstico e intervenção psicopedagógica.

Levando em conta sua importância, constatamos a necessidade de criar espaços lúdicos como as brinquedotecas nas quais as crianças possam encontrar-se, compartilhar momentos prazerosos, aprenderem e se desenvolverem. Essa medida é uma das maneiras possíveis da sociedade garantir o direito da criança ao lazer em oposição à tendência atual de encurtamento e empobrecimento lúdico da infância.

A educação lúdica contribui para o desenvolvimento da criança, na qual a participação educacional promove a criatividade e interação, valorizando a linguagem oral e escrita. Dessa forma, os jogos intelectuais como o quebra-cabeça, jogo da memória, amarelinha não podem ser descartados no âmbito escolar, pois esses jogos auxiliam no desenvolvimento e na alfabetização do aluno

A utilização do jogo na intervenção psicopedagógica, primeiramente, requer um ambiente acolhedor, prazeroso em que o paciente se sinta à vontade para estar criando e desenvolvendo suas representações simbólicas.

Na terapia do brincar, o paciente constrói a aprendizagem a partir da interação dele com o novo elemento, que por meio dessa ação o psicopedagogo proporciona o desenvolvimento do cognitivo buscando a evolução do prazer para a aquisição de novos saberes.

A ação do jogar é o momento de observação nas atitudes infantis para que haja a identificação de como a criança efetiva a ação do aprender voltada para sua realidade escolar. 

A atividade lúdica auxilia no diagnóstico e tratamento nas dificuldades de aprendizagens, pois quando um paciente não desenvolve a habilidade de jogar, há a identificação de explicitar o quanto é difícil para esse indivíduo construir o conhecimento, necessitando de estímulos e tempo para se apropriar dessa prática saudável e importante à ampliação do conhecimento social, afetivo, cognitivo e emocional.

Portanto vale ressaltar que é muito importante que o educador respeite o processo de cada um, para que o jogo não se torne um momento obrigatório e sim que seja um momento prazeroso e com significado cognitivo para o aluno. 

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