A IMPORTÂNCIA DA SALA DE AULA INVERTIDA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DOS DISCENTES

THE IMPORTANCE OF THE FLIPPED CLASSROOM IN THE TEACHING AND LEARNING PROCESS OF STUDENTS

LA IMPORTANCIA DEL SALA DE AULA INVERTIDA EN EL PROCESO DE ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE DE LOS ESTUDIANTES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11549698


Aline Socorro de Andrade1
Genimar Pereira da Silva2
Priscila Tatiana de Souza Neves3
Santina Aparecida Ferreira Mendes4
Ubiranilze Cunha Santos5


Resumo: O presente artigo, norteado por uma pesquisa qualitativa de levantamento bibliográfico, investiga a metodologia ativa denominada sala de aula invertida (ou flipped classroom). O objetivo central deste trabalho é analisar as contribuições advindas da inserção dessa metodologia no processo de ensino-aprendizagem. Para alcançar tal objetivo, propõe-se uma reflexão acerca da importância de se adotar novas tecnologias em ambientes educacionais, discute a importância da sala de aula invertida nesse processo e identifica os principais impactos dessa metodologia ativa no que tange ao processo de ensino-aprendizagem dos estudantes. Por intermédio da pesquisa bibliográfica e da análise realizada, conclui-se que a sala de aula invertida é uma metodologia de grande relevância na promoção de uma aprendizagem ativa, dinâmica e envolvente, onde o estudante assume uma postura mais ativa na problematização e solução de situações- problemas, bem como desenvolve projetos numa perspectiva de construção de conhecimento dinâmico, na qual a aula se torna um ambiente de aprendizagem ativa em oposição à uma aprendizagem passiva, característica do ensino tradicional, fato que envolve e desperta a atenção e a participação dos estudantes.

Palavras – chaves: sala invertida, aprendizagem ativa, impactos.

Abstract: This article, guided by qualitative bibliographic research, investigates the active methodology called flipped classroom. The central objective of this work is to analyze the contributions arising from the insertion of this methodology in the teaching- learning process. To achieve this objective, a reflection is proposed on the importance of adopting new technologies in educational environments, it discusses the importance of the flipped classroom in this process and identifies the main impacts of this active methodology with regard to the teaching-learning process of students. students. Through bibliographical research and the analysis carried out, it is concluded that the flipped classroom is a methodology of great relevance in promoting active, dynamic and engaging learning, where the student takes a more active stance in problematizing and solving situations -problems, as well as developing projects from a perspective of dynamic knowledge construction, in which the class becomes an active learning environment as opposed to passive learning, characteristic of traditional teaching, a fact that involves and awakens the attention and participation of students .

Keywords: flipped room, active learning, impacts.

Resumen: Este artículo, guiado por una investigación bibliográfica cualitativa, investiga la metodología activa denominada aula invertida. El objetivo central de este trabajo es analizar los aportes que surgen de la inserción de esta metodología en el proceso de enseñanza-aprendizaje. Para lograr este objetivo, se propone una reflexión sobre la importancia de la adopción de nuevas tecnologías en los entornos educativos, se discute la importancia del aula invertida en este proceso e identifica los principales impactos de esta metodología activa con respecto al proceso de enseñanza-aprendizaje de los estudiantes. . estudiantes. A través de la investigación bibliográfica y el análisis realizado, se concluye que el aula invertida es una metodología de gran relevancia para promover un aprendizaje activo, dinámico y participativo, donde el estudiante toma una postura más activa en la problematización y resolución de situaciones -problemas, así como desarrollando proyectos desde una perspectiva de construcción dinámica del conocimiento, en la que la clase se convierte en un ambiente de aprendizaje activo frente al aprendizaje pasivo, propio de la enseñanza tradicional, hecho que involucra y despierta la atención y participación de los estudiantes.

Palabras clave: flipped room, aprendizaje activo, impactos.

1.     Introdução

A sociedade, ao longo de sua história, sofre modificações principalmente com a evolução da tecnologia, fato que impacta também na educação. Segundo Morán (2015) não se pode tratar o processo da educação hoje, com toda a tecnologia existente e a nossa disposição, como nos séculos anteriores em que o professor era a única fonte disponível para os alunos. Na pandemia do COVID-19, a partir de 2020 potencializou o uso das tecnologias digitais no convívio social, no trabalho e no ambiente educacional.

Ao longo dos tempos, a sociedade passa por muitas transformações as quais reverberam nas questões culturais, políticas, sociais e econômicas. Uma dessas transformações de alto impacto diz respeito ao aparecimento da tecnologia que a sociedade se apropria para se desenvolver e se manter, a qual tem adentrado o ambiente educacional trazendo muitas melhorias. A tecnologia, se for bem utilizada, traz várias possibilidades de conhecimento (MARQUES et al, 2022).

Apoiar uma educação pontuada em ações ativas do educando a traços de contextualização qualifica o aprendizado e o torna mais eficaz: quando o aluno consegue relacionar novos conhecimentos com aquilo que já sabe, integrando informações de maneira relevante e contextualizada abre-se um leque para o saber. Nesse sentido, tecnologias e metodologias ativas promovem a interação e a prática e facilitam a construção de um aprendizado mais profundo e duradouro.

Com o avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), novos horizontes se abrem para a educação. A integração das TICs nas metodologias ativas potencializa a aprendizagem, oferecendo recursos que facilitam a personalização do ensino e o acesso a informações em tempo real. Vemos amplamente que o uso das TICs no ambiente educacional pode transformar a dinâmica da sala de aula, tornando-a mais interativa e conectada com a realidade dos alunos.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) enfatiza a importância de desenvolver competências socioemocionais nos alunos, preparando-os para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Neste aspecto, conciliar metodologias ativas, integrando as novas tecnologias pressupõe a promoção e a participação ativa e colaborativa, e, portanto, a contribuição para o desenvolvimento de habilidades como empatia, cooperação, responsabilidade e pensamento crítico.

Freire (1996) argumenta que a educação deve ser um ato de liberdade, onde o aprendizado crítico é construído através do diálogo e da reflexão. As metodologias ativas, ao promoverem um ambiente de aprendizagem participativo, alinham-se com essa visão, permitindo que os alunos sejam agentes ativos no processo educacional.

Segundo Bacich e Moran (2018),

As metodologias alternativas constituem de atividades pedagógicas que colocam o foco no processo de ensino e de aprendizagem do aluno, envolvendo-o efetivamente na aprendizagem por descoberta, investigação ou resolução de problemas. Essas metodologias se diferem da abordagem pedagógica do ensino tradicional, onde o argumento é centrado no professor, que é quem transmite a informação para os alunos (p. 27)

Diesel, Baldez e Martins, (2014, p. 273), esclarecem que as metodologias ativas têm por objetivo fazer com que o aluno saia do papel passivo no processo de ensino e aprendizagem. Segundo os autores, os princípios que constituem estas metodologias estão descritos na figura abaixo (Fig. 1):

Figura 1. Princípios das metodologias ativas.

Fonte: (DIESEL, BALDEZ e MARTINS, 2014, p.273)

Nas metodologias ativas de ensino o aluno deve estar no centro do processo ensino-aprendizagem, fazendo uso de sua autonomia, problematizando a realidade, trabalhando em equipe, a partir da interação entre os alunos e professores e entre os próprios alunos. O professor é um mediador, um facilitador e um ativador deste processo. Desta forma, promove-se ações inovadores no processo de construção do conhecimento e na compreensão e transformação da realidade em que se encontram inseridos.

Assim, as metodologias ativas defendem o protagonismo do aluno no processo de aprendizagem, promovendo uma educação mais participativa e significativa. Esse enfoque educativo tem sido amplamente discutido por diversos teóricos, destacando-se entre eles Antônio Joaquim Severino, José Moran, Lúcia Helena Campos Berbel, João Mattar e Howard Kaufman.

Antônio Joaquim Severino (2007) argumenta que a educação é um meio de emancipação que promove a liberdade e a autonomia do indivíduo. Para ele, a educação deve capacitar os alunos a se tornarem críticos, reflexivos e capazes de questionar e transformar a realidade ao seu redor. Severino defende a formação integral do ser humano, que vai além do aspecto cognitivo, incluindo também dimensões éticas, estéticas, políticas e sociais. Ele enfatiza a importância do diálogo na educação, propondo que o processo educacional deve ser um diálogo constante entre professores e alunos, onde ambos são co-construtores do conhecimento.

José Moran (2018) ressalta a importância das metodologias ativas ao colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem, promovendo autonomia, colaboração e construção ativa do conhecimento. Moran destaca que envolver os estudantes em projetos relevantes para suas vidas e contextos sociais incentiva a pesquisa, a solução de problemas e a aplicação prática do conhecimento, conectando teoria e prática de forma significativa.

Lúcia Helena Campos Berbel (2017) também enfatiza que o aluno deve ser o centro do processo de aprendizagem, participando ativamente na construção do conhecimento de forma colaborativa e crítica. Berbel argumenta que a aprendizagem deve ser significativa e conectada às experiências e conhecimentos prévios dos alunos, tornando o aprendizado mais relevante e duradouro. Ela defende que a educação deve abordar problemas reais e desafiadores, incentivando os alunos a pensarem criticamente na busca por soluções, o que facilita uma visão holística e abrangente dos problemas estudados.

João Mattar (2020) salienta que as metodologias ativas visam tornar o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, participativo e centrado nas necessidades e interesses dos alunos, preparando-os melhor para os desafios do século XXI. O autor destaca o papel das tecnologias digitais como fundamentais para apoiar essas metodologias, utilizando ferramentas como plataformas de e-learning, redes sociais e aplicativos educacionais para facilitar a interação, o acesso a recursos e o acompanhamento do progresso dos alunos. Ele também menciona a gamificação como uma estratégia para tornar o aprendizado mais motivador e engajador.

Howard Kaufman (2019) é conhecido por seu trabalho com metodologias ativas, enfatizando o envolvimento do aluno no processo de aprendizagem. Ele defende que os alunos aprendem melhor através da resolução de problemas complexos e reais, promovendo habilidades críticas como pensamento analítico, resolução de problemas e trabalho em equipe. Kaufman também reconhece que a tecnologia pode facilitar as metodologias ativas, proporcionando simulação, acesso a recursos de informação e colaboração. Além disso, ele sugere que o feedback contínuo, em vez de apenas avaliações finais, é essencial para o desenvolvimento do aluno, aumentando o engajamento e a motivação através de atividades relevantes e desafiadoras conectadas a contextos reais.

Em síntese, os teóricos Antônio Joaquim Severino, José Moran, Lúcia Helena Campos Berbel, João Mattar e Howard Kaufman veem as metodologias ativas como um caminho para transformar a educação, tornando-a mais eficaz e alinhada às necessidades do século XXI. Essas abordagens não apenas promovem um aprendizado mais significativo e participativo, mas também desenvolvem competências socioemocionais e habilidades críticas essenciais para a formação integral dos alunos.

De acordo com Silva e Moura (2020), a sala de aula invertida (ou flipped classroom), faz parte das várias metodologias alternativas existentes no modelo de ensino híbrido, sendo considerada uma grande inovação no processo ensino-aprendizagem. A sala de aula invertida significa inverter a organização da sala de aula de modo que o aluno fique no centro das discussões. A proposta é atrair a atenção dos alunos e facilitar a compreensão deles acerca dos conteúdos. Nessa direção, o professor lança os conteúdos para os alunos pensando na aprendizagem deles e buscando tornar o conteúdo mais atrativo e conectado com o seu cotidiano.

A figura 2 abaixo, apresenta um esquema básico de sala de aula invertida, a qual apresenta as ações de alunos e professor antes, durante e depois da aula. Observa-se que o papel do professor antes da aula é preparar o conteúdo e compartilhar com os alunos. Os alunos, por sua vez, acessam o conteúdo mediante os recursos aos quais tiverem acesso visando recordarem e compreenderem o conteúdo. Durante a aula, alunos e professor debatem, levantam questionamentos, esclarecem dúvidas e realizam atividades práticas. Após a aula, avaliam o processo e revisam o conteúdo trabalhado.

Essa prática pedagógica, utilizando essa metodologia ativa desenvolve habilidades cognitivas tais como: recordar/compreender, aplicar, analisar, avaliar e criar; além das habilidades socioemocionais: motivação, autonomia, perseverança, autocontrole, resiliência, colaboração, comunicação e criatividade.

Figura 2 – Esquema básico de Sala de Aula Invertida (ou flipped classroom)

Fonte: Schmitz (2016, p. 67)

A escola atual precisa refletir sobre o fato de que os estudantes na contemporaneidade não aprendem da mesma forma que os do século anterior. Eles estão cada vez mais conectados às tecnologias digitais, o que se pressupõe que esta geração estabelece novas relações com o conhecimento e isso requer mudanças no ambiente escolar como a integração das tecnologias digitais na educação de forma criativa e crítica, visando promover a autonomia e a reflexão dos alunos, para que eles não sejam apenas receptores de informações. Nesta direção, Cunha (2020) esclarecem que a sala de aula invertida é

uma visão de ensino e de aprendizagem que começou a ser estudada a partir do ano de 2000, mas foi em 2007 que essa prática se consolidou pelos americanos (flipped classroom). Na sala de aula invertida a o que tradicionalmente era feito em sala de aula, agora é feito em casa, o que era feito em casa, será feito em sala. A rotina da sala de aula mudou. A aula começa com alguns minutos de discursão sobre o vídeo que foi visto em casa. As crianças são treinadas a utilizar as ferramentas tecnológicas ao seu favor, como pausar quando for necessário ou retroceder, pois, cada criança possui o seu ritmo (CUNHA, 2020, p. 6)

Com a promoção do protagonismo do aluno, este consegue construir seu conhecimento em vez de receber do professor, de forma passiva. A aprendizagem ativa implica a interação entre o aluno e a sua realidade social. É na interação com o tema estudado em sala de aula através da pesquisa, dos questionamentos, da discussão, do ensinar e aprender que o aluno se sente estimulado a construir o seu conhecimento ao invés de recebê-lo de maneira passiva do professor.

2.     Metodologia

A realização desse trabalho foi norteada por uma pesquisa qualitativa de levantamento de dados bibliográficos a partir do recorte de autores em livros, artigos e relatos de experiência, os quais abordam as metodologias ativas, dentre as quais, a sala de aula invertida (ou flipped classroom) para chegarmos aos objetivos propostos. O objetivo central desse artigo é analisar, no material já publicado, as contribuições advindas da inserção dessa metodologia no processo de ensino-aprendizagem visando contribuir com uma reflexão acerca da importância de se adotar novas tecnologias em ambientes educacionais, discutir a importância da sala invertida nesse processo e identificar os principais impactos dessa metodologia ativa no que tange ao processo de ensino- aprendizagem dos estudantes.

A pesquisa qualitativa para Minayo (2001), trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Nas palavras de Fonseca (2002), a pesquisa bibliográfica

é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p.32).

3.     Resultados e Discussão

A revisão bibliográfica aponta que na contemporaneidade, em que a tecnologia faz parte, cada vez mais, da vida das pessoas, faz-se necessário repensar as práticas pedagógicas de modo a promover uma aprendizagem ativa, na qual os alunos sejam protagonistas. E a sala de aula invertida é uma dessas metodologias, a qual revela que é preciso compreender que estamos em uma sociedade em constante evolução tecnológica e a escola precisa acompanhar essas evoluções uma vez que os alunos estão inseridos cotidianamente nesse cenário.

Marques et al (2022), relatam uma experiência docente utilizando a sala de aula invertida aliada a outras tecnologias, junto aos 95 alunos do 1º ano do ensino médio integrado aos cursos técnicos em Agroecologia, Informática e Agrimensura, no IFNMG- Campus Araçuaí e explicam que

A atividade inicialmente gerou certa surpresa nos alunos, pois dificilmente era liberado o uso de celular para acessar vídeos durante a aula. Foi perceptível um grande comprometimento da maioria dos alunos em ler, estudar e fazer algumas anotações.

Alguns apresentaram certas inseguranças, ao mencionar que já não entendiam nada, mas o incentivo da professora foi constante (MARQUES et al, 2022, p. 9-10).

A atividade desenvolvida foi assim descrita: 1º Momento: Os alunos foram orientados para estudarem o conteúdo de Função Afim de maneira individual, podendo utilizar livros didáticos, vídeos, computador e outros; 2º Momento: Em sala de aula, os alunos formaram grupos para discutirem o assunto e de forma colaborativa construírem um mapa mental; 3º momento: discussão do conteúdo por toda a turma; 4º Momento: Neste último momento, foi solicitada uma avaliação quanto a abordagem metodológica, tanto escrita, como também oral durante as aulas.

De acordo com os autores, a utilização da sala de aula invertida em articulação com outras metodologias, na ótica dos alunos, o uso da metodologia contribuiu positivamente para o processo de aprendizagem e, durante as discussões em sala de aula, “fez-se possível observar o nível de envolvimento dos alunos com a proposta, em relação ao estudo prévio, em que a maioria dos alunos demonstraram que realmente haviam buscado compreender o conteúdo” (MARQUES et al, 2022, p.11).

Diesel et al (2017), chamam atenção para o fato de o docente utilizar as mesmas estratégias pedagógicas sem refletir sobre os resultados na aprendizagem dos alunos. Desta forma, a aula torna-se rotineira, automática e não envolve os alunos, tornando-os passivos frente à produção do conhecimento. Esclarecem que “a (re)significação da sala de aula, enquanto espaço de interações entre os sujeitos históricos e o conhecimento (…) resultam, sem dúvida, em protagonismo e em desenvolvimento da autonomia” (DIESEL et al, 2017, p. 285).

Vale ressaltar que o uso do modelo de sala de aula invertida não é recente. Muitos professores já utilizaram essa estratégia pedagógica em suas aulas quando solicitam aos alunos para lerem um texto, assistirem a um vídeo/filme, resolverem questões, pesquisarem sobre um assunto antes da aula. Entretanto, para se engajar na aprendizagem invertida é preciso que os professores incorporem quatro pilares fundamentais em suas práticas, que são: criar um ambiente flexível que envolva uma diversidade de estilos de aprendizagem; incorporar uma cultura de aprendizagem centrada no aluno; pensar conteúdos dirigidos, de modo a definir o que eles precisam ensinar e o que os alunos podem explorar por conta própria; ser um educador facilitador, oferecendo atendimento contínuo e feedback imediato (FLIPPED LEARNING NETWORK, 2014).

Nesta direção, faz-se necessário romper com o modelo tradicional de ensino, em que a aprendizagem é mecânica, o professor é do detentor do conhecimento e os alunos são simples depositários desse conhecimento. O educador brasileiro, Paulo Freire (2011), nos adverte:

A memorização mecânica do perfil do objeto não é aprendizado verdadeiro do objeto ou do conteúdo. Neste caso, o aprendiz funciona muito mais como paciente da transferência do objeto ou do conteúdo do que como sujeito crítico, epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou participa de sua construção (Freire, 2011, p. 67).

Vale ressaltar que, de acordo com Berbel (2011), para que as Metodologias Ativas atinjam seu objetivo, faz-se necessário “que os participantes do processo as assimilem (…), acreditem em seu potencial pedagógico e incluam uma boa dose de disponibilidade intelectual e afetiva (valorização) para trabalharem conforme a proposta (…)”, uma vez que algumas das condições próprias do professor, dos alunos e do cotidiano escolar podem dificultar a consecução desse objetivo.

Neste processo, argumenta que o papel do professor é muito relevante e trabalhar nessa perspectiva exige muita responsabilidade dele se comparada ao modo tradicional de ensinar. Enfatiza ainda que “De acordo com a literatura da área motivacional, é pouco provável que os estudantes, em situação escolar, envolvam-se espontaneamente em todas as atividades de aprendizagem de modo autônomo, com grande interesse, alegria ou prazer” (BERBEL, 2011, pág. 37).

Assim, devido às mudanças de perfil do aluno, as instituições de ensino devem constantemente adotar novas formas para o ensino-aprendizagem, tal como a utilização de metodologias mais ativas (FREITAS et al., 2002), corroborando na formação de profissionais como sujeitos sociais, desenvolvendo competências éticas, políticas e técnicas, aperfeiçoando o uso do conhecimento e do raciocínio crítico e analítico, assim como melhorando a aprendizagem e notas dos alunos (FORNI et al., 2017; VALES; SANTOS; 2018). O aprendizado ativo, em relação aos métodos mais tradicionais, é mais eficaz por aumentar a compreensão dos alunos sobre conceitos difíceis de serem apreendidos.

4.     Conclusões

Conclui-se que a utilização das metodologias ativas, dentre as quais, a sala de aula invertida (ou flipped classroom), é uma estratégia pedagógica relevante para um processo ensino-aprendizagem que se deseje rico, ativo, atrativo e que promova a autonomia, a reflexão e o envolvimento dos alunos. Vale lembrar que neste processo o professor deve ser um estrategista, o qual que criará condições favoráveis para esta prática, estimulando a curiosidade, promovendo e motivando uma docência dinâmica e ativa capaz de despertar o desejo e a vontade dos alunos em produzir o conhecimento de forma ativa e conectada com a sua realidade.

Metodologias ativas emergem como uma solução promissora, promovendo uma aprendizagem centrada no aluno, que incentiva a participação ativa e a aplicação prática do conhecimento. Segundo Moran (2018), tais metodologias proporcionam um ambiente educacional flexível, interligado e híbrido, favorecendo a construção de conhecimento significativo. Esta abordagem se distancia do tradicional método repetitivo, oferecendo uma alternativa renovada e adaptada às necessidades contemporâneas.

Além disso, a implementação dessas metodologias alinha-se com as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular, que valoriza a formação integral de estudantes e professores. As metodologias ativas não só enriquecem o aprendizado acadêmico, mas também desenvolvem competências socioemocionais essenciais, como cooperação, empatia, senso crítico, responsabilidade e cidadania.

Portanto, investigar e aplicar metodologias ativas é vital para responder aos desafios educacionais atuais. Elas não apenas modernizam o processo de ensino-aprendizagem, mas também equipam os alunos com as habilidades necessárias para enfrentar um mundo em constante mudança. Esta pesquisa visa contribuir para a evolução educacional, promovendo práticas pedagógicas que são ao mesmo tempo inovadoras e profundamente conectadas às realidades e necessidades dos alunos.

Concluiu-se ainda que o exercício da docência deve estar permanentemente perpassado com reflexões sobre a importância de se repensar práticas pedagógicas, principalmente neste cenário em que se insere a contemporaneidade, marcada pelas tecnologias e mudanças constantes, seja ela social, econômica, política e cultural, de uma maneira geral e, de forma mais específica, educacional, visando a uma aprendizagem capaz de envolver os alunos e de transformar a realidade social a partir de suas ações e reflexões de forma ativa.

Como diz acentua Dewey (1976) o pensamento não pode ocorrer isolado da ação, cabendo ao professor apresentar os conteúdos na forma de questões ou problemas e não dar de antemão respostas ou soluções prontas. Entretanto, devido aos diversos tipos de métodos existentes, é necessário que as instituições de ensino tomem decisões sobre qual método   é   mais   adequado   às   suas   respectivas   realidades   (NASCIMENTO, 2014; CAVALCANTE et al., 2018), assim como de uma maior profissionalização docente acerca dos diversos métodos (LÓPEZ et al., 2010; MACEDO et al., 2018). Para tanto, a implementação das metodologias mais ativas como forma de melhorar a aprendizagem   ainda   necessita   de   maiores   estudos   (MELO   PRADO et   al., 2011; SOBRAL; CAMPOS, 2012).

Por fim, vale lembrar o que nos afirmam os autores pesquisados sobre o papel do professor: as metodologias isoladas não trarão resultados satisfatórios. No entanto, lançar mão das metodologias ativas aliada ao agir transformador do professor como mediador de todo o processo é, sem sombra de dúvidas, de fundamental importância. E não se trata de mudanças enormes, mas de mudanças pequenas, porém significativas.

Agradecimentos

Ao professor da disciplina “Bases para elaboração e análise de artigos científicos”, Dr. Carlos Alexandre Felício Brito, que nos incentivou a pesquisar sobre essa temática tão relevante para o ambiente escolar na contemporaneidade e aos autores pesquisados por nos possibilitar tão rica experiência de mergulho acadêmico.

À FICS – Faculdade Interamericana de Ciências Sociales, nosso muito obrigada pela oportunidade de ricas e ativas aprendizagens.

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1 ORCID: https://orcid.org/0009-0008-9914-7745

2 ORCID: htpps://orcid.org/0009-0004-6062-4357

3 ORCID: htpps://orcid.org/0009-0006-7021-6853

4 ORCID: htpps://orcid.org/0009-0007-3577-5294

5 ORCID: htpps://orcid.org/0009-0004-9450-6336