A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A FORMAÇÃO PARA O MERCADO HOTELEIRO NO MARANHÃO

UNIVERSITY EXTENSION AND TRAINING FOR THE HOTEL MARKET IN MARANHÃO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10673903


Jonilson Costa Correia [1]


Resumo

A formação de sujeitos para o mercado de trabalho em projetos de extensão nas universidades ainda é um tema recente em pesquisas com viés educacional. Também é novo trazer essa discussão no âmbito do mercado hoteleiro. Portanto, foi esta novidade que motivou, primeiramente, a escrita deste estudo. Pretende-se nesta pesquisa analisar as perspectivas sobre o Projeto de Extensão Profissionalização da Hospitalidade no Curso de Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) que aconteceu entre os anos de 2013 e 2014. Esta pesquisa é qualitativa, pois, foi desenvolvida a partir das perspectivas das pessoas nela envolvidas, considerando os pontos de vista mais relevantes. Foi realizada o trabalho de campo que significa a fase da coleta de dados. O ponto de partida para esta fase foi utilizado como recurso dez fichas de inscrições das candidatas do curso de Atendente de Bares e Restaurantes. Para análise dos documentos (fichas de inscrição no curso) busca-se o apoio da técnica análise de conteúdo. Conclui-se a partir das narrativas que as alunas têm muita esperança em conseguir um lugar para trabalhar, em adquirir novos conhecimentos, em retornar para os estudos e realizar-se como pessoa.

Palavras-chave: Extensão. Profissionalização. Hospitalidade.

1 INTRODUÇÃO

A formação de sujeitos para o mercado de trabalho em projetos de extensão nas universidades ainda é um tema recente em pesquisas com viés educacional. Também é novo trazer essa discussão no âmbito do mercado hoteleiro. Portanto, foi esta novidade que motivou, primeiramente, a escrita deste estudo.

Antes de avançar nas discussões é preciso entender que a extensão universitária é um processo educativo, cultural e científico que juntamente com o ensino e a pesquisa formam o tripé de sustentação da Universidade. A extensão é, portanto, interação dialógica da comunidade acadêmica com a sociedade por meio da troca de conhecimentos, da participação e do contato com as questões complexas contemporâneas presentes no contexto social (MEC, 2018).

Entende-se que a extensão universitária é uma estratégia que a universidade utiliza para a formação de um profissional cidadão e, é baseada na efetiva relação recíproca do acadêmico com a comunidade, seja para se situar historicamente, para se identificar culturalmente ou para referenciar sua formação com os problemas que um dia terá que enfrentar (BRASIL, 1999).

O lugar da extensão no Ensino Superior sempre teve pouco destaque se comparado ao ensino e a pesquisa, no entanto, nos cursos de hotelaria, ela se constitui como um dos pilares que sustenta a formação dos estudantes e também contribui na elaboração de conhecimentos que ajudam no desenvolvimento de vários setores da sociedade, tratando-se aqui de modo particular o setor hoteleiro da cidade de São Luís do Maranhão.

O universo da hotelaria é composto de várias atividades dentre elas: a gastronomia, os eventos, os hotéis, entre outras. Simoni e Bandeira (2012), entendem que a hotelaria é um ramo que trabalha com o turismo de um modo geral e tem como finalidade atuar nas áreas de hospedagem, alimentação, segurança, entretenimento e outras atividades relacionadas ao bem-estar dos hóspedes/clientes, prezando sempre pela qualidade e o bom atendimento.

Pretende-se nesta pesquisa analisar as perspectivas sobre o Projeto de Extensão Profissionalização da Hospitalidade no Curso de Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ou seja, como este projeto pode contribuir para a sua inserção no mundo do trabalho e para o desenvolvimento pessoal e profissional e aprendizagens sobre esta área.

2 UM PROJETO DE EXTENSÃO E A FORMAÇÃO PARA O MERCADO DE TRABALHO HOTELEIRO

Para compreendermos a trajetória do Projeto Profissionalização da Hospitalidade assim como a relação entre ensino, pesquisa e extensão no Curso de Hotelaria faz-se necessário, primeiramente, analisarmos historicamente este curso.

Conforme o materialismo histórico, não há como compreender os fenômenos sociais em sua totalidade ignorando o contexto histórico no qual se desenvolvem. De acordo com Kosik (1976), o conhecimento da realidade não se dá pela experiência imediata, mas por meio de abstrações que permitam o estudo de sua gênese, assim como influenciam e determinam seu desenvolvimento e sua manifestação fenomênica.

Purin (2010) reforça este pensamento de Kosik ao dizer que para compreender o modo como as relações sociais entre formação e trabalho vêm se desenvolvendo, há que se considerar o tempo histórico no qual vivemos.

O curso Superior em Hotelaria da UFMA foi criado em 1987 na modalidade de Tecnólogo cujo objetivo era atender uma demanda hoteleira latente no Maranhão e de modo particular na cidade de São Luís onde se encontrava os maiores hotéis do estado.

Peterossi (1980) aponta que o potencial do mercado de trabalho será sempre apresentado como a justificativa mais evidente do acerto e da oportunidade da criação dos cursos de tecnologia no Brasil.

O currículo do curso de Hotelaria – Tecnólogo da UFMA contemplava áreas de formação técnico-profissional, geral e de legislação específica, de acordo com a legislação vigente, preparando o futuro profissional com cabedal teórico-prático necessário para seu desempenho, segundo as exigências do mercado.

Em meados de 2006 o currículo do Curso de hotelaria foi alterado, bem como a habilitação que passou de tecnólogo para bacharelado. Percebe-se que esta transformação é resultante do cenário de mudanças na educação superior quando a abordagem conteudista passou a ser questionada, e em seu lugar, o capital passou a defender o desenvolvimento de competências, para o que devia propiciar formação flexível e continuada de modo a atender às demandas de um mercado em permanente movimento em substituição à formação conteudista especializada e pouco dinâmica para o mercado relativamente estável (KUENZER, 2001). No atual paradigma da internacionalização do capital, passa-se a exigir um trabalhador de novo tipo, que tenha mais conhecimentos, saiba comunicar-se adequadamente, trabalhe em equipe, adapte-se a situações novas, crie soluções originais e seja capaz de educar-se permanentemente (KUENZER, 2001).

Percebe-se que no primeiro currículo do Curso de Hotelaria da UFMA não havia uma proposta de diálogo com a sociedade através de projetos de extensão, pois a preocupação era em formar pessoas para atender as demandas de um mercado hoteleiro em ascensão, ou seja, o eixo de ensino era prioridade neste cenário.

A extensão e a pesquisa só começam a aparecer neste curso a partir da restruturação dos componentes curriculares e também de uma exigência do novo perfil de seus ingressantes e egressos. Nos últimos anos o Curso de Hotelaria tem se estabelecido como referência no estado do Maranhão e no Nordeste. Sua estrutura se diversificou bastante no ensino, pesquisa e extensão.

Os projetos de extensão surgem no curso de Hotelaria da UFMA a partir da criação do Núcleo de Projetos e Pesquisas em Hotelaria (NuPPHO). O projeto de extensão Profissionalização da Hospitalidade foi pioneiro no Curso de Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão e desde 2009 busca proporcionar o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes aplicadas à hospitalidade profissional por meio da qualificação técnica e formação cidadã junto às comunidades carentes de São Luís atendendo principalmente mulheres e homens adultos que pretendem se inserir no mercado de trabalho e, para isso frequentam os cursos do projeto como uma forma de aprender uma nova profissão que lhes garanta inserção em um trabalho formal.

Durante o projeto, são realizados os cursos de Camareira, Mensageiro e Recepcionista de Eventos. Desde o início do projeto pessoas de vários bairros de São Luís, passaram pelo processo de qualificação.

Com o advento da pandemia da COVID19 em 2020 as atividades foram suspensas retornando somente em 2022. Nesse momento valorizou-se como público alvo os moradores do entorno do Complexo da Fábrica Santa Amélia, prédio da UFMA no centro histórico de São Luís, onde funcionam os cursos de Turismo e Hotelaria. Nesse contexto são ofertados os cursos de recepcionista de eventos e atendente de bares e restaurantes com um total de 50 pessoas participantes.

É importante destacar que a extensão, para o aluno de hotelaria, aparece como uma atividade complementar na sua formação. As atividades complementares, por seu turno, devem possibilitar o reconhecimento, por avaliação, de habilidades e competências do aluno, inclusive adquiridas fora do ambiente escolar.

As atividades complementares, assim, se orientam a estimular a prática de estudos independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, de permanente e contextualizada atualização profissional específica, sobretudo nas relações com o mundo do trabalho, estabelecidas ao longo do curso, notadamente integrando-as às diversas peculiaridades regionais e culturais.

Entende-se desse modo que, a extensão é um instrumento necessário e fundamental das universidades públicas, e articulada com ensino e pesquisa passa a ser levada a uma conjuntura mais próxima da sociedade, dentro e fora dos muros.

3 METODOLOGIA

Esta pesquisa é qualitativa, pois, foi desenvolvida a partir das perspectivas das pessoas nela envolvidas, considerando os pontos de vista mais relevantes. A análise qualitativa dos achados da pesquisa busca o que está latente, o sentido do que está por trás das falas dos sujeitos. “A pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, mas procura compreender os fenômenos sendo as perspectivas dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo” (GODOY, 1995, p. 58).

Dessa forma, afim de atingir o objetivo principal deste estudo que é analisar as perspectivas dos sujeitos que participaram do Projeto de Extensão Profissionalização da Hospitalidade no Curso de Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão, ou seja, como este projeto pode contribuir na sua formação pessoal e profissional e consequentemente a inserção no mercado de trabalho, buscou-se primeiramente examinar o material bibliográfico disponível para auxiliar na interpretação dos dados coletados durante a pesquisa. 

Além disso, foi realizada o trabalho de campo que significa a fase da coleta de dados. O ponto de partida para esta fase foi utilizado como recurso as fichas de inscrições dos candidatos do curso de Atendente de Bares e Restaurantes.

Para análise dos documentos (fichas de inscrição no curso) busca-se o apoio da técnica análise de conteúdo que segundo Bardin (1977) configura um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.

Em contínuo a esta ideia de Bardin (1977) pose-se descrever o conteúdo de uma comunicação como a fala humana, tão rica e apresenta uma visão polissêmica e valiosa, que notadamente permite ao pesquisador qualitativo uma variedade de interpretações, como diz Campos (2004). Essa riqueza das falas que permite uma diversidade de interpretação é que se pretende apresentar a partir desta pesquisa realizada em material do Projeto de Extensão Profissionalização da Hospitalidade.

 Esta foi uma pesquisa documental que permitiu o estudo de pessoas às quais não se teve acesso físico, por motivos de desencontros ou pela distância (GODOY, 1995). Este tipo de pesquisa se relaciona de modo muito próximo com o método de análise de conteúdo e a abordagem qualitativa de análise dos dados.  

Para esta pesquisa analisou-se apenas as fichas do Curso de Atendente de Bares e Restaurantes como será mais detalhado nos achados da pesquisa. Foram encontradas para este curso apenas 10 (dez) fichas que foram preenchidas apenas por mulheres.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

É importante destacar neste momento que esta pesquisa foi realizada entre os anos de 2013 e 2014, no entanto, foi no primeiro semestre de 2023 a partir da atualização do referencial teórico, bem como da escolha de um método de análise dos dados coletados (Análise de conteúdo) é que se iniciou o delineamento deste estudo. Os relatos apresentados nos resultados da pesquisa foram coletados na fichas de inscrições de 10 (dez) alunas do Curso de Atendente de Bares e Restaurantes do Projeto de Extensão Profissionalização da Hospitalidade, com idade variando entre 18 e 35 anos, sendo todas do sexo feminino. Na sua maioria desempregadas em busca de oportunidades de emprego na área de Alimentos e Bebidas (bares e restaurantes). Apenas três declararam que trabalham atualmente como babá. É importante destacar que essas mulheres que fizeram o curso residem em uma região da periferia de São Luís.

A pergunta que motivou esta pesquisa foi esta: por que você se interessou em participar deste projeto de extensão? As respostas foram sistematizadas da seguinte forma, como mostra a tabela 01.

Tabela 01 – Respostas das alunas à questão: por que você se interessou em participar deste projeto de extensão?

AlunosRespostas
1Para eu poder me preparar mais para o mercado de trabalho
2Para aprender melhor sobre essa profissão
3Para ter mais oportunidade de conhecimento
4Busco mais qualificação
5Procuro crescimento profissional e pessoal
6Eu já fiz a primeira vez este curso e vou fazer de novo
7Busco oportunidades e experiências que são importantes para que me encaixe no mercado de trabalho
8Porque esse foi o primeiro curso que favorece para entrar no mercado de trabalho
9Me interessei, pois quero uma colocação no mercado de trabalho
10Para adquirir conhecimentos na área

Fonte: Trabalho de campo, 2013;2014.

Conhecidas as respostas das estudantes, estas passaram a se constituir em indicadores para a formulação de categorias de análise que foram distribuídas em outras tabelas, são elas: situação de aprendizagem; motivos relacionados às expectativas profissionais, pessoais, inserção no mercado de trabalho e outros motivos para realizar o curso. Essas categorias emergem das falas (escritas) das alunas o que tornou a análise mais rica e relevante. Foram três as categorias de análise apresentadas nos achados da pesquisa e que consideram uma categoria maior que significa explicitar os motivos que justificam o interesse pelo curso de extensão de atendente de bares e restaurantes: a primeira é relacionada à situação de aprendizagem; a segunda aborda motivos relacionados às experiências profissionais, pessoais e inserção no mercado de trabalho.

A primeira categoria tem como objetivo apresentar respostas relacionadas a aprendizagem das alunas, ou seja, se este projeto proporciona aprender e construir novos conhecimentos. O aprender aqui pode ser interpretado de várias formas não somente a aprendizagem de novos conteúdos, mas também aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a aprender, são, portanto aos quatro pilares para a educação do Século XXI abordado por Delors (2003).

Tabela 02 – Respostas dos motivos relacionados à aprendizagem

Motivos explicitadosAlunos nº
Relacionados à situação de aprendizagem Para ter mais oportunidade de conhecimento Para adquirir conhecimentos na área Busco mais qualificação Para aprender melhor sobre essa profissão      04

Fonte: Trabalho de campo, 2013;2014.

Estas falas revelam aspectos sobre a aprendizagem que nesse momento está relacionada a uma área específica, Alimentos e Bebidas. A palavra “conhecimento” é a mais citada. E que ela significa para essas mulheres? Dessa pergunta surgem várias respostas dentre elas dizer que o termo conhecimento é bastante ambíguo, pois designa tanto o ato de conhecer quanto o produto que resulta desse ato. O conhecimento é um processo, é contínuo e, portanto, é parcial, provisório, inacabado. Como dizem as respondentes em suas falas é preciso: “mais”, ” buscar mais, ter mais, aprender melhor”, é nesse sentido que o conhecimento se torna processual.

Sobre esse aspecto do provisório Morin (2012, p. 18) expõe que “nenhum fator pode ser considerado como duravelmente estável, constante, isolável […] nada pode ser predito categoricamente”, ou seja tudo é incerto.

Essas falas sobre a busca por mais conhecimento aborda também uma condição de incompletude, ou seja, nem os sujeitos, nem os sentidos estão completos, já feitos, constituídos definitivamente (ORLANDI, 2015). Essa incompletude atesta a abertura para novos aprendizados, novos saberes.

Outros termos que se presentam nas respostas das alunas são “qualificação” e “profissão”, elas demonstram em suas falas que a profissionalização nesta área de alimentos e bebidas (atendente de bares e restaurantes) depende de um aprendizado, de um conhecimento específico, de uma teoria e uma prática e por isso querem adquirir mais conhecimentos, querem aprender melhor sobre esta atividade.

Essa perspectiva das estudantes além de estar aberta para novos saberes, introduz a importância da educação formal, um processo de ensino e aprendizagem que vai ensinar e aprender como atender, como receber os clientes, as normas de etiqueta necessárias para o bom atendimento no setor de alimentos e bebidas, sobre o manuseio de utensílios e de equipamentos.

Tabela 3 – Respostas dos motivos relacionados às expectativas profissionais, pessoais e inserção no mercado de trabalho

Motivos ExplicitadosAlunos nº
Motivos relacionados às expectativas profissionais, pessoais, inserção no mercado de trabalho Para eu poder me preparar mais para o mercado de trabalho Porque esse foi o primeiro curso que favorece para entrar no mercado de trabalho Procuro crescimento profissional e pessoal Busco oportunidades e experiências que são importantes para que me encaixe no mercado de trabalho Me interessei, pois quero uma colocação no mercado de trabalho  05

Fonte: Trabalho de campo, 2013;2014.

A educação para o trabalho tem seu destaque na vida dessas mulheres, ou seja, para elas a educação é uma instância transformadora de suas vidas. No entanto, há que se fazer uma reflexão sobre este aspecto: primeiramente dizer que elas só terão oportunidades no mercado de trabalho à medida que incorporam certos comportamentos exigidos para trabalhar com hotelaria. Como explica Bourdieu (1983) o mercado de trabalho valoriza não apena o conhecimento técnico específico, mas a capacidade dos sujeitos se comunicarem de forma elegante, ou seja, de acordo com os padrões da cultura dominante.

Aqui tratando-se de um curso voltado para o ramo da hotelaria o “comportamento elegante” está muito presente no cotidiano, pois a elite que consome os produtos e os serviços hoteleiros exige que os trabalhadores de um hotel se comportem de acordo com seus costumes e seus modos de classe dominante. 

Em adição a esta análise sobre conhecimentos, comportamentos e aprendizagens para o mercado de trabalho Sperb (1979) diz que os propósitos da educação devem proporcionar, às pessoas, oportunidades de aprender a viver, aprender a aprender e aprender a ganhar a vida. Aprender a ganhar a vida significa a educação para o trabalho, ou seja, o preparo dos sujetos para uma vida produtiva e compensadora.

É importante destacar nestas análises que a educação não significa somente preparar para a escolha de uma profissão, de uma ocupação no mercado de trabalho, mas precisa se preocupar com a formação de habilidades e competências para toda a vida.

Tabela 4 – Respostas dos Outros motivos para realizar o curso

Motivos ExplicitadosAlunos nº
Outros motivos para realizar o curso
Eu já fiz a primeira vez este curso e vou fazer de novo, resolvi voltar a estudar
  01

Fonte: Trabalho de campo, 2013;2014.

Para concluir as análises dessas narrativas apresenta-se, aqui, uma outra perspectiva. Em uma única fala, uma das respondentes, aborda sobre o seu retorno aos estudos. Entende-se que este é sempre um desafio, mesmo que seja sobre conteúdo ou atividades ou por outros motivos não explicitados, mas pode ser permeado por sonhos, dúvidas, medos, desejos e tantos outros aspectos.

Voltar à rotina escolar representa ter objetivos individuais e distintos, desta forma, os êxitos também serão distintos e individuais. Gonçalves (2014. p.11) aponta que “os alunos têm objetivos diferentes para entrar, permanecer e concluir ou não a escola e o objetivo principal, não é necessariamente, a busca por certificações ou conclusão formal”.

Na concepção de Cittadin e Badalotti (2015) os objetivos do retorno à escola podem ser para adquirir conhecimento, garantir melhor emprego, não perder o emprego, conhecer novas pessoas, buscar melhores condições de vida para si e sua família.

De modo geral percebe-se a partir das narrativas das respondentes que elas pensam a educação como um espaço de reflexão, de libertação, de possibilidades múltiplas, seja para inserirem-se no mundo do trabalho ou para adquirir novas aprendizagens, elaborarem novos saberes práticos e teóricos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo analisar as perspectivas sobre Projeto de Extensão Profissionalização da Hospitalidade no Curso de Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ou seja, como este projeto pode contribuir para a sua inserção no mundo do trabalho e para o desenvolvimento pessoal e profissional e aprendizagens sobre esta área.

Para o alcance do objetivo central desta pesquisa foi necessário fazer uma coleta de dados em documentos/arquivos do Projeto de Extensão Profissionalização da Hospitalidade. Os documentos que serviram de base para a construção das categorias de análise foram as fichas de inscrição do Curso de Atendente de Bares e Restaurantes.

A partir do material coletado foi possível visualizar o que as pessoas que se inscreveram pensavam sobre o curso, suas perspectivas, suas expectativas e, principalmente como esta ação extensionista consegue contribuir para o seu crescimento pessoal e profissional.

Conclui-se a partir das narrativas que as alunas têm muita esperança em conseguir um lugar para trabalhar, em adquirir novos conhecimentos, em retornar para os estudos e realizar-se como pessoa.

Dessa forma, é pertinente dizer, segundo Scheidemantel et al (2004), que a extensão universitária possibilita a formação do profissional cidadão e se credencia, cada vez mais, junto à sociedade como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades sociais existentes. 

REFERÊNCIAS

Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições, 1977.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Plano Nacional de Extensão Universitária Brasília: MEC/CRUB, 1999. Documento do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras.

BOURDIEU, Pierre. Gostos de classes e estilos de vida. In: ORTIZ, R. (Org.) Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983.

CAMPOS, Claudinei José Gomes. MÉTODO DE ANÁLISE DE CONTEÚDO: ferramenta para a análise de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, set/out;57(5) Brasília (DF) 2004.

CITTADINI, Diego. EJA e Mulheres: Os motivos e objetivos do retorno a escola das mulheres Frequentadoras na EJA Unidade de Urussanga. Monografia. (Aperfeiçoamento/Especialização em PROEJA) – Instituto Federal de Santa Catarina, 2015.

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2ed. São Paulo: Cortez. Brasília, DF: MEC/UNESCO, 2003.

KUENZER, A. Ensino médio e profissional: as políticas do Estado neoliberal. São Paulo: Cortez, 2001.

MORIN, Edgar. Para onde vai o mundo? 3ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

PETEROSSI, H. G. Educação e mercado de trabalho: análise crítica dos cursos de tecnologia. São Paulo: Edições Loyola, 1980.

SCHEIDEMANTEL, Sheila Elisa et al. A Importância da Extensão Universitária: o Projeto Construir. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária: Belo Horizonte, 2004

SIMONI, Catiane Cristina; BANDEIRA, Milena Berthier. Atendimento em Hotelaria: um estudo de caso. Anais do VII Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul. UCS – Rio Grande do Sul, 2012.

SPERB, D. C. Educação para o trabalho. Porto Alegre: Globo, 1979.


[1] Docente do Departamento de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal do Maranhão. Professor do Mestrado em Turismo e Patrimônio da Universidade Federal de Ouro Preto. Doutor em Educação pela UFMG. e-mail: Jonilson.costa@ufma.br