REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202505081814
Adriana Vieira Lins¹
Walter Matias Lima²
RESUMO
O presente artigo, traz como objetivo, analisar e compreender, pontos relevantes na constituição da trajetória da profissão docente, com ênfase no papel do professor de filosofia, destacando as (des) motivações e desafios nas práticas pedagógicas. Portanto, a pesquisa consiste em uma abordagem bibliográfica, com fundamentos em estudiosos que buscaram contestar o percurso investigativo da profissão docente e o lugar do professor de filosofia, numa tentativa de reafirmar a disciplina enquanto componente curricular obrigatório no ensino médio. Diante das idas e vindas, observando ao longo das reformas curriculares, a filosofia esteve sob constantes ameaças de ser excluídas dos currículos escolares. Vale ressaltar, a importância de compreender o contexto histórico e as lutas pela permanência da disciplina. Há um longo caminho a ser percorrido pelos profissionais docentes, principalmente pelo professor de filosofia, sempre refletindo, qual o seu lugar na educação brasileira, sua atuação de lutas e resistências. A desvalorização do docente pode resultar em condições precárias do trabalho, ausência de reconhecimento e insuficiência de recursos, trazendo um impacto negativo, na qualidade do ensino da disciplina. O propósito é evidenciar as possíveis consequências prejudiciais do desprezo na docência de filosofia. Contanto, vale salientar como esses profissionais se formam no curso superior e como acontece as práticas dos estágios supervisionados. Por conseguinte, há um comportamento cultural, em reproduzir os mesmos modelos ensinados nos cursos de licenciaturas, muitas vezes, de baixa qualidade, comprometendo assim, o compromisso eficaz no processo de ensino e aprendizagem. Enfim, espera-se que tenhamos dias melhores, na vida desse profissional e suas inquietações sejam minimizadas diante de tantas cobranças.
Palavras-chave: Profissão Docente. Ensino de Filosofia. Educação
ABSTRACT
This article aims to analyze and understand relevant points in the constitution of the trajectory of the teaching profession, with an emphasis on the role of the philosophy teacher, highlighting the motivations and challenges in pedagogical practices. Therefore, the research consists of a bibliographical approach, based on scholars who have sought to challenge the investigative path of the teaching profession and the place of the philosophy teacher, in an attempt to reaffirm the subject as a compulsory curricular component in secondary education. Throughout the curriculum reforms, philosophy has been under constant threat of being excluded from school curricula. It is worth emphasizing the importance of understanding the historical context and the struggles for the subject to remain. There is a long way to go for teaching professionals, especially philosophy teachers, always reflecting on their place in Brazilian education, their struggles and resistance. The devaluation of teachers can result in precarious working conditions, lack of recognition and insufficient resources, with a negative impact on the quality of teaching. The purpose of this article is to highlight the possible damaging consequences of contempt in philosophy teaching. However, it is worth highlighting how these professionals are trained in higher education and how supervised internships are practiced. As a result, there is a cultural tendency to reproduce the same models taught in undergraduate courses, which are often of poor quality, thus compromising effective commitment to the teaching and learning process. Finally, it is to be hoped that we will see better days in the lives of these professionals and that their concerns will be minimized in the face of so many demands.
Keywords: Teaching profession. Philosophy teaching. Education.
INTRODUÇÃO
Não há conhecimento que não transforme vidas e, sendo devidamente utilizado, tem uma relevância consideravelmente para a construção de um mundo melhor. Nesse caso, ele se processa na complexidade subjetiva de cada indivíduo, no compromisso de sua partilha coletiva, sua veracidade, tem seu significado concreto se estiver a serviço da humanidade. Pensando assim, com o conhecimento apreendido, pode-se criar meios, pelo qual a ciência e as artes se reafirmem, dando sentido a existência da natureza humana.
A profissão docente é a maior conquista de uma nação. Enquanto o tratamento da educação for apenas superficial e, baseada em discursos demagógicos da política neoliberal, onde cada vez mais é assolada no cenário educacional, brasileiro, sem ser de fato efetivamente aplicada na prática como uma educação transformadora, que atenda às necessidades socioculturais de um povo, a luta pelo reconhecimento e valorização dos profissionais da educação não ocorrerá (principalmente professores de filosofia e sociologia), apenas a lealdade de alguns, por ser fiel a militância dos direitos da categoria.
Neste artigo, examinamos, como a desvalorização da profissão docente, em especial o professor de filosofia, impacta nas (des) motivações das práticas pedagógicas, gerando reflexões sobre a qualidade do ensino dessa disciplina. (Nascimento, 2018, p. 326) revela que:
A desvalorização da carreira do professor no Brasil faz com que uma parcela significativa da sociedade despreze a função docente, posicionando-a como uma profissão de segundo nível, destinada àqueles que não conseguem lograr êxito nas carreiras com maior valorização salarial. Além disso, por mais que haja o 1respeito à profissão docente, uma parcela significativa da sociedade a despreza, principalmente se for feita a comparação com outras carreiras profissionais, como a Medicina e o Direito.
Não se entende uma profissão que não seja organizada com base num corpo específico de conhecimentos, sendo assim, a especificidade a faz criar sua própria identidade, um conjunto de valores éticos/morais, um saber pedagógico quanto a sua prática na sala de aula.
Se não tiver ações bem estruturadas por seguimentos das esferas públicas governamentais (Federal, Estadual e Municipal) os desafios e a precarização do ensino, conduzirá a uma deterioração quase irreversível, perdendo elementos fundamentais para o fortalecimento da profissão docente e consequentemente será refletido no processo de ensino e aprendizagem.
Pois bem, essa desvalorização pode refletir-se em condições de trabalho menos favoráveis, falta de reconhecimento e recursos inadequados, o que pode afetar a qualidade do ensino da disciplina. Professores desmotivados podem ter dificuldades em engajar os alunos, comprometendo a experiência educacional, podem trazer ou desencadear problemas de saúde, afetando consideravelmente sua realização pessoal e seu desempenho em sala de aula, levando a um comprometimento maior nas práticas pedagógicas. A questão levanta a necessidade de considerar e abordar esses desafios para garantir uma educação de qualidade na disciplina de filosofia no contexto do currículo do ensino médio.
A percepção de “irrelevância” da filosofia no ensino médio, são refletidos por vários fatores que dificultam sua autonomia, suas razões na formação ética, cidadã e senso crítico do estudante, por exemplo: no sistema brasileiro educacional há uma ênfase de maior impacto em disciplinas consideradas mais importantes na formação do discente, são “instrumentais”, “práticas”, de áreas da natureza, línguas e matemática, muitas vezes em detrimento das disciplinas humanísticas, como a filosofia. A pressão por resultados práticos imediatos, levam a sociedade muitas vezes valorizar resultados que atendam o mercado econômico do neoliberalismo, e a filosofia é por vezes vista como uma disciplina mais no campo teórico e abstrato, difícil de compreender, cujos benefícios podem não ser percebidos imediatamente e não ter valor de compra, do ponto de vista do capital.
O desconhecimento da importância filosófica, pode haver falta de compreensão sobre como os princípios filosóficos, podem ser aplicados na vida cotidiana e na resolução de problemas práticos, a falta de clareza sobre a relevância prática da filosofia pode levar à sua subestimação e os desafios de ensino e avaliação. No ensino de filosofia pode ser desafiador, especialmente quando se trata de avaliação diante de um público jovem que necessita de respostas urgentes e imediatas.
O envolvimento do pensamento crítico, muitas vezes são cruciais, como também, a presença de habilidades filosóficas, argumentação e análise conceitual, que podem ser mais difíceis de avaliar de maneira objetiva, visão reducionista da educação, alguns sistemas educacionais podem adotar uma visão mais utilitarista da educação, focando apenas em preparar os alunos para o mercado de trabalho, o que pode levar à subalternização das disciplinas que não têm uma aplicação direta no mercado, como também os desafios na formação de professores em filosofia que pode ser limitada, levando a grandes impactos negativamente, comprometendo a qualidade do ensino da disciplina.
Sabemos que o desenvolvimento do país está diretamente ligado à qualidade da educação e do reconhecimento dos professores.
Para o Brasil melhorar a qualidade de vida de sua população, é essencial investir em uma educação de qualidade, verdadeiramente eficaz que dê condições para a execução da profissão docente, equiparando todos os componentes curriculares, que valorize e apoie os profissionais de humanas, principalmente de filosofia e sociologia, que subdividem na mesma.
1 – Desafios encontrados pelos educadores no exercício de sua profissão
A divisão do trabalho na história, mediante organização das sociedades, teve uma grande relevância nos fatores que contribuíram no processo de divisão do trabalho. Suas diferentes funçõessão de extrema importância para a estruturação da nação.
As profissões exercem um papel fundamental nas diversas relações sociais e seus saberes, estabelecendo padrões para uma determinada atividade. Portanto, há necessidades de conhecimentos especializados, aquisição de técnica ou arte, grau de autonomia, relação de confiança com o “freguês”, grande responsabilidade e a organização que atesta a competência e fixa as regras da atividade profissional.
Esses aspectos ressaltam a complexidade e a importância das profissões na sociedade, não apenas como ocupações individuais, mas, como sistema interligado, que molda a estrutura social e econômica. Além disso, a confiança, a responsabilidade e a competência são elementos-chave que permeiam o tecido profissional, contribuindo para a ordem e a eficácia das atividades profissionais em diferentes contextos. Conforme (Sella, 2006, p.20), “por meio das profissões, os indivíduos interagem, vinculam-se entre si, relacionam-se, participam das relações de produção e tornam-se socialmente produtivos”.
Pensar na docência como profissão é reconhecer a transformação de um povo, de uma nação, para um mundo melhor.
Esses profissionais desempenham um papel fundamental na mediação do conhecimento, no desenvolvimento de habilidades e na formação de valores. A profissão de professor é caracterizada pelo compromisso com a educação e o crescimento intelectual e emocional dos estudantes.
Por que a dificuldade de definir a docência como uma profissão, autônoma, sem a fiscalização e regulamentação do Estado? Segundo (Cericato, 2016), “A presença do Estado no campo da educação geralmente envolve a definição de políticas educacionais, o estabelecimento de diretrizes curriculares, a alocação de recursos e a supervisão do sistema educacional”.
Percebe-se que, na hierarquia educacional, de funcionário a solucionador de problemas, o professor assume o papel de conselheiro escolar (isso não impede de orientar e ouvir o estudante), porém, sua autonomia de trazer para o aluno conhecimentos fundamentados no componente a qual ele se qualificou e tem uma certa segurança em
discuti-los, perde identidade, características próprias, levando o mesmo a se frustrar. Essa autonomia vem acompanhada de uma mudança nas responsabilidades para com a escola. Os professores agora são responsabilizados pelos resultados, especialmente pelo eventual fracasso dos alunos. Segundo (Charlot, 2013, p. 64):
O professor já não é um funcionário que deve aplicar regras predefinidas, cuja execução é controlada pela sua hierarquia; é, sim, um profissional que deve resolver os problemas. A injunção passou a ser: “Faça o que quiser, mas resolva aquele problema”. O professor ganhou uma autonomia profissional mais ampla, mas, agora, é responsabilizado pelos resultados, em particular pelo fracasso dos alunos. Vigia-se menos a conformidade da atuação do professor com as normas oficiais, mas avaliam-se cada vez mais os alunos, sendo a avaliação o contrapeso lógico da autonomia profissional do docente. Essa mudança de política implica uma transformação identitária do professor.
O Sistema opõe-se aos próprios professores no que diz respeito a sua dignidade, seus direitos, sua qualidade, em seguida, comprometem possíveis estratégias aplicadas na sala de aula. Ele ainda acrescenta (CHARLOT, 2014 p. 65) que, “o professor defronta-se, ainda, com novos tipos de alunos, cujos modos de pensamento pouco condizem com o que requer o sucesso escolar”. Reduz ou retira, no caso a disciplina de Filosofia e Sociologia no currículo, dando espaço cada vez mais a conhecimentos rasos, superficiais, onde o negacionismo científico se sobressai, atendendo os caprichos do mercado capitalista.
No entanto, é importante que essa presença do Estado seja equilibrada evitando prescrições excessivas que retirem dos professores o controle sobre sua profissão. A abordagem deve ser mais orientada para o acompanhamento e avaliação reguladora, garantindo que padrões mínimos de qualidade sejam entendidos, mas permitindo flexibilidade e autonomia para os professores, é extremamente importante para promover práticas pedagógicas, inovadoras, adaptadas às necessidades específicas dos alunos e contextos locais.
Quando os professores têm mais controle, sobre suas práticas de ensino, isso pode resultar em maior engajamento, criatividade e eficácia no processo educacional. De acordo com Nóvoa (2003, p. 25), a exemplo do que acontece com outras profissões, o correto seria ocorrer essa regulação dentro da própria categoria.
Ao longo da história brasileira, a educação passou por diferentes fases e significados, o que contribui para a complexidade desse reconhecimento. Entretanto, são diversos fatores históricos, sociais e culturais que moldaram a trajetória da educação no país, por isso da resistência da aprovação plena da docência como profissão. Segundo
Oliveira (2013, 8428), por vezes [a educação] “serviu para cultivar as coisas do espírito, outras vezes, alimentou os interesses de ascensão da elite, depois foi “democratizada” para atender aos interesses de uma economia globalizada regulada pelo mercado”.
Na dinâmica da vida, o conhecimento mais aprofundado, vai dando cor e uma certa segurança, quando a ação de ensinar está voltada como uma atividade inteligente e norteadora nas escolhas realizadas.
A caracterização que define o saber profissional docente se inclina na capacidade criadora, que ele tem e representa em cada atitude pedagógica, tornando-o um processo de concentração, mobilizando e transformando cada experiência prévia numa análise mais aprimorada, específica, detalhada de cada realidade apresentada. Como afirma Cericato (2016, p. 273-289):
É possível afirmar que o professor é um profissional do ensino porque detém o conhecimento sobre de que maneira ensinar alguém. Seu trabalho é específico porque consiste na sistematização de saberes que dizem respeito à ciência, à arte, à filosofia -, em oposição àqueles de ordem cotidiana e espontânea.
Sua apropriação no que se refere ao conhecimento, exige-se uma intencionalidade específica, uma formação criteriosa e especializada, por ser uma tarefa complexa e que o domínio dos campos didáticos e técnicos se faz dentro de uma ação minuciosa, categórica, portanto, refletindo em sua conduta e vigilante sobre sua atuação. No entanto, ressaltamos que seu reconhecimento enquanto profissão, mediante as amarras, no exercício da função, recomenda-se urgentemente que sejam superados desafios e dilemas, que impedem e invisibiliza seu brilho, sua arte de ensinar, ou seja, sua mediação no fazer pedagógico.
2 – A Complexidade da Prática do Ensino de Filosofia na Educação Básica Brasileira:
Reflexões e Possíveis Abordagens.
Um dos maiores desafios dos professores de filosofia no ensinar a pensar filosoficamente, é o uso de metodologias criativas e inovadoras, as quais proporcionem momentos singulares em sala de aula, ainda que por pouco tempo, considerando o espaço cronológico atribuído às aulas de Filosofia, que é de 1:00h apenas. Diante disso, é importante acrescentar que o programa curricular é muito insuficiente no que se refere ao ensino de filosofia, visto que ocorreu novamente uma queda brusca em seu texto base.
No novo ensino médio, a Filosofia aparece como disciplina na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, enquanto componente curricular, porém, mesmo sofrendo mudanças significativas, ela ainda resiste e tem sua presença garantida juntamente com os demais componentes: Geografia, História e Sociologia.
A BNCC da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – Integrada por Filosofia, Sociologia, Geografia e História propõe:
Ampliação e o aprofundamento das aprendizagens essenciais desenvolvidas no Ensino Médio, sempre orientada para uma formação ética. Tal compromisso educativo tem como base as ideias de justiça, solidariedade, autonomia, liberdade de pensamento e de escolha, ou seja, a compreensão e o reconhecimento das diferenças. O respeito aos direitos humanos é a interculturalidade, e o combate aos preconceitos de qualquer natureza. (BRASIL, 2018, p. 561).
O ensino de filosofia traz em seu rol a questão do método de ensino que deve ser filosófico, no que se refere ao currículo, é relevante entender da importância de refletir como se dá esse processo no contexto das diferenças pautadas na sala de aula.
Diante da ausência de um currículo, mais elaborado, assentado, os conteúdos se repetem em todo cenário brasileiro. A eficácia de uma estrutura perceptível, aberta, permite abordagens dentro do contexto de diversidades, uma base a qual sirva para ser levada a sério e a proposta sólida de conhecimentos norteadores, ao mesmo tempo, possa gerar autonomia, presente no contexto da realidade local, respeitando a memória histórica, social e cultural. “Os temas, assuntos, problemas, filósofos trabalhados nas aulas do ensino médio são espantosamente parecidos”. (Gallo, 2004, p. 216).
As dificuldades enfrentadas no que se refere ao ensino e prática de filosofia na educação básica brasileira tem sido motivo de constantes questionamentos e posicionamentos.
Como nos cursos de licenciatura estão procedendo? Como as atividades de “Práticas de Ensino em Filosofia” estão sendo desenvolvidas? Como tem sido pensado e praticado o “Estágio Supervisionado em Filosofia”? Como as disciplinas de “Didática Específica em Filosofia” têm colocado a questão do ensino e o papel do professor de filosofia nessa atividade”? (GALLO, 2004, p. 09).
A presença da filosofia, aquela determinada pelas políticas educacionais, nem sempre é uma presença desejável, que faça sentido e contribua para a vida cotidiana de nossos jovens, isso porque muitas vezes ela não atrai o estudante para um despertar filosófico, que seja de livre acesso, que responda as perguntas constantes do seu cotidiano e grupos de pertencimentos. Entretanto, a falta de uma prática pedagógica que estimule as discussões, as representações orais, escritas, artísticas, as brincadeiras, uso correto das tecnologias, que seja capaz de despertar curiosidade, coragem, ousadia, interesse e principalmente senso crítico, não haverá a tão sonhada revolução da experiência filosófica no processo do ensino e aprendizagem e no afeto estabelecido entre docente e discente.
A disciplina de filosofia teve seu auge com os jesuítas, voltada para os valores morais/cristãos, em seguida o Estado tem em suas mãos a tomada de decisões sobre ela, colocando-a à margem da educação brasileira e, a autorreflexão passou a ser subestimada pelo sistema capitalista. Só a partir do século XXI, nos currículos escolares, das escolas brasileiras, a filosofia passou a ser considerada como importante e sua obrigatoriedade tornou-se valiosa aos olhos dos professores que estavam aptos a lecioná-las.
No entanto, ela sempre foi massa de manobra nas mãos de governos, na ausência de políticas públicas voltadas para a valorização e reconhecimento dela, levando-a entre idas e vindas na sua reafirmação enquanto disciplina, com isso, somos colocados na insegurança, sempre que somos levados a refletir nosso papel em sala de aula.
A compreensão da não importância desse componente curricular nas escolas, da introdução dela no currículo escolar do ensino médio, diminui ou elimina vários benefícios, a qual ela pode oferecer como por exemplo: argumentações de questões fundamentais, reflexão ética/moral, perspectiva clara de visão de mundo, mais ampliada, habilidades na escrita e comunicação, nas relações interdisciplinares de áreas do conhecimento, situando-se no contexto histórico, político-social e cultural, nos desafios tecnológicos do mundo contemporâneo, participação ativa na formação para o exercício da cidadania, como outros. Portanto, é fundamental que os professores encontrem alternativas, visando a realidade na qual exerce sua profissão, alternativas que resultem, numa abordagem mais eficaz, motivadora e criativa, para que o estudante possa sentir-se inspirado, interessado pela aula de filosofia e não só transmissão de conhecimento. Porém, é importante lembrar que a oferta da disciplina nas séries seguintes do ensino médio, proporciona aos alunos, desenvolvimentos das habilidades filosóficas, como também, um processo contínuo natural, no ser e fazer filosofia.
Uma sociedade que compreenda a obrigatoriedade da Filosofia não a pode desejar como um pequeno luxo, um saber supérfluo que venha a acrescentar noções aparentemente requintadas a saberes outros, os verdadeiramente úteis. A Filosofia cumpre, afinal, um papel formador, articulando noções de modo bem mais duradouro que o porventura afetado pela volatilidade das informações. Por isso mesmo, compreender sua importância é também conceder-lhe tempo. De modo específico, importa atribuir-lhe carga horária suficiente à fixação do que A Filosofia cumpre, afinal, um papel formador, articulando noções de modo bem mais duradouro lhe é próprio. (BRASIL 2006 p.17)
Por um longo período a filosofia ficou ausente dos currículos escolares, sendo assim, sua reintrodução como obrigatória, busca fortalecer sua relevância e direito no cenário da educação brasileira e principalmente na visibilidade e valorização do docente licenciado na mesma.
A atuação competente do profissional de filosofia nessa etapa da educação básica, necessita de uma reconfiguração cultural no ensinar e aprender, no novo espaço desses jovens na educação atual, onde cada vez mais nos surpreendem com suas novas formas de enxergar o mundo, as pessoas, logo, o processo de ensino e aprendizagem, precisa ser repaginado, trazendo os clássicos de uma forma mais acessível, numa linguagem gradativa, utilizando-se de relatos de experiências de vida, estudo de caso, no qual os próprios estudantes criem suas abordagens no contexto existencial e nas relações entre ambos.
Na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino médio, lei nº 13.415 de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL,2017) os itinerários formativos trazem elencada, na área de humanas, a filosofia. Por conseguinte, ainda assim, a proposta como disciplina obrigatória não se reafirma, deixando a critério dos interesses dos Estados e Escolas, quanto a sua organização.
No Estado de Alagoas o cenário não é diferente, o currículo se reproduz, ora visando um pouco a realidade local, com toda sua demanda, principalmente de bairros periféricos ora copiando de outros Estados, modelos que fogem da nossa real conjuntura alagoana.
O professor tem seu papel principal na condução do processo educativo, conduzindo o aluno na busca pelo conhecimento. O fato de ser educador não lhe garante a posição de dono da verdade, de “detentor de todo conhecimento”, mas, de sujeito que tem capacidade suficiente de ser guia e de influenciar o aluno no processo de educação e estruturação humana. Conforme aponta Freire (1996, p. 22):
É partindo desse processo educativo que o sujeito não só adquira conhecimento e habilidades filosóficas, mas que tenha capacidade de pensar criticamente e procurar soluções práticas e eficazes para responder os problemas que a vida lhe traz.
O aperfeiçoamento nas escolhas tomadas, por meio do conhecimento, resulta do diálogo entre o professor e o aluno. Conforme Gallo (2017, p. 104-112): “Só se aprende aquilo que é ensinado, não se pode aprender sem que alguém ensine, aprender é sempre encontrar-se com o outro”. Ainda,
“A educação é o verdadeiro instrumento de transformação social, e para que ela atinja os seus objetivos, é necessário que os educadores estejam conscientes de sua função social, e ainda, capacitados para bem escolher e utilizar diversas metodologias e técnicas pedagógicas em suas aulas, de modo a tornar o processo de ensino e aprendizagem prazeroso e estimulante”. (Freinet, p. 206).
A educação é o único caminho capaz de formar seres humanos autônomos numa sociedade, ou seja, pessoas livres e que tenham responsabilidade por suas ações. Portanto, a escola, enquanto instituição social, tem um papel importante em sua razão de existir, por ser ela um espaço, não apenas para ensinar determinados conteúdos científicos, mas também para estimular o estudante a ser protagonista no exercício do seu próprio pensamento, para despertar entusiasmo e interesse por aquilo que ele ainda não conhece.
Percebe-se que a história da profissão docente sempre veio acompanhada de sentimentos variados de emoções, são comuns aos olhos da categoria, principalmente professores da educação básica, onde sempre esteve no limbo da educação, sentindo-se frustrados por realizar seu trabalho e não ter seu retorno merecido. Em alguns momentos lhes faltam entusiasmos e paixões pelo ensino, os desânimos, são percebidos pelos jovens estudantes, suas fragilidades são expostas quase que espontâneas, sem intensão de chamar atenção, o cansaço emocional é suprimido pelo esgotamento dos ossos do ofício.
Mesmo nessa circunstância em que se encontra o professor, é possível (re) significar a profissão docente, todos os dias, “ninguém solta a mão de ninguém”, ela vai além dos muros da escola, por essa razão, é possível nas aulas trazer para os alunos metodologias inovadoras que aproxime o máximo a filosofia e o estudante da realidade ao qual ele faz parte e que desperte nele um protagonismo no qual ele se sinta motivado a “entender o mundo”, ao menos revolucionar o pensamento e construir sua identidade própria de pertencer a um lugar e ter um sentido, de se atualizar para desenvolver uma aula significativa que favoreça a ambos (docente/discente) e para que sintam-se acolhidos em um ambiente de caráter crítico e análogo acerca dos fatos e das ações que os rodeiam.
A resiliência e dedicação dos professores tornam possível transformar a sala de aula em um espaço dinâmico e inspirador, contribuindo para superar as barreiras que desvalorizam a sua importância na sociedade. Assim, a cada novo dia, os professores têm a oportunidade de redefinir o significado da sua profissão e impactar positivamente a educação e a formação dos estudantes.
A filosofia então tem como suma importância clarear o campo teórico e prático do pensar, fazer e agir, dando condições para um exercício de uma cidadania consciente, existencial e acessível a realidade.
“Filosofia, se não é capaz de responder a tantas questões quantas gostaríamos, tem ao menos a capacidade de formular perguntas que aumentam o interesse do mundo, e mostram a estranheza e a maravilha contida logo abaixo mesmo nas coisas mais triviais do cotidiano”. (Russell, 1997, p. 24.)
Assim, a emancipação dos estudantes, segundo a aprendizagem da filosofia, no ensino médio, promove uma aprendizagem mais significativa e dialógica, ou seja, um novo olhar na construção de novos saberes, novos conhecimentos e reflexões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das discussões aqui apresentadas, é possível concluir, ainda que parcialmente, a falta de reconhecimento da profissão docente, a descredibilidade em que consiste o espaço do licenciado na educação brasileira, que nunca atendeu as expectativas do capital/liberal e muito menos o status social e cultural. Discutimos por meio das referências bibliográficas alguns exemplos que explicam os desafios e o lugar em que o professor se encontra.
A falta de reconhecimento da profissão docente, sempre esteve no cenário brasileiro. No decorrer do tempo, algumas restruturações na educação sempre foi para atender ao capitalismo desenfreado, algumas políticas públicas foram criadas para reforçar o objetivo dos grandes empresários, manipuladores dos órgãos estatais. Com isso o professor não se enquadra como máquina de “caça-níqueis”, não é suficiente para gerar riquezas. Assim, o professor de filosofia não tem serventia, pelo contrário, atrapalha o pensamento fértil dos alunos.
Entendemos que a Filosofia no ensino médio, não pode ser concebida por uma visão simplistas das coisas, pelo fato de lidar com estudantes ainda em formação. Ela precisa ser tomada pelas raízes no seu processo revolucionário que é.
A estimulação do ensino de filosofia no ensino médio, não só cria possibilidades relevantes diante das escolhas feitas na realidade, como transforma esse estudante em uma pessoa de suma importância, beneficiando assim, toda humanidade.
A filosofia em especial, tem a preocupação em contribuir no desenvolvimento do pensamento crítico, oportunizar e permitir um entendimento de sua própria autoria e autonomia. Ela traz características próprias de compreensão e interpretação de mundo, de realidade a qual pertence.
Precisamos acreditar no protagonismo do jovem de criar a si, porque reflete na criação de forma potente e autônoma do mundo, isso é ensinar filosofia. Sem a mediação do professor, ainda que o estudante consiga “estudar sozinho”, trata-se de reafirmar os laços do conhecimento entre o adulto formado e o ser, em seu auge de desenvolvimento.
Carecemos acatar, enquanto professores de filosofia, a importância das nossas aulas, elas são espaços de resistência, de luta, de abertura, capaz de promover autonomia, articulação criativa dos conceitos e práticas pedagógicas inovadoras.
O docente permite-se ser, aquele que aponta caminhos, que conduz o estudante a um recomeço, cabendo a ele, então, traçar o seu próprio caminho, suas próprias escolhas, se permitindo criar uma visão crítica da realidade, mais contextualizada, na sua aplicação, controle, na elaboração de compreensões e interpretações, sobre as relações entre as pessoas.
É importante olhar o mundo em sua total complexidade para adotar posturas mais conscientes e consistentes. As respostas aos estudantes do ensino médio se constroem mediante a capacidade de entender os valores dessa nova e desafiadora geração. Proporcionar momentos de escutas antes de qualquer atitude tomada, e assim, facilitar compartilhamentos de suas experiências e medos de arriscar diante do desconhecido.
É necessário que professores de filosofia estejam abertos aos desafios que a cultural digital impõe. Portanto, inovar o currículo tradicional, trazendo para o cenário escolar situações-problemas que dizem respeito à realidade dos alunos, numa ação cotidiana que os afete significativamente, provocando posicionamentos críticos e autônomos.
É pertinente, compreender o pensamento autônomo desses adolescentes na sociedade atual e repensar as estratégias, adotadas ao se trabalhar a filosofia. Desse modo, a Filosofia, enquanto atividade, contribui necessariamente na atuação dos alunos nessa sociedade, com formação cidadã, ética e política, sendo sujeitos protagonistas da própria história.
Diante da atual conjuntura em que estamos vivendo, é de total relevância todo esforço necessário, sobretudo dos professores de filosofia, de valorizar o ensino de filosofia, persistindo sempre na eficácia do conhecimento encontrado no fazer filosófico.
Observa-se então que há um longo caminho a percorrer pelos docentes de filosofia, o que leva a refletir sobre uma solução para que os professores apresentem habilidades de apontar aos alunos uma direção que possam ser capazes de se reconectar com sua essência crítica, reflexiva e indagar a sociedade sobre preconceito, violência, desumanidade, cidadania, tornando-se um ser autônomo de pensamentos.
Devemos ter uma consciência mais realista do que de fato se pensa do ensino dessa disciplina e das lutas desses profissionais, na trajetória educacional brasileira.
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1Mestranda em Educação pelo PPGE – CEDU – Universidade Federal de Alagoas – UFAL; Especialista em Formação para a Docência do Ensino Superior – Centro Universitário – CESMAC; Graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL; Professora de Filosofia no Ensino Médio.
²Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas – UEC; Mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE: Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE; Professor Titular da Universidade Federal de Alagoas, Centro de Educação – CEDU – UFAL