QUAL A COR DA SUA MOCHILA?

WHAT COLOR IS YOUR BACKPACK?

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8243148


Eristóteles Pegado Andrade; Joselma Ferreira Lima e Silva; Amílcar Ximenes de Albuquerque Júnior; Fabrícia Rocha de Menezes Farias; Reges carvalho dos Santos; Francisco das Chagas soares; Roniele Pereira da Silva; Marcos Lima Dias; Acácio de Andrade Pacheco; Erica Karine Lourenco Mares; Francisca Thais Carvalho dos Reis; Antônio José Gomes Carvalho Silva;


RESUMO

Este material didático visa atender a uma atividade colaborativa solicitada na disciplina eletiva “Metodologias Ativas em EPT”, do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológico – ProfEPT. Objetiva o desenvolvimento de uma proposta de ensino-aprendizagem criativa e inovadora, utilizando metodologia ativa (MA) Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), na forma de um Estudo de caso, que foi criado a partir de experiências vivenciadas em sala de aula durante aulas de inglês. O caso destina-se à professores de inglês, podendo ser adaptado para qualquer professor de língua estrangeira. A proposta do estudo de caso é colaborar com professores na definição de estratégias pedagógicas no ensino de cores (características) de objetos a alunos com deficiências visuais ou baixa visão, em que os docentes irão propor soluções. A atividade também buscou desenvolver a aquisição de algumas habilidades nos docentes que atendem ao público cego, como melhoria da comunicação e o desenvolvimento de pesquisa relacionadas ao tema.

Palavras-chave: metodologias ativas; aprendizagem baseada em problemas; estudo de caso; alunos cegos; ensino de cores.

ABSTRACT

This didactic material complies with a collaborative activity requested in the elective subject “Active Methodologies in EPT”, of the Professional Master`s degree in Professional and Technological Education – ProfEPT. It aims to develop a creative and innovative teaching- learning proposal, using active methodology (AM) Problem-Based Learning (PBL), in the form of a case study, which was created from experiences in the classroom during English classes. The case is intended for English teachers and can be adapted for any foreign language teacher. The purpose of the case study is to collaborate with teachers in the definition of pedagogical strategies in teaching colors (characteristics) of objects to students with visual impairments or low vision, in which teachers will propose solutions. The activity also sought to develop the acquisition of some skills in teachers who teach blind students, such as improving communication and developing research related to the topic.

Keywords: active methodologies; problem-based learning; case study; blind students; color teaching.

INTRODUÇÃO

A recém-formada professora de inglês Thais de Matos acabara de ser removida para o campus de Cajazeiras na Paraíba para acompanhar seu marido, sargento do exército que havia sido removido por oficio para a referida cidade.

Thais conheceu as instalações da escola e foi apresentada as turmas que iria lecionar. Na grade de horários Thais notou que o campus possuía um clube de línguas, no qual os alunos tinham aulas de inglês e espanhol, com ênfase na oralidade, uma vez na semana, e que Thais iria ministrar aulas nas turmas do nível basicao advanced.

Em sua primeira semana de aulas, Thais foi informada que em sua turma de basic 2 ela teria uma aluna chamada Victoria Horrana, que era uma aluna com deficiência visual, mas que era bastante dedicada. E de fato, em sua primeira aula, Thais percebeu que apesar de suas limitações, Victoria era bastante concentrada e já possuía um bom nível de vocabulário.

Em 3 meses de aula, a turma estava desenvolvendo um bom nível de oralidade. O livro utilizado no club de línguas era um livro dividido em unidades. Todavia, percebia-se que não tinha versão em braile, não era acessível às pessoas com deficiência visual. Ao chegar na unidade 3, Thais iria começar a trabalhar as cores, e iniciou sua aula com perguntas sobre o material dos alunos:

  • What color is your pen, João?
  • Blue.
  • Long answer, please!!!
  • My pen is blue.
  • Congratulations. Ana, what color is your notebook?
  • My notebook is pink!
  • Very good! Victoria, what color is your backpack?
  • I don’t know teacher!

Achando que a aluna estava tendo dificuldades com o vocabulário, a professora continuou:

— Backpack means “mochila” in Portuguese! What color is your backpack, Victoria?

— I don’t know teacher!

Foi então que a professora percebeu que Victoria realmente não sabia qual era a cor de sua mochila, ou de qualquer outro material que carregava com ela e explicou que as cores eram informações importantes para quem necessita de descrições detalhadas de coisas ou objetos. Mas como ensinar as cores para alguém que não as conhece? Como ensinar alunos com deficiência visual a descrever objetos (cores, material, espessura, etc.) se eles nunca os viram? Suponha que você seja professor dessa turma e precisa ensinar as cores para a Victória, propondo assim, metodologias/práticas pedagógicas para solucionar esse caso.

CONTEXTUALIZAÇÃO

O presente caso destina-se à formação de professores, seja por meio do uso em uma capacitação continuada ou mesmo em sua formação inicial de licenciado. O caso aborda sobre a possibilidade de diferentes estratégias pedagógicas no ensino de pessoas com deficiência visual.

O caso caracteriza-se como mal estruturado, pois não há indicativo de possibilidades de resolução, permitindo aos professores usarem de suas experiências em sala de aula e arcabouço teórico para encontrar possíveis soluções para sanar o problema exposto.

Narrando uma história, o caso traz a atualidade do tema da inclusão de pessoas com deficiência visual no ambiente escolar e as práticas/estratégias pedagógicas utilizadas pelo professor para sua aprendizagem, no atendimento de suas necessidades, mostrando sua relevância para a educação inclusiva e despertando o interesse de professores pela questão posta, o que contempla também sua utilidade pedagógica sobre o tema.

Busca, ainda, provocar um conflito, na medida em que identifica a necessidade de material didático adequado para atender ao público cego ou com baixa visão. Possibilita empatia com o público a que se destina, posto que aborda o cotidiano da sala de aula de professores que têm alunos com alguma deficiência e utilizem-se de diferentes estratégias para seu aprendizado. O caso força a tomada de decisão dos professores para buscar atender às necessidades de aprendizagem dos alunos cegos ou com baixa visão.

Dessa forma, o caso propõe um olhar mais cuidadoso dos professores e de suas práticas pedagógicas para o processo de ensino e inclusão de alunos com deficiências visuais, cegos ou com baixa visão, na busca de uma aprendizagem mais significativa.

Um grande marco para o atendimento dos direitos das pessoas com deficiência entrou em vigor em 3 de maio de 2008, sendo o primeiro tratado abrangente de direitos humanos do século 21. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi sediada na

Organização das Nações Unidas (ONU) e veio colaborar para mudança de atitudes e abordagens às pessoas com deficiência.

Nessa perspectiva, entende-se que a escola tem um importante papel em minimizar as barreiras enfrentadas por esse público ao longo do seu processo educacional, proporcionando às pessoas cegas as mesmas oportunidades que qualquer outro estudante de adquirir os conhecimentos histórico-sociais produzidos pela humanidade.

A inspiração para a construção do caso, inicialmente, deu-se a partir de experiências vivenciadas em sala de aula e, posteriormente, da leitura de artigos que abordam sobre a aprendizagem de pessoas cegas e quais estratégias elas utilizam para aprender, como aborda o artigo de Lins e Alchieri (2016) e o portfólio formativo desenvolvido como produto educacional de Luana Tillmann, de 2020, do campus Blumenau, do Instituto Federal Catarinense.

Ao apresentar para os alunos com deficiência visual, cegos ou com baixa visão a experiência do professor Éder Pires de Carmargo, docente de física da Unesp que não enxerga desde a infância, e incorporou ao ensino maquetes que podem ser utilizadas pelos alunos para facilitar sua aprendizagem, traz-se entusiasmo e estímulo a esse público para seguir buscando seus direitos à educação e adquirir maiores níveis de escolaridade. A reportagem que aborda sobre esse relato está disponível no Canal da TV Unesp, no Youtube.

APLICAÇÃO

Para a aplicação do caso em momento presencial em sala de aula, propõe-se utilizar o “Formato de discussão” proposto por Queiroz (2015), em que, inicialmente, dividem-se as pequenas equipes para a discussão. Depois, faz-se a leitura do caso, buscando esclarecer possíveis palavras ou expressões que não sejam do conhecimento dos docentes.

Identificar os problemas propostos para o caso é a ação seguinte a se fazer, bem como uma discussão no grupo para uma tempestade de ideias a respeito do tema em questão. Parte- se para o levantamento de hipóteses para a solução do caso, com a contribuição individual dos membros da equipe. Vale ressaltar que o professor pode fornecer informações adicionais para a elaboração das hipóteses.

Após a discussão das equipes, o professor vai solicitar que cada grupo apresente sua solução, com as devidas justificativas para sua proposta, haja vista que outras soluções também são possíveis. Com a finalidade de colaborar para o desenvolvimento de habilidades quanto à pesquisa, pretende-se apresentar, em formato oficinal e de forma breve, como realizar uma pesquisa em bases de dados conhecidas da comunidade científica.

Nesta etapa, necessitar-se-á de xérox do caso para distribuição entre as equipes, cartolina e pincéis ou, caso estejam disponíveis computadores ou notebooks, software apresentador de slides e projetor multimídia.

Pretende-se com a aplicação deste caso sensibilizar e capacitar os docentes, dos mais diferentes níveis de ensino, a planejar práticas pedagógicas que proporcionem ao estudante cego ou com baixa visão, aprender o conteúdo proposto e sentir-se parte da turma, garantindo sua permanência na escola, estimulando sua autonomia e inclusão social.

Estimular e desenvolver a pesquisa dos professores que atendem ao público cego ou com baixa visão quanto às suas necessidades e quais práticas pedagógicas irão colaborar para atingi-las configura-se como uma habilidade pretendida. Colaborar para a aquisição de algumas habilidades quanto à comunicação com as pessoas com deficiência visual, cegos ou com baixa visão que possam contribuir para o processo de ensino-aprendizagem; ações como a exposição de objetos concretos ao aluno, apresentando-o para que o estudante faça uma exploração tátil, e, ainda, inserir em seu planejamento diário ações e atividades que serão desenvolvidas contemplando essas necessidades e singularidades.

SOLUÇÕES E AVALIAÇÃO

  • Tabela em alto relevo da Linguagem Tátil das Cores See Color

Entendendo assim como Laplane e Batista (2008, p. 216) que “não há uma conduta única que possa ser seguida em todos os casos, mas sim, estratégias de caráter geral que podem facilitar o trabalho escolar e derrubar barreiras de comunicação e acesso ao conhecimento”. Dessa forma, expõe-se algumas soluções para o estudo de caso proposto, tendo em vista que os professores podem utilizar práticas variadas, desde que assertivas e que tenham embasamento científico, que considerem relevantes para o ensino dos alunos cegos.

Insta destacar que Cardinali e Ferreira (2010, s.n.) sugerem que “para alunos cegos, a percepção tátil é fator imprescindível para que obtenham o máximo de informações e compreensão do seu entorno e isso só é possível quando em contato com o concreto”.

Para tanto, apresentam-se duas propostas de solução para o caso:

1ª proposta – Utilização de concepção multissensorial de significados e construção e utilização de modelos táteis tridimensionais

Essa proposta é apresentada em 2 artigos que abordam sobre o processo de ensino- aprendizagem de alunos deficientes visuais, cegos ou com baixa visão. Os artigos de Bianchi, Ramos e Barbosa-Lima (2016) e de Freitas etal.(2021), relatam e defendem que a representação mental de texturas e de cores de objetos é construída para além da percepção visual, contribuindo a audição, o olfato, o paladar e o tato para as associações construídas socialmente.

Bianchi, Ramos e Barbosa-Lima (2016) declaram que a associação realizada pelos alunos às cores está conectada a componentes subjetivos e multissensoriais e que esse processo dentro do espaço escolar vem acontecendo desde a infância, em que os estudantes, tanto cegos como videntes, fazem associação para a aprendizagem das cores, utilizando-se de percepções táteis, auditivas, gustativas, olfativas e emocionais. A relação de que o céu é azul é declarada para as crianças do ensino infantil.

O artigo de Freitas etal.(2021) corrobora com Bianchi, Ramos e Barbosa-Lima (2016) em seu relato de experiência, em que alunos monitores do laboratório de biologia de uma escola pública de ensino médio localizada na cidade de Fortaleza (CE) construíram modelos relacionados aos conteúdos de Biomoléculas e Citologia, que vão ser utilizados para a aprendizagem do conteúdo a partir da percepção tátil e auditiva. O material disponível para a construção dos modelos tridimensionais foi desenvolvido utilizando-se de insumos de fácil disponibilidade na escola, como massa de modelar, parafina, papelão, madeira, prensada, arame, cola, biscuit, tintas para colorir, pinceis e caneta.

Portanto, apresenta-se como uma das soluções do caso apresentado a utilização das percepções multissensoriais (tátil, auditiva, olfativa, gustativa e emocional) para o ensino de deficientes visuais, seja a aprendizagem das cores, texturas e demais caraterísticas de objetos.

A proposta vai ao encontro de Cardinali e Ferreira (2010) sobre a necessidade da aquisição da percepção tátil para o aluno cego, que vai possibilitar a identificação das reais dificuldades nos conceitos relacionados ao tema.

2ª proposta – Utilização de linguagem tátil das cores See Color

A segunda proposta versa sobre o sistema de código de cores “See Color”, que desenvolveu um código tátil para a sistematização do reconhecimento de cores, que visa incluir pessoas com deficiência visual em atividades e contextos que utilizem cores O código foi o resultado de um estudo realizado pela Dra. Sandra Marchi, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Dessa forma, desenvolveu-se a Linguagem Tátil das Cores See Color, um conjunto de símbolos em alto relevo criado para possibilitar a identificação de cores por pessoas cegas ou com deficiência visual por meio da percepção tátil. O sistema de código é inovador e proporciona a facilidade para aprender e memorizar, além de seu tamanho reduzido, possibilitando ser utilizado em objetos muito pequenos.

Na Figura 1, apresenta-se a descrição dos elementos do método.

Figura 1. Elementos do método See Color

Fonte: https://seecolor.com.br/

Vale ressaltar que o método é aplicado utilizando-se de um kit, que está a venda no mercado pelo valor de R$ 300,00. Apesar do valor para aquisição, é uma boa proposta e que pode ser sinalizada como solução para o caso.

Diante do exposto, considera-se a primeira opção como a melhor solução para o caso, que aborda sobre a utilização de concepção multissensorial de significados e construção e utilização de modelos táteis tridimensionais, haja vista que a associação de sentidos para a construção de significados bem sendo desenvolvida pelos docentes desde os primeiros anos de vida escolar dos alunos cegos.

A construção de modelos táteis com insumos de fácil disponibilidade na escola colabora para além da aprendizagem de cores, tendo em vista que possibilita a materialização de conceitos e conteúdos em diversas disciplinas, como física, química, etc.

Como proposta de avaliação para o momento, solicitar-se-á um relatório com a descrição detalhada dos passos que a equipe seguiu para solucionar o caso, bem como justificando as opções que foram discutidas no grupo e ponderando na escrita as opções descartadas como solução do caso.

REFERÊNCIAS

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https://pt.wikihow.com/Descrever-Cores-Para-uma-Pessoa- Cega#:~:text=Use%20o%20toque%20para%20descrever,pegar%20um%20pouco%20de%20t erra.

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LAPLANE, A.L.F. e BATISTA, C.G. Ver, não ver e aprender: a participação de crianças

LINS, M. R. C.; ALCHIERI, J. C. Estratégias de aprendizagem utilizadas por estudantes cegos e videntes. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 11, n. 3, p. 1221– 1241, 2016. DOI: 10.21723/riaee.v11.n3.7311. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/7311. Acesso em: 16 jun. 2022.

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