MORTE E PERDAS NA INFÂNCIA: EXPRESSÃO DO LUTO EM UMA CRIANÇA QUE VIVENCIOU A PERDA DE UM FAMILIAR

DEATH AND LOSS IN CHILDHOOD: EXPRESSION OF GRIEF IN A CHILD WHO EXPERIENCED THE LOSS OF A FAMILY MEMBERS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8015769


Naylline Gomes Sena;
Daniela Ponciano Oliveira;
Camilla Cardoso Alencar.


RESUMO

O luto de uma criança é também um momento em que a criança testemunha a vulnerabilidade dos adultos ao seu redor. Ela percebeu que seu árbitro estava com dor e chorando também. A quantidade de informação a processar é enorme! Assim como acontece com os adultos, o luto infantil envolve vários sentimentos e pode levar um tempo variável para ser assimilado. Honestidade escuta e paixão são as melhores ferramentas neste processo. E o objetivo desse artigo foi para compreender a expressão do luto de uma criança após a morte de um familiar, na qual possuía vínculo afetivo. Saber- se que quando a criança passa por essa perda precisa de ajudas nesse processo para poder começar assimilar as perdas e saber lidar com ela aos poucos, necessitando de alguns profissionais na aria da saúde como o tratamento psicológico nesse momento, para oferecer o suporte emocional. Esse artigo trata-se de uma pesquisa qualitativa onde foram desenvolvidas técnicas projetivas para a criança enlutada.

Palavras-chave: Luto. Perda. Criança. Psicologia.

INTRODUÇÃO

O luto é um processo inevitável, mas vivenciado de diversas formas, tanto na duração, quanto na intensidade e pode ser vivenciado de forma assustadora e confusa devido ao tipo morte. Desta forma o luto, é um processo que envolve diferentes momentos e percepções até ser elaborado, passando por questionamentos e reflexões. Com isso, vidas começam a ser repensadas, relacionamentos tendem a se refazer, nada é mais o que era e, nesse sentido, a identidade pessoal do enlutado se transforma (KLINGER, et al, 2021).

A morte de um ente querido é uma das experiências mais impactantes que uma criança pode vivenciar. Diante da ausência de vínculos irreversíveis de apoio, a criança se depara com um profundo sentimento de desamparo e impotência. Com a morte de um familiar que exerça a função de cuidado, a criança perde o mundo que conhecia, e seu mundo passar a estar em luto. Assim à medida que sua família se desintegra, torna-se difícil processar a gama de emoções que parecem dominá-la (FRANCO, et al,2007).

Segundo Scalozub (1998), toda criança tem dificuldade em lidar com a perda de alguém que ama, principalmente de alguém de quem dependia, pois ainda está se desenvolvendo mentalmente e precisa de alguém que exerça a função de cuidado e garanta sua sobrevivência física e desenvolvimento emocional. Por terem mais dificuldade de expressar a perda devido estarem em desenvolvimento cognitivo e emocional, e devido ao não reconhecimento do sofrimento da criança por parte da família, o luto na infância pode refletir ao logo do desenvolvimento. Assim, o luto também pode ser reativado ao longo da vida, pois ressoa com futuros conflitos de desenvolvimento (WORDEN, 1998).

Segundo Scalozub (1998) é difícil para toda criança lidar com a perda de um objeto querido, principalmente daquele do qual depende, pois seu psiquismo ainda está em desenvolvimento e necessita de pessoas que garantem sua sobrevivência física e desenvolvimento emocional. Por causa de sua grande dificuldade cognitiva e emocional para significar a parte, a

elaboração do luto pela criança é totalmente traída ao longo da estruturação psíquica, em diferentes momentos da vida, mas é capaz de significar o que ‘ vivido. A dor pode ser reativada ao longo da vida pois ressoa com futuros conflitos de desenvolvimento. Isso não inclui a patologia, um luto tardio, mas seu aprofundamento, pois nenhum trauma infantil pode ser resolvido até que a criança seja adulta. (WORDEN, 1998).

A perda de alguém importante para nós pode afetar a dinâmica familiar, pois o contexto da família é alterado e seus membros são forçados a se realinhar e redefinir papéis. O funcionamento familiar saudável, que enfatiza a comunicação e expressão de sentimentos e união entre os membros da família pode contribuir para um processo de enfrentamento adaptativo à situação de perda.

A família vivencia e reage à perda como um sistema de relações no qual todos os membros participam de interações mutuamente reforçadoras. A perda tem implicações na forma como a família se vai adaptar a experiências posteriores e os padrões postos em ação aquando da morte de um membro familiar têm um impacto imediato e ramificações a longo prazo no desenvolvimento familiar, no curso do ciclo de vida e por muitas gerações (WALSH; MCGOLDRICK, 1995).

Pesquisas recentes mostraram que muitas famílias seguem em frente após a perda de um ente querido, enquanto outras ficam tão perturbadas que a morte afeta o desenvolvimento de todos os membros. O luto não resolvido em uma família pode não apenas indicar o tipo de doença existente na família, mas também contribuir para a patologia geracional de relacionamentos doentes (RAMOS, 2016).

Sabemos que todas as pessoas morrem, por isso é necessário lidar com isso de maneira material e específica, levando em consideração a idade e o estágio de desenvolvimento da criança. Segundo Torres (1999, p. 119): O resultado da resposta de uma criança ao luto dependerá de vários fatores, como idade, estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra, estabilidade mental e emocional e o verdadeiro significado da perda em termos de intensidade e variedade de vínculos afetivos.

Conforme retratado na tabela abaixo:

Tabela 1 – Compreensão da morte e luto para a criança, segundo seu desenvolvimento.

IDADE (FASE DO DESENVOLVI MENTO COGNITIVO)• CAPACIDADE DE COMPREENSÃO• POSSÍVEIS REAÇÕES NO LUTO• NECESSIDADES E AÇÕES DE APOIO AO LUTO
2 A 6 ANOS (PERÍODO PRÉ- OPERATÓRIO)• INICIA A COMPREENSÃO E CONCEITUAÇÃO DA MORTE, ATRAVÉS DE EXPLICAÇÕES MÁGICAS E FANTASIOSAS (POR EXEMPLO, A MORTE SERIA IGUAL A ESTAR DORMINDO PROFUNDAMENT E) • VISÃO EGOCÊNTRICA DA CRIANÇA – EVENTOS SÃO RESULTADOS DE ALGO QUE FIZERAM VIVÊNCIA DO LUTO EVOLUI CONFORME AVANÇO DAS HABILIDADES DE LINGUAGEM E IMAGENS MENTAIS DIFICULDADE DE ENTENDIMENTO DA MORTE COMO EVENTO IRREVERSÍVEL ASSOCIAM OS PAIS E ENTES QUERIDOS A IMORTALIDADE (“SUPERHERÓIS”)CULPA E HOSTILIDADE (CRIANÇA FANTASIA QUE DE ALGUMA FORMA CAUSOU A MORTE OU A TRISTEZA NA FAMÍLIA ENLUTADA) DIFICULDADE DE EXTERNAR VERBALMENTE SUAS EMOÇÕES SOCIALMENTE, PODEM OCORRER RESPOSTAS DE ISOLAMENTO OU HOSTILIDADE, GERANDO TAMBÉM AMBIVALÊNCIA PODE HAVER REGRESSÃO PARA ESTÁGIOS MAIS INFANTILIZADOS (SONO, FALA, CONTROLE DE ESFÍNCTER, ETC) • INSEGURANÇA SOBRE IMAGINAR POSSÍVEIS OUTRAS PERDAS, COM GRANDE DIFICULDADE DE SE SEPARAR DE SEUS CUIDADORES O BRINCAR (POR EXEMPLO, POR MEIO DE JOGOS E FAZDE- CONTA) PODE SER ESCAPE OU MEIO DE FUGA DA REALIDADE E DA CONFUSÃO EMOCIONAL DA PERDA QUESTIONAM (POR VEZES REPETIDAMENTE) SOBRE A MORTE DE FAMILIARES E ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO • PODE SOFRER DIFICULDADE MAIOR DE ADAPTAÇÃO QUANDO O(A) FALECIDO(A) ERA CUIDADOR DIRETO DA CRIANÇA (POR EXEMPLO, MÃE, AVÓ)ANTECIPAR PARA PAIS E FAMILIARES SOBRE A CARACTERÍSTICA DE REPETIÇÃO DOS QUESTIONAMENTOS NESSA IDADE REAFIRMAR (REPETIDAS VEZES) QUE A CRIANÇA NÃO TEVE CULPA OU RESPONSABILIDADE SOBRE O FATO CONVERSAR DE FORMA MAIS CONCRETA E ESPECÍFICA, SEM EUFEMISMOS, RESPONDENDO ÀS QUESTÕES DE FORMA ABERTA E ACOLHENDO SENTIMENTOS E DEMONSTRAÇÕES DE TRISTEZA NÃO ESCONDER OU FALSEAR AS PRÓPRIAS EMOÇÕES (ADULTO) UTILIZAR O PRÓPRIO BRINCAR (QUE SERVIU NA “FUGA”), QUE QUANDO ADEQUADO PODE OFERECER BASE SEGURA E NÃO-AMEAÇADORA DE APROXIMAÇÃO E REINTEGRAÇÃO DAS SENSAÇÕES INERENTES AO LUTO USAR EXPRESSÕES ARTÍSTICAS TRAZ IMPORTANTES RESULTADOS AO PERMITIR ACESSO ÀS EMOÇÕES (DESENHOS, TABELAS DE SENTIMENTOS, PINTURAS DE MÁSCARAS, CRIAR E BRINCAR COM BONECOS) LER LIVROS DE HISTÓRIAS • CRIAR ÁLBUNS DE LEMBRANÇAS/ MEMÓRIAS
7 A 11 ANOS (PERÍODO OPERACIONAL – CONCRETO)
ADQUIREM PENSAMENTO
LÓGICO E CAPACIDADE DE ENTENDIMENTO DE CATEGORIAS
ENTENDEM A MORTE COMO EVENTO
PERMANENTE E FINAL,
ASSOCIADO A UMA CAUSA E UNIVERSAL
PRECISAM DE VALIDAÇÃO PARA PENSAMENTOS EGOCÊNTRICOS

• PODE HAVER ALTERNÂNCIA DE EMOÇÕES, DESDE APARENTE NORMALIDADE DE
SENTIMENTOS/ EMOÇÕES ATÉ
MOMENTOS DE TRISTEZA E REGRESSÕES EMOCIONAL •
PODEM PRECISAR DE MEIOS TANGÍVEIS PARA ENTENDER A MORTE (POR EXEMPLO, PARTICIPAÇÃO EM FUNERAIS)

ANTECIPAR AOS PAIS/CUIDADORES A NATUREZA ALTERNANTE DAS FASES EMOCIONAIS DA CRIANÇA •
OFERECER À CRIANÇA A POSSIBILIDADE DE PODER PARTICIPAR (SEM FORÇAR) DE FUNERAIS E OUTROS RITUAIS DE LUTO, APOIADOS POR ADULTO, COMO FORMA DE SUPORTE AO SOFRIMENTO
PERMITIR A PARTICIPAÇÃO EM OUTROS RITUAIS MENOS FORMAIS, COMO PLANTAR UMA ÁRVORE, PRESENTEAR COM OBJETO FAVORITO, DESENHAR RETRATOS, RELEMBRAR DATAS SIGNIFICATIVAS
LER LIVROS DE HISTÓRIAS •
CRIAR ÁLBUNS DE LEMBRANÇAS/ MEMÓRIAS

No que se refere a expressão do luto na infância Bailly (2020) em estudo de revisão de literatura, discute-se como atividades lúdicas e expressões artísticas podem constituir um espaço terapêutico e seguro para crianças enlutadas pela morte de seus pais no contexto da pandemia. Assim, ao incorporar atividades lúdicas como uma forma de ritual em que a criança pode expressar sua dor, um profissional de saúde mental pode ajudá-la com a dor, criando e nutrindo um espaço seguro onde sua dor existe e ela pode se abrir sobre ela. oportunidades para expressar emoções, fantasias e sentimentos sobre a perda.

A ludoterapia é uma psicoterapia para crianças que visa proporcionar aos indivíduos a capacidade de resolver problemas de forma saudável, permitindo que as crianças sejam elas mesmas sem se sentirem pressionadas a mudar ou se comportar de maneira diferente. As atitudes expressas podem ser identificadas e esclarecidas por meio da reflexão sobre o que a criança apresentou.

Klein (1981) afirma: As crianças muitas vezes expressam em brinquedos o que acabaram de nos contar em sonhos, ou associam sonhos a brinquedos, pois a brincadeira é a forma de expressão mais importante da criança. Quando usamos essa técnica cômica, logo descobrimos que a criança faz tantas conexões com os elementos isolados de seus brinquedos quanto o adulto com os elementos isolados de seus sonhos (BARRETO et al., 2015).

1 DESENVOLVIMENTO

1.2 APRESENTAÇÃO DO CASO

Os casos em análise referem-se a uma criança do sexo feminino (10 anos), Maria1, que vivenciou caso de morte do tio materno na qual exercia a função de pai para a criança, pois segundo o relato da mãe, a criança não tem contato com o genitor. A morte desse tio ocorreu em decorrência de um acidente de moto. No período posterior a perda do tio, a criança logo em seguida foi para uma escola integral fora da sua cidade onde passava a semana toda e só via seus familiares durante o final de semana. Após 2 anos do falecimento do tio, a mãe procurou atendimento para sua filha relatando que a criança apresentava choro frequente e tentativas de suicídio, demonstrava retraimento, baixa autoestima e insegurança.

1.3. ENTREVISTAS

A entrevista do roteiro inicial foi realizada com a mãe da criança. E Maria foi atendida individualmente, com realização do desenho estórias.

Entrevista com a responsável: A mãe da criança relatou sobre o desenvolvimento da sua filha. A gravidez ocorrerem sem complicações, e Maria é a filha mais velha que tem 10 anos de idade. As características de Maria no seu desenvolvimento anterior uma criança tranquila, não se queixava de problemas ou angústias. Uma criança que tinha seus 6 anos na época estava aproveitando sua fase no desenvolvimento infantil, brincando e estudando. Durante a entrevista, observaram-se aspectos relevantes para o entendimento do caso, como o fato da mãe não lembrar muito da fase de Maria com 6 anos no seu desenvolvimento, sempre mais curtas nas palavras.

O desenvolvimento posterior a morte foi de forma dolorosa e sofrida, aos passar dos anos para a criança, pois ela tinha o tio como uma figura paterna, era muito apegada e em todos os lugares estavam juntos. O pai biológico não foi lê apresentado à mãe não tem vínculos afetivos e não quis de forma alguma que seus filhos tivessem contato. A perda para a criança fez com que se fechasse não gostava mais de sair ou de estar perto de pessoas, sempre prefere ficar sozinha jogando no celular tem momentos de crises constantemente como choros excessivos.

A dinâmica da família antes do acontecido era de forma um pouco mais leve mais que Maria por ser a mais velha sempre presenciava muitas situações em que sua avó materna fazia uso de bebidas alcoólicas e começava a ter muitas brigas na casa, pois a mãe de Beatriz relatou que avó era alcoólatra atualmente não faz mais uso, porém, quando fazia só gerava brigas e toda sua família presenciava. Logo depois da morte a dinâmica familiar ficou pouco mais restrita para poder ajudar Maria, pois logo em seguida da morte do Tio, Maria passou em um processo seletivo em uma escola onde iria estudar e sendo assim seus familiares optou que seria melhor, Maria passou por volta quase 1 ano e meio na Fundação Bradesco e só vias seus familiares no final de semana. 1

Durante esse processo longe da família, a mãe relatou que percebeu muito o sofrimento da filha. E as condições circundantes ao evento da morte foi um acidente de moto na fazenda onde o tio de Maria veio a óbito, que com isto a comunicação sobre o acontecido o falecimento do tio ninguém contou a Maria, a criança ouviu os familiares comentando sobre o falecimento do tio. Desta forma a criança quando recebeu a notícia sua reação de choque, não demostrou nenhuma reação. E quando a semana foi passando Maria foi começando a perceber a falta do tio (materno) no seu cotidiano. A presença das caracterizações do luto começou logo após algumas semanas o falecimento como: choro excessivo; tristeza e não gostava demostrar ou ter ajuda de seus familiares. Maria por ser uma criança nova quando tio faleceu se mostrou sempre sem muitas curiosidades para saber do acontecido, só relatava a saudade que o tio fazia durante seu desenvolvimento. Rede de apoio a criança recebeu suporte de psicólogo e pelo neurologista.

Entrevista com a criança: No primeiro atendimento fiz o acolhimento com Maria aonde chegou um pouco receosa, me apresentei de forma interativa que a criança pudesse ter mais foco e visão no que estava falando. Desta forma ela sempre bem atenta no que estava falando e sorria algumas vezes, comecei logo após da apresentação a falar um pouco mais sobre o que íamos estar fazendo naquele atendimento. O material que foi utilizado para colher informações foi o “Desenho Estória” onde Maria começou seu desenho escolhido, percebi que no início teve um pouco de dificuldade para executar o desenho. Levou por volta de 15 minutos o desenho e após fez sua pintura, terminando pedi que contasse uma história sobre o desenho e começou da seguinte forma Maria:

Desenho Estória

Um dia quente de sol, onde tinha uma casa de chocolate que estava derretendo e tinha uma bruxa nela, uma bruxa muito má e ninguém podia entrar dentro, fim.” Desta forma a criança contou sua história do desenho feito, após isso pedi que me desse um título para o desenho e ela colocou “A casa da bruxa”.

Logo após contar sua história foi decidido que íamos brincar, e Maria logo no primeiro momento já pegou o brinquedo da família, e assim foi falando quem era os membros da família dela começou pela: Mãe, e 2 irmãos, avó, tia e o próxima pessoa não quis identificar quem fosse. Então no momento já quis parar de brincar com o brinquedo e procurou o pega vareta onde chamou muito a atenção dela que ficou concentrada jogando, por volta de uns 10 minutos. Depois de brincar com os dois brinquedos Maria guardou todos eles e conversei com ela que a nossa sessão tinha acabado e iria conversar com a sua mãe para podermos marcar as próximas sessões.

1.4 OS SENTIMENTOS E EXPRESSÃO DO LUTO DA CRIANÇA

Segundo Scalozub (1998), toda criança tem dificuldades em lidar com a perda de um objeto amado, acima de tudo aquilo de que depende, porque a sua a psique continua a se desenvolver e ele precisa de pessoas para garantir sua sobrevivência desenvolvimento físico e mental. Após a morte do Tio, Maria vivenciou vários sentimentos, ela o considerava como um Pai pois o tinha como uma figura paterna e de cuidado.

O processo de luto consiste em múltiplas emoções que misturam podendo causar instabilidade emocional, cognitiva que passam pelo processo. Sentimentos como tristeza, depressão, culpa, raiva, medo, ansiedade, dificuldade para dormir, dificuldade para acordar ou se concentrar, falta de interesse nas coisas do dia a dia, choro repentino, fome ou comer demais, incerteza, pensamentos repetitivos sobre a situação, tristeza – e estes podem se tornar problemas mais sérios quando se tornam insuportáveis, causando muito sofrimento e desconforto adicional aos enlutados. (SANTOS CAVALCANTI, 2013).

Responsável na entrevista relatou que a criança após a morte do tio, ficou mais chorosa, quieta no seu canto, não gostava mais de brincar e apresentou ideações suicidas, chegando a realizar uma tentativa de suicídio. No que refere a esse sentimento de que a vida não faz sentido após a vivência de luto, Franco e Mazorra (2007), relata que sentimento de impotência parece ser a principal mobilização das fantasias infantis no processo de luto, sugerindo que a situação morte é para as crianças uma sensação de profunda ameaça à sua existência física e mental.

Segundo Bromberg (2000), A criança é muito difícil para poder elaborar a perda de um ente querido, especialmente aquele do qual depende muito, pois, seu psiquismo ainda está em fase de construção, e ela necessita das pessoas que garantam sua sobrevivência física e desenvolvimento emocional.

1.5. OS LUTOS SUBSEQUENTES À MORTE

Maria vivenciou várias perdas secundárias após a morte do tio, logo em seguida desse acontecimento teve que sair da casa de sua mãe para poder estudar em uma escola em outra cidade, onde essa escola era de tempo integral e ela ficava a semana toda por lá, e só voltava para casa da sua mãe nos finais de semana, de certa forma para ela foi uma experiência muito forte e rápida da sua vida logo que perdeu o tio teve que mudar de sua casa também. Assim, além de lidar com a perda do tio, perdeu a situação familiar anterior, a rotina, a mudança de casa e de escolar. Todas essas perdas, geraram na criança uma sensação maior de desamparo.

Segundo Franco (2007), muitas vezes as crianças se sentem abandonadas pela pessoa que faleceu. Devido à grande idealização figura parental que Maria tinha com tio, ela pode ter dificuldade em entender que o tio sofreu, independentemente sua vontade. A experiência de abandono é mais intensa quando a causa da morte e Atitude irresponsável ou busca consciente ou eu não sei como morrer.

A morte pode causar sentimentos muito profundos de relacionamentos rompidos, desamparo e impotência nas crianças (Franco & Mazorra, 2007). Quanto mais forte a conexão, mais perda emocional e morte, e mais difícil é superar. Quando o processo de luto na infância mal é superado, eles retornam à idade adulta na forma de fobias, ataques de ansiedade, pesadelos e insônia. (Mendes, 2009).

Segundo Bomtempo (2001), por meio dos pensamentos fantasiosos e das brincadeiras fundamentais nelas, essa criança pode começar a compensar as pressões sofridas, que podem ser a vontade de não se manifestar triste perante os adultos ou então, conter o choro em situações que seriam admissíveis. Mas, com medo de fazer o outro se sentir ainda pior, ela se retrai, aparentando que está tudo bem, evitando assim a consternação daqueles que estão ao redor.

CONCLUSÃO

Compreender a expressão do luto de uma criança após a morte de um familiar, na qual possuía vínculo afetivo. A criança enlutada passa por uma fase muito difícil durante esse processo, e compreender o que sentem durante a fase e algo que pode ajudar e reverte as situações e diminuir sua grande dor com o tempo.

A mãe de Maria relata que sua expressão durante o luto foi de forma repentina, pois a família não contou diretamente para Maria sobre a morte ela chegou a ouvir por familiares falando sobre o assunto, então se sentiu muito mais triste que soubesse assim da morte do tio que faleceu de acidente de moto e era como fosse a figura paterna pois Maria não tinha contato com seu pai de sengue e

seu tio estava em todos os momentos da sua vida desde seu nascimento. E sua reação a morte dele foi se afastar da sua fase infantil se fechou durante isso e só queria ficar sozinha e que chegou um momento que Maria tentou um suicídio mais sua mãe chegou antes e não deixou que isso acontecesse.

Desta forma sugerisse que novos estudos devem ser analisados de criança que vivenciam o luto, pensando no cuidado que poderá ter com a criança após perdas tendo como profissionais da saúde que possa ajudar nesse projeto de aceitação da morde que é uma fase muito delicada quando se envolve a criança em luto da perda do ente querido.

DEATH AND LOSS IN CHILDHOOD: EXPRESSION OF GRIEF IN A CHILD WHO EXPERIENCED THE LOSS OF A FAMILY MEMBERS

ABSTRACT

A child’s grief is also a time when the child witnesses the vulnerability of the adults around him. She noticed that her referee was in pain and crying too. The amount of information to process is enormous! As with adults, childhood grief involves several feelings and can take a variable amount of time to assimilate. Honesty, listening and passion are the best tools in this process. And the objective of this article was to understand the expression of grief of a child after the death of a family member, in which he had an affective bond. It is known that when the child goes through this loss, they need help in this process to be able to begin to assimilate the losses and know how to deal with them little by little, requiring some professionals in the area of health, such as psychological treatment at that time, to offer emotional support . This article is a qualitative research where projective techniques were developed for the bereaved child.

Keywords: Mourning. Loss. Child. Pyschology.

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YIN, Robert K. Estudo de Caso-: Planejamento e métodos. Bookman editora, 2015.

1 Nome fictício utilizado para não revelar a identidade da participante e por remeter ao conto infantil de “João e Maria” na qual a criança expressa identificações.