O EMPREENDEDORISMO FEMININO SOB A ÓTICA DA TEORIA DO EFFECTUATION – O CASO DA D’GUSTADORA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7843831


Michele de Souza Magalhães Aquino¹
Admª. Profª. Drª. Roosiley dos Santos Souza2


RESUMO

Num cenário em que a participação das mulheres nos negócios aumenta consideravelmente a cada ano, falar de empreendedorismo feminino se tornou mais que relevante, é necessário. Dada a relevância do tema, o presente estudo teve como objetivo analisar o perfil empreendedor e os processos decisórios na criação da empresa D’GUSTADORA PÃES DE MEL E MIMOS, verificando as evidências da lógica Effectuation. A teoria explica como se dá o processo de tomada de decisão na criação de seus empreendimentos. Para compreender o processo empreendedor através dessa teoria foram utilizadas as seguintes perguntas, “quem sou?”, “o que sei fazer?” e “quem eu conheço?”, na perspectiva dos princípios dessa teoria, “pássaro na mão”, “perda acessível”, “colcha de retalho”, “limonada” e “piloto de avião”. A pesquisa que estruturou este estudo foi a qualitativa-descritiva, tendo como base um estudo de caso único, utilizando como instrumento de coletas de dados a entrevista semiestruturada, possibilitando assim uma análise de conteúdo. Concluiu-se que a entrevistada tem perfil empreendedor de acordo com o preconizado na literatura da área, bem como os seus processos de decisões serem considerados na lógica da Teoria do Effectuation.

Palavras chaves: Empreendedorismo Feminino. Teoria do Effectuation. Estudo de Caso.

1 INTRODUÇÃO

Com as mudanças no mercado de trabalho e a inserção da mulher no mundo do trabalho, as oportunidades para empreender foram surgindo de acordo com as necessidades de realização pessoal.

De acordo com Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Empresas (SEBRAE-SC, 2013) nos últimos anos as mulheres ganharam espaço no mercado de trabalho e galgaram posições de poder, conquista que se repete no mundo empreendedor. As empreendedoras estão ganhando visibilidade além da realização pessoal, tornando-se inspiração para que outras possam abrir seu próprio negócio.

O Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que estuda o empreendedorismo no Brasil e em mais de 80 países, que permanece crescendo ano a ano desde sua criação em 1999, traz em seus resultados de pesquisa que as mulheres empreendedoras correspondem a 16,1 milhões, do total de 32,2 milhões que empreenderam em 2019. Apesar disso, a pesquisa de 2019 mostra que o número de homens (56,5%) foi maior em 2019, quando falamos de “empreendedores estabelecidos”, o percentual de mulheres foi de 43,5%.

No ano de 2019, a pesquisa GEM, aponta que o número de mulheres empreendedoras em Mato Grosso do Sul era de 102 mil. Deste grupo, 81 mil são autônomas e 63,8% possuem entre 40 e 64 anos.

Diante deste cenário apresentado pelas pesquisas e pelo que vivemos, algumas instituições vêm investindo em negócios criados por mulheres, por entender que quando uma mulher tem um negócio ela se preocupa com o entorno, transbordando o empreendedorismo e seus desdobramentos para a sociedade.

Esse crescimento exponencial se deve a algumas características que favorecem a gestão dos negócios. De acordo com o SEBRAE (2019), as mulheres tendem a aliar sensibilidade, intuição e cooperação com atitudes como coragem, determinação e iniciativa. Isso faz com que desenvolvam habilidades importantes na hora de gerenciar as equipes e administrar os negócios.

De acordo com Sergio Diniz, consultor do Sebrae-SP, as principais características das novas empreendedoras é a iniciativa, perseverança, e a coragem para correr riscos, conquistando assim seu espaço no mundo dos negócios, prezando pelo sucesso do seu negócio.

E diante do exposto, faz-se necessário compreender fatores associados ao ato de empreender, o empreendedorismo feminino especificamente e o processo de criação e desenvolvimento de uma empresa. O que motivou o desenvolvimento deste tema.

Para tanto, a teoria de base da investigação, se alicerçou na proposta da pesquisadora e professora Saras Sarasvathy que apresenta a proposta de uma análise a respeito da criação e desenvolvimento de novos mercados, ao recomendar um modelo de decisão que denominou de Effectuation como alternativa ao modelo de decisão clássico que se baseia no princípio da causalidade (SARASVATHY,2001).

Nessa linha, o estudo de caso foi desenvolvido junto à proprietária do micro empreendimento D’GUSTADORA PÃES DE MEL E MIMOS na cidade de Corumbá(MS).

1.1 Objetivo Geral

O objetivo geral deste artigo é analisar o perfil empreendedor e os processos decisórios na criação da empresa D’GUSTADORA PÃES DE MEL E MIMOS, verificando as evidências da lógica effectuation.

1.2 Objetivos Específicos

  1. Analisar o perfil empreendedor da proprietária do negócio, de acordo com o preconizado na teoria effectuation;
  2. Descrever como ocorreu o processo de decisão desta empreendedora ao iniciar o negócio;
  3. Verificar quais ferramentas utilizou no processo de abertura do negócio e relacionar se as mesmas podem ser caracterizadas de acordo, com o indicado na teoria do effectuation.

1.3 Justificativa

O empreendedorismo tem impactado diretamente no desenvolvimento econômico de um país, pois os novos negócios gerados no mercado contribuem fundamentalmente para a geração de emprego e renda.

No Brasil, seja no comércio, no varejo, na indústria ou nos negócios digitais, as mulheres vêm conquistando espaços cada vez mais abrangentes e significativos à frente das micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2019, p. 13). A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2019 destacou em seu último relatório que a mulher brasileira é uma das mais empreendedoras do mundo, pois desde a primeira pesquisa realizada no país, em 2000, elas já se destacavam frente aos países participantes, possuindo a maior equiparação na relação entre homens e mulheres empreendedores a nível mundial. Esses resultados positivos foram se confirmando ao longo dos anos e a pesquisa GEM (2019) apontou que elas vêm crescendo, fazendo parte dos novos empreendedores do país, representando 50%.

Abrimos um parêntese para o fator da imprevisibilidade que o ano de 2020, mais precisamente a partir do mês de março, no Brasil surgiu os primeiros relatos sobre o novo coronavírus, o SARS-CoV-2 – COVID-19 e com o surgimento desse vírus, diversos negócios foram afetados diretamente, mudando o funcionamento de todas as atividades pertinentes aos processos produtivos em todos os setores econômicos.

Momento considerado por especialistas das diversas áreas das ciências e em especial das ciências sociais aplicadas como impactante para todas as atividades laborais.

De acordo com Ingizza (2020),

“Com o isolamento social, as mulheres receberam uma carga de trabalho extra. Dentro de casa, muitas precisaram equilibrar a educação dos filhos, a alimentação da família, a limpeza doméstica e o seu próprio trabalho remunerado ou negócio. Pesquisa feita pela Rede Mulher Empreendedora (RME) mostra que 20% das entrevistadas disseram que a dificuldade de gerir o tempo gasto com o trabalho e com a família se agravou na pandemia, contra 11% dos homens. No mundo dos negócios, as mulheres também sofreram mais. Pesquisa do Sebrae indica que as empresas comandadas por mulheres ficaram com as portas fechadas por mais tempo, estão com o faturamento ligeiramente pior e conseguiram menos crédito no mercado”. (INGIZZA, 2020)

Não se pode negar que as mulheres estão mais presentes no mercado de trabalho na condição de empreendedora, e, a cada dia que passa, faz-se necessário entender este fenômeno tendo em vista sua relevância econômica. Portanto, ao observarmos o impacto social, econômico, político e cultural que esse fenômeno tem causado nas sociedades é importante pesquisar sobre empreendedorismo feminino, que é uma tendência necessária nos estudos de ciências sociais e pelo momento provocado pela pandemia.

Diante do exposto, o estudo se justifica, uma vez que é importante compreender a inserção da mulher nesse processo, para tanto, a pergunta norteadora foi: quais são as principais características empreendedoras sob a ótica da Teoria do Effectuation da proprietária da D’GUSTADORA Pães de mel e Mimos?

O presente estudo apresenta, além desta introdução, a revisão de literatura sobre Empreendedorismo, Empreendedorismo no Brasil, Empreendedorismo feminino no Brasil, Empreendedorismo Feminino em Corumbá-MS, a Teoria do Effectuation e a Pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19) e Seu Impacto nos Negócios. Após, é descrito o procedimento metodológico usado na pesquisa. A apresentação e análise dos resultados constam na sequência, seguida das considerações finais.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Empreendedorismo

Para os pesquisadores na área de empreendedorismo Hisrich & Peter (2004, p. 33),

“O papel do empreendedorismo no desenvolvimento econômico envolve mais do que apenas o aumento de produção e renda per capita; envolve iniciar e constituir mudanças na estrutura do negócio e da sociedade”. (HISRICH & PETER, 2004, p. 33).

O termo empreendedorismo está ligado “àquele que identificava uma oportunidade de negócio e assumiram riscos”, (SCHUMPETER, 2002).

Nessa linha, Bernardo et al (2013) diz que,

“Empreendedorismo consiste na disposição para identificar problemas e oportunidades e prover o investimento de recursos e competências para criação de um negócio, projeto ou movimento que seja capaz de alavancar mudanças de forma a gerar impactos positivos”. (Bernardo et al, 2013).

Os autores supracitados, colaboram para o entendimento do conceito do empreendedorismo e promovem também a identificação de algumas das características que tipificam o perfil empreendedor: como a criatividade, a autoconfiança, assumir riscos e detectar as oportunidades de mercado.

Schumpeter (apud DORNELAS, 2008, p. 22) diz que, o empreendedor é mais conhecido como aquele que cria novos negócios, mas pode também inovar dentro de negócios já existentes; ou seja, é possível ser empreendedor dentro de empresas já constituídas.

Já Dornelas (2008) diz que empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio para capitalizar sobre ela, assumindo riscos calculados. E, ainda de acordo com Dornelas (2001), o empreendedor é aquele que faz acontecer, antecipa-se aos fatos e tem uma visão futura da organização.

Não existe fórmula para empreender, existe sim um processo, que Brochier e Capellari (2014) trazem detalhadamente o que significa cada fase do processo empreendedor como sendo,

“A fase 1 – identificar e avaliar a oportunidade: é a fase onde se cria a ideia, mas também, é a fase de identificar como utilizar esta ideia, de transformá-la num produto ou serviço. A fase 2 – desenvolver o plano de negócio: pode ser determinante para o sucesso do negócio, pois, neste momento, as estratégias para o desenvolvimento e crescimento do futuro empreendimento são criadas e devem estar de acordo com a realidade e o contexto do negócio. A fase 3 – determinar e captar os recursos necessários: é consequência da fase 2, pois, se o planejamento não estiver claro e bem estruturado, dificilmente o projeto será um captador de recursos, tampouco chamará a atenção de investidores. Já na fase 4 – Gerenciar o negócio: muitas vezes as 3 fases anteriores acontecem sem problemas e nesta fase é que eles começam a surgir, porque é a hora de colocar em prática todas as ações planejadas, e nem sempre se tem a experiência necessária ou nem tudo que se planejou deu certo”. (BROCHIER e CAPELLARI, 2014, pág. 22).

Além das fases, de acordo com Dornelas (2008) existem fatores que influenciam durante todo o processo, que o chama, de aventura empreendedora. Os fatores são: Pessoais, Sociológicos, Organizacionais, Ambiente, envoltos num processo necessário de inovação e crescimento.

A partir dos fatores Pessoais, Sociológicos e Organizacionais e o ambiente externo, o autor relata que serão todos considerados como influenciadores do processo empreendedor, as pessoas passam por vários processos decisivos para a execução do negócio, tais fatores influenciam na tomada de decisão. E após esse processo, elas podem adquirir estabilidade e buscar o crescimento profissional.

Sobre os processos, está a inovação, cada vez mais, é uma força presente no cotidiano dos países e das organizações. Entende-se que as fontes de inovação são as mais diversas possíveis. As mudanças econômicas, sociais e tecnológicas constituem-se em importantes eventos originários de transformações que podem redesenhar diversos setores da atividade econômica de um país.

 Negócios de empreendedores bem-sucedidos constituem um ambiente inovador, tendo a criatividade como diferencial das demais. A atitude proativa está presente no perfil, fazendo com que o empreendedor obtenha vantagem competitiva, pois ele antecipa, decide, age, empreende, cria e inova, buscando alcançar seus objetivos. Eles estão um passo à frente também quando buscam especializações em áreas de tecnologia e gerenciamento, para que o empreendimento logre sucesso, que estão ligados pelo processo de implementação e crescimento.

2.2 Empreendedorismo no Brasil

Empreendimentos no Brasil envolvem indivíduos que procuram abrir o próprio negócio para adquirir autonomia financeira, e com isso exploram novas especializações com a intenção de obter vantagem competitiva.

O relatório GEM BRASIL (2018) apresenta a Taxa de Empreendedorismo Inicial (TEA), que é demonstrada na tabela 1, a seguir:

Tabela 1: Motivação dos empreendedores iniciais: taxas¹ (em %) para oportunidade e necessidade, proporção sobre a TEA² (em %), estimativas³ (em unidades) e razão oportunidade e necessidade – Brasil – 2018.

MotivaçãoTaxasPercentual da TEAEstimativas
Oportunidade1161,815.107.684
Necessidade6,737,59.176.644
Razão Oportunidade/ Necessidade1,6

Fonte: GEM Brasil 2018

  1. Percentual da população de 18 a 64 anos.
  2. Proporção sobre a TEA: A soma dos valores pode não totalizar 100% quando houver recusas e/ou respostas ausentes
  3. Estimativas calculadas a partir de dados da população brasileira de 18 a 64 anos para o Brasil em 2018: 136,8 milhões. Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Projeção da população do Brasil e Unidades da Federação por sexo e idade para o período 2000-2030 (ano 2018).
  4. Exemplo de interpretação: para cada 1 empreendedor por necessidade, 1,6 empreende por oportunidade.

O que a tabela 1 informa é o percentual da Taxa de Empreendedorismo Inicial (TEA) entre os que empreendem por necessidade e por oportunidade. O empreendedorismo por necessidade: As pessoas buscam alguma forma de obter estabilidade financeira, e empreender é uma das maneiras disponíveis para entrar no mercado, porém, não necessariamente todos chegarão ao sucesso, pois deve saber manter-se no mercado encarando os desafios no mundo empreendedor. Os considerados empreendedores por oportunidade são aqueles que têm a percepção de negócio no mercado.

As análises comparativas da intensidade empreendedora de um país são possíveis de serem feitas com base na classificação de países que foi estabelecida pelo Fórum Econômico Mundial – WEF (Global Competitiveness Report), que classificam os países utilizando indicadores sobre o tamanho do PIB, renda per capita e quota de exportação de produtos primários, cujas características são:

-Países impulsionados por fatores – são caracterizados pela predominância de atividades com forte dependência dos fatores trabalho e recursos naturais
-Países impulsionados pela eficiência – são caracterizados pelo avanço da industrialização e ganhos em escala, com predominância de organizações intensivas em capital;
-Países impulsionados pela inovação – são caracterizados por empreendimento intensivos em conhecimento e pela expansão e modernização do setor de serviços. (Fórum Econômico Mundial – WEF – Global Competitivess Report)

Conclui-se, portanto, que o Brasil integra o grupo de países impulsionados pela eficiência.

2.3 Empreendedorismo feminino no Brasil

As mulheres têm demonstrado cada vez mais a sua força empreendedora. Segundo dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2019, 16,1 milhões de mulheres brasileiras estavam à frente de um empreendimento ou realizavam alguma ação visando ter o seu próprio negócio.

Na figura a seguir (figura 1) podemos visualizar as taxas específicas¹ (em %), percentuais e estimativas², empreendedores iniciais e estabelecidos segunda às características sociodemográficas – Brasil – 2019.

Figura 1: Taxas específicas¹ (em %), percentuais e estimativas², empreendedores iniciais e estabelecidos segunda às características sociodemográficas – Brasil – 2019.

Fonte: GEM Brasil 2019

¹ Percentual da população referente a cada categoria da população (ex. 24,3% da população de 18 a 24 anos no Brasil são empreendedores iniciais).

² Estimativas calculadas a partir de dados da população brasileira de 18 a 64 anos para o Brasil em 2019: 138,1 milhões. Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas. Projeção da população do Brasil e Unidades da Federação por sexo e idade para o período 2000-2030 (ano 2019).

Com relação ao gênero, em 2019, os homens se mostraram mais ativos no que se refere ao seu envolvimento com o empreendedorismo em estágio estabelecido do que as mulheres. Contudo, praticamente não existe diferença entre homens e mulheres quando se trata de empreendedorismo inicial.

De acordo com o GEM (2019) essa diferença entre homens e mulheres no empreendedorismo brasileiro tem sido reincidente ao longo dos anos, principalmente no empreendedorismo estabelecido, suscitando o questionamento sobre as razões que levam as mulheres a terem negócios menos longevos que os homens. Apesar disso, cabe destacar que mesmo com taxas de empreendedorismo menores que as dos homens, as empreendedoras representam, em números absolutos, cerca de 26 milhões de brasileiras.

2.4 Empreendedorismo Feminino em Corumbá-MS

Em um levantamento realizado em março de 2020 pelo Sebrae/MS pôde-se observar que a maioria das empresárias de Mato Grosso do Sul são microempreendedores individuais (MEI). O percentual de empresárias que são microempreendedoras individuais é de 70,7%, dentre elas 80,6% tem filhos e faturam até R$ 5 mil por mês (58%). Os dados integram uma pesquisa inédita sobre o perfil da empreendedora de MS, realizada na capital durante o evento Sebrae Inspira Mulher de Negócios.

O levantamento, realizado pelo Sebrae/MS e o Instituto de Pesquisa da Fecomércio/MS, aponta os motivos que as levaram a empreender e suas principais dificuldades. Neste ponto, as Sul-mato-grossenses empreendem em primeiro lugar pela possibilidade de renda, em segundo devido a um sonho e em terceiro, para conciliar o trabalho com a família.

De acordo com pesquisa executada pelo SEBRAE (2018) em Corumbá MS,

“Com mais mulheres a frente dos negócios, as empresas poderão ganhar novos formatos com empreendedoras focadas em resultados, que praticam o desenvolvimento de equipes e parcerias estratégicas de peso, sempre equilibrando qualidade de vida e trabalho, agora é que são elas”. (SEBRAE, 2018).

As mulheres empreendem e ao mesmo tempo aproveitam essa oportunidade de estarem perto da família, pois conseguem ter flexibilidade, lidando com fatores diários, obtendo através do seu negócio qualidade de vida.

O Portal do Empreendedor, até o mês de setembro de 2020, o município de Corumbá possuía 4.128 empresas optantes no SIMEI. Destes, 54,2% são mulheres.

Das 232 categorias do CNAE, as que mais se destacam são apresentadas a seguir na tabela 2.

Tabela 2: CNAE UF/Município/Sexo – Total de MEIs por CNAE da UF de Mato Grosso do Sul, do município de Corumbá, distribuído por sexo.

DESCRIÇÃO CNAETOTALMASCULINO FEMININO
Comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios27491183
Comércio varejista de bebidas1728587
Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares23397136
Fornecimento de alimentos preparados preponderantemente para consumo domiciliar16236126
Serviços de alimentação para eventos e recepções – bufê26179
Promoção de vendas1005149
Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios622120502
Cabeleireiros29860238
Outras atividades de tratamento de beleza70169

Fonte: Elaborado a partir das informações do Portal do Empreendedor.

Com base nos dados do quadro 2, é possível afirmar que a grande maioria dessas empreendedoras atuam nos setores alimentícios e bebidas, vestuário, e beleza e estética no município de Corumbá (MS).

2.5 Teoria Effectuation

Effectuation é uma teoria de pensamento da consagrada professora da Darden School of Business, Saras D. Sarasvathy, que é a lógica aplicada pelos empreendedores inconscientemente.

Sarasvathy reuniu 27 empreendedores experientes e requisitou que trabalhassem em um conjunto de problemas tipicamente encontrados ao empreender, relatando seus pensamentos em voz alta. Ao averiguar o processo de resolução, Sarasvathy apontou que 65% dos participantes aplicavam lógica do efeito em 75% do tempo.

Segundo a renomada professora da Darden School of Business Saras Sarasvathy (2001),

A abordagem Effectuation sugere que existam apenas objetivos vagos no início e conexões específicas dos fundadores com os meios/recursos, em relação ao tipo de empresa formada a partir de ”quem eu sou”, “o que eu sei” e “quem eu conheço” (SARASVATHY, 2001a, 2001b).

Compreende-se então que a metodologia Effectuation parte de meios disponíveis que são definidos a partir das seguintes perguntas:

  • Quem eu sou?
  • O que sei fazer?
  • Quem eu conheço?

À medida que são respondidas de maneira franca, essas perguntas revelam os meios que o empreendedor tem para superar obstáculos e ajudam a alcançar seus objetivos.

Sarasvathy (2001) afirma que,

“Embora os empreendedores pretendam gerar um efeito positivo com sua iniciativa, o método do efeito não inicia com um objetivo específico. E sim parte de um determinado conjunto de meios, proporcionando que os objetivos apareçam ao longo do tempo, de maneira ocasional, a partir do interesse e da imaginação do empreendedor e das pessoas com quem ele interage”. (SARASVATHY, 2001)

A forma como algumas empresas são criadas, está ligada à lógica, de modo a criar o negócio com o recurso disponível, sem seguir um plano de negócio. A concepção de tirar a ideia do papel e colocar em prática segue uma linha de tomada de decisão, que dá certo a partir do momento em que o empreendedor visa uma oportunidade e a executa.

A teoria Effectuation, considera cinco princípios implícitos, conforme apresentado na tabela 3:

Tabela 3: Princípios para aplicação da teoria do Effectuation.

I – PÁSSARO NA MÃOÉ necessário começar com os meios que possui, sem esperar a oportunidade perfeita ou um planejamento. O empreendedor deve agir a partir daquilo que tem ao seu alcance. É a partir disso que entram as respostas das perguntas básicas: quem você é, o que você sabe e quem você conhece.
II – PERDA ACESSÍVELDeve-se determinar qual é a perda que se está disposto a tolerar. Então, analisar as oportunidades sempre considerando se a perda envolvida é aceitável. O resultado positivo não é garantido então é essencial estar pronto a assumir riscos, pois o futuro é fundamentalmente imprevisível.
III – COLCHA DE RETALHOSO empreendedor deve desenvolver parcerias com pessoas e organizações que tenham determinação de firmar o compromisso em ajudá-lo a construir o empreendimento – um produto, um serviço, um negócio, dentre outros.
IV – LIMONADAO empreendedor também recebe sua parte de limões e, por isso, deve saber lidar com eventualidades. Ou seja, aceitar os imprevistos que aparecem pela trajetória, ajustando-se, em vez de visar apenas os objetivos específicos.
V – PILOTO DE AVIÃORefere-se a “controlar o controlável”. Nem tudo pode ser controlado, com isso, a teoria envolve atentar-se nas questões que estão dentro do seu alcance de importância.

Fonte: Adaptado de Sarasvathy (2001).

A metodologia Effectuation dá mais autonomia ao empreendedor, pois ele não estará com um aspecto limitado e sim aberto a novas oportunidades. Portanto, é uma metodologia que evidencia a criatividade empreendedora, possibilitando uma nova visão à inovação.

Aliás, ela favorece o trabalho manual, ou seja, começar o quanto antes, em vez de gastar um tempo excessivo em planejamento. Afinal de contas, dentro dessa lógica, é considerado que o futuro é imprevisível. Logo, a lógica dá o impulso para tirar as ideias do papel, seguindo rumo ao sucesso.

2.6 A Pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19) e Seu Impacto Nos Negócios

2.6.1 O que é o Covid-19 e como é disseminado

A doença do coronavírus (COVID-19) é uma doença infecciosa causada por um coronavírus recém-descoberto.

De acordo com World Health Organization (2020),

“O vírus que causa a COVID-19 é transmitido principalmente por meio de gotículas geradas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou exala. Essas gotículas são muito pesadas para permanecerem no ar e são rapidamente depositadas em pisos ou superfícies. Você pode ser infectado ao inalar o vírus se estiver próximo de alguém que tenha COVID-19 ou ao tocar em uma superfície contaminada e, em seguida, passar as mãos nos olhos, no nariz ou na boca”. (WHO – World Health Organization, 2020).

De acordo com Barreto (2020),

“O aspecto mais temido da doença pelo novo coronavírus, o SARS-CoV-2, é, depois de sua imensa facilidade em se disseminar, a gravidade que a lesão pulmonar pode atingir. Por mais que a mortalidade em jovens não seja tão alta, o risco de vida que a Covid-19 impõe a idosos e pacientes com comorbidades é enorme. Muitos desses pacientes evoluem para formas graves em que a insuficiência respiratória exige intubação orotraqueal, ventilação mecânica e cuidados intensivos”. (BARRETO, 2020).

Ainda de acordo com Barreto (2020),

“O primeiro caso da pandemia pelo novo coronavírus, SARS-CoV2, foi identificado em Wuhan, na China, no dia 31 de dezembro do último ano. Em fevereiro, a transmissão da Covid-19, nome dado à doença causada pelo SARS-CoV2, no Irã e na Itália chamaram a atenção pelo crescimento rápido de novos casos e mortes, fazendo com que o Ministério da Saúde alterasse a definição de caso suspeito para incluir pacientes que estiveram em outros países. No mesmo dia, o primeiro caso do Brasil foi identificado, em São Paulo.
Em março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o surto da doença como pandemia. Poucos dias depois, foi confirmada a primeira morte no Brasil, em São Paulo. No mesmo dia, dois pacientes que haviam testado positivo para coronavírus, do Rio de Janeiro, vieram a óbito”. (BARRETO, 2020).

Diante do exposto, a seguir trataremos do assunto na perspectiva do impacto nos negócios.

2.6.2 O impacto do coronavírus nos negócios

A pandemia de coronavírus mudou o funcionamento de 5,3 milhões de pequenas empresas no Brasil, o que equivale a 31% do total. Outras 10,1 milhões, ou 58,9%, interromperam as atividades temporariamente. É o que mostra a segunda edição da pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, realizada pelo Sebrae.

Para continuar com o funcionamento, a empresas tiveram que realizar diversas ações, tentando se manter ativo no mercado. De acordo com a pesquisa realizada pelo Sebrae, 41,9% realizam agora apenas entregas via atendimento online. Outros 41,2% estão trabalhando com horário reduzido, enquanto 21,6% estão realizando trabalho remoto.

Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo Sebrae, 18,1% das empresas precisaram fazer demissões para manter a saúde financeira dos negócios. Em média, elas demitiram três colaboradores após o início da crise.

Uma opção para manter o funcionamento das empresas e ao mesmo tempo manter seus funcionários seguros, é a utilização do trabalho remoto, conhecido como home office. Nesse caso, é importante tomar algumas precauções importantes para que os funcionários estejam seguros e a produtividade do negócio não caia no período. De acordo com Fonseca (2020), editora do site Pequenas Empresas e Grandes Negócios, são 5 passos para implementar o trabalho remoto:

  1. — Siga políticas de isolamento, exames e quarentena
  2. — Ofereça infraestrutura adequada ao trabalho remoto
  3. — Estabeleça meios de comunicação
  4. — Faça checagem de jornada
  5. — Com ou sem novo coronavírus, saiba que home office é o futuro.

Diante do cenário incerto e da mudança de comportamento dos consumidores, é de suma importância que os empreendedores revejam seus planejamentos e fiquem atentos à saúde financeira da empresa. Rever o fluxo de caixa para os próximos meses e negociar eventuais dívidas com antecedência são algumas das recomendações feitas para que seu negócio continue lucrativo mesmo diante da pandemia e num futuro próximo, pós pandemia.

3 METODOLOGIA

A metodologia visa esclarecer de maneira formal o tipo da pesquisa, de modo que seja realizado com métodos e estratégias específicas, para que atinja um resultado sobre determinado assunto.

Quanto à natureza da pesquisa, consoante Bogdan & Biklen (1994), a pesquisa que estruturou este estudo foi a qualitativa-descritiva, por apresentar as seguintes características:

a) Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal”. b) “A investigação qualitativa é descritiva”. c) “Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo que simplesmente pelos resultados ou produtos”. d) “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa”. e) “Os investigadores qualitativos tendem a analisar os dados de forma indutiva (BOGDAN & BIKLEN, 1994, p. 47-51).

Quanto à classificação e escolha do objeto de estudo, a pesquisa se classifica como um estudo de caso único que segundo Yin (2001, p. 29),

“[…] o estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo dos fatos objetos de investigação, permitindo um amplo e pormenorizado conhecimento da realidade e os fenômenos pesquisados”. (YIN, 2001, p. 29)

Triviños (1987) define o estudo de caso como uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. Tendo como objetivo aprofundar a descrição de determinada realidade.

Segundo Gil (2002) com relação à coleta de dados o método de “estudo de caso” pode ser considerado o mais completo dentre todos os outros, pois, este se vale tanto de dados de pessoas quanto de dados documentais.

No que diz respeito aos procedimentos operacionais tanto à fundamentação teórica, quanto ao trabalho de campo, optou-se primeiramente pelo contato direto com a empresária, seguida pela visita ao estabelecimento, realizando entrevista face a face com a empresária, o instrumento de coleta de dado escolhido foi do tipo entrevista semiestruturada. Que de acordo com Cervo & Bervian (2002),

“É uma das principais técnicas de coletas de dados e pode ser definida como conversa realizada face a face pelo pesquisador junto ao entrevistado, seguindo um método para se obter informações sobre determinado assunto”. (Cervo & Bervian, 2001 apud OLIVEIRA, 2011, p. 35).

A entrevista foi semi estruturada e as partes que elucidam o objetivo das análises, foram apresentadas por categorias, que segundo Minayo (1994, p. 70),

“A palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. […] As categorias são empregadas para se estabelecer classificações. Nesse sentido, trabalhar com elas significa agrupar elementos, ideias ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. […] As categorias podem ser estabelecidas […] a partir da coleta de dados, são mais específicas e mais concretas”. (MINAYO, 1994, p. 70).

De acordo com Carlomagno e Rocha (2016) a metodologia de análise de conteúdo se destina a classificar e categorizar qualquer tipo de conteúdo, reduzindo suas características a elementos-chave, de modo com que sejam comparáveis a uma série de outros elementos.

As categorias de análise do estudo foram alicerçadas nos cinco princípios implícitos, conforme apresentado pela teoria Effectuation: PÁSSARO NA MÃO, PERDA ACESSÍVEL, COLCHA DE RETALHOS, LIMONADA e PILOTO DE AVIÃO.

Seguindo a metodologia Effectuation parte de meios disponíveis que são definidos a partir das seguintes perguntas: Quem eu sou? O que sei fazer? Quem eu conheço?

A seguir, as informações obtidas na entrevista.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 A D’GUSTADORA – Empresa Objeto do Estudo

4.1.1 Contextualização da organização

A D’GUSTADORA PÃES DE MEL E MIMOS é um micro empreendimento do setor alimentício, especificamente na fabricação de doces. Fundada em junho de 2014, no município de Corumbá. Sua proprietária é casada, na faixa etária entre 41 e 50 anos, com dois filhos, graduada em Serviço Social.

A concepção do nome da empresa representa para a proprietária o propósito da sua empresa, possui um significado muito especial, pois a proprietária fez a junção das iniciais dos nomes de seus dois filhos, que originou o nome D’GUSTADORA.

A história da empresa teve início a partir de alguns “nãos”, a proprietária ao chegar em Corumbá, buscou trabalhar na sua área de formação, que é de Serviço Social, após várias tentativas e diversos “nãos”, precisou analisar o mercado e principalmente o que sabia fazer além da sua formação profissional, pois necessitava trabalhar para assim melhorar a renda familiar. Com a intenção de conseguir uma renda extra iniciou a fabricação e venda de pães de mel, porém ela e seu esposo tiveram dificuldades para venda dos pães de mel. Ela se manteve persistente e conseguiu, através de uma amiga que trabalhava em um banco da cidade, vender seus produtos nesse banco.

Com o passar do tempo, conseguiu o primeiro ponto de venda fixo em um restaurante da cidade, onde até hoje fornece uma variedade de produtos para venda no local. Com a venda do pão de mel em embalagem personalizada com a logomarca da empresa e com telefone para contato, a empresária conseguiu uma visibilidade no mercado com o marketing boca-a-boca, recebendo constantemente pedidos. Com o crescimento do número de pedidos não somente de pães de mel, mas também de uma variedade de outros produtos, a empresária pôde observar que o mercado da cidade de Corumbá não possuía muitos empreendimentos com o objetivo de atender a essa demanda, decidiu, juntamente com seu esposo, criar um negócio que atendesse a essa fatia de mercado.

A D’GUSTADORA oferece um mix de produtos, desde o seu produto considerado “carro chefe” o Pão de Mel em diversos sabores de recheio, buffet de brigadeiros de chocolate, morango, coco e leite ninho, a doces finos elaborados com frutas frescas ou secas, como, damasco, nozes, entre outros, a empresária se especializou numa linha gourmet.

Possui um calendário específico para atender às datas comemorativas, como a Páscoa, oferece uma enorme gama de ovos de chocolate recheados, e para o Natal os mais deliciosos panetones de oreo, doce de leite, limão siciliano, ganache de champanhe, entre muitos outros.

Todo ano a empresa apresenta ao mercado no mínimo três propostas diferentes na área de doces gourmet, essas são divulgadas nos eventos de lançamento, ou seja, a empresa oferece aos clientes e potenciais clientes um momento de contato antecipado aos seus produtos.

A empresa atende pedidos tanto para uma simples festa como para grandes eventos, como casamentos, festas de 15 anos e formaturas. Além disso, a empresa, no decorrer desses 6 anos, criou diversas parcerias e pontos de venda fixos, possibilitando assim a inserção de toda sua linha e dos seus diversos produtos no mercado.

Por se tratar de uma microempreendedora individual (MEI) seu corpo funcional conta somente com uma funcionária. Em datas comemorativas e dias com grande demanda de pedidos, a empresária conta com freelancers, que são profissionais autônomos contratados temporariamente, para melhor atendimento dessas demandas. A empresária conta também com o auxílio de seu marido, que tem formação em Administração, para melhor gerir o negócio.

A pequena equipe de profissionais, são experientes e qualificados nas atividades que desempenham. Buscam constantemente o aprimoramento através de cursos, testando novas receitas também, com o objetivo de melhor atender seus clientes, oferecendo produtos de alta qualidade, além de se manterem competitivos no mercado.

A propaganda e divulgação de seus produtos são realizadas através das redes sociais, como Instagram, Facebook e WhatsApp, seus pontos de vendas, além do marketing boca-a-boca realizado pelos diversos clientes satisfeitos com os produtos recebidos.

4.2 Análise dos dados e Interpretação por Categorização

Os resultados apresentados no formato de categorias, foram selecionados após a transcrição completa do áudio da entrevista semiestruturada realizada com a empresária, proprietária da empresa D’GUSTADORA Pães de Mel e Mimos do município de Corumbá (MS).

Seguindo a metodologia Effectuation parte de meios disponíveis que são definidos a partir das seguintes perguntas:

Quem eu sou? Sou do município de Aquidauana (MS), graduada em

Assistência Social, com experiência profissional na área”.

A empresária residia na cidade de Aquidauana, trabalhava como coordenadora do CREAS em Aquidauana e tutora na Anhanguera, no curso de Serviço Social. No ano de 2014 teve que se mudar para a cidade de Corumbá, por causa do trabalho de seu marido.

O que sei fazer?
“Tenho por hobbies/gostos – “cozinhar”.
Já possuía o hobby de cozinhar e como não conseguia emprego em sua área de formação, onde realmente possuía experiência profissional, resolveu fazer seus pães de mel e vender na feira livre da cidade.
O que podia fazer?
Abrir um negócio no setor alimentício, voltado para fabricação de doces.
Fez plano de negócio?
“Não, a princípio a intenção era vender na feira livre de Domingo, fui me adaptando conforme a necessidade”.

De acordo com relatos da empresária, a ideia inicial era o preparo de alguns pães de mel e brownies para serem vendidos na feira livre que acontecia aos Domingos na cidade, e no início a empresária teve muitas perdas, pois fazia determinada quantidade de pães de mel e brownies e não conseguia vendê-los, e por serem produtos muito perecíveis não podia mais vendê-los.

Com a experiência adquirida a empreendedora buscou outros meios para a venda desses produtos. Ela não fez um planejamento em longo prazo ou um plano de negócio complexo, apenas colocou em prática a ideia inicial, lidando com as surpresas e expandindo com a incerteza.

Quem eu conheço?
Seu marido conseguia levar algumas unidades para o trabalho e vendia para seus colegas. Amigos, colegas e conhecidos que apoiavam a ideia, donos de restaurante, clientes.
Como podia encontrar as pessoas para colaborar com seu negócio?
Redes sociais, boca a boca.

Em conformidade a metodologia Effectuation que parte de meios disponíveis que são definidos a partir das perguntas: Quem eu sou? O que sei fazer? E Quem eu conheço? É possível afirmar que a empresária iniciou a empreender de acordo com o preconizado na teoria do Effectuation.

A seguir apresenta-se os dados obtidos na entrevista, destacando trechos que correspondem aos princípios da Teoria do Effectuation.

Análise por categorias com base nos cinco princípios:

Descrição I – Unidades de Significado de acordo com Relatos / DepoimentosDescrição II Categoria
“[…] eu tentei emprego aqui e não consegui na minha área. Como eu já fazia pães de mel esporadicamente, meu marido falou, ‘assa alguns e vamos tentar vender na feira de Domingo que é mais movimentada, para termos um dinheiro extra’ […]”.PÁSSARO NA MÃO

O princípio “Pássaro na mão” vem explicando que para empreender é apenas necessário começar com os meios que possui, sem esperar a oportunidade perfeita ou um planejamento. O empreendedor deve agir a partir daquilo que tem ao seu alcance. É a partir disso que entram as respostas das perguntas básicas: quem você é, o que você sabe e quem você conhece.

Seguindo com base dos princípios implícitos a partir do “pássaro na mão”, a empreendedora iniciou a partir dos meios disponíveis e do que tinham ao seu alcance. Como já tinha o hobby de cozinhar, e possuía a receita de pães de mel e brownies iniciou a fabricação desses produtos com a intenção de vendê-los na feira livre de Domingo, a fim de obter uma renda extra.

Descrição I – Unidades de Significado de acordo com Relatos / DepoimentosDescrição II Categoria
“[…] eu assava em média 30 pães de mel, que duravam em torno de 4 dias, aí eu comecei a dar, porque eu não conheci ninguém na cidade o que dificultou as vendas.”
“Eu fazia os brownies também. […] perdi muitos, mas com o tempo as pessoas foram acostumando-se, gostaram e faziam pedidos. Mas demorou um tempo, em média uns 4 meses.” “
[…] decidimos fazer os brigadeiros. Compramos uma massa para trabalharmos, começamos assistindo vídeos e testando as massas até pegarmos o ponto certo, mas até acertamos o ponto de cada massa tivemos algumas perdas, mas todas necessárias para chegarmos até aqui.”
PERDA ACESSÍVEL

A partir do momento que decidiram empreender, tiveram que ter em mente uma perda aceitável que poderia vir a ocorrer, se caso acontecesse seria tolerável e a partir disso buscar outros meios, partindo do princípio “perda acessível”. A empresária não fazia um planejamento para venda dos produtos, fazia uma determinada quantidade esperando que conseguisse vendê-la. Como podemos observar no relato dela acima, de início teve dificuldade para vender todos os produtos, e por serem produtos perecíveis, não podia vendê-los mais depois de certo tempo. E com o passar do tempo foi necessário a expansão da variedade de produtos oferecidos, tendo então que realizar testes em massas para obter um ponto ideal, até se alcançar esse ponto alguns testes não deram certo, tendo uma perda de matéria prima.

Descrição I – Unidades de Significado de acordo com Relatos / DepoimentosDescrição II Categoria
“[…] comecei a vender no Banco Bradesco, porque uma pessoa que eu conhecia e que trabalhava lá me deixou entrar, então comecei a vender para os funcionários”.
“[…] Depois o restaurante Laço de Ouro me abriu as portas para começar a vender lá. Esse restaurante foi meu primeiro ponto de venda em Corumbá”. “Até então eu trabalhava sozinha, foi quando conheci e contratei a Nathália. Ela sou eu, na minha ausência. Ela sabe tudo que eu sei, e é a única funcionária que tem todas as minhas massas, então na minha falta, ela tem tudo. Ela toca a D’GUSTADORA sozinha, principalmente quando eu viajo. A Renata tem todos os pontos das massas dos brigadeiros. É ela quem treinou e sabe todos os pontos”.
COLCHA DE RETALHOS

De acordo com o princípio “Colcha de Retalhos”, o empreendedor deve desenvolver parcerias com pessoas e organizações que tenham determinação de firmar o compromisso em ajudá-lo a construir o empreendimento – um produto, um serviço, um negócio, dentre outros.

A empreendedora iniciou com os recursos disponíveis com ajuda de stakeholders que para Rocha e Goldschmidt (2010, p. 5), “[…] são os públicos de interesse, grupos ou indivíduos que afetam e são significativamente afetados pelas atividades da organização: clientes, colaboradores, acionistas, fornecedores, distribuidores, imprensa, governo, comunidade entre outros”, e conseguiram criar o empreendimento, tal ajuda parte do princípio “colcha de retalhos”, onde a busca de parceria é essencial para expandir o negócio.

Através dos relatos da empresária podemos observar que o primeiro apoiador que ela teve foi seu marido, que sempre a incentivou a continuar e buscar a inovação para que seu negócio se desenvolvesse. Ao longo de sua trajetória ela criou diversas parcerias, como citado por ela no início obteve a ajuda de uma amiga que trabalhava em um banco da cidade, aumentando assim sua carteira de clientes. Sua parceria logo em seguida com um restaurante da cidade também foi de suma importância para seu crescimento, esse restaurante se tornou o primeiro ponto de venda da empresária, e até hoje ela continua expandindo, criando novas parcerias e em contínuo crescimento. A empresária achou importante frisar que a contratação de sua primeira colaboradora, que até hoje trabalha com ela, pois essa colaboradora contribuiu muito para o crescimento da empresa, sempre disposta a fazer os testes de novos produtos e encarando todos os desafios juntamente com a empresária.

Descrição I – Unidades de Significado de acordo com Relatos / DepoimentosDescrição II Categoria
“Eu soltei um kit – Nunca fiz isso, nunca fiz entrega. Numa situação como essa, em que eu fiquei dois dias parada. Nunca, em 6 anos, nós ficamos paradas dois dias, porque não tínhamos venda. […] tive que me reinventar. Montei um kit, o ‘kit confeiteiro’”.
“Então, é você criar, em meio a uma situação difícil, é se reinventar. É ter um olhar empreendedor e falar “cadê o buraco?”.
LIMONADA

Com o passar dos dias, meses ou até anos, lidar com eventualidades faz parte do processo de decisões, e o princípio “limonada” mostra como o futuro é imprevisível, onde o empreendedor ajusta-se, focalizando nos objetivos específicos.

De acordo com a empresária, ela vivenciou recentemente uma parada inesperada em suas vendas, onde ficou dois dias seguidos sem nenhuma venda. A empresária relatou que nunca em 6 anos ela havia ficado parada por dois dias, porque não tinha pedido. Isso tudo reflete as consequências que uma pandemia traz aos estabelecimentos. Ela ainda relata que infelizmente não sabe o que está por vir, num mercado pós pandemia, mas ela está buscando se reinventar a cada dia para poder sobreviver a esse momento que estamos passando.

Descrição I – Unidades de Significado de acordo com Relatos / DepoimentosDescrição II Categoria
“A minha segurança são os postos de vendas, porque se eu não tiver o cliente aqui na loja, vou ter os postos de vendas, então a gente sempre prioriza os postos de vendas. Porque deles é certo. Eu entrego os produtos e recebo na hora”.
“[…] Agora, se você me perguntar se eu ainda os terei depois da pandemia, eu não vou saber te dizer, porque é um desafio que vou ter que enfrentar pós pandemia”.
“Talvez eu perca alguns pontos de venda, mas infelizmente é a realidade. Teremos que ver isso depois da pandemia.
Esse é o meu medo, eu não sei como vai ser daqui pra frente, é tudo uma incógnita. Vamos aguardar e vermos até onde vai dar pra ir”.
PILOTO DE AVIÃO

Bem sabemos que nem tudo pode ser controlado, e o princípio “piloto de avião” mostra que mesmo que o empreendedor não possa controlar tudo, deve atentar-se às questões que estão dentro do seu alcance de importância, e com um olhar empreendedor saberá o que deve ser feito dada as circunstâncias para que seu negócio continue competitivo no mercado.

De acordo com os relatos acima podemos perceber que a empresária sabe que nem tudo está ao seu alcance, mas está disposta a fazer o que deve ser feito para que seu negócio se mantenha de pé mesmo diante de uma pandemia, que é um momento de incerteza.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo alcançou o objetivo proposto, que era o de analisar o perfil empreendedor e os processos decisórios na criação da empresa D’GUSTADORA PÃES DE MEL E MIMOS em Corumbá-MS, verificando as evidências da lógica Effectuation. A entrevistada tem perfil empreendedor de acordo com o preconizado na literatura da área, bem como os seus processos de decisões serem considerados na lógica da Teoria do Effectuation.

O trabalho foi realizado através de entrevista semiestruturada e estudo de caso único com a proprietária da empresa supracitada. Constatou-se que a empreendedora possui o seguinte perfil: já constituía família, filhos, tinha uma graduação, mas encontrou dificuldade em achar um emprego na área de sua formação, dadas circunstâncias, com a necessidade de gerar uma renda extra, teve a iniciativa de colocar em prática aquilo que já sabia fazer – cozinhar. Ela não obtinha muitos recursos, assim contou com quem conhecia e colocou em risco os recursos disponíveis, dentro de uma perda tolerável. 

A fim de que conseguisse ter seu empreendimento dentro do mercado, a tomada de decisão da empreendedora acompanhou a lógica Effectuation mesmo sem ter conhecimento da teoria, suas decisões são de acordo com os princípios, e continua dona do seu próprio negócio até os dias atuais.

A pesquisa revela que para empreender, basta ter coragem de iniciar o negócio e encarar o mercado. Segundo a teoria, o empreendedor pode começar a partir das perguntas básicas, “quem eu sou”, “o que eu sei” e “quem eu conheço” (SARASVATHY, 2001a, 2001b), as quais a empreendedora fez inconscientemente, como na maioria dos casos.

Ao invés de fazer um plano de negócio ou captar altos recursos, pode-se iniciar com os recursos que possui, colocando em prática suas habilidades, receber ajuda de pessoas e se adaptar às eventualidades com o decorrer do tempo. Para Lopes (2017), “[…] os empreendedores se motivam enquanto procuram e avaliam formas de solucionar os problemas de seus empreendimentos”.

O empreendedorismo é uma ferramenta para a mudança social e as mulheres estão cada vez mais encorajadas de ter seu próprio negócio. É perceptível o brilho nos olhos das pessoas que são empreendedoras, e a partir disso trabalham no que sentem satisfação. Não há profissão mais gratificante do que fazer o que gosta, de realizar um sonho, e as mulheres empreendedoras usam cada vez mais da necessidade uma oportunidade para adquirir um negócio de sucesso no mercado.

Como contribuição à comunidade acadêmica esse trabalho buscou evidenciar o empreendedorismo sob a teoria effectuation, através da tomada de decisão da empreendedora e proprietária da empresa D’GUSTADORA PÃES DE MEL E MIMOS em Corumbá-MS. Fica como base para estudos futuros sobre o assunto, proporcionando maior clareza sobre a ótica effectuation, que é um assunto de grande relevância à tomada de decisão na criação de negócios. Sugere-se a ampliação dos estudos em outros setores e vertentes de estudos sobre gêneros.

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¹Bacharel em Administração pela UFMS, pós-graduada em Agronegócio e em Segurança do Trabalho e Gestão Estratégica pela FACUMINAS.

2ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4325-0443
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