REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7677647
Edna Costa Oliveira dos Santos1
RESUMO
A pandemia do SARS-Cov-2 instaurou no Brasil, como medida preventiva, o modelo não-presencial de ensino cuja aplicação variou de acordo com o contexto socioeconômico dos estados, oscilando entre encontros online e entrega de atividades impressas. No Maranhão, onde quase a metade da população vive em zona rural, muitas vezes privada do acesso à internet, adotou-se em alguns municípios o formato impresso. Há um enorme vão entre a qualidade educativa das áreas urbanas e rurais. A exemplo dessa realidade há o município de Pedro do Rosário, cuja metade de sua população é campesina. Com foco nos alunos de 1° ao 5° da zona rural pedrosoriense, o presente artigo tem por objetivo analisar os impactos causados pelo afastamento entre educadores e educandos através de uma pesquisa realizada em uma das escolas no interior do município, que serviu como recorte do que se estende por todas as outras instituições educacionais externas à zona urbana.
Palavras-chave: Pandemia. Ensino-aprendizagem. Zona rural.
ABSTRACT
The SARS-Cov-2 pandemic introduced in Brazil, as a preventive measure, the non-presence teaching model, whose application varied according to the socioeconomic context of the states, oscillating between online meetings and delivery of printed activities. In Maranhão, where almost half the population lives in rural areas, usually deprived of internet access, the printed format was adopted in some municipalities. There is a huge gap between the educational quality of urban and rural areas. An example of this reality is the municipality of Pedro do Rosário, where half of the population is rural. Focusing on the students from 1sto 5th grades in rural Pedro do Rosário, this article aims to analyze the impacts caused by the distance between educators and students through a survey conducted in one of the schools in the interior of the municipality, which served as a clipping of what extends to all other educational institutions outside the urban area.
Keywords: Pandemic. Teaching-learning. Countryside.
1. INTRODUÇÃO
Através dos atuais baixíssimos índices de alfabetização e outros indicadores negativos os quais perpassam as séries iniciais do Ensino Fundamental, a pandemia do covid-19 trouxe a lume a fragilidade do sistema educacional brasileiro, principalmente em áreas rurais, onde o acesso à internet e aos recursos básicos de ensino remoto são extremamente limitados, e, quando disponíveis, raramente capazes de atender às necessidades dos professores e educandos. Na vanguarda dos estados com maior percentual rural, está o Maranhão, onde apenas 60% de sua população vive em zonas urbanas.
Tendo em vista que as zonas rurais são as mais vulneráveis aos impactos epidêmicos, no que diz respeito à educação, quando o distanciamento se transforma na melhor estratégia de controle do vírus, isso significa que, mais ou menos, 40% do Maranhão possivelmente não possui recursos necessários para satisfazer as metas pedagógicas. Encontra-se nesse número a extensão rural do município de Pedro do Rosário, foco do presente artigo, onde as suturas superficiais, empregadas para disfarçar uma ferida profunda, não suportaram a turbulência do apartamento educacional e expuseram a infeliz realidade dos estudantes das séries iniciais do Ensino Fundamental.
Faz-se necessário abordar os prejuízos trazidos pelo afastamento dos docentes e dos alunos, a fim de analisar quão frágeis são as bandagens que mascaram os incontáveis problemas enfrentados diariamente pelos alunos das zonas rurais no que diz respeito ao acesso à educação e que se romperam com o avanço da pandemia e o distanciamento social, além de enfatizar a importância do docente para essa fase da aprendizagem.
2. O ENSINO FUNDAMENTAL DA ZONA RURAL PEDRO-ROSARIENSE EM UM CENÁRIO PANDÊMICO
Em todo território nacional, durante a pandemia do SARS-CoV-2, fez-se necessário a substituição do modelo de ensino presencial pelo remoto, visando respeitar as medidas preventivas e o distanciamento social, que no início da pandemia era a maneira mais efetiva de prevenção contra o vírus.
A fim de dar continuidade ao ano letivo, todas as unidades federativas viram-se forçadas a se reinventar para caber nessa nova realidade. Nesse processo, as típicas salas lotadas foram convertidas em salas online, a lousa agora era o slide, e as atividades não mais eram apenas um instrumento avaliativo, eram as presenças, o professor, o conteúdo a ser estudado, a recuperação, o livro e a interação; e para o professor, era o próprio aluno, transcrito em algumas atividades com respostas que pudessem ou não ser retiradas da rede. Tudo baseado em um modelo de educação já existente, a EAD. No interior do município de Pedro do Rosário, a situação era ainda mais precária.
Se o mundo da educação remota é basicamente virtual, como oferecê-la a uma comunidade a qual carece de recursos para acessá-la? De acordo com dados de Oliveira (2019), 48% dos lares rurais não contam com internet, e não há garantia que os outros 52% usufruam de uma rede de desempenho satisfatório para as funções básicas, como não travar durante uma videoconferência; além do mais, esses são números gerais, não são necessariamente lares com alunos em época de alfabetização, tampouco refletem com exatidão o cenário maranhense, ou Pedrosoriense, onde muitos alunos sequer contam com aparelho celular e, salvo a internet da escola — as que usufruem desse recurso —, os pontos de rede móvel são extremamente escassos. Tendo em vista isso, o encontro através de telas era inviável, para alguns, até mesmo uma troca de mensagens de texto era impossível.
Majoritariamente, a educação da Zona rural de Pedro do Rosário apegou-se às atividades impressas, como eram as antigas EADs.
Para o Ensino Médio e Fundamental maior, embora o impacto fosse significativo e sem dúvidas assustador, a garantia de que ao menos os alunos tivessem o mínimo de maturidade em relação a importância dos estudos, soubessem ler e escrever, além de dominarem as operações básicas e terem uma maior capacidade de concentração, amenizava a insegurança com relação ao aproveitamento estudantil nos anos de 2020 a 2021.
Se faltasse material impresso, os professores logo desembolsar certa quantia para garantir a entrega das atividades; criou-se algumas estratégias, como a Consulta Pedagógica; focou-se no fundamental a ser ensinado, e o que era importante de ser aprendido, tudo para garantir que ao menos o mínimo fosse absorvido pelo aluno, pois os baixos indicadores já eram esperados, bastava lutar para que não fossem tão alarmantes.
A Educação Infantil e o Fundamental menor, no entanto, ficaram à mercê das circunstâncias e exclusivamente da participação familiar. No que diz respeito a essa etapa da Educação Básica de forma assíncrona, o problema começa com o perfil do aluno: crianças pequenas, incapazes de compreender com totalidade o peso do estudo — e mais ainda da alfabetização —, facilmente distraídas e em época de aprender as primeiras letras, números e sílabas, constantemente privadas de estímulos significativos para o desenvolvimento de habilidades básicas esperadas para sua idade, além de, muitas vezes, estarem inseridas em lares que necessitem, e usem, sua mão de obra, afastando-as das atividades escolares e promovendo a evasão.
A responsabilidade recaiu sobre a família, a segunda instituição encarregada constitucionalmente de educar os indivíduos em formação; no entanto, ensinar operações básicas, conceitos históricos, geográficos, e acima de tudo, leitura, não requer apenas o domínio dessas áreas de conhecimento, isso é o mínimo, apenas a ponta do Iceberg, didática e preparação são ferramentas reais e fundamentais no ensino desses conteúdos. A criança precisa de interação, e de um professor presente para garantir que ela tenha esses estímulos.
Fato: a alfabetização a distância, ainda mais em zonas rurais, é um desafio extremo, pois além de recursos reduzidos, insuficientes, a falta de didática dos responsáveis restringe o aproveitamento da criança em relação aos conteúdos abordados. Descartados os encontros através de telas, percebeu-se que pelo menos um encontro presencial era necessário, ainda que tivesse, o aprendizado em dois ou três dias era devorado pelos dias restantes. Lidar com ensino fundamental a distância era mais difícil do que parece.
Numa pesquisa realizada nas escolas do povoado Timbiras, muitos profissionais de educação apontaram, além da falta de recursos, o pouco ou nenhum comprometimento das famílias com as atividades remotas.
3. O ENSINO FUNDAMENTAL NA ZONA RURAL PEDRO-ROSARIENSE NUM CENÁRIO PÓS-PANDÊMICO;
Após dois anos de ensino remoto, as portas da escola se abriram para receber seus alunos, muitos eram rostos, personalidades, e histórias, desconhecidos, outros, os que não evadiram, velhos estudantes desacostumados ao ambiente escolar.
Toda a abordagem agora precisa ser remodelada para atender as necessidades de crianças alheias ao valor da escola, despreparadas, com dificuldades de comunicação e que precisem urgentemente de estratégias para acompanhar os conteúdos programados para sua etapa, ainda que seu cérebro ainda esteja em processo de assimilar as primeiras.
Tudo mudou. O professor agora precisa lidar com vários alunos, voltar a se adaptar às suas particularidades. Alguns alunos são de comunidades distantes,
4. UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO ENSINO REMOTO EM PREDRO DO ROSÁRIO
Devido ao aumento nos números de casos do SARS-Cov-2, os estados e municípios de todo o território brasileiro criaram medidas de prevenção do vírus. Tendo em vista que a pandemia é provocada pela transmissão rápida e desordenada de uma cepa viral dentro de uma comunidade, os fatores de aglomeração e relações interpessoais contribuem imensuravelmente para o agravamento do número de incidências da doença, segundo Varella (2021), em “quase dois anos de pandemia já nos ensinaram que o coronavírus se transmite com mais facilidade em lugares fechados e mal ventilados.
Com o surgimento dessa necessidade, muitas instituições que reuniam um número expressivo de pessoas foram fechadas em razão da Lei nº 13. 979, de 6 de fevereiro de 2020, que prevê no Art. 3º as medidas de enfrentamento para conter o avanço do vírus. A partir de divulgação da referida lei, muitos estados e municípios também aderiram às determinações federais, criando seus próprios decretos.
No Maranhão, publicou-se o decreto nº 36.531, de 03 de março de 2021, onde foram apresentadas medidas de contenção baseadas no isolamento social de quarenta. Como qualquer setor social, a escola conta com uma estrutura propícia a aglomeração e relações interpessoais; salas de aulas fechadas e com pouca ventilação, onde o principal instrumento de trabalho dos profissionais que nela atuam é a fala.
Em um cenário pandêmico, as escolas são vistas como instituições chaves para a disseminação da doença. Por esse motivo, o decreto nº 36.531, de 03 de março de 2021, publicado no Diário Oficial do Poder Executivo, no Capítulo V, Art. 8º, determina temporariamente “a suspensão […] das aulas presenciais nas escolas e instituições de ensino superior, bem como das instituições educacionais de idiomas, de educação complementar e similares localizadas no Estado do Maranhão, das redes estadual, municipais e privadas.” (MARANHÃO, 2021).
No entanto, visando o aproveitamento escolar dos alunos de todo o território brasileiro, o Ministério de Educação, por meio da homologação do parecer do Conselho Pleno de Desenvolvimento Nacional da Educação – CP/CNE, afirma que:
As atividades pedagógicas não presenciais (…) poderão ser utilizadas em caráter excepcional, para integralização da carga horária das atividades pedagógicas” quando houver “suspensão das atividades letivas presenciais por determinação das autoridades locais” e “condições sanitárias locais que tragam riscos à segurança”. (MEC, 2020, apud., SILVA)
A decisão do Ministério da Educação, comunga com as formas alternativas de ensino previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), que diz: “O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais”, Art. 32, parágrafo 4º da LDBEN/96.
No entanto, o ensino remoto regulamentado para fins de aproveitamento escolar trouxe à tona inúmeros problemas, alguns esquecidos nas pautas administrativas, que colaboraram para o baixo índice de desenvolvimento do alunado maranhense. Com base nessa perspectiva, destacam-se a falta de estrutura e os poucos recursos tecnológicos como dificuldades contribuintes para o insucesso do ensino remoto. Evidencia-se essa realidade no parecer Silva e Silva (2020, p. 2 – 3):
Nas escolas públicas, a presença de tecnologias ainda é uma realidade pouco presente […] Além da falta de infraestrutura das próprias escolas, ainda é necessário destacar que grande parte dos alunos do nosso país não possuem acesso à internet e computador em casa, em muitos casos, nem mesmo celulares que lhes permita o acesso.
Durante a pandemia, muitos estudantes enfrentam dificuldades para realizar as atividades remotas, uma vez que não possuíam instrumentos tecnológicos de qualidade que lhes permitisse um bom aproveitamento dos estudos. Como citado anteriormente, o Maranhão é um estado que conta com expressiva quantidade de estudantes campesinos, isto é, alunos da zona rural. Sabe-se que a distribuição tecnológica nos estados brasileiros é desigual, uma vez que leva em consideração fatores como: densidade demográfica e renda.
Evidentemente, áreas pouco povoadas receberão menos investimento que os grandes centros urbanos. A partir daí surge a problemática, uma vez que, embora não seja ofertada tecnologia de qualidade para os moradores campesinos, há escolas que necessitam de recursos digitais, e profissionais desesperados para utilizar em sala de aula as práticas pedagógicas contemporâneas.
E dentro desse contexto de desigualdade, encontram-se as escolas da zona rural. Estudos apontam que,das mais de 180 mil escolas brasileiras, 55 mil estão na zona rural, segundo o Censo Escolar de 2019. Nessas áreas, 48% dos domicílios não possuem acesso à internet […]” (MATUOKA, 2021). Já no âmbito estadual, pesquisas revelam que “no Maranhão, quase 40% da população vive em áreas rurais e a maioria das escolas do campo não têm acesso à internet” (IBGE, 2010).
Tendo em vista que as instituições de ensino localizadas na zona rural não apresentam tecnologia adequada para o desenvolvimento dos alunos, também é possível afirmar que no cenário pandêmico esses estudantes não foram inseridos de maneira adequada no processo de ensino-aprendizagem. Dentro dessa realidade, encontra-se o município de Pedro do Rosário, escolhido como objeto de pesquisa do referido tema.
O município de Pedro do Rosário está situado na Baixada Maranhense, termo utilizado para designar um conjunto de cidades com características em comum (SEMATUR, 1991, apud., MACHADO, 2016). Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município conta com aproximadamente 22.732 habitantes, dos quais 25,92% residem na zona urbana, enquanto os outros 74,08% ocupam a zona rural. Daí surge a importância de investigar como estão sendo aplicadas as políticas públicas na área que abrange mais da metade da população pedrosseriense, principalmente no que se refere à educação.
Com base na pesquisa desenvolvida pelo Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC, 2010) no âmbito da escolaridade, o município atingiu os seguintes níveis: Educação Infantil, creche e pré-escola (23,21%); Educação de Jovens e Adultos (7,16%); Ensino Fundamental, 1º ao 9º ano (61,33%); Ensino Médio, 1º ao 3º ano (8,29%), totalizando 98,1% de escolarização (IBGE, 2010).
5. METODOLOGIA
Visando praticidade, a pesquisa foi realizada mediante um questionário online produzido na plataforma Google Forms e enviado aos participantes por meio do aplicativo de conversação Whatsapp. O questionário contou com onze perguntas, no entanto, foram apresentadas apenas cinco; as demais foram utilizadas para nortear a investigação teórica deste artigo. Foram entrevistados os professores do 1º ao 5º ano da escola em estudo, totalizando quatro profissionais. A pesquisa, tem como base o modelo qualitativo, onde serão analisadas questões dentro de um contexto social e suas inferências nos resultados obtidos.
6. OBJETO DE PESQUISA
A cidade conta com 86 escolas, das quais: 5 encontram-se na zona urbana, e 81 na zona rural. Em termos, 5,8% das escolas de Pedro do Rosário estão localizadas na sede, enquanto 94% situam-se no campo. Dentro desses números está o lócus da presente pesquisa; uma escola endereçada na zona rural, que oferta o Ensino Fundamental de 1º ao 5º ano, e que nos tempos da pandemia enfrentou inúmeras adversidades para concretizar o ensino remoto. A escola, devido ao quantitativo de alunos, apresenta turmas multisseriadas no Ensino Fundamental Anos Iniciais, mais um desafio para os profissionais que atuam nessa localidade.
A escola conta com 81 alunos dos quais apenas 23 possuem acesso à internet rural. Dentro dessa perspectiva, entende-se que as práticas pedagógicas durante a pandemia nessa instituição de ensino deram-se através de atividades impressas, uma vez que nem todos tinham acesso às formas digitais de aprendizagem. Os educandos recebiam um envelope com quinze atividades xerocopiadas, as quais deveriam ser entregues em duas semanas para logo em seguida receber outras tantas. Esse método estendeu-se até o mês de setembro de 2021.
7. RESULTADOS: O IMPACTO DA PANDEMIA NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DOS ALUNOS DO 1º AO 5º ANO EM ESCOLAS DA ZONA RURAL DE PEDRO DO ROSÁRIO
A análise dos resultados está dividida em duas partes, primeiramente se observará as questões referentes ao impacto da pandemia no processo-ensino aprendizagem dos alunos do 1º ao 5º ano em escolas da zona rural no município de Pedro do Rosário; em seguida será abordado o assunto” impacto da pandemia na prática pedagógica dos educadores campesinos de Pedro do Rosário”, atuantes da escola em que ocorreu a pesquisa,
É importante compreender que esses dois fatores estão intimamente ligados, uma vez que para minimizar a defasagem causada pelos dois anos de educação remota, os professores precisaram renovar seus métodos de ensino. Não foi somente a criança quem mudou, os docentes também enfrentaram a temida metamorfose, ressignificando tudo aquilo que presenciaram durante as atividades EADs.
Quadro: Respostas do questionário
ENTREVISTADOS | De que forma a pandemia afetou a aprendizagem dos alunos? |
Professor 1 | “De forma significativa. Como se esses alunos do 1º ano nunca tivessem tido contato com os conteúdos trabalhados de forma remota. No caso do 1º ano, esse impacto foi mais forte, visto que não se apropriaram do sistema alfabético e numérico, nem sequer desenvolveram a coordenação motora.” |
Professor 2 | “Afetou muitíssimo, pois como foi citado anteriormente nem todos concluíram com êxito as atividades enviadas para casa, pois muitos pais não dominavam o conteúdo abordado e isso refletiu na aprendizagem negativamente.” |
Professor 3 | “De forma desastrosa. Porque a maioria dos alunos não tinha acesso aos meios tecnológicos e o afastamento dos alunos da escola aumentou as dificuldades que eles já apresentavam”. |
Professor 4 | “Em todas, atividades remotas sem um professor para acompanhar ou um pai que ajude seu filho o aprendizado não é o mesmo.” |
Fonte: Elaborado pela autora.
Este primeiro tópico reflete a realidade de muitos alunos da zona rural, não somente na comunidade alvo, mas em todo território maranhense. Ao serem questionados sobre a aprendizagem dos alunos após a pandemia, os professores enfatizaram que muitos deles pareciam desprovidos de conhecimentos adquiridos em séries anteriores, isso devido às circunstâncias de inconclusão das atividades remotas e da falta de acompanhamento familiar.
Segundo Moreira e Silva (2015, apud., ROGÉRIO, 2020), “[…] o nível de escolaridade dos pais influencia na formação educacional dos filhos de forma constante […] dependendo da estrutura da família, ela terá ou não disponibilidade para exercer seu papel de educadora na vida do filho”. Isso explica porque muitas atividades voltavam em branco para as mãos dos professores. Quando os pais não apresentam o nível de escolaridade exigida para a resolução de determinada tarefa, e sendo eles os únicos orientadores dentro do convívio social da criança de 1º a 5º ano, o aluno deixa de aprender. Isso não quer dizer que o sucesso na aprendizagem do estudante depende única e exclusivamente do nível de escolaridade de sua família, no entanto, é fator importante dentro do ensino remoto.
No segundo quadro, abordar-se-á os transtornos causados pelo déficit de aprendizagem gerado pela pandemia e como o professor tem gerenciado essa problemática.
Quadro: Respostas do questionário
ENTREVISTADOS | Como você tem lidado com o déficit de aprendizagem gerado pela pandemia? |
Professor 1 | “Com muito empenho e cautela, seleciona cuidadosamente os componentes curriculares e conteúdos mais necessários para esse primeiro momento de retomada. Além de utilizar meios mais dinâmicos e eficientes para desenvolver esses conteúdos.” |
Professor 2 | “Tentando compensar com conteúdos um pouco mais brandos, mesmo que um pouco abaixo do ano cursado.” |
Professor 3 | “Estou comprometido em sanar esses déficits.” |
Professor 4 | “Buscando formas de melhorar os déficits com projetos que busquem recuperar os tempos de pandemia.” |
Fonte: Elaborado pela autora.
Muitos alunos da zona rural não foram devidamente alfabetizados, alguns sequer conseguiram desenvolver as competências básicas de sua idade, tampouco absorveram os conteúdos previstos para a série cursada. Todavia, a demanda de alunos, sempre fluída, não para; esse aluno, preparado ou não, precisar avançar de série e ceder o espaço para outro estudante possivelmente não-preparado que também precisou avançar de etapa, o ciclo não tem a opção de desacelerar ou simplesmente parar.
8. RESULTADOS: O IMPACTO DA PANDEMIA NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS EDUCADORES CAMPESINOS DE PEDRO DO ROSÁRIO
Neste segundo tópico de resultados, abordar-se-á o subtema “práticas pedagógicas”, onde serão feitas reflexões acerca da remodelagem dos métodos de ensino, forjada pela necessidade de se adaptar às condições de aprendizagem dos educandos.
Quadro: Respostas do questionário
ENTREVISTADOS | Quais foram as ferramentas de trabalho mais utilizadas durante a pandemia? |
Professor 1 | Atividades xerocopiadas e livros didáticos |
Professor 2 | Notebook, celular e impressora |
Professor 3 | Material impresso |
Professor 4 | Apostilas |
Fonte: Elaborado pela autora.
Muito se foi discutido sobre os métodos de ensino no tempo remoto. Com base nas investigações de Matuoka (2021), “a falta de acesso à internet das famílias pode se somar às dificuldades de locomoção para entrega ou retirada de atividades impressas e para promover a busca ativa2 uma vez que muitos desses estudantes moram a centenas de quilômetros da instituição de ensino.” Por esse motivo, os profissionais da referida unidade de ensino, decidiram utilizar diferentes métodos para amenizar o impacto da falta de estrutura da escola na oferta do ensino remoto.
No quadro subsequente, foram listados alguns empecilhos encontrados pelos docentes da escola em estudo que, num contexto mais amplo, também foram sentidos por uma parcela dos professores da Baixada Maranhense.
Quadro: Respostas do questionário
ENTREVISTADOS | Quais situações adversas você encontrou ao ministrar o ensino remoto? |
Professor 1 | “Falta de recursos e incapacidade da família.” |
Professor 2 | “Primeiro a falta de tecnologias apropriadas para o desenvolvimento das atividades, pois as instituições responsáveis ofereciam pouco ou nenhum suporte ao professor que teve que contar com recursos próprios ou de terceiros para aplicá-las. Outra situação foi a falta de compromisso de algumas famílias com o acompanhamento dos filhos nas atividades.” |
Professor 3 | “Pais descompromissados com a educação dos filhos.” |
Professor 4 | “A falta de recursos adequados para preparar essas atividades. Uma vez que na escola não tinha materiais, e o professor que em alguns casos tinha que pagar para obtê-los” |
Fonte: Elaborado pela autora.
As respostas dos educadores confirmam o que já foi descrito até aqui. A falta de estrutura, em se tratando de recursos tecnológicos, tais como internet, impressoras e notebooks, contribuiu sobremaneira para o atraso na aprendizagem dos alunos, uma vez que sem esses instrumentos o ensino tornou-se abstrato, sem consultas com professores ou recursos midiáticos. Isso não significa dizer que o aluno necessita sempre de acompanhamento para aprender, ele pode interpretar e absorver os conhecimentos de maneira autônoma, no entanto, o estudo autodidata só é possível quando o aluno já domina o sistema alfabético. No caso dos alunos do 1º e 2º ano, que estão em fase de alfabetização, faz-se necessária a participação de um professor nesse processo.
Com base nessa perspectiva, observa-se também que as práticas pedagógicas sofreram demasiada alteração, isso porque os professores buscaram adaptar suas metodologias à forma que o aluno pós-pandêmico regressou à escola. O seguinte quadro retrata essa situação:
Quadro: Respostas do questionário
ENTREVISTADOS | De que maneira a pandemia afetou suas práticas pedagógicas? |
Professor 1 | “Tivemos que nos adaptar a um novo modelo de aluno, alguns inibidos demais, outros eufóricos de mais, desprovidos de noções básicas de convivência social e principalmente adotar novas práticas pedagógicas para atender esse nosso alunado. Uma vez que os alunos do primeiro ano eram seu primeiro ano letivo dentro de uma escola.” |
Professor 2 | “Tive que me adaptar à nova modalidade de ensinar e reavaliar o método de avaliação utilizado para poder compreender a dimensão do aprendizado dos discentes no momento pandêmico.” |
Professor 3 | “Me levou a pensar nas minhas pedagogias, desenvolver novas para que os alunos tenham novas experiências inovadoras de aprendizagem.” |
Professor 4 | “O acompanhamento dos alunos no processo ensino aprendizagem foi o que mais afetou.” |
Fonte: Elaborado pela autora.
Os vestígios da pandemia percorrem todo o prédio escolar, e sua manifestação é através dos assentos vazios, choros constantes, das mãos desordenadas, do medo de interação, do notório atraso em relação aos conteúdos próprios a série, do retardo da fala e, muitas vezes, no vocabulário limitado, este moldado e voltado para as atividades básicas, cotidianas, não necessariamente o idealizado para a idade. Esse tipo de comportamento levou os professores da unidade de ensino a repensarem suas práticas pedagógicas, a maneira que estão abordando esse aluno, bem como se atentarem às novas formas que ele aprende.
As metodologias utilizadas antes da pandemia já não surtem efeito, as crianças do 1º ao 5º ano exigem dos professores, inconscientemente, parâmetros didáticos, atividades lúdicas e de grande valor atrativo. Metade dessas crianças só conseguem se concentrar na aula quando o professor utiliza algum material semiótico, isso acontece por causa das corridas horas em que ele passava sentado de frente para um televisor. Hoje os docentes precisam renovar suas práticas e adaptá-las com base nas necessidades dos alunos.
Já a última questão refere-se às mudanças sofridas pelos alunos, mas que impactam o trabalho do professor. As respostas deste quadro dão sustentação ao que dispôs Santos (2019, p.5, apud., SILVA, SANTOS e PAULA) em seus estudos: “como educadores precisamos acreditar em mudanças de hábitos, no âmbito de nossa prática docente, para tentar abrir espaços que possibilitem a reconstrução da sociedade. Carecemos de buscar no desenvolvimento de uma ética de responsabilidade social, ações que visem o bem coletivo”.
Quadro: Respostas do questionário
ENTREVISTADOS | O que mudou no processo ensino-aprendizagem no cenário pós-pandêmico? |
Professor 1 | “Exige-se mais do professor pois as dificuldades de aprendizagem são imensas.” |
Professor 2 | “Ficamos com mais um mecanismo de trabalho que são as atividades remotas.” |
Professor 3 | “Os alunos estão menos interessados com as aulas e com muita dificuldade de assimilar os conteúdos.” |
Professor 4 | “A falta de acompanhamento do professor durante a pandemia retardou o desempenho do aluno levando o professor a começar do zero.” |
Fonte: Elaborado pela autora.
A escola do povoado de Timbiras adaptou-se às mudanças geradas pela pandemia, em cada sala de aula, percebe-se o empenho dos profissionais em ensinar os alunos de uma forma que eles venham aprender, através de recursos didáticos, explicações leves e de fácil entendimento, além da manipulação de instrumentos midiáticos, tais como vídeos, músicas e até mesmo slides.
Os docentes da referida escola, reinventaram suas práticas em busca de melhores resultados, tanto para o comportamento hiperativo dos alunos, quanto para a defasagem de conteúdo adequado à série. As práticas pedagógicas precisam acompanhar as mudanças que ocorrem fora de sala de aula. Dessa forma serão obtidos bons resultados e o impacto causado pela pandemia será subtraído.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Mediante os resultados obtidos na pesquisa, pode-se inferir que a pandemia do coronavírus modificou por completo a estrutura do ensino ofertado nas escolas, principalmente na zona rural. Concluiu-se que a falta de recursos somada ao parco acompanhamento dos pais e responsáveis por alunos colaborou sobremaneira para os baixos índices de aproveitamento escolar, no que se refere às notas e principalmente ao conhecimento adquirido.
A ausência do professor no processo ensino-aprendizagem dos alunos reflete negativamente nas séries posteriores, onde se encontram alunos desatentos, eufóricos, irreverentes e com o saber desproporcional à turma em que estão lotados. Esse tipo de educação interfere nas atividades do professor, pois exige mais de uma metodologia. Dessa forma, evidencia-se aqui a importância da renovação das práticas pedagógicas para reverter o atual cenário em que os educandos da zona rural estão inseridos, somente assim os impactos da pandemia sobre as instituições de ensino serão reduzidos.
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. LDBE – Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Casa civil. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm > Acessado em: 20 de set. 2022.
BRASIL. Lei nº 13. 979, 06 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Diário Oficial da União. Disponível em: < https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-13.979-de-6-de-fevereiro-de-2020-242078735 > Acessado em: 20 de set. 2022.
DRAUZIO, Varella. Transmissão da Covid. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/transmissao-da-covid-artigo/#:~:text=outubro%20de%202021-. Acesso em: 21 de set. de 2022.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Panorama de população e educação. Pedro do Rosário. 2010.
IMESC – Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos. Relatório diagnóstico do município de Pedro do Rosário. Piauí, 2011.
MACHADO, M. A; PINHEIRO, C. U. B; Da água doce à água salgada: mudanças na vegetação de igapó em margens de lagos, rios e canais no baixo curso do rio Pindaré, Baixada Maranhense. Revista Brasileira de Geografia Física. v.09, n.05, 2016.
MARANHÃO. Decreto Nº 36.531, 03 de março de 2021. Suspende a autorização para realização de reuniões e eventos em geral, para aulas presenciais em instituições de ensino, dispõe sobre o funcionamento de atividades comerciais na Ilha de São Luís, sobre o funcionamento do Poder Executivo Estadual, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado do Maranhão. Disponível em: < https://www.saude.ma.gov.br/wp-content/uploads/2021/03/DECRETO-No-36.531-DE-03-DE-MARCO-DE-2021..pdf> Acessado em: 20 de set. 2022.
MATUOKA, Ingrid. Um retrato dos desafios da Educação do Campo no contexto da pandemia. Disponível em: < https://educacaointegral.org.br/reportagens/um-retrato-dos-desafios-da-educacao-do-campo-no-contexto-da-pandemia/ >. Acessado em: 21 de set. 2022.
MOREIRA, Antônio Domingos; BICALHO, Ramofly. Educação do campo em tempos de pandemia no município de Riacho de Santana. Roteiro. Joaçaba, v. 47. n.1. p.4. 2021.
OLIVEIRA, Elida. 43% das escolas rurais não tem internet por falta de estrutura na região, diz pesquisa. Disponível em: < https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/07/18/43percent-das-escolas-rurais-nao-tem-internet-por-falta-de-estrutura-na-regiao-diz-pesquisa.ghtml>. Acessado em: 20 de set. 2022.
ROGÉRIO, Francisca Janaide Torres. Acompanhamento familiar das atividades escolares de crianças durante a pandemia de Covid-19 sob a representação de docentes. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) – Universidade Federal de Campina Grande, Cajazeiras, Paraíba, 2020.
SILVA, Maria José Sousa da; SILVA, Raniele Marques da. Educação e Ensino Remoto em tempos de pandemia: desafios e desencontros. CONEDU, Campina Grande, v.3. n.1, p. 2-3, 2021.
SILVA, Luciene Rocha; SANTOS, Arlete Ramos dos; LIMA, Davi Amâncio. Os desafios do ensino remoto na Educação do Campo. Revista de Políticas Públicas e Gestão Educacional (POLIGES). Itapetinga, v.1. n.1. 2020.
SOUZA, Everton. Escolas do campo e o ensino remoto: vozes docentes nas mídias digitais. Revista Cocar. Belém, Pará, v.14. n. 30. 2020.
SILVA, Vitória. MEC autoriza ensino remoto no país até o fim da pandemia. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2020/12/4894173-mec-autoriza-ensino-remoto-no-pais-ate-o-fim-da-pandemia.html. Acessado em: 20 de set. 2022.
2A iniciativa Busca Ativa Escolar é uma solução tecnológica e uma metodologia inovadora por meio da qual o UNICEF, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (CONGEMAS) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) apoiam os municípios na identificação das crianças e dos adolescentes que estão fora da escola, ajudando-os a voltar às salas de aula, permanecer e aprender. (UNICEF, 2018).
1Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, e especializada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano – IESF.