A CONTEMPORANEIDADE E A CULTURA DIGITAL: A IN/EXCLUSÃO DE CRIANÇAS E JOVENS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7590334


Augusto Russini1


Resumo

Este artigo tem por objetivo refletir sobre a in/exclusão de crianças e jovens no contexto da cultura digital. O estudo contempla dois momentos: primeiramente, uma discussão sobre a sociedade contemporânea e a emergência da cultura digital; na sequência os processos de in/exclusão de crianças e jovens na cultura digital. A metodologia é de abordagem qualitativa do tipo bibliográfica, para tanto o referencial teórico é composto por autores que discutem a sociedade contemporânea, a emergência da cultura digital, as conceituações sobre crianças e jovens e os processos de in/exclusão. A partir das reflexões é possível identificar um discurso midiático que vincula as crianças e os jovens como partícipes da cultura digital, consumindo e usufruindo das potencialidades dos artefatos tecnológicos digitais com pleno acesso à internet. Contudo, estes discursos, desconsideram certas realidades sociais, econômicas, regionais e culturais vivenciadas por crianças e jovens proliferando processos de in/exclusão que os silenciam.  

Palavras-chave: Tecnologias. Cultura Digital. Crianças e jovens. In/exclusão.  

Abstract

This article aims to reflect on the in/exclusion of children and young people in the context of digital culture. The study contemplates two moments: first, a discussion about contemporary society and the emergence of digital culture; then the processes of in/exclusion of children and young people in digital culture. The methodology is a qualitative bibliographical approach, therefore the theoretical framework is composed of authors who discuss contemporary society, the emergence of digital culture, concepts about children and young people and processes of in/exclusion. From the reflections it is possible to identify a media discourse that links children and young people as participants in digital culture, consuming and enjoying the potential of digital technological artifacts with full access to the internet. However, these discourses disregard certain social, economic, regional and cultural realities experienced by children and young people, proliferating processes of in/exclusion that silence them.

Keywords: Technologies. Digital Culture. Children and youth. In/exclusion.

Introdução

A “sociedade de consumidores”, em outras palavras, representa o tipo de sociedade que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumista, e rejeita todas as opções culturais alternativas. Uma sociedade em que se adaptar aos preceitos da cultura de consumo e segui-los estritamente é, para todos os fins e propósitos práticos, a única escolha aprovada de maneira incondicional. Uma escolha viável e, portanto, plausível – e uma condição de aflição (BAUMAN, 2008, p. 71). 

Na obra Vida para o consumo, Zygmunt Bauman (2008) apresenta a importância do consumo para a sociedade contemporânea. O consumismo constitui-se como uma rede que envolve os sujeitos contemporâneos, em especial as crianças e jovens, obrigando-as a participar de maneira entusiasmada na aquisição de novos produtos, principalmente tecnológicos, para serem aceitos em seus grupos de convívio social, sejam amigos, colegas de escola ou familiares. 

Para atender a essas expectativas do mercado, naturalizou-se segundo Bortolazzo (2018, p. 28), uma variedade de expressões que vinculam crianças e jovens as tecnologias como “geração digital, geração Facebook, Nativos Digitais, Geração Y, Z, Geração Google, e assim por diante”. Inegavelmente as crianças e os jovens apresentam uma aproximação com os artefatos digitais desde seus primeiros dias de vida como smartphones, tablets, smart tvs, games, entre outros dispositivos que proporcionam transformações culturais e pedagógicas.     

A presença dos artefatos tecnológicos digitais na vida das crianças e jovens é um fato consumado. Paralelamente, concretizou-se um discurso consumista, midiático e cultural em que a sociedade contemporânea está inserida em sua totalidade na Cultura Digital. Contudo, é possível afirmar que todas as crianças e jovens estão inseridas na cultura digital? A partir desse questionamento, buscar-se-á refletir sobre a sociedade nos dias atuais e os processos de in/exclusão de crianças e jovens na cultura digital. O presente estudo está vinculado ao campo teórico dos Estudos Culturais em Educação, de caráter qualitativo sendo constituído de pesquisas bibliográficas em meio impresso e digital. 

A CONTEMPORANEIDADE E A CULTURA DIGITAL 

David Harvey, em seu livro A condição Pós-moderna (1992) defende, em um dos seus argumentos, de que a pós-modernidade remonta aos primeiros anos da década de 1970 devido às inéditas maneiras de experimentar o tempo e o espaço engendrados em novas formas de acumulação capitalista, que produziram profundas transformações sociais, as quais desencadeiam-se nas formas pelas quais a sociedade contemporânea se estrutura. 

De maneira mais precisa, a partir dos anos 1970, acentuaram-se as transformações tecnológicas, políticas, culturais, sociais e econômicas que permitiram emergir uma nova configuração social, mais dinâmica e, como sinaliza Bauman (2001), marcada pela liquidez e pela fluidez. Esse contexto social para Giddens (1991, p. 9), é decorrente das alterações constituídas ao longo da modernidade que “estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes”. 

A modernidade está alicerçada no distanciamento das concepções medievais onde o poder político e econômico estava centralizado nas mãos de Igreja e da nobreza (ROSSATO, 2001).  Assim, a modernidade reestruturou a vida em sociedade em amplos aspectos: do científico, do cultural, do político ao econômico promovendo, segundo Giddens (1991, p. 24), o “desencaixe dos sistemas sociais”. Esses desencaixes estão relacionados sobretudo com as novas concepções de tempo e espaço (nas sociedades pré-modernas, tempo e espaço coincidiam devido às dimensões espaciais serem pautadas pela presença e pelas atividades localizadas) que conectam o local e o global ressignificando a vida social (GIDDENS, 1991).

A modernidade, foi marcada também por avanços tecnológicos sendo arquitetada na racionalidade e no progresso e passa de certa forma a enfrentar as consequências desse “desenvolvimento”. Os “desencaixes” entre a modernidade e as sociedades contemporâneas acentuaram-se, reconfigurando as relações sociais. A partir dessa premissa, afloram novos comportamentos e compreensões de mundo que se distanciam da ideia de racionalidade e progresso, reestruturando a vida cotidiana em escala local e global. Longe de certezas e marcado por imprecisões, esse continuum de transformações passou a ser denominado de pós-modernidade.

Ao tentar descrever esse novo contexto Bauman (2001, p. 13-14), associa a modernidade à imagem dos “sólidos”, os quais na conjectura atual sofrem os: 

[…] “poderes do derretimento” da modernidade. Primeiro […] afetaram as instituições existentes, as molduras que circunscrevem o domínio das ações-escolhas possíveis […]. Configurações, constelações, padrões de dependência e interação, tudo isso foi posto a derreter no cadinho, para depois ser novamente moldado e refeito; essa foi a fase de “quebrar a forma” na história da modernidade inerentemente transgressiva, rompedora de fronteiras e capaz de tudo desmoronar. 

A contemporaneidade, portanto, distancia-se do mundo administrável, previsível e sólido da modernidade. Ao valer-se das metáforas da liquidez e fluidez Bauman (2001, p. 8), para caracterizar o tempo presente afirma que “os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade”. A “sociedade líquida” que Bauman (2001) descreve é marcada pela individualidade, pela conexão entre tempo e espaço, pela convivência com o diferente, pelo imediatismo, pela fragmentação das certezas e o consumismo. 

Na mesma linha de raciocínio de Bauman (2001) Barth (2007, p. 90), ao apresentar as características dos tempos atuais afirma que: 

[…] é um tempo de mudança, de crise, de morrer o tradicional, de abandonar o velho e abraçar o novo, de quebrar paradigmas e estabelecer novas formas de vida e valores. É tempo de ser diferente, de inventar diferenças e conviver pacificamente com o diferente. Do “ser do contra” passamos a “amar o contrário” e hoje, somos “neutros diante das diferenças”.

O tecido social que se apresenta na atualidade é marcado por rupturas em relação à modernidade instituindo ideologias e comportamentos. Nessa esteira, os sujeitos da pós-modernidade apresentam algumas características comuns, tais como: o materialismo (o reconhecimento está no ter, no possuir dinheiro e bens materiais); o hedonismo (a busca incessante pelo prazer); o permissivismo (todas as atitudes são válidas para buscar o prazer, sem haver a necessidade de questionamento); o relativismo (as subjetividades ganham terreno, pois as verdades são oscilantes); o niilismo (busca irrestrita pela liberdade); o pluralismo (ausência de padrões estabelecidos); e o consumismo (associado à liberdade que se restringe à multiplicação e substituição de produtos) (BARTH, 2006).   

O consumismo tornou-se parte substancial da vida na contemporânea, tanto que Bauman (2008, p. 19) utilizou a expressão “sociedade de consumidores” para explicar as relações sociais que se estabelecem. A lógica de consumo baseada na produtividade e na estabilidade foi ganhando, de forma intensa, novos contornos, a ponto de estruturar o consumismo como marca definitiva dos tempos atuais (BAUMAN, 2008). 

Para satisfazer o imediatismo e manter a capacidade de materializar os desejos em uma escala cada vez maior (lembrando que as oportunidades são vistas como únicas e que a felicidade é decorrente do potencial de consumo que possuímos), os sujeitos se submetem a longas jornadas de trabalho desencadeando estresse e fragilizando os relacionamentos, que se tornam em muitos casos efêmeros. Assim sendo, consumidores e produtos de consumo associados aos avanços tecnológicos paulatinamente vão transformando as pessoas em mercadorias (BAUMAN, 2008).

Nessa seara entre consumismo e os avanços tecnológicos, emerge a Cultura Digital. A diversidade de artefatos tecnológicos e digitais remetem a uma variedade inesgotável de possibilidades de consumo como vídeos (YouTube), redes sociais, séries, games, entre outros, sendo a maioria destes artefatos conectados à internet. Bortolazzo (2018, p. 35) salienta que “as tecnologias digitais não são coadjuvantes às questões culturais, mas elementos centrais e onipresentes”. 

A Cultura Digital para Bortolazzo (2018, p. 36), deve ser entendida como “um marcador cultural, uma vez que envolveria tanto os artefatos quanto os sistemas de significação e comunicação que demarcam e distinguem nosso modo de vida contemporâneo”. A Cultura Digital está integrada em nossas vidas gerando diferentes relações com a sociedade em que estamos inseridos cada vez mais global e sem fronteiras. 

O poder da comunicação não deve ser descartado nessa configuração da Cultura Digital. Kellner (2001), acrescenta que vivemos em um imperativo cultural da mídia, uma indústria que utiliza desde os meios tradicionais de comunicação em massa como rádio, televisão, jornais, revistas até a mídia mais avançada do ponto de vista tecnológico para construir/ensinar comportamentos e desejos. 

As imbricações entre comunicação, tecnologia, consumo e a proliferação da internet permitiu para fins comerciais associar as crianças e jovens como partícipes inequívocos da cultura digital. Contudo, todas as crianças e jovens possuem condições para adquirir os artefatos tecnológicos? Todas as crianças e jovens têm acesso à internet? São questionamentos que necessitam de maior aprofundamento, pois discursos hegemônicos muitas vezes distanciam-se da realidade econômica e da cultura de muitos grupos sociais. 

A IN/EXCLUSÃO DE CRIANÇAS E JOVENS NA CULTURA DIGITAL 

Os discursos que veiculam as crianças e jovens como membros de uma cultura digital está centrado nos interesses do mercado. Bortolazzo (2018, p. 29), destaca que esse público refere-se “a uma parcela da população jovem – atrelada, na maioria das vezes, aos grandes centros urbanos – que possui acesso e usufrui dos aparatos tecnológicos”.  

A partir deste pressuposto torna-se perceptível a existência de uma significativa parcela de crianças e jovens que não possuem acesso aos artefatos tecnológicos digitais e a internet e, por conseguinte, não estão inseridos na cultura digital. Nesse momento, para fins de delineamentos teóricos do presente estudo serão expostas as compreensões sobre as crianças e jovens. 

Ao se referir às crianças, na contemporaneidade, é necessário distanciar-se das concepções que as veiculam somente ao campo biológico, uma etapa com início e fim, bem como os marcos legais como o Estatuto da Criança e do Adolescente, que amparados nessas concepções biológicas, determina em seu Artigo 2º “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos”. Sem retirar a importância destas determinações para fins legais e de proteção à pessoa humana e todas as problematizações anteriores sobre a criança e a infância, a concepção aqui adotada vai ao encontro do entendimento de Melo; Guizzo (2019, p. 123), onde a criança está inserida em

[…] infâncias, no plural, na medida em que desnaturalizam as concepções de infância e a entendemos através de sua história, passando a identificar não só um tipo de infância, mas sim diversas infâncias que, para serem significadas, dependem dos contextos em que as crianças que as vivenciam estão inseridas.  

Nesse sentido, a criança é um sujeito que experiencia diferentes contextos que paulatinamente irão exercer significativa influência na constituição de sua identidade. Na mesma linha de pensamento, Dayrell (2003) defende que a juventude deve ser entendida como uma condição social e multifacetada devido às formas/maneiras que sociedade ou grupos sociais interagem com os jovens. Logo, devemos pensar em juventudes no plural. 

A partir dos pressupostos apresentados em que crianças e jovens vivem em diferentes espaços e contextos sociais, associar a vida desses sujeitos como membros efetivos da cultura digital constitui processos de in/exclusão. 

A nível de senso comum, muitas vezes atrelamos a inclusão ao processo de escolarização e a aceitação de grupos sociais minoritários. Corcini (2013, p. 7-8), amplia este entendimento ao propor que a inclusão é uma estratégia de Estado que visa a garantia ao acesso dos direitos individuais e insere-se

[…] dentro da grade da inteligibilidade que promove, entre outras coisas, a ampla circulação das pessoas, os fluxos internos nos organismo do Estado, a diversidade, a diferenciação entre coisas comparáveis e visíveis, o barramento de fronteiras, o consumo, a produção cultural, a concorrência e a competição entre indivíduos, a autonomia, o empreendedorismo, a caridade, a solidariedade, etc. 

Ao associar a inclusão a universalização dos direitos ocorre a aceitação das minorias de diferentes raças, gênero, sexualidade, deficiências, etc., mas também devemos nos questionar sobre o alcance dessa inclusão e como questões de aceitação se materializam, desvinculando-se de uma tradição histórica, política e econômica sustentada, no caso do Brasil, em laços coloniais racistas e elitistas.   

Corcini (2013), ao construir uma análise histórica da in/exclusão salienta que os processos de inclusão sofrem as condições da discriminação negativa ao se referir a grupos que o Estado propositadamente silencia ou ignora estigmatizando o sujeito como menor, já a discriminação positiva visa garantir mais aos grupos/populações com menos  com vistas a inserção em um regime comum. Qual a fronteira entre a discriminação negativa e positiva? É no bojo dessa discriminação que nascem análises críticas sobre a inclusão. 

Veiga-Neto e Corcini (2011, p. 125), ao problematizar a inclusão na contemporaneidade, afirmam que “a inclusão funde-se com a exclusão”. Essa afirmação permite pensar sobre os processos de subjetivação, pois identificar os limites entre incluídos e excluídos é uma ação marcada por imprecisões, já que estes limites nem sempre são perceptíveis.   

Ainda de acordo com Veiga-Neto e Corcini (2011, p. 131), a in/exclusão se caracteriza “pela presença de todos nos mesmos espaços físicos e pelo convencimento dos indivíduos de suas incapacidades e/ou capacidades limitadas de entendimento participação e promoção social, educacional e laboral”. Em outras palavras, significa dizer que ao mesmo tempo em que é promovida a inclusão (sem retirar sua importância) é necessário refletir sobre a discriminação negativa para não aprofundar as desigualdades entre grupos ou sujeitos. 

Em meio a esse cenário, o discurso midiático voltado para o consumismo que identifica todas as crianças e jovens ao convívio com os artefatos tecnológicos digitais e imersos na cultura digital é pautado por processos de in/exclusão. Primeiramente, os incluídos são crianças e jovens que vivem em centros urbanos, como já foi destacado, porém todos têm acesso a rede mundial de computadores? Que as crianças e jovens fazem parte de um mundo marcado por avanços tecnológicos é fato, mas participar ativamente desse mundo é outra questão.   

Bortolazzo (2018, p. 29), ao analisar o relatório Situação Mundial da Infância 2017: crianças em mudo digital, da UNICEF, identifica que o acesso às tecnologias constitui-se como “um forte indicador de desigualdade […] lacuna de acesso à internet por parte de crianças e jovens estaria afetando a educação e a entrada no mercado de trabalho”. A partir destas informações nascem políticas de Estado voltadas para a inclusão digital atingindo a escola, as populações de baixa renda, periferias das grandes e médias cidades, municípios do interior e áreas rurais. 

Em paralelo, surgem pesquisas no Brasil, que sinalizam o aumento do número de usuários da internet (10 milhões) identificando crianças e jovens como os principais usuários (70%), bem como o crescimento de crianças e jovens que possuem aparelhos celulares. Os dados apresentados são positivos e geram benefícios para a população, contudo outras questões são silenciadas como: que tipo de acesso é possibilitado? Qual foi a preparação para esse acesso? Quem não foi beneficiado? 

A partir dos argumentos apresentados sobre o contexto atual e a cultura digital, evidencia-se um cenário marcado por questionamentos, onde as fronteiras entre inclusão e exclusão apresentam-se borradas e algumas crianças e jovens são alvo de campanhas midiáticas voltadas ao consumismo ao passo que outras são descartadas. A luz dos discursos inclusivos do Estado, notadamente enredado nas tramas de neoliberalismo, a todos é possibilitado o acesso aos artefatos tecnológicos digitais, só que na prática a discriminação negativa surge como um abismo e as pontes para ultrapassá-lo são frágeis e inacessíveis para muitos. 

CONSIDERAÇÕES

Ao refletir sobre a contemporaneidade, a emergência da cultura digital e os processos de in/exclusão de crianças e jovens foi possível estabelecer vínculos entre as estratégias midiáticas que vinculam estes sujeitos, com naturalidade, ao acesso de artefatos tecnológicos digitais e a internet. Contudo, o acesso de crianças e jovens aos artefatos tecnológicos digitais e a internet não se constituem de forma uniforme, como preconizam esses discursos midiáticos. Emergem, nesse sentido, processos de in/exclusão acentuando as distâncias entre grupos e sujeitos.

A importância das iniciativas inclusivas organizadas pelo Estado, ou entidades da sociedade civil, não podem ser desconsideradas; porém, representam pouco frente ao universo das desigualdades e exclusões que marcam o contexto brasileiro e carregam, muitas vezes, dentro do seu escopo de atuação articulação com políticas neoliberais que eximem a responsabilidade do Estado e fortalece economicamente empresas, silenciando sujeitos e grupos minoritários. 

É nessa lógica pautada pela in/exclusão que diversos programas relacionados à inserção das minorias na Cultura Digital estruturam-se. Os relatórios mensuram o crescimento no número de acessos a internet, o aumento no consumo de celulares/smartphones  por crianças e jovens, a ampliação do tempo frente aos artefatos tecnológicos digitais, a criação de centros populares para acesso a computadores, etc. Esses indicadores revelam apenas a ponta de um grande iceberg que não permite vislumbrar sua inteireza submersa, constituída por diferenças regionais, crenças, preconceitos cristalizados em uma sociedade que carrega heranças elitistas construídas por séculos de opressão. 

REFERÊNCIAS 

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1Doutor em Educação (ULBRA), Mestre em Ensino de Humanidades e Linguagens (UFN), graduação em História (UFN) e Administração (UNIFCV). Pós- doutorando em Educação (ULBRA).