A FRAGILIDADE DOS LAÇOS SOCIAIS VIRTUAIS

THE FRAGILITY OF VIRTUAL SOCIAL TIES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7477925


Ana Maria Espinhel Bacha
Rosane Grandé


RESUMO

O presente trabalho, de caráter analítico, procura refletir sobre as potencialidades das tecnologias de comunicação e os desafios para as ações sociais.ao universo de informações que são vinculadas nas autoestradas eletrônicas está disponível as pessoas. A sociedade do conhecimento torna-se cada vez mais disponível a todas as pessoas. A sociedade do conhecimento torna-se cada vez mais refém das máquinas informatizadas.ao ciberespaço, é um universo de informações em escala mundial e que constitui uma revolução midiática porque os indivíduos que estão conectados a uma rede mundial, podem entrar, explorar e fazer uso das informações disponíveis, assim como emitir mensagens ou trocar ideias, informações e conhecimentos. Formando uma gigantesca comunidade virtual. As tecnologias digitais e a Internet possibilitam o contato com um mundo virtual simultâneo através de sons, imagens e palavras ao mesmo tempo. O ciberespaço tornou-se o lugar de conexões, configurando-se uma nova maneira de ser e de agir, alterando a subjetividade da sociedade contemporânea.

PALAVRAS-CHAVE: Sociedade Virtual; Cibernética

ABSTRACT

The present work, of an analytical nature, seeks to reflect on the potential of communication technologies and the challenges for social actions. The universe of information that is linked to electronic highways is available to people. The knowledge society becomes increasingly available to all people. The knowledge society becomes more and more hostage to computerized machines. Cyberspace is a world-wide universe of information that constitutes a media revolution because individuals who are connected to a worldwide network can enter, explore and make use of it. Available information, as well as sending messages or exchanging ideas, information and knowledge. forming a gigantic virtual community. Digital Technologies and the Internet make contact with a simultaneous virtual world possible through sounds, images and words at the same time. Cyberspace became the place of connections, configuring a new way of being and acting, changing the subjectivity of contemporary society.

KEYWORDS: Virtual Society; cybernetics

INTRODUÇÃO

O fatores que influenciam o legado deixado para as próximas gerações, estão a ideologia capitalista, a qual visa somente ao lucro, sem considerar quadros ambientais, e o advento da era da internet, composta por pessoas individualistas e egoístas, A princípio, é fato que a corrente econômica capitalista alterou significativamente as prioridades sociais, enaltecendo o desenvolvimento tecnológico e econômico em detrimento da preservação natural.

Essa realidade aponta que a intervenção antrópica da natureza atingiu proporções críticas, a exemplo da distribuição exponencial da área de fronteira agrícola amazônica. Torna-se nítido que o incremento da internet é responsável por bruscas modificações no comportamento social, dentre as quais se destacando o individualismo e o egoísmo. Essa conjuntura demonstra que a sociedade, ao longo de sua história, perdeu o costume de coletividade, motivada, essencialmente, pelo advento das redes sociais, as quais geraram uma onda de laços afetivos efêmeros e vagos. Esses, no que lhes concerne, são iniciados por perfis cibernéticos, de forma exclusivamente virtual.

Consequentemente, desenvolve-se uma ausência de contato físico interpessoal, além de gerar motivação para os indivíduos viverem de maneira egoísta, pois, sem a desenvoltura de diálogos com terceiros, a individualidade se expressa negativamente, ao corroborar um egocentrismo Estridente.

Essa reflexão pode ser confirmada pela obra “Modernidade Líquida,” do sociólogo Zygmunt Bauman, a qual evidencia a fragilidade das relações entre as pessoas motivada pela rapidez da era tecnológica. Fica evidente que a cegueira mental exposta por Saramago é essencial para entender o legado que a sociedade atual deixará para as próximas gerações, visto que ela se nega a adequar o panorama de desenvolvimento econômico desenfreado que não pode ser suportado pelos recursos existentes no planeta. Nesse aspecto, torna-se claro que o capitalismo e a internet motivam esse modo de viver adotado pela contemporaneidade. (ZYGMUNT;BAUMAN,2023/1)

Sociedade doente

“A pior cegueira é a mental, que faz com que não reconheçamos o que temos à frente”. A frase atribuída ao escritor José Saramago demonstra facilmente o comportamento social frente à solidão como sentimento inerente ao homem no século XXI, o qual, ao se fechar em uma bolha individualista, não percebe o crescimento quantitativo de pessoas solitárias no mundo. Entre os fatores que influenciam esse panorama, estão a prevalência de laços sociais efêmeros, causado pela prevalência do distanciamento social previamente obrigatório, ocorrendo uma troca gradual dos diálogos pessoal por contato rápido, via mensagens ou ligações, por meio do ambiente cibernético.(SARAMAGO;JOSÉ,2020,p.20)

Ainda que os aplicativos facilitem a comunicação à distância, otimizando o tempo dos interlocutores, eles foram responsáveis pela efemeridade dos laços de amizade e de relacionamentos, Com isso, a solidão se tornou uma consequência direta da ascensão do universo virtual, visto que , ao facilitar a criação e o rompimento dos vínculos afetivos ,a sociedade tende a optar pelo contato online ,ainda que ele seja essencialmente vago, do que ser encontros presenciais, corroborando o aumento desse sentimento ser pessoas. Essa reflexão pode ser confundida pode ser confirmada pela afirmação do sociólogo Zygment Bauman para quem “tudo é mais fácil na visita virtual, mas perdemos a arte das relações sociais e da amizade “, que exemplifica o quadro solitário global motivado pelos apelos interpessoais no ciberespaço. (ZYGMUNT;BAUMAN,2023/1)

A princípio, é fato que o advento das tecnologias movidas à internet modificaram notoriamente o cotidiano mundial, Essa realidade, aponta que, com o surgimento das redes sociais, ocorreu uma teoria do laço social criada por Travis Archie em 1969 existindo quatro elementos nessa teoria, número um: apego este, que é descrito como um nível de valores que são óleos individuais na sociedade laços fortes criados com pais, professores e pares pró-sociais diminuindo até a infância, no entanto, a falta de vínculo com os pais, professores e colegas pró-sociais aumenta a probabilidade de crimes.

Compromisso descrito como a importância das relações sociais que as pessoas valorizam é também o nível de obrigação que um indivíduo tem de  cumprir o comportamento legal, indivíduos com falta de compromisso com atividades convencionais mais propensos a se envolver em comportamento criminoso, isso é descrito como a escolha de uma pessoa para se envolver em convencional versus desviante.

Comportamento baseado na maneira como eles gastam seu tempo, no entanto, o envolvimento em comportamento não convencional expõe um indivíduo a comportamento criminoso, acreditando que isso é descrito como um grau em que um indivíduo segue os valores associados ao comportamento que está em conformidade com a lei, no entanto, atitudes e comportamentos antissociais encorajam atividades criminosas e a falta de apego é significativa.

Outros envolvimentos de compromisso e atividades de convenções é a falta de crença no código moral da sociedade que aumentam a probabilidade de comportamento criminoso a fragilidade dos laços sociais no mundo contemporâneo.

Essa conjuntiva demonstra que, durante os meses em isolamento, muitos indivíduos ficaram sozinhos por preferirem contatos com terceiros via internet, mesmo que vivessem com outras pessoas. Como resultado disso, a solidão se tornou um assunto frequentemente abordado por psicólogos e neurocientistas, os quais afirmam que, apesar de que o retraimento tenha sido uma medida eficaz para amenizar a disseminação da doença ele deixou estigmas nocivos na sociedade, como a fobia social e a solitude. Essa situação pode ser exemplificada pelo caso de uma mulher inglesa, que morava sozinha, e faleceu durante a pandemia. A moça só teve o seu cadáver encontrado após três anos de sua morte, pois ela não contatou ninguém, por não ter amigos nem familiares próximos, além de não ter chamado atendimento médico ao ter piora em sua enfermidade. Fica evidente, portanto, que a cegueira mental exposta por Saramago se encaixa perfeitamente por quadro de solidão inerente ao homem atual, pois a sociedade se negar a abordar essa problemática e as consequências dessa problemática aos indivíduos. Nesse sentido, torna-se evidente, também que a efemeridade dos laços sociais cibernéticos e o pós isolamento são causas notáveis desse cenário.

Nos dias atuais nós temos um conjunto de transformações sociais que impactam diretamente na forma de viver e se relacionar interagindo com o meio e até a percepção humana acerca da natureza que o rodeia vem dos pressupostos da globalização. Este fenômeno impacta diretamente nos nossos laços afetivos e fragilizam a lógica de precariedade da interação psicológica e social humana assim como que Bauman mostra como: Modernidade líquida que está diretamente ligada ao fragilizam-te meio social da internet baseada para ser mantida viva através de conexões e desconexões. Essa fragilização de mudar a forma da interação com o meio e o campo acerca de dois fatores sociais liberdade e segurança. O problema visa ter como orientador o que existe de percepção deste fenômeno da colocação de que o fenômeno de relacionamento corpo e cor tem base nos pontos de influência da percepção muitas vezes do que Bauman mostra como duas pessoas classificadas como classes perigosas e como essa percepção pode afetar o ser e, dependendo da localidade outros fatores, como a problemática da troca de fatores libertadores humanos em prol de segurança e também no sentido contrário tem influência direta.

Nesse quesito e o objetivo geral deste, venha ser direcionado pelo princípio ético do bem-estar visando entender melhor esta percepção e fenômeno como vem acontecendo, lançando um olhar em torno das transformações mundiais fatores como da denominada Classe Perigosa. As Formas de manipulação do Medo público e como no cotidiano isto vem a ser percebido pelo indivíduo com esta percepção é possível direcionar ações que venham melhorar a qualidade de vida das pessoas às trazendo para o olhar social da comunidade, onde está precede o ser humano e é fortalecida pelos laços sociais de modo que em sua permissão tem um quesito de responsabilidade de idealização de futuro dado, o fato de ter como definição psicológica a perpetuação desta interação entre os indivíduos. É aí que na intensificação de justificativa social a pesquisa busca entender mais o fenômeno da falta de interação social direta, onde a forma altamente dinâmica é pautada no consumismo tornando fatores como a relação humana e fundamentações de mercadorias, deste modo rompe com o princípio do Bem-Estar pautado no fundamento do estado social o qual ele aborda no livro “os indivíduos já não interagem e não acredita mais nas suas forças de vínculo de vivência” Como no Brasil para podermos entender justificativa científica é de importância efetuar o desenvolvimento em torno da Sabedoria das Sensações psicológicas na percepção dessas manifestações de interação social, e como a forma de viver nos dias atuais podem vir a impactar a saúde psicológica, assim como o tempo disponibilizado para tal, a alma mais teria apresentação de uma reflexão em torno do desmonte dos mecanismos sociais.

A falsa percepção de um ambiente seguro e os efeitos da globalização no campo social dentre isso, pode-se buscar um entendimento em torno dos impactos perceptível psicologicamente pelos indivíduos Envolvidos nessas transformações como o papel dos menos favorecidos que por diversas vezes são classificados como perigosos e são percebidos no dia a dia aponta seu olhar para uma unidade em movimento em uma era de incertezas diárias, e está sendo tomado com moderação da dor os livres tempos líquidos onde dá uma apresentação para um olhar mais amplo em torno dos dias atuais com enfoques pontuais nos impactos psicológicos nos indivíduos.  

Apresentam uma consolidação do fator medo público como mecanismo de manipulação a sensação de medo transpassando ao cotidiano com fortalecimento desse fator tornando pessoas comunitárias, a ponto de perderem o diferente como ameaça diária tido como classe perigosa lançando também uma porta, sendo o tema de desmonte de mecanismo públicos em alinhamentos com agendas estatais vinculadas ou ligadas a princípios neoliberais populistas e autoritários.

No nosso dia-a-dia deparamos cada vez mais frequentemente com a expressão “novo mundo” para descrever o tipo de atividades em que estamos envolvidos com e na nova tecnologia. Nas atividades económicas, por exemplo, quem é que ainda não deparou com a expressão “nova economia” para caracterizar a absorção dessa mesma tecnologia ligada à informação? Também a expressão Sociedade da Informação passou a ter um uso corrente para identificar o novo tempo civilizacional.

O que se passa é que as tecnologias de informação não são apenas meros instrumentos que possibilitam a emissão/recepção deste ou daquele conteúdo de conhecimento, mas também contribuem fortemente para condicionar e estruturar a ecologia comunicacional das sociedades. Cada época histórica e cada tipo de sociedade possuem uma determinada configuração que lhes é devida e proporcionada pelo estado das suas tecnologias de informação e comunicação (TIC), reordenando de um modo particular as relações espaço-temporais, nas suas diversas escalas (local, regional, nacional, global) que o homem manteve e mantém com o mundo, e estimulando e provocando transformações noutros níveis do sistema sociocultural (educativo, económico, político, social, religioso, cultural, etc.).

Assim foi desde a utilização das tecnologias primitivas. Silva (2000), ao analisar os diversos desenvolvimentos dos TIC ao longo do processo civilizatório, desde o homo liquens/pictor ao homo digital, observa a ocorrência de cinco configurações comunicativas (interpessoal, elite, massa, individual e ambiente virtual) e as suas repercussões nas transformações das estruturas educativas (família, escola, escola paralela, autoeducação e comunidades de aprendizagem).

Cada ambiente tecnológico favoreceu o aparecimento de certos atores e de processos de aquisição/exploração do saber e da aprendizagem. Importa sublinhar que a passagem de uma configuração a outra não se dá por um mero processo de substituição, seria demasiado simples. O processo é cumulativo, com rupturas e continuidades, em que cada nova fase de evolução condiciona a anterior a um nível de especialização, orientando-a para uma função determinada e intervenção específica (Mattelart, 1996).

Tome-se o exemplo na economia: o facto da informação estar a marcar a nova era económica não significa que as fases anteriores (do capitalismo industrial, da sociedade agrária e mesmo da sociedade doméstica) tenham desaparecido. Assim também sucede com as configurações comunicativas e educativas acima mencionadas. O que parece que se está a passar hoje é que a tecnologia não para de penetrar nas nossas vidas, colocando-nos a viver num novo mundo. (MATTELART,A,1996,p51)

Trata-se de uma tecnologia de informação e comunicação marcada fundamentalmente pelo aperfeiçoamento dos microprocessadores e pela digitalização da informação, processos ocorridos desde os últimos anos da década de 80. O aperfeiçoamento dos microprocessadores trouxe mais velocidade ao processamento da informação e mais capacidade no seu armazenamento, enquanto a digitalização, já utilizada na informática, mas alargada agora ao audiovisual e às telecomunicações possibilitou a compatibilidade entre os diferentes sistemas, quer sejam portadores de voz humana, textos, dados estatísticos, sons e imagens. Em termos técnicos, estas evoluções anunciam o fim dos guetos tecnológicos, fazendo convergir a informática, o audiovisual e as telecomunicações na constituição de uma rede comunicativa universal. Em termos sociais, a noção de rede é o conceito chave que caracteriza esta nova configuração comunicativa. Este conceito significa que estamos perante um universo comunicativo em que tudo está ligado, em que o valor é dado pelo estabelecimento de uma conexão, de uma relação. A Internet, e em especial o seu sistema de informação WWW (Worl Wide Web), é o exemplo desta rede de base colaborativa. Os novos suportes tecnológicos tornaram mais fácil o acesso à informação, nomeadamente pelo aumento da capacidade de armazenamento, pela velocidade de processamento e pela compatibilidade entre os sistemas. As atuais enciclopédias, dicionários, atlas e obras da literatura clássica podem estar contidos num único CD-ROM, enriquecidas pela combinação de texto, som e imagem. Para localizar uma informação pretendida basta fazer um toque no “botão” da referência e o artigo aparece quase-instantaneamente. Por outro lado, aspecto que reputámos de crucial importância, estes suportes estão baseados na tecnologia hipertexto/hipermídia/multimídia, exprimindo a ideia de uma escrita/leitura não linear e de uma co-autoria na construção/reconstrução do texto. Pela Internet, ao alcance da “ponta dos dedos” do homem comunicante abre-se um mundo de informações vindas de lugares muito longínquos e por tradição fechados, como os grandes arquivos. Ao mesmo tempo, esta tecnologia permite-lhe estar simultaneamente em diferentes lugares. Deste modo, à multidimensionalidade do universo comunicativo junta-se a natureza ubiquíssima do indivíduo. Esta “navegação pelo ciberespaço” não se limita à obtenção de dados pelo indivíduo, mas a estabelecer uma rede de conversação, onde se trocam reclamações e compromissos, ofertas e promessas, aceitações e recusas, consultas e resoluções. Não transitam, portanto, 841 II CONFERÊNCIA INTERNACIONAL CHALLENGES’2001/DESAFIOS’2001 simples informações, mas atos de comunicação onde o mundo privado da experiência pessoal daqueles que os praticam é projetado no interior do mundo interpessoal e grupal das interações. Reside aqui a grande diferença entre o elã televisivo da era dos mas media e o elã virtual das novas tecnologias: enquanto a televisão traz o mundo público para dentro de casa, o elã virtual conectado em rede leva o mundo interior de cada indivíduo para o espaço público (Silva, 1998) Na década de 70 e 80 as empresas de computadores para venderem a maquinaria associavam-lhe a seguinte promessa: “a tecnologia faz a mudança”. Ora, os gestores empresariais vieram a descobrir à sua custa, e as investigações sobre os impactos comprovaram-no, que tal asserção não passava de um mito (PETERS & AUSTIN, 1985; DUNLOP & KING, 1991).

A prática e as investigações mostram que as tecnologias são parte de um vasto pacote de mudança, asseguram apenas uma parte do processo. Se a empresa não reestruturar os procedimentos e não possuir gestores competentes não existe tecnologia alguma que resolva os problemas. Tal também é válido para a escola: se não se reestruturar face às implicações das tecnologias e não possuir professores competentes, não existe tecnologia alguma que resolva os problemas. As tecnologias podem mudar a forma como as competências são exercidas, mas não podem transformar um “mau” professor num “bom” professor. A associação do mito “a tecnologia faz a mudança” a “maquinaria”, para além do uso de uma boa técnica de marketing para vender a mercadoria, deve-se à confusão na descodificação do conceito de tecnologia. Existem pelo menos três sentidos de utilização deste conceito: máquina, técnica e tecnologia. Usados muitas vezes de forma indistinta, têm, contudo, significados diferentes que importa esclarecer. A máquina apresenta-se como um objeto concreto, um instrumento, certamente produto da técnica e que necessita dela para a sua concepção, produção e utilização. A técnica é, pois, uma forma humana de fazer, implica uma metodologia operacional controlada: o saber fazer com conhecimento de causa. Hierarquicamente, situa-se num nível superior ao da máquina e em certa medida é independente desta, havendo mesmo a possibilidade de existir uma técnica sem máquina. Nesta hierarquia, a tecnologia surge quando se adquire, sob o modo do logos, a compreensão de tal saber fazer, quando se acrescenta reflexão à técnica. Pressupõe, mais do que a familiarização com o saber técnico, uma formulação discursiva refletida e teórica. Ao integrar os elementos básicos do fazer e a reflexão teórica do saber, a tecnologia pode ser considerada como a teoria da técnica, estando situada a meio caminho entre as ciências claramente especulativas e os conhecimentos aplicativos técnicos. Técnica e 842 A TECNOLOGIA É UMA ESTRATÉGIA tecnologia têm, portanto, planos de ação distintos. A clarificação efetuada por QUINTANILLA (1995;15) ajuda-nos a compreender essa distinção. Diz o autor que enquanto a técnica é caracterizada como “um sistema de ações intencionalmente orientado à transformação de objetos concretos para obter de forma eficiente um resultado que se considera valioso”, vinculando-a ao princípio instrumental da eficácia, esclarece que a tecnologia é uma subclasse dos sistemas técnicos cujo “desenho e uso estão baseados em conhecimentos e métodos científicos e em sistemas de valores e procedimentos de avaliação que se podem considerar racionais”. Ou seja, a tecnologia apoia-se na técnica para a sua praticabilidade, mas diferencia-se dela pela exigência da aplicação de princípios e conhecimentos científicos. Tomando como base está breve análise conceptual, qual será a essência da integração das TIC em qualquer sector da sociedade, nomeadamente na educação? Se as TIC favorecem, como vimos, a constituição de um mundo informacional – um “novo mundo” que caracteriza a respectiva época civilizacional – em nosso entender o desafio da integração das TIC é constituído pela estratégia e o consequente pensamento estratégico, de modo a compreender-se o porquê dessa integração e como deve ser feita.

A ideia do “pleno acesso ao conhecimento” não se pode confundir com “totalidade”. A Web gera de facto um fluxo informativo que não cessa de crescer: reservas de memórias diversificadas (bancos de dados, grandes arquivos, bibliotecas), grupos e indivíduos podem tornar-se emissores e aumentar exponencialmente este fluxo informativo a que, metaforicamente, LEVY (2000) chama de segundo dilúvio. Quem já utilizou qualquer motor de busca para pesquisar informação sobre um assunto, deparou-se de imediato com uma inundação de informações, ficando com a sensação de uma abundância ilimitada, como se acedesse a toda a informação disponível.

Não se faça deste fenómeno um mito associado à Internet. Em primeiro lugar, não existe sistema de informação sem erros, perdas, desfasamentos e a Internet também não foge a esta constatação. Em segundo lugar, a abundância informativa sugere, paradoxalmente, que o acesso pleno, o todo, é inacessível. O problema não está no acesso livre e fácil, é de facto uma vantagem, mas em saber o que procurar e como o fazer. O que fazer? LEVY (idem), ao convocar o Dilúvio, utiliza a imagem da arca de Noé. Assim como no meio do caos Noé fez uma seleção dos dados e construiu um mundo bem ordenado na sua arca, também os navegadores da Net devem saber domar o caos informativo, arranjar zonas de familiaridade e construir  um sentido para o seu universo comunicacional. Como fazê-lo? A atual tecnologia publicita o acesso direto à informação, propagandeia a ideologia do faça você mesmo, insistindo ainda a que o pode fazer em just–in-time (qualquer hora e de qualquer lugar). Esta ideologia, usada no seu fundamentalismo extremo, dispensa a figura da intermediação sempre presente ao longo da história, processo a que o professor também não escapa.(LEVY,PIERRE,2000,p34)

Não obstante os progressos proporcionados pela tecnologia no acesso direto e individualizado à informação, esta performance merece ser questionada quando o aspecto crucial trata de gerar do caos informacional um sentido comunicacional, ou seja, transformar informação em saber, aspecto fulcral da comunicação educativa. De que serve ter acesso direto a um banco de dados se não se souber o que fazer com esses dados? A resposta, esclarece WOLTON (2000:124) é evidentemente cultural e remete-nos para a complexa questão dos meios cognitivos de que o indivíduo dispõe para reintegrar a informação no seu contexto e para dela se servir. Ou seja, a tecnologia torna possível o acesso direto à informação, mas não é possível o acesso direto ao conhecimento. Passar de um conhecimento intuitivo e sumário do senso comum para a um conhecimento reflexivo em que o indivíduo seja capaz de organizar, associar e estabelecer relações com as informações não se alcança com a imediaticidade do direto: requer tempo, muito tempo, calma e paciência para aprender a pensar.

Deste modo, começa-se a compreender que a navegação pelos oceanos informáticos requer a intermediação humana, nomeadamente a dos professores como insiste Wolton (idem:124), vincando que a emancipação que a Web proporciona não passa pela supressão dos intermediários, mas antes pelo reconhecimento do seu papel (WOLTON,DOMENIQUE,2000,P124)

A formação da ideia de comunidade (o “sentimento do nós”), como lhe chama GURVITCH (1979) não passa necessariamente por fatores territoriais físicos, mas pelo desenvolvimento do “sentimento subjetivo dos participantes de construir um todo” (WEBER, 1944:33). Na linha destes autores há múltiplas maneiras de estar ligado pelo todo e no todo e a ideia de comunidade é hoje entendida “como um espaço de construção (um território simbólico) marcado pela extensão e pela profundidade da interação entre os indivíduos em construir esse todo” Silva (1998:95). Neste enquadramento, a natureza flexível e poli Centrica da Internet tem funcionado como suporte para as relações interpessoais, ajudando a superar o  característico individualismo da sociedade de massas, como sugerem várias reflexões sociológicas. (MAFFESOLI, MICHEL,1990), sociólogo atraído pelas abordagens comunitárias da vida urbana na sociedade pós-moderna, observa que as novas tecnologias geram uma matriz comunicacional de proximidade, o sentido de pertença, o desejo de estar-juntos na partilha de motivações e interesses comuns.

Através das múltiplas mediações, retornamos ao tempo das tribos, não como as de outrora baseadas no território físico, mas tribos do conhecimento, do afetivo e do social, às quais os indivíduos se agregam voluntariamente para partilhar necessidades, desejos e interesses da mais variada ordem. Neste sentido, esclarece que ser solitário, hoje, não significa viver isolado á que, segundo as múltiplas ocasiões que se apresentem, o indivíduo solitário pode agregar-se a este ou àquele grupo, a esta ou àquela atividade. Boaventura de Sousa Santos (SANTOS, 1994), num registo político e social, enfatiza a “arqueologia virtual presente” para favorecer uma emancipação progressiva das comunidades. A arqueologia virtual, cuja escavação é orientada para margens, para a periferia, para a inteligibilidade, dando preferência a estruturas descentralizadas, não hierárquicas e fluidas, potência a constituição de comunidades de fronteira, caracterizadas por uma identidade em processo de reconstrução e de reinvenção, na medida em que é através dela que se podem desabrochar novas energias emancipatórias e realizar os princípios da autonomia, da participação e da solidariedade. Embora o autor não refira textualmente as redes de comunicação, a Internet, pelos princípios que lhes são atribuídos – mobilidade, flexibilidade e policentrismo – pode constituir-se como um dos suportes adequados à concretização desta arqueologia virtual, reinventando as alternativas de prática social. Pierre Lévy (LEVY, 1997) ao efetuar uma reflexão sobre os espaços de identidade do ser humano (a terra, o território e o mercado) considera que a tecnologia digital e as redes de comunicação fizeram emergir um novo espaço antropológico, o 849 II CONFERÊNCIA INTERNACIONAL CHALLENGES’2001/DESAFIOS’2001 Espaço do Saber, saber não apenas do conhecimento científico, mas do saber que qualifica o Homo Sapiens: um saber-viver, um saber coextensivo à vida. Trata-se de um espaço virtual – um não-lugar-, mas que já está presente (ainda que dissimulado, disperso, travestido e misturado) e é habitado e animado por intelectos coletivos que procuram formas de comunicação inauditas. A constituir-se efetivamente este novo espaço antropológico, considera o filósofo que se “abriria um novo espaço de liberdade tanto às comunidades como aos indivíduos. A partir de hoje o conhecimento, o pensamento, a invenção, a aprendizagem coletivos oferecem a cada um a participação numa multiplicidade de mundos, lançam pontes sobre as separações, as fronteiras e as escalas graduadas do Território”(idem: 201).

Procuramos mostrar ao longo do texto que as TIC não são apenas meros instrumentos para se comunicar este ou aquele conteúdo, mas que, na medida em que favorecem determinados processos de aquisição/exploração do saber e da aprendizagem, interacionam com estrutura cognitiva dos sujeitos (a forma como se aprende) e com a estrutura das organizações. Em cada época histórica cada conjunto significativo de tecnologias condicionou o aparecimento de novas formas de estar e de ser – práticas, atividades, comportamentos, etc. -, ou seja, um “novo mundo comunicacional”. A tecnologia dos bits trouxe-nos o ambiente da comunicação virtual, a possibilidade de aceder ao mundo das informações e de estabelecer relações interpessoais e colaborativas. Estabelecem uma espécie de retorno ao tempo tribal em que o saber era construído por comunidades vivas, só que agora o território destas comunidades é o ciberespaço, um 856 A TECNOLOGIA É UMA ESTRATÉGIA novo espaço onde o indivíduo pode descobrir e construir os seus saberes de forma personalizada e partilhada.

As características dos atuais TIC proporcionam um espaço de profunda renovação da escola, permitindo pensá-las como uma verdadeira comunidade de aprendizagem. Para o sistema educativo e seus agentes reside aqui o grande desafio: compreender a chegada do tempo destas tecnologias que permitem passar de um modelo que privilegia a lógica da instrução, da transmissão e memorização da informação para um modelo cujo funcionamento se baseia na construção colaborativa de saberes, na abertura aos contextos sociais e culturais, à diversidade dos alunos, aos seus conhecimentos, experimentações e interesses. Ao perspectivarmos as TIC como fator condicionante para a formação de um “novo mundo comunicacional e educacional” acabamos por revelar que o desafio central que se coloca à tecnologia é a temática da estratégia. O problema não é de “maquinaria”, mas de prever e otimizar as repercussões nas interações com os demais elementos do sistema. No campo educacional, parece-nos evidente e imperioso que o debate a fazer sobre e como as tecnologias se deve situar no campo organizacional, seja do funcionamento global da escola, seja na formulação e implementação do currículo, aspecto que não tem sido prática corrente no nosso país, infelizmente. Urge caminhar neste sentido!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fenômeno da tecnologia, em toda a história da humanidade, sempre caracterizou um sentimento ambíguo e esquizofrênico de fascinação e medo. “Os engenheiros e publicitários fazem a apologia da técnica, mas os intelectuais e o senso comum têm a tendência a pensar a tecnologia como uma coisa nefasta, porque artificial.” (LEMOS,1999, p.81) Isto significa reconhecer nas mensagens midiáticas as possibilidades de enriquecer as metodologias no sentido de ampliar os horizontes cognitivas, explorando os mediadores tecnológicos do som e das imagens no processo de apropriação, reprodução e produção do conhecimento, Aos avanços no campo da ciência e da tecnologia desenharam um novo paradigma produtivo nas relações do trabalho, exigindo um novo perfil de trabalhador. A revolução tecnológica na comunicação e informação modificou o processo produtivo e a organização do trabalho. Essas informações configuram a sociedade de informação que se caracteriza pela globalização da economia, expansão das leis do mercado e desemprego estrutural. Vivemos no mundo em que a sociedade demanda um tipo de conhecimento adaptado às novas exigências da sociedade pós-industrial (Castellis,1999) ou da sociedade pós capitalistas. (DRUCKER,1997)

As imagens midiáticas produzem uma assimilação caótica e fragmentada do excesso de informações e conhecimentos superficiais mostrados que altera as formas de pensar, conhecer e aprender. Este universo faz interagir as imagens, os sons, os movimentos, as músicas e os gestos. As vagas e confusas ideias que os jovens trazem das suas interações com a sedutora mídia deve ser exploradas no sentido de contribuir para preencher as lacunas e orientar as discussões, estabelecendo um diálogo crítico em relação às mensagens midiáticas.

Para construir um mundo mais humano e igualitário é necessário que as novas gerações atuais e futuras tenham direito ao conhecimento técnico e ao legado cultural da humanidade, que permita a ampliação dos horizontes intelectuais, espirituais e técnicos. A evolução dos computadores e das comunicações eletrônicas permitiu derrubar barreiras de espaços e tempo. “O maior espetáculo para o homem sempre será o próprio homem” A afirmação atribuída ao escritor Eça de Queirós simboliza claramente o comportamento humano diante das especializações de atos violentos, visto que a sociedade se entretém ao ser notificada de ações realizadas por terceiros, ainda que esses sejam hostis. Nesse sentido, aprofundam essa vicissitude a visibilidade da violência, motivada pelos padrões de consumo, como também a exploração de temáticas atrozes nos vínculos midiáticos, visando audiência.

A princípio, é fato que os padrões de consumo contemporâneos influenciam notoriamente os conteúdos a serem vinculados pela mídia. Essa realidade aponta que assuntos ligados à violência, como brigas e assassinatos, atraem o público espectador de séries e filmes, a exemplo da série americana, a qual aborda os crimes hediondos de JEFFREY DAHMER e apresenta a psicopata do homicida de firme sexualidade. Como resultado disso, o corpo social adquire uma visão deturpada das atrocidades cometidos por assassinos, já que essas são especula risadas para agrados e audiência. Contudo, os consumidores de conteúdos violentos, motivados pela abordagem midiática fantasiosa dos crimes, desenvolvem um sentimento de compaixão e lástima pelos réus, o que pode se r exemplificado pelo caso de um homem americano, o qual é marcado por assassínios similares aos realizados pelo “Assassino do Zodíaco!. O indivíduo, segundo a política americana, queria expor a sua admiração pelo infrator por meio de recriação de seus delitos.

Ademais, torna-se nítido que a mídia usufrui da hipérbole nas manchetes e publicações para atrair a atenção do público. Essa conjuntura demonstra que, ao selecionarem a violência como foco que ume produção cinematográfica, os roteiristas buscam retratar o criminoso como uma vítima de relações sociais e familiares em que foi inserido com o objetivo de instigar os espectadores a se sentirem semelhantes à personagem. Esse panorama, no qual lhe concerne, não é contemporâneo, visto que, durante o Império Romano, o imperador Otávio construiu inúmeros Coliseus, nos quais ocorriam lutas entre Gladiadores, cujas audiências eram militares recém demitidos que se viam nos oponentes devido ao contexto da batalha. De maneira análoga, o hábito da utilização da violência como entretenimento se perpetua, porem com focos divergentes, já que na antiguidade os espetáculos eram com guerreiros e na atualidade os filmes retratam assassinos famosos.

Fica evidente, portanto, o espetáculo humano declarado por Eça de Queirós é intimamente relacionado à exibição da violência nas obras cinematográficas, já que a sociedade consome esses conteúdos de maneira assídua. Essa perspectiva assim sendo, possui origem inegável na influência dos padrões consumistas na desenvoltura de conteúdos midiáticos e a audiência atrelada ás práticas violentas, exploradas visando criminoso e a comoção do público.

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