PORTO VELHO UM PORTO DE NOVAS OPORTUNIDADES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7396747


Irene Daira André de Souza1
Silvia de Jesus Pereira Lima2


RESUMO: O presente estudo visa o conhecimento dos impactos que o processo migratório, com ênfase na cidade de Porto Velho – RO, pode acarretar tanto para o indivíduo que está vindo para a cidade, quanto os impactos para aqueles que já residem. Destacando os desajustes no processo de mudança de um país para o outro, na busca de melhorias, sendo ela pessoal, existencial, financeira e educacional. Apresentando a Gestalt terapia como uma abordagem que pode auxiliar no ajustamento criativo dessas pessoas diante das dificuldades enfrentadas. 

PALAVRAS-CHAVE: Imigrantes. Gestalt. Haiti. Bolívia. Porto Velho.  

1. INTRODUÇÃO 

O presente trabalho tem como objetivo conhecer como se deu o processo migratório de Haitianos e Venezuelanos para a cidade de Porto Velho – RO, conhecer sobre sua cultura e dificuldades encontradas ao mudar para um novo local. 

Para atingirmos estes objetivos faremos uma pesquisa contextual, relacionando os contextos encontrados com a Gestalt terapia, utilizaremos pesquisas relacionadas à região Norte, especificamente a cidade de Porto Velho -RO. 

No primeiro momento serão levantadas questões sobre a região onde moravam, fatores que possam ter influenciado para seu processo migratório, dificuldades e facilidades encontradas, conceitos sobre a Gestalt e sua relação com o contexto apresentado. 

2. RESUMO HISTÓRICO  

Vivemos em uma sociedade cercada de mudanças sociais e econômicas, essas mudanças fazem com que as pessoas saiam de sua localidade e migrem para outra em buscas de melhores condições. 

A República do Haiti é um país situado no mar do Caribe, e devido a sua localização é suscetível a uma série de catástrofes naturais como ciclones e tempestades, e estas levam a população a grandes perdas como de gado e lavoura. Outro fator de grande importância para a desigualdade que existe é a má gestão pública o que dificulta a vida da população, sobretudo, as pessoas mais vulneráveis que vivem principalmente da agricultura. 

Segundo Motta (2016), além das dificuldades encontradas no setor econômico, há a corrupção e a desigualdade como outros fatores que podem contribuir para a miséria em que vive a população. Quanto ao acesso à rede de ensino, se dá devido a condição econômica do indivíduo. Diante dessa situação o povo haitiano deixou seu país e veio para o Brasil em busca de trabalho e melhores condições, estes chegam ao país passando por países como Equador, Peru e Bolívia, adentrando o território nacional principalmente por meio da região Norte. Ao chegar no país, segundo o Comitê Nacional para Refugiados, muitos solicitam refúgio, mas por não atenderem às solicitações, muitos pedidos são recusados, dessa forma foi concedido a concessão de moradia por questões humanitárias. 

A República Bolivariana da Venezuela é um país situado no norte da América do Sul, e, para que se entenda o processo migratório é necessário conhecer um pouco de sua história. O processo de independência da Venezuela entrelaça-se com o da Colômbia, Equador e Panamá. Com a colaboração do Haiti e sob o comando de Simón Bolívar, a independência das colônias espanholas é declarada, e forma-se a Grã-Colômbia, Presidida Bolívar, porém em 1829 a Venezuela abandona a federação. O país continua sob o comando do Libertado Bolívar até sua renúncia em 1830, e após a dissolução total da Grã-Colômbia, um congresso constituinte proclamou a independência da Venezuela e elegeu o general José Antônio Páez presidente, além de criar uma nova constituição com regime centralista que restringia o direito de voto somente aos proprietários de terra e restabelecia a escravidão que outrora tinha sido abolida por Bolívar como exigência pelo governo haitiano para apoiar a luta pela independência (NIÑO, online, 2020). Após sua emancipação o país segue a quase um século com ditaduras, guerras civis e uma política mercantilista e regulatória, altamente excludentes. 

Apesar da Venezuela possuir um cenário próspero com o petróleo, os venezuelanos das camadas mais pobres acabam não se beneficiando, o cenário ficou ainda pior com a queda do preço do petróleo. Vale destacar, que mesmo no governo de Nicolás Maduro, o declínio socioeconômico, inflação, criminalidade e fome ainda são destaques. Devido ao contexto histórico, político e econômico ao qual estão inseridos, viram no Brasil, uma oportunidade, chegando ao país como imigrante ou refugiado. 

Temos na região Norte, especificamente na cidade de Porto Velho-RO, um grande número de imigrantes sendo estes Haitianos e Venezuelanos, segundo dados da SEAS (Secretaria de Estado da Assistência e do Desenvolvimento Social) do ano de 2015 cerca de 2800 Haitianos moram e trabalham na capital, estes que vieram para nossa região devido a facilidade de acesso, por conhecerem pessoas que já residiam aqui, cercado de esperança por melhores condições, mas nosso Estado não estava preparado para este crescimento populacional, e junto com as demandas dos imigrantes, houve um crescimento na procura por atendimento à saúde, educação, o que acabou não sendo suprido. 

 Diante de diversos fatores vivenciados por essa população, que enfrentam desafios como o de estar no local de não pertencimento original seu, mas que busca acolhimento, e um lar para pertencer como é o caso dos imigrantes, é possível observar enormes prejuízos na vida dessas pessoas.   

Partindo da ideia que a Gestalt terapia tem como “ um dos seus objetivos principais que é ampliar a consciência da pessoa sobre a forma de se relacionar consigo mesmo, com os outros e com o mundo a sua volta. ” (FREITAS, 2016). Podemos considerar essa abordagem fundamental no auxílio dessas pessoas, pois de acordo com FREITAS (2016) “a Gestalt-terapia considera a própria relação como sua maior técnica e sua principal ferramenta de trabalho, a qual denomina relação dialógica, sendo ambos afetados um pelo outro, promovendo transformação e crescimento. ” O auxílio dessa abordagem irá proporcionar ao ser humano um olhar diferente para a sua situação na busca da integração do organismo e seu novo ambiente, ocorrendo ali um ajustamento criativo sem interrupções, proporcionando a ele um crescimento pessoal. 

Ajustamento criativo na Gestalt terapia é um processo que o ser humano utiliza para se autorregular de maneira saudável, é uma busca criativa de crescimento e de se reinventar diante de alguma circunstância. Para Perls, Hefferline e Goodman (1997) o ajustamento criativo é uma forma de contato com o meio onde a pessoa está inserida. Porém pode ocorrer de o ser humano não conseguir ser criativo, daí a necessidade de uma ajuda psicológica para que ele consiga se ajustar. O ajustamento quando não se auto regula pode acarretar sintomas como: ansiedades, depressão, vazio e tipos de adoecimento psicológico. 

É possível que o imigrante quando parte em busca de um novo lar, esteja almejando melhorias seja elas pessoais, existências, financeiras ou educacionais. De acordo com SÁ (2018) “O movimento de reinventar-se como protagonista desta nova história, convida para uma adequação da subjetividade neste novo ambiente que reconfigura suas expressividades, bem como as maneiras em que as pessoas lidam e vivenciam suas experiências e interações. ” SÁ também vem falar em seu artigo o manejo psicoterapêutico na experiência de intercâmbio cultural em gestalt-terapia (2018) que: 

“A Gestalt terapia trabalha através de seu aposte epistemológico (Teoria de Campo, Teoria do Self, Teoria Organismica) e dos seus conceitos centrais, como por exemplo, Contato, Awareness, Autorregulação Organismica, Ajustamento criativo e Figura e fundo, e que possui um enorme campo teórico de contribuição para o manejo clinico no acompanhamento de pessoas que buscam viver essa imersão. ” (SÁ, 2018). 

O apoio psicológico é fundamental no auxílio dessas pessoas, pois irá proporcionar a elas uma regulação no seu organismo junto ao novo ambiente, permitindo a elas uma ressignificação. A Gestalt terapia constrói a sua visão de homem embasada nos pressupostos das filosofias humanista, fenomenológica e existencial, e sofre influência também de algumas Teorias como a Organísmica, Teoria de Campo, Psicologia da Gestalt e Holismo. Onde ela vem dizer que o homem é um ser complexo e que a todo momento ele se reorganiza, constrói a sua própria existência. Um homem que faz parte de um contexto, um campo e que se modifica e é modificado. (FREITAS, 2016). Um homem capaz de se ressignificar.  

A gestalt terapia visualiza o adoecimento da pessoa não em partes, mas como o todo. O seu olhar vai para além de uma patologia, pois de acordo com Freitas (2018) “A patologia é apenas mais uma das várias partes do todo que aquele indivíduo é, e sua “doença” é encarada como a maneira mais “saudável” que encontrou para enfrentar situações insuportáveis ou conscientemente inconciliáveis. ” A Gestalt terapia enxerga o homem interligado com o mundo, onde não há separação. E essa união organismo-ambiente forma uma totalidade, ou seja, o Gestalt terapeuta não foca na parte organismo ou ambiente, mas sim na relação que forma o total. A essa relação é dado o nome de contato. 

“ À forma como a pessoa se encontram ou se desencontram revela o como de seu engajamento numa relação, a qual torna visíveis o grau e o nível de equilibração organísmica que elas co dividem e que procede de processo de união e separação com que se relacionam. ’’ (Ribeiro, 2019). 

Para Ribeiro (2019) por meio do contato percebo a minha existência e a existência do outro e esse encontro é um gerador de mudanças, pois por meio dele encontro a minha coragem, os meus medos e a minha esperança. Para Perls, Hefferline e Goodman (1997) o contato é um ajustamento criativo do organismo e do ambiente. Quando um contato pleno ocorre os elementos anteriores se modificam, porém, o processo de mudança segundo Ribeiro (2019) é uma travessia difícil, “os pés se machucam com as pedras ou calor do caminho, mas essa caminhada que permite ao cliente atravessar o Jordão e, do outro lado, encontrar leite e mel como respostas aos desafios da estrada percorrida. ” A Gestalt terapia por se tratar de uma abordagem que vê o ser humano como ser capaz de se reajustar, ela possui inúmeras possibilidades de dar o apoio necessário a essas pessoas que estão vivenciando esse grande desafio de se reinventar e de se reconstruir em uma nova cultura, em nova realidade. 

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 O processo de inserção de imigrantes em um novo contexto, passa por dificuldades culturais e estruturais, podendo ser marcado pelo preconceito seja ele de raça ou classe, sua experiência levará em conta a forma como reagirá aos preconceitos que lhes são atribuídos e se organizam enquanto grupo étnico. Ficar, reemigrar, retornar temporariamente, circular de um país para outro são possibilidades que parecem expressar as diferentes facetas da imigração, com suas dificuldades de inserção sociocultural (FERNANDES; CASTRO, 2016, p. 480).   

 A Gestalt terapia se mostra capaz diante de seus manejos terapêutico que pode contribuir tanto no acolhimento como na integração desses imigrantes no meio da sociedade. Podendo ajuda-los a resgatar os seus potenciais e compreender e a vivenciar um ajustamento criativo diante de uma nova realidade vivida. Proporcionando a cada um deles um equilíbrio existencial. 

Apesar das limitações encontradas, muitos imigrantes se sentem acolhido, por parte de governantes, ou por outra rede de apoio, fomentando novas conexões e possibilidades de múltiplas trocas.  

REFERÊNCIAS  

FREITAS, Julia Rezende Chaves Bittencourt de – A relação terapeuta-cliente na abordagem gestáltica. Revista IGT na Rede, v. 13, nº 24, 2016. p. 85 – 104. Disponível em http://www.igt.psc.br/ojs ISSN: 1807-2526 

SÁ, Jurandir Monteiro de – o manejo psicoterapêutico na experiência de intercâmbio cultural em gestalt-terapia. Rev. Nufen: Phenom. Interd. | Belém, 10(2), 57-74, mai. – ago., 2018. 

GOLDSTEIN, K. The Organism. Nova York: Zone Books, 1995. 

ZINKER, J. O Processo Criativo em Gestalt–terapia. São Paulo: Summus Editorial, 2007. 

PERLS, F.; HEFFERLINE. R.; GOODMAN, P. Gestalt–Terapia. São Paulo: Summus Editorial, 1997 RIBEIRO, J.P. O ciclo do contato. São Paulo: Summus, 2019 

OLIVEIRA, Jeferson – entre fronteiras e diásporas: o caso dos venezuelanos em Porto Velho. Porto Velho, RO, 2021.Dissertação (Mestrado Acadêmico em Letras) –Fundação Universidade de Rondônia. Disponível em: <https://ri.unir.br/jspui/bitstream/123456789/3102/1/Dissertacao_Jeferson_Oliveira..pdf>.  

CHARLES, Charlot, IANESKO, Ra Aparecida e SILVA, Josué – A diáspora haitiana, a noção de hos(ti)pitalidade e a busca do lugar sob o olhar geográfico. Revista: Presença Geografica. Porto Velho, RO 2020. Disponível em:  https://periodicos.unir.br/index.php/RPGeo/article/view/5546 

SILVA, Sidney Antonio da. Imigração e redes de acolhimento: o caso dos haitianos no Brasil. Rev. bras. estudar. popul. , São Paulo, v. 34, n. 1, pág. 99-117, abril de 2017 . Disponível em <http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01020982017000100099&lng=en&nrm=iso >. Acesso em 16 de maio de 2022. 

BERNO, Geovani. Haitianos se estabelecem em Porto Velho; cerca de 2.800 moram e trabalham na capital. Disponível em: < https://rondonia.ro.gov.br/haitianos-se-estabelecem-em-porto-velho-cercade-2-800-moram-e-trabalham-na-capital/>. Acesso em 16 de maio de 2022 


1Centro Universitário São Lucas, Porto Velho, Brasil