O PAPEL DO ASSISTENTE TERAPÊUTICO NA INTERVENÇÃO PRECOCE EM CRIANÇAS AUTISTAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.6755171


Autoras:
Ívine Teixeira Mascarenhas Silva1
Rayane Alves Calaço2
Ruth Raquel Soares de Farias3


RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar o papel do assistente terapêutico na intervenção precoce de crianças autistas através de uma revisão de literatura. E tem como pretenção ser um auxilio aos assistentes terapêuticos, pais e profissionais da saúde que trabalham com crianças autista; para que possam aprofundar seus conhecimentos sobre o tema e aplicá-los na intervenção precoce, para que mais crianças autistas sejam diagnosticadas precocemente. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de abordagem qualitativa e descritiva e ocorreu no período de outubro de 2021 a março de 2022, nas bases de dados BVS, Portal Capes, PubMed e SciELO. Ao final, 5 artigos foram incluídos para constituir a amostra desta revisão sistemática da literatura. Os resultados demonstram a importância da atuação do profissional terapêuta no atendimento ao paciente com TEA, dado a necessidade de estímulos motores e sensoriais. É importante ressaltar a necessidade de intervenção precoce para melhores respostas ao tratamento e adaptação ao espaço. As atividades que são trabalhadas devem ser lúdicas que associam a coordenação e o equilíbrio. A evolução nos aspectos motores e sensoriais auxiliam na melhoria da qualidade de vida e integração social dos indivíduos.

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista. Intervenção Precoce. Assistência Terapêutica.

ABSTRACT

The objective of this work is to present the role of the therapeutic assistant in the early intervention of autistic children through a literature review. And it intends to be an aid to therapeutic assistants, parents and health professionals who work with autistic children; so that they can deepen their knowledge on the subject and apply them in early intervention, so that more autistic children are diagnosed early. This is an integrative literature review, with a qualitative and descriptive approach and took place from October 2021 to March 2022, in the VHL, Portal Capes, PubMed and SciELO databases. In the end, 5 articles were included to constitute the sample of this systematic literature review. The results demonstrate the importance of the role of the therapist in the care of patients with ASD, given the need for motor and sensory stimuli. It is important to emphasize the need for early intervention for better responses to treatment and adaptation to space. The activities that are worked on must be playful that associate coordination and balance. The evolution in motor and sensory aspects help to improve the quality of life and social integration of individuals.

Keywords: Autism Spectrum Disorder. Early intervention. Therapeutic Assistance.

1. INTRODUÇÃO

O autismo começou a ser estudado em 1940, a partir do trabalho de Leo Kanner chamado de ‘distúrbios autísticos do contato afetivo’, e de Hans Asperger acerca da psicopatia autística na infância’ (SILVA et al., 2020). O autismo é uma disfunção do desenvolvimento neurológico, que afeta a capacidade de comunicação da criança, de socialização e de comportamento. De maneira geral, crianças autistas apresentam duas principais características: déficits de interações sociais e de comunicação e comportamentos repetitivos e interesses restritos (APA, 2014).

Os sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem aparecer desde os primeiros anos de vida e as crianças diagnosticadas têm dificuldades maiores ou menores dependendo do grau do transtorno manifestado. O diagnósttico não é feito por meio de exames, ele é clínico e se dar através do acompanhamento e da observação do médico e psicólogo. Assim, o comportamento observado na criança é comparado com os critérios estabelecidos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e Classificação Internacional de Doenças (CID) (DSM-V, 2014), que é um manual que estabelece critérios para identificação de doenças mentais, como o autismo.

A intervenção precoce é um programa de acompanhamento e estímulo clínico e terapêutico, com a intenção de reduzir os efeitos neurológicos e obter melhora das capacidades cognitivas e de sociabilidade dos portadores. várias especialidades que compõem a atenção multiprofissional permite aplicar O tratamento precoce se dar por meio da constituição de várias especialidades que compõem a atenção multiprofissional, o que garante uma melhor qualidade de vida (BRASIL, 2015).

O melhor tratamento para o TEA é uma intervenção precoce, iniciada assim que exista a suspeita ou a confirmação do diagnóstico. A terapia inclui uma série de propostas terapêuticas com o intuito de elevar o desenvolvimento social e a comunicação, protegendo a função intelectual atingida, melhorando a qualidade de vida e tornando-a autônoma. Toda terapia parte de uma avaliação individualizada que gera um planejamento individual intervencionista. Dentre as intervenções precoces, estão o modelo de intervenção em ABA, o Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM), o DIR-FLOORTIME® e o modelo SCERTS (GOMES; PUJALS, 2015).

O papel do assistente terapêutico resulta na compreensão e na aplicabilidade da análise do comportamento na intervenção precoce do TEA, contribuindo para o desenvolvimento comportamental, socialização e a comunicação da criança autista. Por isso, esse trabalho tem como pretenção ser um auxilio aos assistentes terapeuticos, pais e profissionais da saúde que trabalham com crianças autista; para que possam aprofundar seus conhecimentos sobre o tema e aplicá-los na intervenção precoce, para que mais crianças autistas sejam diagnosticadas precocemente. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é apresentar o papel do assistente terapêutico na intervenção precoce de crianças autistas através de uma revisão de literatura.

2. METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de abordagem qualitativa e descritiva. Escolhida por se tratar de uma abordagem metodológica ampla que permite realizar a síntese atual sobre determinada temática especifica (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010).

A pesquisa em artigos científicos ocorreu no período de outubro de 2021 a março de 2022, nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Portal Capes, PubMed, Scientific Electronic Library Online (SciELO).

Foi considerado a confiabilidade das publicações na área da saúde nestas bases, sendo utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DECS): Transtorno do Espectro Autista, Intervenção Precoce e Assistência Terapêutica. E os operadores booleanos AND e OR, que resultaram nas combinações na língua portuguesa e inglesa.

Os critérios de inclusão da pesquisa foram: artigos disponibilizados na integra, referente aos últimos 10 anos de publicação (2012 – 2022), nos idiomas português e inglês. Com resumos e textos completos disponíveis nas bases de dados selecionadas, que retratem a temática referente à esta revisão.

Os critérios de exclusão foram: artigos cuja temática não condizem com o tema proposto, artigos com o ano de publicação fora do recorte temporal definido, os duplicados, e a literatura cinzenta: dissertações, monografias, capítulos de livros e editoriais.

Devido ao seu caráter metodológico, por se tratar de uma revisão sistemática da literatura, esta pesquisa não passou pelo processo de submissão e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.

A análise dos dados ocorreu através da seleção dos artigos nas plataformas conforme os descritores. Após a seleção dos estudos, foi realizado a leitura dos resumos dos artigos selecionados. Os estudos que se enquadravam nos critérios de inclusão foram analisados detalhadamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A busca inicial pelos descritores nas bases eletrônicas de dados identificou 687 registros publicados no período de interesse, sendo 197 em português. Do total de registros encontrados, foram removidos 98 por duplicação.

Após remoção dos registros duplicados, restaram 392 e, desses, foram excluídos 362 após leitura dos títulos e resumos, considerando os critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Dessa forma, 30 estudos foram avaliados para a etapa de elegibilidade.

Destes 30 estudos, 25 foram excluídos após leitura integral, sendo 15 por não possuírem relação com a temática e 10 por terem baixa qualidade metodológica. Assim, 5 artigos foram incluídos para constituir a amostra desta revisão sistemática da literatura.

A extração dos dados e a revisão dos artigos seguiram as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis (PRISMA), sendo o detalhamento apresentado no diagrama de fluxo disponível na Figura 1.

FIGURA 1 – DIAGRAMA DE FLUXO

Fonte: PRISMA Statement, 2020.

Tais artigos tratam sobre a importância de uma assistência terapêutica de qualidade ao paciente autista e o processo de diagnóstico e intervenção precoce, bem como um acompanhamento personalizado e em conjunto com outros profissionais e a família.

Os seguintes dados foram extraídos das publicações: autores, ano, título, objetivo e conclusão. A síntese dos dados se apresenta no Quadro 01, elaborado por meio do Excel 2010, para facilitar a visualização e compreensão dos resultados e discussão dos dados.

QUADRO 1 – PRINCIPAIS DADOS EXTRAÍDOS DOS ARTIGOS INCLUÍDOS

Fonte: Dados produzidos pelas autoras.

Os resultados da pesquisa demonstram que a intervenção precoce no TEA contribuiu positivamente no desenvolvimento destas crianças, e conforme as pesquisas vão avançado, sabe-se que é possível detectar cada vez mais cedo um TEA. Conforme destaca Dawson & Sterling (2008), há uma melhoria no comportamento de crianças autistas resultante da precocidade da intervenção. Os autores ressaltam ainda que as ligações neurológicas envolvidas no desenvolvimento da linguagem e comportamento social irão também mudar de forma promissora. Quanto mais precocemente se intervir maiores são as probabilidades de evolução, e quanto mais nova a criança for, maior será a capacidade de responder à estimulação positivamente (SIEGEL, 2008).

O autor Arruda et al. (2018) corrobora afirmando que o autista estimulado precocemente e de maneira correta tem excelente prognóstico apesar de a doença ainda não apresentar cura. A família é fonte de carinho e deve ser a referência de estabilidade emocional para o sucesso da abordagem da criança com dificuldades de interação social e desenvolvimento.

É o que destaca Gomes et al. (2015), os cuidados direcionados às crianças diagnosticadas com transtorno de espectro autista, devem incluir também toda a família envolvida. Este impacto sobre o contexto familiar pode ser reduzido através do diagnóstico de forma mais rápida, e da ampliação e difusão de conhecimentos sobre o TEA, buscando-se criar uma verdadeira rede de suporte às famílias. Assim, o estabelecimento de planos de tratamento e cuidados adequados, além de beneficiarem a o portador do transtorno, também confortam os pais, que anseiam por assistência à saúde adequada, ambientes integrativos e atividades educativas voltadas às crianças.

Outro ponto importante, segundo Ministério da Saúde (2015) é que o cuidado com o paciente portador do TEA demanda longos períodos de entrega e dedicação, por esse motivo, a assistência multidisciplinar, os espaços de partilha e a disponibilidade de cuidados terapêuticos específicos são de extrema importância para a criança. A integralidade do cuidado deve ser sempre considerada, principalmente pela diversidade de demandas e pela necessidade de promoção da saúde e da autonomia de todos os envolvidos.

Segundo Molina (1998, p.12) a função do terapeuta “[…] é alicerçar as possibilidades da família para operacionalizar a integração comunitária da pequena criança, […] pelas suas capacidades, potencialidades e por sua singularidade pessoal do que somente seja rotulado por sua patologia”. Cabe salientar que o terapeuta deve colaborar com o psicólogo psicanalista na assistência aos pais, visando ajudá-los na ressignificação da destituição narcísica prematura, levando-os a perceberem seu filho para além da patologia, que embora não tenha sido o idealizado, porém poderão vivenciar produções animadoras com o filho real.

Já Rodger et al. (2010) ao discorrerem sobre as ações do terapeuta ocupacional junto a crianças autistas, apontam que deve-se atentar para o fato de que intervenções terapêuticas ocupacionais com autismo não devem ser sinônimo de Integração Sensorial, alertando que é necessário diferenciar a Integração Sensorial de intervenções que visam facilitar o desempenho profissional, a aprendizagem e a adaptação. Assim, observa-se que a pesquisa e divulgação das práticas dos terapeutas ocupacionais junto a crianças autistas encontram-se em processo de desenvolvimento e que identificar o que tem sido produzido e realizado por estes profissionais é relevante para a compreensão dos processos envolvidos na realidade brasileira e na terapia ocupacional de forma geral.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desse artigo, compreende-se a importância da atuação do profissional terapêuta e o assistente terapêutico no atendimento ao paciente com TEA, dado a necessidade de estímulos motores e sensoriais e observações comportamentais. É importante ressaltar a necessidade de intervenção precoce para melhores respostas ao tratamento e adaptação ao espaço. As atividades que são trabalhadas devem ser lúdicas que associam a comportamento funcional, cognição, coordenação e o equilíbrio. A evolução nos aspectos comportamentais, cognitivos e sensoriais auxiliam na melhoria da qualidade de vida e integração social dos indivíduos.

Em virtude disso é de extrema relevância a identificação precoce do transtorno do espectro autista e a necessidade do diagnostico diferencial, a capacitação e a atualização das técnicas dos profissionais que realizam tratamento especializado, que atue na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação desses pacientes. Assim, cabe destacar a necessidade de mais estudos e investigações neste campo, visando instrumentalizar e valorizar o trabalho do assistente terapêutico com crianças autistas.

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1ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7402-3286
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2ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2168-6411
Faculdade de Ensino Superior do Piauí, Brasil
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3ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0988-0900
Faculdade de Ensino Superior do Piauí, Brasil
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