INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR DE CRIANÇAS ASSISTIDAS NA ATENÇÃO BÁSICA: REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

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Autores:
Beatriz Andrade de Jesus; Jadson Almeida; Adrielle Santos da Purificação; Andressa Santana Montino de Melo; Camila Galvão dos Santos; Caroline Ferreira Capinan; Daiala Sampaio Sodré; Daniele Oliveira Meireles; Dryele Teles Conceição da Luz; Hianna suzart Souza; Juliana de Castro Santana; Milena Lima de Jesus; Tatiane Falcão dos Santos Albergaria.

RESUMO

INTRODUCAO: O desenvolvimento neuropsicomotor refere-se ao aumento da capacidade do bebê em realizar gradualmente funções cognitivas e motoras mais complexas. Esse processo envolve as habilidades físicas, intelectuais e sociais da criança. Há uma variedade de ferramentas de avaliação para ajudar a identificar crianças em risco. OBJETIVO: Verificar a literatura acerca da utilização de escalas de avaliação de desenvolvimento com população alvo de crianças, sem restrição territorial assistidas na atenção básica. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura nos portais PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde. MÉTODOS: Para serem incluídos, os estudos deveriam ter qualquer delineamento observacional e ter no desfecho primário ou secundário o uso dos instrumentos de avaliação do desenvolvimento na atenção básica em crianças. RESULTADOS: No total foram encontradas doze escalas, dessas duas foram mais incidentes. Estas mostraram-se mais precisas em sua utilização para o acompanhamento de crianças sob assistência da atenção básica. CONCLUSÃO: Entre publicações selecionadas apenas duas escalas destacaram-se pela confiabilidade, facilidade e possibilidade de uso pelos familiares e profissionais. Neste estudo observou-se que há uma carência literária a respeito de artigos brasileiros referentes ao uso de instrumentos de avaliação na atenção básica.

Descritores: Avaliação da deficiência; Desenvolvimento infantil; Atenção primária à saúde.

Descriptors: Disability evaluation; Child development; Primary health care.

Descriptores: Evaluación de la discapacidad; Desarrollo infantil; Atención primaria de salud.

INTRODUÇÃO

O Ministério da Saúde refere-se à atenção básica à saúde como atenção primária à saúde, que se caracteriza por uma série de ações realizadas em nível individual e coletivo, incluindo promoção e proteção, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento, reabilitação e vigilância da saúde1.

Nos países europeus, a atenção primária é geralmente um conjunto de serviços ambulatoriais iniciais integrados ao sistema médico universal. Isso é diferente dos países periféricos. Nestes a atenção primária também é comumente usada, mas adota procedimentos seletivos e enfoca a baixa resolução taxa2.

O desenvolvimento neuropsicomotor refere-se ao aumento da capacidade do bebê de realizar gradualmente funções cognitivas e motoras mais complexas. Esse processo envolve as habilidades físicas, intelectuais e sociais da criança3.

Nos primeiros dias de vida, as experiências vividas pelas crianças são fundamentais para o seu processo formativo. Esta fase é um ciclo de constantes mudanças, onde a criança deve crescer num ambiente que lhe permita obter emoção e estimulação através do brincar4.

É importante observar que algumas crianças podem apresentar atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Os motivos desse atraso são: a) causas ambientais: desnutrição, discinesia (encefalopatia hipóxico-isquêmica; microcefalia e toxoplasmose congênita secundária à radiação ionizante). b) Investigação de causas genéticas: síndrome de Down, síndrome de Weaver e neurofibromatose5.

Os pais devem prestar atenção ao desenvolvimento anormal das habilidades de seus filhos. Existem sinais de atraso no movimento neuropsicomotor. São eles: atraso na fala, cãibras musculares, disfagia, rigidez muscular e movimentos rígidos.

Há uma variedade de ferramentas de avaliação para ajudar a identificar crianças em risco. Se alguma anormalidade for encontrada, esses testes e escalas de avaliação de desenvolvimento ajudarão a identificar e diagnosticar, bem como organizar planos de tratamento.6.

É determinado de antemão que a intervenção prévia de crianças com leve atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, pode contribuir em possíveis mudanças e ajuda-las a se recuperar o mais rápido possível. Para terapeutas e pesquisadores, o desafio é descobrir e compreender com precisão a importância de quaisquer mudanças no desenvolvimento infantil7.

Para equipes de monitoramento de atenção primária, avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor pode ser difícil, e o uso de ferramentas de avaliação pode ajudar a determinar objetivos. A tarefa de identificar e monitorar crianças com retardos no desenvolvimento neuropsicomotor enfrenta a complexidade dos fatores que causam esses atrasos, a falta de sistemas de monitoramento eficazes e a falha no uso de ferramentas de avaliação adequadas para a triagem.8.

Portanto, neste artigo é realizada uma revisão integrativa da literatura a respeito de alguns tipos de instrumentos de avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor de crianças assistidas na atenção básica utilizados pela equipe de saúde, afim de que os mesmos auxiliem no diagnóstico precoce do atraso do desenvolvimento neuropsicomotor.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão integrativa. Sem restrições de datas e idiomas. Para identificar os artigos acerca do assunto, realizou-se busca nas bases Pubmed e Biblioteca Virtual em Saúde com a seguinte estratégia de busca: disability evaluation and child development and primary health care.

Para a inclusão dos artigos, os estudos deveriam ter qualquer delineamento observacional, não necessariamente de base populacional, e ter no desfecho primário ou secundário o uso escalas de avaliação do desenvolvimento na atenção básica. Metodologia claramente descrita, com população alvo de crianças, sem restrição territorial. Foi considerado acompanhamento na atenção básica, aqueles artigos que na sua metodologia deixaram claro a abordagem em criança em serviços públicos, acessibilidade independente de renda e de abordagem integral e de baixa complexidade. Com textos disponíveis na íntegra.

Foram excluídos estudos cujo desfecho não atendia aos itens necessários e fossem embora observacionais, um relato ou série de caso. Foram lidos todos os resumos resultantes. Nos casos em que a leitura do resumo não era suficiente para estabelecer se o artigo deveria ser incluído, considerando-se os critérios de inclusão definidos, o artigo foi lido na íntegra para determinar sua elegibilidade. Quando o resumo era suficiente, os artigos eram selecionados e então obtida a versão integral para confirmação de elegibilidade e inclusão no estudo.

Para extração dos dados dos artigos, elaborou-se uma tabela e um gráfico contendo as seguintes informações: a) Tabela: autores, ano de publicação, local de publicação, objetivo do estudo e escalas; b) Gráfico: países e quantidade de uso das escalas.

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Figura 1. Diagrama do fluxo do processo de seleção dos artigos nas diferentes fases da revisão integrativa.

RESULTADOS

Os estudos encontrados nessa revisão sistemática datam de 2003 a 2018, três da década de 2000 e quatro da década de 2010, realizados em três países diferentes. Foram usados 12 instrumentos de avaliação distintos, conforme a figura 2, 56% dessas escalas foram utilizadas em estudos realizados nos Estados Unidos, 11% no Canadá e 33% na Austrália. Vale salientar que nenhum dos artigos encontrados referiam-se a estudos realizados no Brasil.

Nas publicações estudadas (n=7), a escala Parent’s Evaluation of Developmental Status (PEDS) e Ages & Stages Questionnaires (ASQ) foram utilizadas em 3 artigos, o MDI of Bayley Scales of Infant Development (BSID) em 2 artigos e as escalas CAT/CLAMS, StimQ-T, Parenting Stress Index–Short Form (PSI-SF), Epidemiological Studies Depression Scale (CES-D), Child Behavior Checklist (CBCL), Scale-3 (PLS-3), Assistance to Participate Scale (APS), Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI) e Pediatric Quality of Life Scale (PedsQL) foram utilizadas por diferentes artigos apenas uma vez.

Observou-se que a maior quantidade de instrumentos de avaliação (n=6) foi utilizado no estudo “Use of videotaped interactions during pediatric well-child care: impact at 33 months on parenting and on child development.”, cujo o objetivo era avaliar o impacto do uso do Vídeo Interaction Project (VIP) nas crianças, visando promover o desenvolvimento da primeira infância.

Tabela 1. Relação dos artigos e das escalas avaliadas.

ArtigoAutoresAnoPaísObjetivo do estudoEscalas
Concurrent and predictive validity of the cognitive adaptive test/clinical linguistic and auditory milestone scale (CAT/CLAMS) and the Mental Developmental Index of the Bayley Scales of Infant Development.10VOIGT, R et. al.2003Estados UnidosAvaliar a validade
concorrente e preditiva de CAT/CLAMS e MDI das escalas BSID em crianças saudáveis, sem fatores de risco para atraso no desenvolvimento.
CAT/CLAMS; MDI de Bayley Scales of Infant Development (BSID);
Use of videotaped interactions during pediatric well-child care: impact at 33 months on parenting and on child development.11MENDELSOHN, A et. al.
2007Estados UnidosAvaliar o impacto do uso do Video Interaction Project (VIP) nas crianças, visando promover o desenvolvimento da primeira infância.StimQ-T; Parenting Stress Index–Short Form (PSI-SF); Epidemiological Studies
Depression Scale (CES-D); MDI de Bayley Scales of Infant Development (BSID); Scale-3 (PLS-3); Child Behavior Checklist (CBCL);
PEDS and ASQ developmental screening tests may not identify the same children.12SICES, L et. al.2009Estados UnidosComparar o desempenho relativo das ferramentas PEDS e ASQ na atenção primária.Parents’ Evaluation of Developmental Status (PEDS); Ages & Stages Questionnaires (ASQ);
Comparison of the ASQ and PEDS in screening for developmental delay in children presenting for primary care.13LIMBOS, M; JOYCE, D.2011CanadáInvestigar a sensibilidade e especificidade de dois breves estudos ASQ e PEDS em crianças que se apresentam aos seus provedores de cuidados primários.Parents’ Evaluation of Developmental Status (PEDS); Ages & Stages Questionnaires (ASQ);
The Assistance to Participate Scale to measure play and leisure support for children with developmental disability: update following Rasch analysis.14BOURKE-TAYLOR, H; PALLANT, J. F.2013AustráliaRealizar uma avaliação aprofundada das propriedades psicométricas dos APS por meio de análise de Rasch.Assistance to Participate Scale (APS);
Validity of the Assistance to Participate Scale with Parents of typically developing Australian children aged three to eight years.15
JOYCE, K., BOURKE-TAYLOR, H., & WILKES-GILLAN, S.2017AustráliaAmpliar o desenvolvimento psicométrico de APS através da aplicação de uma amostra em desenvolvimento.Assistance to Participate Scale (APS); Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI); Pediatric Quality of
Life Scale (PedsQL);
Health professional perceptions regarding screening tools for developmental surveillance for children in a multicultural parto of Sydney, Australia.16
GARG, P et. al.2018AustráliaRelatar em um
componente qualitativo do estudo examinando as atitudes, os facilitadores e barreiras para as práticas atuais de vigilância de desenvolvimento, com referência a ferramentas de triagem, entre profissionais de saúde.
Parents’ Evaluation of Developmental Status (PEDS); Ages & Stages Questionnaires (ASQ);

Figura 2. Gráfico representando o uso das escalas de avaliação por país no qual os estudos foram realizados.

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DISCUSSÃO

As Escalas de Desenvolvimento Infantil de Bayley, foram desenvolvidas por Nancy Bayley e colaboradores em 1933, sendo uma revisão das publicações de Bayley em 196917. O teste foi padronizado em uma amostra de 1262 crianças americanas com idade de dois a 30 meses, divididas em 14 grupos, no ano de 1960. Apresenta três versões: BSID I publicada em 1969; BSID II publicada em 1983 e a mais atualizada BSID III publicada em 200618.

As escalas BSID, segunda edição, é uma medida psicológica padronizada destinada a avaliar o desenvolvimento de crianças de 1 a 42 meses de idade. Deve ser administrada por indivíduos com treinamento especializado em administração do teste e a sua administração requer de 25 a 45 minutos. Ela produz uma pontuação global, o Índice de Desenvolvimento Mental (MDI) com uma média de 100 e um desvio padrão de 15. O MDI reflete habilidades cognitivas, resolução de problemas, linguagem e domínios perceptivos, mas pontuações individuais para habilidades de resolução de problemas de linguagem e motor visual não são relatadas separadamente10.

As escalas BSID II estão reconhecidas entre as melhores escalas existentes na área de avaliação do desenvolvimento infantil, fornecendo resultados confiáveis, válidos e precisos do estado de desenvolvimento da criança em teste. Sua utilização como instrumento de pesquisa tem recebido grande suporte da comunidade científica, porém seu elevado custo e treino exigido para correta administração, explicam porque sua utilização é quase sempre exclusiva de especialistas que trabalham com crianças pequenas19.

A Preschool Language Scale originalmente foi desenvolvida em 1969 como medida do desenvolvimento linguístico de crianças jovens. Zimmerman, Steiner e Pond revisaram a escala em 1979, e a revisão mais recente é a (PLS-3) que apareceu em 1992. Esta terceira edição (PLS-3) foi concebida parcialmente em resposta à Lei Pública 99-457, o que aumentou a necessidade de válidas e confiáveis medidas de linguagem para crianças pré-escolares20.

O PLS-3 está organizado em duas subescalas: Compreensão Auditiva (AC) e Comunicação Expressiva (EC), que destinam-se a serem aplicadas em crianças desde o nascimento até os 6 anos. Ambas baseiam-se nos componentes da linguagem receptiva e expressiva do conteúdo, forma e uso. O conhecimento da criança sobre a semântica do conteúdo da linguagem é medido através de atividades que avaliam o vocabulário e a aquisição de conceitos. Conhecimento da forma de linguagem ou estrutura é medida através de tarefas que “avaliam” morfologia e sintaxe20.

Nos estudos de VOIGT, R et. al. (2003) e MENDELSOHN, A et. al. (2007), ambos avaliaram o desenvolvimento cognitivo de crianças usando o MDI da segunda edição das Escalas de Desenvolvimento Infantil de Bayley. MENDELSOHN, A et. al. (2007), avalia também o desenvolvimento da linguagem usando a Escala de Linguagem Pré-Escolar-3 (PLS-3). Comparando essas duas escalas, percebe-se que tanto o MDI quanto o PLS-3 fornecem pontuações padronizadas, com uma média de 100 e um DP de 1511.

O StimQ-T avalia as práticas parentais relacionadas ao desenvolvimento infantil. É baseado em uma entrevista estruturada com o cuidador da criança e é validado para uso em populações de baixo nível socioeconômico em inglês e espanhol21. O Epidemiological Studies Depression Scale (CES-D) é uma escala de 21 itens que mede sintomas depressivos auto relatados. Os participantes responderam perguntas sobre a frequência de sentimentos e experiências durante a semana passada em uma escala Likert de 4 pontos, variando de “raramente ou nenhum o tempo para “a maioria ou todo o tempo”11.

O CAT/CLAMS é um instrumento de avaliação do desenvolvimento concebido para ser utilizado por clínicos pediátricos na avaliação de bebês e crianças de 1 a 36 meses de idade22,23. Os itens que compõem a escala de 100 itens foram escolhidos para facilitar a administração e necessidades mínimas de equipamentos especiais, bem como interpretação clara24. É administrado de forma padronizada, com uma média de 5 itens por faixa etária. Informações sobre o desenvolvimento de uma criança é obtido tanto pelo relato dos pais quanto pela observação direta da criança. Pontuações de idade basal e teto são obtidas por quocientes de desenvolvimento quantitativos (DQ = idade de desenvolvimento/idade cronológica x 100) e são calculados para a resolução de problemas motor visual (CAT DQ) e linguagem (CLAMS DQ), bem como a função cognitiva global (CAT/CLAMS DQ)22.

O CBCL é parte de um sistema de avaliações desenvolvido por Achenbach e Rescorla que avalia os comportamentos infantis por faixa etária. Existem duas versões: uma para crianças de 1 ½ a 5 anos e outra para crianças e adolescentes de 6 a 18 anos. Em ambos os instrumentos, o informante deverá ser os pais ou cuidadores25.

Ainda no estudo de MENDELSOHN, A et. al. (2007), fez-se uso da primeira versão dessa escala para avaliar o desenvolvimento socioemocional/comportamental. O CBCL é validado em inglês e espanhol e consiste em 100 itens descrevendo comportamentos11 que deverão ser avaliados pelo respondente como não verdadeira – tanto quanto se sabe; um pouco verdadeira ou algumas vezes verdadeira; ou muito verdadeira ou frequentemente verdadeira, o que corresponde, respectivamente, a 0, 1 e 2 pontos na escala25.

PEDS e ASQ representam diferentes abordagens para a coleta de observações dos pais sobre o desenvolvimento para identificar as crianças que estão em risco de atrasos de desenvolvimento: perguntando aos pais sobre preocupações de desenvolvimento (PEDS) versus as habilidades específicas da criança (ASQ)12. PEDS é a melhor abordagem para o rastreio e vigilância do desenvolvimento comportamental para crianças de até 8 anos. As ferramentas PEDS selecionam o desenvolvimento, o comportamento, a saúde socioemocional/mental e o autismo, ao mesmo tempo em que incentivam o envolvimento dos pais e eliminam as preocupações26.

Desenvolvido por Squires, Bricker e Twombly, o Ages and Stages Questionnaires Third Edition (ASQ-3), trata-se de um instrumento de rastreio e monitoramento do desenvolvimento infantil, direcionado aos pais e cuidadores primários de crianças de 1 a 66 meses de idade. Ele é composto por 21 questionários, cada um com 30 itens divididos em cinco áreas de desenvolvimento (Comunicação, Coordenação Motora Ampla, Coordenação Motora Fina, Resolução de Problemas e Pessoal-Social), totalizando 630 questões, mais um campo de informações adicionais, no qual podem ser expressas demais preocupações27.

Em seus estudos SICES, L et. al., afirmam que após a triagem das duas escalas, identificou-se uma discordância entre os resultados. Evidenciam ainda que acredita-se ser necessário documentar e descrever essas diferenças, para fornecer informações aos médicos e para estimular a pesquisa adicional nesta área prática12.

LIMBOS, M; JOYCE, D., discorreu sobre as vantagens práticas que a ferramenta PEDS pode ter sobre a ASQ, relacionadas principalmente com a redução do tempo de administração e a capacidade de completar o teste com facilidade na sala de espera de uma clínica ocupada13. Porém, não deixou de salientar que vários fatores podem prejudicar o uso do ASQ, estes são: (1) dificuldades em sincronizar a administração em casa com a consulta do filho, incluindo a garantia da forma correta da idade; (2) confiar nos pais para tentar várias tarefas de desenvolvimento com seu filho; e (3) confiar nos pais para devolver os formulários preenchidos para pontuação13.

GARG, P et. al., abordou algo semelhante ao preocupar-se com barreiras e limitações encontradas pelos profissionais de saúde em relação ao uso do PEDS e ASQ. Essas barreiras incluíam fatores que afetavam os pais ao acessar exames de saúde de rotina, como questões de transporte, a falta de flexibilidade dos horários da clínica e barreiras de nível profissional, como a conscientização e o conhecimento das ferramentas de triagem16.

A Assistance to Participate Scale (APS) foi projetada para medir a capacidade do cuidador primário estimar a quantidade de assistência que a criança em idade escolar com deficiência necessita para participar de brincadeiras e atividades de lazer. A APS é uma ferramenta simples e de fácil administração que mede um aspecto do cuidado da criança a partir da perspectiva da família14.Trata-se de uma ferramenta de oito itens que utiliza uma escala ordinal de 5 pontos para quantificar o papel do pai no jogo/lazer de uma criança. Inicialmente desenvolvido sobre uma população de pais de crianças com deficiência, esta ferramenta requer um maior desenvolvimento para fundamentar validade e confiabilidade15.

Ao obterem os resultados de seus estudos os autores BOURKE-TAYLOR, H; PALLANT, J. F classificaram a APS como uma escala sólida, breve e fácil de usar14, quanto aos estudiosos JOYCE, K., BOURKE-TAYLOR, H., & WILKES-GILLAN, S. classificaram como uma medida válida e confiável do papel parental em uma brincadeira de criança em desenvolvimento típico15.

O Pediatric Evaluation of Disability Inventory (PEDI) mede o status funcional nos domínios de autocuidado, mobilidade e função social nas três escalas de medida a seguir: Parte I: Habilidades Funcionais, que inclui 197 itens de habilidades funcionais. Cada item é classificado como 0-1 para capacidade de desempenho. Parte II: Assistência ao Cuidador, incluindo 20 itens de atividades funcionais complexas. Cada item é classificado de 0 a 5 para o nível de assistência. Parte III: Modificações que inclui 20 itens de atividades funcionais complexas classificadas como N (Sem Modificações), C (orientadas para crianças), R (Equipamentos de Reabilitação) ou E (Modificações Extensivas). O PEDI é uma avaliação em papel administrada por meio de relatório pai/cuidador, entrevista estruturada, observação ou julgamento profissional de terapeutas ou professores, ou por uma combinação de métodos28.

O PedsQL foi projetado para avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde da criança, da perspectiva dos pais29. O PedsQL pede que os pais classifiquem a medida em que a saúde física, emocional e social da criança e o funcionamento da escola é um problema ao longo de uma escala Likert de 5 pontos (0 = nunca um problema, 4 = quase sempre um problema)15. A PSI Short Form (PSI/SF) é uma derivação direta do teste completo do Parenting Stress Index (PSI). Todos os 36 itens da Forma Curta estão contidos no Formulário Longo com palavras idênticas e são escritos no nível de leitura de 5ª série, para pais de crianças de até 12 anos de idade. O PSI/SF produz um escore total de estresse de três escalas: dificuldade parental, interação disfuncional pai-filho e criança difícil30.

O PSI/SF foi desenvolvido a pedido de clínicos e pesquisadores que usam regularmente o PSI completo e indicaram a necessidade de uma medida válida administrada em menos de 10 minutos. É ideal para clínicos que trabalham em diversos ambientes de atenção primária à saúde e têm um tempo limitado disponível para os pacientes, visando as famílias que mais precisam de serviços de acompanhamento. Também é valioso para uso em escolas e clínicas de saúde mental, onde a díade pai-filho não é o foco principal da avaliação30.

É importante discorrer acerca do desenvolvimento infantil e como as ferramentas de avaliação podem auxiliar no diagnóstico e/ou na intervenção precoce de crianças com atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, principalmente nos primeiros anos de vida, porque é quando ocorrem processos vitais do desenvolvimento, em todos os domínios de funções31. Para King e Glascoe, o diagnóstico e a intervenção precoces, antes dos cinco anos de idade, são decisivos para o prognóstico de desenvolvimento dessas crianças32.

O desenvolvimento infantil é avaliado por meio de várias ferramentas específicas, com diferentes graus de complexidade, fundamentadas nos marcos do desenvolvimento. Estes instrumentos podem ser os testes, as escalas ou inventários e eles têm sido utilizados em pesquisas aplicadas, clínicas e estabelecimentos educacionais, subsidiando a implementação de programas de estimulação precoce, orientando o planejamento de ações pontuais com crianças e seus cuidadores33.

CONCLUSÃO

A partir da preocupação em relação aos instrumentos de avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor de crianças assistidas na atenção básica é que buscou-se desenvolver o artigo em questão, tomando como base a revisão sistemática da literatura, onde achou-se diversas publicações que corroboram com questões semelhantes.

O acompanhamento de crianças e do processo de desenvolvimento engloba diferentes tipos de avaliação, as quais compreendem a percepção de seus familiares, professores e profissionais da área de saúde.

Com base no levantamento realizado verifica-se uma grande quantidade de escalas de avaliação utilizadas por profissionais da área de saúde para acompanhar, diagnosticar e auxiliar a família. A participação da família aliada às ações dos profissionais é de suma importância para a aplicação das ferramentas de avaliação, visto que algumas destas necessitam que os pais e/ou cuidadores respondam questionamentos a respeito de suas observações no ambiente familiar.

A respeito dos instrumentos de avaliação, as escalas apresentam vantagens e desvantagens quanto ao seu uso. Os profissionais da área de saúde necessitam ter bastante atenção em relação aos alcances e limitações dessas escalas, sempre ponderando todo o cenário no qual a mesma será aplicada.

As escalas mais utilizadas nos artigos escolhidos para o estudo em questão foram Parent’s Evaluation of Developmental Status (PEDS) e Ages & Stages Questionnaires (ASQ). Ambas tratam-se de um questionário direcionado aos pais e cuidadores, sendo que a primeira refere-se a questões ligadas ao desenvolvimento e a segunda lida com as habilidades específicas da criança. O PEDS é um questionário menor e mais rápido de aplicar diferente do ASQ que é mais extenso pois, é dividido em cinco áreas de desenvolvimento. São sistemas de triagem confiáveis e de fácil implementação que podem ser utilizados tanto por profissionais de saúde e educacionais quanto pela família.

Uma limitação identificada neste artigo é a escassez de literatura acerca de estudos realizados no Brasil referente a essas ferramentas de avaliação na atenção básica o que corresponderia de forma mais adequada a população local.

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