ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO EM PACIENTES AMPUTADOS ATENDIDOS EM UM CENTRO ESPECIALIZADO EM REABILITAÇÃO DE FOZ DO IGUAÇU/PR

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Victor Alexandre

Autor:
Victor Alexandre Domeneghini Roratto;

Acadêmico concluinte do curso de Bacharelado em Fisioterapia


RESUMO

Introdução. Alguns problemas de saúde podem levar a amputação, sendo eles a diabetes, doenças parasitárias, doenças vasculares, gangrena, e os traumas que são as formas mais comuns de amputação. As amputações possuem uma incidência que pode ser de 1,2 a 4,4 por 10.000 habitantes em diferentes países, no brasil no ano de 2018 mais de 59.000 amputações foram registradas. Sendo assim, os estudos epidemiológicos apresentam grande valia para elaboração de programas de reabilitação, tratando especificamente dos amputados, conhecendo a etiologia, facilitando o desempenho das atividades de vida diárias e independência do paciente. Objetivo. Apresentar o mapeamento dos perfis sociodemográfico e clínico-epidemiológico de pacientes amputados, atendidos em um Centro Especializado em Reabilitação de Foz do Iguaçu/PR. Metodologia. Tratou-se de uma pesquisa observacional, exploratória, documental, retrospectiva e de abordagem quantitativa. A amostra é não probabilística de escolha intencional em documentos de Prontuário Eletrônico de Paciente (PEP). A referida avaliação desses documentos foi realizada in loco, via sistema RP Saúde® utilizado por um centro especializado em reabilitação. O estudo construiu os perfis sociodemográfico, clínico-epidemiológico de pacientes amputados. Resultados. Participaram do estudo 101 indivíduos, com média de idade de 44 a 60 anos (n=43), do sexo predominantemente masculino 72,28%, portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabtes. Os resultados encontrados apontam que as principais causas de amputação são as doenças cardiovasculares e eventos traumáticos (acidentes). As principais regiões de ocorrência de amputação são as amputações transtibiais. Conclusão: Foi possível verificar que o sexo masculino é mais suscetível às amputações, sendo doenças cardiovasculares e acidentes as principais razões de amputações. A alta ocorrência de amputações geram alto índice de protetização.

Palavras-chave: Fisioterapia; Estudo Epidemiológico; Amputação; Prontuário Eletrônico de Paciente.

1.INTRODUÇÃO

A amputação é caracterizada como a perda parcial ou total de um ou mais membros do corpo, onde a mesma implica na qualidade de vida dos pacientes acometidos. Alguns casos podem representar a impossibilidade de realizar atividades de vida diárias como estudar, trabalhar e se relacionar no meio social (BORGES et al, 2015).

Há problemas de saúde que podem levar a amputação. Entre esses a diabetes, as doenças parasitárias, as doenças vasculares, a gangrena, e os traumas que são as formas mais comuns de amputação (SOUZA, 2019).

Segundo Melo (2013), a diabetes devido à dificuldade de cicatrização do paciente, leva o surgimento de uma ferida a um efeito progressivo de piora em reparar o tecido lesionado. Existem fatores importantes na dificuldade do processo cicatricial no diabético. Entre eles estão a produção excessiva de espécies reativas de oxigênio, a presença de disfunção endotelial que incapacita artérias e arteríolas de realizar sua devida função, gerando assim, um ambiente isquêmico.

Outra complicação comum é o pé diabético. Este acometimento que na maioria das vezes leva a amputação pelo surgimento de úlceras nos pés de pessoas portadoras da diabetes, que se caracteriza pelo surgimento de ulcerações e lesões teciduais nos pés de portadores dessa patologia. Em consequência, se dá surgimento de infecções e doenças vasculares periféricas que são os fatores principais para a amputação (MARQUES et al., 2018).

As amputações traumáticas, para médicos e pesquisadores são desencadeadas por acidentes de trânsito. Os avanços automobilísticos cresceram significativamente, aumentando a gravidade dos sinistros e o número de vítimas. Entre essas vítimas estão aquelas na faixa etária de 18 a 30 anos, de pessoas jovens e em idade produtiva. As consequências dessa realidade geram um grande impacto psicossocial e motor na vida desses pacientes (SENEFONTE, 2012).

As amputações possuem uma incidência que pode ser de 1,2 a 4,4 por 10.000 habitantes em diferentes países. No Brasil no ano de 2018 mais de 59.000 amputações foram registradas. Baseados na estimativa, cerca de 30 milhões de indivíduos precisam de meios auxiliares de locomoção como as próteses e órteses, em decorrência de alguma patologia e/ou a traumas (SOUZA, 2019).

Sendo assim, os estudos epidemiológicos apresentam grande valia para elaboração de programas de reabilitação, tratando especificamente dos amputados, conhecendo a etiologia, facilitando o desempenho das atividades de vida diárias e independência do paciente (CHANLANN, et al., 2013).

As amputações são ações necessárias a serem tomadas, porém, não deve ser considerada o fim, e sim, como uma adaptação de uma nova fase de vida pós-amputação. Por exemplo, avaliando a possibilidade de utilização de um novo segmento corporal, a prótese. Nesses casos são criadas classificações que vão indicar o tipo de amputação, coto ou membro residual. A qualidade do procedimento implica em maior ou menor adaptabilidade da prótese (VAZ et al., 2021).

O trabalho do fisioterapeuta é de reeducação funcional, acompanhando toda a reabilitação pós-operatória. Realizando as avaliações do membro residual, os treinos de equilíbrios, as orientações de como enfaixar até a protetização, proporcionando a volta às atividades funcionais de vida diárias do paciente (CREFITO, 2016).

Assim, a presente pesquisa objetivou apresentar o mapeamento dos perfis sociodemográfico e clínico-epidemiológico de pacientes amputados, atendidos em um Centro Especializado em Reabilitação de Foz do Iguaçu/PR.

2. METODOLOGIA

Tratou-se de um estudo descritivo, retrospectivo de abordagem quantitativa, realizada através da análise de prontuários eletrônicos do paciente PEP de um centro especializado em reabilitação de Foz do Iguaçu – PR, para mapear os perfis sociodemográficos e clínico-epidemiológico dos pacientes amputados. A pesquisa deu-se por duas etapas, a primeira por uma revisão no marco teórico dos conceitos relacionados a amputação e a segunda etapa ocorreu a partir da coleta de dados dos prontuários eletrônicos do paciente (PEP).

O estudo foi realizado em um centro especializado em reabilitação, no município de Foz do Iguaçu – Paraná. Esta instituição foi fundada no dia 14/06/2018 e atende pessoas com deficiências visuais, intelectuais, físicas e auditivas que necessitam desde o diagnóstico, tratamento, adaptação e manutenção para reabilitação. O centro conta com uma ampla equipe multidisciplinar, além de ações de estimulação precoce e fornecimento de órtese, próteses e dispositivos de locomoção auxiliares, realizando as mensurações para melhor adaptação do paciente.

Quanto aos procedimentos de abordagem ao campo investigado, foi utilizado o sistema digital da prefeitura de Foz do Iguaçu, RP Saúde, que possibilitou o acesso aos prontuários do paciente no período de junho de 2018 até outubro de 2021. Os dados coletados foram exportados para uma planilha eletrônica no Microsoft Office Excel,tabulados e descritos em forma de tabelas mediante as inferências estatísticas e descritivas, apresentados no formato de frequência absoluta e seus percentuais equivalentes.

A coleta de dados ocorreu no mês de outubro do ano de 2021. A caracterização da amostra foi segmentada por perfis sociais e demográficos onde foi coletada informações de idade, sexo, etnia, estado civil, escolaridade e região habitacional, consolidando os dados por frequência absoluta e percentual. Foram também coletados dados do perfil clínico e epidemiológico dos pacientes amputados analisando as variáveis de patologias associadas, nível da amputação, lado amputado, causa da amputação e se faz uso de prótese.

Foi disponibilizado pela instituição uma lista de pacientes que solicitaram próteses no último triênio, gerando um total de 107 prontuários eletrônicos do paciente (PEP). Sendo assim, foram analisados 107 PEP, estando incluídos na pesquisa somente pacientes submetidos a amputação de membro inferior, onde 101 PEP\’s continham todos os dados necessários para a coleta. Foram excluídos prontuários de amputação de membro superior e prontuários de pacientes duplicados.

Não houve a necessidade de utilização do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) por se tratar de uma pesquisa documental. A pesquisa iniciou-se após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) do Centro Universitário Uniámerica, Foz do Iguaçu/PR, sob o parecer: 5.017.671, Setembro/2021.

3. RESULTADOS

O perfil sociodemográfico de pacientes amputados foi predominantemente pelo sexo masculino (n=73; 72,28%), faixa etária entre 44 a 60 anos (n=43; 42,57%); etnia branca (n=57; 56,44%), estado civil solteiro (n=62; 61,39%), alfabetizado (n=98; 97,03%), morador da região leste (n= 32; 31,68%) da cidade de Foz do Iguaçu/PR (tabela 1).     

Tabela 1. Distribuição dos dados sociodemográficos de pacientes amputados atendidos em um Centro Especializado em Reabilitação de Foz do Iguaçu/PR, segmentados por sexo e consolidados por frequência absoluta (n) e seus percentuais equivalentes (%).

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A Tabela 2 representa a distribuição dos dados clínicos e epidemiológicos, os quais as principais patologias acometidas pelos pacientes amputados foram HAS (n=46, 45,54%) e diabetes (n=35, 34, 65%), com nível de amputação transtibial (n=47, 46,53%), no lado direito (n=47, 46,53%), por motivo traumático por acidente (n=52, 51,49%), com uso de prótese (n=99, 98,02%).

Tabela 2. Distribuição dos dados clínico-epidemiológicos de pacientes amputados atendidos em um Centro Especializado em Reabilitação de Foz do Iguaçu/PR, consolidados por frequência absoluta (n) e seus percentuais equivalentes (%).

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*Legenda: CA- Câncer; DAOP-Doença Arterial Obstrutiva Periférica ; DPOC- Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica; HAS- Hipertensão Arterial Sistêmica; IRC- Insuficiência Renal Crônica; TVP-Trombose Venosa Profunda.

4. DISCUSSÃO

A incidência mundial de amputações ultrapassa um milhão ao ano, por isso as abordagens de estudos que traçam o perfil desses pacientes, é fundamental para determinar as características clínicas e epidemiológicas (PEIXOTO et al, 2017).  

Na pesquisa de Paz, Souza e Oliveira (2018) a caracterização dos dados socioeconômicos demonstrou que os pacientes amputados têm uma média de idade de 51,4 anos, são solteiros, da etnia branca, informações que coincidem com o atual estudo, com a faixa etária prevalente é entre os 44 a 60 anos correspondendo 42,57% dos pacientes, 56,44% são brancos e 61,39% solteiros. 

No presente estudo houve uma predominância de amputações no sexo masculino (72,28%), achados semelhantes foram encontrados na pesquisa de Souza et al., (2019), fator que pode ser justificado pelo fato dos homens demorarem mais tempo para buscar atendimento médico e estarem mais expostos à situações perigosas e negligenciarem os cuidados a saúde (LEMOS et al., 2017).  

Quanto à escolaridade em 3 prontuários, correspondendo cerca de 2,97%, foram descritos que os pacientes não eram alfabetizados e as recomendações passadas para pessoas da própria família, no estudo de Carvalho, Sena e Barreto (2020) cerca de 13,95% dos prontuários examinados foram classificados como analfabeto/fundamental.  

Dentre as limitações apresentadas pelo estudo, o fato de se restringir a apenas o município de Foz do Iguaçu não sendo possível realizar comparações com outros estudos. Vale ressaltar que a instituição se situa na região norte da cidade, dentre a população analisada na presente pesquisa 31,68% residem na região leste e 24,75% na região norte e na sul. 

As patologias mais presentes nos participantes da atual pesquisa foram HAS 45,54% e diabetes 34,65%, resultados semelhantes foram encontrados no estudo de CAVALCANTE et al (2020), onde 27,5% da população abordada possuía diabetes, 15,9 % HAS e 21,7% eram portadores tanto de diabetes quanto hipertensão.  

Conforme a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), portadores de diabetes têm de 15 a 30 vezes mais chances de sofrerem amputação em membros inferiores comparado a pacientes não diabéticos e responsável por mais de 50% das amputações de causas patológicas. 

Segundo Utiyama et al (2019) 59% dos participantes tiveram a etiologia da amputação de causa traumática por acidentes, dado que se assemelha aos resultados da presente pesquisa, em que 51,49% dos pacientes tiveram o motivo da amputação por causas traumáticas. 

Em uma pesquisa realizada em Juiz de Fora – Minas Gerais/BR, os autores Costa et al., (2021), relataram que a amputação transfemoral foi a mais prevalente, realizada por 65% da sua amostra. Os dados sobre o nível de amputação foram divergentes no presente estudo, sendo a amputação transtibial mais ocorrida (46,53%), mas a lateralidade foi corroborada em ambos os estudos pelo lado direito. 

O índice de protetização dos pacientes ao término do programa de reabilitação do estudo de Souza e colaboradores (2018), foi de 89,6%, porcentagem concordante com os achados desta pesquisa, onde 98,02% dos pacientes fazem uso de prótese.

5. CONCLUSÃO

O estudo encontrou pacientes amputados, do sexo masculino, na faixa etária entre 44 a 60 anos, portadores de hipertensão arterial sistêmica e diabetes. A principal causa da amputação foram as doenças vasculares e traumáticas devido à acidentes, sendo as principais, as amputações transtibiais do lado direito. Foi verificado a alta ocorrência de protetização.

6. REFERÊNCIAS

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