REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202510222332
Evando Brito Santos1; Alexandre Degering2; Marisa Marinho Fernandes Viana Carr3; Rosana Aparecida Batista Angelo4; Derek Alves Fernandes5; Silvia Regina Rodrigues Maramaldo6; Maria Alcivane Costa Souza7; Renato Dutra Garbelini8; Morgana Kingeski Soares de Oliveira9; Shirley Martins de Oliveira Carvalho10
Resumo
A saúde mental dos professores tem se tornado um tema central na educação contemporânea devido às intensas demandas e pressões que caracterizam a profissão docente. O adoecimento psíquico é resultado de fatores como sobrecarga de trabalho, precarização das condições laborais, desvalorização profissional e falta de apoio institucional, impactando diretamente a qualidade da prática pedagógica e o bem-estar do educador. Este estudo teve como objetivo analisar os desafios da saúde mental do professor na contemporaneidade, identificando fatores de risco e estratégias de enfrentamento. A metodologia utilizada consistiu em uma revisão de literatura, com levantamento e análise de estudos recentes sobre adoecimento mental docente e políticas de promoção da saúde no contexto educacional. Os resultados indicam que o cuidado com a saúde mental do professor é um compromisso coletivo e institucional, envolvendo a criação de ambientes humanizados, políticas públicas de apoio, valorização profissional e desenvolvimento de competências socioemocionais. Conclui-se que a promoção do bem-estar docente é fundamental para a qualidade da educação e para a construção de uma escola mais inclusiva, ética e democrática.
Palavras-chave: saúde mental docente; adoecimento psíquico; promoção do bem-estar.
Abstract
Teacher mental health has become a central issue in contemporary education due to the high demands and pressures inherent to the teaching profession. Psychological distress among teachers results from factors such as work overload, precarious working conditions, professional undervaluation, and lack of institutional support, directly affecting both the quality of teaching and educators’ well-being. This study aimed to analyze the challenges of teacher mental health in contemporary contexts, identifying risk factors and coping strategies. A literature review was conducted, examining recent studies on teacher psychological distress and health promotion policies in educational settings. The findings indicate that teacher mental health care is a collective and institutional responsibility, requiring the creation of humanized environments, public support policies, professional recognition, and the development of socio-emotional skills. It is concluded that promoting teacher well-being is essential for educational quality and the construction of a more inclusive, ethical, and democratic school environment.
Keywords: teacher mental health; psychological distress; well-being promotion.
Resumen
La salud mental docente se ha convertido en un tema central en la educación contemporánea debido a las altas exigencias y presiones inherentes a la profesión docente. El malestar psicológico docente se debe a factores como la sobrecarga de trabajo, las condiciones laborales precarias, la infravaloración profesional y la falta de apoyo institucional, lo que afecta directamente tanto la calidad de la enseñanza como el bienestar de los educadores. Este estudio tuvo como objetivo analizar los desafíos de la enseñanza de la salud mental en contextos contemporáneos, identificando factores de riesgo y estrategias de afrontamiento. Se realizó una revisión bibliográfica que examinó estudios recientes sobre el malestar psicológico docente y las políticas de promoción de la salud en entornos educativos. Los hallazgos indican que el cuidado de la salud mental docente es una responsabilidad colectiva e institucional, que requiere la creación de entornos humanizados, políticas públicas de apoyo, reconocimiento profesional y el desarrollo de habilidades socioemocionales. Se concluye que promover el bienestar docente es esencial para la calidad educativa y la construcción de un entorno escolar más inclusivo, ético y democrático.
Palabras clave: salud mental docente; malestar psicológico; promoción del bienestar.
1. INTRODUÇÃO
A saúde mental dos professores na contemporaneidade tem se configurado como um tema de extrema relevância, especialmente diante das profundas transformações sociais, tecnológicas e educacionais que marcam o cenário atual. O ambiente escolar, tradicionalmente visto como espaço de construção do conhecimento e desenvolvimento humano, tornou-se também um local de intensas pressões, cobranças e responsabilidades que recaem sobre o profissional docente.
A sobrecarga de trabalho, a desvalorização profissional, as exigências burocráticas e o impacto das novas tecnologias no processo de ensino-aprendizagem têm contribuído significativamente para o aumento dos índices de estresse, ansiedade, síndrome de burnout e outras doenças psíquicas entre os educadores. Assim, refletir sobre os desafios da saúde mental do professor na contemporaneidade é essencial para compreender as implicações desse cenário na qualidade de vida do docente e na efetividade do processo educativo.
O objetivo geral deste estudo é analisar os principais desafios enfrentados pelos professores em relação à sua saúde mental no contexto contemporâneo, considerando as transformações sociais e as exigências impostas ao trabalho docente. Como objetivos específicos, pretende-se: identificar os fatores que contribuem para o adoecimento psíquico dos professores; compreender as consequências desse processo para o desempenho profissional e para o ambiente escolar; e discutir estratégias de enfrentamento e promoção da saúde mental no contexto educacional.
O problema de pesquisa que orienta este estudo pode ser formulado da seguinte forma: quais são os principais desafios que afetam a saúde mental dos professores na contemporaneidade e de que maneira esses fatores interferem no exercício da docência?
A justificativa para a escolha deste tema decorre da urgência em discutir e compreender as condições de trabalho dos professores e seus efeitos sobre o bem-estar psicológico. Isso, em um contexto em que o professor é constantemente exigido a reinventar suas práticas pedagógicas, lidar com turmas heterogêneas, adaptar-se a novas metodologias e cumprir metas institucionais, torna-se imprescindível identificar os fatores que comprometem sua saúde mental e propor caminhos para sua valorização e cuidado.
A escola, enquanto espaço social, deve ser compreendida não apenas como um local de ensino, mas também como um ambiente de convivência que pode tanto promover quanto deteriorar o equilíbrio emocional de seus profissionais.
2. METODOLOGIA
A metodologia adotada para o desenvolvimento deste trabalho será a revisão de literatura, de caráter qualitativo, fundamentada na análise de artigos científicos, livros, dissertações e teses publicadas nos últimos anos, que abordem a temática da saúde mental do professor.
Essa abordagem permitirá reunir, interpretar e discutir os principais aportes teóricos existentes sobre o tema, possibilitando uma compreensão ampla e crítica das condições atuais do trabalho docente e dos impactos psicológicos que dele decorrem. Dessa forma, o estudo busca contribuir para o debate sobre a valorização do professor e para a construção de estratégias institucionais e sociais que favoreçam sua saúde mental e o fortalecimento da educação como prática humanizadora.
3. O TRABALHO DOCENTE NA CONTEMPORANEIDADE: ENTRE DESAFIOS E PRESSÕES SOCIAIS
O exercício da docência, historicamente associado ao ato de ensinar e à formação de cidadãos, passou nas últimas décadas por um processo de intensas transformações. Essas mudanças refletem tanto as novas configurações sociais e tecnológicas quanto as crises morais e éticas que atravessam a sociedade contemporânea.
O professor, antes reconhecido como autoridade do saber, vê-se hoje em meio a um contexto de desvalorização, sobrecarga e instabilidade emocional que repercute diretamente sobre sua saúde mental e sobre a qualidade da educação. A docência, que outrora representava um espaço de realização e reconhecimento social, tem se tornado um campo de tensão e sofrimento, marcado por pressões institucionais, falta de condições adequadas de trabalho e exigências crescentes de desempenho.
De acordo com Possa e Krause (2023), a saúde mental dos professores na contemporaneidade deve ser compreendida à luz das transformações sociais e econômicas que impactam o sistema educacional. A globalização, a revolução tecnológica e a aceleração das informações reconfiguraram as relações humanas e o próprio modo de ensinar.
O professor é constantemente pressionado a adaptar-se a novas metodologias, lidar com turmas heterogêneas, responder às demandas digitais e cumprir metas burocráticas, tudo isso em meio a salários defasados e à falta de apoio institucional. Essa conjuntura cria um ambiente de vulnerabilidade emocional, em que o docente se vê exaurido e desmotivado, o que interfere diretamente em sua atuação pedagógica.
O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de construção do conhecimento e de desenvolvimento humano, muitas vezes se torna palco de adoecimento. Tostes et al. (2018), ao analisarem o sofrimento mental de professores do ensino público, identificam que os principais fatores associados ao desgaste psicológico estão relacionados à sobrecarga de trabalho, à falta de reconhecimento, à indisciplina dos alunos e à ausência de suporte da gestão escolar.
O professor contemporâneo enfrenta um paradoxo: é cobrado a ser inovador, criativo e emocionalmente estável, mas encontra condições precárias e pouco estímulo à valorização de sua prática. Essa realidade desencadeia sentimentos de frustração, impotência e desamparo, que se acumulam ao longo dos anos de exercício docente.
Além das pressões externas, há também um profundo impacto moral e ético sobre o papel do educador. Moysés et al. (2025) discutem a crise moral e ética que perpassa a sociedade e seus reflexos na saúde mental dos professores. A educação, sendo um espelho da cultura e dos valores sociais, é diretamente afetada pela perda de referências éticas e pelo enfraquecimento dos vínculos humanos.
O professor, que tradicionalmente assumia o papel de mediador de valores e de formação cidadã, enfrenta uma geração de alunos marcada pelo imediatismo, pelo consumo e pela influência de discursos fragmentados. Essa ruptura de valores e sentidos torna o trabalho pedagógico mais desafiador, exigindo do docente não apenas competência técnica, mas também resiliência emocional e ética do cuidado nas relações com os alunos e com a comunidade escolar.
A ética do cuidado, conceito discutido por Gomes, Torres e Paz (2024), surge como uma alternativa fundamental para repensar as relações no ambiente educacional. Segundo os autores, cuidar é um ato ético que envolve reconhecer o outro em sua vulnerabilidade e interdependência. No contexto escolar, isso significa que o professor também precisa ser cuidado, e não apenas o cuidador.
A promoção da saúde mental docente deve estar pautada em uma cultura institucional que valorize a escuta, o apoio mútuo e o respeito às limitações humanas. A ausência dessa ética do cuidado nas escolas contribui para a deterioração das relações interpessoais e para o aumento dos casos de esgotamento emocional. Assim, o bem-estar do professor não pode ser entendido como responsabilidade individual, mas como uma construção coletiva que exige políticas de valorização e ambientes mais humanos de trabalho.
O panorama pós-pandemia trouxe ainda novos desafios à docência. Souza e Oliveira (2023) destacam que a pandemia da Covid-19 intensificou o sofrimento psíquico dos professores no Brasil, ao exigir uma rápida adaptação ao ensino remoto e à tecnologia digital. A falta de preparo técnico, o isolamento social, a dificuldade de separação entre vida pessoal e profissional e o medo da contaminação contribuíram para agravar quadros de ansiedade, estresse e depressão entre os educadores.
Muitos professores relataram sentimentos de solidão, impotência e exaustão emocional durante esse período, além da sensação de que seu trabalho perdeu sentido diante das dificuldades impostas pelo ensino a distância. Embora o retorno ao ensino presencial tenha restabelecido parte da rotina escolar, os efeitos psicológicos desse período permanecem evidentes, revelando a fragilidade da estrutura emocional e institucional que sustenta o trabalho docente.
Paz et al. (2024) também analisam a saúde mental dos docentes no contexto pós-pandêmico e apontam que, embora o ensino remoto tenha acelerado processos de inovação tecnológica, ele aprofundou desigualdades e expôs a falta de suporte psicológico oferecido aos educadores. As autoras destacam que, após a pandemia, muitos professores apresentaram sintomas de burnout, insônia e esgotamento mental, o que demonstra a urgência de políticas voltadas ao cuidado emocional desses profissionais.
O retorno às salas de aula não significou um alívio, mas sim a continuidade de um cenário de cobranças intensificadas, já que as escolas passaram a exigir resultados rápidos para compensar o tempo de ensino perdido. Nesse contexto, o professor se viu novamente sobrecarregado, agora diante da missão de recuperar o aprendizado dos alunos sem ter tido tempo para cuidar de sua própria saúde emocional.
A análise das condições de trabalho docente revela que o sofrimento psíquico não é um fenômeno isolado ou individual, mas um reflexo das estruturas sociais e educacionais que negligenciam o bem-estar do professor. Possa e Krause (2023) enfatizam que as doenças mentais entre docentes têm origem multifatorial, resultando de um conjunto de pressões externas, falta de apoio e ausência de políticas de valorização profissional.
A precarização do trabalho, a instabilidade das carreiras e a falta de reconhecimento são elementos que corroem lentamente o entusiasmo e o sentido do trabalho educativo. Em muitos casos, o docente se vê em um ciclo de exaustão que compromete sua identidade profissional e seu vínculo com o ensino.
A síndrome de burnout, caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional, é uma das manifestações mais graves desse processo. Tostes et al. (2018) destacam que o burnout entre professores não se limita a uma questão de fadiga, mas representa um colapso psíquico provocado pela exposição prolongada ao estresse laboral.
O docente acometido por essa síndrome tende a apresentar comportamentos de afastamento emocional, desinteresse pelas atividades e perda de empatia em relação aos alunos. O impacto desse quadro vai além do indivíduo, afetando o clima escolar, o desempenho dos estudantes e a qualidade do ensino. A prevenção do burnout exige, portanto, não apenas intervenções individuais, mas também mudanças estruturais nas instituições educacionais.
Outro ponto importante é a relação entre a saúde mental docente e o sentido do trabalho. Quando o professor percebe que suas ações não produzem resultados significativos ou não são valorizadas, instala-se um processo de desmotivação e alienação. Moysés et al. (2025) argumentam que a crise ética contemporânea também se manifesta na perda do sentido do trabalho educativo, pois o professor deixa de se reconhecer como agente de transformação e passa a sentir-se como mero executor de políticas impostas. Essa alienação contribui para o sofrimento psíquico e para a perda da identidade profissional, transformando a docência em um trabalho burocratizado e emocionalmente esvaziado.
A ética do cuidado, segundo Gomes, Torres e Paz (2024), é um caminho possível para reconstruir o sentido do trabalho docente. Ao reconhecer o professor como sujeito de necessidades emocionais, abre-se espaço para o fortalecimento de uma cultura de solidariedade e respeito dentro das escolas.
Essa perspectiva rompe com a lógica individualista e tecnicista que domina o ambiente educacional, propondo uma visão mais humana da docência. A promoção da saúde mental passa, portanto, pela construção de vínculos afetivos, pela cooperação entre colegas e pela valorização das conquistas coletivas. O cuidado, quando incorporado à prática educativa, torna-se uma ferramenta ética e política de resistência ao adoecimento e à desumanização da profissão.
O contexto contemporâneo, marcado por múltiplas crises — econômicas, morais e existenciais —, impõe à educação o desafio de reconstruir sua identidade. O professor é convocado a atuar como mediador de sentidos, em meio a um cenário de fragmentação cultural e emocional. No entanto, sem apoio institucional e sem condições dignas de trabalho, essa missão torna-se insustentável.
Souza e Oliveira (2023) ressaltam que o cuidado com a saúde mental dos docentes deve ser uma prioridade nas políticas públicas educacionais, sendo fundamental a implementação de programas de acompanhamento psicológico, formação em habilidades socioemocionais e criação de ambientes laborais mais saudáveis.
Ao observar a realidade das escolas brasileiras, nota-se que a precarização não se limita à estrutura física, mas se estende às relações humanas. Muitos professores relatam sentir-se sozinhos em suas dificuldades, sem espaços de escuta ou diálogo.
Possa e Krause (2023) apontam que a ausência de suporte institucional e a falta de reconhecimento profissional configuram uma forma de violência simbólica que mina o entusiasmo e o comprometimento dos educadores. Essa violência se manifesta também na desvalorização salarial, nas exigências de produtividade e na ausência de políticas de prevenção ao adoecimento mental.
O sofrimento psíquico docente, portanto, é um fenômeno complexo, que resulta de uma combinação de fatores pessoais, institucionais e sociais. Paz et al. (2024) reforçam que a saúde mental do professor deve ser compreendida de forma multidimensional, envolvendo aspectos emocionais, físicos, éticos e sociais.
A docência é uma profissão que lida com a formação de pessoas, e isso exige não apenas conhecimento técnico, mas equilíbrio emocional e sensibilidade humana. Sem a devida atenção a esses aspectos, o risco de adoecimento aumenta, comprometendo o sentido e a qualidade da prática pedagógica.
Em síntese, o trabalho docente na contemporaneidade está profundamente atravessado por contradições. De um lado, há a expectativa de um educador inovador, motivado e emocionalmente estável; de outro, a realidade de um profissional exaurido, desvalorizado e sobrecarregado.
A docência precisa ser ressignificada a partir de uma perspectiva humana e ética, que compreenda o professor como sujeito de cuidado. Promover saúde mental na educação é investir na qualidade do ensino, no fortalecimento das relações escolares e na construção de uma sociedade mais justa e empática.
Cuidar do professor é cuidar da educação e, consequentemente, do futuro coletivo. O desafio contemporâneo consiste, portanto, em reconstruir o espaço da escola como ambiente de acolhimento e sentido, onde ensinar e aprender não sejam fontes de sofrimento, mas de crescimento e realização pessoal e social.
4. SAÚDE MENTAL DOCENTE: CONCEITOS, FATORES DE RISCO E IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
A saúde mental do professor é um tema que, nas últimas décadas, tem ganhado destaque nos estudos sobre educação e trabalho docente. A profissão, historicamente marcada pela dedicação e pelo compromisso com a formação humana, vem sendo progressivamente atravessada por condições adversas que comprometem o equilíbrio psicológico dos educadores.
O ambiente escolar, antes concebido como um espaço de troca, criatividade e realização pessoal, tornou-se, em muitos casos, um local de sobrecarga, cobrança e desgaste emocional. Compreender a saúde mental docente requer, portanto, uma análise que ultrapasse a dimensão individual e alcance os aspectos estruturais, sociais e institucionais que moldam a prática educativa.
Segundo Luz e Kaefer (2022), a saúde mental dos professores deve ser entendida como um processo dinâmico e multifacetado, influenciado tanto pelas condições subjetivas do trabalhador quanto pelas circunstâncias objetivas do contexto escolar. O bem-estar psíquico do docente não se resume à ausência de transtornos mentais, mas à presença de um estado de equilíbrio emocional que lhe permita lidar com as exigências do cotidiano profissional e pessoal de maneira saudável.
No entanto, o cenário educacional atual impõe múltiplos desafios a essa estabilidade: a intensificação das jornadas, o excesso de responsabilidades, a pressão por resultados e a falta de reconhecimento social configuram um terreno fértil para o sofrimento psíquico. A docência, nesse sentido, tornou-se uma profissão de alto risco emocional, marcada por contradições entre o ideal de educar e as condições concretas de trabalho.
Os estudos de Forattini e Lucena (2015) apontam que o adoecimento e o sofrimento docente estão diretamente relacionados à precarização das relações de trabalho. A expansão das políticas neoliberais e a mercantilização da educação têm transformado o ambiente escolar em um espaço de produtividade e controle, em que o professor é visto como executor de tarefas e não como sujeito criativo do processo pedagógico.
Essa lógica produtivista impõe metas, avaliações constantes e exigências burocráticas que reduzem o tempo destinado ao planejamento e à reflexão pedagógica. O resultado é um processo de desgaste físico e mental que se manifesta em sintomas como ansiedade, irritabilidade, desmotivação e, em casos mais graves, depressão e síndrome de burnout.
O sofrimento docente, segundo os mesmos autores, não é apenas um reflexo da sobrecarga de trabalho, mas também do esvaziamento do sentido da prática educativa. Quando o professor não encontra reconhecimento em sua atuação e percebe que sua função é desvalorizada, ocorre um rompimento entre o sujeito e seu trabalho. Essa alienação emocional compromete a identidade profissional e mina o entusiasmo pelo ensino. O professor passa a agir de forma mecânica, sem engajamento afetivo, o que, a longo prazo, agrava os quadros de adoecimento mental.
A pesquisa de Araújo e Sousa (2013), ao investigar o adoecimento psíquico de professores da rede pública estadual, reforça a ideia de que o sofrimento docente está intrinsecamente ligado às condições de trabalho e à falta de apoio institucional. Os docentes entrevistados relatam sentimentos de exaustão, impotência e falta de motivação, decorrentes da sobrecarga de atividades e da ausência de reconhecimento por parte da gestão escolar e da sociedade.
Muitos relatam que a precarização das escolas, a indisciplina dos alunos e a pressão por resultados interferem diretamente em sua saúde emocional, levando-os a buscar afastamentos médicos ou até mesmo a desistir da profissão. A docência, que deveria ser um espaço de realização, torna-se, para muitos, uma fonte de dor e sofrimento.
A precarização da vida e do trabalho docente é discutida de forma profunda por Castilho e Souza Júnior (2025), que analisam os impactos psicológicos e emocionais dessa realidade. Os autores destacam que o adoecimento mental dos professores não é apenas consequência de condições materiais precárias, mas também de um contexto social que desvaloriza o saber e enfraquece os vínculos humanos.
A educação contemporânea, moldada por uma lógica de desempenho e competitividade, transforma o professor em um trabalhador submetido a um ritmo de produtividade incompatível com as demandas emocionais da prática pedagógica. A falta de tempo para o descanso, a ausência de apoio emocional e a constante sensação de insuficiência criam um ambiente propício ao desenvolvimento de distúrbios mentais.
Ainda segundo Castilho e Souza Júnior (2025), o discurso meritocrático que permeia as instituições de ensino contribui para a intensificação do sofrimento docente, pois individualiza responsabilidades e culpabiliza o professor por problemas estruturais. Essa lógica ignora as desigualdades sociais e educacionais e transfere para o indivíduo a culpa pelo fracasso escolar, gerando sentimentos de culpa, fracasso e inadequação.
O educador, nesse cenário, passa a viver um conflito constante entre o desejo de ensinar e a impotência diante das condições adversas. Essa tensão contínua desencadeia um processo de adoecimento silencioso, que muitas vezes se manifesta em forma de cansaço crônico, ansiedade, desmotivação e distanciamento afetivo dos alunos.
A precarização das relações de trabalho na educação é também tema central nos estudos de Aguiar et al. (2024), que ressaltam como a ausência de políticas públicas voltadas para o bem-estar docente agrava o quadro de adoecimento mental. A desvalorização profissional, o acúmulo de funções e a falta de suporte institucional são fatores que comprometem a saúde psíquica dos professores e impactam a qualidade do ensino.
Para os autores, a saúde mental docente precisa ser compreendida a partir de uma perspectiva coletiva e política, uma vez que o sofrimento do professor não é um problema individual, mas social. O sistema educacional, ao priorizar indicadores de desempenho e negligenciar o cuidado humano, cria um ambiente que adoece seus profissionais.
Luz e Kaefer (2022) complementam essa discussão ao destacar o papel da psicologia no acolhimento e na promoção da saúde mental dos professores. Segundo as autoras, é essencial que as escolas desenvolvam políticas institucionais de cuidado psicológico, oferecendo espaços de escuta, reflexão e partilha de experiências.
O acompanhamento psicossocial pode auxiliar o docente a ressignificar suas vivências, reconhecendo seus limites e fortalecendo suas estratégias de enfrentamento. Além disso, é fundamental promover uma cultura de valorização e solidariedade entre os profissionais da educação, rompendo o isolamento e o silenciamento que cercam o sofrimento mental.
As implicações educacionais do adoecimento docente são profundas e se estendem para além do indivíduo. Um professor emocionalmente exausto tem dificuldade em manter o entusiasmo em sala de aula, em planejar atividades criativas e em estabelecer vínculos afetivos com os alunos.
Como observa Araújo e Sousa (2013), o sofrimento psíquico repercute diretamente no processo de ensino-aprendizagem, comprometendo a qualidade do trabalho pedagógico e afetando o ambiente escolar como um todo. O clima institucional torna-se tenso, marcado por desmotivação e conflitos interpessoais, o que repercute no desempenho dos estudantes e na cultura escolar.
O adoecimento docente, portanto, deve ser entendido como um fenômeno coletivo, que revela a fragilidade das políticas educacionais e das condições de trabalho oferecidas aos professores. Forattini e Lucena (2015) ressaltam que a precarização do trabalho educacional é resultado de um modelo de gestão que prioriza a eficiência e ignora o fator humano.
O professor é submetido a metas inalcançáveis, enquanto seus recursos emocionais e profissionais são negligenciados. Essa discrepância entre o que se exige e o que se oferece cria um campo de contradições que se traduz em sofrimento mental.
Aguiar et al. (2024) acrescentam que a saúde mental docente deve ser compreendida como um indicador de qualidade da educação. Cuidar do professor é cuidar da escola, pois o bem-estar dos educadores está diretamente relacionado à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos. Uma instituição que não oferece condições emocionais e materiais adequadas a seus profissionais compromete todo o processo educativo. A valorização docente, nesse sentido, deve incluir não apenas reconhecimento salarial, mas também a criação de ambientes saudáveis, com espaços de diálogo, autonomia pedagógica e apoio psicológico.
A psicologia educacional, conforme Luz e Kaefer (2022), pode desempenhar papel decisivo nesse processo, atuando na promoção da saúde mental coletiva e na construção de práticas institucionais que favoreçam o equilíbrio emocional.
O trabalho psicológico dentro das escolas deve ir além da intervenção pontual e alcançar uma dimensão preventiva e formativa, ajudando professores a desenvolverem habilidades socioemocionais e estratégias de enfrentamento diante do estresse cotidiano. A promoção da saúde mental deve ser vista como parte integrante do projeto pedagógico, e não como uma ação isolada.
Por fim, é importante compreender que o adoecimento docente não decorre apenas de fatores internos à escola, mas também de um contexto social mais amplo, marcado pela crise de valores e pela desvalorização das profissões ligadas ao cuidado e à educação.
Castilho e Souza Júnior (2025) observam que o sofrimento mental dos professores reflete uma sociedade que prioriza a produtividade em detrimento do bem-estar humano. Essa lógica de precarização da vida afeta diretamente o trabalho docente, transformando o educador em um sujeito vulnerável às pressões do sistema.
5. ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO E PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL DO PROFESSOR
O debate em torno das estratégias de enfrentamento e promoção da saúde mental dos professores emerge como um dos temas mais urgentes na educação contemporânea. O agravamento dos casos de adoecimento psíquico entre docentes evidencia a necessidade de repensar as práticas institucionais, as condições de trabalho e a valorização profissional.
A docência, que historicamente se fundamentou em ideais de vocação, comprometimento e dedicação, tem sido progressivamente atravessada por cobranças intensas, precarização e ausência de reconhecimento. Nesse cenário, refletir sobre os caminhos possíveis para promover o equilíbrio emocional e o bem-estar psicológico dos educadores torna-se um compromisso ético e social indispensável.
As condições em que o trabalho docente é realizado têm sido apontadas por diferentes pesquisas como determinantes para o aumento de transtornos mentais e emocionais. Em análises recentes sobre o tema, observou-se que o sofrimento docente decorre não apenas de fatores individuais, mas sobretudo de aspectos estruturais e institucionais que moldam o cotidiano das escolas.
O mapeamento realizado por Machado e Cecílio (2024) entre os anos de 2018 e 2023, por exemplo, demonstra que o aumento de casos de depressão, ansiedade e síndrome de burnout entre professores está diretamente relacionado à intensificação do trabalho e à carência de políticas efetivas de cuidado. As autoras enfatizam que, muitas vezes, o enfrentamento do sofrimento é delegado unicamente ao indivíduo, como se o professor fosse o único responsável por sua saúde mental, o que acaba mascarando a dimensão coletiva e política do problema.
Essa tendência de responsabilização individual, conforme apontado por Silva et al. (2023), tem sido um obstáculo para a consolidação de práticas institucionais de cuidado. A lógica produtivista, que permeia a educação contemporânea, impõe ao docente uma série de exigências burocráticas e emocionais incompatíveis com o tempo necessário à reflexão, à criação e ao descanso.
A ausência de suporte psicológico, somada à sobrecarga de trabalho, gera um ambiente propício à exaustão e ao sentimento de impotência. Nessa perspectiva, o cuidado com a saúde mental precisa ser entendido como uma tarefa coletiva, que envolve tanto a escola quanto às políticas públicas educacionais.
O mal-estar e o adoecimento docente não são fenômenos isolados ou restritos à esfera individual; refletem uma crise mais ampla de sentido no exercício da docência. Como argumentam Penteado e Souza Neto (2019), a perda do reconhecimento simbólico e social do papel do professor tem produzido um vazio existencial que afeta diretamente sua identidade profissional.
O enfraquecimento dos laços entre o educador e a finalidade ética e cultural de seu trabalho contribui para a sensação de desamparo. Nesse contexto, resgatar o valor humano da docência é uma estratégia de enfrentamento que transcende o campo da saúde mental, pois recoloca o professor como sujeito de transformação social.
O equilíbrio emocional do docente também está intimamente ligado às condições concretas de trabalho. Pesquisas realizadas por Campos (2020) demonstram que o excesso de tarefas administrativas, a falta de tempo para atividades pessoais e a pressão por resultados interferem significativamente na saúde psíquica dos professores do ensino superior. O autor ressalta que práticas institucionais que priorizam o diálogo, a autonomia e a valorização do professor têm impacto direto na redução dos níveis de ansiedade e depressão.
Assim, programas de apoio psicológico, reorganização de carga horária e incentivo à conciliação entre vida pessoal e profissional se configuram como estratégias fundamentais para o enfrentamento do sofrimento.
Em consonância com essa perspectiva, De Maman (2025) defende a adoção de uma ética do cuidado aplicada ao ambiente educacional, reconhecendo que o professor, antes de ser um mediador do conhecimento, é também um sujeito que sente, sofre e necessita de acolhimento. A autora afirma que não é possível exigir empatia, paciência e equilíbrio emocional de quem não recebe condições adequadas para exercer sua função.
Cuidar do professor, portanto, é reconhecer sua humanidade e garantir-lhe espaços de escuta e acolhimento. Essa visão propõe uma inversão necessária no modo como as instituições educacionais compreendem o papel docente, deslocando o foco do desempenho para o bem-estar.
As análises de Caldas et al. (2025) corroboram esse entendimento ao revelar o aumento expressivo de licenças médicas por transtornos mentais entre professores da rede pública brasileira. Segundo os autores, a falta de políticas de prevenção e acompanhamento contínuo faz com que o adoecimento se torne um ciclo recorrente. Eles enfatizam que a promoção da saúde mental deve ser tratada como parte integrante das políticas educacionais, e não como um aspecto secundário. Investir na saúde emocional dos docentes é investir na própria qualidade da educação, já que o bem-estar do professor influencia diretamente o clima escolar e o aprendizado dos estudantes.
Além disso, Carlotto et al. (2019) destacam que os afastamentos por transtornos mentais e comportamentais têm sido cada vez mais frequentes, sobretudo em contextos de precarização e sobrecarga. O estudo mostra que o acúmulo de funções, a pressão por produtividade e a falta de reconhecimento são fatores determinantes para o surgimento de doenças mentais.
Nesse sentido, estratégias de enfrentamento precisam ser coletivas e permanentes, envolvendo a criação de espaços de diálogo dentro das escolas, grupos de apoio emocional e acompanhamento psicológico regular. Tais iniciativas contribuem não apenas para aliviar o sofrimento, mas também para fortalecer o sentimento de pertencimento e solidariedade entre os docentes.
Apesar dos avanços na produção científica sobre o tema, apontados por Machado e Cecílio (2024), ainda há uma lacuna significativa entre o conhecimento acadêmico e a prática institucional. A literatura tem sido clara ao indicar que o adoecimento docente é um problema estrutural, mas muitas escolas e redes de ensino permanecem sem estratégias efetivas de prevenção. As autoras defendem que o cuidado com o professor deve basear-se em três pilares essenciais: o reconhecimento da complexidade do trabalho docente, a valorização das dimensões emocionais da profissão e a formulação de políticas públicas sustentáveis voltadas ao bem-estar.
A formação continuada desponta como uma das estratégias mais promissoras para a promoção da saúde mental. Conforme enfatizado por Silva et al. (2023), investir em programas de capacitação que incluam o desenvolvimento de competências socioemocionais pode ajudar os professores a lidar com o estresse e as pressões cotidianas.
O aprimoramento da empatia, da comunicação assertiva e do autoconhecimento possibilita ao docente compreender melhor seus limites e buscar formas saudáveis de equilibrar suas emoções. A formação docente, nesse sentido, deve ir além da atualização técnica, contemplando também aspectos afetivos e psicológicos que contribuam para o fortalecimento pessoal e coletivo da categoria.
Os estudos de Campos (2020) e De Maman (2025) também apontam o papel das redes de apoio entre colegas como fator protetor contra o sofrimento. Professores que mantêm vínculos positivos com seus pares tendem a apresentar maior resistência emocional e menor propensão ao esgotamento.
O convívio, a troca de experiências e o apoio mútuo constituem práticas que reforçam o sentimento de comunidade dentro do ambiente escolar. Quando a escola se organiza como um espaço de solidariedade, e não de competição, o cuidado deixa de ser apenas individual para tornar-se uma responsabilidade coletiva.
As formas de gestão escolar também exercem influência decisiva sobre a saúde mental dos professores. Pesquisas como a de Caldas et al. (2025) indicam que instituições que adotam modelos autoritários, baseados em cobranças e hierarquias rígidas, tendem a apresentar maiores índices de adoecimento.
Em contrapartida, escolas que promovem uma gestão participativa e democrática criam um ambiente de diálogo, pertencimento e reconhecimento. O envolvimento dos professores nas decisões pedagógicas e administrativas não apenas fortalece a autonomia profissional, mas também contribui para a construção de uma cultura institucional mais equilibrada e saudável.
A cultura escolar, conforme observam Penteado e Souza Neto (2019), desempenha papel central na prevenção do sofrimento psíquico. A escola que ignora ou silencia o mal-estar docente contribui para sua amplificação. Reconhecer que o sofrimento é parte legítima da experiência humana e criar espaços de expressão emocional pode ser uma das formas mais efetivas de enfrentamento. Essa mudança cultural implica romper com o estigma de que falar sobre sofrimento é sinal de fraqueza, substituindo-o pela compreensão de que compartilhar experiências é uma estratégia de resistência e fortalecimento coletivo.
A dimensão política do cuidado é outro aspecto fundamental discutido por De Maman (2025). Ao defender a ideia de que “cuidar de quem educa é um ato político”, a autora propõe uma ruptura com a lógica mercantilista que domina o sistema educacional. Colocar o bem-estar do professor no centro das políticas públicas significa reconhecer o valor social e humano da docência.
O cuidado, nessa perspectiva, não é um gesto assistencialista, mas uma prática emancipatória que devolve ao professor sua autonomia e dignidade. Assim, a promoção da saúde mental torna-se parte do compromisso ético de uma educação transformadora e humanizadora.
Os estudos recentes também reforçam a necessidade de que as ações voltadas à saúde mental sejam contínuas e integradas, e não apenas respostas emergenciais a situações de crise. Iniciativas pontuais, como campanhas temporárias de prevenção, têm alcance limitado se não forem acompanhadas por mudanças estruturais nas condições de trabalho.
Conforme indicam Caldas et al. (2025), o enfrentamento do sofrimento docente exige políticas permanentes de valorização, investimento em recursos humanos e criação de espaços institucionais de cuidado. É preciso compreender que a saúde mental não é um privilégio, mas um direito fundamental que precisa ser garantido por meio de ações articuladas entre gestores, governos e a sociedade civil.
A valorização simbólica da docência é igualmente indispensável nesse processo. A pesquisa de Penteado e Souza Neto (2019) mostra que o reconhecimento público e institucional tem um papel crucial na reconstrução da autoestima dos professores. O sentimento de ser valorizado e respeitado por seu trabalho contribui para a motivação e o engajamento profissional, reduzindo os impactos emocionais das adversidades. Por isso, estratégias de promoção da saúde mental devem incluir medidas de reconhecimento profissional, melhorias salariais e participação efetiva nas decisões educacionais, de modo a reforçar o sentido social e ético da docência.
De forma geral, as pesquisas reunidas demonstram que as estratégias de enfrentamento e promoção da saúde mental dos professores precisam integrar múltiplas dimensões — pessoais, coletivas, institucionais e políticas. A redução do sofrimento docente não será alcançada apenas com o incentivo à resiliência individual, mas com a construção de políticas sustentáveis de cuidado, baseadas no respeito, na solidariedade e no reconhecimento do valor humano da educação.
6. CONCLUSÃO
A saúde mental do professor na contemporaneidade configura-se como um tema de extrema relevância diante das crescentes demandas e desafios impostos ao cotidiano escolar. O adoecimento psíquico dos docentes revela-se como resultado de múltiplos fatores, incluindo a intensificação do trabalho, a sobrecarga de funções, a precarização das condições laborais e a falta de reconhecimento profissional e social. Esses elementos, quando combinados, contribuem para o surgimento de quadros de estresse, ansiedade, depressão e síndrome de burnout, comprometendo tanto o bem-estar individual quanto a qualidade da prática pedagógica.
As pressões impostas ao professor não se limitam às exigências do ensino, mas atravessam aspectos emocionais, sociais e éticos da profissão. A ausência de políticas de apoio, a limitação de recursos e a insuficiência de estratégias institucionais de cuidado tornam o docente vulnerável, criando um ambiente em que o sofrimento se naturaliza.
Ao mesmo tempo, observa-se que a valorização do trabalho docente, a criação de redes de apoio entre colegas, a formação continuada com enfoque socioemocional e a construção de ambientes escolares humanizados atuam como fatores protetores, fortalecendo a resiliência e promovendo o bem-estar psicológico.
O cuidado com a saúde mental do professor não deve ser concebido como uma responsabilidade individual, mas como um compromisso coletivo e social. Investir no bem-estar dos docentes significa investir na qualidade da educação, pois professores emocionalmente equilibrados são capazes de construir relações pedagógicas mais empáticas, ambientes de aprendizagem mais saudáveis e processos educativos mais eficazes.
O reconhecimento do valor humano do educador, associado a políticas de apoio institucional e a práticas de gestão participativa, contribui para reduzir o sofrimento e restabelecer o sentido da docência como profissão de valor social e ético.
Portanto, enfrentar os desafios da saúde mental docente exige uma abordagem integrada, que contemple ações preventivas, programas de apoio psicológico, valorização profissional, espaços de escuta e práticas que promovam a cooperação e o diálogo no ambiente escolar.
A promoção do bem-estar do professor é, antes de tudo, uma condição para a construção de uma educação de qualidade, democrática e inclusiva. Garantir a saúde mental dos docentes é reconhecer que a escola, como espaço de formação humana, depende do equilíbrio emocional e do cuidado com aqueles que ensinam.
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