REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202507171317
Walisson de Oliveira Santos1
Resumo
O agronegócio em Alagoas é vital para a economia estadual, especialmente diante de sua forte participação no PIB e na geração de empregos. No entanto, o aumento da taxa SELIC tem elevado os custos de financiamento, comprometendo a sustentabilidade financeira de pequenos e médios produtores. Este artigo analisa os efeitos da elevação dos juros no agronegócio alagoano e discute as limitações do Plano Safra como política pública. Por meio de uma revisão bibliográfica e análise documental, identificam-se os principais desafios enfrentados por produtores locais e propõem-se caminhos para políticas mais eficazes.
Palavras-chave: agronegócio; Alagoas; Plano Safra; crédito rural; juros.
Abstract
Agribusiness in Alagoas plays a crucial role in the state’s economy, especially due to its significant contribution to GDP and job creation. However, the rise in the SELIC rate has increased financing costs, jeopardizing the financial sustainability of small and medium-sized producers. This article analyzes the effects of rising interest rates on Alagoas agribusiness and discusses the limitations of the Plano Safra as a public policy. Through a literature review and document analysis, the main challenges faced by local producers are identified, and proposals for more effective policies are suggested.
Keywords: agribusiness; Alagoas; Plano Safra; rural credit; interest rates.
Introdução
O agronegócio é fundamental para a economia de Alagoas, atuando como um pilar estratégico. Historicamente, o setor agropecuário tem sido o principal motor econômico do estado, contribuindo significativamente para a criação de empregos, o comércio local e as exportações. As culturas mais relevantes incluem a cana-de-açúcar, que é o principal produto agrícola, seguida pelo coco, fumo, algodão, laranja e milho. Essas produções atendem tanto ao mercado interno quanto a indústrias tradicionais, como a do açúcar e álcool, a têxtil e os frigoríficos, além de integrarem a cadeia de exportação.
Nesse cenário, iniciativas públicas como o Plano Safra são cruciais para a continuidade e o crescimento das atividades rurais. Contudo, o aumento das taxas de juros nos últimos anos tem se mostrado um desafio significativo para os produtores. A taxa SELIC, que serve como referência para os juros básicos da economia brasileira, apresentou variações consideráveis na última década, fixando-se em 15% ao ano em julho de 2025.
O Plano Safra 2025/2026, lançado em julho de 2025, apresenta taxas de juros que variam conforme o perfil do produtor e o tipo de financiamento. Para a agricultura familiar, as taxas oscilam entre 0,5% e 8% ao ano, dependendo da linha de crédito e da região. Para médios e grandes produtores, as taxas para custeio e investimento variam de 8,5% a 14% ao ano, com destaque para o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronampe).
Essa situação impacta especialmente pequenos e médios agricultores, que dependem de crédito para investir em insumos, equipamentos e infraestrutura produtiva. Este artigo tem como objetivo investigar os efeitos da alta dos juros sobre o agronegócio em Alagoas, com foco nas limitações do Plano Safra como política de apoio ao setor. A pesquisa baseia-se em revisão bibliográfica e análise de dados de instituições como o Banco Central, o Ministério da Agricultura, a CNA e o BNDES, buscando entender as dificuldades enfrentadas pelos produtores e sugerir alternativas para uma política agrícola mais acessível e eficaz no estado.
Referencial Teórico
A lucratividade na agropecuária está diretamente ligada à forma como o produtor rural gerencia seu fluxo de caixa. Pequenos e médios produtores enfrentam desafios adicionais, como margens de lucro reduzidas, menor capacidade de investimento e alta vulnerabilidade a fatores externos, como clima, inflação e disponibilidade de crédito. Segundo Buainain et al. (2013), uma gestão financeira eficiente é vital para equilibrar despesas fixas e variáveis, sendo o capital de giro um elemento central para a operação contínua das propriedades.
Investimentos regulares em mão de obra qualificada, maquinário, tecnologia e infraestrutura são essenciais para garantir produtividade e qualidade. No entanto, os altos custos desses insumos, juntamente com a escassez de profissionais qualificados em áreas rurais, pressionam o orçamento das propriedades. Como observa Navarro (2011), a falta de suporte técnico e o acesso limitado a políticas públicas adequadas aumentam a desigualdade entre grandes grupos agroindustriais e pequenos produtores familiares.
Embora o crédito rural tenha sido criado para estimular a produção, ele se torna um fator de risco financeiro em cenários de juros elevados. Dados do Banco Central (2024) indicam que as taxas de juros nas linhas de custeio e investimento chegaram a 14% ao ano no ciclo 2025/2026, mesmo em programas voltados para pequenos e médios produtores, como o Pronampe. Esse contexto transforma o crédito, que deveria facilitar o crescimento da produção, em um obstáculo à capacidade de pagamento e planejamento dos agricultores.
A situação se agrava com eventos climáticos adversos, como secas prolongadas ou chuvas excessivas, que podem arruinar colheitas e gerar perdas inesperadas. Produtores que contraíram empréstimos com a expectativa de produtividade regular enfrentam dificuldades para cumprir suas obrigações financeiras. A imprevisibilidade da atividade agrícola, aliada ao alto custo do crédito, contribui para o aumento do endividamento rural e a perda de capital.
Diante dessas incertezas, muitos produtores optam por utilizar recursos próprios, mesmo que limitados, para evitar o endividamento em cenários instáveis. Outros, na necessidade de manter a produção, assumem riscos financeiros ao contratar crédito com juros altos, na esperança de uma boa safra. Contudo, se os resultados forem insatisfatórios, as dívidas podem ultrapassar a capacidade de geração de receita da propriedade, comprometendo não apenas o lucro, mas a continuidade da atividade no médio prazo (SCHNEIDER, 2011).
Nesse contexto, é urgente buscar políticas de crédito rural mais adaptadas à realidade regional, com maior flexibilidade e cobertura de riscos. A lucratividade no campo está diretamente relacionada à previsibilidade e segurança das operações produtivas, o que, segundo Graziano da Silva (2008), requer um modelo de financiamento agrícola que considere os ciclos do negócio rural e a sazonalidade da produção, oferecendo mecanismos de proteção contra perdas e condições reais de pagamento.
Assim, pequenos e médios produtores rurais, especialmente em estados como Alagoas, que têm alta dependência do agronegócio, enfrentam um ciclo de vulnerabilidade financeira exacerbado por altas taxas de juros, eventos climáticos e baixa liquidez. Essa realidade demanda uma reavaliação da estrutura do crédito rural no país, visando garantir a estabilidade econômica dos produtores e a sustentabilidade da produção agrícola regional.
Metodologia
Esta pesquisa é um estudo qualitativo, exploratório e descritivo, cujo objetivo principal é analisar os impactos do aumento das taxas de juros no desempenho do agronegócio alagoano, com foco nas limitações do Plano Safra como política pública de apoio ao setor produtivo rural.
A investigação foi realizada por meio de revisão bibliográfica e análise documental, utilizando fontes secundárias confiáveis, como relatórios institucionais, bases estatísticas e publicações acadêmicas. A escolha por uma abordagem qualitativa justifica-se pela necessidade de compreender os efeitos macroeconômicos e estruturais das políticas de crédito rural sobre a dinâmica produtiva de pequenos e médios agricultores, especialmente em um contexto de vulnerabilidade econômica e climática, como o observado em Alagoas.
Foram consultados dados do Banco Central do Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e da Secretaria de Agricultura do Estado de Alagoas (SEAGRI-AL), referentes ao período de 2015 a 2025. Este recorte temporal permite observar a trajetória das taxas de juros (SELIC), o comportamento do crédito rural e a variação da participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, especialmente em função da adoção do Plano Safra e suas diretrizes específicas.
A revisão bibliográfica baseou-se em autores que discutem crédito rural, sustentabilidade econômica da agricultura familiar, gestão do fluxo de caixa no meio rural e políticas públicas de financiamento agrícola. As análises foram realizadas de forma crítica e interpretativa, buscando identificar os principais obstáculos enfrentados pelos produtores alagoanos na obtenção e gestão de recursos financeiros, bem como as consequências desses desafios sobre a rentabilidade e a continuidade da atividade produtiva.
Essa metodologia visa não apenas descrever o problema, mas também fornecer subsídios para a reflexão sobre melhorias nas políticas públicas voltadas ao campo, considerando as especificidades regionais e a estrutura econômica do agronegócio em Alagoas.
Resultados e Discussão
1. Taxas de juros e impacto nos produtores alagoanos (pequenos e médios)
Os pequenos e médios produtores rurais de Alagoas são os mais afetados pela elevação das taxas de juros no crédito rural, dado o seu limitado capital de giro e menor acesso a recursos financeiros. Conforme destacado no referencial teórico, esses produtores enfrentam margens de lucro reduzidas e dependem do crédito para custear insumos, mão de obra e investimentos em tecnologia.
Além disso, os impactos climáticos recorrentes, como secas prolongadas e chuvas irregulares, agravam a situação, pois aumentam a imprevisibilidade da produção e elevam os custos operacionais. Muitos produtores relatam a dificuldade de honrar compromissos financeiros quando enfrentam colheitas comprometidas, gerando um ciclo de endividamento que compromete a continuidade da atividade.
Esse cenário reforça a necessidade de políticas públicas que considerem a realidade socioeconômica e climática da região, buscando flexibilizar as condições de crédito e oferecer mecanismos de proteção contra riscos, como seguros agrícolas mais acessíveis e programas de renegociação de dívidas.
2. Limitações do Plano Safra em contextos de alta de juros
O Plano Safra representa a principal política pública de fomento e suporte ao agronegócio brasileiro, com foco no financiamento rural para custeio, investimento e comercialização. No entanto, sua efetividade tem sido comprometida em contextos de elevação das taxas de juros, como o atual cenário brasileiro que registra uma SELIC de 15% ao ano em 2025.
Apesar dos subsídios previstos para linhas específicas, como as destinadas à agricultura familiar e ao médio produtor por meio do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronampe), as taxas de juros para custeio e investimento ainda permanecem elevadas, o que reduz a atratividade e a acessibilidade do crédito para muitos produtores.
Além disso, a burocracia envolvida na obtenção dos financiamentos, aliada às exigências de garantias reais e a restrições de crédito, limita o acesso de pequenos e médios agricultores. Conforme apontado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA, 2025), essa concentração do crédito em grandes propriedades reforça a desigualdade regional e dificulta o desenvolvimento sustentável do setor agropecuário em estados como Alagoas.
Outro ponto crítico é a pouca flexibilidade do Plano Safra em relação às oscilações econômicas e climáticas regionais. A rigidez nos prazos e nas condições de pagamento não contempla adequadamente os ciclos produtivos nem os impactos das adversidades naturais, o que prejudica a capacidade de recuperação financeira dos produtores em anos de baixa produtividade.
Essas limitações evidenciam a necessidade de revisão e adaptação do Plano Safra para torná-lo mais sensível às especificidades regionais, com ampliação dos mecanismos de subsídio, maior flexibilização nos critérios de acesso e condições diferenciadas para produtores vulneráveis, especialmente nos estados do Nordeste.
3. Alternativas e estratégias de adaptação do produtor rural
Frente ao cenário adverso provocado pela alta das taxas de juros no crédito rural e às limitações do Plano Safra, os pequenos e médios produtores rurais de Alagoas têm adotado diferentes estratégias para tentar manter a produção e a lucratividade. Uma parcela significativa desses agricultores têm recorrido ao uso de recursos próprios para financiar o custeio e os investimentos, mesmo diante da limitação do capital disponível.
Essa opção, embora reduza a exposição a dívidas onerosas, pode comprometer a capacidade de expansão e a modernização das propriedades, já que os recursos próprios são limitados e muitas vezes insuficientes para suprir todas as demandas produtivas. Outros produtores, por sua vez, assumem o risco de contratar financiamentos com juros elevados, apostando na recuperação da safra para honrar os compromissos. Essa estratégia, porém, aumenta a vulnerabilidade financeira, podendo levar a situações de inadimplência e endividamento prolongado, especialmente quando ocorrem perdas decorrentes de fatores climáticos ou oscilações de mercado.
Além disso, algumas iniciativas coletivas, como a formação de cooperativas de crédito e associações de produtores, têm se mostrado caminhos importantes para melhorar o acesso ao financiamento com condições mais favoráveis, além de facilitar a aquisição conjunta de insumos e a comercialização dos produtos. Essas estratégias colaborativas também contribuem para a troca de conhecimento e o fortalecimento da capacidade técnica dos agricultores.
Por fim, a redução de custos operacionais, o planejamento financeiro mais rigoroso e a diversificação das atividades agrícolas são outras alternativas adotadas para minimizar os impactos das adversidades econômicas. Contudo, essas medidas, embora importantes, não substituem a necessidade de políticas públicas mais adaptadas à realidade regional, que ofereçam linhas de crédito com juros mais acessíveis e mecanismos efetivos de proteção contra riscos climáticos e econômicos.
Considerações Finais
Este artigo investigou os impactos da elevação das taxas de juros no agronegócio do estado de Alagoas, com ênfase nas dificuldades enfrentadas pelos pequenos e médios produtores rurais para acessar o crédito agrícola e manter a lucratividade. A análise revelou que a alta da taxa SELIC, que atingiu 15% ao ano em 2025, elevou significativamente o custo dos financiamentos rurais, afetando diretamente a capacidade de investimento e o fluxo de caixa dos agricultores.
Apesar do papel central do Plano Safra como política pública de apoio ao setor, suas limitações em contextos de juros elevados foram evidenciadas, especialmente na rigidez das condições de acesso, nas taxas ainda elevadas para médios produtores e na pouca flexibilidade para enfrentar as adversidades climáticas e econômicas regionais. Esses fatores resultam em restrição do crédito para os pequenos e médios produtores, aumentando o risco de endividamento e comprometendo a sustentabilidade da produção agrícola em Alagoas.
Diante desse cenário, destaca-se a necessidade de aperfeiçoamento das políticas públicas de crédito rural, com foco na regionalização das taxas de juros, flexibilização das garantias exigidas, ampliação dos mecanismos de proteção contra riscos climáticos e econômicos, além do fortalecimento da assistência técnica para os agricultores. Tais medidas são essenciais para garantir a competitividade, a permanência e o desenvolvimento sustentável do agronegócio no estado.
Para futuras pesquisas, recomenda-se a realização de estudos de campo com produtores rurais alagoanos, a fim de compreender mais detalhadamente os impactos sociais e econômicos da alta dos juros e das políticas de crédito vigentes, bem como a análise comparativa com outros estados da região Nordeste para identificar estratégias exitosas de superação dos desafios.
Referências
BUAINAIN, A.M.; ALVES, E.; SILVEIRA, J.M. NAVARRO, Z. SETE TESES SOBRE O MUNDO RURAL BRASILEIRO. REVISTA DE POLÍTICA AGRÍCOLA, JUNHO DE 2013 – ANO XXII, N.2.
BANCO DO NORDESTE. (2024). BANCO DO NORDESTE EXPANDE CRÉDITO RURAL EM ALAGOAS, TOTALIZANDO QUASE R$ 1 BILHÃO EM 2024. DISPONÍVEL EM: HTTPS://MACEIO.COM.BR/BRASIL/BANCO-DO-NORDESTE-EXPANDE-CREDIT O-RURAL-EM-ALAGOAS-TOTALIZANDO-QUASE-R-1-BILHAO-EM-2024/?UTM_ SOURCE=CHATGPT.COM
CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA). (2025). AGENDA LEGISLATIVA DO AGRO 2025. DISPONÍVEL EM: HTTPS://CNABRASIL.ORG.BR/PAGINAS-ESPECIAIS/AGENDA-LEGISLATIVA-D O-AGRO-2025
BANCO CENTRAL DO BRASIL. (2024). TAXA SELIC. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.BCB.GOV.BR/CONTROLEINFLACAO/TAXASELIC
BNDES. (2024). FINANCIAMENTO RURAL. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.BNDES.GOV.BR/WPS/VANITYURL/BNDES-CREDITO-RURAL
GRAZIANO DA SILVA, J. (2008). A NOVA DINÂMICA DA AGRICULTURA BRASILEIRA. CAMPINAS: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.ECO.UNICAMP.BR/IMAGES/PUBLICACOES/LIVROS/30ANOS/A NOVADINAMICADAAGRICULTURABRASILEIRA.PDF
NAVARRO, ZANDER. FORMAÇÃO DO AGRICULTOR FAMILIAR BRASILEIRO E CONSEQUÊNCIAS SOCIOESTRUTURAIS. DISPONÍVEL EM: HTTPS://RPA.SEDE.EMBRAPA.BR/RPA/ARTICLE/VIEW/1118
SCHNEIDER, S.; GAZOLLA, M. (ORGS.). OS ATORES DO DESENVOLVIMENTO RURAL: PERSPECTIVAS TEÓRICAS E PRÁTICAS SOCIAIS. PORTO ALEGRE: EDITORA DA UFRGS, 2011.
PRONAMPE. (2025). PROGRAMA NACIONAL DE APOIO AO MÉDIO PRODUTOR RURAL. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.GOV.BR/MAPA/PT-BR/ASSUNTOS/AGRONEGOCIOS/PRONAMP
1Administrador, pós-graduado em Marketing Digital e MBA em Redes Sociais. Gerente de Negócios e Serviços de Segmento Alta Renda – Bradesco
