GAMIFICAÇÃO NO ENSINO HÍBRIDO NO ENSINO FUNDAMENTAL II E ENSINO MÉDIO: PERCEPÇÕES DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA EM ESCOLAS PÚBLICAS DO SUL DA BAHIA SOBRE APRENDIZAGEM E MOTIVAÇÃO ESTUDANTIL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202506271748


Alba Macêdo Bispo do Rosário1


Resumo

Este estudo analisa como coordenadores pedagógicos de escolas públicas do sul da Bahia percebem o uso da gamificação no ensino híbrido do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio, enfocando seus impactos na aprendizagem e motivação dos estudantes. A pesquisa qualitativa exploratória envolveu entrevistas com coordenadores de três escolas estaduais que adotaram práticas gamificadas entre 2021 e 2024. Os resultados indicam que a gamificação é vista como uma ferramenta que favorece o engajamento dos alunos, embora enfrente desafios como limitações tecnológicas, resistência docente e necessidade de formação contínua. Destaca-se o papel central da coordenação pedagógica na mediação, apoio e incentivo às práticas inovadoras. O estudo sugere ainda a ampliação de pesquisas que articulem ambas as etapas para aprimorar a qualidade da educação básica.

Palavras-chave: gamificação. coordenação pedagógica. ensino híbrido. ensino fundamental II. ensino médio. escola pública. sul da Bahia.

Abstract
This study analyzes how pedagogical coordinators in public schools in southern Bahia perceive the use of gamification in hybrid teaching in both Lower Secondary (Fundamental II) and Upper Secondary (High School) Education, focusing on its impact on student learning and motivation. The qualitative exploratory research involved interviews with coordinators from three state schools that implemented gamified practices between 2021 and 2024. The findings indicate that gamification is seen as a tool that enhances student engagement, although it faces challenges such as technological limitations, teacher resistance, and the need for continuous training. The central role of pedagogical coordination in mediating, supporting, and encouraging innovative practices is highlighted. The study also suggests expanding research to connect both educational stages to improve overall basic education quality.

Keywords: gamification. pedagogical coordination. hybrid teaching. lower secondary education. upper secondary education. public schools. southern Bahia.

1 Introdução

O Ensino Fundamental II e o Ensino Médio nas escolas públicas brasileiras enfrentam desafios como desmotivação, evasão e dificuldades de aprendizagem, que se acentuam em regiões com desigualdades socioeconômicas, como o sul da Bahia. Frente a esse cenário, torna-se essencial buscar estratégias que tornem a escola mais atrativa, significativa e capaz de motivar os estudantes ao longo dessas etapas fundamentais para sua formação.

A gamificação — aplicação de elementos de jogos em contextos educacionais — tem sido apontada como um recurso que pode ampliar o interesse e a participação dos alunos. No contexto do ensino híbrido, que integra momentos presenciais e remotos, essa estratégia favorece a autonomia, o engajamento e a aprendizagem ativa.

A coordenação pedagógica, agente articulador do planejamento e da prática docente, desempenha papel decisivo na promoção e sustentação dessas metodologias inovadoras, garantindo que estejam alinhadas às necessidades do contexto escolar.

Este artigo busca compreender as percepções da coordenação pedagógica de escolas públicas do sul da Bahia sobre o uso da gamificação no ensino híbrido do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio, analisando seus impactos na aprendizagem e motivação dos estudantes.

2 Referencial Teórico

2.1 Gamificação na Educação

Gamificação é o uso de elementos de jogos — como recompensas, pontuações, desafios e rankings — para promover o engajamento e o aprendizado em contextos não lúdicos, como o ambiente escolar (ZICHERMANN; CUNNINGHAM, 2020). Na educação, busca tornar o processo de aprendizagem mais ativo, interativo e significativo (ROCHA; NETO, 2022). Ferramentas digitais como Kahoot, Classcraft e Quizizz são exemplos amplamente adotados.

2.2 Ensino Híbrido

O ensino híbrido, segundo Moran (2021), combina momentos presenciais e online com intencionalidade pedagógica, promovendo protagonismo e flexibilidade. É um modelo que se tornou mais presente durante e após a pandemia de Covid-19, sendo impulsionado pelas políticas de inovação da educação básica.

2.3 Coordenação Pedagógica

A coordenação pedagógica é central na mediação entre diretrizes institucionais e a prática docente. Cabe a ela incentivar práticas inovadoras, apoiar os docentes e articular os projetos escolares (LIBÂNEO, 2022). Em contextos com dificuldades tecnológicas, como o interior da Bahia, a ação coordenadora ganha ainda mais relevância (SANTOS et al., 2023).

3 Metodologia

Este estudo adota uma abordagem qualitativa e exploratória, com base em estudo de caso em três escolas públicas municipais e estaduais do sul da Bahia. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas com coordenadores pedagógicos, complementadas por análise de documentos institucionais e observação indireta.

As entrevistas foram transcritas e analisadas segundo a técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2016), com foco em três categorias: (1) percepção sobre a gamificação, (2) desafios e possibilidades da coordenação, (3) impactos na aprendizagem e motivação estudantil.

4 Resultados e Discussão

As entrevistas revelaram que a gamificação tem sido incorporada de forma criativa e adaptada à realidade local. Coordenadores relataram que, especialmente no Fundamental II, a estratégia ajuda a reduzir a indisciplina, favorecendo o envolvimento dos alunos nas atividades propostas. No Ensino Médio, os desafios são maiores, mas os resultados são visíveis quando há continuidade e clareza nos objetivos.

Os principais entraves apontados incluem a resistência de parte do corpo docente, a limitação de infraestrutura digital e a ausência de formação contínua em metodologias ativas. Ainda assim, os entrevistados destacaram o papel fundamental da coordenação em fomentar o uso da gamificação, organizando momentos de estudo coletivo e experimentação pedagógica.

5 Considerações Finais

O estudo confirma que a coordenação pedagógica é peça-chave para o sucesso da gamificação no ensino híbrido, tanto no Ensino Fundamental II quanto no Ensino Médio, em escolas públicas do sul da Bahia. O apoio, a formação e o acompanhamento ofertados por essa equipe são determinantes para o engajamento dos professores e estudantes.

Além dos desafios, a gamificação apresenta-se como uma estratégia que pode contribuir para a melhoria da aprendizagem e da motivação dos alunos ao longo dessas etapas, especialmente se as práticas forem contextualizadas e alinhadas ao projeto pedagógico da escola.

Recomenda-se o desenvolvimento de protocolos e formações específicas para fortalecer a gamificação e outras metodologias ativas, além de pesquisas futuras que articulem as práticas do Fundamental II com o Ensino Médio, visando uma transição mais fluida e uma educação básica de maior qualidade.

Referências

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

LIBÂNEO, J. F. Didática e prática de ensino: diálogos com a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 28. ed. São Paulo: Cortez, 2022.

MORAN, J. M. Metodologias ativas para uma educação inovadora. Campinas: Papirus, 2021

ROCHA, H.; NETO, M. S. Gamificação e escola pública: desafios e estratégias. Revista Brasileira de Educação, v. 27, n. 3, p. 44–60, 2022.

SANTOS, V. M. et al. Educação pública no interior da Bahia: experiências e práticas em territórios de diversidade. Salvador: EDUFBA, 2023.

SILVA, A. L.; PEREIRA, R. F. Gamificação e ensino híbrido na rede estadual: práticas e possibilidades. Cadernos de Educação, v. 41, n. 2, 2023.

ZICHERMANN, G.; CUNNINGHAM, C. Gamification by design. Sebastopol: O’Reilly Media, 2020.


1Há mais de trinta e sete anos , professora da Educação Básica da Rede Municipal de Itabuna(aposentada) e Coordenadora Pedagógica da Rede Estadual de Ensino da Bahia há quase vinte e seis anos. Graduada em Pedagogia pela UESC- Universidade Estadual de Santa Cruz e Pós – Graduada em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Amparense -UNIFIA– Amparo-SP.