O PAPEL DO PROFESSOR AUXILIAR NA INCLUSÃO DE ALUNOS COM AUTISMO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202506151034


Mestrandas:
Claudete dos Santos Assunção
Maria Concilena de Assunção Ferreira;
Orientadora: Profª. Dra. Jaqueline Mendes Bastos


RESUMO

Este artigo analisa o papel do professor auxiliar na inclusão de alunos com autismo, destacando suas funções, desafios e estratégias pedagógicas para promover uma aprendizagem eficaz. A inclusão escolar é garantida por legislações como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), mas sua implementação enfrenta dificuldades, como a falta de recursos e a necessidade de formação especializada dos profissionais. O professor auxiliar desempenha um papel essencial como mediador entre o aluno, os colegas e os professores, adaptando o currículo e as atividades às necessidades específicas dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ele auxilia na implementação de estratégias que favoreçam a comunicação, a socialização e a interação do aluno com o restante da turma. A pesquisa se baseia em autores como Mantoan (2003) e Gouvêa (2004), que discutem a inclusão escolar e os desafios enfrentados pelas escolas. Além disso, teorias sobre o desenvolvimento de crianças com autismo, como as de Vygotsky (1984) e Frith (2003), ajudam a entender as necessidades pedagógicas desses alunos. Souza e Silva (2016) destacam a importância da formação contínua dos profissionais para lidar com a diversidade e as especificidades do TEA. Este trabalho busca refletir sobre a importância da inclusão, identificando as condições necessárias para que a educação inclusiva se concretize, com ênfase no papel do professor auxiliar e nas estratégias pedagógicas que garantem uma aprendizagem significativa para os alunos com autismo.

PALAVRAS-CHAVE: Inclusão Escolar; Professor Auxiliar; Transtorno do Espectro Autista (TEA)

1. INTRODUÇÃO

A educação inclusiva é um dos pilares das políticas educacionais contemporâneas, fundamentada no direito de todas as crianças, independentemente de suas condições físicas ou cognitivas, a acessarem uma educação de qualidade em escolas regulares. No Brasil, a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, incluindo os com Transtorno do Espectro Autista (TEA), é assegurada por legislações federais, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. No entanto, a implementação efetiva desses direitos esbarra em desafios significativos, que envolvem desde questões estruturais, como a falta de recursos materiais e humanos, até barreiras atitudinais, como preconceitos e falta de compreensão sobre as especificidades dos alunos com deficiência.

Entre os diversos profissionais que desempenham um papel crucial nesse processo, destaca-se o professor auxiliar. O professor auxiliar, também conhecido como professor de apoio, tem a função de trabalhar junto ao professor regente, oferecendo suporte pedagógico personalizado aos alunos com necessidades educacionais especiais. Quando se trata de alunos com TEA, o papel do professor auxiliar se torna ainda mais essencial, pois ele atua como mediador entre o aluno, os colegas de classe e os docentes, adaptando o currículo e as atividades de modo a atender às necessidades específicas dos estudantes com autismo. O Transtorno do Espectro Autista é caracterizado por dificuldades nas áreas de comunicação, interação social e padrões de comportamento repetitivos, o que exige uma abordagem educacional diferenciada para garantir que esses alunos não sejam apenas inseridos, mas realmente incluídos no ambiente escolar.

A atuação do professor auxiliar vai além de tarefas administrativas ou de apoio superficial; ela implica um entendimento profundo das características do TEA e o desenvolvimento de estratégias pedagógicas adequadas para promover a aprendizagem. Segundo Mantoan (2003), a inclusão escolar de alunos com deficiência exige uma mudança de paradigma, que implica não apenas a adaptação física do espaço escolar, mas, principalmente, uma transformação nas práticas pedagógicas e nas atitudes dos professores. Esse processo de inclusão envolve desafios, principalmente em relação à formação dos profissionais que lidam diretamente com esses alunos.

O objetivo deste artigo é analisar o papel do professor auxiliar no processo de inclusão de alunos com autismo, destacando suas funções, desafios e as estratégias pedagógicas que podem ser adotadas para promover uma aprendizagem efetiva e significativa. A inclusão de alunos com autismo exige que o educador esteja bem preparado para lidar com as especificidades desses alunos, sendo fundamental que o professor auxiliar compreenda as dificuldades que envolvem o transtorno, bem como as melhores formas de intervir para facilitar a adaptação e o aprendizado.

Este artigo também busca refletir sobre os desafios enfrentados pelos professores auxiliares, que frequentemente não possuem a formação necessária para lidar com as complexidades do TEA. A formação contínua e o suporte institucional adequado são pontos críticos para garantir que esses profissionais possam atuar com eficácia. Além disso, são discutidas as estratégias pedagógicas que podem ser implementadas, com base em teorias educacionais e em práticas recomendadas, para otimizar a inclusão e a aprendizagem de alunos com TEA nas escolas regulares.

Portanto, é imperativo que as escolas se prepararem adequadamente para enfrentar as dificuldades da inclusão, investindo na formação de professores auxiliares e criando um ambiente de aprendizagem que seja verdadeiramente inclusivo. Isso envolve a adaptação do currículo, a utilização de metodologias diferenciadas, a criação de um ambiente acolhedor e a promoção de uma cultura escolar que respeite as diferenças individuais. Somente assim será possível garantir que todos os alunos, independentemente de suas especificidades, possam ter acesso a uma educação de q0,0ualidade e ao pleno exercício de sua cidadania.

2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA INCLUSÃO ESCOLAR E DO AUTISMO

A inclusão escolar é um princípio que visa garantir o direito de todos os estudantes, independentemente de suas deficiências, a frequentar escolas regulares e ter acesso a um currículo adaptado às suas necessidades. Este conceito, que se consolidou mundialmente nas últimas décadas, ganhou força no Brasil com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996 e com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que reafirma a importância de assegurar a participação efetiva dos alunos com deficiência nas escolas regulares (BRASIL, 1996).

Para Gouvêa (2004),”A inclusão escolar não se resume à adaptação do ambiente físico da escola, mas requer uma transformação profunda nas práticas pedagógicas, nas atitudes dos educadores e no currículo escolar.” (Gouvêa, 2004, p. 45). A inclusão implica em reconhecer e valorizar as diferenças entre os alunos, criando estratégias pedagógicas que atendam às suas especificidades e promovam a aprendizagem coletiva.

A inclusão escolar não é apenas uma questão de acesso físico, mas também de participação plena no processo de ensino-aprendizagem, o que exige que os sistemas educacionais estejam preparados para oferecer suporte adequado a todos os alunos, especialmente aqueles com necessidades educacionais especiais (NEEs).

No entanto, como destaca Souza e Silva (2016), o processo de inclusão escolar enfrenta desafios significativos, como a resistência de alguns profissionais da educação, a falta de infraestrutura adequada e a escassez de formação específica dos docentes. A falta de estratégias pedagógicas apropriadas para atender às necessidades dos alunos com deficiências muitas vezes leva à exclusão indireta, ou seja, ao isolamento social e acadêmico desses estudantes. Dessa forma, a inclusão escolar não deve ser vista apenas como uma questão de política educacional, mas como um processo contínuo de adaptação e aprendizado por parte de todos os envolvidos: alunos, professores, pais e gestores.

Segundo a DSM-5 (American Psychiatric Association, 2013), “O Transtorno do Espectro do Autismo é caracterizado por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.” (American Psychiatric Association, 2013, p. XX). Assim, autismo é um transtorno neurobiológico caracterizado por dificuldades nas áreas de comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. O autismo é um espectro, ou seja, varia de leve a severo, com diferentes níveis de comprometimento.

Segundo a DSM-5, o autismo pode ser classificado em diferentes níveis de gravidade, sendo o nível 1 o menos severo, com dificuldades leves em interações sociais e comportamento, e o nível 3 o mais grave, com um comprometimento significativo em todas as áreas mencionadas. Essa classificação permite compreender a diversidade do espectro autista e a necessidade de intervenções educacionais diferenciadas, adaptadas ao grau de comprometimento do aluno. No entanto, uma característica comum a todos os indivíduos com TEA é a dificuldade em compreender e reagir de maneira adequada aos sinais sociais, o que pode afetar diretamente sua participação nas atividades escolares (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013).

A comunicação é uma das áreas mais afetadas pelo autismo, e isso tem um impacto significativo no processo de aprendizagem. De acordo com Vygotsky (1984), o desenvolvimento humano é mediado pela interação social, e a comunicação é a chave para a construção do conhecimento. Para os alunos com TEA, as dificuldades comunicativas podem tornar a aprendizagem mais desafiadora, uma vez que eles podem ter dificuldades em compreender instruções verbais, interagir com os colegas ou expressar suas necessidades e sentimentos.

Os comportamentos repetitivos e os interesses restritos também são características comuns do TEA. Esses comportamentos podem interferir na participação ativa dos alunos nas atividades da sala de aula, bem como na interação com os colegas. A flexibilidade cognitiva dos alunos com TEA pode ser limitada, dificultando a adaptação a mudanças no ambiente escolar ou nas atividades propostas. Portanto, é essencial que os educadores estejam preparados para identificar esses comportamentos e utilizar estratégias que favoreçam a aprendizagem desses alunos de maneira efetiva e inclusiva.

A comunicação desempenha um papel central no desenvolvimento da aprendizagem, sendo fundamental para a construção do conhecimento. Vygotsky (1984) argumenta que o desenvolvimento humano é mediado pela interação social, o que implica que as intervenções educacionais devem considerar a individualidade de cada aluno. No entanto, no caso dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), as dificuldades de comunicação podem comprometer essa interação, tornando o aprendizado um desafio.

Além das barreiras na comunicação verbal, muitos alunos com TEA apresentam dificuldades na interpretação de gestos, expressões faciais e linguagem figurativa. De acordo com Frith (2003), crianças com autismo possuem dificuldades relacionadas à teoria da mente, o que implica em desafios para entender as emoções e intenções das outras pessoas. Esse fator impacta diretamente a dinâmica escolar, uma vez que a aprendizagem se dá, em grande parte, por meio da troca de informações e do convívio social.

Outro aspecto relevante são os comportamentos repetitivos e os interesses restritos, que podem limitar a participação dos alunos em atividades pedagógicas diversificadas. Isso pode ser percebido em sala de aula quando o aluno com TEA resiste a mudanças na rotina ou apresenta hiperfoco em um tema específico, dificultando o engajamento em outras atividades. Compreender as especificidades do TEA e implementar abordagens pedagógicas inclusivas são passos fundamentais para garantir um ambiente escolar acessível e acolhedor.

3 O PAPEL DO PROFESSOR AUXILIAR NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas escolas regulares representa um avanço significativo no reconhecimento da diversidade e das necessidades educacionais especiais. Contudo, para que a inclusão se torne uma realidade eficaz, é necessário garantir que o ambiente escolar e as práticas pedagógicas sejam adaptadas às particularidades de cada aluno. Nesse processo, o papel do professor auxiliar torna-se crucial. Este profissional, atuando de forma colaborativa com o professor regente, contribui para a adaptação de materiais, a mediação de interações e o suporte individualizado, tornando o ambiente de aprendizagem mais acessível e acolhedor para os estudantes com TEA.

A inclusão de alunos Autista no ensino regular exige profissionais capacitados para oferecer suporte adequado às necessidades específicas desses estudantes. Nesse contexto, o professor auxiliar desempenha um papel fundamental ao apoiar tanto os alunos quanto os docentes na implementação de práticas pedagógicas inclusivas. Sua atuação não se limita ao acompanhamento individual, mas envolve a adaptação de materiais, mediação da interação social e colaboração direta com o professor regente para garantir um ambiente de aprendizagem acessível.

O papel do professor auxiliar na inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) vai além de meras funções auxiliares dentro da sala de aula; ele envolve uma série de atribuições complexas que exigem compreensão profunda sobre as especificidades do transtorno, além de habilidades pedagógicas e sociais para garantir que os alunos com autismo possam participar plenamente do processo educacional. De acordo com Mantoan (2003), a inclusão escolar de alunos com deficiência deve ser entendida como um processo dinâmico e flexível, que demanda uma abordagem diferenciada de ensino, e o professor auxiliar é um dos principais responsáveis por viabilizar essas adaptações.

Uma das principais funções do professor auxiliar é oferecer suporte individualizado aos alunos com TEA. Essa abordagem personalizada é fundamental, uma vez que as necessidades dos alunos com autismo podem variar amplamente. Como aponta 00a literatura, alunos com TEA apresentam dificuldades significativas na comunicação e interação social, sendo essencial que o professor auxiliar esteja preparado para intervir de forma eficaz nesses aspectos.

Vygotsky (1984), ao afirmar que o desenvolvimento humano é mediado pela interação social, nos lembra que a aprendizagem ocorre, principalmente, por meio da troca social. Portanto, ao apoiar o aluno no processo de comunicação com seus pares e professores, o professor auxiliar contribui não apenas para o aprendizado acadêmico, mas também para o desenvolvimento de habilidades sociais que são essenciais para a inclusão efetiva do aluno na dinâmica da sala de aula.

O professor auxiliar tem a responsabilidade de adaptar materiais e atividades pedagógicas às necessidades do aluno com TEA. Essa adaptação pode envolver o uso de recursos visuais, tecnologias assistivas, ou modificações nas tarefas propostas, garantindo que o conteúdo seja acessível de acordo com o nível de desenvolvimento do aluno. Segundo Souza e Silva (2016), uma adaptação curricular bem-feita é um dos pilares para a efetividade da inclusão, pois ela permite que todos os alunos, independentemente de suas condições, possam acessar os mesmos conteúdos de maneira equitativa. O professor auxiliar, portanto, desempenha um papel essencial na criação de um ambiente de aprendizagem inclusivo, ajudando a superar barreiras cognitivas e pedagógicas.

O trabalho colaborativo com o professor regente é outra característica fundamental da função do professor auxiliar. A colaboração entre os dois profissionais deve ser constante e orientada para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas que atendam de maneira eficaz às necessidades do aluno com TEA. Mantoan (2003) destaca que a verdadeira inclusão exige um trabalho conjunto entre todos os envolvidos, inclusive pais, profissionais da saúde e da educação, para que as estratégias de ensino sejam verdadeiramente adaptadas às necessidades dos alunos.

O professor auxiliar, nesse contexto, atua como um mediador, facilitando a adaptação das atividades propostas e garantindo que as ações pedagógicas sejam aplicadas de forma adequada. A colaboração entre os educadores, portanto, é essencial para o sucesso da inclusão e para a criação de um ambiente escolar que favoreça o aprendizado de todos os alunos, incluindo aqueles com autismo.

As características do trabalho do professor auxiliar são complexas e exigem uma abordagem integrada e bem estruturada. O apoio individualizado, a adaptação de materiais e atividades, e a colaboração constante com o professor regente são elementos centrais na promoção de uma educação inclusiva de qualidade para alunos com TEA. A efetividade dessa atuação depende, em grande parte, da formação adequada dos profissionais, da colaboração interdisciplinar e do desenvolvimento de estratégias pedagógicas flexíveis que atendam às especificidades de cada aluno.

O professor auxiliar deve oferecer suporte personalizado em atividades que envolvem comunicação, interação social e comportamento, auxiliando na adaptação de materiais pedagógicos conforme as necessidades dos alunos com TEA. Além disso, seu trabalho é pautado pela colaboração com o professor regente, assegurando que as práticas pedagógicas inclusivas sejam implementadas de maneira eficiente. No entanto, a atuação desse profissional enfrenta diversos desafios que impactam diretamente a qualidade da inclusão escolar.

Embora as funções do professor auxiliar sejam amplamente reconhecidas, ainda existem desafios significativos para sua atuação efetiva. A falta de formação especializada sobre o TEA, como mencionado por Mantoan (2003), representa um obstáculo para que o profissional realize seu trabalho de forma plena. O conhecimento sobre as características do TEA e as melhores práticas pedagógicas para lidar com essas características é fundamental para garantir que o professor auxiliar desempenhe suas funções de maneira eficaz. Nesse sentido, a formação contínua e especializada dos professores auxiliares é crucial, não apenas para melhorar a prática pedagógica, mas também para promover um ambiente mais inclusivo e acolhedor.

Um dos principais obstáculos enfrentados pelo professor auxiliar é a falta de formação específica sobre o TEA. Muitos profissionais não recebem preparação adequada para lidar com as particularidades do transtorno, o que dificulta a adoção de estratégias pedagógicas eficazes. Segundo Mantoan (2003), a formação docente é um fator determinante para o sucesso da inclusão, pois permite que os educadores compreendam as especificidades do aluno com autismo e desenvolvam abordagens pedagógicas apropriadas.

As barreiras atitudinais dentro do ambiente escolar representam outro desafio significativo. A falta de compreensão sobre o TEA por parte da equipe pedagógica pode gerar resistência à inclusão e resultar em práticas que, mesmo não intencionais, reforçam a segregação dos alunos autistas. Para que a inclusão seja efetiva, é essencial que todos os envolvidos no processo educativo estejam sensibilizados e engajados na construção de um espaço acolhedor e acessível a todos os estudantes.

Outro fator que impacta a atuação do professor auxiliar é a escassez de recursos e materiais adaptados. O acesso limitado a tecnologias assistivas e estratégias pedagógicas inovadoras compromete a qualidade do ensino oferecido aos alunos com TEA. A ausência de suporte institucional adequado pode dificultar o desenvolvimento de metodologias que favoreçam a aprendizagem e a socialização dos estudantes.

Diante desses desafios, torna-se evidente a necessidade de investimentos em formação continuada para professores auxiliares, bem como na disponibilização de materiais e recursos pedagógicos adaptados. A inclusão escolar só será efetiva quando houver um compromisso coletivo para garantir que os alunos com TEA tenham acesso a uma educação de qualidade, fundamentada em práticas pedagógicas que respeitem suas particularidades. O professor auxiliar, nesse contexto, deve ser reconhecido como um agente essencial para a construção de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo.

4 ESTRATÉGIAS PARA O ENSINO DE ALUNOS COM AUTISMO

A inclusão escolar de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) requer uma abordagem pedagógica que considere suas especificidades e desafios no ambiente educacional. Para que esses estudantes possam se desenvolver plenamente, é fundamental que a escola adote práticas que favoreçam sua adaptação e participação ativa no processo de aprendizagem.

Um dos aspectos centrais dessa inclusão é a estruturação do ambiente escolar, que deve ser planejado de forma a proporcionar previsibilidade, organização e acessibilidade. Nesse contexto, a organização física da sala de aula, a clareza das atividades e a implementação de estratégias pedagógicas adequadas desempenham um papel essencial na promoção da autonomia e do bem-estar dos alunos com TEA.

A estruturação do ambiente escolar é um fator determinante para a inclusão e o desenvolvimento dos alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse processo envolve a organização física da sala de aula, a previsibilidade das atividades e a adoção de estratégias que promovam a autonomia e a segurança dos estudantes. Segundo Amaral e Bosa (2016), indivíduos com autismo apresentam dificuldades na compreensão de regras sociais, na estruturação do espaço e do tempo, o que pode gerar insegurança e dificultar o processo de aprendizagem. Dessa forma, a criação de um ambiente bem estruturado é essencial para favorecer a inclusão e o desempenho acadêmico desses alunos.

Uma das principais medidas para estruturar o ambiente escolar é o uso de recursos visuais. A implementação de calendários, rotinas ilustradas, agendas individuais e placas indicativas pode facilitar a compreensão das atividades diárias e promover a previsibilidade. Para Lopes (2018), os recursos visuais atuam como facilitadores na organização do pensamento e no desenvolvimento da autonomia dos alunos com TEA, permitindo que compreendam as etapas de cada tarefa e se sintam mais seguros ao longo do dia. Além disso, a sinalização de espaços com cores e símbolos pode ajudar os alunos a reconhecerem os locais adequados para cada atividade, evitando confusão e promovendo maior independência.

A previsibilidade também é um fator essencial na estruturação do ambiente escolar. A implementação de uma rotina fixa, com atividades bem estabelecidas e horários definidos, contribui para reduzir a ansiedade dos alunos com TEA. Segundo Gouvêia (2004), a previsibilidade é fundamental para alunos com dificuldades de processamento sensorial e de comunicação, pois permite que se sintam mais confortáveis e confiantes no ambiente escolar. Dessa forma, professores e mediadores devem organizar o planejamento pedagógico de forma clara e consistente, evitando mudanças abruptas que possam causar desconforto ou desorganização emocional.

É importante considerar a redução de estímulos sensoriais excessivos no ambiente escolar. Muitos alunos com TEA possuem hipersensibilidade a ruídos, luzes intensas e movimentações bruscas, o que pode interferir negativamente no aprendizado e na interação social. De acordo com Teixeira e Silva (2019), a adaptação do ambiente escolar deve incluir espaços de descanso, uso de fones de ouvido para redução de ruídos e organização da sala de aula para minimizar distrações. Essas medidas podem auxiliar na manutenção do foco e na participação ativa dos alunos nas atividades acadêmicas.

Outra estratégia importante é a criação de espaços de transição para momentos de relaxamento e regulação emocional. Segundo Mendes (2012), alunos com TEA podem apresentar dificuldades na gestão de emoções e na adaptação a novas atividades. Dessa forma, espaços tranquilos dentro da escola, como salas de relaxamento ou cantos de descanso, são fundamentais para oferecer um ambiente seguro onde possam recuperar o equilíbrio emocional antes de retornar às atividades acadêmicas.

É imprescindível que toda a equipe escolar esteja envolvida no processo de estruturação do ambiente para alunos com TEA. A formação contínua de professores e mediadores, bem como a colaboração entre a equipe pedagógica e a família, são aspectos essenciais para garantir que as adaptações sejam efetivas. A inclusão escolar de alunos com autismo depende de um trabalho conjunto entre profissionais capacitados, planejamento adequado e um ambiente que promova segurança e bem-estar para o desenvolvimento pleno desses estudantes.

5 CONCLUSÃO

A inclusão escolar de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) representa um marco crucial na jornada rumo a uma educação verdadeiramente equitativa e acessível. Este estudo evidenciou o papel indispensável do professor auxiliar nesse processo, um profissional que atua como peça-chave na mediação entre o aluno, o currículo e a comunidade escolar.

É inegável que a legislação brasileira, em especial a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), assegura o direito à educação inclusiva. No entanto, a mera existência de leis não garante sua efetivação. A realidade escolar ainda se depara com desafios significativos, como a falta de recursos adequados, a necessidade de formação especializada para os profissionais e a superação de preconceitos arraigados.

O professor auxiliar, nesse contexto, assume um papel multifacetado. Ele é o responsável por adaptar o currículo, criar materiais didáticos individualizados, implementar estratégias pedagógicas eficazes e, acima de tudo, construir um ambiente de confiança e respeito mútuo. A colaboração com o professor regente, a família e outros profissionais é essencial para garantir que as necessidades específicas de cada aluno sejam atendidas de forma integral.

A teoria histórico-cultural de Vygotsky, que enfatiza a importância da interação social na aprendizagem, ressalta a relevância do professor auxiliar como mediador nesse processo. Ao facilitar a comunicação e a interação entre o aluno com TEA e seus colegas, o professor auxiliar contribui para o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e cognitivas.

Apesar dos avanços alcançados, é fundamental reconhecer que a inclusão escolar é um processo contínuo e em constante evolução. A formação continuada dos profissionais, a criação de políticas públicas eficazes e a promoção de uma cultura de respeito à diversidade são pilares essenciais para garantir que todos os alunos, independentemente de suas particularidades, tenham acesso a uma educação de qualidade.

O papel do professor auxiliar na inclusão de alunos com TEA transcende a mera assistência pedagógica. Ele é um agente de transformação, um facilitador de oportunidades e um defensor dos direitos de cada aluno. Ao reconhecer e valorizar a importância desse profissional, estamos construindo um futuro em que a inclusão não seja apenas uma meta, mas sim uma realidade concreta em todas as escolas do país.

REFERÊNCIAS

AMARAL, I., & BOSA, C. Inclusão e Autismo: Práticas Pedagógicas e Estratégias de Ensino. Porto Alegre: Mediação. 2016

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FRITH, Uta. Autismo: explicando o enigma. Tradução de Maria Cristina Versiani. São Paulo: Artmed, 2003.

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VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução de José Cipolla Neto, Luiz Silveira Menna Barreto e Solange Castro Afeche. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

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