REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202506070948
Lili Costa Maia Alencar Simões de Freitas1
Bianca Kastembal Ferreira Silva
RESUMO
A apicultura é uma atividade em expansão no Brasil, especialmente entre os pequenos produtores da agricultura familiar. Este trabalho tem como objetivo analisar a realidade da apicultura sob a perspectiva de mulheres apicultoras da Bahia e do Norte de Minas Gerais, identificando os principais desafios, oportunidades e impactos socioeconômicos da atividade. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de caráter descritivo e empírico, realizada com base em um questionário online estruturado, respondido por 76 mulheres atuantes na apicultura. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e organizados em categorias temáticas. Os resultados demonstraram que a maioria das entrevistadas possui entre 31 e 50 anos e nível de escolaridade médio ou superior. No entanto, apenas 28% têm na apicultura sua principal fonte de renda, sendo a atividade predominantemente exercida em pequena escala, com forte apoio familiar. A comercialização ocorre, em grande parte, de forma informal, com baixa adesão a marcas próprias e ausência de selos de inspeção. Mais da metade das apicultoras produz derivados do mel, como própolis e sabonetes, mas enfrentam obstáculos como ausência de certificação, falta de assistência técnica e acesso limitado ao crédito. Dentre os desafios citados, destacam-se a sobrecarga feminina, a escassez de políticas públicas específicas e as dificuldades estruturais no escoamento da produção. Conclui-se que, embora a apicultura represente uma oportunidade de inclusão produtiva e geração de renda para mulheres rurais, seu fortalecimento depende de políticas públicas que promovam a capacitação técnica, o acesso ao crédito, a formalização da produção e a valorização do protagonismo feminino na cadeia apícola.
Palavras-chave: apicultura; mulheres rurais; agricultura familiar; inclusão produtiva; políticas públicas.
ABSTRACT
Beekeeping is a growing activity in Brazil, particularly among small-scale producers within family farming. This study aims to analyze the reality of beekeeping from the perspective of women beekeepers in Bahia and northern Minas Gerais, identifying the main challenges, opportunities, and socio-economic impacts of the activity. This is a qualitative, descriptive, and empirical research based on a structured online questionnaire, answered by 76 women involved in beekeeping. The data were analyzed using descriptive statistics and organized into thematic categories. The results showed that most participants are between 31 and 50 years old and have completed high school or higher education. However, only 28% consider beekeeping as their main source of income, and the activity is predominantly carried out on a small scale, often with strong family support. Honey sales occur mostly informally, with low use of branding and lack of inspection seals. More than half of the beekeepers produce honey-derived products, such as propolis and soaps, but face barriers such as lack of certification, technical assistance, and limited access to credit. Key challenges include gender-related workload, lack of public policies, and infrastructure issues in distribution. It is concluded that although beekeeping offers potential for productive inclusion and income generation for rural women, its strengthening depends on public policies that promote technical training, access to credit, formalization of production, and recognition of the female role in the beekeeping value chain.
Keywords: beekeeping; rural women; family farming; productive inclusion; public policy.
1. INTRODUÇÃO
A apicultura é uma atividade estratégica para o agronegócio brasileiro, especialmente para os pequenos e médios produtores vinculados à agricultura familiar. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2017), o Brasil possui mais de 100 mil apicultores, dos quais aproximadamente 82% estão inseridos na lógica da produção familiar. Esse cenário contribui para a geração de renda e a diversificação das atividades produtivas no meio rural.
A produção de mel no país tem apresentado crescimento expressivo nos últimos anos, impulsionada pela demanda interna e externa por produtos naturais e saudáveis (AGNOL, 2022). O mel é amplamente consumido como adoçante natural e como insumo em cosméticos, medicamentos e alimentos processados. Essa demanda tem fomentado a expansão da atividade, sobretudo em regiões com potencial de flora apícola diversificada e com apoio técnico e institucional.
A Região Nordeste do Brasil se consolidou em 2023 como a maior produtora de mel do país, superando a Região Sul e respondendo por 39,9% da produção nacional. O estado da Bahia foi responsável por 7,4% desse total, ocupando a quarta posição entre os maiores produtores brasileiros (ABEMEL, 2024). A qualidade do mel brasileiro tem conquistado espaço no mercado internacional, sendo os Estados Unidos o principal destino das exportações, com 82% do volume exportado, seguidos por Alemanha, Canadá, Austrália e Bélgica.
Além de sua importância econômica, a apicultura se destaca como atividade de baixo impacto ambiental, contribuindo diretamente para a polinização de culturas agrícolas e para a conservação da biodiversidade (FAO, 2022). Na Bahia, o setor vem sendo impulsionado por políticas públicas e ações de extensão rural que fortalecem a organização dos apicultores, sobretudo aqueles vinculados à agricultura familiar.
No Norte de Minas Gerais, a apicultura tem se desenvolvido com características próprias, destacando-se não apenas pela produtividade, mas também pela expressiva participação feminina na atividade. De acordo com a Emater (2018), a produção média anual da região gira em torno de 400 mil quilos de mel, sendo a atividade considerada estratégica para o fortalecimento do setor agropecuário local.
A atuação das mulheres tem ganhado protagonismo na cadeia apícola, indo além da produção. Rocha (2021) destaca que as mulheres apicultoras vêm ocupando espaços de liderança em associações e cooperativas, promovendo práticas sustentáveis e fortalecendo a economia solidária nas comunidades rurais. Conforme Guimarães e Quirino (2017), a presença feminina no campo está vinculada à construção de redes colaborativas, à diversificação da renda e à valorização dos saberes locais.
Este trabalho tem como objetivo principal realizar um diagnóstico detalhado da apicultura a partir da perspectiva das mulheres nos estados da Bahia e de Minas Gerais, identificando os principais desafios e oportunidades enfrentados por elas. Além disso, busca-se avaliar os impactos econômicos, sociais e ambientais dessa atividade, com foco na contribuição das mulheres para o fortalecimento do setor. A partir dessa análise, propõem-se estratégias que promovam o desenvolvimento sustentável da apicultura, com ênfase no fortalecimento da liderança jovem, no incentivo às práticas cooperativas e na adoção de tecnologias que contribuam para o aumento da produtividade e da competitividade.
Ademais, pretende-se identificar os gargalos da cadeia produtiva sob a ótica feminina, traçar o perfil socioeconômico das apicultoras das regiões estudadas, realizar um comparativo entre os contextos do Norte de Minas e dos territórios rurais da Bahia, e subsidiar a formulação de políticas públicas que posicionem a apicultura como uma alternativa economicamente viável, ambientalmente resiliente e socialmente inclusiva.
2. OBJETIVOS
Analisar os principais desafios e oportunidades da apicultura sob a perspectiva das mulheres apicultoras da Bahia e do Norte de Minas Gerais.
Objetivos específicos:
Avaliar os impactos econômicos, sociais e ambientais da atividade; Identificar os principais gargalos enfrentados pelas produtoras;
Traçar o perfil socioeconômico das apicultoras;
Comparar os contextos entre as regiões estudadas;
Propor ações de valorização e fortalecimento da atividade feminina na cadeia apícola.
3. METODOLOGIA
Este estudo possui caráter qualitativo, empírico e descritivo, com o objetivo de compreender o panorama atual da apicultura sob a perspectiva feminina em regiões específicas do Brasil, com foco no Norte de Minas Gerais e nos territórios rurais da Bahia. Inicialmente, foi realizada uma revisão de literatura para contextualizar a cadeia produtiva da apicultura nessas regiões, abordando dimensões econômicas, sociais e ambientais.
A pesquisa de campo foi conduzida no período de novembro a dezembro de 2024, por meio de um questionário estruturado, elaborado pela autora e aplicado de forma online por meio da plataforma Google Forms. O instrumento foi direcionado exclusivamente a mulheres apicultoras e composto por 15 (quinze) perguntas fechadas e abertas, contemplando variáveis como perfil socioeconômico, estrutura produtiva, formas de comercialização, produção de derivados, dificuldades enfrentadas na atividade e percepções individuais sobre o setor.
A amostra final incluiu 76 respostas, distribuídas entre os dois estados estudados. A definição do território de pesquisa foi intencional, visando contemplar regiões com histórico relevante na produção apícola e presença expressiva de mulheres na atividade.
A análise dos dados baseou-se na estatística descritiva, com tabulação e categorização das informações coletadas. Os resultados foram apresentados por meio de gráficos e tabelas, seguidos de discussões analíticas à luz dos objetivos propostos.
Para fundamentar a interpretação, adotaram-se três eixos de indicadores:
Econômicos: relacionados à geração de renda, número de colmeias, dependência da atividade e produção de derivados (como própolis, cera, pólen e geleia real);
Sociais: referentes à participação da mulher na atividade, apoio familiar, acesso à capacitação e protagonismo em organizações;
Ambientais: voltados à preservação da biodiversidade local, polinização de culturas e práticas sustentáveis adotadas nas propriedades.
A metodologia adotada permite não apenas traçar o perfil das apicultoras entrevistadas, mas também identificar os principais gargalos enfrentados por elas e compreender como políticas públicas, assistência técnica e ações de capacitação podem contribuir para o fortalecimento da atividade apícola como instrumento de desenvolvimento socioeconômico, inclusão produtiva e empoderamento feminino no meio rural.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos dados obtidos por meio do questionário aplicado a 76 mulheres apicultoras revelou aspectos relevantes sobre o perfil socioeconômico, os desafios enfrentados e as percepções dessas produtoras em relação à atividade apícola. Os resultados demonstram que a apicultura, embora desempenhe um papel relevante na geração de renda e na inclusão produtiva feminina, ainda apresenta fragilidades estruturais que limitam seu potencial de desenvolvimento.
Quanto à faixa etária (Figura 1), verificou-se que 72% das entrevistadas estão entre 31 e 50 anos, indicando uma predominância de mulheres em plena fase produtiva. Esse dado reforça o potencial de engajamento dessas apicultoras em processos de capacitação e inovação tecnológica, especialmente quando acompanhados de políticas públicas de incentivo.

Figura 1. Faixa etária das apicultoras entrevistadas.
No que se refere à escolaridade (Figura 2), constatou-se que 50% das apicultoras possuem um grau de escolaridade superior ao ensino médio, o que aponta para uma base educacional favorável à assimilação de práticas de gestão, boas práticas de produção e inserção em canais formais de comercialização. Esse dado sugere ainda que as mulheres envolvidas na área estão investindo ativamente em sua formação, demonstrando um esforço contínuo em se capacitar e adquirir conhecimentos relevantes para sua atuação. Essa busca por qualificação pode refletir tanto o interesse em superar desafios do setor quanto a intenção de se destacar em um mercado cada vez mais competitivo e exigente.

Figura 2. Nível de escolaridade das apicultoras.
Apesar disso, apenas 22,1 % das entrevistadas relataram que a apicultura é sua principal fonte de renda. O restante a exerce como atividade complementar, o que evidencia a multifuncionalidade das mulheres no meio rural e a necessidade de políticas integradas de valorização da atividade (Figura 3).

Figura 3. Apicultura como principal fonte de renda.
Ao analisar a quantidade de colmeias (Figura 4), observa-se que uma parcela significativa das apicultoras possui até 10 colmeias. Esse dado indica que a apicultura, para muitas delas, pode estar associada a uma atividade em pequena escala, frequentemente complementando outras fontes de renda ou funcionando como um empreendimento inicial. Essa realidade também pode estar relacionada a fatores como acesso limitado a recursos financeiros, infraestrutura ou assistência técnica, que dificultam a expansão da atividade. Contudo, esse cenário evidencia um potencial de crescimento no setor, especialmente se forem implementadas políticas de incentivo e capacitação que promovam o aumento da escala produtiva e o fortalecimento das apicultoras como protagonistas no mercado.

Figura 4. Quantidade de colmeias das apicultoras.
Quando questionadas sobre a mão de obra (Figura 5), a grande maioria das apicultoras relatou contar com o apoio de familiares, especialmente maridos e filhos, para a realização das atividades relacionadas à apicultura. Essa dinâmica familiar ressalta a importância do trabalho colaborativo no desenvolvimento da atividade, mas também evidencia o papel central das mulheres como gestoras e líderes nesse contexto. Além disso, destaca-se a influência das apicultoras no processo de sucessão, pois sua atuação e envolvimento direto nosetor contribuem para despertar o interesse das novas gerações e fomentar a continuidade da apicultura nas famílias. Esse protagonismo feminino não apenas fortalece os laços familiares,mas também reforça a relevância das mulheres como agentes de mudança, capazes de moldarum futuro mais sustentável e inclusivo para a apicultura.

Figura 5. Mão de obra e ajuda familiar na atividade apícola.
Conforme Figura 6, no tocante à comercialização do mel, predominam práticas informais. Cerca de 29% das entrevistadas vendem o produto in natura sem marca, enquanto 31% possuem marca própria, mas sem selo de inspeção. Apenas 7% afirmaram ter marca com certificação sanitária, demonstrando que a formalização da produção ainda é limitada.
Um aspecto preocupante é que 14% das mulheres ainda dependem da comercializaçãopor meio de atravessadores, o que reduz significativamente o valor final recebido pelo produtor, comprometendo a rentabilidade da atividade. Esse panorama evidencia a necessidade de políticas públicas e iniciativas privadas que promovam a formalização, o fortalecimento de marcas próprias e a obtenção de selos de qualidade, fatores essenciais para aumentar a competitividade e a valorização do mel no mercado, além de fomentar a autonomia econômicadas apicultoras.

Figura 6. Forma de comercialização do mel.
Os derivados do mel são produtos obtidos a partir do mel ou em combinação com ele, aproveitando suas propriedades naturais para diversas finalidades, como alimentação, saúde ecosméticos. Eles incluem itens como própolis, geleia real, cera de abelha, hidromel e vinagre de mel, entre outros, que possuem alto valor agregado devido às suas múltiplas aplicações e benefícios reconhecidos.
Entretanto, mais da metade das apicultoras entrevistadas (Figura 7) relataram não produzir nenhum derivado a partir do mel, limitando-se à comercialização do produto in natura. Essa realidade reflete um potencial subaproveitado no setor, pois a produção de derivados não apenas aumenta a rentabilidade, mas também diversifica as fontes de renda e fortalece a posiçãodas apicultoras no mercado. A ampliação desse cenário exige iniciativas voltadas à capacitação,acesso a tecnologias e incentivo à inovação, permitindo que mais mulheres agreguem valor ao mel e consolidem sua autonomia econômica.

Figura 7. Produção de derivados do mel.
A produção de derivados do mel, como própolis, sabonetes, pão de mel e licores, está presente em mais da metade das propriedades, sendo realizada, em sua maioria, de forma artesanal. No entanto, esses produtos ainda enfrentam barreiras quanto à regularização e comercialização, o que compromete sua inserção em mercados mais exigentes.

Figura 8. Principais derivados do mel produzidos.
As apicultoras entrevistadas relataram uma série de desafios que impactam diretamente a condução e o desenvolvimento da atividade apícola (Figura 9). Entre os principais, destacam-se o acesso limitado a equipamentos e tecnologias apropriadas, essenciais para garantir eficiência produtiva e qualidade do manejo. A falta de assistência técnica continuada e a escassez de recursos financeiros também foram amplamente mencionadas como obstáculos recorrentes.
Adicionalmente, muitas produtoras enfrentam dificuldades logísticas, como transporte precário e ausência de veículo próprio, o que compromete o escoamento da produção e o acesso a insumos. As limitações no processo de comercialização também foram evidenciadas, com destaque para a dependência de atravessadores, ausência de canais de venda direta e falta de estratégias de marketing que valorizem o mel e seus derivados.
Outro fator relevante diz respeito às condições climáticas adversas, que afetam diretamente a disponibilidade de flora apícola e, por consequência, a produtividade das colmeias. Esses desafios estruturais, técnicos e ambientais, quando somados, impõem barreiras significativas ao fortalecimento da apicultura feminina, evidenciando a necessidade de políticas públicas específicas, apoio técnico continuado e iniciativas voltadas à sustentabilidade e à valorização da produção no meio rural.
Além desses aspectos produtivos e estruturais, surgiram com frequência nas respostas desafios de ordem social e de gênero. Foram relatadas situações de preconceito, sobrecarga com as tarefas domésticas e falta de reconhecimento do trabalho feminino na cadeia apícola. Esse cenário reforça a importância de se pensar a apicultura não apenas sob uma perspectiva econômica, mas também como um instrumento de empoderamento feminino e inclusão produtiva, promovendo equidade de gênero no meio rural.

Figura 9. Principais desafios enfrentados na atividade.
Ao serem questionadas sobre o que ajudaria a fortalecer sua atuação na apicultura, as entrevistadas apontaram como principais demandas: maior oferta de cursos de capacitação, acesso facilitado a crédito, estrutura para comercialização, apoio técnico contínuo e políticas públicas específicas voltadas para as mulheres do campo. As respostas foram sistematizadas e agrupadas em categorias temáticas com base na frequência e convergência dos relatos, permitindo identificar os principais eixos de necessidades relatadas pelas produtoras: a) Infraestrutura e equipamentos: Várias apicultoras apontaram a carência de materiais adequados ao manejo como um dos principais entraves à continuidade e expansão da atividade. Foram citados itens como cilindros para laminar cera, caixas de colmeias, fumigadores, roupas de proteção e demais utensílios necessários para o trabalho diário no apiário. A ausência desses recursos limita a autonomia produtiva e aumenta a dependência de terceiros, além de comprometer a segurança durante o manejo. b) Apoio técnico e capacitação: A demanda por treinamentos práticos, cursos específicos e assistência técnica constante foi recorrente entre as participantes. Muitas relataram insegurança quanto a práticas como troca de ceras, condução das colmeias e controle sanitário, evidenciando a importância da presença de técnicos capacitados no acompanhamento da atividade. A formação continuada é vista como essencial para garantir qualidade, produtividade e segurança no trabalho apícola. c) Acesso ao crédito e recursos financeiros: A dificuldade de acesso a linhas de crédito e a falta de recursos financeiros para investir na infraestrutura do apiário foram citadas por diversas apicultoras como uma barreira à consolidação da atividade. A inexistência de políticas públicas específicas para o público feminino no campo contribui para manter essas produtoras em situação de vulnerabilidade produtiva. d) Comercialização e valorização dos produtos: Algumas participantes relataram dificuldades na venda e valoração do mel, enfrentando obstáculos como informalidade, burocracia para regularização sanitária e ausência de canais de comercialização estruturados. Além disso, foi mencionada a necessidade de conscientizar os consumidores sobre a importância do consumo regular de mel e seus derivados. e) Reconhecimento do trabalho feminino: O reconhecimento da mulher enquanto agente produtiva da apicultura também apareceu como ponto sensível. Foram relatadas experiências de resistência à presença feminina nos apiários, além de sobrecarga com as tarefas domésticas. As participantes demonstraram desejo por maior valorização institucional de sua atuação e por políticas de incentivo à permanência da mulher no campo. f) Condições climáticas e desafios logísticos: Fatores externos, como alterações climáticas e dificuldade de transporte da produção, foram citados como obstáculos que afetam diretamente os resultados da atividade. A ausência de veículos próprios ou de infraestrutura de escoamento contribui para a estagnação de muitos empreendimentos apícolas.
Essas categorias revelam que a apicultura feminina não enfrenta apenas barreiras técnicas e produtivas, mas também desafios sociais, financeiros e estruturais que impactam a permanência e o protagonismo das mulheres no setor. Dessa forma, os dados reforçam a necessidade de ações públicas específicas e integradas que fortaleçam a autonomia econômica e produtiva das mulheres rurais, valorizando sua contribuição estratégica para o desenvolvimento sustentável no meio rural.
Esses achados estão em consonância com os estudos de Rocha (2021) e Guimarães e Quirino (2017), que destacam o papel fundamental das mulheres na organização da produção rural e na adoção de práticas sustentáveis. O fortalecimento da apicultura feminina depende, portanto, da interseção entre assistência técnica qualificada, organização produtiva e políticas públicas estruturantes, capazes de valorizar o protagonismo feminino e promover a equidade no meio rural.
5. CONCLUSÃO
Os dados analisados revelam o importante papel das mulheres na apicultura e os entraves enfrentados no exercício da atividade, especialmente no que se refere à informalidade, baixa escala de produção, falta de assistência técnica e ausência de políticas públicas específicas.
Apesar disso, observa-se forte engajamento das apicultoras, nível de escolaridade e capacidade organizativa. Há demanda clara por capacitações, linhas de crédito, estruturação de canais de comercialização e valorização da produção com selo e marca própria.
Conclui-se que a apicultura tem potencial para se consolidar como estratégia de desenvolvimento sustentável e de empoderamento feminino no meio rural. Para isso, é essencial a atuação integrada entre Estado, instituições de apoio técnico, cooperativas e as próprias mulheres organizadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ROCHA, Caroline Vieira. Abelhas Rainhas: Um estudo sobre a apicultura com mulheres rurais no Norte de Minas Gerais. Montes Claros: Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES; Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, 2021.
1Aluna de Pós Graduação em Apicultura e Meliponicultura.
Universidade de Taubaté-SP como parte protocolar para conclusão do Curso.