REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202505281456
Ueudison Alves Guimarães
Lidiane Ferreira da Silva
Celciane Lopes de Araújo
Alva Valéria Moro Labs
Erme Aparecido Freitas de Faria
Charlene Volles Bylaardt
Fátima dos Reis Almeida Sanches
Leidiane Aparecida dos Santos
RESUMO
Este estudo tem como premissa inicial se concentrar em explorar os conceitos de emoções e aprendizagem no que diz respeito ao trabalho docente, destacando a real seriedade da Educação Emocional nesse contexto. Assim sendo, a pesquisa aqui desenvolvida visa provocar uma profunda reflexão sobre os desafios e a importância do desenvolvimento socioemocional no ambiente escolar. A relevância de contar com uma equipe pedagógica consciente e engajada nessa questão é fundamental, pois diagnosticar as dificuldades presentes no processo educacional e buscar transformá-las socialmente exige uma abordagem robusta, onde a própria reeducação serve como ferramenta mediadora dessa mudança. Para isso, a pesquisa se apoia em uma variedade de teóricos da educação, considerando suas perspectivas e contribuições para sustentar o tema proposto, bem como os pontos que provocam inquietação e discussão. A partir da pesquisa realizada, torna-se evidente que é possível reavaliar nossos conceitos e dar uma atenção renovada à saúde emocional, especialmente em uma era repleta de contingências e incertezas.
Palavras-Chave: Aprendizagem. Educação. Competências Socioemocionais.
ABSTRACT
The initial premise of this study is to focus on exploring the concepts of emotions and learning in relation to teaching, highlighting the real importance of Emotional Education in this context. Therefore, the research developed here aims to provoke a deep reflection on the challenges and importance of socio-emotional development in the school environment. The relevance of having a pedagogical team that is aware and engaged in this issue is fundamental, since diagnosing the difficulties present in the educational process and seeking to transform them socially requires a robust approach, where re-education itself serves as a mediating tool for this change. To this end, the research relies on a variety of educational theorists, considering their perspectives and contributions to support the proposed theme, as well as the points that provoke concern and discussion. Based on the research carried out, it becomes clear that it is possible to reevaluate our concepts and give renewed attention to emotional health, especially in an era full of contingencies and uncertainties.
Keywords: Learning. Education. Socio-emotional Skills.
1. INTRODUÇÃO
Nóvoa (1999) afirma que, para instilar o amor pelo conhecimento, um professor deve ir além do simples domínio dos conteúdos disciplinares; ele deve saber acolher suas turmas, identificando e trabalhando com seus interesses e sentimentos.
As relações humanas são essenciais para uma vida pessoal e profissional bem-sucedida, e, em nossa rotina diária, frequentemente enfrentamos questões que envolvem nosso emocional.
Esse cenário despertou um profundo interesse em investigar a educação emocional em sala de aula, com o objetivo principal de analisar o impacto do relacionamento emocional entre professor e aluno na melhoria do aprendizado. Além disso, a pesquisa visa entender a contribuição da família nesse processo e explorar os desafios e as oportunidades de trabalhar um tema tão novo, atual e relevante na vida dos educandos.
O equilíbrio emocional de um aluno é absolutamente determinante para o sucesso acadêmico. Por isso, cabe ao educador se preocupar tanto com a qualidade da aprendizagem quanto com a saúde emocional do aluno e os métodos pelos quais ele está assimilando o conhecimento.
Nesse contexto, revela-se que o professor deve atuar como um mediador da aprendizagem, enfrentando inúmeras dificuldades. Para tanto, este estudo busca identificar os desafios e propor soluções inovadoras para superá-los, visando alcançar o sucesso na vida de milhares de jovens em desenvolvimento.
2. METODOLOGIA
A metodologia adotada para a pesquisa sobre o desenvolvimento de competências socioemocionais em professores é predominantemente bibliográfica, com o objetivo de analisar e sintetizar o conhecimento existente sobre o tema. Inicialmente, foi realizada uma revisão sistemática da literatura, que envolveu a busca de artigos acadêmicos, livros e publicações especializadas em bases de dados como Google Scholar, Scopus e PubMed.
A seleção dos materiais foi pautada em critérios de relevância e atualidade, priorizando textos que abordam tanto as estratégias de desenvolvimento quanto os benefícios das competências socioemocionais para professores
Os textos foram agrupados e analisados sob diferentes perspectivas teóricas e práticas. A primeira etapa da análise concentrou-se em identificar as principais estratégias utilizadas para o desenvolvimento dessas competências, como programas de formação continuada, workshops, e intervenções psicopedagógicas. Foram examinados detalhes sobre a implementação dessas estratégias, os métodos utilizados para a promoção das habilidades socioemocionais e os contextos em que foram aplicadas, permitindo uma visão abrangente das abordagens mais eficazes.
Na sequência, a pesquisa investigou os benefícios reportados por professores que participaram desses programas e intervenções. A análise focou em aspectos como o impacto na qualidade das relações interpessoais, o aumento da resiliência e da empatia, e a melhoria na gestão de sala de aula. Para tanto, foram examinados estudos de caso e relatos de experiência que ilustram como o desenvolvimento das competências socioemocionais contribuiu para a prática docente e para o bem-estar geral dos professores.
Por fim, a síntese das informações obtidas permitiu a elaboração de conclusões sobre a eficácia das estratégias de desenvolvimento e os benefícios associados. O estudo destaca as práticas que se mostraram mais promissoras e os desafios enfrentados na implementação. Além disso, sugere direções para futuras pesquisas e oferece recomendações para instituições educacionais que desejam investir no desenvolvimento socioemocional de seus professores, visando a construção de um ambiente escolar mais saudável e produtivo.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Desenvolvimento das competências socioemocionais
O desenvolvimento socioemocional, um construto complexo e intangível, não pode ser observado diretamente, pois é um desenvolvimento que está intrinsecamente ligado a uma rede de conceitos que ajudam a definir e entender o seu significado profundo. Entre esses conceitos, destacam-se as habilidades que se relacionam tanto com a inteligência emocional quanto com o desenvolvimento socioemocional.
Para Facci (2004), discutir desenvolvimento socioemocional exige relacioná-lo a habilidades essenciais, formadas através do cultivo de relações interpessoais e afetivas, as quais se entrelaçam com a percepção individual em diversas situações e comportamentos, moldadas pela maneira única de sentir e nomear essas experiências.
Dentro do vasto espectro de habilidades, encontramos as habilidades sociais, que são diversificadas. Assim, revela-se que exemplos incluem iniciar e manter uma conversação, expressar sentimentos como amor e afeto, defender pontos de vista, pedir favores e enfrentar críticas.
Nesse contexto, Del Prette (2005) explica que essas habilidades sociais são necessárias para um desempenho socioemocional robusto, um conceito dinâmico e em constante formação, uma vez que se refere à aplicação das habilidades socioemocionais para identificar e manejar problemas emocionais e comportamentais que possam interferir em sua eficácia.
Dessa forma, percebe-se que as habilidades sociais são imprescindíveis para um desempenho emocional excepcional, estando intimamente ligadas ao caráter e à personalidade do indivíduo.
Del Prette (2013) afirma que compreender o desenvolvimento socioemocional envolve mergulhar em conceitos de inteligência interpessoal e emocional, competências sociais e habilidades sociais que refletem as capacidades de sentir, pensar e comportar-se conforme os padrões sociais em diversas situações.
Com isso, torna-se evidente que o desenvolvimento socioemocional está profundamente entrelaçado com as vivências do indivíduo dentro de seu contexto histórico e cultural. Nesse cenário, sentimentos e emoções não são meros estados internos, mas componentes vitais de um fenômeno social imbuído de sentido e propósito.
3.2 Evolução histórica da educação escolar
Há tempos, o papel da educação tem sido objeto de intensos debates. Diante das diversas transformações em todos os contextos, torna-se imperativa a reconstrução do saber educacional. Assim sendo, Macedo (2018) ressalta que a popularização da internet no final do século XX, juntamente com o advento dos motores de busca e redes sociais no início do século XXI, a globalização das economias, as novas configurações sociais do trabalho e as demandas de uma sociedade humanamente redesenhada ampliaram as discussões e reflexões sobre o processo de formação humana e o papel da escola. Essas preocupações não mais se limitam aos muros universitários, mas permeiam diversos setores da sociedade, gerando novos saberes e impulsionando pesquisas e projetos de múltiplas naturezas.
De acordo com Piske (2013), em uma sociedade como a nossa, onde os alunos passam inúmeras horas de suas vidas na escola desde a infância, um tempo que está se ampliando no Brasil com a implementação da jornada em tempo integral e a obrigatoriedade de ingresso escolar aos quatro anos, demanda-se que nós, futuros pedagogos, repensemos o importante papel desse ambiente na promoção da saúde mental e física dos estudantes.
Assim sendo, evidencia-se que uma escola que seja suficientemente boa, com professores que sejam suficientemente bons, pode ser a chave para combater as adversidades familiares e sociais, muitas vezes marcadas por carências afetivas, alimentares, materiais e emocionais.
3.3 O papel das habilidades socioemocionais na educação
No texto introdutório da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), são estabelecidas dez competências gerais que todos os alunos devem ser incentivados a desenvolver ao longo de sua escolarização, servindo como um guia fundamental para todas as escolas (BRASIL, 2017). Entre essas diretrizes, as competências socioemocionais recebem destaque significativo.
De acordo com Corrêa (2008), a educação socioemocional envolve o processo de compreensão e gestão das emoções, incluindo a empatia e a tomada de decisões. Para que essa educação seja eficaz, mostra-se fundamental promovê-la em diversas situações, tanto dentro quanto fora da escola, focando no desenvolvimento de cinco competências essenciais: autoconsciência, autogestão, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de decisão responsável.
Dentro desse contexto, nota-se que pesquisas e estudos recentes já indicam que as competências socioemocionais têm se revelado efetivamente categóricas para que os alunos alcancem sua integralidade. Por essa ótica, entende-se que aos professores recai a complexa responsabilidade de transmitir de maneira eficaz os elementos que permitem a cada aluno desenvolver essas competências, uma tarefa longe de ser simples.
Como afirma Machado (2002), somos seres do nosso tempo, e a maioria dos educadores de hoje passou por uma escolarização tradicional, frequentemente mecânica e desprovida de significado, contudo, tornar-se um autor de mudanças exige que os professores desenvolvam suas próprias habilidades.
Para que isso seja possível, os gestores escolares precisam cumprir o seu papel na valorização, formação e apoio contínuo à equipe docente, sustentados por políticas públicas claras, consistentes e eficazes.
3.4 Influência familiar na educação
A família, segundo Carvalho (2017), representa o primeiro contato da criança, servindo como a porta de entrada para o desenvolvimento humano, onde ocorrem as primeiras interações sociais. É nesse ambiente que a criança começa a aprender conceitos, regras e costumes, fundamentos dos processos de socialização.
Nesse sentido, esclarece que diversos modelos teóricos apontam que os determinantes do desenvolvimento socioemocional na infância são moldados pela convivência com os primeiros cuidadores e familiares. Dessa maneira, destaca-se que as particularidades pessoais e as práticas educativas desses cuidadores influenciam diretamente a qualidade dos relacionamentos com a criança, afetando o desenvolvimento de comportamentos em vários contextos.
Assim, percebe-se que a interação familiar exerce uma função de grande importância no que diz respeito ao desenvolvimento socioemocional, visto que o clima familiar e as experiências da infância moldam significativamente o comportamento e as habilidades sociais, além de influenciar a qualidade da comunicação entre mãe e filho.
Marin (2017) explicam que a escola brota como o segundo ambiente fundamental na vida das crianças, oferecendo um espaço necessário de convívio social, já que é nesse ambiente que se formam relações importantes tanto entre os pares quanto entre alunos e professores, proporcionando uma arena dinâmica para o desenvolvimento social e emocional.
Segundo Mayer e Salovey (1997), após a inserção da criança no ambiente escolar, os professores se tornam pilares de segurança e apoio emocional, facilitando a adaptação dos estudantes a esse novo mundo.
Todavia, embora a presença do professor seja breve e transitória na vida do aluno, sua importância como cuidador durante o ano letivo é vital para a socialização e o desenvolvimento de competências emocionais que influenciam profundamente os processos cognitivos e comportamentais.
Tonieto e Fávero (2022) afirma que o relacionamento professor-aluno apresenta grande relevância para o desenvolvimento socioemocional das crianças, gerando impactos positivos como a melhora no desempenho acadêmico e a redução de problemas comportamentais, além de um significativo avanço no desenvolvimento de habilidades sociais.
Dessa forma, percebe-se que esses resultados avançam ao destacar a importância crítica do relacionamento professor-aluno para o desenvolvimento das crianças, desde o jardim de infância até a adolescência.
Para as crianças mais jovens, um vínculo positivo com os professores pode proporcionar uma sensação de segurança, encorajando-as a participarem ativamente das atividades escolares e a interagirem com seus colegas, sabendo que podem contar com o apoio dos professores em caso de dificuldades.
Para Corrêa (2008), os alunos das séries mais avançadas, um relacionamento positivo com os professores ajuda a manter o interesse nas atividades escolares e sociais, promovendo um melhor desempenho acadêmico e um relacionamento saudável com os colegas.
A escola, assim como a família, cumpre o seu papel de importância na formação do indivíduo, servindo como um extraordinário meio de socialização onde a criança experimenta desenvolvimento pessoal e social. A sinergia entre essas duas instituições é considerada vital para a formação integral da criança, pois uma estrutura familiar que oferece suporte socioemocional em um ambiente acolhedor influencia diretamente a competência social e reduz problemas comportamentais.
Além disso, quando combinada com uma relação positiva entre professor e aluno, essa dinâmica torna o desenvolvimento muito mais saudável, facilitando uma melhor adaptação às mudanças sociais e aprimorando significativamente suas habilidades.
Em contraste, uma família que proporciona um ambiente hostil e com recursos escassos pode ter efeitos devastadores no desenvolvimento da criança.
Nesses contextos, a relação aluno-professor se destaca intensamente, tornando-se uma âncora de segurança que auxilia a criança nas mudanças e adaptações necessárias na sociedade. Ademais, essa relação proporciona um suporte socioemocional crucial, mitigando os impactos negativos de um ambiente familiar desfavorável.
3.5 A influência do educador no crescimento socioemocional
O educador, segundo Piske (2013) exerce função preponderante no desenvolvimento socioemocional dos alunos, especialmente durante a fase pré-escolar nas creches, onde a criança se confronta com a necessidade de gerir suas emoções e interações sociais, tendo em vista que esse período é considerado de grande relevância para a capacidade da criança de se relacionar com outros indivíduos.
Nesse sentido, ressalta-se que o desenvolvimento das competências socioemocionais começa na pré-escola e mostra-se primordial para as crianças, pois nessa fase elas são mais receptivas a esse tipo de aprendizado. Assim sendo, acrescenta-se que focar na socialização e no desenvolvimento saudável das emoções nessa etapa promove relações sociais mais adaptadas e robustas.
A maneira como ensinamos a criança a se organizar, a compreender e respeitar regras e limites, e, sobretudo, a entender e controlar suas emoções, molda profundamente a formação de sua personalidade e a maneira como ela se relaciona com o mundo.
De acordo com Piske (2013), educadores que impõem limites de forma sistemática sem explicar o porquê, ensinam apenas que o bom comportamento se baseia na obediência cega a ordens e autoridade. Em contrapartida, crianças que crescem sem limites podem ser levadas a acreditar que seus desejos são a única medida do comportamento adequado.
Nascimento et al (2017) afirmam que o desenvolvimento de um comportamento adequado requer a utilização das habilidades intelectuais das crianças, pois elas precisam usar suas competências cognitivas para entender o mundo social ao seu redor, compreender os padrões sociais aceitáveis, desenvolver autonomia e definir seus próprios limites.
Assim sendo, entende-se que a qualidade da relação entre professores e crianças representa um fator decisivo para o desenvolvimento socioemocional, visto que as estratégias, padrões de comportamento e interações com o educador e seus pares são diretamente moldados por essa relação.
Grande parte do desenvolvimento socioemocional de uma criança ocorre através da modelagem, onde a expressividade da criança reflete a emocionalidade do educador.
Consequentemente, os alunos espelham o modelo apresentado. Um educador enérgico gera uma turma vibrante, enquanto um professor irritado resulta em alunos zangados, pois a criança tende a reproduzir o comportamento que considera correto.
Dessa forma, Del Prette (2005) explica que, nos primeiros anos, considera-se essencial oferecer suporte para a compreensão e identificação dos sentimentos, além de métodos apropriados para lidar com eles. Nesse contexto, o educador é visto como elemento fundamental, colaborando com a criança ao estimular a comunicação verbal e ajudar a atribuir significado às emoções.
Nesse sentido, percebe-se que, assim como os pais e familiares, os educadores têm o poder de construir o clima emocional no qual a criança aprende a expressar, identificar e gerenciar suas emoções. No entanto, os educadores possuem qualidades únicas que os tornam especialmente eficazes como socializadores emocionais: eles introduzem novas habilidades, fornecem materiais intrigantes e criam laços emocionais profundos com as crianças na sala de aula.
Professores desenvolvem uma relação de confiança com seus alunos, e essa confiança passa a ser altamente importante para o desenvolvimento emocional da criança, mesmo com a constante troca de docentes ao longo de sua fase escolar.
Os jovens, devido ao seu desenvolvimento socioemocional mais avançado, conseguem formar relações com os educadores. Embora essa ligação não seja tão intensa quanto na pré-escola, pois os alunos já estão inseridos em comportamentos socialmente aceitos e sua autonomia se torna mais evidente.
Logo, ao alcançar o ensino médio, esses jovens geralmente se tornam adolescentes emocionalmente mais estáveis, graças às relações de confiança estabelecidas com seus educadores, que cumprem um papel decisivo no fortalecimento de seu desenvolvimento socioemocional.
3.6 A escola como pilares do desenvolvimento socioemocional
Discutir o desenvolvimento socioemocional implica reconhecer o constante desafio que a escola enfrenta como base e suporte para o crescimento emocional de cada aluno.
Em cada etapa do ensino, encontramos a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que estabelece as competências e habilidades esperadas dos alunos em cada fase de sua educação. No entanto, muitas dessas expectativas não correspondem à realidade dentro das escolas.
Ao conectar a BNCC com o desenvolvimento socioemocional, percebemos que existe a premissa de transformar a escola em um pilar de apoio emocional. Contudo, a implementação prática dessa visão é um desafio enorme. Com isso, o ambiente escolar cumpre sua função de relevância no desenvolvimento socioemocional, mas a prática desse desenvolvimento enfrenta inúmeros obstáculos (BRASIL, 2017).
De acordo com Berking e Whitley (2014), o ambiente escolar deve ser estruturado para proporcionar ao aluno confiança e estabilidade emocional. Todavia, o desafio de ser uma base para o desenvolvimento emocional está diretamente ligado à falta de infraestrutura das escolas e aos baixos investimentos governamentais no ambiente escolar, impactando negativamente o desenvolvimento socioemocional dos alunos, que precisam de um clima escolar propício para florescer emocionalmente.
Desse modo, elucida-se que o clima escolar abrange muito mais do que interações sociais; ele envolve normas, metas, valores, qualidade dos relacionamentos interpessoais, práticas de ensino e aprendizagem, e a estrutura organizacional da escola. Esses elementos são moldados pelas experiências anteriores das pessoas e refletem a qualidade e as características do cotidiano escolar.
A escola enfrenta inúmeros desafios diários, mas ainda se mantém como um pilar essencial para o desenvolvimento socioemocional dos alunos, pois mesmo com a falta de infraestrutura adequada e a escassez de profissionais capacitados para ajudar os alunos a compreenderem suas competências e habilidades emocionais, a instituição permanece firme em seu papel formativo.
4. DISCUSSÕES
A educação, especialmente a escolar, é um farol de perspectiva, transformação e conscientização crítica e ética. Documentos legais como a BNCC insistem que as escolas ultrapassem a dicotomia disciplinar do conhecimento, promovendo práticas que transformem o saber em algo aplicável e significativo, centrado no protagonismo dos estudantes e em seus projetos de vida (BRASIL, 2017).
No entanto, o percurso educacional nem sempre seguiu esses trilhos conceituais. Ao longo da história, a escola passou por grandes metamorfoses, mas ainda se mantém como o principal instrumento da sociedade para a disseminação do saber sistematizado, significando que é dentro das paredes das instituições escolares que os conhecimentos essenciais são transmitidos de geração em geração, garantindo a continuidade e evolução do saber.
A forma como adquirimos conhecimento evoluiu dramaticamente ao longo da história. Dessa forma, os materiais e métodos usados pelos professores para facilitar o ensino e a aprendizagem passaram por transformações profundas devido aos avanços tecnológicos e sociais, impulsionando a necessidade de reinventar a escola na era contemporânea.
Diante das novas demandas impostas à educação escolar, Machado (2002) esclarece que surgiram as primeiras iniciativas de aprendizagem social e emocional nos Estados Unidos, pavimentando o caminho para uma série de ações que reconhecem os impactos positivos do trabalho socioemocional nas escolas. Com isso, compreende-se que essas iniciativas refletem uma revolução educacional, adaptando-se às exigências modernas e reafirmando a importância da educação emocional no desenvolvimento integral dos alunos.
Segundo os autores acima, as escolas que focam no desenvolvimento socioemocional mostram resultados impressionantes: menores índices de bullying, uma redução de 10% nos comportamentos antissociais e uma significativa melhoria no clima escolar. Esse ambiente mais harmonioso não apenas favorece o desenvolvimento acadêmico, mas também transforma a experiência escolar.
É importante ressaltar que, em suas concepções, isso acontece porque os estudantes em uma escola que valoriza os aspectos socioemocionais gostam de seus professores, apreciam estar na sala de aula e se preocupam menos com brigas e a possibilidade de serem vítimas de bullying. Em tais ambientes, a educação se torna um catalisador de bem-estar emocional e acadêmico, criando um ciclo virtuoso de aprendizado e convivência pacífica.
A escola é o lugar onde aprendemos a viver juntos, especialmente em meio à diversidade. A educação escolar deve se fundamentar em quatro princípios essenciais que, segundo a UNESCO, serão a base para a aprendizagem ao longo da vida: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos (conviver com os outros) e aprender a ser.
O primeiro pilar, aprender a conhecer, conforme Macedo (2018), não se concentra tanto na aquisição de um repertório de conhecimentos codificados, mas sim no domínio das próprias ferramentas do conhecimento, que podem ser vistas tanto como meio quanto como finalidade da existência humana.
Dessa forma, aprender a conhecer permite ao indivíduo compreender o mundo ao seu redor, satisfazendo suas necessidades de aprendizado. Esse aprendizado é inseparável do aprender a fazer.
O segundo pilar da educação, aprender a fazer, nos desafia a refletir sobre a questão levantada por Macedo (2018): como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se pode prever sua evolução? Aprender a fazer envolve a aplicação prática dos conhecimentos teóricos, permitindo que se aproveite a educação ao longo da vida diante das oportunidades que surgirem.
A lógica do aprender a fazer, disseminada por Macedo (2018), se alinha estreitamente com a ideia de competência promovida pela Base Nacional Curricular Comum (2017). Nesse documento, competência é definida como a capacidade de mobilizar conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para enfrentar demandas complexas da vida cotidiana, exercer plenamente a cidadania e atuar no mundo do trabalho.
Sobre o terceiro pilar, aprender a viver juntos, ou seja, aprender a conviver com os outros, Delors afirma que é admirável a ideia de ensinar a não violência na escola, mesmo que seja apenas uma ferramenta, entre outras, para combater os preconceitos que geram conflitos.
A tarefa é árdua, pois os seres humanos tendem a supervalorizar suas próprias qualidades e as do grupo ao qual pertencem, alimentando preconceitos desfavoráveis em relação aos outros. Além disso, o clima de concorrência que atualmente caracteriza a atividade econômica, tanto dentro de cada país quanto no nível internacional, prioriza o espírito de competição e o sucesso individual.
Essa competição se traduz, hoje, em uma guerra econômica implacável e em uma crescente tensão entre os mais favorecidos e os desfavorecidos, dividindo nações e exacerbando rivalidades históricas. Lamentavelmente, a educação às vezes contribui para alimentar esse clima devido a uma má interpretação da ideia de emulação.
Assim, fica evidente que a educação, do ponto de vista social e econômico, pode ser tanto transformadora e libertadora quanto dominadora e opressora. Dependendo dos paradigmas que adota, a educação pode se configurar como um espaço de emancipação ou de repressão. Nesse contexto, as competências socioemocionais são destacadas nas escolas como fundamentais, reconhecendo que a maioria dos dilemas sociais enfrentados pela sociedade pós-moderna está centrada nos desafios de aprender a conviver.
5. CONCLUSÃO
Este trabalho de investigação revelou que a educação emocional é decisiva para alcançar o sucesso na aprendizagem e promover o bem-estar educacional dos alunos na era atual.
Torna-se claro que um aluno preparado e capaz de reconhecer suas emoções e sentimentos, que exerce controle sobre eles e sabe lidar com frustrações, estará bem equipado para enfrentar além dos desafios da vida escolar, ou seja, os obstáculos fora dela.
Almeja-se, portanto, que este artigo sirva como um poderoso instrumento de reflexão para os agentes educacionais sobre a vital importância de concentrar esforços na formação do caráter e na preparação dos indivíduos para a vida em sociedade.
Com base neste estudo, permanece evidente que a intervenção da escola como principal agente deste processo pode influenciar profundamente a vida dos indivíduos, que estão em constante construção e se relacionam de inúmeras formas ao longo do tempo.
Esta pesquisa revelou que, assim como a escola, a família representa um papel determinante nessa jornada. Com isso, demanda-se que os profissionais da educação sublinhem que cada família e cada indivíduo têm uma participação indispensável no convívio e no processo de desenvolvimento de uma sociedade.
Portanto, espera-se que este trabalho científico incite reflexão, desencadeie inquietações, provoque discussões e sublinhe a responsabilidade de todos os envolvidos no processo educacional, visto que a importância da educação emocional na vida do educando e do educador é inegável e precisa ser reconhecida e valorizada por todos.
6. REFERÊNCIAS
Berking, M., & Whitley, B. (2014). Emotion Regulation: Definition and Relevance for Mental Heath. In Affect Regulation Training: A Practioners’ Manual (pp. 5-18). doi: 10.1007/978-1-4939-1022-9
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
CARVALHO, Saulo Rodrigues de; MARTINS, Lígia Márcia. Idade adulta, trabalho e desenvolvimento psíquico: a maturidade em tempos de reestruturação produtiva. In: MARTINS, Lígia Márcia; ABRANTES, Ângelo Antônio; FACCI, Marilda Gonçalves Dias (orgs.). Periodização Histórico-Cultural do Desenvolvimento Psíquico – do nascimento à velhice. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2017.
Corrêa, C. I. M. (2008). Habilidades sociais e educação: programa de intervenção para professores de uma escola pública. Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista, Marília. Retrieved from https://goo.gl/SN1wmU
Del Prette, Z. A. P. & Del Prette, A. (2013). Inventário de habilidades Sociais Educativas – versão Professor (IHSE-Prof): Dados psicométricos preliminares. Relatório não publicado disponível com os autores.
Del Prette, Z.A.P., & Del Prette, A. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: Teoria e prática. Petrópolis: Editora Vozes.
FACCI, Marilda Gonçalves Dias. Valorização ou esvaziamento do trabalho do professor? Um estudo crítico-comparativo da teoria do professor reflexivo, do construtivismo e da psicologia vigotskiana. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2004.
MACHADO, Nilson José. Sobre a ideia de competência. In: PERRENOUD Philippe; GATHER T, M. As competências para ensinar no Século XXI: A formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MACEDO, Kelly Dandara da Silva et al. Metodologias ativas de aprendizagem: caminhos possíveis para inovação no ensino em saúde. Revista da Escola Anna Nery, v. 22, n. 3, 2018. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ean/v22n3/pt_1414-8145-ean-22-03-e20170435.pdf. Acesso em 5 dez. 2018.
MARIN, Angela Helena et al. Competência socioemocional: conceitos e instrumentos associados. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 92-103, dez. 2017.
MAYER, J. D.; SALOVEY, P. What is emotional intelligence? In P. Salovey & D. Sluyter (Eds.), Emotional development and emotional intelligence: Implications for educators (pp. 3-34). New York, NY: Basic Books.1997.
NASCIMENTO, Francisco Jeovane; ARAÚJO, Regiane Rodrigues & LIMA, Maria do Socorro Lucena. Pacto nacional pelo fortalecimento do ensino médio: Ressignificando a formação continuada de professores. Revista Cocar, 11(21), 117-141. 2017.
NÓVOA, A. Profissão: professor. 2. ed. Portugal: Porto, 1999.
PISKE, F. H. R. O desenvolvimento socioemocional de alunos com altas habilidades/superdotação (AH/SD) no contexto escolar: contribuições a partir de Vygotsky. Orientador: Dra. Tania Stoltz. 2013.166fls. Dissertação (Mestrado em Educação) – Curso de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013.
TONIETO, Carina; FÁVERO, Altair Alberto. A magia das competências na educação básica. In: FÁVERO, Altair Alberto et al. (orgs.). Leituras sobre a pesquisa em política educacional e a teoria da atuação. Chapecó, Santa Catarina: Livrologia, 2022.