IMPORTÂNCIA DA TRANSFERÊNCIA EMBRIONÁRIA EQUINA: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411151501


Autor: Walter Souza da Silva Júnior¹;
Orientador: Bruno Fagundes²;
Coautor: Gabriel de Souza Silva


Resumo: A biotecnologia da transferência de embrião equino é crucial na medicina veterinária, especialmente no manejo reprodutivo de equinos. O objetivo deste trabalho é descrever as vantagens desse procedimento ao usar doadoras idosas ou com problemas que impedem a gestação. A técnica envolve coletar embriões viáveis de éguas doadoras e implantá-los em éguas receptoras. O sucesso depende do manejo adequado das doadoras e receptoras, sincronização do ciclo estral, qualidade dos embriões e condições laboratoriais. As vantagens incluem aumentar a produção de potros por égua doadora em um ano, preservar a genética de animais valiosos e permitir que éguas com problemas reprodutivos ou idosas contribuam geneticamente sem os riscos da gravidez. A pesquisa centraliza na importância e vantagens do uso da transferência de embrião em éguas com problemas na gestação. A resposta inclui aumento da eficiência reprodutiva, preservação genética e saúde das éguas, destacando os avanços científicos e técnicos que fazem dessa biotecnologia uma prática indispensável na medicina veterinária moderna.

Palavras-chave: Transferência de Embriões. Éguas Receptoras. Seleção. Manejo.

Abstract: The biotechnology of equine embryo transfer is crucial in veterinary medicine, especially in equine reproductive management. The objective of this work is to describe the advantages of this procedure when using elderly donors or those with problems that prevent pregnancy. The technique involves collecting viable embryos from donor mares and implanting them into recipient mares. Success depends on the appropriate management of donors and recipients, synchronization of the estrous cycle, embryo quality and laboratory conditions. Advantages include increasing the production of foals per donor mare in a year, preserving the genetics of valuable animals, and allowing mares with reproductive problems or elderly mares to contribute genetically without the risks of pregnancy. The research focuses on the importance and advantages of using embryo transfer in mares with pregnancy problems. The answer includes increasing reproductive efficiency, genetic preservation and health of mares, highlighting the scientific and technical advances that make this biotechnology an indispensable practice in modern veterinary medicine.

Keywords: Embryo Transfer. Receiving Mares. Selection. Management.

1 INTRODUÇÃO

A transferência de embriões (TE) é uma biotecnologia reprodutiva amplamente utilizada na medicina veterinária, particularmente em equinos. Este procedimento tem se mostrado uma ferramenta eficaz para maximizar a eficiência reprodutiva e genética, especialmente em éguas que apresentam problemas de fertilidade ou estão idosas. A principal vantagem da TE é permitir que éguas com dificuldades na gestação possam ainda assim contribuir geneticamente para a criação de potros saudáveis, utilizando receptoras mais aptas para levar a gestação a termo.

A TE em equinos é uma técnica reprodutiva complexa, influenciada por diversos fatores, como a qualidade do material dos gametas e a técnica de transferência em si. No entanto, a escolha da receptora é frequentemente considerada o fator determinante para o sucesso do procedimento. Uma receptora ideal apresenta características específicas, como idade adequada, conformação compatível com a doadora, excelente estado de saúde, histórico reprodutivo positivo e manejo nutricional e sanitário rigoroso. Esses critérios visam otimizar as condições uterinas e fisiológicas da receptora, proporcionando um ambiente propício para a implantação e desenvolvimento embrionário, resultando em maiores taxas de prenhez e menor perda embrionária (Alonso, 2008).

Segundo McCue (2010), a transferência embrionária proporciona uma alternativa viável para maximizar o potencial genético das éguas que não podem carregar um potro até o termo por razões clínicas. Além disso, esta técnica possibilita aumentar o número de descendentes obtidos anualmente por uma única doadora.

Outra vantagem da TE é o impacto econômico positivo para criadores e haras. A possibilidade de obter mais de um potro em um único ciclo reprodutivo aumenta consideravelmente o potencial genético do plantel. Além disso, essa técnica permite um melhor planejamento e administração do criatório ou plantel, reduzindo custos associados à manutenção e cuidados com as matrizes. A biotecnologia da transferência de embrião (TE) em equinos tem se destacado como uma técnica revolucionária na medicina veterinária, oferecendo diversas vantagens para a reprodução de equinos, especialmente em éguas com problemas gestacionais.

Um fator relevante que deve ser avaliado antes da técnica são as condições físicas e idade das doadoras, como constatado por Jacob et al. (2019), estudos mostram que mesmo doadoras mais velhas ou com alguma limitação física podem ser utilizadas com sucesso na TE desde que submetidas a um manejo clínico adequado e demonstrem aptidão para  a técnica. Isso amplia significativamente o pool genético disponível e permite um uso mais eficiente dos recursos reprodutivos.

O objetivo deste trabalho é descrever a técnica da transferência embrionária equina mais utilizada atualmente, onde promove-se um ganho significativo tanto no quesito comercial quanto em tempo gestacional quando a égua doadora não precisa se ausentar de suas atividades durante o período de gestação, relatar a eficiência desse procedimento quando a égua doadora é de competição, ou em casos em que são  utilizadas doadoras  idosas ou com algum problema que as impeça de emprenhar e/ ou seguir a gestação a termo, afim de, aumentar os números de animais descendentes destas, devido ao padrão genético elevado. No entanto, ambas as situações as éguas são saudáveis, com alto potencial genético e com capacidade de emprenhar.

A pesquisa foi realizada em diversas bases de dados de relevância, como  PubMed, Scopus, Web of Science e Google Scholar. As palavras-chave utilizadas na busca incluíram: “Transferência de Embriões. Éguas doadoras. Éguas Receptoras. Seleção. Manejo”. A combinação desses termos também foi explorada para capturar o máximo de literatura relevante possível. A síntese dos achados permite uma compreensão abrangente do assunto, desafios e inovações no campo da segurança alimentar e por fim, as considerações finais. Esta metodologia limita-se à análise de trabalhos já publicados e disponíveis, e não envolve qualquer pesquisa experimental ou coleta  de novos dados empíricos.

 2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Histórico e importância da TEE

O primeiro potro nascido através da TE foi registrado em 1972, na Inglaterra, utilizando o método cirúrgico (Andrade, 1986). No Brasil, a Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (SBTE) foi fundada em 1985, promovendo eventos científicos anuais para compartilhar avanços na área de embriologia. A TE em equinos iniciou-se comercialmente em 1987, com o médico veterinário João Junqueira Fleury desempenhando um papel crucial em experimentos pioneiros, contribuindo significativamente para o desenvolvimento dessa tecnologia no país. Seja através de métodos cirúrgicos ou não cirúrgicos, a TE tem sido aplicada e aprimorada ao longo dos anos (Fleury & Alvarenga, 1999; Peres et al., 2002; Rocha et al., 2004; Camargo, 2008). Na região Norte-Nordeste do Brasil, a primeira gestação por TE em equinos foi documentada em 1996, resultando no nascimento do primeiro potro (Carneiro; Liu, 1996).

A técnica da Transferência de Embriões Equina (TEE) é amplamente utilizada na reprodução equina global. Seu objetivo principal é colher embriões de éguas doadoras de alta qualidade genética, transferindo-os para éguas receptoras com genética menos valorizada, mas capazes de manter a gestação e cuidar do potro até o desmame. É importante destacar que a genética da égua receptora não afeta as características do potro.

Conforme Evangelista (2012), a TE é facilitada pelo fato de que, nos primeiros dias da gestação, o embrião permanece livre no útero, sem a formação de anexos embrionários, o que torna sua colheita mais fácil. Atualmente, o TEE é utilizado predominantemente em éguas em idade reprodutiva, combinando-se com novas tecnologias que melhoraram significativamente as taxas de recuperação de embriões, muitas vezes alcançando ou até superando as taxas de prenhez natural por ciclo. Além disso, a TEE tem estimulado o avanço de técnicas reprodutivas, como a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) e a clonagem (Hartman, 2011).

Arruda et al. (2001) destacam que a TEE oferece maior controle sanitário na transferência de material genético entre diferentes regiões ou países, além de possibilitar a geração de receitas através da exportação de embriões congelados. Um exemplo relevante do uso do TEE é a reprodução de espécies exóticas, como zebras e cavalos de Przewalski (Summers et al., 1987). Essa técnica torna-se, assim, uma ferramenta essencial para a seleção das melhores garanhões e éguas de maior desempenho genético, funcionando como um método eficaz de avaliação da progênie (Riera, 2009).

Lira et al. (2009) destacam que, devido aos contínuos avanços em biotecnologias aplicadas à reprodução equina, a TEE tem ganhado destaque nas últimas décadas, tanto científica quanto comercialmente. Com uma relação custo-benefício cada vez mais atrativa para os criadores, a TEE está se tornando uma prática comum na indústria equina, apresentando-se como uma ferramenta promissora para os profissionais da área.

A transferência de embrião (TE) é uma biotecnologia reprodutiva avançada que tem revolucionado a criação de equinos, oferecendo múltiplas vantagens em termos de eficiência reprodutiva e melhoramento genético. Este processo permite que éguas altamente valorizadas continuem competindo ou produzindo novos embriões enquanto ainda contribuem geneticamente para o plantel. A eficiência da TE está diretamente relacionada aos avanços na manipulação embrionária e nas técnicas de sincronização do ciclo estral das receptoras.

Segundo Moreira (2023), melhorias contínuas nessas áreas têm resultado em taxas de sucesso cada vez maiores na recuperação e implantação dos embriões. As técnicas inovadoras incluem o uso de hormônios como prostaglandinas e progesterona para sincronizar os ciclos das receptoras com mais precisão, aumentando as chances de sucesso na implantação embrionária.  Inovações recentes também incluem avanços nos métodos de conservação embrionária.

Conforme relatado por Hinrichs et al. (2005), a criopreservação dos embriões equinos tem se mostrado promissora, permitindo armazenamento prolongado sem comprometer a viabilidade do embrião. Este avanço possibilita não apenas a logística mais flexível no manejo reprodutivo, mas também abre portas para o comércio internacional desses materiais genéticos.  Além disso, estudos destacam que fatores ambientais e nutricionais das éguas receptoras desempenham um papel crucial no sucesso da TE.

Atualmente, diante do crescimento populacional e do aumento do consumo global, há uma necessidade premente de expandir os setores agrícolas, visando uma produção em maior escala e mais eficiente. Esse avanço é viabilizado pelo desenvolvimento das biotecnologias, onde técnicas como inseminação artificial, sexagem de sêmen, transferência e criopreservação de embriões, e produção in vitro de embriões, têm demonstrado sua eficácia na prática. Tais biotecnologias garantem o aumento da produtividade ao permitir a seleção de animais com alto valor genético para transmitir suas características à sua prole (Pellegrino, 2013).

No contexto da Transferência de Embriões (TE) em equinos, por exemplo, Reghim (2021) destaca que é possível colher embriões de éguas de alto valor comercial (doadoras), os quais são transferidos para éguas de menor valor comercial (receptoras) para gestação e cuidados após o nascimento do potro. Essa abordagem permite que as éguas doadoras continuem suas atividades esportivas, ao mesmo tempo em que seu valioso material genético de alto desempenho é preservado e aproveitado.

2.2 Influências da Fisiologia Reprodutiva da Égua

Para Evangelista (2012), as éguas apresentam um padrão reprodutivo sazonal, com maior atividade reprodutiva durante a primavera e o verão. Essa característica, associada à ovulação única por ciclo estral, limita a produção de embriões e, consequentemente, a eficiência dos programas de transferência de embriões.

Albrecht (2011) aponta que a sazonalidade reprodutiva, marcada pela ausência de ciclos ovulatórios no inverno, reduz o aproveitamento máximo das éguas doadoras. Como alternativa, o uso de fotoperíodo artificial, associado a uma dieta balanceada e um manejo adequado, permite a utilização contínua de doadoras e receptoras ao longo de todo o ano, otimizando a produção de potros por meio da transferência de embriões.

A TE em equinos enfrenta desafios únicos em comparação com outras espécies domésticas. Ley (2006) destaca duas limitações fisiológicas das éguas: a dificuldade em induzir a superovulação de forma eficaz e a variabilidade na duração do ciclo estral. A superovulação, fundamental para aumentar a produção de embriões e a eficiência da TE, ainda carece de protocolos padronizados e eficazes nas éguas. Além disso, a imprevisibilidade do momento da ovulação, decorrente da longa duração do estro e do tempo variável entre o início do estro e a ovulação dificulta a sincronização entre doadoras e receptoras.

Segundo Faria e Gradela, (2010), para minimizar esses desafios, a hormonioterapia tem sido utilizada como ferramenta para sincronizar os ciclos estrais das éguas. Essa abordagem permite um maior controle sobre o ciclo estral, aumentando a frequência de ovulações e proporcionando um ambiente uterino mais receptivo ao desenvolvimento embrionário. A sincronização dos ciclos é essencial para o sucesso da TE, uma vez que permite a transferência de embriões em um estágio de desenvolvimento adequado para a implantação.

2.3 Transferência de embriões em equinos

Conforme Fleury et al. (2006), as colheitas de embriões podem ser realizadas entre o 6º e o 10º dia após a ovulação, utilizando cateteres com balão de 30 ml de ar (Foley), com comprimentos variando entre 80 a 150 cm, que podem ser prolongados com mangueira plástica siliconizada. Os autores relatam que e a recuperação embrionária, visualizando o embrião no filtro, são de cerca de 74,7% para embriões de 8 dias e 76,5% para embriões de 9 dias, respectivamente.

Para Vanderwall (2003) a eficiência da coleta de embriões equinos está diretamente associada à técnica de lavagem uterina, recomendando que o útero da égua seja repetidamente lavado com solução de Ringer Lactato até a recuperação do embrião. Após a filtração do líquido de lavagem, o embrião é identificado e preparado para as etapas seguintes, como a transferência ou criopreservação.

Para Evangelista (2012), existem dois métodos para deposição do embrião no útero da receptora: o método cirúrgico por laparotomia pelo flanco, menos comum e mais invasivo; e o método transcervical, mais comum e menos invasivo, que utiliza um aplicador semelhante ao de inseminação, introduzido na vagina para ultrapassar a cérvix e alcançar o útero, onde o embrião é depositado. Na transferência transcervical, a preparação da égua receptora deve ser igual à da doadora.

Vanderwall (2003) descreve que a égua é posicionada em um brete de palpação, o reto é esvaziado, e a área perineal é lavada e seca. Um cateter de silicone de cerca de 80 cm de comprimento e 8 mm de diâmetro, com um manguito inflável em uma extremidade, é inserido na vagina por um especialista usando uma luva estéril. Com o auxílio do dedo indicador, o cateter é passado pela cérvix até o corpo uterino, onde o balão é inflado com 30-50 ml de ar, selando a abertura da cérvix e prevenindo a perda de fluido. Antes do procedimento, o cateter é conectado a dois outros cateteres por uma junção em Y: um ligado ao recipiente com líquido e outro ao filtro de embrião. O sistema é preenchido com líquido para eliminar ar e evitar bolhas e espuma. A integridade do balão de ar é verificada antes da inserção do cateter na égua (RIERA, 2009).

Silva (2014) descreve a introdução do instrumento na vagina, com a ponta da bainha alcançando a abertura externa da cérvix. O embrião pode ser depositado no corpo uterino ou em um dos cornos uterinos, empurrando o instrumento através da camisa sanitária.

Segundo Hinrichs, (2005), a TEE é uma técnica relativamente menos complexa comparada a outras biotecnologias, mas os desafios encontrados podem ser grandes obstáculos ao sucesso. É importante coordenar e organizar os diversos fatores que influenciam o sucesso da TE, especialmente o manejo das éguas doadora e receptora, a qualidade da égua receptora e a habilidade técnica do profissional que realiza a transferência.

2.4 Vitrificação ou criopreservação de embriões e suas vantagens

Segundo Sola et al. (2012), a técnica de congelamento-descongelamento se destaca pela viabilidade na preservação de microrganismos. A criopreservação utiliza baixas temperaturas para interromper atividades celulares como respiração e metabolismo, permitindo a preservação das características celulares, sendo assim, quando há o congelamento próximo a 0ºC, a atividade metabólica é reduzida, aumentando a viabilidade celular.

Para Moya-Araujo et al. (2010), o sucesso da criopreservação depende de fatores como velocidade de resfriamento e estágio embrionário. Variáveis como espécie, taxa de desenvolvimento celular e  importância do tempo e do tipo de crioprotetor para evitar a formação de cristais de gelo, são determinantes. Nas últimas décadas, a criopreservação de embriões e oócitos tem avançado, com o objetivo de manter a biodiversidade e melhorar a genética animal.

A vitrificação, uma técnica de criopreservação rápida e econômica, previne a formação de cristais de gelo e é utilizada com sucesso na preservação de embriões, especialmente de espécies como equinos, onde o congelamento ainda não é rotina (Dalcin; Lucci, 2010). Este método envolve o uso de crioprotetores em altas concentrações e taxa de resfriamento rápida. Além disso, protocolos de vitrificação adaptados para diferentes espécies têm possibilitado avanços em áreas como a fertilização in vitro, com a técnica ICSI mostrando bons resultados em equinos.

Quanto às técnicas de vitrificação e as vantagens de se utilizá-las, existem a vitrificação em aberto, onde o embrião é exposto diretamente ao nitrogênio líquido e a vitrificação fechada onde o embrião é colocado em um recipiente especial antes de ser resfriado. As vantagens da vitrificação de embrião equino incluem: maior taxa de sobrevivência e viabilidade dos embriões após o descongelamento, possibilidade de armazenamento e transporte dos embriões sem perda significativa de viabilidade, redução do estresse e risco de lesões nos embriões durante o transporte, e assim, permitindo a seleção e transferência de embriões em momentos específicos, a preservação de linhagens genéticas valiosas, transferência de embriões entre haras, programas de reprodução assistida, pesquisa científica em biologia reprodutiva e conservação de espécies equinas raras (Maclellan, 2017).

3 MANEJO E SELEÇÃO

3.1 Da doadora

Conforme Silva (2015), o manejo e a seleção de éguas doadoras na Transferência de Embriões (TE) é um dos fatores mais críticos para o sucesso dessa biotecnologia reprodutiva em equinos. A escolha adequada da doadora impacta diretamente a qualidade do embrião, a taxa de prenhez e o potencial de desenvolvimento saudável do potro. Existem vários aspectos a serem considerados para garantir que a égua doadora seja a mais adequada, garantindo o máximo de eficiência reprodutiva e genética.

A principal função da égua doadora na TE é fornecer material genético de alta qualidade. Por isso, as éguas escolhidas são geralmente aquelas que possuem características genéticas desejáveis, como aptidões esportivas, conformação física ideal e um bom histórico reprodutivo. A qualidade do embrião está diretamente ligada à condição fisiológica da égua doadora, e é importante que ela tenha ciclos reprodutivos regulares e esteja em bom estado de saúde, conforme apontam estudos de Kumar et al. (2008) e McCue (2010).

De acordo com as pesquisas como as de Jacob et al. (2019), outro fator importante na seleção de doadoras é a idade. Embora a idade avançada possa diminuir a fertilidade natural, a TE oferece a oportunidade de éguas idosas ou com problemas clínicos contribuírem geneticamente. Essas pesquisas  mostram que, com o manejo adequado, mesmo éguas mais velhas podem ser usadas com sucesso como doadoras, ampliando o conjunto de todas as variações genéticas de uma espécie ou população, que pode ser utilizado para melhorar características através de cruzamentos ou biotecnologias como a TE, disponível para a reprodução. No entanto, uma avaliação clínica criteriosa é essencial para verificar se essas éguas estão em condições de produzir embriões viáveis.

Segundo Alonso (2008), o histórico reprodutivo da égua doadora também é um indicador fundamental de sucesso na TE. Éguas que já tiveram gestações bem-sucedidas ou que apresentam boas respostas as técnicas de reprodução assistida têm maior probabilidade de fornecer embriões de qualidade. Este fator, aliado a um manejo nutricional e sanitário rigoroso, contribui para a geração de embriões saudáveis e viáveis para transferência.

A seleção de éguas doadoras apropriadas maximiza a eficiência do processo de TE. Éguas com problemas de fertilidade que não conseguiriam levar uma gestação a termo ainda podem transmitir seus genes, permitindo que criadores e haras utilizem o potencial genético de animais de alto desempenho. Este aspecto é particularmente relevante para o melhoramento genético e a preservação de características desejáveis dentro de uma raça ou linhagem, conforme Lira et al. (2009).

Portanto, a importância da seleção de éguas doadoras na TE reside na possibilidade de combinar genética superior com avanços tecnológicos, potencializando o impacto positivo sobre o plantel. Ao escolher doadoras com alta qualidade genética, bom histórico reprodutivo e condições fisiológicas adequadas, os criadores conseguem otimizar as chances de sucesso da transferência embrionária, contribuindo para o melhoramento genético e o avanço da equideocultura.

3.1 Da receptora

O sucesso de um programa comercial de Transferência de Embriões (TE) em equinos depende de diversos fatores, sendo a seleção e o manejo das éguas receptoras fundamentais para garantir o desenvolvimento adequado do embrião e o nascimento de potros saudáveis. A importância da receptora se dá pelo fato de que ela será responsável por reconhecer o embrião e proporcionar o ambiente uterino necessário para a gestação, como enfatizado por Vanderwall (2000), Vanderwall e Woods (2007), e McKinnon e Squires (2007). Portanto, a receptora desempenha um papel fundamental, e sua seleção criteriosa é determinante para o sucesso do programa.

Segundo Alonso (2008), a seleção adequada da égua receptora e o manejo eficiente são fatores decisivos que, em grande parte, determinam o êxito da TE. Essa escolha deve ser feita de forma responsável e cuidadosa, visando maximizar a eficiência do procedimento, mas com o menor custo possível. Um planejamento rigoroso deve ocorrer antes do início da temporada reprodutiva, evitando a inclusão de novas receptoras após o começo dos trabalhos, já que isso pode comprometer o grupo com a introdução de doenças contagiosas.

Conforme descrito por Hartman (2011), as receptoras devem ser reprodutivamente saudáveis, sem alterações esqueléticas, boa saúde dentária, visão adequada e apresentar comportamento calmo, além de uma boa qualidade do úbere, esse conjunto de características garante que a égua tenha condições físicas e comportamentais ideais para o sucesso da gestação e o nascimento de potros saudáveis.

O critério de inclusão ou rejeição de éguas receptoras deve ser rigoroso e envolver exames como palpação, ultrassonografia, cultura, citologia e até biópsia uterina, conforme McCue et al. (1999) e Stout (2006). Esses exames são essenciais para garantir que a égua tenha um sistema reprodutivo saudável e esteja apta a abrigar e nutrir o embrião.

Segundo Reghim (2021), é preferível que as éguas receptoras tenham idade adequada, bom histórico reprodutivo e conformação perineal compatível com a da doadora. deve ter um tipo e tamanho corporal semelhante ao da égua doadora, para que o desenvolvimento do embrião e do potro seja mais equilibrado. Nesse sentido, as éguas de raças pesadas são frequentemente escolhidas como receptoras por sua maior capacidade de produção de leite, o que favorece o crescimento saudável do potro.

Quanto ao manejo nutricional e o manejo sanitário dessas receptoras são igualmente importantes aos das doadoras. Um bom estado de nutrição garante que a égua tenha os nutrientes necessários para suportar a gestação e nutrir o potro após o nascimento. Além disso, é imprescindível manter um ambiente livre de estresse e doenças, com manejo sanitário rigoroso, a fim de evitar perdas embrionárias e complicações durante a gestação. Comparando com as éguas doadoras, cujo foco é a qualidade genética e o potencial reprodutivo, as receptoras são escolhidas com base em sua capacidade fisiológica e comportamental para levar a gestação a termo. Ambas precisam de uma excelente condição de saúde, mas os critérios de seleção são distintos. Enquanto a doadora é selecionada pela capacidade genética, a receptora é escolhida por sua capacidade de gestar e cuidar do potro Souza (2020), McCue (2010), Alonso (2008) e Hinrichs et al. (2005).

Portanto, a escolha adequada das éguas receptoras é fundamental para garantir o sucesso da Transferência de Embriões, especialmente em termos de maximizar as chances de uma prenhez bem-sucedida e o desenvolvimento de potros saudáveis. Um manejo cuidadoso, desde a nutrição até o ambiente sanitário, aliado à seleção criteriosa, permite que os criadores obtenham os melhores resultados com essa biotecnologia reprodutiva, tanto no aspecto reprodutivo quanto econômico.

3.3 Sincronização entre doadora e receptora

De acordo com Albrecht (2011), a sincronização entre as éguas doadoras e receptoras também é um fator determinante para o sucesso da Transferência de Embriões (TE) em equinos, embora a espécie equina apresente uma maior flexibilidade nesse processo em comparação com outras espécies, como bovinos. Para Allen (2005), os equinos permitem um grau maior de assincronia entre a ovulação da doadora e da receptora, o que facilita o processo e ainda assim possibilita altas taxas de prenhes. Isso difere de ruminantes, como bovinos, que exigem uma sincronização mais precisa entre as duas éguas.

Os métodos utilizados para sincronizar as doadoras e receptoras podem variar, incluindo a ovulação espontânea, a indução da ovulação e a terapia hormonal em receptoras que não estão ovulando. No entanto, um dos desafios na utilização de éguas naturalmente sincronizadas é a necessidade de um grande número de receptoras disponíveis para cada doadora, conforme apontado por Zerlotti (2012). Essa abordagem, apesar de eficaz, pode tornar o processo mais oneroso e complicado em termos de logística.

Riviera e Hartman (2011) destacam que a sincronização dos ciclos estrais das doadoras e receptoras é uma das atividades mais consumidoras de tempo em uma central de reprodução. Essa tarefa requer monitoramento contínuo e rigoroso das éguas envolvidas no processo. Exames rotineiros, como a palpação transretal e a ultrassonografia, são essenciais para acompanhar o desenvolvimento do trato reprodutivo e identificar o momento ideal para a transferência embrionária.

Quando uma égua doadora entra em estro, ela deve ser monitorada de perto. A identificação do folículo dominante, geralmente realizada uma vez ao dia, é crucial para determinar o momento da ovulação e, consequentemente, a inseminação artificial (IA) ou a monta natural. Esse acompanhamento é importante para definir o chamado Dia 0 (D0), que corresponde ao dia da ovulação, conforme relatado por Riera (2009).

Segundo Zerlotti (2012), além dos exames de monitoramento, o uso de hormônios como prostaglandinas e progesterona pode ajudar a sincronizar com precisão os ciclos das receptoras e doadoras, aumentando as chances de sucesso na transferência. Essa prática é frequentemente utilizada para alinhar os ciclos estrais, garantindo que o útero da receptora esteja no momento ideal para receber o embrião. Embora os equinos permitam maior assincronia entre as éguas doadoras e receptoras, essa flexibilidade não significa que a sincronização deva ser desconsiderada. O sucesso de um programa de TE ainda depende de um acompanhamento rigoroso e de uma coordenação cuidadosa entre o ciclo estral das éguas. A escolha do método de sincronização, seja natural ou induzido hormonalmente, deve ser feita com base nas condições individuais das éguas envolvidas, sempre com o objetivo de maximizar a eficiência reprodutiva e aumentar as chances de uma prenhez bem-sucedida.

Em resumo, a sincronização entre doadoras e receptoras é um processo que, embora flexível nos equinos, exige um manejo minucioso e a utilização de técnicas adequadas para garantir o sucesso da TE. Essa etapa consome tempo e requer atenção constante, mas é essencial para a obtenção de resultados positivos.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da revisão da literatura e da análise dos dados disponíveis sobre a Transferência de Embriões (TE) em equinos, observou-se que a técnica tem se consolidado como uma biotecnologia fundamental para a reprodução animal. Diversos estudos demonstram sua eficácia em maximizar a eficiência reprodutiva e perpetuar características genéticas desejáveis, especialmente em éguas idosas ou com problemas de fertilidade. O manejo e a seleção adequados de éguas doadoras e receptoras são fatores essenciais para o sucesso da Transferência de Embriões (TE) em equinos.

A escolha das éguas doadoras, como apontado por Silva (2015), influencia diretamente a qualidade do embrião e as taxas de prenhez, sendo essencial considerar aspectos como a saúde reprodutiva, genética superior, histórico reprodutivo e até mesmo a idade. Pesquisas indicam que éguas com idade avançada, embora apresentem fertilidade reduzida, podem contribuir geneticamente, expandindo a variabilidade genética com a devida gestão (Jacob et al., 2019). A seleção rigorosa das doadoras assegura que o potencial genético seja aproveitado de forma eficiente, otimizando o melhoramento genético de raças.

No que se refere às receptoras, sua função é fornecer um ambiente uterino favorável ao desenvolvimento do embrião até o nascimento do potro, como destacam Vanderwall (2000) e outros estudiosos. A seleção de éguas receptoras deve garantir que elas tenham boa saúde, comportamento adequado e histórico reprodutivo compatível, contribuindo para uma gestação bem-sucedida. Esse rigor na escolha de receptoras é reforçado pelo controle nutricional e sanitário, que asseguram que o ambiente gestacional seja propício ao desenvolvimento saudável do potro, com manejo adequado para evitar estresse e doenças.

Além disso, a sincronização entre doadora e receptora é uma etapa fundamental para o sucesso da TE. De acordo com Albrecht (2011) e Zerlotti (2012), o processo de sincronização é facilitado em equinos devido à maior tolerância de assincronia, em comparação com bovinos. Porém, essa etapa requer um monitoramento minucioso do ciclo estral das éguas, envolvendo exames diários para determinar o momento ideal da transferência embrionária, otimizando as taxas de prenhez.

Os principais resultados evidenciam que a transferência embrionária equina, permite a obtenção de potros de éguas com alta qualidade genética sem que estas precisem levar a gestação até o final e promove melhorias significativas na reprodução equina. Além de aumentar o número de descendentes gerados por uma mesma égua em um único ciclo reprodutivo, a técnica minimiza os riscos de complicações gestacionais e facilita a continuidade das atividades esportivas das éguas doadoras.

Outro ponto relevante foi a importância da escolha criteriosa das éguas receptoras. A receptora ideal deve apresentar boa saúde, conformação corporal adequado e histórico reprodutivo positivo, para garantir o sucesso da implantação e do desenvolvimento do embrião. As características fisiológicas e a nutrição da receptora são determinantes no sucesso da TE. O manejo sanitário e a nutrição rigorosa garantem um ambiente uterino propício, contribuindo para melhores taxas de prenhes e redução de perdas embrionárias.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Transferência de Embriões (TE) em equinos depende de uma seleção rigorosa e de um manejo adequado tanto das éguas doadoras quanto das receptoras. A escolha das doadoras deve ser focado na qualidade genética e saúde reprodutiva, fatores essenciais para embriões viáveis e saudáveis. Já as receptoras precisam oferecer um ambiente uterino adequado, com saúde física e comportamento apropriado, garantindo uma gestação bem-sucedida. A sincronização dos ciclos entre doadora e receptora, embora flexível nos equinos, exige acompanhamento minucioso. Esses cuidados aumentam a eficiência reprodutiva, impulsionando o melhoramento genético e contribuindo para o sucesso da técnica. Essa técnica continuará desempenhando um papel essencial na reprodução equina, especialmente no melhoramento genético e na ampliação do potencial reprodutivo dos plantéis. Além disso, ela proporciona um retorno econômico significativo para os criadores.

Portanto, a TE em equinos oferece grandes benefícios à reprodução de equinos, sendo imprescindível o manejo cuidadoso e criterioso tanto das éguas doadoras quanto das receptoras, bem como a sincronização eficiente entre elas. Esses fatores, aliados aos avanços tecnológicos, potencializam o impacto positivo no melhoramento genético e na reprodução assistida, garantindo o desenvolvimento de potros saudáveis e geneticamente superiores, contribuindo para o progresso econômico e reprodutivo desta espécie.

REFERÊNCIAS

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