REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410311406
Gustavo Carlos Balestrin
Professor Douglas Sousa Do Nascimento
A administração no agronegócio é essencial para otimizar a gestão de recursos, maximizar a produtividade e garantir a sustentabilidade econômica e ambiental. Ela envolve a coordenação eficaz de várias etapas da cadeia produtiva, desde o planejamento da produção até a comercialização dos produtos. A boa administração no agronegócio permite a redução de custos, o aumento da eficiência operacional, e a melhoria da tomada de decisões estratégicas, fundamentais para lidar com a variabilidade de mercado, o clima e as exigências regulatórias. Além disso, promove a inovação tecnológica e a integração de novas práticas sustentáveis, o que é crucial para garantir a competitividade e o crescimento a longo prazo do setor. Outro ponto relevante é a capacidade de adaptação às mudanças de mercado e às demandas dos consumidores. O agronegócio enfrenta variáveis como oscilações de preço, regulamentações ambientais e crises climáticas, o que exige planejamento estratégico contínuo. A administração auxilia na diversificação de produtos e mercados, ajudando as empresas a explorarem novas oportunidades, como o crescimento do mercado de produtos orgânicos e sustentáveis. A inovação tecnológica é outro aspecto em que a administração tem papel fundamental. Tecnologias como a agricultura de precisão, automação de processos e uso de dados para otimização da produção requerem uma gestão eficaz para serem implementadas e geridas corretamente. Além disso, a administração promove a sustentabilidade no agronegócio, garantindo que os recursos naturais sejam utilizados de maneira responsável, o que é cada vez mais cobrado pelos mercados e consumidores.
Palavras Chave: Administração; Agronegócio; Coordenação; Inovação Tecnológica.
THE IMPORTANCE OF MANAGEMENT IN AGRIBUSINESS
Management in agribusiness is essential for optimizing resource management, maximizing productivity, and ensuring economic and environmental sustainability. It involves the effective coordination of various stages of the production chain, from production planning to product commercialization. Good management in agribusiness allows for cost reduction, increased operational efficiency, and improved strategic decision-making, which are fundamental for dealing with market variability, climate issues, and regulatory requirements. Furthermore, it promotes technological innovation and the integration of new sustainable practices, which are crucial for ensuring competitiveness and long-term growth in the sector. Another relevant point is the ability to adapt to market changes and consumer demands. Agribusiness faces variables such as price fluctuations, environmental regulations, and climate crises, which require continuous strategic planning. Management assists in the diversification of products and markets, helping companies explore new opportunities, such as the growth of the organic and sustainable product market. Technological innovation is another aspect where management plays a fundamental role. Technologies such as precision agriculture, process automation, and the use of data for production optimization require effective management for proper implementation and oversight. In addition, management promotes sustainability in agribusiness by ensuring that natural resources are used responsibly, which is increasingly demanded by markets and consumers. Finally, management in agribusiness plays a crucial role in risk management. Climate variability, commodity price volatility, and logistical issues are recurring challenges. Good administrative planning helps mitigate these risks, ensuring the continuity and economic viability of operations, thus promoting sustainable growth in the sector over the long term.
Keywords: Management; Agribusiness; Coordination; Technological Innovation.
1. INTRODUÇÃO
O planejamento estratégico é uma função crucial para organizações, pois permite organizar e alinhar ações e recursos, promovendo o desenvolvimento sustentável e prolongando a vida útil da empresa. Na década de 1960, esse conceito ganhou destaque à medida que as empresas começaram a focar na satisfação do consumidor, reconhecendo que essa satisfação deve ser medida pelo atendimento das necessidades dos clientes, em vez de apenas pela adaptação dos produtos. Com a volatilidade econômica e as flutuações de mercado, o planejamento estratégico se tornou uma ferramenta fundamental para ajudar as organizações a se adaptarem e prosperarem em um ambiente em constante mudança.
No agronegócio, que abrange uma variedade de atividades produtivas ligadas à agricultura e à pecuária, o planejamento estratégico desempenha um papel vital na otimização de processos e na maximização do desempenho. O setor é um dos principais pilares da economia brasileira, contribuindo significativamente para a balança comercial, oferecendo produtos para a demanda interna, gerando empregos e promovendo exportações. O agronegócio não se limita apenas ao cultivo de grãos e à criação de animais, mas inclui uma cadeia de produção complexa que requer uma gestão eficiente para garantir a competitividade no mercado.
Entretanto, os produtores rurais enfrentam diversos desafios, como problemas logísticos, armazenamento e flutuações nos preços de venda, que podem impactar diretamente a viabilidade de suas operações. A adoção de um planejamento estratégico eficaz permite que essas organizações identifiquem e analisem suas forças e fraquezas, assim como as oportunidades e ameaças do mercado, utilizando ferramentas como a análise SWOT. Essa análise ajuda a delinear metas e objetivos claros, além de facilitar a tomada de decisões informadas, assegurando que os recursos sejam alocados de maneira eficiente e eficaz.
A pesquisa sobre a Fazenda Paraíso, ilustra como a experiência e o planejamento estratégico são fundamentais para o sucesso no agronegócio. Ao focar em métodos sustentáveis e na melhoria contínua dos processos, as organizações podem não apenas aumentar a produtividade, mas também garantir a rentabilidade a longo prazo.
Dessa forma, o planejamento estratégico é um instrumento indispensável para o agronegócio, pois permite que as empresas se mantenham competitivas, se adaptem às novas demandas do mercado e enfrentem os desafios do setor com mais segurança. Os objetivos da pesquisa incluem analisar a importância do planejamento estratégico no agronegócio e a aplicabilidade da análise SWOT como ferramenta de gestão, visando aprimorar a eficiência e o desempenho das organizações no setor.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Planejamento estratégico
O planejamento estratégico é fundamental para o desenvolvimento de uma empresa, pois envolve a definição de metas e objetivos claros, além de um processo contínuo de adaptação dos recursos e processos da organização às suas necessidades. Cobra (2009) destaca que o planejamento permite que as empresas identifiquem e aproveitem oportunidades de maneira eficaz, alinhando seus recursos, como capital humano e financeiro, para alcançar os resultados desejados.
Kaplan e Norton (1997) ressaltam a importância do planejamento estratégico como uma ferramenta gerencial essencial, enquanto Porter (1986) argumenta que as organizações devem utilizá-lo para competir e alcançar seus objetivos em um mercado instável. Maximiano (2006) complementa, afirmando que o planejamento estratégico abrange todas as etapas, desde a tomada de decisão até a entrega do produto final, visando maximizar lucros e minimizar custos.
Além disso, Silva (2001) aponta que o planejamento é uma prática antiga, essencial para a administração, enquanto Maximiano (2000) destaca que ele é vital para a gestão de decisões futuras, permitindo que as organizações se preparem para o que está por vir. Dessa forma, o planejamento estratégico é crucial para a sustentabilidade e competitividade das empresas no mercado.
2.2 Ferramentas para o Planejamento estratégico – Análise SWOT
O planejamento em uma organização oferece diversas possibilidades e ferramentas, variando em complexidade. Embora os métodos e ferramentas possam mudar, o objetivo permanece o mesmo: concentrar energia e atenção para garantir que as ações da organização avancem na direção desejada, evitando distrações.
A Análise SWOT é uma ferramenta estratégica fundamental para empresas em desenvolvimento, pois relaciona o ambiente interno e externo, identificando pontos positivos e negativos em comparação com as oportunidades do mercado. Segundo Araújo et al. (2015), embora faça parte de um conjunto de ferramentas estratégicas, a SWOT se destaca por integrar aspectos internos e externos, aprimorando os planos de ação elaborados pela alta gestão. Ribeiro Neto (2011) afirma que essa análise permite identificar as Forças e Fraquezas da empresa, além de oportunidades e ameaças.
Em um mercado cada vez mais tecnológico, a Análise SWOT auxilia na tomada de decisões e na busca por inovações, visando a lucratividade e a satisfação do cliente, superando a concorrência (Araújo et al., 2015). Silva (2007) ressalta que, ao implementar a análise, a empresa deve levantar seus pontos fortes e identificar áreas críticas que necessitam de melhoria, garantindo um foco no seu maior potencial.
Diversas outras ferramentas administrativas estão disponíveis para a aplicação nas organizações, visando melhorias na forma de atuar no comércio e gerenciar seus colaboradores. Ferramentas essas que buscam traçar metas ou objetivos, identificar fraquezas ou dificuldades que possam enfrentar, bem como potencializar segmentos positivos.
2.3 Agronegócio Nacional
O agronegócio surgiu inicialmente como um meio para suprir as necessidades alimentares das comunidades, baseado em pequenas propriedades autossustentáveis que produziam localmente. No Brasil, ele evoluiu para se tornar um setor estratégico para a economia, envolvendo uma cadeia completa de atividades: desde a produção de insumos, como sementes e defensivos, até o processamento e distribuição dos produtos finais.
Ao contrário da visão tradicional, que associa o agronegócio apenas à produção de commodities e grandes propriedades, ele abrange também a produção primária, a agro industrialização e o consumo final (Espíndola; Cunha, 2015; 2020; 2021).
O avanço tecnológico, como a mecanização e as melhorias no manejo do solo, foi fundamental para reduzir custos e ampliar a produção, permitindo que o Brasil competisse internacionalmente (Mendes, Padilha Jr., 2007). Nos últimos anos, o Brasil se destacou no comércio internacional de produtos agropecuários, duplicando seu faturamento e ampliando significativamente o saldo comercial. Contudo, ainda enfrenta desafios relacionados à proteção sanitária, apesar dos avanços em produtividade graças aos investimentos em novas tecnologias (MAPA, 2009).
Nos últimos anos, o Brasil experimentou um notável crescimento na produção agrícola devido à implementação de novas tecnologias, aumento de áreas plantadas e desenvolvimento de novas variedades. Em 2022, o valor da produção das principais culturas agrícolas atingiu um recorde de R$ 830,1 bilhões, representando um aumento de 11,8% em relação ao ano anterior. O soja liderou os números em produção, já que é o principal grão cultivado no Brasil, seguido do milho, outro cultivo de grande potencial.
O Brasil passou por um expressivo crescimento econômico e social nas últimas décadas, refletido no aumento do salário mínimo e na expansão do consumo em todas as faixas de renda. O estado de Mato Grosso, impulsionado pelo agronegócio, especialmente pela cadeia produtiva da soja, é um dos principais motores econômicos do Brasil. Sua produção agropecuária se beneficiou de condições climáticas favoráveis e da modernização das práticas agrícolas, tornando-o líder na produção de soja, milho e algodão. Em 2022, o valor da produção agrícola no estado foi de R$ 174,8 bilhões, representando 21,1% da produção nacional (Conab, 2022).
A cidade de Sorriso, localizada no norte do Mato Grosso, destaca-se como a maior produtora de soja do mundo, com uma produção de 2,1 milhões de toneladas por safra. Reconhecida como a “Capital Nacional do Agronegócio”, Sorriso também lidera na produção de milho, com uma safra de 3,8 milhões de toneladas em 2022 (Conexão Agro, 2020). Além disso, o município se destaca na produção de algodão e feijão, reforçando sua importância no cenário agrícola brasileiro.
A produção de milho, por sua vez, tem grande relevância para o agronegócio brasileiro, sendo utilizada na alimentação humana, na produção de ração animal e na fabricação de bioetanol. A safra 2022/2023 de milho no Brasil foi projetada para atingir 127,8 milhões de toneladas, um aumento de 12,9% em relação à safra anterior (Alves; Amaral, 2011; Conab, 2022).
Com os avanços tecnológicos e o aumento da produção a cada ano que se passa, o Brasil passou a sofrer com problemas para suprir a alta produção dos grãos. Através do escoamento pela logística e a armazenagem dos grãos de maneira correta e adequada.
O setor logístico se tornou o principal meio de transporte dos grãos, animais, implementos, maquinários e insumos utilizados na agricultura. Esse desenvolvimento foi impulsionado pelas transformações da agropecuária entre 1960 e 1980, com estratégias de modernização agrícola, crédito rural subsidiado e maior abertura ao comércio internacional.
Apesar do sucesso na produção agrícola e pecuária, o setor de logística enfrenta grandes desafios. A falta de infraestrutura, baixos investimentos e um sistema de transporte ineficiente têm dificultado o escoamento da produção, reduzindo a competitividade internacional. Problemas como altas cargas tributárias e políticas inadequadas também impactam negativamente a cadeia produtiva. Um modal de transporte que surge como o principal, é o modal rodoviário, que representa 61,1% do transporte de cargas no Brasil (CNT, 2022). Essa predominância contribui para o alto custo logístico, enquanto modais alternativos, como o ferroviário e o hidroviário, ainda apresentam limitações estruturais. O modal ferroviário, com 20,7% de participação, é mais eficiente em termos de capacidade e custo, mas sofre com uma infraestrutura defasada, pois a malha ferroviária não foi significativamente expandida desde os anos 1990. A expansão ferroviária poderia reduzir custos e melhorar o transporte de longas distâncias, especialmente em um país com as dimensões do Brasil. Já o modal hidroviário, utilizado em regiões onde há rios e lagoas navegáveis, representa 13,6% do transporte e é ideal para o comércio de exportação, no entanto a falta de investimentos limita seu potencial de crescimento.
Outro problema crucial é a deficiência na armazenagem de grãos. De acordo com o Ministério da Agricultura (Mapa, 2021), a falta de estruturas adequadas de armazenagem resulta na deterioração e perda de qualidade dos grãos. Isso prejudica a competitividade do Brasil no mercado global. Com uma safra recorde de 322,8 milhões de toneladas em 2022/23, um aumento de 18,4% em relação ao ano anterior (Conab, 2023), a carência de armazenagem eficiente compromete a conservação e a qualidade dos grãos para consumo e exportação. Esse cenário de infraestrutura inadequada e modal logístico desbalanceado impõe custos elevados ao setor, impactando o agronegócio e outras indústrias dependentes de transporte de cargas, como a mineração e a metalurgia.
2.4 Eventos que afetaram o setor do Agronegócio
O agronegócio brasileiro depende de diversos fatores em equilíbrio para prosperar, e o clima é um dos mais cruciais. Mudanças climáticas, especialmente quando exacerbadas pela ação humana, têm impactos severos na produção agrícola e pecuária, resultando em variações na disponibilidade e qualidade dos produtos consumidos. Com o Brasil sendo um dos maiores produtores de alimentos, alterações no clima afetam a economia e a segurança alimentar, refletindo-se no aumento de preços e na menor disponibilidade de alimentos básicos, como café, arroz e feijão.
Essa elevação ocorre devido à “lei da oferta e da procura,” com a escassez impulsionando os preços.
A ação humana, por meio da queima de combustíveis fósseis como petróleo e carvão, intensifica o efeito estufa, causando desequilíbrios ambientais e climáticos. Esse efeito consiste na retenção de calor na superfície terrestre, o que, em excesso, leva a alterações climáticas que prejudicam a agricultura. Estudos sugerem que esses impactos climáticos continuarão a ter repercussões econômicas e sociais à medida que influenciam a produção e o custo de vida da população brasileira. No contexto do agronegócio, os impactos climáticos, como radiação solar, umidade, temperatura e chuvas, influenciam diretamente a produção agrícola. A intensificação desses fatores no período do antropoceno, caracterizado por influências humanas significativas nos ecossistemas, traz consequências como a redução da biodiversidade e eventos climáticos extremos, que prejudicam tanto a agricultura quanto a pecuária.
Na agricultura, a variabilidade climática causa pragas, doenças e altera os ciclos de plantio e colheita. Temperaturas extremas resultam em secas e geadas, enquanto chuvas excessivas geram enchentes, comprometendo o crescimento das plantas. A Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) destaca que a elevação do nível do mar, a acidificação dos oceanos e a degradação do solo afetam a agricultura global, ameaçando a segurança alimentar. Assad e Pinto (2008) também alertam que o aumento das temperaturas poderá prejudicar o cultivo em várias regiões, intensificando a fome, especialmente em países da África e Ásia. Essas mudanças climáticas geram impacto econômico ao diminuir áreas cultiváveis e reduzir a oferta de produtos agrícolas, o que, conforme a lei da oferta e demanda, tende a elevar os preços ao consumidor final. Em longo prazo, o aquecimento em regiões atualmente aptas para cultivo poderia inviabilizar a produção de certos alimentos, afetando tanto a economia quanto a segurança alimentar global.
O estado de Mato Grosso é frequentemente afetado pelas variações climáticas, especialmente em relação a chuvas e temperaturas elevadas. O fenômeno climático El Niño Oscilação Sul (ENOS) é uma das principais causas dessas variações. ENOS envolve a interação entre oceano e atmosfera e está associado às mudanças na Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e nos ventos alísios na região do Pacífico Equatorial, entre o Peru e a Austrália (Moraes et al., 2007).
Em sua fase positiva, conhecida como El Niño, o fenômeno tende a elevar as chuvas acima da média. Já em sua fase negativa, chamada La Niña, provoca reduções nas precipitações (Grimm et al., 1998, 2000; Berlato & Fontana, 2003). Essas variações têm impactos significativos no agronegócio, influenciando diretamente a produtividade agrícola da região.
Ao longo dos anos, eventos globais como a pandemia de Covid-19 e o conflito entre Rússia e Ucrânia impactaram de forma significativa a economia mundial, incluindo o agronegócio. Esses acontecimentos trouxeram desafios para diversos setores, afetando diretamente a produção, a logística e os custos no agronegócio brasileiro.
Apesar dos efeitos adversos, o setor agrícola no Brasil demonstrou resiliência, mantendo uma posição econômica robusta no mercado mundial. No entanto, atualmente, o agronegócio enfrenta dificuldades como a desvalorização dos produtos, quedas nos preços de venda e altos custos de manejo, o que limita a capacidade de reinvestimento e pode afetar a competitividade global do setor.
No final de 2019 e início de 2020, a pandemia de COVID-19 teve início, sendo declarada oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março de 2020. Essa classificação como pandemia não se deve à gravidade da doença, mas à sua rápida disseminação geográfica (Ascom SE/UNA-SUS, 2020). A partir desse momento, diversos países, incluindo o Brasil, adotaram medidas de segurança como distanciamento social, fechamento de comércios não essenciais e suspensão de aulas presenciais. Essas medidas impactaram significativamente a economia, especialmente o agronegócio, que representa cerca de 21,4% do PIB brasileiro (Cepea, 2019). A pandemia causou problemas de distribuição e escoamento de produção, levando muitos agricultores a não colher suas safras devido à falta de compradores e à proibição de acesso a feiras livres. Além disso, houve contaminações entre trabalhadores em frigoríficos, afetando a produção de carne.A pandemia também gerou dificuldades no fornecimento de insumos, como fertilizantes, e na alimentação de animais, resultando em interrupções na importação de soja e complicações na pecuária global, como a exportação de carne bovina. A insegurança econômica provocou “compras de pânico”, levando a um aumento inédito nos preços dos alimentos.
O conflito entre Rússia e Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro de 2022, teve repercussões globais, particularmente na economia. Para o Brasil, as consequências foram imediatas, especialmente no aumento dos preços de combustíveis e energia, devido à Rússia ser um dos principais exportadores de gás natural e petróleo (Schossler, 2023). O agronegócio brasileiro sofreu impactos significativos, uma vez que a Rússia é a maior fornecedora de fertilizantes para o país. Com o aumento dos preços e a dificuldade em encontrar outros fornecedores, a produção agrícola foi prejudicada. A Ucrânia, principal fornecedora de ferro fundido bruto para o Brasil, exportou quase toda sua produção para o país em 2021, afetando setores que dependem desse insumo, como a indústria de máquinas agrícolas. No entanto, a crise também ofereceu oportunidades. Com a redução da exportação de grãos pela Ucrânia, o Brasil, um grande exportador de soja, poderia ampliar sua participação no comércio exterior. Contudo, a continuidade do conflito pode prejudicar a economia europeia, reduzindo suas importações e impactando negativamente a economia brasileira (Amcham, 2022).
2.5 Agronegócio e suas tecnologias
A evolução tecnológica no agronegócio tem impulsionado melhorias significativas no cultivo de grãos e na criação de animais. O melhoramento genético das variedades de sementes, que agora são mais resistentes a doenças e têm maior produtividade, tem sido um dos principais responsáveis pelo aumento da produção no Brasil. Além disso, a Embrapa está promovendo a agricultura digital, integrando tecnologias da informação e comunicação (TIC) com novas tecnologias digitais, como inteligência artificial, Big Data e sensoriamento remoto, caracterizando a chamada Agricultura 4.0 (Cunha; Pires, 2021).
No entanto, a implementação dessas tecnologias enfrenta desafios, incluindo altos custos de investimento, falta de conectividade em áreas rurais e a necessidade de capacitação da mão de obra. A inteligência artificial (IA) tem se mostrado uma ferramenta valiosa, permitindo mapeamento de terrenos, identificação de pragas e otimização da produção (Borba et al., 2022). Ela oferece aos agricultores a capacidade de aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos, mesmo em condições adversas, e já é aplicada em atividades como zoneamento climático e planejamento agrícola (Oliveira et al., 2018).
Além disso, a utilização de drones tem se tornado cada vez mais comum entre os agricultores, evitando o amassamento das plantas e proporcionando dados em tempo real para melhor tomada de decisões, auxiliando na organização e prevenção de prejuízos futuros (Borba, 2022). Os drones têm desempenhado um papel importante na agricultura de precisão, facilitando aplicações agrícolas e o processamento de dados e imagens por meio de softwares. Na pecuária, eles auxiliam em diagnósticos e mapeamentos, ajudando a definir estratégias de manejo ambiental e da pastagem, além de otimizar o manejo do rebanho, permitindo controle de estoque e rastreabilidade. Essas práticas resultam em aumento de produtividade e economia de recursos.
A otimização e a interligação de maquinários em fazendas são cruciais para melhorar o desempenho e a agilidade nas operações agrícolas. Sistemas de conectividade permitem vincular mapeamento de áreas trabalhadas a equipamentos como plantadeiras, pulverizadores e colheitadeiras. Segundo Figueiredo, Jardim e Sakuda (2022), essa conectividade facilita o compartilhamento rápido de informações entre consumidores, promovendo uma integração eficaz. Um dos principais desafios da conectividade é o acesso à internet, que varia significativamente entre regiões. Em muitos locais, a cobertura de internet móvel (4G, 5G) é limitada ou inexistente, dificultando a implementação de tecnologias conectadas e aumentando os custos operacionais, uma vez que os agricultores precisam investir em provedores adequados. Dados do IMEA (2021) mostram que, embora muitos produtores no Mato Grosso tenham acesso à internet, a cobertura de 90% se restringe principalmente à sede da fazenda.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O planejamento estratégico é fundamental para o sucesso de uma organização, pois proporciona uma direção clara e um entendimento profundo do ambiente em que a empresa opera. O planejamento estratégico permite que as organizações do agronegócio se adaptem rapidamente às mudanças nas condições do mercado, como flutuações de preços e novas demandas dos consumidores. Com uma estratégia bem definida, os produtores podem ajustar suas operações e minimizar perdas.
Um planejamento eficaz ajuda na alocação mais eficiente de recursos, tanto financeiros quanto humanos. Isso é crucial em ambientes de produção como o agronegócio, onde os recursos são frequentemente limitados e devem ser usados de maneira otimizada para maximizar a produção e a rentabilidade. O planejamento estratégico encoraja a inovação ao identificar novas oportunidades de mercado e a necessidade de modernização. Ao reconhecer as fraquezas, os gestores podem investir em novas tecnologias e práticas que melhoram a eficiência e a sustentabilidade.
Para o planejamento estratégico no estudo de caso, foi utilizada a análise SWOT, uma ferramenta essencial e eficaz que ajuda a identificar e compreender os fatores críticos que afetam a organização. É uma ferramenta estratégica amplamente utilizada que oferece uma visão abrangente das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças de uma organização. Além disso, a ferramenta é capaz de auxiliar as organizações a entenderem seu ambiente interno e externo, orientando a formulação de estratégias eficazes, melhorando a tomada de decisões e promovendo o crescimento sustentável. A análise SWOT auxilia na identificação de riscos potenciais, permitindo que os gestores desenvolvam estratégias para mitigá-los. Isso é especialmente importante em um setor vulnerável a variáveis climáticas e econômicas, onde a antecipação de problemas pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Com uma análise detalhada das forças e fraquezas internas, as organizações podem fortalecer sua posição competitiva. A Análise SWOT ajuda a destacar os diferenciais que podem ser explorados em relação aos concorrentes, como práticas sustentáveis ou qualidade superior dos produtos. O planejamento estratégico orienta as decisões em direção à sustentabilidade, garantindo que as práticas agrícolas não apenas sejam rentáveis no curto prazo, mas também mantenham a saúde do solo e dos ecossistemas a longo prazo.
A análise é composta por alguns elementos fundamentais: Identificação de Forças e Fraquezas: A análise SWOT permite que uma organização identifique suas forças internas (vantagens competitivas) e fraquezas (limitações) de maneira clara. Isso ajuda a compreender quais recursos e capacidades podem ser explorados para alcançar os objetivos. Exploração de Oportunidades: A ferramenta ajuda a identificar oportunidades externas que a organização pode aproveitar, como tendências de mercado, inovações tecnológicas ou mudanças nas necessidades dos consumidores. Essa identificação é fundamental para o crescimento e a inovação. Avaliação de Ameaças: A análise SWOT permite a identificação de ameaças externas que podem impactar a organização, como a concorrência, mudanças regulatórias ou crises econômicas. Reconhecer essas ameaças ajuda a desenvolver estratégias de mitigação. Integração do Ambiente Interno e Externo: A análise SWOT conecta fatores internos e externos, fornecendo uma visão holística que é essencial para a formulação de estratégias eficazes. Isso facilita a identificação de como as forças internas podem ser usadas para aproveitar as oportunidades externas. Facilitação da Tomada de Decisões: Ao proporcionar uma análise clara dos fatores críticos que afetam a organização, a análise SWOT melhora a capacidade dos gestores de tomar decisões informadas, priorizando ações que alavanquem os pontos fortes e minimizem as fraquezas. Foco na Estratégia de Crescimento: A análise SWOT orienta as organizações a desenvolverem estratégias de crescimento e expansão com base em suas forças e oportunidades. Isso é crucial para a competitividade a longo prazo. Planejamento e Acompanhamento: A ferramenta é útil no planejamento estratégico, ajudando a estabelecer metas e objetivos claros. Além disso, a análise SWOT pode ser usada como uma referência para monitorar o progresso e ajustar as estratégias conforme necessário. Facilitação da Comunicação: A análise SWOT pode ser facilmente comunicada a diferentes partes interessadas, facilitando o entendimento compartilhado sobre a situação da organização e as direções estratégicas a serem seguidas. Identificação de Parcerias Estratégicas: Ao analisar oportunidades e forças, a ferramenta pode ajudar a identificar possíveis parcerias e colaborações que podem impulsionar o crescimento e a eficiência. Apoio à Inovação: A análise SWOT pode estimular o pensamento criativo e a inovação, incentivando a busca por novas soluções e abordagens que aproveitem as forças e oportunidades identificadas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O planejamento estratégico é um processo essencial para o desenvolvimento organizacional, utilizando ferramentas como a Análise SWOT para identificar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. A gestão rural, especialmente nas propriedades de agricultura familiar, muitas vezes é negligenciada, pois muitos agricultores acreditam que a gestão é necessária apenas para grandes negócios. No entanto, o estudo destaca a importância da gestão administrativa no agronegócio, enfatizando a necessidade de um planejamento eficaz que controle aspectos financeiros e gerenciais, visando à redução de custos e ao aumento da rentabilidade.
A experiência profissional no setor agro é fundamental, permitindo investimentos adequados em novas tecnologias e práticas agrícolas, como a irrigação e o armazenamento. As dificuldades logísticas, como a distância para armazenagem e o escoamento de grãos, impactam negativamente os custos e os investimentos. O cenário econômico, com a desvalorização dos produtos agrícolas e a variação do dólar, também eleva os custos de produção.
Além disso, as mudanças climáticas afetam diretamente o cultivo, levando a problemas como enchentes, secas e aumento de pragas. Apesar desses desafios, o agronegócio continua a ser um motor significativo da economia, promovendo investimentos, empregos e valorização do comércio local. O estudo conclui que é vital continuar a pesquisa nessa área, pois um planejamento mais elaborado pode resultar em maior produtividade e lucros para os empreendedores rurais.
O estudo conclui que a continuidade das pesquisas sobre planejamento estratégico é necessária para melhorar a gestão rural, aumentar a produtividade e garantir resultados positivos para os empreendedores do setor.
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