A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA ACADÊMICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202410152108


Eliana Guimarães Barros Paiva; Odelio Cardoso da Silva; Adrailton Oliveira Silva; Anaina Gabriela dos Santos; Edimara Cristiane Ferreira Pinto; Joceline Ferreira do Nascimento Rosada; Leidiane Aparecida dos Santos; Ueudison Alves Guimarães.


RESUMO

O artigo em questão explora um estudo em desenvolvimento que investiga a integração da pesquisa como conteúdo curricular nos cursos de formação de professores para a educação básica no Brasil, com um foco particular nos cursos de pedagogia. Assim, o estudo é situado dentro do contexto das políticas governamentais e das reformas educacionais que se iniciaram na década de 1990. Todavia, o trabalho examina as características socioeconômicas e culturais dos alunos aspirantes a professores do ensino fundamental e analisa a introdução da pesquisa nos currículos desses cursos, contrastando as abordagens apresentadas nos documentos oficiais com as concepções defendidas pelos principais autores da área. O texto se baseia em dados qualitativos coletados por meio de discussões em um grupo focal com estudantes que estão prestes a concluir o curso de pedagogia. Dessa forma, encerra-se o artigo com reflexões sobre a necessidade de considerar tanto os aspectos subjetivos quanto as características socioculturais dos alunos na avaliação da relevância da pesquisa nos cursos de formação inicial de professores. Para tanto, essa análise busca compreender de forma mais abrangente o impacto da pesquisa na formação docente, reconhecendo a complexidade das dimensões envolvidas na prática educacional e na preparação dos futuros professores.

Palavras-Chave: Formação Docente. Pesquisa Acadêmica. Sala de Aula.

ABSTRACT

This article explores an ongoing study that investigates the integration of research as curricular content in teacher training courses for basic education in Brazil, with a particular focus on pedagogy courses. Thus, the study is situated within the context of government policies and educational reforms that began in the 1990s. However, the work examines the socioeconomic and cultural characteristics of students aspiring to become elementary school teachers and analyzes the introduction of research into the curricula of these courses, contrasting the approaches presented in official documents with the concepts defended by the main authors in the field. The text is based on qualitative data collected through focus group discussions with students who are about to complete the pedagogy course. Thus, the article ends with reflections on the need to consider both the subjective aspects and the sociocultural characteristics of students when assessing the relevance of research in initial teacher training courses. To this end, this analysis seeks to understand more comprehensively the impact of research on teacher training, recognizing the complexity of the dimensions involved in educational practice and in the preparation of future teachers.

Keywords: Teacher Training. Academic Research. Classroom.

1 INTRODUÇÃO

Este texto explora e debate os resultados emergentes de um estudo em andamento sobre a inclusão da pesquisa como componente curricular nos cursos de formação de professores para a educação básica no Brasil, com ênfase no curso de Pedagogia. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais atuais, este curso visa primordialmente a formação de profissionais voltados para a educação infantil (para crianças de 0 a 5 anos) e para os anos iniciais do ensino fundamental (para crianças de 6 a 10 anos).

As reflexões apresentadas neste artigo são, em grande medida, alimentadas por mais de 25 anos de experiência docente em cursos superiores de formação de professores, particularmente em Pedagogia. Essas considerações são marcadas por uma série de inquietações e tensões acumuladas ao longo desse tempo, refletindo sobre a eficácia e a integração da pesquisa no currículo desses cursos. O estudo lança luz sobre a complexidade envolvida na formação de professores e os desafios associados à implementação da pesquisa como um eixo central no desenvolvimento profissional desses futuros educadores.

O objetivo central é provocar um debate sobre a relevância – ou falta dela – da inclusão da prática de pesquisa como um componente essencial na formação de professores “pesquisadores”. Para iniciar essa discussão, torna-se imprescindível apresentar um panorama detalhado do contexto em que a problemática da nossa investigação se insere.

Essa abordagem constitui o cerne da primeira seção do texto, que examina minuciosamente as políticas governamentais direcionadas à educação superior e à formação docente, no âmbito das reformas educacionais brasileiras iniciadas na década de 1990. A análise busca desvendar as complexas interações entre as diretrizes institucionais e os efeitos dessas reformas sobre o perfil dos futuros educadores, destacando como as mudanças políticas e curriculares têm moldado, e possivelmente distorcido, a prática pedagógica e a formação de professores no Brasil.

Neste segmento, pretende-se fornecer ao leitor uma visão ampla sobre o perfil dos alunos que aspiram a se tornar professores do ensino fundamental no Brasil. Dessa forma, serão exploradas características detalhadas do perfil socioeconômico e cultural desses futuros educadores, revelando a complexidade e a diversidade desses indivíduos.

A segunda parte do trabalho mergulha na análise da incorporação da pesquisa no currículo dos cursos de Pedagogia, confrontando a forma como essa prática é delineada nas diretrizes legais com as visões teóricas sustentadas por autores renomados no campo. Este contraste visa desvelar as tensões e alinhamentos entre as prescrições normativas e as concepções pedagógicas, elucidando a interseção entre políticas educacionais e as práticas acadêmicas de formação de professores.

A terceira e última seção do artigo apresenta uma análise detalhada de dados qualitativos obtidos por meio de discussões em grupo focal com alunos que estão prestes a concluir o curso de Pedagogia. Esses dados exploram a experiência desses alunos com as atividades de pesquisa relacionadas à elaboração de seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). A partir dessas discussões, o artigo busca compreender as nuances e os desafios enfrentados por esses futuros educadores no contexto de sua formação acadêmica.

Na conclusão, o artigo oferece uma reflexão aprofundada sobre a necessidade de considerar a interconexão entre os aspectos subjetivos envolvidos na produção de trabalhos de pesquisa e as características socioculturais dos futuros professores de ensino fundamental no Brasil. Destaca ainda várias questões pendentes no debate sobre a real relevância de incorporar, de maneira mais robusta, exigências relacionadas à formação de professores como profissionais pesquisadores nos currículos dos cursos de graduação em Pedagogia.

2 METODOLOGIA

O presente estudo é caracterizado como uma pesquisa básica de natureza exploratória, conforme delineado por Gil (2002), que define a pesquisa exploratória como um meio para criar uma maior familiaridade com o tema investigado.

A opção recaiu sobre uma abordagem qualitativa, dada sua aptidão para produzir deduções específicas sobre eventos ou variáveis de inferência precisa, ao invés de inferências generalizadas.

Tal escolha se justifica pelo objetivo do estudo, que é correlacionar e analisar os dados obtidos, buscando compreender a mensagem no contexto da situação comunicativa. Portanto, a pesquisa qualitativa se revela como a mais adequada, pois permite uma análise mais profunda e contextualizada, capturando nuances e complexidades que podem ser obscurecidas por abordagens mais quantitativas ou generalizadas.

Os dados secundários foram reunidos por meio de uma pesquisa bibliográfica minuciosa, empregando o Google Acadêmico para buscar artigos que combinassem os descritores: a) Pesquisa; b) Formação de professores de Biologia; c) Pesquisa na formação de professores.

Esse processo envolveu a análise de obras de autores renomados na área que ofereceram contribuições substanciais e complexas para a compreensão desta temática. A seleção criteriosa desses estudos visou não apenas consolidar o conhecimento existente, mas também fomentar uma discussão aprofundada e multifacetada sobre o papel da pesquisa na formação de professores de Biologia.

3 FALANDO DE PESQUISA

Concordamos com Gatti ao considerar que a essência da pesquisa reside na obtenção de conhecimentos sobre um determinado tema. Em um sentido amplo, a pesquisa emerge a partir de inquietações, perguntas e dúvidas que surgem acerca de um tópico específico, alimentando a busca por fundamentos e validações para pensamentos e afirmações.

No entanto, ao adentrarmos na complexidade desse conceito, nos deparamos com uma diversidade de tipos de pesquisa: desde a pesquisa de mercado até a pesquisa científica e a pesquisa de opinião. Cada uma dessas vertentes revela uma variedade diversa de possibilidades que, em última análise, ampliam e enriquecem nossa compreensão do que realmente constitui o ato de pesquisar.

A autora, ao aprofundar o conceito de pesquisa, afirma que: “Pesquisa é o ato pelo qual procuramos obter conhecimento sobre alguma coisa. […] Contudo, num sentido mais estrito, visando a criação de um corpo de conhecimentos sobre um certo assunto, o ato de pesquisar deve apresentar certas características específicas.”

Em outras palavras, não estamos apenas em busca de qualquer tipo de conhecimento; nossa intenção é transcender o entendimento superficial, buscando um saber que vá além da compreensão imediata e ofereça uma explicação mais robusta e refinada da realidade observada (GATTI, 2002, p. 9-10).

Ancorando-nos na visão de Gatti, que sublinha que o ato de pesquisar é marcado por características específicas, nos deparamos com a questão crucial: qual é o tipo de pesquisa em questão?

No contexto deste estudo, analisaremos três dimensões da pesquisa: a pesquisa acadêmica, a pesquisa vinculada à prática pedagógica pessoal e a pesquisa escolar. Desse modo, faz-se necessário destacar que ao longo do texto, voltaremos a aprofundar a discussão sobre essas distintas abordagens, examinando como cada uma delas contribui para a formação e a prática docente.

Baseando-se nas definições de pesquisa propostas por Gatti, entendemos que pesquisa é também uma expressão de capacidade crítica e questionadora, que rejeita conclusões definitivas e adota a provisoriedade metódica como alavanca para a inovação científica. Em seguida, exploraremos os fundamentos teóricos que sustentam as diversas modalidades de pesquisa.

À medida que navegamos pelas diferentes concepções de ciência e exploramos a criatividade dentro dos métodos científicos, somos confrontados com uma infinidade de abordagens de pesquisa. Para elucidarmos algumas dessas formas, é fundamental considerar o que expressa Pedro Demo (2005, p. 18): “Compreendida como capacidade de elaboração própria, a pesquisa condensa-se numa multiplicidade de horizontes no contexto científico.”

A pesquisa, portanto, é também um empreendimento profundamente pessoal, imbuído das marcas, inferências e posturas investigativas de seu autor, pois se configura como um estudo pautado por um rigor que, no contexto científico, pode ser interpretado de múltiplas maneiras.

Vamos explorar algumas dessas formas a partir das contribuições de diversos autores. Gressler (1983), por exemplo, define uma dessas formas como a pesquisa experimental, que visa investigar relações de causa e efeito. Este método implica expor um ou mais grupos a condições específicas de tratamento e comparar seus resultados com aqueles de um ou mais grupos de controle, que não receberam o tratamento em questão.

Uma das características centrais dessa abordagem investigativa é o rigoroso controle e manipulação das variáveis experimentais. Ao considerar a definição proposta por Rummel (1972), observamos que ele se refere a essa modalidade como pesquisa de ciência da vida e ciência física, predominantemente de natureza experimental.

Esse tipo de pesquisa tende a privilegiar o uso de laboratórios em detrimento das bibliotecas e, frequentemente, seus relatórios são mais sucintos do que aqueles fundamentados em fontes textuais extensas. Exemplos típicos dessa abordagem incluem estudos laboratoriais realizados nas áreas de medicina, astronomia e geologia, onde o ambiente controlado do laboratório se torna crucial para a investigação sistemática dos fenômenos em questão.

Observamos que os autores destacam um horizonte de pesquisa no qual a mensuração e a manipulação das variáveis são componentes decisivos do processo de construção científica. No entanto, mostra relevante questionar até que ponto essas práticas são realmente implementadas e adaptadas em cada área do conhecimento.

No campo da educação, enfrentamos desafios substanciais e, em alguns casos, a impossibilidade de isolar fatos e situações para uma análise rigorosa. Não obstante, o que aparece como fundamental é a capacidade do pesquisador de discernir e ajustar seu tipo de pesquisa conforme os diferentes paradigmas existentes. É fundamental, assim, que a percepção e o conhecimento do pesquisador orientem a adaptação metodológica, possibilitando a adequação da pesquisa às complexidades e nuances específicas do contexto educacional.

Outro aspecto que abordaremos é a pesquisa metodológica. Feyerabend (1989), em sua proposta de renovação metodológica, proclama que, na ciência, “tudo vale”. Segundo ele, a noção de uma entidade chamada “ciência” é ilusória, assim como a ideia de uma “teoria da ciência” ou mesmo um “método científico” universal.

Feyerabend sugere que a ciência não deve ser regida por um único método, defendendo uma abordagem mais pluralista e menos rígida. Todavia, apesar de sua crítica contundente às normas metodológicas tradicionais, argumentamos que sua perspectiva não ressoa completamente com nossa visão, pois enquanto reconhecemos a necessidade de uma abordagem ética e flexível na ciência, acreditamos que alguma forma de estrutura metodológica ainda é essencial para garantir rigor e validade na pesquisa.

A metodologia das ciências naturais resulta de séculos de evolução e, enquanto impõe certas limitações aos procedimentos, sua função se mostra indispensável para proteger a sociedade e os indivíduos contra afirmações falsas e inconsequentes (COUTO, 1999). Contudo, a metodologia da pesquisa científica não deve ser vista como um domínio unificado de regras e procedimentos absolutos, que exclua qualquer projeto de pesquisa que não se alinhe estritamente com seus pressupostos.

A posição de Feyerabend é incisiva ao alertar para os perigos da estagnação do pensamento, caso a metodologia seja adotada de forma excessivamente rígida. Em sua visão, a adesão dogmática a uma única abordagem metodológica pode sufocar a criatividade e a inovação, limitando a pesquisa a um campo estreito e estagnado.

4 PESQUISA NA EDUCAÇÃO

Situado no limiar entre as ciências humanas e sociais, o estudo dos fenômenos educacionais não escapa às complexas e muitas vezes paradoxais influências das evoluções ocorridas nessas disciplinas. Durante um longo período, a busca pelo conhecimento científico na educação tentou emular os modelos rigorosos que alavancaram o desenvolvimento das ciências físicas e naturais. No entanto, tal como naquelas ciências, o fenômeno educacional foi abordado por muito tempo com a ideia de que poderia ser isolado e estudado de forma quase experimental, como se um fenômeno educacional pudesse ser tratado em um laboratório, com variáveis meticulosamente controladas e isoladas para examinar suas influências individuais, da mesma forma que se faz com os fenômenos físicos.

Bagno (1998) explica que essa abordagem reducionista ignorou a rica interconexão e a complexidade intrínseca dos contextos educacionais, tratando-os como entidades abstratas que poderiam ser desconstruídas e analisadas fora do fluxo dinâmico e multifacetado da realidade educacional. O fenômeno educacional, ao contrário do que se pensava, não pode ser desmembrado em componentes isolados sem considerar a teia de relações e influências que o circundam e moldam suas manifestações na prática.

Durante um extenso período, prevaleceu a crença de que os fenômenos educacionais poderiam ser decompostos em suas variáveis fundamentais, cuja análise rigorosa e, idealmente, quantitativa levaria a um conhecimento absoluto e definitivo desses fenômenos. Desse modo, à medida que os estudos na área da educação evoluíram, tornou-se evidente que tal abordagem analítica, que funcionou bem para as ciências físicas e naturais, é profundamente inadequada para capturar a complexidade dos fenômenos educacionais.

De acordo com Couto (1999), os fenômenos educacionais revelam-se incrivelmente entrelaçados, com suas múltiplas dimensões e variáveis imbricadas de tal forma que qualquer tentativa de isolá-las para uma análise meticulosa se torna quase impossível. Em educação, as interações são tão intricadas e dinâmicas que desmembrar essas variáveis e identificar com precisão suas influências individuais é uma tarefa que desafia a viabilidade das abordagens analíticas tradicionais.

O entrelaçamento das variáveis e a natureza diversificada dos contextos educacionais implicam que os efeitos observados não podem ser atribuídos de forma linear a fatores isolados, mas sim devem ser entendidos como produtos de um complexo emaranhado de influências interativas e contextuais.

Os estudos disseminados por Pimenta (2002) provocaram uma discussão profunda e multifacetada sobre o papel da pesquisa no contexto do trabalho docente e sobre a figura do professor como pesquisador. A autora, ao explorar as interseções entre prática e teoria, questiona e reconfigura a maneira como a pesquisa é integrada ao cotidiano profissional dos professores, instigando um debate sobre a eficácia e as implicações dessa integração.

Por essa ótica, entende-se que essas concepções ganharam destaque nas discussões acadêmicas, gerando um debate polarizado sobre a validade do conceito de “professor pesquisador.” Enquanto algumas pesquisas sustentam a viabilidade de o professor do ensino fundamental se engajar como pesquisador, incorporando a investigação em sua prática pedagógica, outras evidenciam as limitações e desafios do contexto brasileiro.

Essas últimas apontam para as dificuldades enfrentadas pelos professores, como as condições adversas de trabalho e as lacunas na estruturação curricular que molda a formação desses profissionais. Frente a esse dilema, surge uma questão crucial: quais são as implicações reais da pesquisa no cotidiano dos professores e qual é o perfil do professor que é capaz de ser, de fato, um pesquisador?

Para abordarmos essas questões, é essencial esclarecer os três tipos de pesquisa que frequentemente se misturam na discussão sobre o “professor pesquisador.”

No contexto da pesquisa acadêmica, observamos que o conceito amplamente aceito pelos acadêmicos é marcado por um rigor metodológico intenso e pela necessidade de comprovação robusta, sendo esse conceito frequentemente descrito de forma hermética e altamente especializado dentro do meio acadêmico.

De acordo com Beillerot (1991, p. 19), o uso da palavra “pesquisa” nos meios universitários, frequentemente com a inicial maiúscula e envolta em um complexo de pressupostos e conotações, revela um cenário carregado de sentidos ambíguos e consensos tácitos: dentro do ambiente acadêmico, a pesquisa é categorizada como científica ou não é considerada pesquisa.

Esse zelo e rigor associados à produção de pesquisas científicas nas universidades são, sem dúvida, aspectos inquestionáveis. Entretanto, ao analisarmos a trajetória da pesquisa em educação no Brasil, notamos uma realidade contrastante e vulnerável, onde o rigor e a precisão exigidos são frequentemente frágeis e incipientes.

Segundo Demo (2005), a pesquisa acadêmica é guiada por paradigmas rigorosamente estabelecidos dentro do meio universitário, e entre esses paradigmas, o método se destaca como um elemento vital. Assim sendo, para que uma pesquisa obtenha confiabilidade e reconhecimento acadêmico, necessita-se utilizar métodos apropriados, relevantes e rigorosos.

As universidades e suas produções enfrentam uma expectativa crescente de diversidade e aplicabilidade em suas pesquisas. No campo da educação, quando consideramos a pesquisa direcionada às escolas e à prática educacional, é notável que os grandes projetos de pesquisa frequentemente emanam das universidades. Esses projetos, embora reconhecidos e publicados, frequentemente seguem os mesmos mecanismos tradicionais de pesquisa defendidos por essas instituições.

Entretanto, muitos desses trabalhos acadêmicos permanecem inacessíveis aos professores da educação básica e revelam-se insatisfatórios em termos de relevância prática. Com isso, observa-se uma desconexão palpável entre a vivência cotidiana nas escolas e o pensamento acadêmico predominante nas universidades.

Gatti (2002) esclarece que essa lacuna é corroborada pela própria comunidade científica, que frequentemente posiciona a universidade como defensor exclusivo da análise crítica, produção de conhecimento e elaboração de pesquisa. Nesse contexto, a percepção prevalente é que apenas um seleto grupo é verdadeiramente capacitado para participar desses processos.

O resultado é uma disjunção onde a pesquisa desenvolvida nas universidades muitas vezes não dialoga com as necessidades e realidades práticas das escolas, perpetuando uma distância que desafia a integração efetiva entre a teoria acadêmica e a prática educacional cotidiana.

Diante dessa realidade, cabe esclarecer que nosso posicionamento vê a pesquisa tanto como um meio de busca de conhecimento quanto como uma atitude política intrínseca. Nesse contexto, a pesquisa não deve ser encarada como um ato isolado, esporádico ou especial, mas sim como uma atitude processual contínua de investigação frente ao desconhecido e às limitações impostas pela natureza e pela sociedade, visto que ela integra o processo de informação e se revela um instrumento importante para a emancipação e transformação social.

5 A PESQUISA NA ESCOLA

A pesquisa escolar se insere no vasto campo da pesquisa educacional como um componente fundamental na construção do conhecimento. Esse processo de construção não é meramente a transmissão de informações, mas sim a criação de condições para que o indivíduo possa, por conta própria, explorar e acessar as fontes de conhecimento disponíveis na sociedade.

Na sociedade contemporânea, marcada por um frenético avanço tecnológico, a produção e disseminação de informações ocorrem a um ritmo vertiginoso. De acordo com Rummel (1972), este ritmo, muitas vezes, sobrecarrega as instituições de ensino, que não conseguem acompanhar a velocidade e a magnitude desse fluxo de dados, particularmente no que diz respeito à pesquisa escolar. O resultado é um desconforto crescente e uma lacuna entre a velocidade do progresso tecnológico e a capacidade das escolas de integrar eficazmente esse dinamismo em suas práticas de pesquisa.

Nesse contexto, entende-se que essa situação decorre inicialmente de uma interpretação errônea que muitos professores têm sobre o papel da pesquisa escolar. Em seguida, acrescente-se o despreparo para orientar as investigações realizadas em sala de aula. A confluência desses fatores obstaculiza a implementação eficaz da pesquisa e, por conseguinte, compromete o processo de aprendizagem.

Para Gressler (1983), quando o professor abdica de sua função essencial como guia do processo investigativo de seus alunos, ele assume a responsabilidade pelos desafios enfrentados pelos estudantes ao explorar os caminhos da pesquisa escolar. Para uma grande parte dos alunos, a ideia de pesquisar é reduzida à mera transcrição de conteúdos e informações, sem uma compreensão mais profunda e crítica da prática investigativa.

Com a ascensão da internet, o conceito de pesquisa tomou rumos inesperados e, de certa forma, perdeu sua essência original. Desse modo, a abordagem que alguns professores têm sobre a pesquisa se limita frequentemente à reprodução superficial de informações, desprovida de qualquer esclarecimento, orientação ou estrutura metodológica prévia.

Para muitos educadores, a ideia de realizar uma pesquisa com os alunos reduz-se a simplesmente sugerir que eles busquem um livro na biblioteca sobre o tema abordado. Essa visão restringe a prática da pesquisa a um mero exercício de coleta de dados, desconsiderando a complexidade e profundidade que a verdadeira investigação deveria envolver.

6 DISCUSSÕES

Observou-se inúmeros argumentos referentes à pesquisa associada à formação de professores de Biologia e seu impacto na prática docente, destacando a atuação do educador da educação básica no desenvolvimento de pesquisas. Entre os argumentos salientes, pode-se mencionar o aprimoramento da capacidade de resolver problemas em sala de aula, o aumento da motivação para a profissão, e o desenvolvimento de competências essenciais como profissionalidade docente, autonomia, pensamento crítico, e habilidades de leitura e escrita. Adicionalmente, destaca-se a potencial melhoria nos currículos e outros aspectos correlatos.

Além disso, professores engajados em atividades de pesquisa tendem a gerar conhecimentos mais profundos e relevantes para si mesmos, mostrando uma tendência a transcender mais efetivamente a dicotomia entre teoria e prática. Essa integração sugere uma superação da divisão tradicional entre a prática educacional cotidiana e as abstrações teóricas, promovendo uma abordagem mais holística e aplicada da pesquisa no contexto educacional.

Embora diversos estudos reiterem a importância da pesquisa na formação do professor e o papel relevante do professor-pesquisador, não se pode ignorar as limitações e complexidades envolvidas na integração da pesquisa tanto na formação inicial quanto na prática docente.

Ramos (2005a) afirma que a execução de pesquisas exige o desenvolvimento de habilidades que frequentemente diferem substancialmente das competências cultivadas durante a prática docente tradicional. Assim, percebe-se que esse descompasso pode ser um desafio significativo, pois muitos professores da educação básica podem não ter o preparo adequado para atender a essas exigências.

Além disso, os professores frequentemente enfrentam restrições quanto ao tempo e aos recursos materiais necessários para realizar pesquisas, o que constitui um obstáculo significativo para a implementação efetiva de práticas investigativas. Esses fatores refletem condições objetivas que afetam a viabilidade da pesquisa no contexto educacional, evidenciando a necessidade de uma abordagem mais integrada e apoiada para superar essas barreiras e fomentar a pesquisa de forma sustentável no ambiente escolar.

De acordo com Zeichner (1993), as pesquisas conduzidas por professores da educação básica enfrentam não apenas limitações e dilemas, mas também questionamentos sobre a validade e a capacidade de gerar conhecimento significativo. Desse modo, percebe-se que existe uma preocupação persistente acerca da eficácia dessas investigações na produção de entendimentos valiosos para a prática educativa.

Um exemplo ilustrativo dessa tentativa de superar as dificuldades é o programa de iniciação científica júnior, que tem se mostrado uma ponte eficaz entre a academia e a escola, permitindo uma maior integração e colaboração entre docentes de diferentes níveis. Além disso, a crescente presença de professores com especialização na sala de aula tem contribuído para uma inserção mais robusta da pesquisa no cotidiano escolar, demonstrando que, mesmo diante das adversidades, há caminhos viáveis para promover uma pesquisa educacional significativa e transformadora.

É possível observar uma abundância de estudos que advogam a importância das pesquisas realizadas por professores da educação básica. No entanto, para que essas práticas se concretizem, exige-se a revisão das condições de trabalho. Segundo Almeida (2005), essas condições, como estão atualmente, são inadequadas para viabilizar pesquisas efetivas por parte dos docentes da educação básica. Todavia, a reavaliação dessas condições é imprescindível, pois a pesquisa não apenas capacita o professor a refletir criticamente sobre suas práticas pedagógicas, mas também o instiga a buscar formas contínuas de aprimoramento profissional.

Além disso, muitos professores, ao se engajarem em pesquisa, cumprem um papel indispensável como mediadores no processo de emancipação dos alunos, contribuindo para o desenvolvimento de práticas educacionais mais refinadas e para a transformação do próprio ambiente escolar, revelando um potencial significativo para a inovação e o progresso dentro das salas de aula.

Alarcão (2005) aponta que o conceito de Professor-pesquisador não se resume em fomentar a proliferação de práticas pedagógicas mais eficazes, mas também altera profundamente a dinâmica do ambiente educacional. Bagno (1998) corrobora essa visão, afirmando que o Professor-pesquisador se torna um agente ativo na construção do conhecimento. Esse envolvimento direto com a pesquisa reflete uma melhoria tangível em seu desempenho profissional e contribui para o aprimoramento contínuo das suas habilidades. Desse modo, entende-se que a adoção de posturas investigativas por parte do professor tem implicações significativas para a educação, promovendo um ciclo virtuoso de desenvolvimento e inovação pedagógica.

Sugere-se, portanto, que se incentive a realização de pesquisas científicas na educação básica, promovendo uma integração efetiva com as universidades. Esse suporte acadêmico deve oferecer recursos tecnológicos e metodológicos aos docentes, para que, apesar das dificuldades inerentes à obtenção de resultados científicos, as pesquisas realizadas possam ser de alta qualidade e proporcionar uma contribuição valiosa para o processo de ensino e aprendizagem nas escolas.

7 CONCLUSÃO

Podemos delinear quatro razões preponderantes para que os professores engajem-se em pesquisas sobre sua própria prática: primeiramente, para se posicionarem como protagonistas autênticos no âmbito curricular e profissional, munidos de ferramentas mais robustas para enfrentar os desafios emergentes dessa prática; em segundo lugar, como um meio privilegiado de desenvolvimento tanto profissional quanto organizacional; em terceiro lugar, para contribuir significativamente para a construção de um patrimônio coletivo de cultura e conhecimento dentro da profissão docente; e, finalmente, para enriquecer o conhecimento geral sobre as questões educativas.

Em outras palavras, os desafios relacionados à organização e gestão do currículo, bem como as questões que envolvem a prática profissional em seus múltiplos níveis, demandam dos professores uma capacidade de problematização e investigação que transcende o mero bom senso e a boa vontade. Assim, toma-se ciência de que essa abordagem investigativa se revela primordial para lidar com a complexidade e a dinâmica dos problemas educativos e para promover uma evolução significativa no campo da educação.

Além disso, sob determinadas condições, o conhecimento gerado pelos professores através da investigação de sua própria prática pode transcender os limites da sala de aula e se revelar valioso para outras comunidades profissionais e acadêmicas.

Defendemos que ninguém pode se tornar um professor-pesquisador sem uma compreensão profunda da dimensão e das limitações da pesquisa em educação. A formação de um professor-pesquisador é possível, mas requer uma atenção meticulosa à estruturação do currículo que prepara esses profissionais.

Nesse sentido, mostra-se indispensável proporcionar, ao longo da formação, oportunidades para estudos que abordem a natureza e as práticas da pesquisa educacional, possibilitando que os professores possam ser reconhecidos como agentes da prática pedagógica e como autores intelectuais, capazes de refletir criticamente e investigar suas próprias práticas.

A concepção de ensino, o planejamento e a metodologia, bem como a escolha da teoria e da abordagem teórica que fundamentarão a prática docente, são questões de vital importância, pois orientam a efetivação da pesquisa prática, mas também são determinantes para que o conceito de professor-pesquisador seja verdadeiramente compreendido e integrado nas práticas de formação docente. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade dos professores de se familiarizem com esses conceitos e de desenvolverem a capacidade de avaliar criticamente e decidir a postura adequada em relação a cada um desses aspectos.

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