REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/cl10202410101634
Catarina Ribeiro De Meneses Vieira Matos
Malu Borges Machado
Maria Luiza Dornelas Câmara Reis
1. RESUMO:
O presente artigo tem como objetivo apresentar de forma abrangente os efeitos da exposição precoce a dispositivos móveis no desenvolvimento comportamental e intelectual das crianças na modernidade. Este se tornou um assunto bastante discutido e divulgado pois apresenta diversas faces, opiniões e estudos. O tempo excessivo em frente às telas pode impactar profundamente o desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais das crianças. As habilidades sociais e emocionais são cruciais para a formação de relacionamentos saudáveis e para o sucesso em várias áreas da vida e quando as crianças interagem com dispositivos móveis precocemente, podem perder oportunidades importantes de praticar e desenvolver essas habilidades em contextos reais. O artigo foi produzido a partir de uma pesquisa qualitativa de cunho exclusivamente bibliográfico. Inicialmente, foi abordado sobre. Os resultados desta pesquisa identificaram que a dependência dos dispositivos móveis pode contribuir para um aumento dos níveis de ansiedade e estresse nas crianças, pois a estimulação constante e as demandas das plataformas digitais podem sobrecarregar o sistema emocional. Outro ponto crucial identificado foi a potencial influência negativa na capacidade de resolução de problemas e na criatividade, uma vez que as atividades digitais frequentemente oferecem soluções prontas e não incentivam o pensamento crítico ou a exploração criativa.
PALAVRAS-CHAVE: Dispositivos móveis, infância, crianças, exposição, efeitos, habilidades, emocional, comportamento.
2. INTRODUÇÃO:
Nos últimos anos, a integração de dispositivos móveis na vida cotidiana tornou-se praticamente universal, com crianças cada vez mais expostas a smartphones, tablets e outros dispositivos digitais desde idades precoces. Essa exposição crescente tem levantado preocupações significativas sobre os impactos desses dispositivos no desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais das crianças. A tecnologia oferece um mundo de oportunidades, mas também apresenta desafios que podem afetar o crescimento saudável das crianças em aspectos fundamentais do seu desenvolvimento social e emocional. Os primeiros anos de vida são críticos para o desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais, que são fundamentais para a formação de relacionamentos saudáveis, a capacidade de entender e responder às emoções dos outros e a construção de uma base sólida para a interação social ao longo da vida. Essas habilidades são geralmente adquiridas através de interações diretas e experiências sociais no mundo real. No entanto, o tempo excessivo dedicado a dispositivos móveis pode limitar as oportunidades para essas interações essenciais, substituindo atividades tradicionais de socialização por experiências mediadas por telas. Além disso, o uso constante a estímulos digitais rápidos e fragmentados pode afetar a capacidade das crianças de manter o foco e se engajar em interações mais profundas e significativas. O ritmo acelerado e a gratificação instantânea proporcionada pelos dispositivos móveis podem levar a dificuldades em lidar com a frustração e a enfrentar desafios, habilidades que são desenvolvidas através de interações sociais reais e experiências de vida. (ROSEN, 2016).
Portanto, investigar os efeitos da exposição precoce a dispositivos móveis é fundamental para compreender como essa influência tecnológica pode moldar o desenvolvimento das crianças e para orientar pais, educadores e profissionais da saúde em como promover um uso equilibrado e benéfico da tecnologia.
O artigo tem como objetivo mostrar e destrinchar os efeitos da utilização precoce a dispositivos no comportamento social das crianças, abordando como essa exibição pode impactar o desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais fundamentais. Além disso, o artigo examina de forma detalhada e crítica os efeitos de ter acesso a dispositivos móveis desde cedo. Ele ajuda a entender melhor como isso pode afetar o desenvolvimento das crianças e oferece dicas sobre como usar a tecnologia de maneira mais equilibrada e vantajosa.
3. METODOLOGIA:
Para realizar este estudo, foi adotada uma abordagem qualitativa, com base em pesquisa bibliográfica. Inicialmente, foram selecionadas fontes significativas que abordassem os principais efeitos dessa tal exposição, os impactos na vida das crianças e como elas reagem a esses estímulos no longo prazo e no seu desenvolvimento tanto emocional, social e
intelectual. Os principais autores para o desenvolvimento do artigo foram Larry Rosen (2016); Jessica Radesky (2014); Jean Piaget (1954) e Lev Semenovich Vygotsky (2000). A pesquisa bibliográfica permitiu uma análise aprofundada do tema, explorando diferentes perspectivas e contribuições acadêmicas.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
Rosen (2016), um psicólogo conhecido por suas pesquisas sobre a relação entre tecnologia e comportamento, oferece uma visão detalhada dos impactos dos dispositivos móveis no desenvolvimento social das crianças. Segundo Rosen, em seu trabalho “The Distracted Mind: Ancient Brains in a High-Tech World” (2016), o uso frequente de dispositivos móveis pode levar a vários efeitos negativos significativos. O uso excessivo desses dispositivos pode impactar negativamente as habilidades de comunicação interpessoal das crianças. As interações mediadas por dispositivos digitais são menos ricas em termos de pistas não verbais e emocionais, como expressão facial e tom de voz, que são essenciais para uma comunicação eficaz. A falta dessas nuances nas interações digitais pode levar a dificuldades na interpretação e na expressão de emoções, prejudicando as habilidades de comunicação social das crianças. Outro impacto importante é a possível diminuição da qualidade das relações sociais.
As tecnologias digitais frequentemente oferecem recompensas instantâneas e estímulos rápidos, o que pode interferir no desenvolvimento de habilidades de regulação emocional e tolerância à frustração. As crianças podem se tornar mais dependentes de gratificação instantânea, dificultando a capacidade de lidar com frustrações e desafios de forma saudável. Esses efeitos, descritos por Rosen, (2016) revelam uma complexa interação entre o uso intensivo de tecnologias digitais e o desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais das crianças.
4.1 Influência das tecnologias expectativas de gênero e educação
Em “The End of Men: And the Rise of Women” (2012), Rosin é discutido como a tecnologia, juntamente com outras forças sociais e econômicas, está moldando a vida das crianças e adolescentes, com um foco particular em como essas mudanças estão redefinindo as expectativas de gênero e as oportunidades disponíveis para as novas gerações. A autora reflete sobre como a tecnologia cria expectativas e pressões para meninos e meninas. O acesso constante a redes sociais e a necessidade de se adaptar rapidamente às mudanças tecnológicas podem afetar o bem-estar emocional e a percepção de sucesso das crianças e adolescentes. Além disso aborda a forma como a tecnologia está moldando a forma como as crianças aprendem e desenvolvem habilidades, discutindo como a ênfase crescente nas habilidades digitais e na alfabetização tecnológica está impactando a educação.
4.2 Teorias do desenvolvimento infantil
Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Piaget: propôs uma teoria que enfatiza a importância da interação ativa com o ambiente para o desenvolvimento cognitivo. Segundo Piaget (1994), as crianças passam por quatro estágios principais de desenvolvimento cognitivo, cada um caracterizado por diferentes formas de pensar e compreender o mundo. De acordo com o livro dele “1” – Piaget (1952), esses estágios são: sensório-motor, pré-operacional, operatório concreto e operatório formal. No estágio sensório-motor, que vai do nascimento aos dois anos, as crianças exploram o mundo principalmente através de seus sentidos e ações motoras. Esta fase é crucial para o desenvolvimento da coordenação motora e da compreensão dos conceitos de permanência do objeto e causa e efeito. A exposição precoce e prolongada a dispositivos móveis pode limitar as oportunidades para a exploração física e a manipulação direta de objetos, o que pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades motoras e cognitivas fundamentais. No estágio pré-operacional (dos 2 aos 7 anos), as crianças desenvolvem a capacidade de usar a linguagem e o pensamento simbólico, mas ainda têm dificuldade com conceitos lógicos e a perspectiva dos outros. O uso excessivo de dispositivos móveis pode reduzir o tempo que as crianças passam interagindo com outras pessoas e com o ambiente físico, o que é essencial para o desenvolvimento das habilidades de linguagem e de pensamento simbólico. Nos estágios subsequentes, as crianças e adolescentes passam a realizar operações lógicas mais complexas e a pensar de maneira mais abstrata. A dependência excessiva de dispositivos móveis pode impactar negativamente a capacidade de pensamento crítico e resolução de problemas, uma vez que pode promover uma forma de aprendizado passiva em vez de ativa e exploratória (PIAGET, 1994).
Em “Mind in Society: The Development of Higher Psychological Processes” fala da Teoria Sociocultural de Vygotsky que destaca o papel da interação social e da linguagem no desenvolvimento cognitivo. Ele argumentava que o desenvolvimento das funções psicológicas superiores ocorre em um contexto social. O uso de dispositivos móveis pode modificar o ambiente social das crianças, afetando a qualidade e a natureza das interações que têm com seus pares e adultos, e, consequentemente, seu desenvolvimento social e emocional (Lev Vygotsky ,1978)
4.3 Dimensões do desenvolvimento social e emocional
Habilidades de Comunicação: As crianças desenvolvem habilidades de comunicação através de interações diretas com outras pessoas. Estudos indicam que a exposição precoce a dispositivos móveis pode limitar o tempo dedicado à comunicação face a face, prejudicando o desenvolvimento de habilidades de linguagem e expressão emocional (Christakis, 2009).
Empatia e Resolução de Conflitos: A capacidade de entender e responder às emoções dos outros é fundamental para a empatia e a resolução de conflitos. Interações digitais, que muitas vezes carecem de sinais emocionais e nuances, podem afetar negativamente a capacidade das crianças de desenvolver empatia e habilidades de resolução de conflitos (Radesky et al., 2014).
4.4 Efeitos da exposição precoce aos dispositivos móveis
Impactos Negativos: O uso excessivo de dispositivos móveis tem sido associado a uma série de efeitos negativos, como distúrbios no sono, menor atividade física, e dificuldade de atenção (Radesky et al., 2020). Além disso, estudos sugerem que o tempo prolongado em frente às telas pode afetar negativamente a qualidade das interações sociais e a capacidade de formar e manter relacionamentos significativos (Twenge & Campbell, 2018).
Benefícios Potenciais: Por outro lado, a tecnologia pode oferecer oportunidades educacionais e de desenvolvimento. Aplicativos e jogos educativos podem ajudar no desenvolvimento de habilidades cognitivas e na aquisição de novos conhecimentos, quando utilizados de maneira moderada e sob supervisão adequada (Hirsh-Pasek et al., 2015). No entanto, é crucial balancear o tempo de tela com atividades interativas e físicas.
As práticas recomendadas para minimizar os impactos negativos da exposição precoce a dispositivos móveis incluem:
Limitação do Tempo de Tela: Especialistas recomendam que crianças menores de 2 anos evitem o uso de dispositivos móveis, enquanto crianças mais velhas devem ter um tempo de tela limitado e bem gerenciado (American Academy of Pediatrics, 2016).
Envolvimento dos Pais: O envolvimento ativo dos pais na seleção e no monitoramento do conteúdo, bem como na participação em atividades digitais, pode ajudar a mitigar alguns dos efeitos negativos (Radesky et al., 2016).
Promoção de Atividades Sociais Reais: Incentivar atividades que envolvam interações sociais reais, como brincadeiras ao ar livre e encontros com pares, pode ajudar a promover o desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais das crianças.
4.5 Isolamento Social
A introdução precoce de dispositivos móveis na vida das crianças tem gerado um debate crescente sobre seus impactos no desenvolvimento social. Um dos aspectos mais preocupantes é o potencial aumento do isolamento social entre os jovens. A crescente dependência de smartphones e tablets pode influenciar negativamente a maneira como as crianças interagem com seus pares e desenvolvem habilidades sociais essenciais aumentando o risco de isolamento.
A exposição precoce a dispositivos móveis pode, de fato, contribuir para um aumento do isolamento social. Twenge e Campbell (2018), em sua revisão da literatura no artigo “Media Use and Mental Health: A Review of the Literature”, publicado no Current Directions in Psychological Science, revelam que o uso intenso de mídias sociais e dispositivos móveis está associado a um declínio no bem-estar emocional. Os autores destacam que, embora essas plataformas ofereçam novas formas de conexão, elas frequentemente substituem interações face a face, levando a sentimentos de solidão e desconexão real.
Logo, a exposição precoce a dispositivos móveis pode ter um efeito adverso significativo no comportamento social das crianças, contribuindo para o isolamento social. À medida que a tecnologia se torna uma parte cada vez mais integrada da vida cotidiana, é essencial que pais, educadores e responsáveis estejam atentos ao equilíbrio entre o uso de tecnologia e as interações sociais presenciais. Incentivar atividades que promovam a interação face a face e desenvolver estratégias para limitar o tempo de tela pode ajudar a mitigar os impactos negativos e promover um desenvolvimento social saudável.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A exposição precoce a dispositivos móveis é um fenômeno cada vez mais comum na infância, e suas implicações no comportamento social das crianças têm gerado preocupações significativas. À medida que as crianças passam mais tempo interagindo com telas, há um impacto notável no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais cruciais para seu bem-estar e interação futura.
Primeiramente, o uso constante de dispositivos móveis pode afetar a capacidade das crianças de manter o foco e de se engajar em interações sociais profundas. O ritmo acelerado e a gratificação instantânea oferecidos pelos dispositivos digitais frequentemente substituem experiências de socialização face a face, reduzindo oportunidades para desenvolver habilidades como empatia, comunicação eficaz e manejo da frustração. Interações mediadas por telas podem ser menos enriquecedoras do que aquelas realizadas pessoalmente, o que pode resultar em dificuldades para enfrentar desafios e lidar com a complexidade das relações interpessoais.
Além disso, o tempo excessivo de tela pode levar a uma diminuição na qualidade das interações sociais, já que as crianças podem se tornar mais dependentes de respostas rápidas e menos habilidosas em interpretar e reagir a sinais emocionais sutis durante interações pessoais. Isso pode impactar negativamente a capacidade de formar e manter relacionamentos saudáveis e de responder adequadamente a emoções tanto próprias quanto alheias.
Portanto, é fundamental que pais, educadores e profissionais da saúde estejam cientes desses efeitos e trabalhem para promover um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e as interações sociais no mundo real. Estratégias como limitar o tempo de tela, encorajar atividades de socialização face a face e oferecer orientações sobre o uso responsável da tecnologia são essenciais para apoiar o desenvolvimento integral das crianças. A compreensão contínua e a pesquisa sobre esses impactos permitirão um melhor direcionamento das práticas e políticas para garantir que a tecnologia complemente, e não substitua, as experiências sociais vitais no crescimento das crianças.
REFERÊNCIAS:
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Media use in children younger than 2 years. Pediatrics, v. 138, n. 5, p. e20163002, 2016.
CHRISTAKIS, D. A. (2009). “The effects of fast-paced television on young children’s attention and behavior.” Pediatrics, 124(5), 1021-1026.
HIRSH-PASEK, K. et al. Putting education in “educational” apps: Lessons from the science of learning. Psychological Science in the Public Interest, v. 15, n. 1, p. 1-34, 2015.
PIAGET, J. A psicologia da criança. Tradução de Maria Helena P. de Almeida. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
PIAGET, J. O Nascimento da Inteligência na Criança, 1952. Editora Zahar.
RADESKY, J. S., Schaller, A., & Kistin, C. J. “Overstimulated and Underconnected: The Impact of Digital Media on Child Development.” Pediatrics, 134(4), 663-669, (2014).
RADESKY, J. S. et al. Parent screen time and child behavior: A systematic review. Pediatrics, v. 138, n. 5, p. e20163000, 2016.
RADESKY, J. S. et al. Parenting and children’s screen time: A review of the literature. Pediatrics, v. 146, n. 2, p. e20201722, 2020.
ROSEN, Larry D. The distracted mind: Ancient brains in a high-tech world. Cambridge, MA: MIT Press, 2016.
ROSIN, H. The End of Men: And the Rise of Women. New York: Riverhead Books, 2012.
TWENGE, J. M.; CAMPBELL, W. K. Associations between screen time and lower psychological well-being among children and adolescents: Evidence from a populationbased study. Society for Research in Child Development, v. 89, n. 1, p. 76-94, 2018.
VYGOTSKY, L. S. “Mind in Society: The Development of Higher Psychological Processes”, 1978. Harvard University Press