THE CHALLENGES OF EARLY DIAGNOSIS OF ENDOMETRIOSIS IN YOUNG WOMEN IN BRAZIL
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11306735
Debora Caroline Macedo de Souza1
Larissa Monique Almeida de Siqueira1
Marissa Braga dos Anjos2
Resumo
A endometriose é uma condição ginecológica crônica em que o tecido semelhante ao endométrio, que normalmente reveste o útero, cresce fora dele, muitas vezes na cavidade pélvica. Afeta principalmente mulheres em idade reprodutiva e pode causar uma série de sintomas debilitantes, como dor pélvica, cólicas menstruais intensas e problemas de fertilidade. O objetivo desta pesquisa foi elucidar os desafios do diagnóstico precoce da endometriose em mulheres no Brasil. Utilizando a metodologia de revisão da literatura, foram analisados diversos estudos e artigos científicos sobre o tema. Os resultados alcançados revelaram uma falha significativa na avaliação clínica dos médicos e na consideração dos sintomas iniciais da doença nas mulheres, isto porque, muitas vezes, os sintomas são subestimados ou mal interpretados, levando a atrasos no diagnóstico e tratamento adequado. Além disso, há uma falta de conscientização tanto entre os profissionais de saúde quanto entre as próprias mulheres sobre a endometriose e seus sintomas, o que contribui para o diagnóstico tardio.
Palavras-chave: Endometriose. Mulheres. Diagnóstico. Saúde.
1. INTRODUÇÃO
A endometriose é uma patologia caracterizada pela presença de tecido funcional semelhante ao endométrio localizado fora da cavidade uterina, mais comumente no peritônio pélvico, nos ovários e septo retovaginal e, mais raramente, no pericárdio, pleura e sistema nervoso central (Araújo e Schimidt, 2020; Moretto, 2021).
No Brasil, estudos apontam uma prevalência de até 20% das mulheres em idade reprodutiva e de 30 a 50% das mulheres inférteis que apresentam endometriose (Duarte, 2021). Esse cenário, por si só, destaca a relevância de explorar os desafios associados ao diagnóstico dessa condição em mulheres jovens, uma vez que o início precoce do tratamento é crucial para aliviar os sintomas e prevenir complicações a longo prazo.
Quanto à sua etiopatogenia, está ainda não está bem estabelecida, porém as evidências indicam que a combinação de fatores genéticos, hormonais e imunológicos poderia contribuir para a formação e o desenvolvimento dos focos ectópicos de endometriose (Torres et al., 2021). No âmbito clínico, a endometriose muitas vezes é marcada pela incapacidade de ser prontamente diagnosticada, em parte devido à falta de compreensão sobre seus sintomas e à sua natureza. De acordo com Salomé et al. (2020) a dor pélvica crônica, um dos sintomas mais comuns, muitas vezes é erroneamente associada à menstruação normal, levando a atrasos na busca de ajuda médica. Gomes e Alves (2018) explicam que a dispareunia (dor durante o ato sexual) e irregularidades menstruais, podem ser subestimados ou mal interpretados, contribuindo para o diagnóstico tardio da doença.
Em relação aos métodos de diagnóstico, estes apresentam-se como um desafio, uma vez que não existe uma abordagem única e definitiva para confirmar a presença da condição (Marqui, 2014). O autor Silva et al. (2021) afirma que, enquanto a laparoscopia é considerada o “padrão ouro” para diagnóstico, esta é um procedimento invasivo e nem sempre acessível. Outros métodos, como exames de imagem e marcadores biológicos, ainda não oferecem a sensibilidade e especificidade ideais, resultando em dificuldades na detecção precoce.
A justificativa desta pesquisa se dá pelo fato que, o diagnóstico tardio da endometriose entre mulheres é uma condição que merece atenção e pesquisa aprofundada devido às suas repercussões significativas na saúde feminina. Isto porque, esta doença é uma condição ginecológica comum, mas sua natureza complexa e sintomas muitas vezes subestimados contribuem para a demora na identificação e tratamento adequados.
Quanto à relevância social deste estudo, esta é evidenciada pela frequência da endometriose em mulheres e pelos impactos substanciais que a condição pode ter em sua qualidade de vida. Além disso, um outro motivo para a realização desta pesquisa, é a escassez de estudos que abordem a problemática do diagnóstico tardio da endometriose em mulheres jovens.
Assim, este artigo teve como objetivo geral, elucidar os desafios do diagnóstico precoce da endometriose em mulheres no Brasil. E como objetivos específicos, identificar as características clínicas da endometriose em mulheres, citar os métodos de diagnóstico atuais para identificação da endometriose e propor estratégias para melhorar a conscientização e a detecção precoce da endometriose em mulheres.
Dessa forma, este estudo se propõe a abordar os desafios associados ao diagnóstico precoce da endometriose em mulheres no Brasil, reconhecendo sua importância para a saúde feminina e sua relevância social. Assim, ao identificar as características clínicas da endometriose, explorar os métodos diagnósticos existentes e sugerir estratégias para aprimorar a conscientização e detecção precoce, este estudo visa contribuir para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das mulheres afetadas por essa condição.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Podgaec (2020) a endometriose é uma doença ginecológica crônica, benigna, estrogênio-dependente e de natureza multifatorial que acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva. Esta condição é caracterizada pela presença de tecido (figura 1) que se assemelha à glândula e/ou ao estroma endometrial fora do útero, com predomínio, mas não exclusivo, na pelve feminina.
Figura 1 – Crescimento Anormal de tecido na endometriose
Fonte: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/endometriose-o-que-e-sintomas-e-tres-exercicios para-aliviar-a-dor.ghtml
Esta patologia é dividida em três doenças distintas: peritoneal, ovariana e endometriose profunda. A peritoneal caracteriza-se pela presença de implantes superficiais no peritônio; a ovariana, por implantes superficiais no ovário ou cistos (endometriomas); e a endometriose profunda, que é definida como uma lesão que penetra no espaço retroperitoneal ou na parede dos órgãos pélvicos, com uma profundidade de 5 mm ou mais (Rosa et al., 2021, Araújo e Schmidt, 2021).
Embora os dados epidemiológicos da doença sejam de difícil caracterização, porque apresentam grande variação entre os autores, principalmente em relação ao diagnóstico da endometriose, acredita-se haver uma prevalência da doença entre 5% e 10% da população feminina em idade reprodutiva.
Quanto à fisiopatologia, este ainda é tema de discussão e apresenta várias teorias baseadas em evidências clínicas e experimentais. Podgaec (2021) explica que existe a teoria de Sampson ou da menstruação retrógrada, onde foi observado que 90% das mulheres apresentam líquido livre na pelve em época menstrual, sugerindo, assim, que certo grau de refluxo tubário ocorra. O autor ainda cita que as células endometriais, então, implantaram no peritônio e nos demais órgãos pélvicos, dessa forma iniciando a doença. Como somente 10% das mulheres apresentam endometriose, os implantes ocorreriam pela influência de um ambiente hormonal favorável e de fatores imunológicos que não eliminam essas células desse local impróprio.
Rodrigues et al. (2022) descreve também a teoria da metaplasia celômica, onde as lesões de endometriose poderiam originar-se diretamente de tecidos normais mediante um processo de diferenciação metaplásica. Moretto et al. (2021) elucida também sobre a teoria genética, em que haveria uma predisposição genética ou alterações epigenéticas associadas a modificações no ambiente peritoneal (fatores inflamatórios, imunológicos, hormonais, estresse oxidativo) poderiam iniciar a doença nas suas diversas formas.
2.1 Desafios no diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce da endometriose em mulheres é frequentemente dificultado pela natureza variável dos sintomas associados à condição. Torres et al. (2021, p.6) descreve que muitas mulheres experimentam dores pélvicas crônicas, sangramento menstrual abundante e desconforto durante as relações sexuais, sintomas que podem ser atribuídos erroneamente a outras condições ginecológicas comuns, como cólicas menstruais ou síndrome do intestino irritável. Essa falta de especificidade nos sintomas pode levar a um diagnóstico tardio ou até mesmo a uma subestimação da gravidade da endometriose.
Outro desafio significativo reside na ausência de métodos de diagnóstico definitivos e não invasivos para a endometriose, isto porque, o diagnóstico muitas vezes depende de procedimentos invasivos, como laparoscopia, que podem ser adiados devido a preocupações com custos, riscos e falta de acesso a serviços especializados (De Mendonça, 2019, p. 4). Como resultado, muitas mulheres enfrentam anos de sofrimento antes de receberem um diagnóstico formal, o que pode impactar na qualidade de vida e saúde reprodutiva.
A falta de consciência sobre a endometriose entre profissionais de saúde também é um desafio significativo. Muitos médicos não estão informados sobre a condição ou não consideram uma causa possível dos sintomas apresentados por seus pacientes. Isso pode levar a atrasos adicionais no diagnóstico e tratamento, perpetuando o ciclo de sofrimento e incapacidade das mulheres afetadas.
Os desafios do diagnóstico precoce da endometriose são ainda mais exacerbados em populações marginalizadas, como mulheres de baixa renda, minorias étnicas e aquelas que enfrentam barreiras de acesso ao sistema de saúde. Essas diferenças sociais e econômicas podem resultar em diagnósticos ainda mais tardios e avançados de saúde para essas mulheres (Alves et al., 2022; Souza et al., 2020).
Dessa forma, para enfrentar esses desafios, é necessário aumentar a conscientização sobre a endometriose, educar tanto os profissionais de saúde quanto o público em geral sobre seus sintomas e impacto na saúde das mulheres, e melhorar o acesso a métodos de diagnóstico não invasivos e tratamentos eficazes.
2.2 Características Clínica
A apresentação clínica da doença varia consideravelmente, sem características clínicas patognomônicas, fato que dificulta o seu diagnóstico. Para Jesus (2023) os principais sintomas associados são: dismenorreia, dor pélvica crônica ou dor acíclica, dispareunia de profundidade, alterações intestinais cíclicas (distensão abdominal, sangramento nas fezes, constipação, disquezia e dor anal no período menstrual), alterações urinárias cíclicas (disúria, hematúria, polaciúria e urgência miccional no período menstrual) e infertilidade.
A endometriose pode se mostrar assintomática em até 20% das mulheres e existem diversas maneiras de estimar o grau de complexidade da doença (Salomé, 2020). Com base na apresentação clínica, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (SAMR) propõe um modelo de estadiamento em quatro estágios (figura 2), considerando a localização, extensão e profundidade da doença nas estruturas pélvicas e adjacentes.
Figura 2 – Classificação clínica dos sintomas da endometriose
Fonte: https://telessaude.saude.ba.gov.br/wp-content/uploads/2023/09/2023081
2.3 Métodos de Diagnósticos Atuais
Atualmente, a média estimada do tempo entre o início dos sintomas referidos pelas pacientes até o diagnóstico definitivo varia de cinco a dez anos. Dor pélvica ou demais sintomas citados anteriormente associados a nódulos ou rugosidades enegrecidas em fundo de saco posterior ao exame especular sugerem a doença (Silva, 2021).
No exame anatômico, ao toque, útero se apresenta com pouca mobilidade, o que sugere aderências pélvicas; nódulos dolorosos em fundo de saco posterior podem estar associados a lesões retrocervicais, nos ligamentos uterossacros, no fundo de saco vaginal posterior ou intestinais, além de que, anexos fixos e dolorosos, assim como a presença de massas anexiais, podem estar relacionados a endometriomas ovarianos (Brilhante et al., 2019; Barreto e Figueiredo, 2019).
O ultrassom pélvico e transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética com protocolos especializados são os principais métodos por imagem para detecção e estadiamento da endometriose e deverão ser realizados por profissionais com experiência nesse diagnóstico (Brilhante et al., 2019).
Stefenon e Bossolani (2020) explicam que a ultrassonografia tem como principais limitações a identificação de lesões em região de abdome superior, ser operador dependente e a dificuldade de treinamento de ultrassonografistas para a investigação de lesões, com curva de aprendizado lenta para a realização de exame especializado.
Já a ressonância magnética é superior à ultrassonografia transvaginal na interpretação de imagens, porém tem como barreiras o alto custo e a impossibilidade de realização da avaliação dinâmica de sinais indiretos de acometimento pélvico, como aderências (Do nascimento, 2022).
A videolaparoscopia com biópsia e estudo anátomo-patológico dos tecidos continua sendo considerada o método diagnóstico definitivo para e endometriose (Cruz et al., 2022), visto que, com o avanço dos métodos por imagem, ela é indicada apenas em pacientes que apresentaram exames normais e falha no tratamento clínico e/ou pacientes que demandam abordagem cirúrgica terapêutica.
O biomarcador sérico mais utilizado na investigação da endometriose é o CA-125, que não apresenta sensibilidade (70%-75%) suficiente para sua indicação na prática clínica, nem parece modificar condutas (Souza et al., 2020).
2.4 Estratégias de Conscientização da Endometriose
As estratégias de conscientização da endometriose são fundamentais para aumentar o conhecimento sobre essa condição médica entre profissionais de saúde, pacientes e a sociedade em geral. Uma das abordagens mais eficazes é a educação pública por meio de campanhas de mídia, redes sociais e eventos comunitários.
Para Silva e Lima (2022) outra estratégia importante é a formação e educação contínua de profissionais de saúde. Isso inclui médicos de diversas especialidades, como ginecologistas, médicos de família e especialistas em dor. Capacitar esses profissionais com informações atualizadas sobre endometriose, incluindo diretrizes de diagnóstico e tratamento, pode ajudar a reduzir os atrasos no diagnóstico e garantir que as mulheres recebam atenção e cuidados necessários.
Cruz et al. (2022) explica que, promover uma pesquisa sobre endometriose também é uma estratégia importante de conscientização. Aumentar o financiamento para estudos sobre as causas, mecanismos biológicos e novas opções de tratamento da endometriose pode ajudar a avançar o conhecimento científico e melhorar os cuidados para mulheres afetadas pela condição.
Portanto, as estratégias de conscientização da endometriose devem ser abrangentes e multidimensionais, envolvendo profissionais de saúde, pacientes, pesquisadores e a sociedade em geral para promover um melhor entendimento, diagnóstico e tratamento dessa condição médica comum, porém frequentemente subestimada.
3. METODOLOGIA
3.1 Desenho do estudo
A pesquisa foi realizada através de uma revisão integrativa. As abordagens qualitativas da pesquisa se fundamentam em uma perspectiva que concebe o conhecimento como um processo socialmente construído pelos sujeitos nas suas interações cotidianas, enquanto atuam na realidade transformando-a e sendo transformada (Lakatus e Marconi, 2014).
Neste modelo, em vez de coletar novos dados empiricamente, os pesquisadores revisaram e avaliaram cuidadosamente as publicações anteriores, como artigos científicos, livros, teses e relatórios, a fim de extrair relatos de estudos publicados.
3.2 Referencial Metodológico e Etapas
Segundo Gil (2008), no fato de o referencial ser caracterizada por um espectro que reúne resultados obtidos por métodos e técnicas adaptados ao caso específico, ao invés de um método padronizado único, ressaltando assim, que o método deve se adequar ao objeto de estudo, e que este objeto de estudo como ponto de partida seja centrado num problema que contribua no processo de desenvolvimento do indivíduo e do contexto no qual está inserido; interpretação dos resultados; construção de sistemas descritivos e análise de dados.
3.3 Elaboração do problema da pesquisa
A amostragem representativa de mulheres com endometriose é um desafio, dada a relutância em discutir sintomas relacionados à doença e a dificuldade em acessar serviços de saúde. O diagnóstico complexo da endometriose, muitas vezes confundido com outras condições, aumenta a dificuldade em identificar precocemente a doença e iniciar o tratamento adequado.
3.4 Busca por estudos primários
A pesquisa foi realizada em bancos de dados como, Pubmed, Capes, Scielo (Scientific Electronic Library Online) e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) além da utilização de informações de sites relacionados a problemática do diagnóstico tardio da endometriose em mulheres jovens no Brasil.
Foram utilizados artigos, teses e periódicos, obtidos após pesquisa nos bancos de dados supracitados. Isto porque, a utilização destes é crucial para a construção de um referencial teórico sólido em uma pesquisa.
3.5 Extração de dados
Nesta fase, optou por itens de pertencimento a temática do artigo, objetivos e os resultados que seriam capazes de responder ao problema de pesquisa dentro da revisão integrativa.
3.6 Critérios de Inclusão e Exclusão
Na inclusão, o recorte temporal filtrou artigos de revisão entre os anos de 2016 e 2023 (com exceção dos temas introdutórios), pelos idiomas português, inglês e espanhol analisados pelos títulos. Neles, estudos de caso, artigos de revisão, meta análises, integrativas e sistemáticas. Na exclusão, optou-se por artigos completos, excluindo citações nas bases de pesquisa e capítulos soltos, além destes, papers, resenhas e títulos que não se configuram de pertencimento à questão norteadora do estudo.
3.7 Avaliação dos Estudos
A análise que se faz é comparativa e indutiva, com a leitura dos textos e reescrita deles a partir do entendimento do próprio autor sobre as características com as quais as falas se relacionam com o problema dessa pesquisa, e com o pensamento de se defender um ponto de vista.
Após serem selecionadas as obras que irão compor o desenvolvimento do estudo, buscar-se-á localizar nestas as informações que se mostrarem úteis à elucidação do problema de pesquisa por meio de leitura crítica/analítica considerando a intelecção do texto e o seu teor que será, na sequência, interpretada tornando possível a formação de conclusões para elaboração da pesquisa de conclusão de curso.
3.8 Síntese do conhecimento evidenciado
Levando em consideração os níveis de evidência, a classificação ocorreu em três níveis, considerados apenas o nível mais forte cujas evidências fossem provenientes de revisões sistemáticas ou meta análises de ensaios clínicos randomizados. O segundo nível, com evidências de ensaios clínicos randomizados delineados e no terceiro nível, juntou-se estudos de caso, revisões de literatura, estudos descritivos e qualitativos e evidências de opinião de especialistas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados desta pesquisa bibliográfica foram agrupados em quadro e texto, o qual responderam aos objetivos específicos deste estudo. No (quadro 1), são apresentados artigos científicos que elucidam sobre as características clínicas da endometriose.
Quadro 1 – Características clínica da endometriose
SINTOMATOLOGIA DA ENDOMETRIOSE | ||
Autor | Metodologia | Característica clínica |
Leal et al. (2024) | Revisão integrada | Dor pélvica, dor na região sacral da coluna,menstruação irregular, infertilidade e constipação intestinal. |
Cardoso et al. (2021) | Estudo descritivo retrospectivo envolvendo 237 mulheres atendidas em dois hospitais de referência em endometriose. | Dispaurenia, dor pélvica, menstruação irregular e queixas intestinais cíclicas. |
Silva et al.(2021) | Pesquisa descritiva, qualitativa, realizada com dez mulheres com diagnóstico de endometriose no município do Rio de Janeiro (RJ). | Dor pélvica, dismenorreia, infertilidade é um fluxo intenso. |
Simões e Galhardo (2023) | Preenchimento de formulário online por 260 mulheres com endometriose. | Ansiedade, estresse,depressão e dor pélvica diária. |
Fonte: Autor, 2024.
Desta forma, os estudos do (quadro 1) nota-se a importância de reconhecer os sinais da endometriose, uma vez que, estes podem levar a um diagnóstico precoce e tratamento adequado, o que é importante para gerenciar a dor, preservar a fertilidade e evitar complicações a longo prazo. Além disso, estar ciente dos sintomas iniciais da endometriose é essencial para que as mulheres possam buscar ajuda médica especializada (Neuman, 2023, p. 5). Muitas vezes, os sintomas são erroneamente atribuídos a cólicas menstruais normais, atrasando o diagnóstico e o tratamento.
Silva et al. (2021, p.8) descreve que, ao reconhecer os sinais precoces, as mulheres podem procurar um ginecologista especializado em endometriose, que pode realizar exames e procedimentos adequados para confirmar o diagnóstico e oferecer opções de tratamento personalizado.
Quanto aos métodos atuais de diagnóstico da endometriose, estes podem ser solicitados conforme a eficácia e aplicabilidade dependendo da gravidade dos sintomas e das necessidades individuais da paciente (Brilhante, 2019). O método mais comum é a laparoscopia, uma cirurgia minimamente invasiva na qual um laparoscópio é inserido através de uma pequena incisão abdominal para examinar os órgãos pélvicos em busca de tecido endometrial fora do útero (Da conceição, 2019). Este procedimento não apenas permite ao médico visualizar diretamente os implantes de endometriose, mas também possibilita a realização de biópsias para confirmação definitiva.
Além deste, a ultrassonografia transvaginal é frequentemente utilizada como uma abordagem menos invasiva para o diagnóstico de endometriose. Este exame de imagem usa ondas sonoras para criar imagens dos órgãos pélvicos, permitindo a detecção de cistos endometrióticos nos ovários, aderências e outras anormalidades (Duarte, 2021).
Salomé et al.(2020) cita que, outro método diagnóstico é a ressonância magnética (RM), que oferece imagens detalhadas dos órgãos pélvicos sem a necessidade de cirurgia. A RM pode detectar lesões de endometriose em diferentes tecidos, incluindo os ligamentos uterossacros, o reto e a bexiga, ajudando os médicos a planejar o tratamento com mais precisão (Salomé et al. (2020).
Além desses exames, os médicos podem realizar a avaliação clínica dos sintomas da paciente, juntamente com exames físicos, história clínica detalhada e testes laboratoriais para descartar outras condições que possam causar sintomas semelhantes (De Sousa, 2023). Neste contexto, o diagnóstico da endometriose geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, combinando informações clínicas, exames de imagem e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos.
Por último, o terceiro objetivo específico, responde sobre as estratégias de conscientização sobre a endometriose, uma vez que estas têm sido fundamentais para aumentar o conhecimento público sobre essa condição e promover uma melhor compreensão dos seus impactos na vida das mulheres. Andrade (2023) explica que, uma das estratégias mais eficazes é a educação em saúde, que envolve a disseminação de informações (campanhas e eventos comunitários) precisas e acessíveis sobre os sintomas, diagnóstico e opções de tratamento da endometriose.
Além disso, as mídias sociais (redes sociais) desempenham um papel significativo na conscientização sobre a endometriose, permitindo que as pessoas compartilhem suas experiências pessoais, informações úteis e recursos relacionados à condição (Ramos et al. (2024). Outra estratégia importante é o ativismo, que envolvem a defesa pelos direitos das
Mulheres com endometriose, incluindo acesso a cuidados de saúde de qualidade, pesquisa e desenvolvimento de tratamentos mais eficazes, e políticas públicas que abordem as necessidades específicas das pessoas com essa condição (Treis, 2021).
Além disso, a realização de eventos e atividades de sensibilização, como corridas, passeios de bicicleta, feiras de saúde e palestras em escolas e locais de trabalho, pode ajudar a atrair a atenção da comunidade para a endometriose e incentivar o envolvimento e a participação ativa na conscientização e no apoio às pessoas afetadas pela condição.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos desafios evidenciados na pesquisa sobre o diagnóstico precoce da endometriose em mulheres no Brasil, é importante implementar medidas para melhorar a detecção precoce e o manejo dessa condição. Uma abordagem multidisciplinar é fundamental, envolvendo não apenas ginecologistas, mas também médicos de outras especialidades, como gastroenterologistas e urologistas, devido à variedade de sintomas que podem estar associados à endometriose.
Além disso, a educação e conscientização tanto dos profissionais de saúde, quanto da população em geral são necessárias para reduzir os atrasos no diagnóstico e tratamento. Campanhas de saúde pública, programas de educação continuada para médicos e materiais informativos acessíveis podem desempenhar um papel importante na disseminação do conhecimento sobre a endometriose e seus sintomas.
Por fim, são necessários mais investimentos em pesquisa para desenvolver métodos de diagnóstico mais precisos e acessíveis, bem como opções de tratamento mais eficazes e menos invasivas. Através de uma abordagem abrangente e colaborativa, é possível melhorar significativamente o tratamento da endometriose no Brasil, proporcionando uma melhor qualidade de vida para mulheres que vivem com essa condição.
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1Discente do Curso Superior de Biomedicina da Faculdade Nilton Lins Campus laranjeiras e-mail: deboracarolina.macedo@gmail.com / almeida.monique17@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Biomedicina da Faculdade Nilton Lins Campus Laranjeiras. Mestre em Imunologia (PPGIBA/UFAM). marissa.prado@uniniltonlins.edu.br