CLINICAL AND EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF POST-COVID-19 PATIENTS: IMAGING EVALUATION OF PULMONARY INVOLVEMENT
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11161828
Alvaro Lima Paixão1; Emilly Martins Vechiato1; Ícaro Rodrigo Silva Castro1; Davi Costa Fonseca1; Thompson de Oliveira Turíbio2; Bruno de Castro Paixão Jacobino3
RESUMO
A COVID-19 é uma infecção respiratória aguda grave causada pelo Sars-CoV-2 onde os sintomas que são comumente apresentados por pacientes infectados incluem cefaléia, febre, tosse, dor de garganta e, em alguns casos mais graves, pneumonia. O vírus tem relação direta com o trato respiratório, sendo as gotículas de tosse, espirro, a fala e o contato com superfícies contaminadas os principais meios de transmissão. Para estabelecer meios de verificar o comprometimento pulmonar em pacientes diagnosticados com COVID-19, durante a pandemia, os exames radiológicos surgiram como alternativa, sendo debatida sua acurácia para detectar o acometimento do pulmão pela doença. Para isso, são utilizados o Raio-X e Tomografia de tórax, podendo ser notadas alterações radiológicas como opacidade de vidro fosco e opacidades pulmonares mal definidas. Este estudo tem como base uma análise comparativa entre o RX e a TC de tórax na avaliação do comprometimento pulmonar em pacientes que foram infectados pelo COVID-19, de pacientes pós-infecção pelo vírus e submetidos a exames de imagem. Os dados referentes aos exames de imagem de pacientes pós-COVID-19 foram obtidos através dos prontuários digitais de um Hospital Particular em Palmas, TO. Foi realizado um estudo analítico, observacional e retrospectivo. Foram analisados 130 prontuários dos pacientes atendidos em um Hospital Particular de Palmas entre 2020 e 2021. A TC de tórax mostrou-se mais eficiente para o diagnóstico de comprometimento pulmonar por COVID-19 em comparação à radiografia de tórax, que apresenta alterações apenas em estágios mais avançados da doença. Observase uma significativa superioridade da TC de tórax em relação ao RX de tórax para avaliação do comprometimento pulmonar na COVID-19, sobretudo em casos mais leves e/ou estágios iniciais da doença. Dessa forma, a empregabilidade desse exame radiológico na prática clínica se faz necessária, uma vez que possui maior sensibilidade que o exame paralelo em questão.
Palavras-chave: COVID-19; EPIDEMIOLOGIA;COMPROMETIMENTO PULMONAR; EXAMES RADIOLÓGICOS;
ABSTRACT
COVID-19 is a severe acute respiratory infection caused by Sars-CoV-2, where symptoms commonly presented by infected patients include headache, fever, cough, sore throat, and, in some more severe cases, pneumonia. The virus is directly related to the respiratory tract, with coughing, sneezing, speaking, and contact with contaminated surfaces being the main means of transmission. To establish ways to assess lung involvement in patients diagnosed with COVID-19 during the pandemic, radiological examinations have emerged as an alternative, with their accuracy in detecting lung involvement by the disease being debated. For this purpose, Chest X-ray and Chest CT are used, and radiological changes such as ground-glass opacity and poorly defined lung opacities can be noted. This study is based on a comparative analysis between Chest X-ray and Chest CT in the evaluation of lung involvement in patients who were infected with COVID-19, post-viral infection patients, and underwent imaging examinations. Data regarding imaging examinations of post-COVID-19 patients were obtained from the digital medical records of a Private Hospital in Palmas, TO. An analytical, observational, and retrospective study was conducted. A total of 130 medical records of patients treated at a Private Hospital in Palmas between 2020 and 2021 were analyzed. Chest CT was found to be more efficient for the diagnosis of lung involvement by COVID-19 compared to Chest X-ray, which only shows changes in more advanced stages of the disease. There is a significant superiority of Chest CT over Chest X-ray for the evaluation of lung involvement in COVID-19, especially in milder cases and/or early stages of the disease. Thus, the employability of this radiological examination in clinical practice is necessary, as it has greater sensitivity than the parallel examination in question.
Keywords: COVID-19; Epidemiology; Pulmonary Involvement; Radiological Examinations.
1 INTRODUÇÃO
O Covid-19 é uma infecção respiratória aguda grave causada pelo Sars-CoV-2, vírus de RNA não segmentado de cadeia positiva que possui a capacidade de infectar mamíferos (SILVA et al., 2022). Relatado, primeiramente, em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, a doença tomou proporções mundiais e, em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia do novo coronavírus. Dentre os sintomas comumente apresentados por pacientes infectados estão cefaleia, febre, tosse, dor de garganta e, em casos mais graves, dispneia e pneumonia são frequentes (RODRIGUES et al., 2022).
O pouco conhecimento científico acerca do COVID-19 e de seus aspectos como a alta velocidade de disseminação e as formas de transmissão no início da pandemia acarretaram altos índices de mortalidade em populações vulneráveis e geraram dúvidas sobre as melhores estratégias a serem utilizadas para o enfrentamento da doença (WERNECK e CARVALHO, 2020). O vírus tem relação direta com o trato respiratório, sendo gotículas de tosse, espirro, a fala e o contato com superfícies contaminadas os principais meios de transmissão entre as pessoas (RODRIGUES et al., 2022).
Como método diagnóstico e de detecção do vírus, o exame laboratorial que se provou mais eficaz foi o de Reação em Cadeia da Polimerase com Transcrição Reversa com reação de amplificação em tempo real (RT-PCR em tempo real ou RT-qPCR) que utiliza amostras de Swab nasofaríngeo ou aspirado nasal de pacientes com suspeita, o que possibilita a identificação do RNA viral (VIEIRA et al., 2020).
Visando estabelecer meios de verificar o comprometimento pulmonar em pacientes diagnosticados com Covid-19, ao decorrer da pandemia, os exames radiológicos surgiram como uma possível alternativa, sendo debatido sua acurácia para detectar o acometimento do pulmão pela doença. (MACHADO et al., 2021). Dessa forma, para diagnóstico e manejo das condições pulmonares, são utilizados como primeira escolha a radiografia (RX) de tórax e como segunda escolha a Tomografia Computadorizada (TC), podendo ser notadas alterações como opacidade de vidro fosco e opacidades pulmonares mal definidas. (GUERRA et al., 2022).
Desde o início da pandemia do Covid-19, o vírus infectou cerca de 200 milhões de pessoas, o que levou a morte de mais de 4,5 milhões de pessoas em todo mundo segundo a OMS. No Brasil o Ministério da Saúde constatou a infecção de aproximadamente 37 milhões de pessoas até o momento, além de quase 700 mil mortes ocasionadas pela doença. Na região norte do país já foi constatado a infecção de pouco mais de 5 milhões de pessoas, sendo 102.968 o número de óbitos, com uma taxa de mortalidade de 279,3 a cada 100.000 habitantes.
O estado do Tocantins verificou cerca de 730 mil casos confirmados de COVID-19 e 8.464 óbitos pela doença. A cidade de Palmas, nesse contexto, evidenciou quase 90 mil casos de infecção pelo vírus e um total de 736 óbitos (Brasil, 2023).
Nessa perspectiva, são notórios os impactos mundiais ocasionados pelo COVID-19 e as implicações deste na vida de milhares de pessoas, que evoluíram com sequelas e complicações tanto físicas quanto psicossociais. Em razão destes, o presente estudo realizou uma análise comparativa e retrospectiva da acurácia de exames de imagem, entre radiografia e tomografia computadorizada de tórax, na avaliação do comprometimento pulmonar de paciente diagnosticados com Covid-19 admitidos em um hospital particular, no município de Palmas, Tocantins.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA DO COVID 19
A doença do COVID 19 teve seu início na cidade de Wuhan, na China, no final do ano de 2019, faz parte da família Coronaviridae, que possuem uma fita simples positiva de RNA, carregando uma proteína Spike na capsula lipoproteica que envolve este RNA (PIMENTEL et al., 2020). De acordo com Duarte (2020), estudos aponta que SARS-CoV-2 seja um vírus quimérico entre um coronavírus de morcego e um coronavírus de origem desconhecida. Uma das possibilidades aponta para o morcego sendo reservatório da doença, transmitindo ao homem via pangolim.
Sendo declarado estado de emergência de saúde pública de interesse mundial pela OMS, o Covid-19 infectou cerca de 765.222.932 pessoas, incluindo 6.921.614 mortes (Organização Mundial da Saúde. 2023). No Brasil, os primeiros casos foram confirmados no mês de fevereiro, e diversas ações foram implementadas a fim de conter o avanço da doença. Em 3 de fevereiro de 2020, o país declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) (Resende, 2021).
Ainda de acordo com Resende (2021), em Palmas, a primeira notificação se deu em 18 de março de 2020, o estado do Tocantins ocupava a última posição no ranking por número acumulado de casos até recentemente. Contudo, como os números dessa pandemia alteram-se rápida e frequentemente, assinala-se que o Tocantins registrou em 19 de abril de 2020 incidência de 21 casos por milhão de habitantes e em 19 de maio de 2020 passou a registrar 1.046,5 casos por milhão de habitantes.
ASPECTOS HISTOLÓGICOS DO COMPROMETIMENTO PULMONAR
O Coronavírus, causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2, possui como mecanismo patogênico a entrada em células pulmonares através da enzima conversora de angiotensina 2 encontrada em células alveolares do pulmão, células endoteliais vasculares e no epitélio brônquico, caracterizando o trato respiratório como a porta de entrada para o vírus (MERDJI et al., 2021).
O dano alveolar difuso (DAD) foi comumente apontado como o padrão histopatológico encontrado em todas as séries pós-morte por COVID 19. Este consiste em duas fases: (1) fase aguda/exsudativa presente durante a primeira semana de lesão pulmonar que precedem uma (2) fase organizadora/proliferativa. Vale ressaltar que ambas dependem de fatores como a duração da doença e as características morfológicas observadas (FERNANDEZ & GARCIA, 2021).
Na fase aguda/exsudativa há presença de edema intra-alveolar, alargamento intersticial e membranas hialinas podem ser vistas cerca de 5 dias após o insulto inicial. Nessa fase a inflamação é baixa e trombos podem estar presentes decorrentes de alterações da via de coagulação local. A fase de organização é caracterizada por proliferação fibroelástica celular acompanhado de hiperplasia de pneumócitos tipo II e metaplasia escamosa bastante pronunciada.
Segundo Merdji et al. (2021), as alterações exsudativas estiveram presentes em 75% dos pacientes na primeira semana e em nenhum com 3 semanas ou mais de evolução. Em contrapartida, houve aumento de alterações proliferativas no decorrer do tempo, sendo observadas em 50% das amostras na primeira semana, e em 88% após a terceira de avanço da doença. O padrão fibrótico aumento com o progredir do tempo, sendo observada em todos os pacientes avaliados com doença há mais de 3 semanas. A resposta imune inata e adquirida são fundamentais no combate à infecção do vírus da Covid-19, em contrapartida, possuem forte papel na imunopatogenicidade e consequente sintomatologia da doença, pois pode resultar em dano do tecido pulmonar, além de comprometimento e redução da capacidade respiratória.
A resposta imune é mediada por células epiteliais pulmonares, neutrófilos e macrófagos que sofreram exposição aos antígenos virais. Por conseguinte, a resposta imune adaptativa é desencadeada a partir dos linfócitos TCD4 e TCD8.
Os sintomas respiratórios se explicam pelo fenômeno da “Chuva de citocinas”, caracterizada por uma exacerbação destas moléculas nos pacientes com Covid-19, e possuem papel fundamental na mediação da imunidade, inflamação e hematopoiese. Como resultado da elevação da quantidade de citocinas inflamatórias, ocorre o aumento da permeabilidade vascular, resultando em um extravasamento de líquidos e células sanguíneas para o espaço intra-alveolar, causando dispneia e até mesmo insuficiência respiratória. (SILVA & GADELHA, 2020).
EXAMES DE IMAGENS
Os exames de imagem têm assumido papel crucial no que tange a detecção e gerenciamento precoces dos acometimentos pulmonares causados pelo COVID-19 (SILVA et al., 2021). Dentre eles a radiografia e, sobretudo, a tomografia computadorizada de tórax têm ocupado lugar de destaque nesse quesito.
Segundo Rosa et al. (2020). a confirmação diagnóstica da doença se dá através da reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa (RT-PCR), porém, os exames radiológicos como TC de tórax, tem demonstrado alterações características e clássicas da infecção por coronavírus, e que somente após certo tempo, tornaram-se positivas laboratorialmente para doença. Os principais achados imaginológicos que contribuem para a suspeita de COVID são a opacidade em vidro fosco, pavimentação em mosaico, derrame pleural, sinal do halo invertido, consolidação, broncograma aéreo e linfadenomegalia.
A radiografia de tórax é o exame de maior praticidade, barato e simples de ser realizado na avaliação de pacientes com suspeita de COVID. Possui fácil portabilidade e torna-se útil para uso em pacientes acamados e em situações específicas (MEIRELLES, 2020). Pode-se detectar, com o progredir da doença, opacidades irregulares nos pulmões, que, em casos graves, acabam convergindo, levando ao aparecimento de opacidades densas ou consolidações. A radiografia não é recomendada rotineiramente como modalidade de primeira linha, visto que, diante da suspeita de COVID-19, apresenta uma sensibilidade limitada na detecção de opacidades em vidro fosco e outros achados característicos da infecção. (ARAUJO-FILHO et al., 2020).
A TC de tórax é recomendada pois provou-se bastante sensível à detecção de sinais precoces, permitindo avaliar aspectos das lesões como natureza e extensão, além de detectar alterações discretas, indetectáveis na radiografia de tórax. O reconhecimento dos achados permite uma maior agilidade e assertividade na indicação do tratamento correto, uma vez que possibilita avaliar o grau e intensidade do comprometimento pulmonar (SILVA et al., 2021). A Tomografia Computadorizada de tórax apresenta alta sensibilidade, porém uma baixa especificidade para o diagnóstico das infecções pelo coronavírus, devendo sempre ser empregada acompanhada da avaliação laboratorial para o diagnóstico etiológico, mesmo com os achados típicos da infecção (FARIAS et al., 2020). 3.4
ESTADIAMENTO E PROGNÓSTICO DA DOENÇA
Siddiqi et al. (2020) propuseram um estadiamento clínico para contribuir com desenvolvimento terapêutico estruturado de pacientes com COVID-19. Consiste em um sistema de classificação com 3 graus de gravidade crescente com achados clínicos, resposta à terapia e resultados distintos.
O estágio I (leve) diz respeito a infecção precoce, caracterizado por multiplicação viral e aparecimento dos primeiros sintomas (febre, diarreia e sintomas constitucionais leves). Nessa fase, em exames laboratoriais, observa-se linfopenia e neutrofilia sem outras anormalidades significativas. O tratamento consiste no alívio sintomático dos sintomas. (Siddiqi et al., 2020)
Siddiqi et al. (2020) ainda afirmam que o estágio II (moderado) é subdivido em duas fases: envolvimento pulmonar sem hipóxia (IIa) e com hipóxia (IIb). Nessa etapa, além replicação viral, ocorre uma resposta inflamatória localizada. Os pacientes desenvolvem pneumonia viral e evoluem com febre e tosse. Exames de imagem revelam infiltrados bilaterais ou opacidades em vidro fosco. Na análise laboratorial há presença de linfopenia crescente e aumento de marcadores inflamatórios. O tratamento consiste em medidas de suporte e terapias antivirais disponíveis. Em casos de hipóxia é provável que haja necessidade do uso de ventilação mecânica e nesses casos o uso de corticosteroides pode ser útil.
O estágio III (grave) diz respeito à uma hiperinflamação sistêmica e ocorre em uma minoria dos pacientes. Evolui com piora do comprometimento pulmonar e acometimento extrapulmonar significativo. Choque, vasoplegia, insuficiência respiratória e até colapso cardiopulmonar podem estar presentes. O tratamento consiste em terapia personalizada e depende do uso de agentes imunomoduladores para reduzir a inflamação sistêmica (Siddiqi et al., 2020).
O COVID-19 trouxe inúmeros desafios devido ao seu pouco entendimento para os sistemas de saúde de todo o mundo. Foi observado um pior prognóstico para pessoas portadoras de doenças crônicas pré-existentes (Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), uma vez que, esses pacientes estão mais propensos a evoluírem para formas graves da doença que pacientes previamente saudáveis. No entanto, há ainda lacunas a serem preenchidas quanto ao assunto, visto que, é uma patologia recente e há necessidade de aprofundamento científico no que diz respeito ao prognóstico de pacientes infectados pelo coronavírus (ARRUDA et al., 2020).
ESTATÍSTICA DO COMPROMETIMENTO PULMONAR E A COVID 19
A utilização dos exames de imagem é vista com apreço para o diagnóstico da Covid19, sobretudo no que diz respeito à avaliação do comprometimento pulmonar, agindo como um diagnóstico auxiliar para a doença. Dessa forma, a utilização do RX e TC de tórax na prática clínica permite visualizar alterações patológicas significativas na estrutura pulmonar, sendo essas modificações no parênquima pulmonar os fatores preconizantes de uma funcionalidade reduzida do órgão, podendo ter como desfecho uma insuficiência respiratória (LIMA et al., 2020).
A Radiografia de Tórax é considerado o exame mais simples, prático e econômico de ser utilizado nos pacientes com suspeita de COVID-19. No entanto, apesar da sua grande disponibilidade e facilidade na sua execução, apresenta baixa sensibilidade na avaliação de pacientes com suspeita clínica de COVID-19, oscilando entre 30-69%, apresentando muitos exames normais em formas leves da doença.
Dentre os achados imaginológicos encontrados no RX desses pacientes, temos consolidações (36-47 % dos pacientes) e opacidades de baixa densidade (20-33%), outro achado menos comum é derrame pleural, sendo encontrado apenas em cerca de 3% dos pacientes (MEIRELLES, 2020).
Nos pacientes com suspeita de COVID-19 em que a avaliação de imagem se faz necessária, a TC de tórax é considerada o método de primeira escolha e apresenta sensibilidade de 94% e especificidade de 37%. Dentre os principais achados de exame na TC estão as opacidades em vidro fosco, consolidações, opacidades reticulares, pavimentação em mosaico, sinal do halo invertido, linhas subpleurais e espessamento pleural (32% dos pacientes). Nos achados menos comum são observadas alterações das vias aéreas, nódulos pulmonares, dilatações vasculares, linfonodomegalias (4–8% dos pacientes), derrame pleural (5–15%) e derrame pericárdico (5%) (MEIRELLES, 2020)
3 METODOLOGIA
Foi realizado um estudo analítico, observacional e retrospectivo. Os dados foram obtidos através do acesso aos prontuários de pacientes internados com comprometimento pulmonar em um hospital particular no município de Palmas, Tocantins, no período que compreende os anos de 2020 e 2021. Os desenhos analíticos são estudos que buscam esclarecer uma dada associação entre uma exposição, em particular, e um efeito específico (doença ou condição relacionada à saúde). Esses estão normalmente subordinados a uma ou mais questões científicas, às hipóteses, que relacionam eventos: uma suposta causa e um dado efeito, ou exposição e doença, respectivamente (MARTINS et al, 2014).
Nos estudos observacionais o pesquisador não intervém, apenas observa e registra as informações que lhe interessam para posterior análise e (BASTOS e DUQUIA, 2007). O delineamento retrospectivo é um estudo a partir de registros do passado e é seguido adiante a partir daquele momento até o presente. É fundamental que haja credibilidade nos dados de registros a serem computados, em relação à exposição do fator e/ou à sua intensidade (HOCHMAN et al, 2005). Da mesma forma, pelo período abordado o estudo deu-se de forma transversal, uma vez que o período abordado será no intervalo dos anos de 2020 e 2021 (ROUQUAYROL, 2017).
Ressalta-se que o presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos sob o registro de Número do Parecer: 6.479.461
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram analisados 130 prontuários dos pacientes atendidos em um Hospital Particular de Palmas. Com relação à idade, nota-se que a idade máxima anotada foi de 89 anos e a mínima de 1 ano, com uma média de aproximadamente de 47 anos e uma mediana de 44 anos (Tabela 1).
Tabela 1 – Estatística descritiva da idade dos pacientes atendidos no hospital privado.
AMOSTRA (N) | 130 |
Mínimo | 1 |
Máximo | 89 |
Média | 46,87 |
Desvio-Padrão | 14,19 |
Mediana | 44 |
Coeficiente de Variação | 30,30% |
Com relação ao sexo, verificou-se um predomínio do gênero masculino (58%), em relação ao feminino. Não houve diferença significativa, quando comparado o número de notificações por gênero (Tabela 2).
Tabela 2 – Estatística Descritiva do gênero dos pacientes atendidos no Hospital Particular de Palmas
Sexo | N | % |
Feminino | 54 | 42% |
Masculino | 76 | 58% |
Total | 130 | 100% |
Analisando a cidade de origem dos pacientes, encontra-se que o logradouro de Palmas (59,23%, n= 77) foi o de maior moda, seguido de Porto Nacional e Redenção – Pará (n = 5). Notou-se também, que aproximadamente 15,38% são de pessoas que residiam em outros Estados da Federação (Tabela 3).
Tabela 3. Estatística Descritiva das Cidades de origem dos pacientes atendidos no Hospital Particular de Palmas.
Cidade | N |
APARECIDA DO RIO NEGRO | 1 |
BARROLANDIA | 1 |
BREJINHO DE NAZARÉ | 1 |
PARAÍSO DO TOCANTINS | 3 |
CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA | 1 |
CANAÃ DOS CARAJÁS | 1 |
COLMÉIA | 2 |
CONFRESA | 1 |
DIANÓPOLIS | 1 |
FÁTIMA | 1 |
FORTALEZA DO TABOCÃO | 2 |
GUARAÍ | 1 |
LAGOA DA CONFUSÃO | 2 |
LUÍS EDUARDO MAGALHÃES | 1 |
MIRACEMA DO TOCANTINS | 1 |
MIRANORTE | 3 |
PARAÍSO DO TOCANTINS | 3 |
NATIVIDADE | 1 |
NOVO ACORDO | 1 |
PALMAS | 77 |
PEDRO AFONSO | 1 |
PINDORAMA DO TOCANTINS | 1 |
PORTO ALEGRE DO NORTE | 1 |
PORTO NACIONAL | 5 |
REDENÇÃO | 5 |
SANTA CRUZ DO XINGU | 1 |
SANTA RITA DO TOCANTINS | 1 |
SANTANA DO ARAGUAIA | 1 |
SÃO FÉLIIX DO XINGU | 1 |
SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA | 1 |
SÃO LUÍS | 1 |
TAGUATINGA | 1 |
VILA RICA | 1 |
VITÓRIA DO XINGU | 1 |
XINGUARA | 3 |
Pelos resultados, obtidos pelo teste de Qui-quadrado (x2) pode-se concluir que os comprometimentos < 25% e 25% – 50% não apresentam diferença estatística significativa (p = 0,0559). Quando comparadas, entretanto, com as infestações 25% – 50% e 51% e 50% e 51% – 75% e > 76%,), verifica-se que as discrepâncias são muito significativas (p-valor < 0,0001). Se fosse efetuado o teste de independência, o Qui-Quadrado seria altamente significativo (p-valor < 0,0001, χ2 = 91,4242) (Tabela 4).
Tabela 4: Número de radiografias que apresentaram alteração pulmonar correlacionadas com o acometimento segundo a TC de tórax.
Acometimento segundo a TC | < 25% | 25% – 50% | 51% – 75% | > 76% |
Sim | 0 | 9 | 26 | 9 |
Não | 47 | 40 | 2 | 0 |
Total | 47 | 49 | 28 | 9 |
Dentre os sintomas comumente apresentados por pacientes infectados pelo COVID19 estão cefaleia, febre, tosse, dor de garganta e, em casos mais graves, dispneia e pneumonia são frequentes. Segundo SILVA&GADELHA (2020) os sintomas respiratórios são decorrentes da elevação da quantidade de citocinas inflamatórias que resulta no aumento da permeabilidade vascular, resultando em um extravasamento de líquidos e células sanguíneas para o espaço intra-alveolar, causando dispneia e até mesmo insuficiência respiratória. O vírus tem relação direta com o trato respiratório, sendo gotículas de tosse, espirro, a fala e o contato com superfícies contaminadas os principais meios de transmissão entre as pessoas.
Os dados colhidos que dizem respeito ao sexo dos pacientes com comprometimento pulmonar se assemelham aos descritos por Rodrigues et al. (2023)onde observou-se um maior acometimento no sexo masculino (58%) em relação ao sexo feminino. A idade mínima registrada dos pacientes atendidos no período descrito foi de 1 ano e a máxima de 89 anos de idade, sendo a faixa etária média foi de 47 anos e obteve-se como resultado uma mediana de 44 anos de idade. Krüger AR et al. (2022) descreve em seu estudo uma relação estreita entre a idade mais elevada e a velocidade de evolução para óbito em pacientes acometidos pela COVID-19. Analisando as estatísticas das cidades de origem dos pacientes selecionados constatou-se que o logradouro de Palmas (59,23%, n= 77) foi o mais referido, seguido de Porto Nacional, no estado do Tocantins e Redenção do Pará.
Como proposto por Rosa et al. (2020) a confirmação diagnóstica da doença se dá através da reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa (RT-PCR), porém, os exames radiológicos como TC de tórax, tem demonstrado alterações características e clássicas da infecção por coronavírus, e que somente após certo tempo, tornaram-se positivas laboratorialmente para doença. Os principais achados imaginológicos que contribuem para a suspeita de COVID são a opacidade em vidro fosco, pavimentação em mosaico, derrame pleural, sinal do halo invertido, consolidação, broncograma aéreo e linfadenomegalia.
Ao serem observados as alterações radiológicas ocasionadas pela COVID-19 notou-se um padrão já descrito por Meirelles (2020) em sua pesquisa, as radiografias de tórax não foram eficazes na detecção do acometimento pulmonar em casos leves e/ou iniciais da doença, as opacidades pulmonares só foram observados em 33% dos pacientes selecionados, e apenas 6% manifestaram alterações quando 50% do parênquima pulmonar apresentava-se acometido na TC de tórax. O principal achado observado na tomografia, as opacidades em vidro fosco, eram percebidas desde os estágios iniciais da doença, com acometimento do parênquima inferior a 25%.
Além de contribuir no diagnóstico, a tomografia computadorizada de tórax permite um acompanhamento prognóstico da doença, como foi proposto no Consenso de Especialistas da Sociedade Radiológica da América do Norte um estadiamento com 4 categorias que relatam possíveis achados de imagem da TC ocasionados pela COVID-19 relacionando-os com o tempo e evolução da doença. As fases descritas consistem: (1) Fase inicial ou precoce, com duração de 0-4 dias, com única ou múltiplas opacidades em vidro fosco em regiões subpleurais e lobos inferiores; (2) Fase progresiva, de 5-8 dias, presença de opacidades em vidro fosco e consolidações mais bem distribuídas, predomínio na periferia e multilobular além de pavimentação em mosaico; (3) Fase de pico, 9-13 dias, predomínio das consolidações, padrão de vidro fosco bem presente, pavimentação em mosaico; broncogramas aéreos e atelectasias pulmonares; (4) Fase de absorção ou dissipativa, a partir do 14º dia, não há sinais de pneumonia, organização com potencial evolução para fibrose pulmonar (SIMPSON et al, 2020).
5 CONCLUSÃO
Com base nos resultados obtidos neste presente estudo. É possível observar uma significativa superioridade da TC de tórax em relação ao RX de tórax para avaliação do comprometimento pulmonar na Covid-19, sobretudo em casos mais leves e/ou estágios iniciais da doença. Dessa forma, se faz necessária a empregabilidade desse exame radiológico na prática clínica, uma vez que ao possuir maior sensibilidade que o exame paralelo em questão, dispõe de uma maior acurácia e portanto, diminuição de resultados falso-negativos. Além disso, o uso desse exame auxilia o profissional com o manejo da doença, pois a TC de tórax pode ser útil tanto na avaliação da extensão do comprometimento pulmonar, quanto na estratificação da gravidade da doença. Ademais, o emprego dessa técnica radiológica promove uma intervenção mais rápida devido a sua boa eficácia na identificação de comprometimento em estágios mais iniciais da doença, e portanto, contribui para que esses casos não evoluam para estágios mais graves, diminuindo dessa forma a morbimortalidade para Covid-19.
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1Discente do Curso Superior de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Palmas
e-mail: alvarolimapaixao@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Palmas, Doutor em Ciências (IPEN/USP)
e-mail: turibioto@gmail.com.
3Docente do Curso Superior de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Palmas, Médico Radiologista
Email: bruno.paixao@afya.com.br.