REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11153556
Luzia Alice dos Santos Barbosa1;
Sandra Guimarães Oliveira2;
Wendersan Gomes Silva3.
RESUMO: Diante de estudos relevantes, neologismo, descrição e análise de novas palavras, o Poeta José Paulo Paes, recria um novo significado de palavras existentes na língua portuguesa, assim essa evidência e comprovada em seu poema “sou metaléxico”, em que meta adere ao significa de reflexão crítica de algo, enquanto léxico, significa palavra. Diante as observações feitas e com bases no livro Neologismo da autora Ieda Maria Alves (1992), o autor recria a um novo universo de palavras que recebem um processo de composição por aglutinação em que as palavras perdem a integridade silábica formando assim uma nova palavra. O poema de José Paulo Paes (2003) traz uma composição satírica, por meio de vocábulos que permitem despertar a atenção do leitor. Apresentando assim uma reflexão crítica sobre as próprias palavras. E, em SANTOS (2005) na apreciação em material didático científico da autora Margarita Correia (2005), é possível perceber o neologismo presente no em seu poema “versoração”, onde o escritor cria e inova a língua vernácula através do acervo aberto da língua: verbo mais verbo, criando um novo significante/significado, mostrando criatividade lexical, inova ao lexicalizar, por meio de composição por aglutinação e justaposição, neutralizando caracteres em palavras para criar novas unidades mínimas significativas, utiliza-se de metáforas, polissemia, metalinguagem, por meio da licença poética, são criadas um novo acervo na linguagem.
Palavras-Chave: José Paulo Paes, Carlos Correia Santos, Criação Lexical, Neologia.
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo analisar os poemas de dois autores, José Paulo Paes (2003), em seu poema “seu metaléxico”; e de Carlos Correia Santos (2005), em seu poema “versoração”, tendo como foco principal, por meio dos estudos adquiridos, apresentar as evidências da renovação lexical nos poemas aludidos.
Com base nos materiais de estudo de Margarita Correia Inovação Lexical em Português (2005) e de Ieda Maria Alves Neologismo (1992) fez-se necessário a leituras dessas duas obras no que diz respeito ao conteúdo de léxico e de neologia.
Contudo, o presente trabalho limitar-se-á no estudo da estrutura das palavras do texto literário, bem como aos recursos do neologismo, de composição de palavras por aglutinação e justaposição, do significante/significados, além de metáforas, polissemia, e metalinguagem, mostrando a criatividade lexical, assim como a utilização de figuras de linguagem, ressaltando o acervo novo da língua visto nas obras dos autores acima citados.
I – OS POEMAS “SEU METALÉXICO”, DE JOSÉ PAULO PAES; E “VERSORAÇÃO”, DE CARLOS CORREIA SANTOS.
José Paulo Paes em seu livro Melhores Poemas (2003), apresenta um poema construído em sua maior parte por neologismos lexicais:
Sou metaléxico
Economiopia
Desenvolmentir
Utopiada
Consumidoidos
patriotários
suicidadãos (2003, p. 131.)
O poema apresenta seis versos e se mostra conciso, em que leva o leitor à busca da ponderação, sua composição apresenta palavras neológicas, dando origem a novos vocábulos, utiliza-se do recurso estilístico lexical amálgama, resultante da junção de partes de outras palavras, elemento comprovado em toda a estrutura do poema.
Já Carlos Correia Santos, em seu livro Poeticário (2005), apresenta um poema construído por neologismo por composição.
Versoração
Antes de ler um poema,
faça uma prece:
peça para que em sono,
em sonetos,
sonhos soletre-se.Antes de ler um poema,
descalce o passo:
voapisa-se o verso
quando o universo
faz-se estrofespaço.Antes de ler um poema,
leia um poema, leia um poema,
leia um sê.Antes de ler um poema,
leia um poema, esse poema, todo poema
que é você. (SANTOS, 2005, p.51)
No poema “versoração” é composta pelas palavras: verso + oração, o autor no título nos remete uma ideia de valorizar o poema, e faz deste uma oração por meio da composição por aglutinação, inova passando uma ideia de que faz do verso uma oração, por meio do neologismo, criando novos significados a palavra, mostra criativo, através da licença poética.
II – REFERENCIAL TEÓRICO
II.I – A ESTILÍSTICA
Por trás de todo ato de comunicação existe algo mais do que simplesmente transmitir uma mensagem. Mesmo que o texto seja puramente referencial, objetivo, ele carrega consigo um aspecto intencional, seja um desejo de impressionar o destinatário, ou seja, um desejo demostra um posicionamento.
No que se refere ao estudo da estilística, Elis de Almeida Cardoso (2013), atribui a estilística a uma palavra, seja sua formação, ou por sua classificação, ou sentido que está sendo empregada em um contexto, assim as palavras não deve ser empregadas isoladamente.
Um dos objetivos da estilística é justamente analisar a escolha feita, verificando-se, de que maneira se consegue com ela efeitos estéticos e expressividade e, sobretudo, tentando-se chegar à intenção do enunciador por meio do estilo encontrado em seu texto.
Guiraud associa estilo à escolha, para ele o Estilo é o aspecto do enunciador que resulta de uma escolha dos meios de expressão, determinado pela natureza e pelas intenções do indivíduo que fala e que escreve (MARTINS, 1997, p.2).
A escolha está ligada ao estilo que cada autor irá empregar dentro do contexto de enunciação, este por sua vez pode usar palavras gramaticais, optar por enunciados emotivos ou avaliativos ou ainda, entre o universo lexical ou simplesmente criada para aquele contexto de enunciação.
II. II – LÉXICO
Os estudos do léxico analisam os métodos significantes ligados aos aspectos semânticos e morfológicos da língua. O léxico “trata-se de repertório total de palavras existentes numa determinada língua”, segundo o dicionário Houaiss (2012, p. 584).
O léxico pode ser definido como acervo de palavras de um determinado idioma. Em outras palavras, é todo o conjunto de palavras que as pessoas de uma determinada língua têm à sua disposição para expressar-se, oralmente ou por escrito. A escritora, Elis de Almeida Cardoso, professora da Universidade de São Paulo, afirma que “Um dos objetivos da estilística léxica é exatamente o de verificar que os aspectos morfológicos da língua são importantes para que se possa obter expressividade” (CARDOSO, 2013, p. 30)
Para Margarita Correia, os léxicos dispõem de três tipos distintos: “A construção de palavras, recorrendo a regras da própria língua; A reutilização de palavras existentes, atribuindo-lhes novos significados; A importação de palavras de outras línguas” (2005, p.23).
Correia faz ainda a seguinte afirmação acerca do léxico: “Tal como qualquer outra língua, também o português possui a capacidade e os meios para a construção de palavras. De resto uma das características universais da linguagem humana é, precisamente, o fato de todas as línguas possuírem mecanismos capazes de gerar novas palavras” (CORREIRA, 2005, p.24).
II.III – NEOLOGISMO
Os neologismos são palavras novas, que designadas, podem ou não cair no uso do falante da língua. Os neologismos além de ampliar o léxico, suprem determinadas necessidades de criar algo novo na língua. Segundo Ieda Maria Alves:
Ao processo de criação lexical dá-se o nome de neologismo. O elemento resultante, a nova palavra, é denominado neologismo. O neologismo pode ser formado por mecanismos oriundos da própria língua, os processos autóctones, ou por itens léxicos provenientes de outros sistemas linguísticos. Na língua Portuguesa, os dois recursos têm sido amplamente empregados, diacrônica e sincronicamente. (ALVES, 2005, p. 5)
O neologismo de composição satírica tem, por sua vez, como principais características chamar a atenção do receptor e utilizar-se da intenção de provocar riso e ironia, o estranhamento é instigado pela quantidade dos elementos compostos.
A palavra valise é um termo na linguística, no que se refere a uma palavra ou morfema que faz uma fusão de duas palavras, fazendo uma composição por aglutinação onde perde a parte inicial de uma e a outra a parte final da outra.
III – ANÁLISE ESTILÍSTICO LEXICAL DOS POEMAS “SOU METALÉXICO”, DE JOSÉ PAULO PAES; E “VERSORAÇÃO”, DE CARLOS CORREIA SANTOS
III. I. Análise do poema “Seu Metaléxico”, de José Paulo Paes.
O poema de José Paulo Paes reflete sobre traços humorísticos, através de recursos irônicos e principalmente da sátira, estes servem de recursos para a crítica da realidade brasileira do século 60 e 70, como também encontrar evidências neológicas para recriação de vocábulos novos.
O poema “Sou Metaléxico” apresenta uma estrutura de versos compostas por neologismos devido ao fenômeno da composição por aglutinação, aos quais as palavras perdem a integridade silábica formando assim uma nova palavra. É, sobretudo da composição satírica por meio de itens léxicos que despertam a atenção do leitor.
No título do poema o poeta uniu dois elementos significativos: meta – que significa “reflexão crítica sobre alguma coisa”, e “léxico”, que significa “palavra”, formando uma nova palavra. Com isso, ele apresenta uma reflexão crítica sobre as próprias palavras, formando uma nova palavra: metaléxico.
De acordo com a estrutura léxica, no poema “seu metaléxico” é nítida a reutilização de palavras já existentes na língua portuguesa, porém é explícito que o poeta utiliza-se dessas palavras já conhecidas atribuindo-lhe novos significados, inovando assim o processo lexical.
O poeta utiliza em seu poema a criatividade da possibilidade de construir neologismos, usando consciente e deliberadamente recursos de abstração e comparação imprevisíveis, mas motivados.
Ao analisar o poema é perceptível que sua estrutura se intercala em composição, ou seja, processo de composição de palavras no qual intervêm unidades de significado lexical. De acordo com Correia (2005), a gramática tradicional distingui os conceitos de composição por aglutinação objetivando assim a estrutura fonológica dos compostos.
Segundo Margarita Correia (2005) amálgamas são “unidades lexicais constituídos com partes de outras palavras que se juntam formando uma palavra gráfica” (2005, p. 44). A amálgama é uma palavra resultante da junção de partes de outras palavras, resultando em criatividade, podendo ser comprovado em toda a estrutura do poema.
Para Correia (2005) um dos processos mais produtivos de inovação vocabular consiste na aquisição de novos significados por parte de palavras já existentes, tornando-se palavras polissêmicas, este fator lexical ocorre em toda a estrutura do poema, pois o autor utiliza-se de dois vocábulos, para formar uma única palavra, atribuindo-lhe um novo significado.
Outra teórica da renovação lexical da língua, Ieda Maria Alves (1992) afirma ser a palavra-valise, que concerne em um tipo de redução de vocábulos para constituírem um novo item léxico, no qual ocorre à perda da parte final ou inicial da palavra, formando assim um novo elemento significativo, contudo, este elemento é utilizado para compor o poema de Paes.
O poema “Sou metaléxico” é rico em amálgamas lexicais, como pode ser observado logo no primeiro verso apresenta a junção Economia+miopia = economiopa. O autor aqui passar a ideia, de que a economia é vista com olhos míopes, ou seja, ela de maneira geral é vista de longe pelos cidadãos que não acompanham de forma nítida como está à economia do país, pelo fato de simplesmente não estarem inteirados do assunto.
Já no segundo verso há a união dos elementos Desenvolvimento+mentir= desenvolmentir. O desenvolvimento não ocorre, pois a economia não ajuda e, na verdade não existe desenvolvimento algum, por que ele é uma mentira.
O terceiro verso de “Sou metaléxico” reúne Utopia+piada= utopiada. A utopia é um sonho ainda não realizado, uma civilização ideal e por toda esta situação defraudada torna-se uma piada, ficando em apenas a ser uma esperança por parte do povo, para que se realize um dia este sonho tão sonhado.
Em Consumidor+doido= consumidoido. Os consumidores são muito consumistas a ponto de perderem a razão, por não se importar com o que estão consumindo e, nem em quanto estão gastando.
O penúltimo verso da obra aglutina os elementos Patriota+otários= patriotários. Os patriotas pensam em servir o país da melhor maneira possível e, acabam por serem taxados de otários, pois, o país não está bem administrado e tudo o que estes patriotas fazem pelo país torna-se vão.
Por fim, o último verso do poema de José Paulo Paes sintetiza as palavras Suicídio+cidadão= suicidadãos. Por si só o cidadão faz-se suicida por seus atos impensáveis.
Diante do poema analisado pode-se concluir que o poeta utilizou-se de recursos estilísticos lexicais para se referir a acontecimentos históricos sociais, assim utilizou-se da sátira, para ironiza o contexto histórico, ao qual o poema foi criado, a crítica ao brasileiro é explícita.
De forma geral, o poema retrata uma economia não percebível a população, o desenvolvimento do país não ocorre porque tudo não passa de apenas uma mentira, e os consumidores estão todos loucos, pois tiram vantagem da própria situação econômica, assim sendo, as atitudes destes não passam de um patriotismo cínico. A sociedade permanece calada, suicida, pois não passa apenas um desenvolvimentismo ilusório.
III. II – Análise do poema “Versoração” de Carlos Correia Santos
O autor utiliza-se de recursos sonoros tais como aliteração, repetição constante de um mesmo fonema consonantal, e assonância, repetição constante de um mesmo fonema vocálico, para transmitir seus pensamentos ideia e emoções.
O poeta utiliza-se do recurso musical baseado na semelhança sonora dos vocábulos, rima interna e externa na sua poesia para reforçar a ideia e a importância que o mesmo atribui ao poema, SANTOS (2005) utiliza a figura de linguagem metáfora quando compara o poema a um ser, que possuí vida. “Antes de ler um poema, leia um poema, leia um poema, leia um sê.”
No título do poema “versoração” o autor faz uma composição (substantivo + verbo), verso + oração, na qual a palavra e formada pelo processo de aglutinação, na qual ha perda de caracteres. A partir dessa criação atribui um novo significante/significado.
Na segunda estrofe do oitavo verso o termo voa + pisa-se, criou uma nova palavra por composição por justaposição, no qual não ouve a perda de unidades significativas, ocorrendo uma ambiguidade do vocábulo, deixando aberto a várias interpretações. Na composição estrofe + espaço, o autor faz a junção de um substantivo masculino e feminino, por meio de aglutinação.
Antes de ler um poema,
descalce o passo:
voapisa-se o verso
quando o universo
faz-se estrofespaço.
A segunda estrofe remete uma ideia de polissemia: Antes de ler um poema, descalce o passo: o autor cria duas possibilidades de interpretação ao leitor, assim sendo não se sabe se e para o leitor retirar as sandálias ou esvaziar a mente para consegui interpretar a mensagem do poema. voapisa-se o verso quando o universo faz-se estrofespaço.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho desenvolveu-se, segundo o estudo da vertente crítica literária da estilística, nas diversas interpretações das esferas lexicais, neológicas e estilísticas dos poemas “Seu metaléxico” e “versoração”, de José Paulo Paes e Carlos Correia Santos, respectivamente.
O estudo dos poemas contribuiu na aquisição de novas noções para a estudos referentes a linguagem e literatura, aprimorando a informação literária nas aclives, oferecendo conhecimento significativos para os acadêmicos.
Assim, conclui-se quão criativos e revolucionários é o neologismo que compõem os citados poemas. Ao analisar a poesia pela poesia, chega-se a um universo de ideias, em que as palavras expressam diversos significados, propondo aos discentes múltiplas interpretações.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALVES, Ieda. Neologia – Criação Lexical. São Paulo. Ática, 1992.
CARDOSO, Elis de Almeida. Drummond – um criador de palavras. São Paulo: Annablume, 2013.
CORREIA, Margarita. Inovação Lexical no Português. Lisboa. Colibri, 2005.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Moderna, 2011.
PAES, José Paulo. Os melhores poemas de José Paulo Paes. Seleção Davi Arrigucci Jr. 6º Edição. São Paulo: Global, 2003.
SANTOS, Carlos Correia. Poeticário. Belém: RKE, 2005.
1Barbosa, Luzia Alice dos Santos; Graduada em Licenciatura Plena em Língua Portuguesa – e-mail: aliceluiza1@hotmail.com.
2OLIVEIRA, Sandra Guimarães; Graduada em Licenciatura em Pedagogia – UNINTER e-mail: golsandra@yahoo.com.br.
3SILVA, Wendersan Gomes; Graduada em Licenciatura Plena em Língua Portuguesa-UEPA-e-mail: wendersansilva@hotmail.com.