UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA: UM ESTUDO DE CASO PARA IMPLEMENTAÇÃO EM UMA UNIVERSIDADE DO ALTO TIÊTE.

ENTREPRENEURIAL UNIVERSITY: A CASE STUDY FOR IMPLEMENTATION IN A UNIVERSITY IN ALTO TIÊTE.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11120831


Rodrigo Pereira Garzi1; Marcello F. dos Santos2; Fabricio Rangel Amódio3; Tatiana Ribeiro de Campos Mello4; Terigi Augusto Scardovelli5; Renata Jimenez de Almeida Scabbia6; Daniela Leite Jabes7


Resumo

Objetivo: Dar início ao programa “Universidade empreendedora” e apoiar a construção de negócios inovadores no modelo startup. Método: Trata-se de um estudo de caso do projeto UMC Startup implantado na Universidade de Mogi das Cruzes entre os meses de maio e novembro de 2023. Resultados: Embora com interesse imediato dos alunos após o lançamento do projeto, a frequência média de alunos e engajamento nas atividades ainda é baixa. Esse cenário pode estar relacionado com a dificuldade de encaixar as atividades com o calendário acadêmico dos cursos de graduação e, também, a flexibilidade para atendimento aos alunos participantes. Considerações finais: Os resultados obtidos no primeiro ciclo do programa UMC Startups apontam para uma tendência de interesses dos alunos e que a Universidade consiga apoiá-los na construção de negócios, porém existem desafios para encaixar um programa de incentivo no calendário acadêmico.

Palavras-chave: Universidade Empreendedora. startups acadêmicas. ciência e inovação.

Abstract

Objective: Start the “Entrepreneurial University” program and support the construction of innovative businesses in the startup model. Method: This is a case study of the UMC Startups project implemented at the University of Mogi das Cruzes between the months of May and November 2023. Results: Although with immediate interest from students after launching the project, the average student attendance and engagement in activities is still low. This scenario may be related to the difficulty of fitting activities into the academic calendar of undergraduate courses and also the flexibility to serve participating students. Final considerations: The results obtained in the first cycle of the UMC Startups program point to a trend in student interests and that the University is able to support them in building businesses, however there are challenges in fitting an incentive program into the academic calendar.

Keywords: Entrepreneurial University; academic startups; science and innovation.

Introdução

Em um cenário de pós pandemia de COVID-19 e de incertezas globais que refletem em desafios econômicos para setores produtivos, a qualificação técnica e comportamental da mão de obra volta a ser peça central no desenvolvimento econômico e social e para tal a participação das universidades com características empreendedoras é muito importante.

Como reflexo da reabertura dos mercados, as Instituições de Ensino Superior (IES) voltam a apresentar índices de matrículas similares aos tempos de abundância, quando o mercado da educação passou por grandes aquisições e fusões, impulsionados pelos bons ventos da economia. 

Em função do mencionado acima existe a necessidade de ações que possam direcionar as IES como atores nesse cenário. É necessário que os alunos tenham orientações que os prepare para a nova economia, pautada em forte uso de tecnologias que transformam e criam novas profissões, demandando além das competências técnicas, também as competências comportamentais, as chamadas soft skills, fundamentais para alcançar sucesso em qualquer área, que dificilmente são adquiridas em cursos livres na internet

Outro componente que impulsiona as Instituições de Ensino Superior para um novo momento parte justamente do Ministério da Educação, que através das suas políticas de avaliação das instituições, estimulam a adoção de práticas inovadoras na aplicação do conhecimento. Dentro desse contexto, algumas instituições de ensino voltam seus olhos para participarem mais efetivamente dos Ecossistema de Inovação por meio da disseminação da Cultura Startup junto de seus alunos e professores. 

Referencial teórico

2.1 Conceitos sobre Ecossistema de Inovação

Ecossistemas de Inovação são sistemas organizados com identidades territoriais bem definidas, cujas primeiras identificações emergiram nos anos 90. O propósito dos Ecossistemas de Inovação é pautado em criar ambientes favoráveis para geração de negócios inovadores. Assim, cada ator do ecossistema assume um papel importante para que resultados sejam alcançados. A abordagem sobre Ecossistemas de Inovação encontra diferentes perspectivas em relação ao seu funcionamento, inicialmente qualificado como Sistemas Regionais de Inovação, contudo, um aspecto central dessa abordagem trata do reconhecimento de que o espaço econômico e a proximidade geográfica entre os agentes exercem efeitos significativos na geração e disseminação de novos conhecimentos com importantes implicações para no desenvolvimento econômico e social do território (GARCIA, 2022).

A organização dos agentes econômicos, acadêmicos e o poder público, tratados nesse estudo como Ecossistemas de Inovação, pode alcançar diferentes níveis de maturidade ou de desenvolvimento. O patamar de maturidade faz referência ao nível de engajamento dos atores do ecossistema, o impacto econômico sobre suas atividades e a empregabilidade dos usuários dos serviços e oportunidades oferecidos (ROCHA, 2004).

Fazendo um recorte especial aos ambientes de inovação, que por sua vez são parte integrante dos Ecossistemas de Inovação, como espaços destinados ao desempenho de atividades empreendedoras, da conexão entre os agentes econômicos e acadêmicos, são também estrategicamente guardiões da cultura de inovação local com forte impacto no desenvolvimento social e que pode ser observado em estudos internacionais como o All Voices Count Research Report (NANJIRA, 2023). Muito desse impacto pode ser observado a partir das interações pessoais que esses ambientes podem promover, levando a sensação de segurança empreendedora e impulsionadora das atividades em fase inicial de concepção.  

Diante disso, a interação promovida pelas atividades realizadas nesses Ambientes de Inovação é capaz de promover conhecimento a partir das habilidades e competências de seus usuários, que encontram nesses espaços o local ideal para o compartilhamento de ideias, sonhos, desafios e soluções, que podem servir de combustível para impulsionarem suas jornadas profissionais, gerando bem-estar social e desenvolvimento regional (FOGUESSATO, 2022).

Diante desse cenário, somando-se ao fato de que jovens dispostos a empreender são mais propensos a criar negócios inovadores, as Instituições de Ensino são locais ideais para criação de Laboratórios de Inovação, ou Ambientes de Inovação, que geram mais oportunidades para os projetos desenvolvidos internamente e, então, possam elevar o nível de maturidade de um Ecossistema de Inovação na mesma proporção que também se beneficiam do seu funcionamento.

2.2 Cultura Startup nas Universidades

Um Ecossistema de Inovação pode ser identificado pela presença de vários atores, como empresas, instituições de ensino e governamentais, que agem de maneira dinâmica e colaborando entre si para um processo de inovação (ROMANO; PASSIANTE; DEL VECCHIO, 2014).

Desde o surgimento das universidades, sua principal missão era relacionada à disseminação do ensino e da pesquisa (COSH; HUGHES, 2010). Entretanto, com o passar dos anos, mudanças de cenários econômicos e sociais tornaram as universidades como componentes fundamentais no Ecossistema de Inovação (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000).

A cultura Startup nas universidades pode ser fomentada com a criação de empresas júnior, Laboratórios de Startups e por incubadoras universitárias. À medida em que os estudantes ficam expostos aos aspectos da vida empreendedora dentro de uma universidade, ele estará mais preparado para enfrentar as hostilidades existentes no mundo corporativo (GIBB, 2022). 

A empresa júnior pode ajudar o aluno a realizar projetos para outras empresas, aperfeiçoando o conhecimento adquirido em sala de aula e podendo tornar-se um empreendedor corporativo. Por outro lado, existem as Incubadoras universitárias, que apoiam os alunos na criação e desenvolvimento de novas empresas e que, posteriormente, podem se tornar parte do mercado (VEDOVELLO et al., 2001). Completando esse grupo de fomentadores, têm-se os Laboratórios de Startups com o papel de desenvolver as habilidades dos alunos, tornando-os autônomos e proporcionando o ambiente de aprendizagem por descoberta (ALFIERE et al., 2011).

2.3 TCC Startup

As universidades, em função das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) do Ministério de Educação e Cultura (MEC), têm a obrigatoriedade do desenvolvimento de um projeto de final de curso que sintetiza e integra o conhecimento adquirido ao longo da formação superior. Para os cursos de graduação, esse projeto pode ser uma monografia ou um trabalho de conclusão de curso (TCC) e, para o mestrado e doutorado, tem-se a dissertação e tese, respectivamente.

Após a defesa por uma banca de professores doutores e a aprovação, os trabalhos de conclusão são encadernados, catalogados e disponibilizados nas bibliotecas das IES. Esses projetos, em sua maioria, apresentam conclusões de pesquisas desenvolvidas por anos e que poderiam ser transformadas em produtos ou serviços a fim de gerar empresas e criar postos de trabalho (CAMPOS, 2017). Nesse sentido, em 2015, a Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) criou o Laboratório de Inovação (iLab) que dá suporte às hipóteses e validações levantadas pelos TCCs defendidos a virarem produtos ou serviços (Endeavor, 2017). O iLab auxilia os alunos a desenvolverem o TCC e passam por 5 etapas, a saber, (i) desenvolvimento da ideia, (ii) desenvolvimento do protótipo (ou MVP, Produto Mínimo Viável), (iii) experimentação e validação no mercado, (iv) estruturação do negócio (formalização) e, finalmente, (v) o ganho de mercado. Durante o programa TCC-Startup como componente curricular, os alunos chegam até a segunda fase (CAMPOS, 2017). Diante desse projeto da UNISUL, os projetos dos alunos podem se tornar produtos, transformando as universidades em um ambiente de educação empreendedora efetivo. 

2.4 Ciência e Empreendedorismo

O Empreendedorismo Acadêmico (EA) tem como berço os Estados Unidos com o surgimento do “Vale do Silício” e da “Rota 128” ligados, respectivamente, à Universidade de Stanford e ao Massachusetts Institute of Technology (MIT) (ROBERTS, 1991). Estas instituições concentram condições sociais, institucionais, organizacionais, econômicas e territoriais favoráveis ao EA, viabilizando o desenvolvimento contínuo da inovação nas empresas ali instaladas e a proliferação de novas empresas de base tecnológica ou spin-offs acadêmicas (NDONZUAU et al., 2002).

Neste contexto, as universidades passaram por duas transformações ao longo dos últimos anos. A primeira foi quando a pesquisa passou a fazer parte da universidade e a segunda foi a aplicação de conceitos e saberes na área de desenvolvimento econômico e social, passando a se chamar “Universidade Empreendedora”. Dentro deste novo modelo, a ciência e a capitalização do conhecimento aparecem como alternativa para alavancar o crescimento econômico (ARAUJO et al., 2005).

A Universidade Empreendedora está ganhando espaço e a antiga visão dos pesquisadores acadêmicos, voltada apenas para o avanço do conhecimento científico e para a publicação, vem sendo ampliada para uma mentalidade empreendedora que foca também na aplicação prática dos projetos acadêmicos que possam gerar valor econômico e bem-estar social (PLONSKI, 1999).

Nesse contexto, duas abordagens teóricas ganham destaque: o modelo da Hélice Tríplice (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 1995; 2000) e a abordagem da Universidade Empreendedora (CLARK, 1998; ROPKE, 1998; ETZKOWITZ, 2002; TORNATZKY et al., 2002). O modelo da Hélice Tríplice discorre sobre a nova sociedade do conhecimento, na qual as IES têm um importante papel para a formação de recursos humanos qualificados para permitir o desenvolvimento de novas tecnologias em suas atividades de pesquisa e implantar a aplicação desses conhecimentos no mercado (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 1995; 2000). Desta forma, a interação entre a academia, governo e empresa é a chave para a dinâmica da inovação, na qual o processo de criação de spin-offs está inserido (RENAULT, 2010).

Já na abordagem da Universidade Empreendedora são analisados os mecanismos organizacionais implantados em universidades para facilitar e promover o processo de transferência de tecnologia e de criação de empresas spin-offs, como as incubadoras de empresas, os escritórios de transferência de tecnologia e os parques tecnológicos – e como eles afetam as atividades de ensino e pesquisa. REF?

Etzkowitz (2003) define a Universidade Empreendedora como um ambiente que apresenta a capacidade de aplicar uma direção estratégica a ser seguida, com objetivos acadêmicos claros e transformando o conhecimento gerado na Universidade em valor econômico e social. Ademais, o autor considera a universidade um ambiente propício à inovação pela concentração de conhecimento e de capital intelectual e, os estudantes como uma fonte de potenciais empreendedores (ETZKOWITZ, 2003).

Clark (2003) define a Universidade Empreendedora como sendo uma instituição ativa que faz mudanças na sua estrutura e no modo de reagir às demandas internas e externas. Para o autor, o termo Universidade Empreendedora destaca com mais ênfase e clareza a necessidade de ações e de uma visão que leve à mudanças na postura das instituições (CLARK, 2003).

Portanto, a Universidade Empreendedora é um conceito indissociável do trinômio Ciência-Tecnologia-Inovação. Por esta razão, a possibilidade identificada por Clark (2003) de usar-se como sinônimo o termo Universidade Inovadora faz sentido, pois lança um destaque adequado a uma dimensão tipicamente acadêmica e que, ao mesmo tempo, traz uma profunda transformação na visão tradicional de Ciência e Tecnologia (CLARK, 2003). 

Ao incorporar o termo inovação, destaca-se três aspectos fundamentais: (1) interação com a sociedade (para a identificação das demandas), (2) empresas (pois é neste tipo de organização que a inovação ocorre) e (3) governo (como facilitador do processo). Em outras palavras, inovação significa P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Neste sentido, qualidade deixa de ser um pressuposto único para a avaliação da universidade e inclui-se relevância como um item de avaliação igualmente importante. Ou seja, neste novo ambiente, qualidade passa a ser condição necessária, porém não mais suficiente para a avaliação da Universidade (AUDY, 2023).

Nesse contexto, o trabalho apresentado visa propor um fluxo de trabalho que permita desenvolver as habilidades necessárias para que uma universidade se torne parte efetiva do Ecossistema de Inovação local. Além disso, a aplicação de ferramentas para o alcance da Universidade Empreendedora também se preocupou com a aderência da proposta com o Instrumento de Avaliação de cursos de graduação do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior).  Esse sistema, SINAES, foi instituído em 2004 e tem como objetivo avaliar as políticas educacionais da IES e garantir a qualidade dos cursos. Esse instrumento em um de seus critérios de avaliação, Dimensão 1 – Organização Didático-Pedagógica afirma que: 

As políticas institucionais de ensino, extensão e pesquisa (quando for o caso), constantes no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), estão implantadas no âmbito do curso e claramente voltadas para a promoção de oportunidades de aprendizagem alinhadas ao perfil do egresso, adotando-se práticas comprovadamente exitosas e inovadoras para a sua revisão (SINAES, 2017, p. 9).

Diante disso, o projeto aqui apresentado visa transformar a universidade em um ambiente inovador e atender as diretrizes do instrumento de avaliação SINAES. 

O perfil profissional do egresso consta no Planejamento Pedagógico do Curso (PPC), está de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN), (quando houver), expressa as competências a serem desenvolvidas pelo discente e as articula com necessidades locais e regionais, sendo ampliado em função de novas demandas apresentadas pelo mundo do trabalho (SINAES, 2017, p. 10).

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Materiais e método

Para implementação do programa “Universidade empreendedora” foi planejada uma sequência de ações para que o objetivo fosse atingido. A Figura 1 ilustra as etapas desse planejamento. 

Figura 1. Processo de implementação do programa Universidade Empreendedora

O primeiro passo desse trabalho foi a reunião com os coordenadores de graduação da IES a fim de explicar o objetivo do programa Universidade Empreendedora e como esse programa tem aderência ao Instrumento Nacional de Avaliação dos cursos de graduação. Durante a reunião de apresentação, os coordenadores perceberam a importância do projeto e definiu-se que um formulário seria disponibilizado durante sete dias para que fossem indicados docentes com perfil empreendedor para fazer parte do comitê consultivo, que é uma das etapas do projeto. 

No processo de planejamento foi identificado a necessidade do departamento de marketing da IES trabalhasse no processo de divulgação desse programa. Feito isso as demais etapas seriam a apresentação do programa para os alunos e o início das reuniões de mentoria conforme ilustrou a Figura 1.

Resultados e Discussão

Após a fase de planejamento e reunião com os coordenadores, o formulário de indicação de docentes ficou disponível durante uma semana (7 dias) e nesse período, 14 docentes foram inscritos. A Figura 02 abaixo ilustra a participação dos professores por área de atuação. 

Figura 2. Participação dos professores por área de atuação

Identificados os docentes membros do Comitê Consultivo, foi formado um grupo no WhatsApp e a primeira reunião online foi realizada.  Na reunião foi apresentado o plano de trabalho ao Comitê e solicitada a cooperação para divulgação do evento lançamento do programa Universidade Empreendedora aos alunos, com olhar especial para aquele perfil mais empreendedor e criativo. Com o tema “Crie sua Startup dentro da UMC”, a divulgação foi realizada nas redes sociais da IES e também em todos os murais espalhados pelo campus (Figura 3). 

Figura 3. Arte para a divulgação do programa Universidade empreendedora

A divulgação e convite aos alunos para participação do programa contou ainda com a visita em sala de aula para uma apresentação resumida aos discentes dos cursos de administração, recursos humanos, logísticas e das engenharias. O evento realizado no período da manhã não teve o engajamento esperado e apenas 10 alunos estiveram presentes. Já o realizado no período da noite, que teve um maior apoio dos coordenadores e professores dos cursos de tecnologia, reuniu aproximadamente 100 alunos. 

 Após a reunião de lançamento e a etapa de visitação às salas também foram realizadas a divulgação de link para os interessados entrarem no grupo de WhatsApp a fim de ampliar e facilitar a comunicação com os interessados. Com essa estratégia, formou-se um grupo de 40 alunos/empreendedores logo na primeira semana com uma taxa de conversão de 36,4 %.

Como parte do processo de investigação e acompanhamento do projeto, foi realizada uma pesquisa com o público-alvo para que ações de direcionamento fossem tomadas. A Figura 4 ilustra o resultado da primeira parte da pesquisa que define o perfil do aluno inscrito em relação a IES. Esses dados foram importantes para que as reuniões e mentorias pudessem atender o perfil do empreendedor e, assim, obter um melhor resultado e incentivo aos alunos.

Figura 4. Resultado da pesquisa sobre o perfil do aluno inscrito no programa

Na pesquisa foi possível identificar que 70% dos inscritos ainda se encontram no primeiro ano curso, 1º e 2º semestres e, majoritariamente, estudam no período noturno. Nesse cenário, 56% votaram para que os encontros de mentoria acontecessem no período noturno durante o horário das aulas, desde que não impliquem em faltas nas outras disciplinas.

Na segunda parte da pesquisa, as perguntas foram direcionadas às expectativas dos alunos acerca do programa proposto e a Figura 5 apresenta os principais resultados obtidos. 

Figura 5. Resultado da pesquisa sobre as expectativas do aluno sobre o projeto

Em relação às expectativas dos alunos sobre a participação no programa, 52% esperam que a participação ajude na construção de seu negócio próprio, enquanto 21% dos respondentes valorizam a construção de uma rede de contatos, o network. Mesmo com 60% dos respondentes reportaram estarem empregados, seja em tempo integral ou parcial, 39% deles ainda esperam que o programa possa ajudar em uma recolocação profissional. 

Uma vez identificadas as características dos participantes do programa, foi definido um cronograma com 20 encontros, que aconteceram entre os meses de maio e novembro de 2023, sendo 18 presenciais e apenas 2 online.   A Figura 6 ilustra a linha do tempo com as principais ações realizadas durante a implementação do programa.

Figura 6. Linha do tempo e principais ações

 Para os encontros de mentoria foi definida uma estratégia que permitisse o desenvolvimento da apresentação dos projetos no formato de pitch. Durante as mentorias foram abordados tópicos como: Identificação do problema a ser resolvido, Potencial de mercado, Projeções financeiras e Estratégia de atuação. Os encontros aconteceram a princípio em uma sala definida de acordo com a disponibilidade e, em função do crescimento, a IES liberou uma sala exclusiva para ser utilizada pelo programa e que futuramente poderá ser definida como o Laboratório de Inovação.  

Durante o período de mentoria houve a participação de empreendedores locais, o que estimulou bastante o grupo. Startups das áreas de Engtech, Branding e Marketing e Manutenção foram algumas que participaram e mostraram seus produtos e serviços e dividiram suas experiências. A média de participação foi de 15 discentes por encontro, mesmo com o aumento de participantes no grupo de WhatsApp, mesmo com o grupo de WhatsApp tendo crescido dos 40 alunos iniciais para 120. 

Ferramentas como Business Model Canvas (BMC) (OSTERWALDER, 2011) serviram de suporte para as validações iniciais das soluções propostas pelos inscritos e foram apresentadas durante as mentorias. Após os encontros de mentoria e as discussões com os empreendedores locais, três projetos foram identificados com potencial e foram pivotados até a apresentação em forma de pitch para as próximas fases do projeto que acontecerá no semestre seguinte (2024/1).

Considerações finais

O primeiro programa voltado para o Empreendedorismo na IES proporcionou a identificação de 3 potenciais projetos que foram apresentados para o comitê e que serão trabalhados ao longo do próximo ano. 

A princípio houve uma aderência de 40 alunos apenas nos 5 primeiros dias de divulgação, com crescente procura pelo grupo ao longo dos meses, chegando a 120 alunos inscritos no grupo de WhatsApp. A média de participação ainda é pequena, 15 alunos nas mentorias, em função das características dos discentes que têm suas atividades profissionais e que dificultam a presença nas mentorias antes do horário das aulas. O grande desafio será como incorporar o programa sem prejudicar o calendário acadêmico. 

A próxima etapa do projeto visa proporcionar aos alunos a oportunidade de realizar encontros com os orientadores do programa em diferentes horários a fim de ampliar as mentorias e fornecer a possibilidade de aumentar o networking e facilitar os insights necessários para o estabelecimento de um plano de negócios futuro. 

Além disso, o desenvolvimento de um laboratório de inovação permanente na IES é fundamental para que os projetos possam evoluir dentro de um ciclo acadêmico com eventos de apresentação de projetos ao mercado, à comunidade e demais interessados em conhecer as startups construídas dentro de uma Instituição de Ensino Superior.

O projeto continua em 2024, prevendo encontros temáticos e, nesse sentido, será alinhado com os professores mais engajados o melhor horário e formato para que essa atividade possa estar integrada ao plano de ensino dos alunos participantes. A definição de uma data para o Demo day também fará parte do calendário para que realmente o resultado dos trabalhos e projetos possam ser apresentados a toda a instituição, conseguindo assim a continuidade do programa.

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1Mestrando em Políticas Públicas pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Av. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200. Mogi das cruzes/SP – 08780-911. E-mail: rodrigogarzi@umc.br;
2Doutorando em Engenharia Biomédica pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Av. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200. Mogi das cruzes/SP – 08780-911. E-mail: marcellofs@umc.br;
3Mestrando em Políticas Públicas pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Av. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200. Mogi das cruzes/SP – 08780-911. E-mail: fabricioamodio@umc.br;
4Pessquisadora do Programa de Políticas Públicas da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Av. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200. Mogi das cruzes/SP – 08780-911. E-mail: tatianar@umc.br;
5Pessquisador do Programa de Engenharia Biomédica da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Av. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200. Mogi das cruzes/SP – 08780-911. E-mail: terigiscardoveli@umc.br;
6Pessquisadora no Programa de Políticas Públicas da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Av. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200. Mogi das cruzes/SP – 08780-911. E-mail: renatascabbia@umc.br;
7Pessquisadora no Programa de Biotecnologia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Av. Cândido Xavier de Almeida e Souza, 200. Mogi das cruzes/SP – 08780-911. E-mail: danielajabes@umc.br